CENA 1: Marcelo estranha a
presença de Laura em sua casa.
-Não entendo... o que você
veio fazer aqui? O Cláudio tá na casa dele...
-Eu explico, querido. Na
verdade não vim falar com Cláudio ou com você. Vim falar com seu
namorado.
-Com Rafael? Não entendi...
entre, por favor
Laura entra e saúda
timidamente a todos na casa, que a cumprimentam. Rafael desce as
escadas após o banho e estranha a presença de Laura ali. Antes que
ele possa falar, Marcelo se antecipa.
-Amor... Laura disse que
precisa falar com você.
-Oi, Laura... tudo bem com
você?
-Tudo indo, querido. Espero
não estar sendo incômoda de chegar aqui depois das nove...
-De forma alguma. Mas você
precisa falar comigo, certo? Pode dizer o que precisa...
-Eu prefiro que seja uma
conversa a sós... pode ser?
-Claro!
Laura é guiada por Rafael até
o escritório. Rafael fecha a porta.
-Senta aí, Laura. Agora me
diz logo que já tou me roendo de curiosidade. É algo grave? Você
não quis falar na frente de ninguém...
-Achei mais prudente assim. O
que eu tenho a te dizer não é certeza nenhuma, por isso mesmo não
acho correto afirmar nada. Muito menos diante dos seus familiares ou
do Marcelo.
-Sim... mas do que se trata?
-Eu gostaria que você abrisse
o olho com o Mateus. Ele não é seu amigo, como tenta parecer ser.
-Olha... eu confesso que minha
amizade com ele é bem superficial. É mais uma camaradagem porque
costumamos trabalhar juntos. Mas por que diz pra eu abrir o olho com
ele? Ele é seu namorado, não é?
-É sim. Mas andei descobrindo
umas coisas chatas sobre ele. E eu sinto muito se pareço uma
fofoqueira, mas preciso te contar a verdade. Você foi dispensado do
papel que faria na nova novela por influência dele.
Rafael fica perplexo.
-Como é que é? Isso é
sério? Você confirmou isso?
-Confirmei da pior forma.
Peguei uma mensagem que ele recebeu de uma colega de elenco,
recriminando a atitude dele para conseguir à força o papel que era
pra ser seu.
-Gente... no final das contas
eu achei bom não acumular tantos trabalhos seguidos, tava mesmo
precisando de um descanso e de um tempinho a mais com meu namorado,
mas nunca imaginei que essa decisão da emissora tivesse sido
influenciada por um... com o perdão da palavra, golpe baixo do
Mateus.
-Entendeu agora por que eu
peço pra você manter os olhos abertos com ele? De onde veio essa
atitude podem vir outras piores. E é isso que me assusta. Ele não
me fala as coisas, se pudesse me escondia tudo... eu acabo
descobrindo sozinha e ele fica sem saída, só assim que me
confessa...
-Eu confesso que isso me dá
um pouco de nojo da cara dele. Mas vai passar... você não quer
ficar pra dormir aqui hoje? Tá ficando tarde...
-Não se preocupe. Vim com
minha moto e sou boa motorista. Agradeço pelo convite de qualquer
forma. Vim aqui só pra te dizer que você não pode nem deve baixar
a guarda com o Mateus.
Laura vai embora. CORTA A
CENA.
CENA 2: Após o jantar,
Guilherme sente-se envergonhado de ter escondido esquizofrenia de
Cláudio.
-Eu sei que te devo desculpas,
Cláudio.
-Que isso, Guilherme? Não é
pra tanto...
-É pra tanto sim, Cláudio.
Eu tive medo, vergonha de falar pra você e pro Bruno que eu sou
esquizofrênico.
-Pra te ser bem sincero, eu já
desconfiava, por conta das crises. Claro que na hora fiquei perplexo,
mas depois fui juntando as coisas e não foi surpresa nenhuma. Pelo
menos tenho a resposta para essas suas crises que acontecem de vez em
quando.
-Eu espero que entenda que
elas não são culpa minha... que não se assuste por conta delas...
e Bruno... eu te peço desculpa por qualquer coisa.
-Tranquilo, Guilherme... eu já
esqueci qualquer coisa. Não me machuquei quando caí. - fala Bruno.
