CENA 1: Riva se contorce de
dor, apavorada.
-Meu amor, faz alguma coisa!
Não deixa eu perder o nosso bebê, não deixa! - implora Riva,
olhando com súplica para Vicente.
-Confia que vai dar tudo
certo, meu amor... a gente vai pro hospital. Pensa positivo. Não há
de ser nada, nosso bebê vai ficar bem...
Rafael se direciona a Haroldo.
-Mano, você pode pegar seu
carro e levar o Cláudio e o Bruno pra casa deles?
-Claro que posso. Qualquer
coisa você me liga, viu? Não deixem de me dar notícias! - fala
Haroldo. Cláudio e Bruno vão com ele até a garagem e partem em seu
carro em direção a Santa Tereza.
-Gente... vocês podem abrir
espaço pra Riva respirar? Eu sei que tá todo mundo preocupado aqui,
mas eu preciso levar ela pro meu carro... - pede Vicente.
-Vai dar tudo certo, minha
neta. A gente vai com você pro hospital. Não há de ser nada
grave... - fala Valquíria, tentando tranquilizar Riva.
-Mãe... como é que você tá
se sentindo agora? - preocupa-se Marcelo.
-Além do medo? Muita dor...
essas pontadas estão horríveis... - queixa-se Riva.
Riva se apoia no ombro de
Vicente e Marcelo, que a levam até o carro.
-Vocês nos sigam com os seus
carros. Só a dona Valquíria vai com a gente no carro, ok? É pra
não estressar mais ainda a Riva. - pede Vicente.
-Nessas horas a Marion faz uma
falta... - lamenta Ivan.
-Nem pensa em ligar pra mãe
agora, você sabe que ela tá em gravações... - lembra Rafael.
Cada um vai para seus carros.
Vicente acomoda Riva no banco da frente, ao seu lado, de maneira
confortável e Valquíria se acomoda atrás.
Poucos instantes depois, todos
chegam ao hospital e Riva é levada ao setor de emergência.
-Por favor, doutor! Eu não
posso perder meu bebê!
O médico examina rapidamente
Riva.
-O sangramento parece ter
parado. Você ainda sente dores? - pergunta o médico a Riva.
-As dores já pararam, no meio
do caminho. Mas estou assustada demais! Tive umas pontadas fortes
demais logo após o jantar e o sangramento começou junto.
-Você pode estar com um
princípio de aborto. De qualquer maneira, você deve ser encaminhada
imediatamente para os exames. Vocês, parentes e marido, fiquem
esperando na sala de espera. O exame não será demorado e logo eu
venho com as notícias. Procurem se tranquilizar.
Riva é levada para os exames.
CORTA A CENA.
CENA 2: Haroldo deixa Bruno e
Cláudio na frente de casa e vai embora. Cláudio e Bruno se
surpreende ao entrarem e ainda se depararem com Guilherme, na sala.
-Você não disse que ia
embora ainda hoje, Guilherme? Achei que você tava praticamente de
saída quando a gente foi na casa do Marcelo... - fala Cláudio.
-Fiquei com medo de andar na
rua. Incomodo se ficar aqui mais essa noite?
-Não, Guilherme. Já está
tarde pra ir até Copacabana em segurança. Mas você não precisava
desse medo todo, precisava? Você nem andaria na rua, afinal de
contas veio com o carro...
-O Cláudio tem razão. Mas já
que você ficou com medo... eu durmo no sofá, de novo... - fala
Bruno, conformado.
-E vocês, meninos, me deem
licença que o dia de hoje foi cansativo demais! Preciso de um banho
antes de pensar em comer e dormir... - fala Cláudio, indo para o
quarto pegar suas coisas.
Bruno vai à cozinha preparar
uma refeição rápida para todos.
-Você bem que podia ter
chamado uma pizza pra gente, né Guilherme?
-Esqueci. Mas da próxima vez
lembro de chamar. Afinal, normalmente sou um desastre na cozinha. Mas
sabe, Bruno... queria levar um papo com você. Uma conversa de homem
pra homem.
-Não entendi porque tá me
tomando desse jeito. Mas fala...
-Eu quero que você se afaste
do Cláudio.
Bruno fica surpreso e
perplexo.
-Como é que é? Eu moro com
ele! Não tenho pra onde ir! Você sabe perfeitamente disso!
