CENA 1: Marcelo, Riva e Vicente
encaram Márcio incrédulos. Valquíria observa a tudo de longe e
questiona Marion.
-Aquele cara deve ser o pai do
Marcelo, é isso que tou entendendo?
-Exatamente, mãe. Só tou
apreensiva dele ter vindo justo na festa de casamento do filho,
depois de tudo...
-Olha, filha... não estou com
um bom pressentimento em relação a isso... mas melhor ficar na
minha porque esse é um assunto que não devo me meter.
-Ah, mas eu devo, mamãe! -
fala Marion, se levantando.
-Onde você vai?
-Acompanhar de perto essa
situação pra evitar um vexame diante da imprensa.
Marion vai até Vicente,
Marcelo, Rafael, Riva e Márcio.
-Posso saber o que você veio
fazer aqui? Não tá vendo que toda a imprensa tá aqui? - questiona
Marion.
-Eu só não meto a mão na
sua cara por causa disso que a Marion acabou de falar... - fala Riva,
encarando Márcio com raiva.
-Mãe... acho melhor a gente
se segurar. Esse cara veio até aqui justo hoje, logo agora... vamos
pelo menos ouvir o que ele tem a dizer. - sentencia Marcelo.
Marcelo, Riva, Rafael e Márcio
seguem para dentro da mansão e a imprensa tenta seguir, no que
Rafael barra, sutilmente.
-Esse é um momento em
família, respeitem.
Os quatro vão ao andar de
cima. Marcelo é o primeiro a questionar.
-Agora pode explicar o motivo
de ter materializado aqui justo no dia do meu casamento, “paizinho”?
-Não seja tão irônico
comigo, filho... - fala Márcio.
-Ah... agora ele é seu filho
também, é? Durante vinte anos você esqueceu completamente disso. E
quando apareceu aqui nessa casa, foi pra rir da cara do MEU filho por
ele ser gay e ainda praticamente nos assaltou. Você me desculpe,
Márcio, mas eu não tenho um único motivo pra confiar nessa sua
vinda aqui, justo quando tá toda a imprensa lá embaixo no salão de
festas... - fala Riva.
-Vocês podem estar até
pensando que tou sendo Poliana, mas... por que vocês não deixam o
Márcio falar? Até agora vocês ficam de ironia pra lá, acusações
pra cá... assim fica difícil deixar o coitado falar. - fala Rafael.
-Você tá sendo Poliana sim,
amor... mas talvez tenha razão. Anda, “paizinho”... explica
então o motivo de ter vindo aqui só agora, depois de mais de vinte
anos... - fala Marcelo.
-Eu só quero que vocês
acreditem minimamente em mim... que possam me dar um único voto de
confiança... eu mudei e nunca falei tão sério na minha vida... eu
quero fazer diferente... ser o pai que eu nunca fui pra você,
Marcelo.
Riva se revolta com a fala de
Márcio.
-Muito conveniente você
querer ser o pai que nunca foi pro Marcelo agora que nós somos
ricos, né? Resolveu mudar a estratégia do assalto?
-Riva... eu sei que você tem
todos os motivos do mundo pra me odiar, que eu te roubei toda herança
que sua mãe deixou quando te abandonei... sei de tudo isso. Mas
reconheço isso na frente do nosso filho. Não quero mais mentir,
esconder, dissimular. Eu só quero uma chance de provar que ainda
posso ser um bom pai.
-Então pergunte a mim, não à
minha mãe... - fala Marcelo.
-Filho... eu sei que nunca
estive por perto. Que você nunca precisou de um pai... mas deixa eu
tentar ser alguém na sua vida...
-Eu só não te coloco pra
fora da festa porque a imprensa toda vai cair em cima da gente
depois. Você fica na festa. Mas depois você xispa daqui, tá me
ouvindo?
Os quatro descem e voltam à
festa. CORTA A CENA.
CENA 2: Vicente percebe que
Riva está segurando sua fúria para não avançar sobre Márcio, que
circula pela festa bebendo tudo o que os garçons passam servindo.
-A gente deixou esse malandro
ficar na festa, mas ele precisa acabar com o estoque de bebida?
Gente, como é que esse sujeito bebe tanto sem passar mal?
-Deixa, Riva... melhor que
esse sujeito beba até cair e dê perda total de uma vez... deixa
ele.
-Muito me surpreende você,
Vicente, dizer pra que ele faça o que bem entender. Se ele der perda
total, ele vai acabar tendo que dormir nessa casa, poxa!
