disqus

segunda-feira, 25 de julho de 2016

CAPÍTULO 61

CENA 1: Marcelo, Riva e Vicente encaram Márcio incrédulos. Valquíria observa a tudo de longe e questiona Marion.
-Aquele cara deve ser o pai do Marcelo, é isso que tou entendendo?
-Exatamente, mãe. Só tou apreensiva dele ter vindo justo na festa de casamento do filho, depois de tudo...
-Olha, filha... não estou com um bom pressentimento em relação a isso... mas melhor ficar na minha porque esse é um assunto que não devo me meter.
-Ah, mas eu devo, mamãe! - fala Marion, se levantando.
-Onde você vai?
-Acompanhar de perto essa situação pra evitar um vexame diante da imprensa.
Marion vai até Vicente, Marcelo, Rafael, Riva e Márcio.
-Posso saber o que você veio fazer aqui? Não tá vendo que toda a imprensa tá aqui? - questiona Marion.
-Eu só não meto a mão na sua cara por causa disso que a Marion acabou de falar... - fala Riva, encarando Márcio com raiva.
-Mãe... acho melhor a gente se segurar. Esse cara veio até aqui justo hoje, logo agora... vamos pelo menos ouvir o que ele tem a dizer. - sentencia Marcelo.
Marcelo, Riva, Rafael e Márcio seguem para dentro da mansão e a imprensa tenta seguir, no que Rafael barra, sutilmente.
-Esse é um momento em família, respeitem.
Os quatro vão ao andar de cima. Marcelo é o primeiro a questionar.
-Agora pode explicar o motivo de ter materializado aqui justo no dia do meu casamento, “paizinho”?
-Não seja tão irônico comigo, filho... - fala Márcio.
-Ah... agora ele é seu filho também, é? Durante vinte anos você esqueceu completamente disso. E quando apareceu aqui nessa casa, foi pra rir da cara do MEU filho por ele ser gay e ainda praticamente nos assaltou. Você me desculpe, Márcio, mas eu não tenho um único motivo pra confiar nessa sua vinda aqui, justo quando tá toda a imprensa lá embaixo no salão de festas... - fala Riva.
-Vocês podem estar até pensando que tou sendo Poliana, mas... por que vocês não deixam o Márcio falar? Até agora vocês ficam de ironia pra lá, acusações pra cá... assim fica difícil deixar o coitado falar. - fala Rafael.
-Você tá sendo Poliana sim, amor... mas talvez tenha razão. Anda, “paizinho”... explica então o motivo de ter vindo aqui só agora, depois de mais de vinte anos... - fala Marcelo.
-Eu só quero que vocês acreditem minimamente em mim... que possam me dar um único voto de confiança... eu mudei e nunca falei tão sério na minha vida... eu quero fazer diferente... ser o pai que eu nunca fui pra você, Marcelo.
Riva se revolta com a fala de Márcio.
-Muito conveniente você querer ser o pai que nunca foi pro Marcelo agora que nós somos ricos, né? Resolveu mudar a estratégia do assalto?
-Riva... eu sei que você tem todos os motivos do mundo pra me odiar, que eu te roubei toda herança que sua mãe deixou quando te abandonei... sei de tudo isso. Mas reconheço isso na frente do nosso filho. Não quero mais mentir, esconder, dissimular. Eu só quero uma chance de provar que ainda posso ser um bom pai.
-Então pergunte a mim, não à minha mãe... - fala Marcelo.
-Filho... eu sei que nunca estive por perto. Que você nunca precisou de um pai... mas deixa eu tentar ser alguém na sua vida...
-Eu só não te coloco pra fora da festa porque a imprensa toda vai cair em cima da gente depois. Você fica na festa. Mas depois você xispa daqui, tá me ouvindo?
Os quatro descem e voltam à festa. CORTA A CENA.

