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quinta-feira, 21 de julho de 2016

CAPÍTULO 58

CENA 1: Inicia-se um burburinho entre os jornalistas presentes no salão e Rafael se impacienta, aumentando a voz.
-Vocês poderiam fazer um pouco mais de silêncio?
Os jornalistas se calam.
-Obrigado. Como eu ia dizendo: sim, eu sou gay e me assumi há quase cinco anos para toda minha família. Minha mãe sempre soube.
-Isso significa que quando você iniciou sua vitoriosa carreira na TV, já era de conhecimento de toda a sua família sua homossexualidade? - pergunta um jornalista.
-Claro que sim. Só que quando eu comecei a trabalhar na TV, nossa família vivia uma situação financeira completamente diferente da que vivemos hoje. Corríamos o risco de perder essa casa, estávamos à beira da falência. Vocês devem saber como funcionam as coisas na grande mídia: as emissoras, empresários e assessores de imprensa desencorajam a gente sobre falarmos quem realmente somos. Constróem uma imagem perfeita para nós, quando alcançamos a fama. Essa imagem idealizada por toda essa gente atende aos interesses desses grandes empresários que estão por trás dessas centenas de farsas que são bancadas. Há muitos atores e atrizes não somente na minha emissora, mas em tantas outras, que são impedidos, coagidos, intimidados para nunca assumirem publicamente quem são. Para piorar, nosso país tem muita homofobia, mas não só homofobia. Escondemos dos nossos próprios olhos o racismo que ainda existe... fingimos que não existe ódio de classes, tapamos nossos olhos e nossos ouvidos para ignorar toda a xenofobia, transfobia, lesbofobia, bifobia, gordofobia e tantas outras fobias que existem. Vivemos condicionados a obedecer regras, a nos encaixar em padrões para que sejamos aceitos. Eu amo a arte de atuar. Herdei de minha mãe a paixão por ver nosso povo sorrir, alimentar sonhos, esperanças de uma vida melhor. É justamente por conta disso que eu me assumo aqui hoje, diante de todo o Brasil. Às minhas fãs mulheres e garotas, não sintam raiva de mim. O Rafael Alves que tá falando aqui é o único que sempre existiu. O heterossexual sempre foi uma farsa, mas essa farsa eu não sustento mais. Conto com a compreensão e o apoio de quem admira meu trabalho, minha arte. Assumo aqui quem eu sou, assumindo o risco de perder trabalhos, mas é o preço que eu me disponho a pagar. Marcelo não é apenas o meu primo... é meu namorado, meu noivo, meu futuro marido, minha razão de acordar todos os dias e acreditar no amor. Se o amor lhes causa repulsa, talvez vocês não saibam amar. E digo mais: eu vou me casar com Marcelo! Quero que o Brasil inteiro saiba disso: não apenas que sou gay, mas que eu encontrei um amor e que, pela lei que atualmente rege esse país, eu vou me casar.
Marcelo e Rafael se beijam apaixonadamente e os jornalistas fotografam incessantemente o beijo. Marcelo resolve falar.
-E só para esclarecer uma coisa: esse incidente não mudou absolutamente nada nos nossos planos, não é Rafael?
-Exatamente. É como Marcelo... melhor dizendo, meu amor, disse: já estava nos meus planos me assumir publicamente. Esse incidente do vazamento apenas antecipou esse momento em um ou dois dias, mas eu diria ainda essa semana para todo o Brasil sobre quem eu realmente sou. Esse incidente foi causado por uma alma infeliz e invejosa, cujo nome não vou citar, porque já leva uma vida afetiva tão miserável, tão carente de afeto e amor verdadeiro, que esse já é o pagamento justo por tanta amargura em um único ser humano. Agora vocês podem ir embora. Era tudo o que tínhamos a dizer.
Os jornalistas deixam a mansão. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Guilherme se acorda na casa de Cláudio e não o vê ao seu lado na cama. Vai até a cozinha e vê Bruno preparando o café.
-Bom dia, Bruno. Me vê um café aí?
-Bom dia... claro, já tá servido.
Guilherme toma o café num único gole.
-O Cláudio já saiu?
-Sim. Acho que você esqueceu, hoje é o dia que ele pega cedo na faculdade.
-Isso é verdade. Sabe, Bruno... eu tenho reparado em tudo o que você tem feito pelo Cláudio, por essa casa e principalmente por mim... eu não sabia que você era capaz de tanta bondade.
-Deixa disso, Guilherme... só faço o que acho certo. Não posso ver alguém passando algum aperto, alguma necessidade, alguma aflição e não fazer nada pra ajudar essa pessoa.
-Confesso que a sua atitude comigo me comove. Eu sei que entro em crise fácil, que dou trabalho pro Cláudio e pra você. E você, mesmo depois de todas as coisas que eu te fiz e te disse, foi capaz de esquecer de tudo e simplesmente cuidar de mim.
Guilherme se emociona e Bruno o afaga.
-Eu tinha uma imagem errada de você. Tive meus motivos e você sabe quantos eu tive. Mas agora, que você anda precisando de cuidados, eu tou conhecendo outro lado seu... quem sabe essa não é a sua real essência? Eu vejo que você tá fazendo o melhor que pode, se esforçando pra ser alguém digno pro Cláudio. Nunca pensei que te diria isso, mas depois de tudo... eu ainda tenho a capacidade de confiar em você, na sua mudança pra melhor.
-Você não existe, Bruno... você merece encontrar um amor que te dê toda a felicidade que você merece, que não é pouca. Aceita minha amizade? Tou falando de coração... cansei de te intimidar, nunca falei tão sério.
-É claro que eu aceito, Guilherme. Eu acredito que nada nessa vida acontece por acaso. Quem sabe a esquizofrenia veio pra te transformar numa pessoa melhor?
-Eu quero acreditar nisso, Bruno... porque não é fácil.
-Ah, seu bobo... dá cá um abraço! A gente vai dar um jeito de deixar essa caminhada mais fácil pra você...
Guilherme abraça Bruno. CORTA A CENA.

