CENA 1: Vicente tenta
tranquilizar a todos.
-Se vocês estão apavorados,
imagina a gente? Tá sendo a pior experiência das nossas vidas. Mas
não vai adiantar a gente desesperar agora. Precisamos ter calma, fé
e confiar que a polícia vai encontrar o nosso menino. Fé é
importante, mas no final das contas, não é Deus quem resolve... são
os homens. Precisamos acreditar que tudo isso vai acabar bem.
-A sua força e resignação
são admiráveis, Vicente. No seu lugar, eu estaria destroçado...
porque já vivi a dor de ter um filho desparecido, por mais de dois
anos... - fala Ivan.
-Mas a Riva, coitada... ela tá
que não consegue falar! Quanta maldade, meu Deus! Um bebê de colo,
levado pelos sequestradores! Não dá pra acreditar... - lamenta
Marion.
-Filha... cê não tá
ajudando falando essas coisas... não é porque o Vicente tá com
essa calma aparente que ele não esteja destruído por dentro...
pensa antes de falar, Marion! - repreende Valquíria.
-Ei... não vão brigar por
causa disso. Eu entendi a boa intenção da Marion. Agradeço pela
preocupação de vocês. Mas infelizmente nesse momento a gente tá
de mãos atadas... esperando pelas notícias, que podem ou não
chegar.
-Queria poder fazer algo pra
ajudar... de verdade. Mas receio que não possamos fazer nada... -
lamenta Ivan.
-Vocês já estão sendo
maravilhosos de dar esse apoio... vamos confiar que tudo vai dar
certo... - finaliza Vicente.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Raquel vê pela TV a notícia de que o bebê de Riva e
Vicente continua desaparecido após o sequestro da noite anterior.
Desconfiada, Raquel resolve ligar para Valentim.
-Oi, Valentim... espero não
ter te acordado.
-Não acordou, Raquel. Estou
quase indo abrir o consultório, já. Precisando falar sobre alguma
coisa?
-Sim.
-Pode falar...
-Você deve estar sabendo do
sequestro que a Riva e o Vicente sofreram. Levaram o filho
recém-nascido deles. Eu tenho uma leve desconfiança de quem pode
ter mandado que esse crime fosse cometido.
-Pois me diga quem é o
suspeito que eu avalio a situação.
-Eu desconfio da Suzanne.
-O que? Da sua filha? Tudo bem
que ela é uma psicopata, mas ela não é inconsequente. Você acha
que ela teria motivos para isso?
-Valentim... pensa comigo. Ela
passou a vida inteira aplicando pequenos golpes em várias pessoas,
mas nunca voltou para continuar a enganar nenhuma delas. Ela tem uma
cisma com a Riva. Márcio já me contou por cima. Essa cisma persiste
por mais de vinte anos, desde que ela era uma garota.
-E você faz alguma ideia do
motivo que leva a Suzanne a ter essa cisma com a Riva? Porque
honestamente isso não se encaixa com o perfil de golpista da
Suzanne. O negócio dela é faturar dinheiro através de golpes. Até
ano passado, a Riva era pobre... percebe como isso não se encaixa?
-De qualquer forma,
Valentim... acho que você deveria dar uma atenção especial a isso.
-Vou levar em consideração.
Preciso desligar agora. Nos vemos mais tarde.
CORTA A CENA.
CENA 3: Haroldo e Laura,
depois de uma noitada em uma boate, andam pela rua ao amanhecer,
levemente embriagados.
-Nossa, Laura, me diverti
horrores essa noite!
-O que? Você que não parava
de fazer palhaçada na pista! Não conseguia parar de rir!
-Tá vendo como eu não sei
dançar? Mesmo assim eu danço.
-Bobo! É dessa cara de pau
que eu falo, que é necessária pra fazer teatro. Você é mais
desinibido que imagina...
-E você não se cansa de ser
essa linda, não? Tá sempre olhando pra mim desse jeito generoso...
-Deixe de ser modesto,
Haroldo. Você é um cara incrível. Deveria tratar a si mesmo com
mais generosidade... você merece fazer isso por si mesmo.
-Acredite, Laura... eu não
sou tão bom quanto pareço ser.
-Engraçado... não é nada
disso que eu vejo nos seus olhos.
-Olhos podem enganar. Eu não
sou uma boa companhia.
-Como você é bobo, Haroldo.
Acha mesmo que vou cair nesse papo? Você é bom, sim! Não me
importa o seu passado. Eu sei que você tinha uma identidade falsa e
que nesse tempo namorou com meu melhor amigo. Mas também sei que
você não fez isso porque quis... eu sinto.