-Na verdade eu andei pensando
aqui numa coisa, Guilherme. Eu vejo todos os dias, desde que a gente
voltou a se falar e você ficou próximo de mim desse jeito, que você
se esforça ao máximo pra me trazer felicidade, coisas boas...
-Isso é verdade, Cláudio...
de alguma forma sinto que devo isso a você. Como forma de me redimir
pelas coisas horríveis que te fiz passar na época do colégio. Mas
também porque te amo... sempre te amei.
-Sabe, Guilherme... não é
segredo nenhum que eu te amei muito quando a gente estudou na mesma
turma. Eu acho que esse amor que eu sentia tá começando a ressurgir
dentro de mim, dessa vez sem aquela dor, sem aquele sofrimento todo
de antes.
-Eu fico feliz por ouvir isso,
você não imagina o quanto.
-Eu queria saber se você
aceita namorar comigo, Guilherme.
Guilherme se espanta.
-Isso é sério? Até ontem
você disse que não queria nada sério e de repente... mudou de
ideia?
-Andei pensando muito em nós
dois. Resolvi dar uma chance ao nosso amor. Aceita namorar comigo?
-Claro que aceito!
Guilherme beija Cláudio e
Bruno sofre ao ver a cena diante dele. CORTA A CENA.
CENA 3: No dia seguinte, ao
abrir a companhia de teatro, Procópio é surpreendido pela presença
de Valentim e Mara, que chegam bem antes do horário que
habitualmente chegam.
-Estão sem trabalho hoje?
Resolveram pegar carona com o Cláudio e se demitiram? Nunca vi vocês
chegando tão cedo aqui...
-Você parece que sempre se
esquece, Procópio... impressionante... - fala Mara.
-Deixa, Mara. Esse nosso amigo
sempre foi avoado. Precisamos ter uma conversa séria com você e
precisamos que você pelo menos tente ser um pouco menos avoado –
continua Valentim.
Os três entram no prédio e
sentam-se nas cadeiras da plateia.
-Digam logo... pelo visto,
deve ter relação com mais um passo da investigação de vocês,
acertei?
-Sim e não. Na realidade não
temos provas de nada. Acontece que Cláudio está se envolvendo com
Guilherme e esse menino, apesar de ter transtornos mentais graves, é
filho de um falecido bandido que nunca foi preso em vida e morreu
misteriosamente assassinado há cinco anos, numa cena que
aparentemente parecia acidente, inicialmente. - fala Mara.
-Sim... mas o que é que o
pobre do filho do coisa ruim que foi pro outro plano tem a ver com
isso? - questiona Procópio.
-A princípio nada, Procópio.
O que queremos é que você mantenha os olhos atentos em Cláudio. -
fala Valentim.
-O que? Vocês estão
desconfiando que seja ele aquele tal de... como é que vocês chamam,
de... “Chefe”, é isso?
-Não, seu imbecil! -
impacienta-se Mara.
-Não precisava falar assim
comigo, Mara...
-Tá, desculpa... Procópio,
presta atenção: não é propriamente no Cláudio que nós queremos
que você mantenha os olhos em cima... é nas companhia dele. Em quem
vier visitar ele aqui nos ensaios. Esse tal de “Chefe” pode estar
por perto, rondando o Cláudio... - fala Mara.
-E com base no que vocês
chegaram nessa conclusão?
-Procópio... nós temos
nossas razões. Eventos estranhos, acontecimentos misteriosos cercam
a vida do Cláudio já tem algum tempo... - esclarece Valentim.
-Podemos contar com você? -
pergunta Mara.
-E vocês ainda perguntam?
Claro que sim! - prontifica-se Procópio. CORTA A CENA.
CENA 4: Marcelo vai à
companhia de teatro, horas depois, falar com Cláudio, em um dos
intervalos dos ensaios.
-E aí, viado. Gostando de
estar de volta aos velhos palcos desse lugar?
-Mulher do céu... isso aqui
tá sendo uma delícia! É aquele cansaço bom de seguir. Sabe,
ultimamente andei reavaliando as coisas... não sei nem se quero
continuar com a faculdade, não sei se me realizaria como psicólogo.
-Isso a gente deixa pra pensar
depois. O que importa é que esse momento tá te fazendo bem. Mas tou
notando que você quer me dizer algo... estou certo?