CENA 2: Vicente percebe que Riva está segurando sua fúria para não avançar sobre Márcio, que circula pela festa bebendo tudo o que os garçons passam servindo.
-A gente deixou esse malandro ficar na festa, mas ele precisa acabar com o estoque de bebida? Gente, como é que esse sujeito bebe tanto sem passar mal?
-Deixa, Riva... melhor que esse sujeito beba até cair e dê perda total de uma vez... deixa ele.
-Muito me surpreende você, Vicente, dizer pra que ele faça o que bem entender. Se ele der perda total, ele vai acabar tendo que dormir nessa casa, poxa!
-Se for o caso eu falo com o Ivan pra liberar a edícula pro bebum. Assim ele incomoda menos.
-Mas ainda assim... ele tá fazendo de tudo pra contrariar o que o Marcelo pediu pra ele. Ele não quer provar que pode se tornar um bom pai? E como que ele consegue contrariar o único pedido que o filho fez logo de largada?
-Você acreditou nele, Riva? Francamente...
-Claro que não acreditei. Mas o infeliz deixou a gente sem saída. Se expulsássemos ele da festa isso ia dar problema... a imprensa toda aqui, você sabe...
-De qualquer forma. É melhor você e o Marcelo tomarem cuidado com esse cara. A gente não sabe o motivo dele ter procurado vocês só agora...
-Pois é... também tou querendo saber qual é a intenção desse daí.
-Não me parece ser nada boa, Riva.
-Muito menos a mim. Mas você acha que é pra tanto? Que devemos tomar cuidado? Que tipo de cuidado?
-Intuição, Riva. Pessoalmente eu não tenho nada contra o Márcio... ele até me parece ser um sujeito boa-praça, diria até que de bem com a vida. Mas a impressão que tenho é que ele não está sozinho... que tem alguém por trás dele. E que isso não é de hoje.
-Credo, amor... tudo isso que você acha dele? Você deveria ser investigador.
-Deus me livre! Do jeito que me envolvo emocionalmente com tudo e todos? Não ia dar certo... mas chega de falar de assuntos desagradáveis. Ainda temos a festa de casamento do meu enteado pra aproveitar...
Os dois vão dançar. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, já ao final da manhã, Márcio acorda-se na edícula sem entender direito onde está.
-Onde é que eu vim parar? Que lugar é esse?
Márcio resolve gritar.
-Alguém me tira daqui! Onde é que eu estou?
Marcelo corre até a edícula.
-Contenha-se, Márcio! Você está na edícula da minha casa. Por que não tentou sair daqui com as próprias pernas? A porta não estava trancada!
-E eu ia saber que existia esse lugar nessa casa? Gente, minha cabeça tá me matando...
-Sim, né... você praticamente acabou com o estoque de bebidas que tínhamos na festa... imagino a ressaca que isso deve ter causado.
-Ainda sinto tudo rodar. Fazia anos que não bebia desse jeito. Me ajuda a chegar até à sala?
Marcelo se vê sem saída.
-Tá... se apoie em meu ombro.
Marcelo leva o pai à sala e Rafael, Riva, Vicente, Marion, Valquíria, Haroldo, Mariana e Ivan estranham, mas nada dizem. Marcelo se justifica.
-Se acordou com ressaca das bravas. Mal consegue andar sem sentir tontura...
Riva se preocupa.
-Bem que eu tentei avisar pra não beber tudo aquilo, mas o desgraçado não me ouviu... - lamenta Riva.
-Desculpe, gente... eu não quis dar trabalho pra vocês. Eu prometi a vocês que ia embora até o fim da festa e eu nem lembro direito do que aconteceu... - arrepende-se Márcio.
-Ainda bem que não lembra. Você simplesmente desabou feito uma jaca podre no meio do salão e quase levou o garçom junto... - fala Marion.
-Eu sinto muito se fiz vocês passarem vergonha... - lamenta-se Márcio.
-O estrago foi pequeno, poderia ter sido pior. Felizmente a imprensa já tinha deixado a festa às três da manhã, que foi quando você desabou. Você podia ter entrado em coma alcoólica, sabia? Sou estudante de medicina e te garanto que foi por muito pouco que você não teve uma intoxicação alcoólica grave. Mais um pouco e te envenenava. Você poderia estar morto a uma hora dessas... - fala Mariana.
-Eu vou embora, não se preocupem...
Márcio se levanta e quase desmaia, sendo acudido por Mariana e Marcelo.
-Nem pensar. Você ainda tá muito intoxicado. Precisa beber muita água. Já que você tá aqui mesmo, você fica essa noite outra vez. Dorme na edícula, de novo. Amanhã, quando você estiver bem, você vai embora. - sentencia Marcelo.
Riva olha intrigada para o filho, que lhe balbucia:
-Paciência, mãe... paciência. CORTA A CENA.