CENA 3: Laura está navegando pela internet e chama Mateus, que está se arrumando para mais um dia de gravações.
-Olha que interessante, Mateus! Você viu que estão compartilhando nas redes sociais a declaração do Rafael assumindo a homossexualidade dele? Maioria esmagadora dando apoio e se sentindo representada pela coragem dele. Vem ver!
Mateus duvida de Laura.
-Cê tá de brincadeira comigo, né! Do jeito que fã histérica é maluca, devem estar agora se queixando e xingando o Rafael porque não vão mais poder sonhar em ter ele como namorado, isso sim. Devem estar falando aquelas merdas de “que desperdício”. A carreira dele tá acabada, isso sim!
-Já vi que você não acreditou mesmo no que eu disse. Dá uma olhadinha aqui na minha timeline, então! É o assunto mais comentado do momento, inclusive.
Mateus olha a timeline do perfil de Laura e fica perplexo ao assistir o vídeo com a declaração de Rafael e a repercussão nas redes.
-Não pode ser! Como é que esse filho da mãe sempre se sai bem em tudo? - revolta-se Mateus.
-Quem sabe porque ele tem brilho próprio...
-Ah, Laura, não vem com essa conversinha de boteco pra cima de mim, não! Mimimi de brilho próprio... o que ele tem é influência, a família rica que foi sempre famosa!
-Como você consegue ser tão amargo, Mateus? Não vê que às vezes coisas boas acontecem? Ah, já sei... você deve ter ficado irritadinho porque por mais que você tenha tentado detonar o Rafael, ele ainda assim conseguiu dar a volta por cima. É isso que te incomoda?
-Para, Laura! O que é que há? Não posso ficar irritado, não? Você ouviu bem a indireta que ele me mandou nessa coletiva. Tá todo mundo me xingando!
-Ninguém sabe que é você a pessoa que ele detonou na coletiva. E quer saber de uma coisa? Ele tá coberto de razão em tudo o que ele disse sobre você. Talvez depois de refletir sobre tudo isso você consiga enxergar e se tornar uma pessoa melhor... eu acredito no seu potencial, mas será que você acredita em si mesmo?
-Chega, Laura. Não tou com paciência nem tempo pra esse seu papinho moralizador. Preciso sair senão me atraso pro trabalho.
Mateus sai irritado. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas mais tarde, Mara, Raquel e Valentim estão no consultório de Valentim intrigados com a falta de informações sobre Suzanne.
-Raquel, isso é impossível. Como é que você garante que a sua filha está envolvida pelo menos nos crimes nos quais o Márcio foi o único responsabilizado e não consta nenhum indício disso em nenhum dos depoimentos que ele prestou à polícia? - questiona Mara.
-Eu imagino a razão, querida... pra mim é óbvio que o Márcio foi instruído pela própria Suzanne a assumir toda a culpa caso alguma coisa desse em zebra... - fala Valentim.
-É isso, Mara... o Valentim tem razão. Conheço o Márcio como se fosse meu próprio filho. Desde garoto ele foi completamente apaixonado pela Suzanne. Só que quando eles eram novinhos, eu achava que era ele que seduzia ela. Cheguei a brigar com o pobre coitado. Agora não me resta dúvida de que ela esteve manipulando ele todo o tempo. - fala Raquel.
-O problema é que isso coloca todo o nosso trabalho de investigação na estaca zero... a gente vai ter de tentar descobrir quem são os outros testa-de-ferro que ela usou pra obter de forma aparentemente lícita tudo o que possui... - conclui Mara.
Os três seguem debruçados sobre o caso. CORTA A CENA.

