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sexta-feira, 8 de julho de 2016

CAPÍTULO 47

CENA 1: Riva se contorce de dor, apavorada.
-Meu amor, faz alguma coisa! Não deixa eu perder o nosso bebê, não deixa! - implora Riva, olhando com súplica para Vicente.
-Confia que vai dar tudo certo, meu amor... a gente vai pro hospital. Pensa positivo. Não há de ser nada, nosso bebê vai ficar bem...
Rafael se direciona a Haroldo.
-Mano, você pode pegar seu carro e levar o Cláudio e o Bruno pra casa deles?
-Claro que posso. Qualquer coisa você me liga, viu? Não deixem de me dar notícias! - fala Haroldo. Cláudio e Bruno vão com ele até a garagem e partem em seu carro em direção a Santa Tereza.
-Gente... vocês podem abrir espaço pra Riva respirar? Eu sei que tá todo mundo preocupado aqui, mas eu preciso levar ela pro meu carro... - pede Vicente.
-Vai dar tudo certo, minha neta. A gente vai com você pro hospital. Não há de ser nada grave... - fala Valquíria, tentando tranquilizar Riva.
-Mãe... como é que você tá se sentindo agora? - preocupa-se Marcelo.
-Além do medo? Muita dor... essas pontadas estão horríveis... - queixa-se Riva.
Riva se apoia no ombro de Vicente e Marcelo, que a levam até o carro.
-Vocês nos sigam com os seus carros. Só a dona Valquíria vai com a gente no carro, ok? É pra não estressar mais ainda a Riva. - pede Vicente.
-Nessas horas a Marion faz uma falta... - lamenta Ivan.
-Nem pensa em ligar pra mãe agora, você sabe que ela tá em gravações... - lembra Rafael.
Cada um vai para seus carros. Vicente acomoda Riva no banco da frente, ao seu lado, de maneira confortável e Valquíria se acomoda atrás.
Poucos instantes depois, todos chegam ao hospital e Riva é levada ao setor de emergência.
-Por favor, doutor! Eu não posso perder meu bebê!
O médico examina rapidamente Riva.
-O sangramento parece ter parado. Você ainda sente dores? - pergunta o médico a Riva.
-As dores já pararam, no meio do caminho. Mas estou assustada demais! Tive umas pontadas fortes demais logo após o jantar e o sangramento começou junto.
-Você pode estar com um princípio de aborto. De qualquer maneira, você deve ser encaminhada imediatamente para os exames. Vocês, parentes e marido, fiquem esperando na sala de espera. O exame não será demorado e logo eu venho com as notícias. Procurem se tranquilizar.
Riva é levada para os exames. CORTA A CENA.