CENA 4: Valquíria e Marion conversam a sós no quarto de Valquíria.
-Por que me chamou aqui em cima, mãe?
-Precisava te dizer a sós: não confio nem um pouco nesse Márcio.
-Ah, isso eu também não confio. Nem um pouco. Eu e a Riva conhecemos esse tratante quando fugimos de Barra de São João. Ele seguiu a viagem conosco e logo já tava namorando a Riva. Moramos nós três por algum tempo até o Ivan se apaixonar por mim e eu por ele. O sujeito mentia na cara-dura e só depois de quase vinte anos eu soube que ele não apenas abandonou a Riva no dia seguinte que ela contou que tava grávida, como também roubou toda a herança da Riva. Levou até aquela gargantilha que a Marinete tinha dado pra coitada antes de morrer. Deve ter transformado tudo em dinheiro, óbvio...
-Não tenho dúvida disso, Marion. Esse sujeito parece ser tramposo até dizer chega. Mas meu pai Xangô há de nos proteger.
-Deus te ouça, mãe... que te ouça e diga amém. Mas não dá pra deixar o cara andar na rua naquele estado. Ele quase se matou de tanto que bebeu. Amanhã a gente despacha o sujeito...
As duas descem. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Raquel encontra-se com Mara e Valentim no consultório de Valentim.
-Demorei pra chegar, queridos?
-Nada, Raquel! Acabei de despachar meu último paciente, não faz nem vinte minutos... - fala Valentim.
-Te chamamos aqui para pedirmos auxílio seu em uma nova investigação que estamos abrindo relacionada ao caso da facção da empresa fantasma... - fala Mara.
-Certo. Encontraram outro suspeito? - questiona Raquel.
-Exatamente. O novo suspeito é Victor, um paciente limítrofe do Valentim. Quem suspeita de que ele possa ser o “Chefe” - pasme - é o próprio namorado dele.
-Que? Mara, você vá me desculpar, mas eu andei lendo sobre vários tipos de transtornos e doenças mentais, vocês sabem que sou curiosa. De toda a literatura que já tive acesso, os autores são bem taxativos ao deixar claro que limítrofes em geral são algozes de si mesmos, mas incapazes de fazer mal a outras pessoas...
-Sinceramente eu também não acredito que seja ele, Raquel... mas o Valentim é o psiquiatra aqui e ele disse que devemos investigar, então vamos arregaçar as mangas.
-Não se sintam obrigadas, mas preciso da colaboração de vocês. Caráter é algo que independe de ser ou não neuto atípico... - pondera Valentim.
-Tá certo. Tou dentro... mas e quem se encarrega de verificar aqueles documentos da passagem da Suzanne por um hospital de Niterói em 1995? - questiona Raquel.
-Ah, isso deixa comigo. Vocês focam no Victor e eu foco na Suzanne... - fala Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 6: Adelaide e Cleiton chegam à casa de Regina e Geraldo, quando Eva não está presente.
-Demoramos, Regina? - pergunta Cleiton.
-Chegaram na hora certa. Foi difícil despachar as meninas... - fala Geraldo.
-Ótimo. Então vamos poder falar tranquilamente sobre a organização da festa surpresa... - fala Adelaide.
-No que você andou pensando, querida? - pergunta Regina.
-Então... como eu sei que a Renata nunca foi muito fã de festas grandiosas, isso desde menininha, porque detestava aniversários cheios de festa, pensei numa coisa mais intimista. Cheias das coisas que a Renata e a Eva gostam. Coisas que tenham um significado especial não apenas para cada uma delas, mas para as duas como o casal que são... coisas que remetam à história do amor delas. Claro... sem esquecermos que os convidados devem ser somente os amigos realmente próximos de cada uma delas, para que isso garanta um ambiente mais intimista à festa... - fala Adelaide.
-Achei ótima a ideia, Adelaide! Você é uma ótima organizadora de festas. Já pensou em se profissionalizar nisso? É uma ideia a ser considerada, viu? Noto que você tem um talento para a coisa... mas enfim. Concordo com tudo o que foi sugerido até aqui. E devo admitir que só posso contribuir com as coisas que eu sei do relacionamento das duas desde o começo do namoro delas... - fala Regina.
-Mas é justamente por isso que eu e o Cleiton contamos com a ajuda de vocês. Passamos muito tempo distantes da Renata e ainda tem muita coisa que a gente não sabe sobre ela e a Eva enquanto o casal que elas são... e vocês sabem de tudo desde que elas se conheceram, até começarem a namorar...
-Ah, Adelaide... a gente vai ter todo o prazer do mundo em ajudar vocês nisso!
Os quatro seguem combinando os detalhes da festa surpresa do casamento de Eva e Renata. CORTA A CENA.

