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sábado, 2 de julho de 2016

CAPÍTULO 42

CENA 1: Rafael permanece sem reação e Marcelo tenta fazer com que o namorado reaja.
-Você não vai dizer nada, amor? É o seu irmão que voltou depois de mais de dois anos desaparecido!
-Eu mal sei o que dizer, Marcelo... no final das contas aquele sonho que eu tive, aquela sensação que tive de que ele voltava... tudo isso tava certo! Minha intuição não me enganou! - alegra-se Rafael, visivelmente emocionado.
-E não é? Agora acabou esse sufoco. Acabou esse sofrimento e essa incerteza de nunca saber se ele tava vivo ou morto... - fala Marcelo.
-Mas pelo que a notícia dá conta, ele voltou ontem... - constata Rafael.
-Só não te esquece que nós ainda estamos na Austrália... - lembra Marcelo.
-E daí? A mãe e o pai tiveram tempo de sobra pra me ligar e não ligaram pra gente! Não contaram nada, não avisaram! - revolta-se Rafael.
-Sério mesmo que você vai começar com isso? Você tá julgando os dois baseado na sua própria visão. Depois não pode nem condenar o Cláudio por ter feito a mesma coisa comigo...
Rafael cai em si.
-Verdade, amor... desculpa.
-Você não me deve desculpas, Rafael. Mas você acha mesmo que a sua mãe e o seu pai lembrariam de avisar a gente? Eles também passaram dois anos sem nenhuma notícia do Haroldo. Seu pai sofreu com tudo isso e sua mãe acompanhou o sofrimento dele. Você consegue avaliar o tanto de coisas que devem estar passando na cabeça de todo mundo lá na nossa casa? Muitas perguntas ficaram sem respostas esses anos todos. Eles estão tentando entender tudo. E o esforço de manter a versão de que o Haroldo só tinha viajado pro exterior, pra mídia? Sem mencionar que eles podem ter tido o cuidado de não avisar a gente justamente por saber que a gente tá passando esse mês aqui na Austrália pra aproveitar nós dois, o nosso amor que a gente não tem liberdade de viver tão livremente lá no Brasil. Nisso você pensou?
-Você tem razão, Marcelo. Eu entendo que eles tenham tido vontade de me poupar pra evitar que a gente voltasse pro Brasil antes da hora. Só que... desculpa, amor. Você vai ficar muito bravo comigo se eu disser que quero voltar pro Brasil, já?
-De jeito nenhum, amor. Esse momento é único nas nossas vidas. Eu vou poder conhecer o seu irmão mais velho, meu primo emprestado. Nós vamos poder viajar em outras oportunidade, mas não é todo dia que seu irmão volta pra família depois de mais de dois anos sumido... - fala Marcelo.
-Eu agradeço de coração pela sua compreensão, meu amor...
-Deixe disso, Rafa. Não sou egoísta. Esse é um momento importante pra você, pra sua família... pra nossa família.
-Vamos fazendo as malas, já? Quero agilizar nossa volta pro Brasil pro quanto antes.
-Você tá querendo que a gente volte de surpresa?
-Sim. Você acha uma boa ideia?
-Eu adorei! Sempre gostei de surpresas!
Os dois começam a organizar suas malas. CORTA A CENA.

