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terça-feira, 12 de julho de 2016

CAPÍTULO 50

CENA 1: Marcelo estranha a presença de Laura em sua casa.
-Não entendo... o que você veio fazer aqui? O Cláudio tá na casa dele...
-Eu explico, querido. Na verdade não vim falar com Cláudio ou com você. Vim falar com seu namorado.
-Com Rafael? Não entendi... entre, por favor
Laura entra e saúda timidamente a todos na casa, que a cumprimentam. Rafael desce as escadas após o banho e estranha a presença de Laura ali. Antes que ele possa falar, Marcelo se antecipa.
-Amor... Laura disse que precisa falar com você.
-Oi, Laura... tudo bem com você?
-Tudo indo, querido. Espero não estar sendo incômoda de chegar aqui depois das nove...
-De forma alguma. Mas você precisa falar comigo, certo? Pode dizer o que precisa...
-Eu prefiro que seja uma conversa a sós... pode ser?
-Claro!
Laura é guiada por Rafael até o escritório. Rafael fecha a porta.
-Senta aí, Laura. Agora me diz logo que já tou me roendo de curiosidade. É algo grave? Você não quis falar na frente de ninguém...
-Achei mais prudente assim. O que eu tenho a te dizer não é certeza nenhuma, por isso mesmo não acho correto afirmar nada. Muito menos diante dos seus familiares ou do Marcelo.
-Sim... mas do que se trata?
-Eu gostaria que você abrisse o olho com o Mateus. Ele não é seu amigo, como tenta parecer ser.
-Olha... eu confesso que minha amizade com ele é bem superficial. É mais uma camaradagem porque costumamos trabalhar juntos. Mas por que diz pra eu abrir o olho com ele? Ele é seu namorado, não é?
-É sim. Mas andei descobrindo umas coisas chatas sobre ele. E eu sinto muito se pareço uma fofoqueira, mas preciso te contar a verdade. Você foi dispensado do papel que faria na nova novela por influência dele.
Rafael fica perplexo.
-Como é que é? Isso é sério? Você confirmou isso?
-Confirmei da pior forma. Peguei uma mensagem que ele recebeu de uma colega de elenco, recriminando a atitude dele para conseguir à força o papel que era pra ser seu.
-Gente... no final das contas eu achei bom não acumular tantos trabalhos seguidos, tava mesmo precisando de um descanso e de um tempinho a mais com meu namorado, mas nunca imaginei que essa decisão da emissora tivesse sido influenciada por um... com o perdão da palavra, golpe baixo do Mateus.
-Entendeu agora por que eu peço pra você manter os olhos abertos com ele? De onde veio essa atitude podem vir outras piores. E é isso que me assusta. Ele não me fala as coisas, se pudesse me escondia tudo... eu acabo descobrindo sozinha e ele fica sem saída, só assim que me confessa...
-Eu confesso que isso me dá um pouco de nojo da cara dele. Mas vai passar... você não quer ficar pra dormir aqui hoje? Tá ficando tarde...
-Não se preocupe. Vim com minha moto e sou boa motorista. Agradeço pelo convite de qualquer forma. Vim aqui só pra te dizer que você não pode nem deve baixar a guarda com o Mateus.
Laura vai embora. CORTA A CENA.