CENA 2: Haroldo deixa Bruno e Cláudio na frente de casa e vai embora. Cláudio e Bruno se surpreende ao entrarem e ainda se depararem com Guilherme, na sala.
-Você não disse que ia embora ainda hoje, Guilherme? Achei que você tava praticamente de saída quando a gente foi na casa do Marcelo... - fala Cláudio.
-Fiquei com medo de andar na rua. Incomodo se ficar aqui mais essa noite?
-Não, Guilherme. Já está tarde pra ir até Copacabana em segurança. Mas você não precisava desse medo todo, precisava? Você nem andaria na rua, afinal de contas veio com o carro...
-O Cláudio tem razão. Mas já que você ficou com medo... eu durmo no sofá, de novo... - fala Bruno, conformado.
-E vocês, meninos, me deem licença que o dia de hoje foi cansativo demais! Preciso de um banho antes de pensar em comer e dormir... - fala Cláudio, indo para o quarto pegar suas coisas.
Bruno vai à cozinha preparar uma refeição rápida para todos.
-Você bem que podia ter chamado uma pizza pra gente, né Guilherme?
-Esqueci. Mas da próxima vez lembro de chamar. Afinal, normalmente sou um desastre na cozinha. Mas sabe, Bruno... queria levar um papo com você. Uma conversa de homem pra homem.
-Não entendi porque tá me tomando desse jeito. Mas fala...
-Eu quero que você se afaste do Cláudio.
Bruno fica surpreso e perplexo.
-Como é que é? Eu moro com ele! Não tenho pra onde ir! Você sabe perfeitamente disso!
-Não estou falando pra você ir embora dessa casa. Não agora. Mas vá pensando nessa possibilidade assim que arranjar um bom emprego. Eu não quero que você atrapalhe nada entre eu e ele.
-Você tá exagerando, cara. Por que eu atrapalharia? Eu sou amigo do Cláudio. Antes de mais nada, é isso que somos. Não entendo onde que isso pode te incomodar. Até onde eu sei você também é amigo dele, não? A única diferença é que tem alguns benefícios...
-Mas você foi namorado dele! Vai que pinta um clima entre vocês de novo e vocês resolvem voltar?
-O futuro a Deus pertence. Não cabe a mim, nem a você tergiversar sobre isso.
-Olha aqui, seu merdinha: eu tou tentando falar numa boa, mas você tá me obrigando a engrossar o tom... - fala Guilherme, segurando Bruno pelo colarinho e o encarando de forma ameaçadora. Bruno se assusta e permanece sem nada dizer.
-Você e eu sabemos muito bem que comigo não se brinca. Você vai querer mesmo pagar pra ver?
-Desculpe... eu não quero pagar pra ver. Mas me diz como que eu simplesmente vou me afastar do meu amigo?
-Isso você resolve sozinho, Bruno. Tou te dando a dica. Essa proximidade de vocês me incomoda.
-Ainda acho descabido você ter ciúme dele. Vocês nem namorados são.
-Ainda... mas no que depender de mim, vamos ser.
-Que seja.
-Tente não ficar tão próximo dele o tempo todo. Arranje desculpas, saia pela tangente. Não quero que vocês sejam confidentes um do outro. E se você disser uma palavra sobre essa nossa conversinha pra ele, já sabe: eu desminto tudo. E ainda faço feder pro seu lado. Você não quer o Cláudio decepcionado com você... quer?
-Não quero. Eu vou fazer o que você tá mandando. Mas não vou me afastar dele. Somos amigos acima de tudo. Eu não vou deixar de ser amigo do Cláudio. Não tenho medo de você.
-Pois deveria.
-Guarde as suas ameaças pra outro. Comigo elas não vão funcionar como você queria. Não mais.
Guilherme solta Bruno, que o encara. CORTA A CENA.

CENA 3: Meia hora depois, o médico surge na sala de espera e Vicente vai imediatamente em sua direção.
-E então, doutor. Como está a Riva? E o bebê?
-Estão bem. Riva felizmente não perdeu o bebê, mas estava com um princípio de aborto. Ela teve um leve descolamento das paredes uterinas, que deve ter sido causado por intoxicação acidental de agente abortivo.
Vicente, Mariana, Ivan, Marcelo, Rafael e Valquíria estranham afirmação do médico.
-Como assim, doutor? - falam todos, simultaneamente
-Esses acidentes são relativamente comuns. Poucas são as pessoas que tem conhecimento de que uma série de ervas, dentre elas muitos temperos, são potencialmente abortivas. Muitas mulheres, desconhecendo isso, podem não alterar seus hábitos alimentares ao se descobrirem grávidas. De acordo com que o exame de sangue apontou, ela tinha uma dessas ervas na corrente sanguínea. Provavelmente coentro. Desculpe a intromissão, mas vocês comeram coentro no jantar?
-Claro, gente! Aquele bobó de camarão maravilhoso que a Suzanne fez! - conclui Rafael.
-Está aí a resposta. Muitas pessoas consideram o coentro mais saboroso do que o tempero verde. Aliás, o tempero verde também deve ser evitado durante a gravidez. Ao contrário do que se imagina, o coentro, quando desidratado, em vez de reduzir seu potencial abortivo, aumenta. - esclarece o médico.
-Quando a gente chegar em casa, vamos colocar todos esses temperos fora! - determina Valquíria.
-Ela vai poder voltar pra casa ainda hoje, doutor? - pergunta Vicente.
-Vai sim. Mas é recomendável que pelo menos nas próximas quatro semanas ela mantenha o máximo possível de repouso. Se puder manter repouso absoluto, melhor ainda. É para garantir que a gravidez não será interrompida. - finaliza o médico. CORTA A CENA.

