CENA 1: Todos acompanham,
emocionados, a cerimônia de casamento de Vicente e Riva. Suzanne
olha com deboche para os dois e Valquíria percebe.
-Sabe, Suzanne... você me
parece uma caixinha de surpresas... - fala Valquíria.
-Não estou entendendo, dona
Valquíria.
-Não se faça de
desentendida. À minha filha e à minha neta você até pode enganar,
mas não a mim. Pelo menos tenha a decência de se conter e dominar
essa sua cara de deboche, daqui a pouco todo mundo percebe. E não se
esqueça que estou com os olhos bem abertos sobre você.
-Isso é uma ameaça, dona
Valquíria?
-Eu não sou da sua laia. Não
sou do tipo que faz ameaças ou manda recado. Meu papo é direto com
você: experimente fazer algum mal pras minhas meninas, experimente!
Você não sabe do que sou capaz.
-E você acha que tenho medo
de uma velha com doença na cabeça?
-Não me subestime, garota. E
fale baixo... você não quer que a sua máscara de boa moça caia
agora, quer?
Suzanne encara Valquíria com
raiva.
A cerimônia de casamento
chega ao final e Riva e Vicente se beijam. Aos poucos, todos vão
deixando a igreja e se preparam para ir direto à mansão dos
Bittencourt, onde será realizada a festa do casamento, no salão de
festas.
-Foi mesmo uma cerimônia
emocionante, não foi, Suzanne? - fala Marion.
-Foi sim, querida. Quase
chorei com a beleza de tudo... - fala Suzanne.
-Engraçado. Não vejo na sua
cara nenhum rastro de emoção... - provoca Marcelo.
-Você não dá sossego mesmo
pra mim, não é, garoto? Não sei o que te fiz... - vitimiza-se
Suzanne.
-Não se faça de sonsa,
Suzanne. Você nem devia estar aqui...
Rafael tenta conter o
namorado.
-Marcelo, menos... por favor.
A imprensa toda está aqui. Contenha-se, por respeito ao momento da
sua mãe! - alerta Rafael.
-Ouça seu namorado, querido.
Quanto a eu estar aqui, bem querido... eu fui convidada. Apenas
aceitei o convite. E não esqueça que eu ajudei a organizar a festa
que estamos indo agora.
-Convites são feitos por
cortesia e gentileza. Declinar de convites não é deselegante,
sabia, Suzanne? - fala Marcelo.
-Chega, vocês dois! As
pessoas já estão começando a olhar... - preocupa-se Marion.
-Minha mãe tem razão. Por
que a gente não vai cada um pro seu carro e parte logo pra essa
bendita festa? Muitos já foram, inclusive os noivos... - complementa
Rafael.
-Vamos. Olha, Marcelo... eu
espero sinceramente que você pare com essa implicância besta
comigo... - fala Suzanne.
-Se você conseguir parar de
dar motivos pra mim, quem sabe eu consiga. Vamos, amor... não vamos
nos atrasar pra festa da minha mãe... - fala Marcelo.
Rafael e Marcelo partem para o
carro. CORTA A CENA.
CENA 2: Todos já estão na
festa em comemoração ao casamento de Riva e Vicente. Quando a
imprensa se aproxima, Suzanne instantaneamente aparece e se abraça
aos dois.
-Parabéns, meus amados! Vocês
merecem tudo de mais luminoso e reluzente nessa vida! - fala Suzanne,
forçando uma intimidade e deixando Vicente incomodado e Riva
constrangida.
O fotógrafo que está ali
resolve tirar uma foto dos três.
-E você, moça? Quem é? Como
se chama? Parece ser muito amiga dos noivos.
-Amiga? Amicíssima, diria que
sou a melhor amiga dos pombinhos! Me chamo Suzanne. Pode fotografar!
Riva e Vicente ficam perplexos
com atitude de Suzanne, mas ficam paralisados diante de sua ousadia.
O fotógrafo tira uma foto e a imprensa se aproxima cada vez mais dos
três. Vicente se impacienta.
-Que papelão é esse Suzanne?
Eu não sou seu amigo... - fala Vicente, ao pé do ouvido de Suzanne.
Riva percebe que precisa
controlar a situação
-Vocês dois sosseguem, que tá
enchendo de fotógrafo aqui... - pede Riva.
Mais fotógrafos e repórteres
se aproximam e pedem declarações aos três, sobre o casamento e
sobre a festa. Suzanne segue se dizendo íntima do casal e dando
declarações que interrompem constantemente a fala de Vicente e de
Riva. Os dois ficam impacientes com a situação. Riva se irrita cada
vez mais com Suzanne, mas disfarça. CORTA A CENA.