-Laura... você tem
curiosidade por coisas que podem ser perigosas. Não sou uma boa
companhia justamente por causa disso. Acredite: é melhor manter uma
distância segura de mim.
-Você quer essa distância?
-Não quero... mas é preciso.
-E se eu decidir não me
afastar? Você não pode me impedir...
-Você é uma força da
natureza, Laura...
-Sou? Não sei... mas sei que
essa noite ainda não acabou. Foda-se que já amanheceu. Eu quero ir
pra praia, você vem comigo?
Haroldo não resiste e segue
Laura. CORTA A CENA.
CENA 4: Horas mais tarde,
Raquel está no consultório de Valentim, na companhia dele e de
Mara.
-E então... alguma novidade
sobre minhas suspeitas?
-Olha, Raquel... nós estamos
considerando essas suas suspeitas, no entanto nossas buscas estão
mais concentradas nos retratos falados que acabamos receber da
delegada, dos sequestradores... - fala Mara.
-Entendo seu empenho em
auxiliar. Mas talvez nesse momento, Raquel, não seja oportuno
levantar essas suspeitas em relação à Suzanne – prossegue
Valentim.
-Eu sei, gente... tudo isso é
sério. Mas tenho certeza que minha filha tem participação no
sequestro da criança.
-Se tem, ela disfarçou muito
bem, Raquel. Nada aponta para ela, absolutamente nada. Sequer uma
suspeita... - fala Valentim.
-Vocês precisam me ouvir! -
protesta Raquel.
-Querida... por favor,
contenha-se. A gente entende que você tem seus motivos, mas o
momento é delicado e não podemos nos dar ao luxo de trabalhar com
suposições. Estamos correndo contra o tempo e o tempo vale ouro pra
gente. Precisamos antes de mais nada localizar o filho da Riva, antes
que algo pior aconteça com o bebê. Você compreende a gravidade
disso, não compreende? Então não leve a mal se não estamos
podendo te ouvir agora. Não depende da gente. Estamos seguindo
apenas a ordem natural das investigações... - fala Mara.
Raquel fica inconformada.
CORTA A CENA.
CENA 5: A imprensa chega à
mansão dos Bittencourt e Vicente e Riva começam a falar.
-Estamos aqui hoje para fazer
um apelo. Um apelo aos sequestradores que levaram nosso filho. Vocês
devem ter família... mãe, pai, ou mesmo filhos. Se coloquem no
lugar da gente e imaginem como seria horrível ter um filho ou um
familiar sequestrado... - fala Riva, chorando.
Vicente consola Riva.
-Fazemos esse apelo também às
autoridades, para que intensifiquem as buscas ao nosso Lúcio. Ele é
só um bebê de colo. Precisa de cuidados, pois ainda é um incapaz.
Esse apelo é para que as autoridades, que também tem família,
lembrem disso. Precisamos saber que nosso menino está bem. - fala
Vicente.
O repórter que entrevista os
dois se volta para a câmera e começa a falar.
-Como vocês podem ver, a
família Bittencourt está arrasada por esse trágico acontecimento.
Endossamos o apelo de Vicente Fernandes e Riva Oliveira, para que
esse caso seja resolvido rapidamente e da melhor forma. - fala o
repórter, solicitando ao câmera que pare a filmagem.
-Então é isso, pessoal. Já
filmamos o suficiente. Desejamos muita sorte a vocês e que esse
apelo possa chegar às autoridades e aos sequestradores. Toda a sorte
do mundo para vocês! - fala o repórter.
A imprensa deixa a mansão.
-Agora é esperar, Riva...
esperar que tudo termine bem... - fala Marion.
-Precisamos manter o
pensamento firme e acreditar que meu irmãozinho logo vai ser
achado... - fala Marcelo, abalado.
CORTA A CENA.
CENA 6: Laura demonstra
preocupação pelo que está acontecendo com os Bittencourt.
-Ai, Mateus... que horror tudo
isso que tá acontecendo com a mãe do Marcelo... que esse bebê seja
logo encontrado e que esteja bem.
-Nem me fala, Laura... nunca
imaginei que nossa insegurança na cidade estivesse a esse ponto. Às
vezes sinto saudade de Salvador, mas não deve estar muito diferente
por lá...
-Verdade. Mas tou me sentindo
culpada, Mateus... enquanto toda essa barbárie acontecia, eu e o
Haroldo estávamos curtindo a noite na boate, sem fazer a mínima
ideia do que tava acontecendo...
-Deixa disso, Lau... vocês
não podiam adivinhar o que tava acontecendo. Tinham marcado de sair
antes de acontecer tudo isso.