CENA 5: Rafael e Marcelo estão ainda a dormir no quarto quando Riva entra empolgada para falar com os dois.
-Queridos, não acredito que vocês estão dormindo ainda! Já é quase meio dia! Vocês precisam ver uma coisa maravilhosa!
Marcelo é o primeiro a se acordar.
-O que foi, mãe? Parece que viu passarinho verde ou ganhou na loteria de novo...
Rafael se acorda na sequência.
-Prima? Que horas são? Nossa, capotei depois das emoções de ontem! - fala Rafael.
-E pelo visto vocês vão ter mais emoções agora, queridos... - fala Riva.
-Do que cê tá falando, mãe? - estranha Marcelo.
Riva pega seu celular e mostra a repercussão positiva da declaração de Rafael e o apoio que ele tem recebido dos fãs do Brasil e do mundo.
-Gente... isso é sério? - fala Rafael, perplexo.
Marcelo pega o celular da mão de Rafael e fica emocionado.
-Isso é maravilhoso, amor! - fala Marcelo.
Rafael se emociona.
-No fim das contas... o amor sempre vence o ódio!
Os dois se abraçam. CORTA A CENA

CENA 6: Inicia-se uma passagem de tempo.
Na tela, aparece a gravidez de Riva evoluindo e ela comemorando com Vicente que será um menino.
Na sequência aparece Haroldo e Suzanne cada vez mais distantes até que param de ficar. Suzanne se torna presença menos constante na mansão dos Bittencourt conforme a gravidez de Riva avança. Mara, Raquel e Valentim trabalham cada vez mais unidos e Raquel ganha importância cada vez maior na elucidação dos casos que investigam. Márcio, apesar de continuar morando no apartamento do hotel onde Suzanne mora, mostra-se cada vez mais distanciado dela, que parece estar tramando novos planos individualmente. Raquel aconselha Márcio a se distanciar de Suzanne e viver a própria vida. Chegam ao fim as gravações da novela que Marion, Valquíria e Mateus atuavam e toda a equipe comemora o êxito da trama. Rafael e Marcelo planejam casamento para depois do nascimento do irmão de Marcelo. Cláudio e Guilherme consolidam um relacionamento aparentemente saudável e Bruno vai morar num apartamento que conseguiu alugar depois de se empregar e se matricular na faculdade de medicina que sempre sonhou. Bruno sonha com o dia que visitará novamente seus pais em Coroados. Adelaide se sente cada vez mais incompatível com a igreja que frequenta e desabafa isso com Cleiton e Renata. O relacionamento de Renata e Eva se estabiliza com o passar dos meses. Mateus mostra-se cada vez mais disposto a se tornar uma pessoa melhor e se redimir dos erros do passado. Victor e Diogo viajam juntos por alguns lugares do Brasil e Victor parece estar cada vez melhor no seu tratamento. Haroldo é assombrado pelo seu passado.
Ao fim da passagem de tempo, aparece na tela: SETE MESES DEPOIS.
Riva dá entrada no hospital para ter seu filho e Vicente entra junto para assistir o parto. Valquíria, Marion, Rafael, Mariana, Marcelo, Haroldo e Ivan aguardam ansiosamente o nascimento do bebê. Instantes depois, Vicente chega e anuncia:
-Lúcio nasceu!
Todos abraçam Vicente.
Mais uma curta passagem de tempo acontece e na tela aparece: SEMANAS DEPOIS. CORTA A CENA.