CENA 3: Instantes depois, com
a festa mais avançada e com a presença da imprensa já reduzida,
Marcelo e Rafael vão conversar com Riva, que está sentada à mesa
enquanto Vicente fuma no pátio da mansão.
-Mãe... como é que você
teve estômago e paciência pra aturar aquela cena absurda e
interminável que a Suzanne armou com vocês diante dos fotógrafos e
repórteres? - questiona Marcelo.
-Eu vi aquilo tudo e fiquei
perplexo com a audácia da Suzanne. Que ela é sua amiga e da minha
mãe a gente sabe, mas daí a se dizer amiga íntima do Vicente, só
porque ele é famoso, foi demais pra mim... - completa Rafael.
-Eu sinceramente perdi a
paciência. Na verdade eu fiquei furiosa! Olha meninos, eu gosto da
Suzanne, mas que tipo de liberdade o meu marido deu a ela pra ela
chegar daquele jeito e tentar roubar a cena de um casamento que nem
dela é? A vontade que eu tive, várias vezes, foi de meter a minha
mão na cara dela. Só me segurei porque sou fina. - desabafa Riva.
-Eu entenderia se você
tivesse feito um barraco, mãe... até eu, que vi a cena de longe,
fiquei constrangido e tive vontade de tomar satisfação com a
doida... - fala Marcelo.
-Ah, meu filho... você sabe
que vontade não me faltou. Mas agora as coisas são diferentes do
que eram no começo do ano. Não posso mais me dar à liberdade e ao
luxo de fazer o que meu sangue quente pede. Hoje somos pessoas
relativamente famosas e estamos cercados de pessoas queridas nossas
que são mais que famosas.
-Verdade, mãe... por mais que
não fosse nossa intenção, o fato é que pertencemos à alta
sociedade carioca... - constata Marcelo.
-É, mas bem que aquela
mulherzinha poderia ser colocada no seu devido lugar. Ah, se não
tivesse a imprensa aqui hoje... - divaga Rafael.
-Mas tem, meus queridos. A
Suzanne sabia disso. Sabe o que eu acho mais maluco nisso tudo? Fico
com a impressão que ela sabia de tudo isso e agiu de caso pensado...
- constata Riva.
-Sabe o que é que tá
acontecendo, mãe? Depois de meses e meses, você tá começando a
finalmente abrir os olhos sobre quem se esconde por trás de tanta
suposta simpatia e gentileza. - fala Marcelo.
-Marcelo tem razão. Sabe,
Riva... eu posso só ter dezenove anos ainda, mas já conheci tudo
quanto foi tipo de gente nessa vida. Nos bastidores da TV nem se
fala... rola inveja, disputa interna, é um querendo puxar o tapete
do outro pra conseguir o destaque que julga merecer... e se tem uma
coisa que aprendi faz algum tempo é que não se deve confiar em quem
sorri demais, quem agrada demais, quem é feliz e solícito o tempo
todo. Essa perfeição toda é fachada, não existe. Como diria Zélia
Duncan: “perfeição demais me agita os instintos”. E em mim,
desperta desconfiança. Desculpa falar tudo isso, prima... mas acho
melhor dizer logo o que penso... - fala Rafael.
-Eu agradeço por vocês
estarem sempre por perto pra me tranquilizar. Mas aproveitem que a
festa também é de vocês, não é só minha! - fala Riva.
Vicente volta à mesa e
Marcelo e Rafael seguem pelo salão. CORTA A CENA.
CENA 4: Instantes depois,
ainda com a presença de alguns representantes da imprensa, Haroldo é
visto pelos fotógrafos e repórteres e as atenções se voltam
totalmente para ele. Rafael e Marcelo percebem que estão mais livres
dos olhos da imprensa.
-Rafa... cê tá pensando o
que eu tou pensando?
-Hmm... deixa ver se estou em
boa sintonia contigo... o pessoal da imprensa tá todo em cima do meu
irmão agora e...
-...e a gente podia ir pro
pátio, pra você fumar seu cigarro, como quem não quer nada...
afinal de contas...
-...não tem ninguém da
imprensa no nosso pátio. Vem, Marcelo... vem comigo.
Os dois deixam disfarçadamente
o salão e se dirigem ao pátio da mansão. Marcelo resolve falar.
-Mas você podia deixar esse
cigarro pra depois, né amor? Não é a todo momento que a imprensa
te deixa em paz e você pode ser meu namorado...
-Tá certo. O meu vício maior
é em você. O outro pode esperar.
Os dois se beijam e se amam
ardentemente enquanto ninguém vê. CORTA A CENA.
CENA 5: No dia seguinte, no
início da tarde, Haroldo resolve ir à casa de Cláudio, que o
recebe com surpresa.
-Confesso que a última pessoa
que eu esperava ver hoje era você.
