CENA 1: Rafael permanece sem
reação e Marcelo tenta fazer com que o namorado reaja.
-Você não vai dizer nada,
amor? É o seu irmão que voltou depois de mais de dois anos
desaparecido!
-Eu mal sei o que dizer,
Marcelo... no final das contas aquele sonho que eu tive, aquela
sensação que tive de que ele voltava... tudo isso tava certo! Minha
intuição não me enganou! - alegra-se Rafael, visivelmente
emocionado.
-E não é? Agora acabou esse
sufoco. Acabou esse sofrimento e essa incerteza de nunca saber se ele
tava vivo ou morto... - fala Marcelo.
-Mas pelo que a notícia dá
conta, ele voltou ontem... - constata Rafael.
-Só não te esquece que nós
ainda estamos na Austrália... - lembra Marcelo.
-E daí? A mãe e o pai
tiveram tempo de sobra pra me ligar e não ligaram pra gente! Não
contaram nada, não avisaram! - revolta-se Rafael.
-Sério mesmo que você vai
começar com isso? Você tá julgando os dois baseado na sua própria
visão. Depois não pode nem condenar o Cláudio por ter feito a
mesma coisa comigo...
Rafael cai em si.
-Verdade, amor... desculpa.
-Você não me deve desculpas,
Rafael. Mas você acha mesmo que a sua mãe e o seu pai lembrariam de
avisar a gente? Eles também passaram dois anos sem nenhuma notícia
do Haroldo. Seu pai sofreu com tudo isso e sua mãe acompanhou o
sofrimento dele. Você consegue avaliar o tanto de coisas que devem
estar passando na cabeça de todo mundo lá na nossa casa? Muitas
perguntas ficaram sem respostas esses anos todos. Eles estão
tentando entender tudo. E o esforço de manter a versão de que o
Haroldo só tinha viajado pro exterior, pra mídia? Sem mencionar que
eles podem ter tido o cuidado de não avisar a gente justamente por
saber que a gente tá passando esse mês aqui na Austrália pra
aproveitar nós dois, o nosso amor que a gente não tem liberdade de
viver tão livremente lá no Brasil. Nisso você pensou?
-Você tem razão, Marcelo. Eu
entendo que eles tenham tido vontade de me poupar pra evitar que a
gente voltasse pro Brasil antes da hora. Só que... desculpa, amor.
Você vai ficar muito bravo comigo se eu disser que quero voltar pro
Brasil, já?
-De jeito nenhum, amor. Esse
momento é único nas nossas vidas. Eu vou poder conhecer o seu irmão
mais velho, meu primo emprestado. Nós vamos poder viajar em outras
oportunidade, mas não é todo dia que seu irmão volta pra família
depois de mais de dois anos sumido... - fala Marcelo.
-Eu agradeço de coração
pela sua compreensão, meu amor...
-Deixe disso, Rafa. Não sou
egoísta. Esse é um momento importante pra você, pra sua família...
pra nossa família.
-Vamos fazendo as malas, já?
Quero agilizar nossa volta pro Brasil pro quanto antes.
-Você tá querendo que a
gente volte de surpresa?
-Sim. Você acha uma boa
ideia?
-Eu adorei! Sempre gostei de
surpresas!
Os dois começam a organizar
suas malas. CORTA A CENA.
CENA 2: Mateus procura
“Chefe”.
-Isso são horas de aparecer,
Mateus? Eu poderia estar dormindo.
-Pra cima de mim, chefe? Você
é o maior coruja que eu conheço e não são nem onze da noite!
-Imagino o motivo dessa
visita.
-Ainda bem que imagina. Foi
você que fez tudo aquilo com o Rodrigo?
-Haroldo, você quer dizer,
não é?
-Isso. Foi você que obrigou
ele a sumir por esses anos?
-Fui eu. Você sabe que não
tenho motivos pra te contar mentiras. Fui eu sim. Ele já tinha se
envolvido com os meus agiotas de antes. Ficou endividado. Dei a opção
pra ele... ou ele morria, ou ele vinha pro nosso lado. A família
dele também podia sofrer acidentes, você sabe...
-Você é cruel, chefe...
-Quem é você pra falar de
crueldade? Até outro dia você queria tirar o Rafael do seu caminho
e me pediu pra forjar um acidente. Você não tá com moral nenhuma
pra me apontar o dedo aqui.
-Mas eu me arrependi.
-Engraçado. Arrependimento
não parece apagar o passado. Se te pegarem, eu e meus homens não
tem nada a ver com isso.
-Chega de desviar o assunto,
chefe! Já está me dando nos nervos! Como é que você teve a
capacidade de fazer isso com o Ro... digo, com o Haroldo? Ele é um
bom homem. Sempre gostei dele.