-Mesmo assim... me sinto
esquisita com tudo isso. Enquanto a gente se divertia feito dois
adolescentes, o mundo tava desabando na cabeça da família dele...
-O Haroldo já passou por
muita coisa nessa vida, Laura. Merece esse descanso.
-Você parece saber muita
coisa dele, Mateus...
-E sei, mas acredite quando
digo que é melhor eu não dizer muita coisa.
-Vocês parecem que estão de
combinação, não é possível. Ainda hoje ele me disse que não é
uma boa companhia pra mim, que eu devo me afastar.
-Ele tem suas razões. Mas é
um cara do bem, nisso você pode confiar.
-Eu sei, querido... eu sinto.
Mas algo de muito escabroso deve estar nesse background, pra ele ser
tão escondido.
-Laura... sério. Não se mete
nisso. Vai ser melhor pra todos nós...
-Às vezes parece que vocês
compartilham desses segredos...
-Laura, por favor... não
insiste. Vai ser melhor pra nós.
-Já vi que você não vai me
dizer nada, mesmo. Pensei que depois de todo esse tempo você tivesse
um pouquinho mais de confiança em mim.
-Não se trata de confiança,
minha amiga... só quero te proteger.
-Mas proteger do que, Mateus?
Você não pode me dizer as coisas pela metade e esperar que eu não
tenha dúvidas e questionamentos, entende?
-Você precisa confiar em mim.
Confiar no Haroldo também.
-Se eu estou sendo ingênua,
eu não sei... mas de alguma forma, eu confio em vocês.
-Ótimo. Tem gente barra
pesada que é melhor que você nunca conheça.
Laura fica intrigada. CORTA A
CENA.
CENA 7: Suzanne é encurralada
por Márcio, que a agarra pelo pescoço.
-O que é isso, cara? Você
não mata nem uma mosca!
-Suzanne, chega! Você passou
de todos os limites! Você tem que parar essa porra desse sequestro!
Lúcio é só um bebê! Eu não vou permitir que ele tenha o mesmo
fim do nosso filho. Não vou mesmo!
-Vai fazer o que, imbecil? Me
matar? Você não pensa em nada, mesmo, por isso sempre dependeu das
minhas ideias pra conseguir a pouca bosta que conseguiu nessa vida.
Grande ideia essa sua! Me ameaça pra me pressionar, daí me mata e a
coisa fica como? Só eu posso fazer alguma coisa por esse bebê
babão!
-Você sabe muito bem que eu
não te mataria. Mas você vai ligar agora pros sequestradores.
Agora!
-Me obrigue!
-Vai ser desse jeito? Ótimo!
Eu ligo agora pra sua mãe e conto que você mandou que o filho da
Riva fosse sequestrado. Vai pagar pra ver? Tou com o celular na mão,
já.
-Você não teria coragem, tem
alta consideração pela dona Raquel, como se ela fosse sua mãe e
não minha. Não iria querer causar essa dor no coraçãozinho dela,
iria?
-Como você é fria, Suzanne.
Mas se engana: eu estou ao lado dela. A verdade pode ser dura, mas
deve ser dita.
Márcio começa a discar para
Raquel e Suzanne dá um tapa em sua mão, fazendo o celular cair.
-Tá! Eu ligo pros caras! O
que você quer que eu mande eles fazer?
-Mande eles devolverem o
Lúcio.
-Ficou doido? Assim eles vão
ser pegos e eu acabo caindo junto! Você cai comigo, logo na
sequência.
-Dá o teu jeito, Suzanne.
Você começou tudo isso, você termina. Ou então eu pego o celular
do chão e você já sabe...
Suzanne liga para os
sequestradores. CORTA A CENA.
CENA 8: Marcelo e Rafael estão
no quarto de Riva e Vicente, procurando a certidão de nascimento de
Lúcio, quando o celular de Riva toca.
-Alô, quem fala? - fala
Marcelo, que atendeu o celular.
-Poderia falar com dona Riva
Oliveira? Aqui é da delegacia de polícia.
-Claro! Sou o filho dela,
estou levando o celular até ela.
Marcelo e Rafael descem
rapidamente.
-Mãe... estão ligando da
delegacia pra você. Acho que querem te falar sobre alguma coisa... -
fala Marcelo, entregando o celular à Riva.
-Sim?
-Dona Riva... o filho de vocês
foi deixado na entrada da nossa DP. Está sob os cuidados de duas
enfermeiras e está bem. Vocês podem vir buscar o filho de vocês.
Riva deixa o celular cair e
vibra.
-Encontraram o Lúcio! -
exclama, emocionada. FIM DO CAPÍTULO 66.
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