-Eu sei quando não tem ensaio
na companhia de teatro, esqueceu?
-Pois é. Agora tudo faz
sentido. Você é filho de um dos patrocinadores da casa... mas por
favor, entre.
Haroldo entra e Guilherme não
gosta de vê-lo ali.
-Posso saber o que esse
falsário tá fazendo aqui? - fala Guilherme, visivelmente irritado.
Cláudio fica chocado com a postura do namorado.
-Isso é jeito de falar,
Guilherme? Peça desculpas ao Ro... ao Haroldo, agora!
-E eu vou pedir desculpa pra
um sujeitinho que até outro dia mentia ser quem não era pra você,
Cláudio? Me poupe! - continua Guilherme. Cláudio se impacienta.
-Ele veio me visitar! Não a
você. A casa é minha! Recebo quem eu quiser. No mais, ele já foi
meu namorado...
-É, mas o seu namorado agora
sou eu e eu não quero esse cara vindo aqui!
-Você é meu namorado, não é
meu dono. Nunca fui propriedade de ninguém, muito menos de você!
Faça um favor a mim e a você mesmo: volte pra sua casa! Hoje eu não
quero mais te ver!
-Mas... meu amor, eu não
quero brigar...
-É sempre tudo assim: “eu
não quero”... você não se cansa de ser controlador? Vá pra sua
casa refletir nas merdas que você disse hoje. Pegue suas coisas e
saia.
Guilherme olha com raiva para
Haroldo. CORTA A CENA.
CENA 6: Valentim, Mara e
Raquel estão reunidos no consultório de Valentim.
-Então, Raquel... essas são
todas as informações que você tem a passar sobre a sua filha? -
pergunta Mara.
-Sim... infelizmente isso é
tudo o que tenho a dizer... - lamenta Raquel.
-Não se lamente... - fala
Valentim.
-Tudo isso já será de grande
ajuda para nós pelo menos iniciar nossas investigações. Como não
se trata de nada oficial ainda, essas informações pelo menos nos
norteiam. O passado de sua filha Suzanne diz muito sobre como deve
ser nossa linha de investigação. Ela apresenta, como já disse o
Valentim, os traços de comportamento clássicos de uma psicopata
“comum”. Desde matar pequenos animais e torturá-los quando
criança a contar mentiras e aplicar pequenos golpes desde a
juventude. - fala Mara.
-Mas ainda fico na dúvida.
Como é que nós vamos chegar em alguma coisa se minha filha nunca
teve sequer uma passagem na polícia?
-Raquel... sua filha não
teve, mas o companheiro dela, o Márcio, teve. Chegou a ficar preso
por um ano, não foi? - questiona Valentim.
-Foi. Mas vocês sugerem que
eu já diga a ele que sou investigadora? Não acho prudente. O Márcio
sempre foi um bom rapaz... sinto como se fosse mãe dele. Porém, ele
sempre foi cego de amor pela Suzanne... - fala Raquel.
-Não, você não vai dizer
nada a ele ainda. Mas talvez para chegar ao passado de sua filha,
seja melhor investigar primeiro a ficha criminal do Márcio... -
pondera Mara.
-Ele não corre o risco de ser
preso de novo, corre? - assusta-se Raquel.
-Não. Ele já pagou pelos
crimes cometidos. Quanto a isso fique tranquila – fala Valentim.
-A questão aqui, Raquel, é
que se nós analisarmos as ocorrências dessas queixas prestadas
contra o Márcio, nós podemos entender melhor o background
dos crimes que ele cometeu, provavelmente a mando de Suzanne, sua
filha. Chegando nesse ponto do passado dele, chegamos automaticamente
no passado dela. - esclarece Raquel.
-Mas isso ainda não é prova
cabal de nada contra minha filha, gente. Ela vai continuar a arranjar
comparsas e a aplicar golpes, desse jeito... - preocupa-se Raquel.
-É aí que você entra,
Raquel. Você não disse que tem uma boa relação, quase que como se
fosse de mãe e filho com o Márcio? Então... aproveite-se disso
para aos poucos tentar convencê-lo a romper com sua filha, entende?
- fala Valentim.
-Isso não vai ser uma tarefa
fácil, gente... desde garoto o Márcio é louco pela minha filha...
faz praticamente tudo o que ela manda sem questionar. Não vai ser
fácil porque nem mesmo depois que ele passou pela prisão ele deixou
de ter esse amor, essa devoção pela Suzanne. - fala Raquel.
-Fácil nosso trabalho nunca
vai ser, querida. Nós precisamos nos acostumar a observar e a ler as
nuances das pessoas... é como se tivéssemos de aprender a
manipular, só que pelo lado do bem, a serviço da justiça... -
esclarece Mara.