-Tá certa como sempre, bicha
escorpiana sensitiva de uma figa! Eu tou namorando o Guilherme, cê
acredita num babado desses?
-É o que? Você tá de
brincadeira comigo, né? Com aquele cara?
-Eu sei, Marcelo... sei de
tudo o que você vai dizer... “aquele cara que te fez sofrer feito
um condenado há mais de cinco anos, bla bla bla”... eu sei disso.
Mas ele mudou e precisa de mim.
-Como é que é essa história
dele precisar de você? Tou cada vez entendendo menos, viado...
-Ele tem esquizofrenia e o
tratamento tá sendo complicado pra ele, sabe... eu resolvi dar essa
chance dele ser feliz. Dar essa chance pra nós.
-Você tá com ele por amor?
Será que restou algum amor depois do que ele te fez no passado? Ou
será que você tá com ele por pena?
-Pena? Olha bem pra mim,
Marcelo... cê acha que eu ficaria com alguém por pena?
-Sinceramente? Acho. Mas vou
entender se não quiser mais falar sobre isso.
-Tem toda razão, não quero
mesmo. Agora dá licença que preciso voltar pro ensaio. Até mais,
mulher!
Cláudio volta a ensaiar e
Marcelo preocupa-se com o amigo. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Mateus
procura Bruno de surpresa.
-O que você tá fazendo aqui,
Mateus? Enlouqueceu, cara? Você tem sorte que o Cláudio e o
Guilherme saíram.
-Menos mal que eles saíram.
Você sabe se eles demoram a voltar?
-Acredito que não demorem.
Guilherme foi se consultar com o psiquiatra e Cláudio está
ensaiando. Mas mesmo que eles fossem demorar, eu não iria querer que
você ficasse aqui muito tempo.
-Posso entrar, pelo menos?
-Eu vou me arrepender disso.
Essa casa nem minha é... entra.
-Obrigado.
-Posso saber o que te deu na
cabeça pra vir me ver? Olha, se for pra tentar reatar, pode
desistir. Não existe a mínima chance disso acontecer... eu não amo
você.
-Você quer deixar eu falar,
pelo menos?
-Tá certo. Quer um café, uma
água, um suco?
-Aceito um café.
Bruno serve o café de Mateus.
-Eu queria poder desabafar com
alguém... e só tenho você pra recorrer.
-Cê tá bem louco, né! Até
parece que você não sabe que o chefe tá sempre na nossa cola.
-Eu sei. Mas com a Laura não
adianta desabafar... e eu não tenho mais ninguém. Eu me sinto preso
nessa situação toda. Enrolado até o pescoço.
-E você acha que eu me sinto
como? Infelizmente nós temos essa ligação... essa péssima
ligação. Esse infeliz desse chefe.
-Você não me entende. Eu não
me sinto bem escondendo minha bissexualidade de tudo e todos. Tenho
sofrido pra manter isso secreto, agora que estou começando a ficar
famoso.
-Está só provando do próprio
veneno, meu caro. Não foi você mesmo que cansou de dizer que era
fichinha aguentar tudo isso? E convenhamos que pertdo das exigências
que o chefe faz pra gente, isso não é nada.
-Você não tem a mínima boa
vontade comigo...
-É mesmo? Dá pra notar?
Olha, Mateus... eu não tenho nada contra você. Mas também não
tenho nada a favor. Se puder ir embora eu agradeço.
-Mas... eu nem terminei o
café!
-Vai embora, Mateus. Você não
pode ser visto aqui.
Mateus vai embora, triste.
Bruno respira aliviado. CORTA A CENA.
CENA 6: Suzanne ressurge na
mansão dos Bittencourt, para surpresa de Riva.
-Você tá com uma expressão
triste, Suzanne. Aconteceu alguma coisa? - preocupa-se Riva.
-Gostaria de falar sobre isso
com você a sós...
-Vamos pro escritório, lá
você me conta o que aconteceu.
Suzanne entra com Riva no
escritório e começa a encenar um choro forte, que deixa Riva ainda
mais penalizada com ela.
-Fala alguma coisa, amiga!
Qual é o motivo pra esse choro?
-Sei que não devia, Riva...
já era de se esperar... eu devia ter me preparado melhor. Meu
paizinho... morreu!
Riva se compadece de Suzanne e
a abraça.
-Eu sinto muito. De verdade.