-Não estou falando pra você
ir embora dessa casa. Não agora. Mas vá pensando nessa
possibilidade assim que arranjar um bom emprego. Eu não quero que
você atrapalhe nada entre eu e ele.
-Você tá exagerando, cara.
Por que eu atrapalharia? Eu sou amigo do Cláudio. Antes de mais
nada, é isso que somos. Não entendo onde que isso pode te
incomodar. Até onde eu sei você também é amigo dele, não? A
única diferença é que tem alguns benefícios...
-Mas você foi namorado dele!
Vai que pinta um clima entre vocês de novo e vocês resolvem voltar?
-O futuro a Deus pertence. Não
cabe a mim, nem a você tergiversar sobre isso.
-Olha aqui, seu merdinha: eu
tou tentando falar numa boa, mas você tá me obrigando a engrossar o
tom... - fala Guilherme, segurando Bruno pelo colarinho e o encarando
de forma ameaçadora. Bruno se assusta e permanece sem nada dizer.
-Você e eu sabemos muito bem
que comigo não se brinca. Você vai querer mesmo pagar pra ver?
-Desculpe... eu não quero
pagar pra ver. Mas me diz como que eu simplesmente vou me afastar do
meu amigo?
-Isso você resolve sozinho,
Bruno. Tou te dando a dica. Essa proximidade de vocês me incomoda.
-Ainda acho descabido você
ter ciúme dele. Vocês nem namorados são.
-Ainda... mas no que depender
de mim, vamos ser.
-Que seja.
-Tente não ficar tão próximo
dele o tempo todo. Arranje desculpas, saia pela tangente. Não quero
que vocês sejam confidentes um do outro. E se você disser uma
palavra sobre essa nossa conversinha pra ele, já sabe: eu desminto
tudo. E ainda faço feder pro seu lado. Você não quer o Cláudio
decepcionado com você... quer?
-Não quero. Eu vou fazer o
que você tá mandando. Mas não vou me afastar dele. Somos amigos
acima de tudo. Eu não vou deixar de ser amigo do Cláudio. Não
tenho medo de você.
-Pois deveria.
-Guarde as suas ameaças pra
outro. Comigo elas não vão funcionar como você queria. Não mais.
Guilherme solta Bruno, que o
encara. CORTA A CENA.
CENA 3: Meia hora depois, o
médico surge na sala de espera e Vicente vai imediatamente em sua
direção.
-E então, doutor. Como está
a Riva? E o bebê?
-Estão bem. Riva felizmente
não perdeu o bebê, mas estava com um princípio de aborto. Ela teve
um leve descolamento das paredes uterinas, que deve ter sido causado
por intoxicação acidental de agente abortivo.
Vicente, Mariana, Ivan,
Marcelo, Rafael e Valquíria estranham afirmação do médico.
-Como assim, doutor? - falam
todos, simultaneamente
-Esses acidentes são
relativamente comuns. Poucas são as pessoas que tem conhecimento de
que uma série de ervas, dentre elas muitos temperos, são
potencialmente abortivas. Muitas mulheres, desconhecendo isso, podem
não alterar seus hábitos alimentares ao se descobrirem grávidas.
De acordo com que o exame de sangue apontou, ela tinha uma dessas
ervas na corrente sanguínea. Provavelmente coentro. Desculpe a
intromissão, mas vocês comeram coentro no jantar?
-Claro, gente! Aquele bobó de
camarão maravilhoso que a Suzanne fez! - conclui Rafael.
-Está aí a resposta. Muitas
pessoas consideram o coentro mais saboroso do que o tempero verde.
Aliás, o tempero verde também deve ser evitado durante a gravidez.
Ao contrário do que se imagina, o coentro, quando desidratado, em
vez de reduzir seu potencial abortivo, aumenta. - esclarece o médico.
-Quando a gente chegar em
casa, vamos colocar todos esses temperos fora! - determina Valquíria.
-Ela vai poder voltar pra casa
ainda hoje, doutor? - pergunta Vicente.
-Vai sim. Mas é recomendável
que pelo menos nas próximas quatro semanas ela mantenha o máximo
possível de repouso. Se puder manter repouso absoluto, melhor ainda.
É para garantir que a gravidez não será interrompida. - finaliza o
médico. CORTA A CENA.
CENA 4: Suzanne vai ao quarto
frustrada e Márcio percebe.
-O que foi agora, criatura?