-Se for o caso eu falo com o
Ivan pra liberar a edícula pro bebum. Assim ele incomoda menos.
-Mas ainda assim... ele tá
fazendo de tudo pra contrariar o que o Marcelo pediu pra ele. Ele não
quer provar que pode se tornar um bom pai? E como que ele consegue
contrariar o único pedido que o filho fez logo de largada?
-Você acreditou nele, Riva?
Francamente...
-Claro que não acreditei. Mas
o infeliz deixou a gente sem saída. Se expulsássemos ele da festa
isso ia dar problema... a imprensa toda aqui, você sabe...
-De qualquer forma. É melhor
você e o Marcelo tomarem cuidado com esse cara. A gente não sabe o
motivo dele ter procurado vocês só agora...
-Pois é... também tou
querendo saber qual é a intenção desse daí.
-Não me parece ser nada boa,
Riva.
-Muito menos a mim. Mas você
acha que é pra tanto? Que devemos tomar cuidado? Que tipo de
cuidado?
-Intuição, Riva.
Pessoalmente eu não tenho nada contra o Márcio... ele até me
parece ser um sujeito boa-praça, diria até que de bem com a vida.
Mas a impressão que tenho é que ele não está sozinho... que tem
alguém por trás dele. E que isso não é de hoje.
-Credo, amor... tudo isso que
você acha dele? Você deveria ser investigador.
-Deus me livre! Do jeito que
me envolvo emocionalmente com tudo e todos? Não ia dar certo... mas
chega de falar de assuntos desagradáveis. Ainda temos a festa de
casamento do meu enteado pra aproveitar...
Os dois vão dançar. CORTA A
CENA.
CENA 3: No dia seguinte, já
ao final da manhã, Márcio acorda-se na edícula sem entender
direito onde está.
-Onde é que eu vim parar? Que
lugar é esse?
Márcio resolve gritar.
-Alguém me tira daqui! Onde é
que eu estou?
Marcelo corre até a edícula.
-Contenha-se, Márcio! Você
está na edícula da minha casa. Por que não tentou sair daqui com
as próprias pernas? A porta não estava trancada!
-E eu ia saber que existia
esse lugar nessa casa? Gente, minha cabeça tá me matando...
-Sim, né... você
praticamente acabou com o estoque de bebidas que tínhamos na
festa... imagino a ressaca que isso deve ter causado.
-Ainda sinto tudo rodar. Fazia
anos que não bebia desse jeito. Me ajuda a chegar até à sala?
Marcelo se vê sem saída.
-Tá... se apoie em meu ombro.
Marcelo leva o pai à sala e
Rafael, Riva, Vicente, Marion, Valquíria, Haroldo, Mariana e Ivan
estranham, mas nada dizem. Marcelo se justifica.
-Se acordou com ressaca das
bravas. Mal consegue andar sem sentir tontura...
Riva se preocupa.
-Bem que eu tentei avisar pra
não beber tudo aquilo, mas o desgraçado não me ouviu... - lamenta
Riva.
-Desculpe, gente... eu não
quis dar trabalho pra vocês. Eu prometi a vocês que ia embora até
o fim da festa e eu nem lembro direito do que aconteceu... -
arrepende-se Márcio.
-Ainda bem que não lembra.
Você simplesmente desabou feito uma jaca podre no meio do salão e
quase levou o garçom junto... - fala Marion.
-Eu sinto muito se fiz vocês
passarem vergonha... - lamenta-se Márcio.
-O estrago foi pequeno,
poderia ter sido pior. Felizmente a imprensa já tinha deixado a
festa às três da manhã, que foi quando você desabou. Você podia
ter entrado em coma alcoólica, sabia? Sou estudante de medicina e te
garanto que foi por muito pouco que você não teve uma intoxicação
alcoólica grave. Mais um pouco e te envenenava. Você poderia estar
morto a uma hora dessas... - fala Mariana.
-Eu vou embora, não se
preocupem...
Márcio se levanta e quase
desmaia, sendo acudido por Mariana e Marcelo.
-Nem pensar. Você ainda tá
muito intoxicado. Precisa beber muita água. Já que você tá aqui
mesmo, você fica essa noite outra vez. Dorme na edícula, de novo.
Amanhã, quando você estiver bem, você vai embora. - sentencia
Marcelo.
Riva olha intrigada para o
filho, que lhe balbucia:
-Paciência, mãe...
paciência. CORTA A CENA.