CENA 2: Após o jantar, Guilherme sente-se envergonhado de ter escondido esquizofrenia de Cláudio.
-Eu sei que te devo desculpas, Cláudio.
-Que isso, Guilherme? Não é pra tanto...
-É pra tanto sim, Cláudio. Eu tive medo, vergonha de falar pra você e pro Bruno que eu sou esquizofrênico.
-Pra te ser bem sincero, eu já desconfiava, por conta das crises. Claro que na hora fiquei perplexo, mas depois fui juntando as coisas e não foi surpresa nenhuma. Pelo menos tenho a resposta para essas suas crises que acontecem de vez em quando.
-Eu espero que entenda que elas não são culpa minha... que não se assuste por conta delas... e Bruno... eu te peço desculpa por qualquer coisa.
-Tranquilo, Guilherme... eu já esqueci qualquer coisa. Não me machuquei quando caí. - fala Bruno.
-Na verdade eu andei pensando aqui numa coisa, Guilherme. Eu vejo todos os dias, desde que a gente voltou a se falar e você ficou próximo de mim desse jeito, que você se esforça ao máximo pra me trazer felicidade, coisas boas...
-Isso é verdade, Cláudio... de alguma forma sinto que devo isso a você. Como forma de me redimir pelas coisas horríveis que te fiz passar na época do colégio. Mas também porque te amo... sempre te amei.
-Sabe, Guilherme... não é segredo nenhum que eu te amei muito quando a gente estudou na mesma turma. Eu acho que esse amor que eu sentia tá começando a ressurgir dentro de mim, dessa vez sem aquela dor, sem aquele sofrimento todo de antes.
-Eu fico feliz por ouvir isso, você não imagina o quanto.
-Eu queria saber se você aceita namorar comigo, Guilherme.
Guilherme se espanta.
-Isso é sério? Até ontem você disse que não queria nada sério e de repente... mudou de ideia?
-Andei pensando muito em nós dois. Resolvi dar uma chance ao nosso amor. Aceita namorar comigo?
-Claro que aceito!
Guilherme beija Cláudio e Bruno sofre ao ver a cena diante dele. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, ao abrir a companhia de teatro, Procópio é surpreendido pela presença de Valentim e Mara, que chegam bem antes do horário que habitualmente chegam.
-Estão sem trabalho hoje? Resolveram pegar carona com o Cláudio e se demitiram? Nunca vi vocês chegando tão cedo aqui...
-Você parece que sempre se esquece, Procópio... impressionante... - fala Mara.
-Deixa, Mara. Esse nosso amigo sempre foi avoado. Precisamos ter uma conversa séria com você e precisamos que você pelo menos tente ser um pouco menos avoado – continua Valentim.
Os três entram no prédio e sentam-se nas cadeiras da plateia.
-Digam logo... pelo visto, deve ter relação com mais um passo da investigação de vocês, acertei?
-Sim e não. Na realidade não temos provas de nada. Acontece que Cláudio está se envolvendo com Guilherme e esse menino, apesar de ter transtornos mentais graves, é filho de um falecido bandido que nunca foi preso em vida e morreu misteriosamente assassinado há cinco anos, numa cena que aparentemente parecia acidente, inicialmente. - fala Mara.
-Sim... mas o que é que o pobre do filho do coisa ruim que foi pro outro plano tem a ver com isso? - questiona Procópio.
-A princípio nada, Procópio. O que queremos é que você mantenha os olhos atentos em Cláudio. - fala Valentim.
-O que? Vocês estão desconfiando que seja ele aquele tal de... como é que vocês chamam, de... “Chefe”, é isso?
-Não, seu imbecil! - impacienta-se Mara.
-Não precisava falar assim comigo, Mara...
-Tá, desculpa... Procópio, presta atenção: não é propriamente no Cláudio que nós queremos que você mantenha os olhos em cima... é nas companhia dele. Em quem vier visitar ele aqui nos ensaios. Esse tal de “Chefe” pode estar por perto, rondando o Cláudio... - fala Mara.
-E com base no que vocês chegaram nessa conclusão?
-Procópio... nós temos nossas razões. Eventos estranhos, acontecimentos misteriosos cercam a vida do Cláudio já tem algum tempo... - esclarece Valentim.
-Podemos contar com você? - pergunta Mara.
-E vocês ainda perguntam? Claro que sim! - prontifica-se Procópio. CORTA A CENA.