Os três seguem debruçados
sobre os papeis impressos das buscas que estão fazendo ao investigar
a ficha criminal de Márcio no computador de Valentim. CORTA A CENA.
CENA 7: Cláudio e Haroldo tem
conversa difícil.
-Eu não tenho motivos pra
mentir pra você numa altura dessas, Haroldo. Senti muita, mas muita
raiva de você quando eu soube que Rodrigo nunca existiu. Tive
vontade de tanta coisa, de te cobrir de porrada e até mesmo fazer
coisa pior. Mas aos poucos o sangue foi esfriando...
-Olha, Cláudio... eu espero
que você entenda que a minha intenção nunca foi mentir pra você.
Tudo isso foi fugindo do meu controle. Eu fugi da minha família pra
proteger a mim e a eles e não podia mais ser o Haroldo. Não era só
eu que estava em risco.
-Você já me explicou isso,
mas eu sinceramente não entendo. Quais eram esses riscos tão
imensos que simplesmente te impediam de dizer quem realmente era? Mas
sabe... pelo menos agora tudo faz sentido. Você não queria que
nenhum dos meus amigos te conhecesse porque algum deles poderia
relacionar as coisas. Da sua maneira torta, bem torta, você me
protegeu.
-Eu fico feliz que você tenha
entendido isso finalmente. Pensei que nunca entenderia. Eu não
perdia a paciência contigo a toa. Eu sei que aquela vez eu peguei
pesado quando te agarrei pelo rosto. Me arrependo disso... mas eu
tava farto, sobrecarregado. Por um lado a obrigação de manter tudo
secreto e do outro lado tinha você me pressionando a dizer coisas
que eu nunca poderia dizer...
-E pelo visto continua sem
poder. Você tem medo. Deve ser algo muito grave.
-E é, disso você pode ter
certeza.
-Posso saber pelo menos o que
tinha naquela caixa? Nunca consegui abrir essa maldita caixa, que
você deixou cair aqui quando terminou comigo.
-O que tinha naquela caixa faz
parte do que eu não posso te revelar. Me desculpe... eu gostaria que
me devolvesse, se puder. O melhor que tenho a fazer é destruir essa
caixa, queimar, fazer tudo o que tem dentro dela virar cinzas...
-Não se preocupe, Haroldo...
eu já fiz isso por você. Já tem algum tempo. Amigos, então?
-Pra sempre! Eu senti sua
falta, seu ruivinho atrevido!
Os dois se abraçam.
-Fica pro jantar! Bruno vai
fazer aquele risoto de siri que você adora!
-Desculpe, Cláudio... já
preciso voltar pra casa. Fica pra uma outra oportunidade.
Os dois se despedem e selam a
amizade. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, Mateus
está no banho e Laura resolve olhar o celular dele e vê um número
residencial nas chamadas recentes. Movida por sua intuição, resolve
discar de seu celular para aquele número e quem atende do outro lado
da linha é “Chefe”, que permanece em silêncio.
-Alô, quem fala aí do outro
lado? Desculpe ligar uma hora dessas, mas recebi uma ligação horas
atrás desse número e perdi a chamada.
“Chefe”, entretanto,
permanece calado e se ouve apenas sua respiração ofegante do outro
lado.
-Por favor, você pode me
dizer quem é? Eu realmente não conheço esse número nem tenho ele
na minha agenda... - continua Laura.
-Você é curiosa demais,
moça. Devia aprender a não ir atrás de certas coisas... - diz
“Chefe”.
-Olha aqui, se você pensa que
vai me intimidar com esse tipo raso de ameaça, tá é muito do
enganado. Não sou de me intimidar por um covarde que nem diz quem é!
-Mas eu sei quem você é. E é
bom você parar de ir atrás do que não é da sua conta. Você
sabe... acidentes acontecem.
-Dá pra pelo menos falar quem
você é, seu imbecil? Se você pensa que...
Mateus sai do banho e entende
que Laura foi atrás de “Chefe” e arranca o celular de sua mão,
desligando imediatamente.
-Por que você fez isso,
Mateus?
-Acredite, é pela sua
segurança...
Laura encara Mateus,
intrigada. CORTA A CENA.
CENA 9: Valentim está prestes
a fechar seu consultório e é surpreendido pela chegada de Victor e
Diogo.
-Se atrasaram hoje? Bem que
notei que o horário do Victor ficou vago...
-Desculpe. Não pudemos vir
antes... o fato é que gostaria de levar um papo contigo antes do
Victor se consultar com você... - fala Diogo.
Valentim entende o recado e
pede para Diogo entrar.
-Valentim, eu preciso te
contar detalhadamente algumas coisas.
Valentim se intriga. FIM DO
CAPÍTULO 52.
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