-Você parece não entender
que isso aqui é uma facção. Não tem que gostar de ninguém aqui.
Tem que trabalhar e só.
-Que seja. Mas precisava
disso? Precisava afastar o cara do convívio com a família dele?
Quantos homens seus você mobilizou pra isso? Porque eu sei que ele
não faz ideia de quem você seja.
-Esse tipo de informação não
te interessa. O seu papel aqui é estratégico. E para cobrar dívidas
dos nossos devedores. Nada além disso. Você se abusa demais às
vezes.
-Deve ser porque ninguém
dentro dessa porra te conhece como eu conheço, não é?
-Eu devia ter te matado,
Mateus. Você é atrevido demais.
-Você nunca matou ninguém
com as próprias mãos. Pensa que eu não sei disso?
-Mateus, vá embora. Se você
veio aqui apenas pra me questionar sobre o Haroldo, eu já te dei a
resposta: fui eu sim. Fui eu que armei tudo. Fui eu que afastei ele
da família. E quer saber o motivo? Porque ele ameaçou um dos meus
homens, sem saber que esse cara era meu homem. Resolvi me vingar. Mas
você nem ninguém tem nada com isso. Quem dá as ordens aqui sou eu.
Se eu decidir que algum de vocês deve fingir ser oriental, eu
decido. E não se discutem as minhas ordens. Agora vá embora.
“Chefe” fecha a porta na
cara de Mateus, que fica indignado. CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Guilherme chega, a pedido de Bruno, à casa de Cláudio.
Bruno abre.
-Obrigado por vir. Cláudio
está arrasado com a história do Haroldo... nem saiu da cama ainda,
acredita? - fala Bruno.
-Vamos lá falar com ele... -
prontifica-se Guilherme.
Os dois chegam ao quarto e
Cláudio está com expressão triste.
-Obrigado por vir, Guilherme.
Eu sei que da última vez ficou um climão, mas tou precisando
desabafar com vocês... - fala Cláudio.
-Já passei uma borracha nisso
tudo. Pode desabafar com a gente... - fala Guilherme.
-Ai, gente... tá tudo rodando
na minha cabeça ainda. Não sei nem o que pensar direito. Só sei
que hoje não tenho a mínima condição de ir pra faculdade ou pro
trabalho. Posso acabar até sendo demitido, mas está além das
minhas forças... - fala Cláudio.
-Não dá pra se entregar
desse jeito, meu amigo... tenta reagir. - estimula Bruno.
-Não sei, gente... essa
história fica rodando na minha cabeça. Fico lembrando de todos os
momentos com o Rodrigo... digo, com o Haroldo. Fica difícil imaginar
que durante todo esse tempo ele fingiu ser uma pessoa que não
existia. Ele se inscreveu no vestibular com essa identidade falsa!
Criou uma vida dupla!
-Você não acha que está
sendo injusto com ele? Não sabemos o que está por trás disso... -
contemporiza Bruno.
-Me desculpe, Bruno... mas
Cláudio tem razão de estar chocado. - fala Guilherme.
-Não discutam por isso,
gente... por favor. Só peço que me ouçam. Haroldo é um completo
desconhecido pra mim. Até outro dia eu jurava que ele se chamava
Rodrigo. Mas o que mais me dói nisso, de certa forma, é a maneira
como fui enganado. A maneira como os olhos dele me enganaram. Sempre
vi bondade dentro daquele olhar... e agora simplesmente não sei se
aquilo vinha de dentro dele ou se fazia parte do personagem que ele
criou para fugir de sei lá o que... - desabafa Cláudio.
-Você acha que ele estava
fugindo de algo? - espanta-se Guilherme.
-É no que eu prefiro
acreditar. Custo a crer que dali partiria alguma maldade deliberada.
Prefiro crer que ele não tinha outra saída. Mas seja qual for essa
justificativa, ele não tinha o direito de me envolver nessa mentira.
Eu amei esse homem...
-Amou? Por que? Não ama mais?
- questiona Bruno.
-Acho que não, sinceramente.
Desde que ele terminou comigo, de uma maneira inesperada e abrupta,
que me deixou sem entender nada, porque não teve a mínima lógica,
algo aqui dentro morreu. Alguma chama se apagou. Se é que algum dia
foi chama. Eu me descaracterizei por causa dele. Admiti com ele o que
jamais teria admitido com outro homem. Relevei uma traição no
começo do nosso namoro. Achei que jamais teria capacidade disso, mas
tive. Escolhi acreditar que tinha sido um tropeço natural de um
namoro que tava apenas no começo. Escolhi ser envolvido nas mentiras
que ele me contou todo esse tempo. Escolhi ser escravizado por essa
relação enquanto ela durou. A culpa foi minha, só minha! -
desabafa Cláudio, chorando.