CENA 4: Valquíria e Marion
conversam a sós no quarto de Valquíria.
-Por que me chamou aqui em
cima, mãe?
-Precisava te dizer a sós:
não confio nem um pouco nesse Márcio.
-Ah, isso eu também não
confio. Nem um pouco. Eu e a Riva conhecemos esse tratante quando
fugimos de Barra de São João. Ele seguiu a viagem conosco e logo já
tava namorando a Riva. Moramos nós três por algum tempo até o Ivan
se apaixonar por mim e eu por ele. O sujeito mentia na cara-dura e só
depois de quase vinte anos eu soube que ele não apenas abandonou a
Riva no dia seguinte que ela contou que tava grávida, como também
roubou toda a herança da Riva. Levou até aquela gargantilha que a
Marinete tinha dado pra coitada antes de morrer. Deve ter
transformado tudo em dinheiro, óbvio...
-Não tenho dúvida disso,
Marion. Esse sujeito parece ser tramposo até dizer chega. Mas meu
pai Xangô há de nos proteger.
-Deus te ouça, mãe... que te
ouça e diga amém. Mas não dá pra deixar o cara andar na rua
naquele estado. Ele quase se matou de tanto que bebeu. Amanhã a
gente despacha o sujeito...
As duas descem. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Raquel
encontra-se com Mara e Valentim no consultório de Valentim.
-Demorei pra chegar, queridos?
-Nada, Raquel! Acabei de
despachar meu último paciente, não faz nem vinte minutos... - fala
Valentim.
-Te chamamos aqui para
pedirmos auxílio seu em uma nova investigação que estamos abrindo
relacionada ao caso da facção da empresa fantasma... - fala Mara.
-Certo. Encontraram outro
suspeito? - questiona Raquel.
-Exatamente. O novo suspeito é
Victor, um paciente limítrofe do Valentim. Quem suspeita de que ele
possa ser o “Chefe” - pasme - é o próprio namorado dele.
-Que? Mara, você vá me
desculpar, mas eu andei lendo sobre vários tipos de transtornos e
doenças mentais, vocês sabem que sou curiosa. De toda a literatura
que já tive acesso, os autores são bem taxativos ao deixar claro
que limítrofes em geral são algozes de si mesmos, mas incapazes de
fazer mal a outras pessoas...
-Sinceramente eu também não
acredito que seja ele, Raquel... mas o Valentim é o psiquiatra aqui
e ele disse que devemos investigar, então vamos arregaçar as
mangas.
-Não se sintam obrigadas, mas
preciso da colaboração de vocês. Caráter é algo que independe de
ser ou não neuto atípico... - pondera Valentim.
-Tá certo. Tou dentro... mas
e quem se encarrega de verificar aqueles documentos da passagem da
Suzanne por um hospital de Niterói em 1995? - questiona Raquel.
-Ah, isso deixa comigo. Vocês
focam no Victor e eu foco na Suzanne... - fala Valentim.
CORTA A CENA.
CENA 6: Adelaide e Cleiton
chegam à casa de Regina e Geraldo, quando Eva não está presente.
-Demoramos, Regina? - pergunta
Cleiton.
-Chegaram na hora certa. Foi
difícil despachar as meninas... - fala Geraldo.
-Ótimo. Então vamos poder
falar tranquilamente sobre a organização da festa surpresa... -
fala Adelaide.
-No que você andou pensando,
querida? - pergunta Regina.
-Então... como eu sei que a
Renata nunca foi muito fã de festas grandiosas, isso desde
menininha, porque detestava aniversários cheios de festa, pensei
numa coisa mais intimista. Cheias das coisas que a Renata e a Eva
gostam. Coisas que tenham um significado especial não apenas para
cada uma delas, mas para as duas como o casal que são... coisas que
remetam à história do amor delas. Claro... sem esquecermos que os
convidados devem ser somente os amigos realmente próximos de cada
uma delas, para que isso garanta um ambiente mais intimista à
festa... - fala Adelaide.
-Achei ótima a ideia,
Adelaide! Você é uma ótima organizadora de festas. Já pensou em
se profissionalizar nisso? É uma ideia a ser considerada, viu? Noto
que você tem um talento para a coisa... mas enfim. Concordo com tudo
o que foi sugerido até aqui. E devo admitir que só posso contribuir
com as coisas que eu sei do relacionamento das duas desde o começo
do namoro delas... - fala Regina.
