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quinta-feira, 28 de julho de 2016

CAPÍTULO 64

CENA 1: Valentim segue a falar.
-Encontrei uma maneira eficaz de descobrirmos de uma vez por todas se o seu neto está vivo ou morto.
-Diga, Valentim!
-Então, Raquel... basta buscar os registros de óbito em Niterói no período correspondente ao nascimento do seu neto. Claro que o período de pesquisa tende a se estender até alguns dias depois. Se de fato tiver acontecido o óbito desse bebê, algum médico, não importa de que hospital, deve ter assinado o atestado de óbito.
-Sim, Valentim... mas tudo isso que cê tá me dizendo é um tanto quanto vago. Evidentemente deve ter acontecido óbitos de recém-nascidos naquele período. Como você vai efetivamente descobrir alguma coisa baseado somente nessas informações? Não faz o mínimo sentido, desculpe dizer...
-Raciocine comigo, Raquel: nos registros de óbito constam a filiação dos falecidos, certo? Independente de serem bebês ou não, pais vivos ou não... faz parte do processo, certo?
-Sim... acho que tou começando a compreender.
-Então, seguindo essa linha de raciocínio, não havendo registro ou denúncia de abandono de incapaz naquele período em toda a cidade, isso facilita as coisas...
-Deixa ver se entendi: facilita porque, se houver um único registro de óbito de recém-nascido de pais desconhecidos, esse então seria o meu neto, é isso que entendi?
-Exatamente, Raquel. Não havendo esse registro em nenhuma documentação, significa então que seu neto não morreu ao nascer.
-De qualquer maneira, vai continuar a ser uma informação de pouco valor. Só vamos confirmar se ele morreu ou não, mas não vamos saber ainda sobre o paradeiro do menino...
-Engano seu. Claro que durante algum tempo essa vai ser a única informação de que vamos dispor. Mas digamos que constatemos que não houve o óbito: qual seria o próximo passo, naturalmente?
-Ir atrás dos registros dos orfanatos e das listas de adoção da cidade...
-Bingo! Viu como você tem o faro de investigadora?
-Certo... mas de qualquer maneira, como é que a gente chegaria numa informação conclusiva a esse respeito, Valentim? A probabilidade de haver bem mais de uma criança nascida em 4 de maio de 1995 deixada em orfanatos é grande...
-Nesse caso eu deixo para você pesquisar a árvore genealógica da família do pai da criança.
-O que? Mas onde que os antepassados do Márcio entrariam nisso? Desculpa, Valentim, mas não entendi nada agora...
-Simples, Raquel: você e sua filha são brancas, de origem espanhola, certo?
-Sim, certo... mas não entendi ainda onde que os antepassados do Márcio entram na jogada.
-Me responda, Raquel: você sabe a descendência dele?
-Claro que sim... ele descende de húngaros, belgas e de indígenas. Acho que tou começando a entender.
-Justamente. Basta a gente jogar no google qualquer pesquisa de biologia pra concluir que juntando esses fatores, a gente exclui automaticamente as crianças de pele escura ou negras, que não poderiam nesse caso, serem o seu neto.
-Sim, mas isso a gente só vai poder fazer se ele realmente estiver vivo...
-Espero que descubramos isso logo, Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 2: Em Angra dos Reis, na manhã do dia seguinte, Rafael acorda Marcelo com um café da manhã.
-Bom dia, meu marido!
-Devo ter morrido e ido pro céu. Olha bem pro monstro que cê tá criando, Rafa... sou rápido em ficar mal acostumado. Depois, quando você voltar a trabalhar na TV, não reclame se eu não sair da sua cola...
-Seu bobo. Tá bom esse café da manhã?
-Tá ótimo, amor... tudo o que eu gosto... não é a toa que casei com você.
-E a sua alergia, melhorou?
-Acho que sim... quase não sinto mais a coceira.
-Hmm... que ótimo! Posso dar uma olhadinha nos braços e nas costas?
-Claro, amor!
Rafael olha para os braços e para as costas de Marcelo e fica intrigado.
-Tem certeza que a sensação de coceira diminuiu, Marcelo?
-Tenho sim... por que?
-Porque as irritações continuam iguaizinhas a ontem quando a gente saiu do mergulho, acredita?
-Estranho, Rafa... ainda sinto coceira, mas nem de longe tão intensa quanto ontem.
-Vamos ver como isso evolui, né? De repente foi algum fungo, alguma coisa pouca... mas fico preocupado.
-Para com isso, amor... eu que estou com essas irritações não estou tão preocupado, você não deveria ficar assim.
-Ah, Marcelo... me preocupa o seu bem estar, você sabe disso.
-Mas chega desse papo porque você não comeu nada ainda e imagino que esteja morto de fome.
Os dois seguem com o café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas mais tarde, Laura está indo para o intervalo de seus ensaios na companhia de teatro quando se depara com Haroldo.
-Haroldo? É esse o seu nome, não é? Irmão do Rafa e tudo mais...
-Sim. Você é a Laura, certo?
-Isso mesmo. Sou amiga do Cláudio e amiga do Marcelo. Não esperava ver você aqui no teatro...
-Às vezes gosto de passar meu tempo vendo os atores ensaiando. Acho que lá no fundo eu sempre quis ser ator, mas como sou péssimo ator, nunca me arrisquei a subir num palco.
-O que te faz pensar que seria péssimo? Bem, se não se importa eu vou indo à lanchonete, se quiser vem comigo...
-Vou sim... enfim, ah... eu não sei se presto pra ser ator. Morro de aflição de imaginar aquele público todo olhando pra mim num dia de apresentação, por exemplo.
-Besteira. A gente passa por esse nervosismo, mesmo... você devia tentar ver como funciona tudo. Fazer as dinâmicas de grupo, os exercícios de confiança e tudo mais... sabia que grande parte de atuar consiste na maneira que expressamos nossos corpos?
-Nossa... nunca parei pra pensar por esse lado, sério mesmo.
-Pois não sabe o que perde, Haroldo. É uma liberação de endorfina equivalente a ir numa academia...
-Sempre detestei academia, Laura...
-Mas é aí que vem a vantagem do que a gente faz nos ensaios... você se exercita sem perceber que tá se exercitando. Acaba pegando gosto pela coisa, fica meio dependente dessa endorfina... se torna até mais feliz, sabia?
-Desse jeito que você fala, tão empolgada e cheia de paixão, dá até vontade de tentar entrar no grupo de atores da companhia.
-Não seria uma má ideia, viu? Tenho certeza que você não se arrependeria e ainda descobriria como é ótimo ser ator...
Os dois se olham, encantados um com o outro. CORTA A CENA.