Guilherme e Bruno abraçam
Cláudio. Guilherme não sabe o que dizer.
-Meu amigo... pare de se
culpar desse jeito! Você não teve culpa de nada! Você não pode
concluir todas essas coisas sem pelo menos ter uma última conversa
com o Ro... digo, com o Haroldo. Acho que ele te deve explicações,
você não acha? - fala Bruno.
-Pode ser. Mas eu preciso
estar forte pra isso. E no momento eu não estou forte...
-Eu posso ficar aqui essa
noite, para lhe fazer companhia... - sugere Guilherme.
-Vai ser melhor assim. Pode
ficar... - fala Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 4: Durante o café da
manhã, Diogo percebe que Victor está cada vez melhor.
-Sabe, Victor... eu fico muito
feliz pela evolução que você anda fazendo nesse tratamento todo.
Você está tão mais calmo, tão mais sereno, tão mais maduro...
-Ah, amor... nem sempre é tão
fácil quanto parece, viu? Aqui dentro ainda ficam os medos, as
paranoias, as inseguranças. Mas tenho tomado cada vez mais
consciência de que tudo isso é responsabilidade minha. Que preciso
me conscientizar disso pra não envolver mais ninguém.
-Sabe... eu andei pensando.
Dia desses você disse que gostaria de conhecer o Cláudio, não
disse?
-Disse sim, por que?
-Acho que agora é um bom
momento. Você viu ontem na TV sobre a volta do filho do milionário,
o tal do Haroldo. Eu sabia que conhecia ele, fomos realmente colegas
no ensino médio. O Cláudio deve estar chocado por saber que Rodrigo
nunca existiu. Acho que esse é um bom momento, pra que possamos ser
solidários a ele e conversar sobre outras coisas, pra distrair...
você sabe. Vocês vão gostar de se conhecer. O que você acha dessa
ideia?
-Eu topo. E quando a gente
vai?
-Hoje mesmo se você se sentir
preparado.
-Por mim, está perfeito!
Os dois dão as mãos, com
cumplicidade. CORTA A CENA.
CENA 5: Mateus percebe que
Laura está encarando ele com desconfiança durante café da manhã.
-Iih... o que foi agora,
Laura? A gente mal acorda e você fica me olhando com essa cara de
quem tá me acusando?
-Por enquanto não tou te
acusando de nada, Mateus. Mas você pode me explicar o que foi aquela
sua saída ontem à noite? Voltou quase de madrugada!
-Engraçado, sabe. Não foi
você que disse que estamos dando um tempo? Acredito que durante esse
tempo nosso namoro está suspenso, logo, não somos namorados. Não
me peça satisfações.
-Olha aqui, seu merda. Você
mora no mesmo teto que eu! Independente de estarmos juntos ou não,
quem é a dona desse apartamento sou eu! Você me deve sim
satisfações!
-Você está ficando louca,
descontrolada...
-Lá vem esse seu papo
machista. A mulher é sempre a louca, a descontrolada. Não me
subestime, Mateus. Não é de hoje que noto suas saídas misteriosas.
Você nunca diz pra onde vai. Volta como se nada tivesse acontecido.
Tá encontrando mais alguém?
-Isso não te diz respeito,
Laura. Não estamos propriamente namorando nesse momento. Quer saber?
Vou dar uma volta. Você com esse olhar inquisidor está
insuportável.
-Isso, vai! Foge. Mas não
esquece que mentira tem perna curta...
Mateus deixa o apartamento
intempestivamente. CORTA A CENA.
CENA 6: Haroldo procura por
seu pai e encontra Ivan na edícula.
-Você não muda mesmo, hein
pai? Passa mais tempo nessa edícula do que dentro de casa...
-É o meu lugar preferido da
nossa casa, filho... sempre foi. Aqui eu sempre encontro paz,
sossego... bebo meus vinhos, meus uísques... escuto minhas canções
preferidas...
-Também gosto muito daqui.
Senti falta desse acolhimento. Mas pai... eu queria te contar uma
coisa. Uma verdade que eu preciso te dizer antes que você saiba por
outras pessoas.
-Fala, Haroldo... tá me
assustando.
-Por favor, não me julgue.
Não tive saída... você sabe que saí de casa porque fui ameaçado.
O fato é que passei esse tempo todo com uma identidade falsa.
Durante dois anos eu não fui Haroldo... eu fui Rodrigo.
-Eu já esperava por isso,
filho. Mas você pode ser processado por isso... pode até pegar
cadeia.
-Estou disposto a pagar por
isso, pai. Só quero me livrar desses fantasmas do meu passado.