CENA 7: Ivan está na edícula e Haroldo procura o pai para conversar.
-Impressionante que toda vez que ninguém te encontra pela casa, é certo como dois e dois são quatro que você tá enfurnado aqui...
-Ah, meu filho, você sabe que sempre foi assim. Desde que seus avós se mudaram pra essa mansão quando eu ainda era um garoto que esse sempre foi o meu lugar preferido da casa.
-Eu entendo, pai. Também sempre gostei muito daqui. A gente sempre encontra sossego, silêncio, paz... mas se você não se incomoda, eu gostaria de ficar aqui um tempinho, te fazendo companhia.
-Claro que não me importo, Haroldo. Mas se eu te conheço bem, você tá querendo falar e não sabe por onde começar. Tou certo?
-Você me conhece melhor que ninguém, pai... eu quero desabafar um pouco... mas nunca sei por onde começar.
-Ah, meu filho... eu já cansei de te dizer que pra mim você pode se abrir à vontade!
-Eu adoraria, confiança não me falta em você, pai... mas eu sei que você é bem amigo do Valentim e da Mara. Me desculpa se eu não falo tudo... mas tenho medo de colocar a todos nós em risco.
-Você fala como se houvessem coisas graves por trás de tudo isso, Haroldo... me assusta.
-Pai... eu errei demais no passado. Você deve imaginar o quanto.
-Sim, eu sei que você fugiu da punição dos agiotas.
-Exatamente. Por mais que eu preze fazer as coisas pelo lado certo, você acha mesmo que fingir ser uma pessoa que eu nunca fui pra me proteger e deixar vocês todos aflitos por dois anos é algo certo?
-Mas filho, a gente já conversou sobre isso antes... todo mundo te entendeu! Você até voltou a ser amigo do seu ex que pensava que você era aquele Rodrigo!
-Eu sei, pai. Mas muita coisa ainda fica martelando aqui. Desde que voltei pra essa casa eu sinto como se minha vida estivesse ainda meio suspensa, meio no ar... acontecendo de uma maneira esquisita. Não sei onde eu tava na cabeça quando fiquei por meses com a Suzanne... ela me parece ser uma pessoa legal, mas eu avisei a ela várias vezes que não tinha condições de me envolver com ninguém e foi difícil ela parar de insistir nisso.
-Você precisa parar de se culpar pelo passado, filho. Aliás, esse conselho serve a mim mesmo também. Preciso parar de me culpar pelo vício que te tomou da gente por tanto tempo...
-Eu errei demais, pai. Não é fácil...
-A gente vai encontrar um jeito de conseguir superar tudo isso. Precisamos de foco e paciência...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 8: Victor volta para casa depois da terapia e Diogo o recebe.
-E então, amor... como foi hoje na terapia?
-Foi ótimo, mas cansativo. Você se incomoda se eu for direto pra cama, sem a gente jantar?
-Claro que não, amor... cê tá com uma cara de cansado mesmo.
-Cansado não... derrotadíssimo pelo dia. Boa noite, amor.
-Dorme bem, Victor. Vou preparar uma coisa pra mim e deixar alguma comida pra você na geladeira se você se acordar no meio da noite.
-Tá bom, querido...
Victor vai direto ao quarto dormir.
Diogo relembra uma conversa com Valentim de semanas antes.
Você precisa estar atento e de olhos abertos a todo e qualquer sinal que te possa parecer suspeito. Observe a tudo e a todos com imparcialidade e não se deixe influenciar por nenhuma relação próxima que você possa vir a ter com quem você acredite ser o chefe da organização que investigo. Pelo que pude colher nos últimos meses, de análises e constatações sobre a possível personalidade desse “Chefe”, é que ele ou ela é uma pessoa muito ardilosa. Suficiente para ser dissimulado ou dissimulada a ponto de enganar quem quiser à sua volta com maestria e sem deixar nenhum furo superficialmente visível. Mantenha seus olhos atentos e não baixe a guarda com ninguém”.
-Será possível que é o Victor esse cara? Será que tou dormindo com o inimigo esse tempo todo?
Diogo fica pensativo e preocupado. CORTA A CENA.

CENA 9: Na manhã do dia seguinte, Haroldo acorda-se cedo e vê pela janela o carteiro terminando de colocar cartas na caixa do correio. Haroldo abre a porta da casa e vai até a caixa e pega toda a correspondência. Depara-se com uma carta endereçada a ele sem remetente.
-Carta sem remetente pra mim? Eu juro que meto a mão na cara de quem fez essa brincadeira de mau gosto! - fala Haroldo, abrindo a carta e começando a ler.
Não confio no seu silêncio, Haroldo. Meus homens estão de olho em você se você estiver tramando alguma coisa...” FIM DO CAPÍTULO 58.

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