CENA 4: Marcelo vai à companhia de teatro, horas depois, falar com Cláudio, em um dos intervalos dos ensaios.
-E aí, viado. Gostando de estar de volta aos velhos palcos desse lugar?
-Mulher do céu... isso aqui tá sendo uma delícia! É aquele cansaço bom de seguir. Sabe, ultimamente andei reavaliando as coisas... não sei nem se quero continuar com a faculdade, não sei se me realizaria como psicólogo.
-Isso a gente deixa pra pensar depois. O que importa é que esse momento tá te fazendo bem. Mas tou notando que você quer me dizer algo... estou certo?
-Tá certa como sempre, bicha escorpiana sensitiva de uma figa! Eu tou namorando o Guilherme, cê acredita num babado desses?
-É o que? Você tá de brincadeira comigo, né? Com aquele cara?
-Eu sei, Marcelo... sei de tudo o que você vai dizer... “aquele cara que te fez sofrer feito um condenado há mais de cinco anos, bla bla bla”... eu sei disso. Mas ele mudou e precisa de mim.
-Como é que é essa história dele precisar de você? Tou cada vez entendendo menos, viado...
-Ele tem esquizofrenia e o tratamento tá sendo complicado pra ele, sabe... eu resolvi dar essa chance dele ser feliz. Dar essa chance pra nós.
-Você tá com ele por amor? Será que restou algum amor depois do que ele te fez no passado? Ou será que você tá com ele por pena?
-Pena? Olha bem pra mim, Marcelo... cê acha que eu ficaria com alguém por pena?
-Sinceramente? Acho. Mas vou entender se não quiser mais falar sobre isso.
-Tem toda razão, não quero mesmo. Agora dá licença que preciso voltar pro ensaio. Até mais, mulher!
Cláudio volta a ensaiar e Marcelo preocupa-se com o amigo. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Mateus procura Bruno de surpresa.
-O que você tá fazendo aqui, Mateus? Enlouqueceu, cara? Você tem sorte que o Cláudio e o Guilherme saíram.
-Menos mal que eles saíram. Você sabe se eles demoram a voltar?
-Acredito que não demorem. Guilherme foi se consultar com o psiquiatra e Cláudio está ensaiando. Mas mesmo que eles fossem demorar, eu não iria querer que você ficasse aqui muito tempo.
-Posso entrar, pelo menos?
-Eu vou me arrepender disso. Essa casa nem minha é... entra.
-Obrigado.
-Posso saber o que te deu na cabeça pra vir me ver? Olha, se for pra tentar reatar, pode desistir. Não existe a mínima chance disso acontecer... eu não amo você.
-Você quer deixar eu falar, pelo menos?
-Tá certo. Quer um café, uma água, um suco?
-Aceito um café.
Bruno serve o café de Mateus.
-Eu queria poder desabafar com alguém... e só tenho você pra recorrer.
-Cê tá bem louco, né! Até parece que você não sabe que o chefe tá sempre na nossa cola.
-Eu sei. Mas com a Laura não adianta desabafar... e eu não tenho mais ninguém. Eu me sinto preso nessa situação toda. Enrolado até o pescoço.
-E você acha que eu me sinto como? Infelizmente nós temos essa ligação... essa péssima ligação. Esse infeliz desse chefe.
-Você não me entende. Eu não me sinto bem escondendo minha bissexualidade de tudo e todos. Tenho sofrido pra manter isso secreto, agora que estou começando a ficar famoso.
-Está só provando do próprio veneno, meu caro. Não foi você mesmo que cansou de dizer que era fichinha aguentar tudo isso? E convenhamos que pertdo das exigências que o chefe faz pra gente, isso não é nada.
-Você não tem a mínima boa vontade comigo...
-É mesmo? Dá pra notar? Olha, Mateus... eu não tenho nada contra você. Mas também não tenho nada a favor. Se puder ir embora eu agradeço.
-Mas... eu nem terminei o café!
-Vai embora, Mateus. Você não pode ser visto aqui.
Mateus vai embora, triste. Bruno respira aliviado. CORTA A CENA.

CENA 6: Suzanne ressurge na mansão dos Bittencourt, para surpresa de Riva.
-Você tá com uma expressão triste, Suzanne. Aconteceu alguma coisa? - preocupa-se Riva.
-Gostaria de falar sobre isso com você a sós...
-Vamos pro escritório, lá você me conta o que aconteceu.
Suzanne entra com Riva no escritório e começa a encenar um choro forte, que deixa Riva ainda mais penalizada com ela.
-Fala alguma coisa, amiga! Qual é o motivo pra esse choro?
-Sei que não devia, Riva... já era de se esperar... eu devia ter me preparado melhor. Meu paizinho... morreu!
Riva se compadece de Suzanne e a abraça.
-Eu sinto muito. De verdade. Espero que agora ele encontre o descanso, longe de toda a dor e sofrimento que ele andava tendo nesses últimos tempos...
-Assim espero.
-Você quer um calmante, uma água com açúcar?
-Aceito a água.
-Você andou sumida... agora entendi que foi por causa do seu pai... ele estava morrendo!
-Justamente, Riva. Ele se despediu de nós... pelo menos essa lembrança boa ficou.
-Você quer ficar pro jantar? - convida Riva.
-Não vou incomodar? Se não incomodar, aceito...
As duas retornam à sala. CORTA A CENA.