CENA 4: Regina e Geraldo estranham Eva não ter ido ao ensaio.
-Poxa, filha... você mal casa com a Renata e deixa de ir ao ensaio que vocês sempre costumavam ir juntas? - fala Geraldo.
-Ah, pai... ando tão desanimada, tão pra baixo! Não é que eu não ame o teatro, amo muito! Mas me frustra ter sido esquecida pela emissora... uma ponta em um seriado já tava valendo!
-Minha filha, você tinha plena consciência de que isso poderia acontecer a partir do momento que você tornou público que é lésbica... já conversamos muitas vezes sobre isso e você entendeu que mais importante que estar na TV, é ser feliz ao lado de quem você ama... - fala Regina.
-Eu sei de tudo isso, mãe. Eu sou a mulher mais feliz do mundo em ser casada com a Renata... ela é a mulher que eu amo hoje e vou amar por todos os dias da minha vida... mas mesmo assim, poxa! Será que é pedir demais a Deus ter as duas coisas? Eu amo meu trabalho de atriz... me machuca saber que estão deixando de me chamar por causa da minha orientação sexual...
-Filha... sua mãe tem toda a razão em dizer o que te disse. E depois, tem mais: por um acaso você deixou de ser atriz? Não! Onde é que você começou tudo, quando ainda tinha doze anos e insistiu com a gente até a gente deixar você ir pra companhia de teatro do Procópio? - fala Geraldo.
-É, pai... tudo começou no teatro.
-E não deveria ser suficiente? - prossegue Geraldo.
-Eu sei que deveria. Eu realmente amo o teatro... é onde tudo começou há dez anos... mas me parte o coração saber que essa é a única opção que tenho de concreta de agora em diante.
-Eva, minha querida... assim fica parecendo que você está tratando o teatro com desprezo, como se fosse uma arte menor que a TV. Sabemos que é o exato oposto disso... - contemporiza Regina.
-Eu sei disso, gente... juro que sei! Mas não é fácil abrir mão de um sonho...
-Pensa que você não abriu mão de nada, querida. Você apenas decidiu entre a fama e o amor. Você fez a escolha certa... - fala Geraldo.
-Vocês são os melhores pais do mundo, sabiam disso?
Eva, emocionada, abraça os pais. CORTA A CENA.