Não fez o que queria com a Riva?
-Fiz. E não deu certo.
-Como é que você sabe disso?
-Acabei de ver na TV. Até
parece que você não sabe que a imprensa vive na cola dessa
família... a notícia é que a Riva passou mal, mas não perdeu o
bebê. Nosso plano deu errado.
-Era uma possibilidade. Acho
que agora a gente vai ter que mudar a estratégia.
-Ah, é? E desde quando você
virou o cabeça entre a gente? Sempre quem decidiu as coisas aqui fui
eu.
-Deixe de ser ingrata. Já
livrei a sua cara de um monte de coisa. Se não fosse por mim, você
já tinha ido pra cadeia.
-Tá, Márcio. Você não é
de todo um inútil durante esses anos todos. Agora me diz... que
espécie de estratégia tá passando pela sua cabeça? Não tou
conseguindo acompanhar... pelo menos em relação à gravidez da Riva
não posso fazer mais nada.
-Nem é isso que pensei. Você
não disse que o tal do Haroldo, o filho mais velho do Ivan, ficou te
comendo com os olhos? Que te achou bonitona?
-Sim, mas onde o Haroldo entra
nisso?
-Foca nele, criatura! O
dinheiro não vem todo da mesma família? Se você conseguir engrenar
uma relação com o Haroldo, você consegue uma grana preta e ainda
não precisa aplicar golpe nenhum!
-Como é que não pensei nisso
antes? Essa ideia é ótima! Obrigada, Márcio! Agora é investir
pesado no pato e torcer pra dar certo!
Os dois se beijam. CORTA A
CENA.
CENA 5: Raquel está quase
pegando no sono na sala do apartamento do hotel quando seu celular
toca e ela percebe se tratar de Valentim.
-Boa noite, Valentim. Esqueci
de alguma coisa no seu consultório?
-Não, Raquel. Na verdade,
peço desculpa se te liguei meio tarde. Você parece cansada.
-Pode falar, doutor... digo,
Valentim.
-Andei pensando em tudo o que
conversamos na última vez que nos vimos e, analisando a sua postura
discreta antes de contar toda a verdade sobre sua filha, concluí que
você possui um talento nato para a investigação.
-O que você está querendo
dizer? Melhor dizendo... onde quer chegar?
-Na parte que eu estou
convidando você a se tornar investigadora.
-Você pirou, Valentim? Não
tenho a instrução necessária pra isso.
-É justamente sobre isso que
eu queria falar com você. Eu posso ser seu instrutor por um tempo
pra você decidir futuramente se estuda e segue pra Polícia Federal
ou não.
-Mas já passei da idade,
Valentim...
-Besteira. Profissionais
competentes não tem idade. Você tem tudo para ser uma excelente
investigadora.
-Confesso que esse universo
todo anda me fascinando a cada dia mais. Mas não sei... não posso
te dar uma resposta agora.
-Então amanhã, quando você
vier no consultório, naquele horário que você costuma vir, você
me dá a resposta, certo?
-Pode ser. Agora preciso
desligar. Não posso falar as coisas muito detalhadas aqui;
-Eu imagino o motivo. Até
amanhã, Raquel.
Raquel desliga lisonjeada.
CORTA A CENA.
CENA 6: No dia seguinte,
Marcelo e Rafael decidem ir à casa de Cláudio visitá-lo. Ao
chegarem lá, são surpreendidos pela presença de Guilherme.
-Oi, Cláudio... o que o
Guilherme tá fazendo aqui?
-Longa história, Marcelo...
mas ele já está de saída, não está? - fala Cláudio, apressando
Guilherme para que ele termine de recolher suas coisas.
-Sim. Prazer te ver, Marcelo.
Acho que não nos vimos desde o ensino médio... - fala Guilherme.
-É... lá se vão uns quatro
ou cinco anos... - fala Marcelo.
-Outra hora a gente conversa
melhor. Tou de saída. Até mais! - fala Guilherme, saindo pela porta
e entrando em seu carro.
Cláudio fecha a porta e
Marcelo o encara sem entender nada.
-Bruno, Cláudio? Alguém de
vocês pode me explicar o que é que aquele tratante do Guilherme
veio fazer aqui e tão cedo? - espanta-se Marcelo.
-Amor, isso é jeito de falar
do cara? Não vê que o Cláudio é amigo dele? - repreende Rafael.