CENA 7: Raquel visita Valentim em seu consultório na condição de aprendiz dele.
-Então, Raquel... até esse ponto tá tranquilo pra você todas as coisas?
-Sim, na verdade eu esperava bem mais dificuldade, mas considerei tudo bastante fácil.
-Pois agora eu vou lhe revelar se você acertou tudo... a resposta é sim. Dos nove casos que eu separei para você estudar hoje, você solucionou a todos corretamente. É impressionante o seu talento e a sua aptidão pra esse ofício. Só vi isso uma vez na vida: no meu falecido pai.
-Assim fico envergonhada. Mas fico feliz por ter acertado tudo.
-Você nasceu pra isso, Raquel. Nunca duvide disso. E é por isso mesmo que você vai ser chamada para sua primeira “missão”, como investigadora. Claro, tudo isso é apenas uma continuidade dos testes. Você estará acompanhada de mim e da Mara, então fique sossegada.
-E de que caso se trata?
-Esse vai ser relativamente simples. Precisamos investigar um grupo de rapazes que espalha racismo, homofobia e transfobia nas redes sociais através de perfis falsos. Você se sente segura para essa primeira missão?
-Me sinto, claro! Ainda mais sabendo que vocês estarão a me orientar.
-Então eu vou te explicar mais umas coisas... você precisa observar antes de mais nada o modus operandi e...
Valentim segue a passar instruções a Raquel. CORTA A CENA.

CENA 8: Raquel chega ao apartamento do hotel e estranha o fato de Márcio estar revirando todas as gavetas de todos os móveis.
-Você tá procurando alguma coisa, querido?
-Você lembra daquela gargantilha que eu roubei da Riva ainda garoto, não lembra?
-Lembro sim.
-Eu queria devolver a ela... porque é coisa de família, parece que foi a mãe dela que deu pra ela, antes de morrer. Mas não encontro em lugar nenhum!
-Olha, querido, não é querendo te dizer nada, mas eu acho que eu vi a Suzanne colocar essa gargantilha no pescoço mais cedo.
-Você tem noção da gravidade disso? Ela foi na casa da Riva, na mansão dos Bittencourt!
Márcio se desespera. Raquel tenta tranquilizá-lo.
-Não fica assim... pensa que pelo menos assim a Riva pode recuperar o que é dela...
-Pirou, dona Raquel? Isso ia prejudicar Suzanne, sua filha, meu amor!
-Uma hora isso há de acabar acontecendo, Márcio... ninguém escapa pra sempre...
-Eu sei. Mas eu queria entregar a gargantilha em mãos, me desculpar por ter roubado há vinte anos...
Márcio lamenta não encontrar gargantilha. CORTA A CENA.

CENA 9: Depois do jantar, todos conversam de maneira descontraída na sala da mansão dos Bittencourt. Valquíria olha fixamente para o pescoço de Suzanne e Riva nota que sua avó não para de encarar Suzanne.
-A senhora viu alguma coisa? Tá com essa cara... não tira o olho do pescoço da Suzanne... - fala Riva, discretamente à sua avó.
-Eu podia jurar que já vi aquela gargantilha antes, Riva... - fala Valquíria.
-Ah, deixa disso, vovó! Deve ser só uma impressão sua...
Riva se volta para Suzanne, que segue contando sua história de ter perdido o pai e ao olhar para a gargantilha, tem lembranças despertadas em sua mente, de quando sua mãe estava no leito de morte e entregava uma gargantilha igual para ela levar consigo.
-Essa vai ser a minha lembrança viva que você vai levar pra sempre no seu coração...
FIM DO CAPÍTULO 50.

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