CENA 7: Valentim está verificando a documentação da passagem de Suzanne pelo hospital em Niterói em 1995 e fica perplexo com o que descobre.
-Raquel, acho melhor você parar o que está fazendo com a Mara agora e vir aqui na minha mesa...
Raquel fica intrigada.
-Descobriu alguma coisa? Porque já são meses vasculhando essa documentação e não tem resposta nenhuma...
-Então, Raquel. Meses e meses e apareceu a razão pela qual a Suzanne deu entrada no hospital em 4 de maio de 1995...
-Aposto que foi coisa com droga, não foi? Inconsequente do jeito que ela era quando adolescente...
-Nada disso, Raquel. Ela deu entrada no hospital em avançado trabalho de parto. Teve um menino de parto natural. Mas nada além disso consta. Horas depois ela fugiu do hospital com a criança junto dela.
Raquel fica perplexa.
-Não pode ser verdade, Valentim. Tá certo que ela e o Márcio viviam passando dias, às vezes semanas fora, mas nunca ficaram mais de um mês sem aparecer na minha casa. Pelo menos até completar vinte e um anos, a Suzanne morava ainda comigo. Se ela estivesse grávida em 1995 eu saberia... ela tinha catorze pra quinze anos. Nunca vi a barriga de grávida dela...
-Mas me responda, Raquel: onde ela estava em 4 de maio daquele ano?
-Ela tinha saído com o Márcio... era mais ou menos 30 de abril. Disse que ia acompanhar ele pra ele arranjar emprego. Ela sempre soube o quanto eu gosto do Márcio e acredito nele. Acreditei. Eles só voltaram vinte dias depois e Márcio estava empregado, mas com uma expressão triste, de quem havia passado por uma situação dolorosa... na hora não liguei os pontos, mas...
-Mas ele pode ter ficado nas mãos da Suzanne, não é isso? E digo mais: ela abandonou esse filho deles e proibiu que o Márcio fosse atrás.
-Pode ter sido... mas ela nunca aparentou estar grávida...
-Converse com ela. Isso precisa ser esclarecido. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, Cláudio e Guilherme estão jantando e Cláudio nota que Guilherme quer lhe dizer alguma coisa.
-Podia jurar que você tá querendo me dizer alguma coisa e nem sabe por onde começar, amor...
-Dá pra notar, Cláudio?
-Você é mais transparente do que imagina, Guilherme...
-É verdade... eu quero te dizer uma coisa. Na realidade, queria te fazer um pedido.
-Pois faça...
-Sabe... eu andei pensando em tudo, em nós dois... sobre esses oito meses que a gente tá junto.
-Ainda são sete... mas enfim, prossiga.
-Eu não tenho mais dúvida do amor que sinto por você. Então, aproveitando esse clima iniciado pelo casamento do seu melhor amigo... eu andei pensando e repensando. Decidi que essa é a hora de te fazer o pedido: você aceita se casar comigo?
Cláudio quase engasga com a comida.
-Guilherme... ainda é cedo pra gente pensar nisso...
-Cedo? Eles estão a menos de um ano juntos e se casaram...
-Calma, amor... cada um tem seu tempo. Não nos compare com outros casais. Preciso que me entenda... eu preciso de mais tempo. Não duvide do meu amor por você, só preciso ter certeza que nosso casamento vai dar certo...
Guilherme suspira, conformado. CORTA A CENA.

CENA 9: Suzanne estranha chegada intempestiva de Raquel no apartamento.
-Que bicho te mordeu, mãe? Parece que tá soltando fogo pelas ventas!
-Não parece... eu realmente estou a ponto de ter uma hemorragia nasal, pra você ter ideia da raiva que estou!
-Do que? De quem?
-De você!
-Do que você tá falando, dona Raquel? Eu hein...
-Por que você escondeu de mim durante vinte e um anos que eu tenho um neto, Suzanne Farina Lopes?
Suzanne paralisa. FIM DO CAPÍTULO 61.

Nenhum comentário:

Postar um comentário