CENA 4: Suzanne vai ao quarto frustrada e Márcio percebe.
-O que foi agora, criatura? Não fez o que queria com a Riva?
-Fiz. E não deu certo.
-Como é que você sabe disso?
-Acabei de ver na TV. Até parece que você não sabe que a imprensa vive na cola dessa família... a notícia é que a Riva passou mal, mas não perdeu o bebê. Nosso plano deu errado.
-Era uma possibilidade. Acho que agora a gente vai ter que mudar a estratégia.
-Ah, é? E desde quando você virou o cabeça entre a gente? Sempre quem decidiu as coisas aqui fui eu.
-Deixe de ser ingrata. Já livrei a sua cara de um monte de coisa. Se não fosse por mim, você já tinha ido pra cadeia.
-Tá, Márcio. Você não é de todo um inútil durante esses anos todos. Agora me diz... que espécie de estratégia tá passando pela sua cabeça? Não tou conseguindo acompanhar... pelo menos em relação à gravidez da Riva não posso fazer mais nada.
-Nem é isso que pensei. Você não disse que o tal do Haroldo, o filho mais velho do Ivan, ficou te comendo com os olhos? Que te achou bonitona?
-Sim, mas onde o Haroldo entra nisso?
-Foca nele, criatura! O dinheiro não vem todo da mesma família? Se você conseguir engrenar uma relação com o Haroldo, você consegue uma grana preta e ainda não precisa aplicar golpe nenhum!
-Como é que não pensei nisso antes? Essa ideia é ótima! Obrigada, Márcio! Agora é investir pesado no pato e torcer pra dar certo!
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 5: Raquel está quase pegando no sono na sala do apartamento do hotel quando seu celular toca e ela percebe se tratar de Valentim.
-Boa noite, Valentim. Esqueci de alguma coisa no seu consultório?
-Não, Raquel. Na verdade, peço desculpa se te liguei meio tarde. Você parece cansada.
-Pode falar, doutor... digo, Valentim.
-Andei pensando em tudo o que conversamos na última vez que nos vimos e, analisando a sua postura discreta antes de contar toda a verdade sobre sua filha, concluí que você possui um talento nato para a investigação.
-O que você está querendo dizer? Melhor dizendo... onde quer chegar?
-Na parte que eu estou convidando você a se tornar investigadora.
-Você pirou, Valentim? Não tenho a instrução necessária pra isso.
-É justamente sobre isso que eu queria falar com você. Eu posso ser seu instrutor por um tempo pra você decidir futuramente se estuda e segue pra Polícia Federal ou não.
-Mas já passei da idade, Valentim...
-Besteira. Profissionais competentes não tem idade. Você tem tudo para ser uma excelente investigadora.
-Confesso que esse universo todo anda me fascinando a cada dia mais. Mas não sei... não posso te dar uma resposta agora.
-Então amanhã, quando você vier no consultório, naquele horário que você costuma vir, você me dá a resposta, certo?
-Pode ser. Agora preciso desligar. Não posso falar as coisas muito detalhadas aqui;
-Eu imagino o motivo. Até amanhã, Raquel.
Raquel desliga lisonjeada. CORTA A CENA.