-Mas é justamente por isso
que eu e o Cleiton contamos com a ajuda de vocês. Passamos muito
tempo distantes da Renata e ainda tem muita coisa que a gente não
sabe sobre ela e a Eva enquanto o casal que elas são... e vocês
sabem de tudo desde que elas se conheceram, até começarem a
namorar...
-Ah, Adelaide... a gente vai
ter todo o prazer do mundo em ajudar vocês nisso!
Os quatro seguem combinando os
detalhes da festa surpresa do casamento de Eva e Renata. CORTA A
CENA.
CENA 7: Valentim está
verificando a documentação da passagem de Suzanne pelo hospital em
Niterói em 1995 e fica perplexo com o que descobre.
-Raquel, acho melhor você
parar o que está fazendo com a Mara agora e vir aqui na minha
mesa...
Raquel fica intrigada.
-Descobriu alguma coisa?
Porque já são meses vasculhando essa documentação e não tem
resposta nenhuma...
-Então, Raquel. Meses e meses
e apareceu a razão pela qual a Suzanne deu entrada no hospital em 4
de maio de 1995...
-Aposto que foi coisa com
droga, não foi? Inconsequente do jeito que ela era quando
adolescente...
-Nada disso, Raquel. Ela deu
entrada no hospital em avançado trabalho de parto. Teve um menino de
parto natural. Mas nada além disso consta. Horas depois ela fugiu do
hospital com a criança junto dela.
Raquel fica perplexa.
-Não pode ser verdade,
Valentim. Tá certo que ela e o Márcio viviam passando dias, às
vezes semanas fora, mas nunca ficaram mais de um mês sem aparecer na
minha casa. Pelo menos até completar vinte e um anos, a Suzanne
morava ainda comigo. Se ela estivesse grávida em 1995 eu saberia...
ela tinha catorze pra quinze anos. Nunca vi a barriga de grávida
dela...
-Mas me responda, Raquel: onde
ela estava em 4 de maio daquele ano?
-Ela tinha saído com o
Márcio... era mais ou menos 30 de abril. Disse que ia acompanhar ele
pra ele arranjar emprego. Ela sempre soube o quanto eu gosto do
Márcio e acredito nele. Acreditei. Eles só voltaram vinte dias
depois e Márcio estava empregado, mas com uma expressão triste, de
quem havia passado por uma situação dolorosa... na hora não liguei
os pontos, mas...
-Mas ele pode ter ficado nas
mãos da Suzanne, não é isso? E digo mais: ela abandonou esse filho
deles e proibiu que o Márcio fosse atrás.
-Pode ter sido... mas ela
nunca aparentou estar grávida...
-Converse com ela. Isso
precisa ser esclarecido. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, Cláudio
e Guilherme estão jantando e Cláudio nota que Guilherme quer lhe
dizer alguma coisa.
-Podia jurar que você tá
querendo me dizer alguma coisa e nem sabe por onde começar, amor...
-Dá pra notar, Cláudio?
-Você é mais transparente do
que imagina, Guilherme...
-É verdade... eu quero te
dizer uma coisa. Na realidade, queria te fazer um pedido.
-Pois faça...
-Sabe... eu andei pensando em
tudo, em nós dois... sobre esses oito meses que a gente tá junto.
-Ainda são sete... mas enfim,
prossiga.
-Eu não tenho mais dúvida do
amor que sinto por você. Então, aproveitando esse clima iniciado
pelo casamento do seu melhor amigo... eu andei pensando e repensando.
Decidi que essa é a hora de te fazer o pedido: você aceita se casar
comigo?
Cláudio quase engasga com a
comida.
-Guilherme... ainda é cedo
pra gente pensar nisso...
-Cedo? Eles estão a menos de
um ano juntos e se casaram...
-Calma, amor... cada um tem
seu tempo. Não nos compare com outros casais. Preciso que me
entenda... eu preciso de mais tempo. Não duvide do meu amor por
você, só preciso ter certeza que nosso casamento vai dar certo...
Guilherme suspira, conformado.
CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne estranha
chegada intempestiva de Raquel no apartamento.
-Que bicho te mordeu, mãe?
Parece que tá soltando fogo pelas ventas!
-Não parece... eu realmente
estou a ponto de ter uma hemorragia nasal, pra você ter ideia da
raiva que estou!
-Do que? De quem?
-De você!
-Do que você tá falando,
dona Raquel? Eu hein...
-Por que você escondeu de mim
durante vinte e um anos que eu tenho um neto, Suzanne Farina Lopes?
Suzanne paralisa. FIM DO
CAPÍTULO 61.
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