-Eu te entendo. Pode deixar
que não vou contar nada pra ninguém.
-Eu agradeço, pai... mas em
algum momento, todos vão saber. Seja por mim ou não... ainda não
tenho coragem de contar pro pessoal...
-Não se pressione, filho.
Cada coisa no seu tempo... cada tempo no seu lugar.
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 7: Suzanne está na
mansão dos Bittencourt para auxiliar Marion em mais uma aula de
etiqueta a Riva. Haroldo observa Suzanne admirado com sua beleza, mas
fica de longe, junto de Ivan. Mariana, Vicente e Valquíria
acompanham mais de perto as instruções.
-Sabe Suzanne... antes de
começar as instruções, queria falar sobre algo maravilhoso que
pode estar começando a acontecer na minha vida... - fala Riva.
-Você tem certeza que quer
falar sobre isso? - pergunta Marion, preocupada.
-Claro que sim, Marion... não
tem problema falar sobre isso... Suzanne, é bem possível que eu
esteja grávida. Andei passando mal e tudo mais.
Vicente fica apreensivo e
interrompe.
-Amor, é muito cedo pra ter
certeza. Você fez o exame de farmácia hoje e deu negativo...
-Tá, Vicente. Mas exame de
farmácia não é muito eficaz... - fala Riva.
-Que notícia maravilhosa!
Imagina que alegria se estiver pintando aí mais um herdeiro? Marcelo
vai adorar ter um irmãozinho, não vai? - fala Suzanne, forçando
alegria.
-Não tem como ter certeza de
nada ainda, Suzanne. Você não devia se empolgar tanto... - alfineta
sutilmente Valquíria.
-Mas vamos manter o pensamento
positivo, né? Nunca pensei que nessa altura da vida eu posso voltar
a ser mãe. Espero muito estar grávida. Mas estou realista. Só vou
comemorar depois do médico... - finaliza Riva. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Diogo e Victor estão na casa de Cláudio, que está mais animado a
conversar com eles, Guilherme e Bruno.
-Você me parece ser gente
boa, Victor. Você devia ter nos apresentado antes, Diogo. Aliás...
agradeço a visita de vocês. Tá sendo ótimo pra esquecer essa
loucura toda dos últimos tempos... - fala Cláudio.
-Também te achei muito gente
boa. Não sei porque hesitei tanto em te conhecer. Bem que Diogo
sempre me disse que você é um cara super do bem. Dá pra perceber
isso.
-E eu fico feliz de te
visitar, Cláudio. Apesar de tudo te quero muito bem, sempre. - fala
Diogo.
-Digo o mesmo a você,
Diogo... é uma pena que vocês já tenham de ir embora.
-Ah, Cláudio... se eu atraso
um minuto pra levar o Victor na consulta, eu escuto horrores depois!
- descontrai Diogo.
Todos se despedem de Victor e
Diogo.
-Gente, adorei os dois!
Parecem tão otimistas, pra cima! - fala Bruno.
-Eu achei o Victor meio
estranho. Parece esconder alguma coisa... - fala Guilherme.
-Ai Guilherme... pra que
pensar isso do cara? Não vê que ele disse que tava em tratamento
psiquiátrico? Ele tem transtorno borderline. - fala Cláudio.
-Enfim... que seja. Vamos
trocar de assunto? Tou pensando em fazer uma lasanha de espinafre de
jantar, o que vocês acham? - propõe Bruno.
-Eu tou dentro! - fala
Cláudio.
-Eu também... - emenda
Guilherme.
Os três vão à cozinha.
CORTA A CENA.
CENA 9: Na mansão dos
Bittencourt, todos conversam sobre diversos assuntos.
-Ai Riva, achei meio
desnecessário você dizer que acha que tá grávida pra Suzanne... -
fala Marion.
-Até você agora, Marion? Não
vejo motivo pra não dizer...
-Bem, de qualquer forma já
foi. A Riva quis dizer e disse... - contemporiza Vicente.
-Eu achei a Suzanne gente boa.
E uma gata, diga-se de passagem – fala Haroldo.
-Ficou interessado nela,
filho? - provoca Ivan.
-Não é pra tanto, gente. Só
achei ela uma gata, não significa que eu queira alguma coisa... -
desconversa Haroldo.
De repente, todos ouvem alguém
colocando a chave na porta.
-Vocês ouviram isso? Tem
alguém abrindo a porta... - espanta-se Haroldo.
Todos ficam sem ação quando
Rafael e Marcelo aparecem em casa.
-Surpresa! Estamos de volta! -
fala Rafael.
Haroldo corre para abraçar o
irmão. FIM DO CAPÍTULO 42.
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