CENA 5: Valentim, em seu consultório, liga para Raquel.
-Raquel, cê tá podendo vir aqui o mais rápido possível?
-Claro, Valentim. Alguma novidade sobre o meu neto?
-Exatamente. Você tem como estar aqui em no máximo quinze minutos?
-Tenho como, sim. Vou chamar um uber pelo aplicativo e chego aí em dez minutos.
Raquel chega rapidamente ao consultório, ansiosa.
-Bom dia, Valentim. Descobriu o que sobre meu neto, exatamente? Está vivo ou morto?
-Não há registro de óbito nenhum correspondente a criança de pais desconhecidos. Isso significa que seu neto não morreu logo após ter nascido, como mentiu sua filha.
-Eu sabia!
-Agora nosso desafio vai ser descobrir demais informações sobre seu neto... se ele ainda está vivo, se ele mora no estado ou no país ou mesmo se ele foi adotado por algum casal estrangeiro...
-Isso vai ser rápido, Valentim?
-Não vou te mentir. Na melhor das hipóteses, tende a levar meses para termos alguma pista de seu neto.
-Mas pelo menos temos a vantagem de saber pelo menos por qual tipo étnico procurar...
-Pelo menos isso, Raquel. Mas ainda assim, essa busca pode ser complicada. Ser branco é algo ainda muito vago.
-Ah, mas quanto a isso é o de menos...
-Você que pensa. Precisamos afunilar até chegar em pelo menos três homens que possam ser seu neto e a partir disso solicitar os exames de DNA. Só que não é tão simples quanto parece buscar três possíveis “candidatos” a seu neto...
Os dois seguem conversando sobre o caso. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, em Angra dos Reis, Marcelo sente fortes coceiras no quarto da pousada e Rafael percebe incômodo do marido.
-Nossa, amor... pelo visto essa irritação voltou com tudo...
-Ai, Rafa... tá insuportável. Essa coceira tá me deixando louco? Não consigo parar de me coçar, chega a arder!
-Tenta não coçar tanto, amor... seus braços já estão ficando muito vermelhos!
-Eu tento não pensar nisso, mas quanto mais tento me distrair, mais coça!
-Posso dar uma olhada nas suas costas, que você não para de coçar?
Marcelo tira a camiseta e Rafael se assusta.
-Amor, pelo amor de Deus! Para de se coçar agora! Você tá com feridas nas costas, em carne viva! Precisamos dar um jeito de ir ao dermatologista.
-E voltar pro Rio? Amor, a nossa lua-de-mel mal começou! Por que a gente não trata isso com pomadas? É mais vantajoso pegar uma na farmácia e não arruinar nossa lua-de-mel...
-Você é mesmo teimoso, hein Marcelo?
-Até parece que você não é também. Essas feridas vão sarar. Isso deve ter sido algum fungo, que com a pomada certa, morre...
-Tá certo. Nós vamos à farmácia... mas se isso não melhorar em uma hora, a gente volta pro Rio e você não discuta comigo porque nós temos o resto da vida pra ter quantas luas de mel a gente quiser. O que não posso deixar é você sofrendo em nome do nosso lazer... agora veste uma camiseta que a gente vai na farmácia...
Os dois partem da pousada em direção à farmácia. CORTA A CENA.