Espero que agora ele encontre o descanso, longe de toda a dor e
sofrimento que ele andava tendo nesses últimos tempos...
-Assim espero.
-Você quer um calmante, uma
água com açúcar?
-Aceito a água.
-Você andou sumida... agora
entendi que foi por causa do seu pai... ele estava morrendo!
-Justamente, Riva. Ele se
despediu de nós... pelo menos essa lembrança boa ficou.
-Você quer ficar pro jantar?
- convida Riva.
-Não vou incomodar? Se não
incomodar, aceito...
As duas retornam à sala.
CORTA A CENA.
CENA 7: Raquel visita Valentim
em seu consultório na condição de aprendiz dele.
-Então, Raquel... até esse
ponto tá tranquilo pra você todas as coisas?
-Sim, na verdade eu esperava
bem mais dificuldade, mas considerei tudo bastante fácil.
-Pois agora eu vou lhe revelar
se você acertou tudo... a resposta é sim. Dos nove casos que eu
separei para você estudar hoje, você solucionou a todos
corretamente. É impressionante o seu talento e a sua aptidão pra
esse ofício. Só vi isso uma vez na vida: no meu falecido pai.
-Assim fico envergonhada. Mas
fico feliz por ter acertado tudo.
-Você nasceu pra isso,
Raquel. Nunca duvide disso. E é por isso mesmo que você vai ser
chamada para sua primeira “missão”, como investigadora. Claro,
tudo isso é apenas uma continuidade dos testes. Você estará
acompanhada de mim e da Mara, então fique sossegada.
-E de que caso se trata?
-Esse vai ser relativamente
simples. Precisamos investigar um grupo de rapazes que espalha
racismo, homofobia e transfobia nas redes sociais através de perfis
falsos. Você se sente segura para essa primeira missão?
-Me sinto, claro! Ainda mais
sabendo que vocês estarão a me orientar.
-Então eu vou te explicar
mais umas coisas... você precisa observar antes de mais nada o modus
operandi e...
Valentim segue a passar
instruções a Raquel. CORTA A CENA.
CENA 8: Raquel chega ao
apartamento do hotel e estranha o fato de Márcio estar revirando
todas as gavetas de todos os móveis.
-Você tá procurando alguma
coisa, querido?
-Você lembra daquela
gargantilha que eu roubei da Riva ainda garoto, não lembra?
-Lembro sim.
-Eu queria devolver a ela...
porque é coisa de família, parece que foi a mãe dela que deu pra
ela, antes de morrer. Mas não encontro em lugar nenhum!
-Olha, querido, não é
querendo te dizer nada, mas eu acho que eu vi a Suzanne colocar essa
gargantilha no pescoço mais cedo.
-Você tem noção da
gravidade disso? Ela foi na casa da Riva, na mansão dos Bittencourt!
Márcio se desespera. Raquel
tenta tranquilizá-lo.
-Não fica assim... pensa que
pelo menos assim a Riva pode recuperar o que é dela...
-Pirou, dona Raquel? Isso ia
prejudicar Suzanne, sua filha, meu amor!
-Uma hora isso há de acabar
acontecendo, Márcio... ninguém escapa pra sempre...
-Eu sei. Mas eu queria
entregar a gargantilha em mãos, me desculpar por ter roubado há
vinte anos...
Márcio lamenta não encontrar
gargantilha. CORTA A CENA.
CENA 9: Depois do jantar,
todos conversam de maneira descontraída na sala da mansão dos
Bittencourt. Valquíria olha fixamente para o pescoço de Suzanne e
Riva nota que sua avó não para de encarar Suzanne.
-A senhora viu alguma coisa?
Tá com essa cara... não tira o olho do pescoço da Suzanne... -
fala Riva, discretamente à sua avó.
-Eu podia jurar que já vi
aquela gargantilha antes, Riva... - fala Valquíria.
-Ah, deixa disso, vovó! Deve
ser só uma impressão sua...
Riva se volta para Suzanne,
que segue contando sua história de ter perdido o pai e ao olhar para
a gargantilha, tem lembranças despertadas em sua mente, de quando
sua mãe estava no leito de morte e entregava uma gargantilha igual
para ela levar consigo.
-Essa vai ser a minha
lembrança viva que você vai levar pra sempre no seu coração...
FIM DO CAPÍTULO 50.
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