-Deixa, Rafa... o Marcelo tem
razões pra achar o Guilherme um tratante. Ele só conheceu o
Guilherme bad boy de anos atrás... - esclarece Cláudio.
-Pois é. Tou sem entender
nada, Cláudio. Desde quando vocês ficaram amigos?
-Ah, Marcelo... foi justamente
naquela época que... bem, que a gente brigou feio e você tava na
Austrália. Ele me encontrou chorando na beira do mar, em Copacabana.
Dali em diante ele foi se revelando uma pessoa mudada. Claro que ele
tem os problemas dele, acho até que ele deve ter um transtorno. Mas
ele se tornou alguém bom. E tem mais: nós estamos meio que
ficando... - fala Cláudio.
-Meio que ficando não existe.
Vocês estão ficando. Confesso que tou achando essa história toda
uma coisa bem bizarra... - fala Marcelo.
-Vocês não acham melhor
mudar de assunto? - sugere Bruno.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 7: Laura acorda e percebe
que Mateus ainda dorme pesado ao seu lado.
-Mateus, acorda! Você não
tinha que estar nos estúdios, já?
-Não, Laura. Só tenho
gravações amanhã.
-Você tem certeza que tá me
falando a verdade ou tá conseguindo jogar essa oportunidade que você
conseguiu na má-fé fora, já?
-Não acredito que até disso
você tá duvidando.
-Motivos é o que não me
falta.
-Às vezes você me trata como
se fosse uma juíza, a me julgar e me condenar o tempo todo.
-Me poupe do seu dramalhão
barato, Mateus. Sabe o que eu devia fazer com você? Terminar esse
namoro logo.
-E por que não termina de uma
vez em vez de ficar cozinhando em banho maria nesse tempo que você
pediu entre a gente?
-Eu devia, mas não tenho
coragem. Amo você. E tenho esperança que você consiga melhorar
como ser humano. Não consigo simplesmente desistir de você. Eu sei
que lá no fundo tem um coração bom batendo aí...
Os dois se beijam. CORTA A
CENA.
CENA 8: Riva recebe café da
manhã na cama de Vicente.
-Obrigada, amor! Mas precisava
de tudo isso? Eu posso descer as escadas e tomar café da manhã com
todo mundo...
-Você não ouviu as
recomendações do médico? O repouso deve ser o maior possível
nessas próximas 4 semanas.
-Ai gente, não sei se vou dar
conta de ficar um mês praticamente vegetativa, sem nem descer
direito pra sala da minha própria casa...
-Tenta fazer isso por você e
pelo bebê, Riva...
-Eu vou tentar. Tive muito
medo de perder nosso bebê e que você sofresse com isso...
-Para com isso, amor... o que
importa é que as coisas estão bem.
-Mas poderiam estar melhores,
né? O chato é saber que vou passar todo esse tempo sem nem chegar
perto de coentro...
-É um mal necessário, deixar
de comer algo q ue você gosta. Mas vem cá: como é que você não
perdeu o Marcelo quando tava grávida dele, se ama tanto coentro?
-Na época eu não conhecia
muito o coentro. Não tinha virado vendedora de quentinhas.
Trabalhava na venda do falecido seu Anacleto, que foi o único que me
acolheu quando o Márcio me abandonou grávida...
-Entendi. Olha, eu sei como
você é ativa. Se você quiser dar uma volta no pátio pela tarde,
me chama que eu venho te pegar pra você fazer o menor esforço
possível...
Os dois seguem conversando
apaixonadamente. CORTA A CENA.
CENA 9: Horas mais tarde,
Raquel aguarda Valentim terminar de atender um paciente seu para
falar a ele de sua decisão. Enquanto espera por ele, folheia
revistas e tenta se distrair com a TV da recepção, sem sucesso.
Quando está novamente tentando se distrair com uma revista, ela vê
a porta se abrindo e o paciente de Valentim deixando o consultório.
-Boa tarde, Raquel.
-Boa tarde, Valentim! Posso
entrar?
-Por favor... e então... já
tem uma resposta sobre aquela proposta que eu fiz ontem?
-Confesso que nunca esperei
nessa vida receber uma proposta dessas depois dos cinquenta anos.
-Mas diga. Já decidiu?
-Já decidi sim. Eu quero ser
investigadora.
FIM DO CAPÍTULO 47.
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