CENA 6: No dia seguinte, Marcelo e Rafael decidem ir à casa de Cláudio visitá-lo. Ao chegarem lá, são surpreendidos pela presença de Guilherme.
-Oi, Cláudio... o que o Guilherme tá fazendo aqui?
-Longa história, Marcelo... mas ele já está de saída, não está? - fala Cláudio, apressando Guilherme para que ele termine de recolher suas coisas.
-Sim. Prazer te ver, Marcelo. Acho que não nos vimos desde o ensino médio... - fala Guilherme.
-É... lá se vão uns quatro ou cinco anos... - fala Marcelo.
-Outra hora a gente conversa melhor. Tou de saída. Até mais! - fala Guilherme, saindo pela porta e entrando em seu carro.
Cláudio fecha a porta e Marcelo o encara sem entender nada.
-Bruno, Cláudio? Alguém de vocês pode me explicar o que é que aquele tratante do Guilherme veio fazer aqui e tão cedo? - espanta-se Marcelo.
-Amor, isso é jeito de falar do cara? Não vê que o Cláudio é amigo dele? - repreende Rafael.
-Deixa, Rafa... o Marcelo tem razões pra achar o Guilherme um tratante. Ele só conheceu o Guilherme bad boy de anos atrás... - esclarece Cláudio.
-Pois é. Tou sem entender nada, Cláudio. Desde quando vocês ficaram amigos?
-Ah, Marcelo... foi justamente naquela época que... bem, que a gente brigou feio e você tava na Austrália. Ele me encontrou chorando na beira do mar, em Copacabana. Dali em diante ele foi se revelando uma pessoa mudada. Claro que ele tem os problemas dele, acho até que ele deve ter um transtorno. Mas ele se tornou alguém bom. E tem mais: nós estamos meio que ficando... - fala Cláudio.
-Meio que ficando não existe. Vocês estão ficando. Confesso que tou achando essa história toda uma coisa bem bizarra... - fala Marcelo.
-Vocês não acham melhor mudar de assunto? - sugere Bruno.
Todos seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 7: Laura acorda e percebe que Mateus ainda dorme pesado ao seu lado.
-Mateus, acorda! Você não tinha que estar nos estúdios, já?
-Não, Laura. Só tenho gravações amanhã.
-Você tem certeza que tá me falando a verdade ou tá conseguindo jogar essa oportunidade que você conseguiu na má-fé fora, já?
-Não acredito que até disso você tá duvidando.
-Motivos é o que não me falta.
-Às vezes você me trata como se fosse uma juíza, a me julgar e me condenar o tempo todo.
-Me poupe do seu dramalhão barato, Mateus. Sabe o que eu devia fazer com você? Terminar esse namoro logo.
-E por que não termina de uma vez em vez de ficar cozinhando em banho maria nesse tempo que você pediu entre a gente?
-Eu devia, mas não tenho coragem. Amo você. E tenho esperança que você consiga melhorar como ser humano. Não consigo simplesmente desistir de você. Eu sei que lá no fundo tem um coração bom batendo aí...
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 8: Riva recebe café da manhã na cama de Vicente.
-Obrigada, amor! Mas precisava de tudo isso? Eu posso descer as escadas e tomar café da manhã com todo mundo...
-Você não ouviu as recomendações do médico? O repouso deve ser o maior possível nessas próximas 4 semanas.
-Ai gente, não sei se vou dar conta de ficar um mês praticamente vegetativa, sem nem descer direito pra sala da minha própria casa...
-Tenta fazer isso por você e pelo bebê, Riva...
-Eu vou tentar. Tive muito medo de perder nosso bebê e que você sofresse com isso...
-Para com isso, amor... o que importa é que as coisas estão bem.
-Mas poderiam estar melhores, né? O chato é saber que vou passar todo esse tempo sem nem chegar perto de coentro...
-É um mal necessário, deixar de comer algo q ue você gosta. Mas vem cá: como é que você não perdeu o Marcelo quando tava grávida dele, se ama tanto coentro?
-Na época eu não conhecia muito o coentro. Não tinha virado vendedora de quentinhas. Trabalhava na venda do falecido seu Anacleto, que foi o único que me acolheu quando o Márcio me abandonou grávida...
-Entendi. Olha, eu sei como você é ativa. Se você quiser dar uma volta no pátio pela tarde, me chama que eu venho te pegar pra você fazer o menor esforço possível...
Os dois seguem conversando apaixonadamente. CORTA A CENA.

CENA 9: Horas mais tarde, Raquel aguarda Valentim terminar de atender um paciente seu para falar a ele de sua decisão. Enquanto espera por ele, folheia revistas e tenta se distrair com a TV da recepção, sem sucesso. Quando está novamente tentando se distrair com uma revista, ela vê a porta se abrindo e o paciente de Valentim deixando o consultório.
-Boa tarde, Raquel.
-Boa tarde, Valentim! Posso entrar?
-Por favor... e então... já tem uma resposta sobre aquela proposta que eu fiz ontem?
-Confesso que nunca esperei nessa vida receber uma proposta dessas depois dos cinquenta anos.
-Mas diga. Já decidiu?
-Já decidi sim. Eu quero ser investigadora.
FIM DO CAPÍTULO 47.

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