CENA 7: Márcio estranha quietude de Suzanne.
-Nesse silêncio todo que você tá, sou capaz de apostar que você tá tramando algo...
-Ah, qual foi agora, Márcio? Não foi você que me disse que não participava mais dos meus planos? Não devia nem me perguntar o que eu faço ou deixo de fazer. Não é mais do seu interesse.
-Olha aqui, Suzanne... não é do meu interesse uma pinoia! Eu ainda sou seu namorado, não sou?
-Você quer dizer amante, não é?
-Ah, que seja!
-Márcio, na boa... vai catar o que fazer, vai... e não me enche. Tenho coisas sérias a resolver.
-Se envolver meu filho ou a mãe dele, pode esquecer.
-Quem você pensa que é pra tentar me dizer o que devo ou não fazer, Márcio? Até outro dia você fazia tudo o que eu tramava! Já que você faz tanta questão de saber, eu te digo: tenho que dar um jeito de tirar Lúcio, o bebê de ouro, do meu caminho.
Márcio fica perplexo.
-Você enloqueceu? Fazer mal a um bebê? Você está ficando louca, completamente fora de si. Isso é crueldade! Ele não tem culpa de nada!
-Ele tem culpa a partir do momento que por causa dele eu ganho menos dinheiro, mas não se preocupe. Se não fui capaz de matar nosso filho, eu não mataria outro bebê... eu vou dar um rumo pra ele. Sem família ele não fica.
-O que você tá tramando, sua maluca?
-Já falei demais. Mais do que devia. Você não se atreva a tentar me impedir que não me custa nada jogar seus podres no ventilador pro seu amado filhinho...
Márcio se sente impotente diante da ameaça de Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 8: Já com a noite avançada, Rafael e Marcelo voltam à mansão dos Bittencourt, deixando todos surpresos.
-Ué... a lua-de-mel de vocês não era por duas semanas? - espanta-se Haroldo.
-Vocês já brigaram, foi isso? - pergunta Mariana.
-Gente... se acalmem. Não brigamos... é que o Marcelo começou com umas irritações horríveis na pele. Hoje mais cedo viraram feridas nas costas dele. Voltamos pra podermos ir ao dermatologista se possível amanhã... - esclarece Rafael.
Riva se preocupa.
-Meu filho... o que será isso? Será algum fungo, alguma coisa que você comeu?
-Não sei, mãe... só sei que incomoda demais. Nem a pomada que a gente comprou ajudou. Fico me segurando pra não coçar...
Vicente se intriga.
-Marcelo... se não for muito invasivo, posso dar uma olhada nas suas costas? - fala Vicente.
Marcelo tira a camiseta e Vicente e Mariana observam as feridas nas costas de Marcelo. Riva, Marion, Ivan, Haroldo e Valquíria preferem não olhar...
-Tá com jeito de ser psoríase, isso... minha falecida mãe tinha... o que você acha, Mariana? Você que é a estudante de medicina aqui... - fala Vicente.
-Estudo medicina, mas pouco ou nada vi da área da dermatologia. Mas baseada no pouco que sei, tem a característica de ser psoríase, mesmo... de qualquer forma, o diagnóstico só é confirmado pelo dermatologista... - fala Mariana.
-E o que a gente faz? - questiona Marcelo.
-Tem meios de aliviar esses sintomas agora. Amanhã a gente vê isso certinho... - prossegue Mariana.
CORTA A CENA.

CENA 9: Riva e Vicente vão com Vicente à uma farmácia próxima à casa deles.
-Poxa, Riva... os meninos não disseram que já estão com a pomada que compraram em Angra?
-Sim, mas você ouviu o que a Mari disse... que é preciso pegar mais medicamentos pra suavizar esses sintomas aparentes... quero cuidar do meu filho, posso?
-Claro que pode, amor... só fico preocupado com o horário... já passa das onze.
-Relaxa, querido... estamos de carro e a cinco quadras de casa. Estamos seguros.
Riva termina de falar isso e é dopada por um homem que chega por trás dela. Vicente tenta reagir batendo no outro homem que tenta dopá-lo, mas acaba sendo dopado também. Um sequestrador se dirige ao outro.
-Aonde a gente vai com esses três, agora? - pergunta o primeiro.
-Pro galpão que a madame mandou a gente ir... - responde o segundo.
FIM DO CAPÍTULO 64.

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