CENA 2: Mateus procura “Chefe”.
-Isso são horas de aparecer, Mateus? Eu poderia estar dormindo.
-Pra cima de mim, chefe? Você é o maior coruja que eu conheço e não são nem onze da noite!
-Imagino o motivo dessa visita.
-Ainda bem que imagina. Foi você que fez tudo aquilo com o Rodrigo?
-Haroldo, você quer dizer, não é?
-Isso. Foi você que obrigou ele a sumir por esses anos?
-Fui eu. Você sabe que não tenho motivos pra te contar mentiras. Fui eu sim. Ele já tinha se envolvido com os meus agiotas de antes. Ficou endividado. Dei a opção pra ele... ou ele morria, ou ele vinha pro nosso lado. A família dele também podia sofrer acidentes, você sabe...
-Você é cruel, chefe...
-Quem é você pra falar de crueldade? Até outro dia você queria tirar o Rafael do seu caminho e me pediu pra forjar um acidente. Você não tá com moral nenhuma pra me apontar o dedo aqui.
-Mas eu me arrependi.
-Engraçado. Arrependimento não parece apagar o passado. Se te pegarem, eu e meus homens não tem nada a ver com isso.
-Chega de desviar o assunto, chefe! Já está me dando nos nervos! Como é que você teve a capacidade de fazer isso com o Ro... digo, com o Haroldo? Ele é um bom homem. Sempre gostei dele.
-Você parece não entender que isso aqui é uma facção. Não tem que gostar de ninguém aqui. Tem que trabalhar e só.
-Que seja. Mas precisava disso? Precisava afastar o cara do convívio com a família dele? Quantos homens seus você mobilizou pra isso? Porque eu sei que ele não faz ideia de quem você seja.
-Esse tipo de informação não te interessa. O seu papel aqui é estratégico. E para cobrar dívidas dos nossos devedores. Nada além disso. Você se abusa demais às vezes.
-Deve ser porque ninguém dentro dessa porra te conhece como eu conheço, não é?
-Eu devia ter te matado, Mateus. Você é atrevido demais.
-Você nunca matou ninguém com as próprias mãos. Pensa que eu não sei disso?
-Mateus, vá embora. Se você veio aqui apenas pra me questionar sobre o Haroldo, eu já te dei a resposta: fui eu sim. Fui eu que armei tudo. Fui eu que afastei ele da família. E quer saber o motivo? Porque ele ameaçou um dos meus homens, sem saber que esse cara era meu homem. Resolvi me vingar. Mas você nem ninguém tem nada com isso. Quem dá as ordens aqui sou eu. Se eu decidir que algum de vocês deve fingir ser oriental, eu decido. E não se discutem as minhas ordens. Agora vá embora.
“Chefe” fecha a porta na cara de Mateus, que fica indignado. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Guilherme chega, a pedido de Bruno, à casa de Cláudio. Bruno abre.
-Obrigado por vir. Cláudio está arrasado com a história do Haroldo... nem saiu da cama ainda, acredita? - fala Bruno.
-Vamos lá falar com ele... - prontifica-se Guilherme.
Os dois chegam ao quarto e Cláudio está com expressão triste.
-Obrigado por vir, Guilherme. Eu sei que da última vez ficou um climão, mas tou precisando desabafar com vocês... - fala Cláudio.
-Já passei uma borracha nisso tudo. Pode desabafar com a gente... - fala Guilherme.
-Ai, gente... tá tudo rodando na minha cabeça ainda. Não sei nem o que pensar direito. Só sei que hoje não tenho a mínima condição de ir pra faculdade ou pro trabalho. Posso acabar até sendo demitido, mas está além das minhas forças... - fala Cláudio.
-Não dá pra se entregar desse jeito, meu amigo... tenta reagir. - estimula Bruno.
-Não sei, gente... essa história fica rodando na minha cabeça. Fico lembrando de todos os momentos com o Rodrigo... digo, com o Haroldo. Fica difícil imaginar que durante todo esse tempo ele fingiu ser uma pessoa que não existia. Ele se inscreveu no vestibular com essa identidade falsa! Criou uma vida dupla!
-Você não acha que está sendo injusto com ele? Não sabemos o que está por trás disso... - contemporiza Bruno.
-Me desculpe, Bruno... mas Cláudio tem razão de estar chocado. - fala Guilherme.
-Não discutam por isso, gente... por favor. Só peço que me ouçam. Haroldo é um completo desconhecido pra mim. Até outro dia eu jurava que ele se chamava Rodrigo. Mas o que mais me dói nisso, de certa forma, é a maneira como fui enganado. A maneira como os olhos dele me enganaram. Sempre vi bondade dentro daquele olhar... e agora simplesmente não sei se aquilo vinha de dentro dele ou se fazia parte do personagem que ele criou para fugir de sei lá o que... - desabafa Cláudio.
-Você acha que ele estava fugindo de algo? - espanta-se Guilherme.
-É no que eu prefiro acreditar. Custo a crer que dali partiria alguma maldade deliberada. Prefiro crer que ele não tinha outra saída. Mas seja qual for essa justificativa, ele não tinha o direito de me envolver nessa mentira. Eu amei esse homem...
-Amou? Por que? Não ama mais? - questiona Bruno.
-Acho que não, sinceramente. Desde que ele terminou comigo, de uma maneira inesperada e abrupta, que me deixou sem entender nada, porque não teve a mínima lógica, algo aqui dentro morreu. Alguma chama se apagou. Se é que algum dia foi chama. Eu me descaracterizei por causa dele. Admiti com ele o que jamais teria admitido com outro homem. Relevei uma traição no começo do nosso namoro. Achei que jamais teria capacidade disso, mas tive. Escolhi acreditar que tinha sido um tropeço natural de um namoro que tava apenas no começo. Escolhi ser envolvido nas mentiras que ele me contou todo esse tempo. Escolhi ser escravizado por essa relação enquanto ela durou. A culpa foi minha, só minha! - desabafa Cláudio, chorando.
Guilherme e Bruno abraçam Cláudio. Guilherme não sabe o que dizer.
-Meu amigo... pare de se culpar desse jeito! Você não teve culpa de nada! Você não pode concluir todas essas coisas sem pelo menos ter uma última conversa com o Ro... digo, com o Haroldo. Acho que ele te deve explicações, você não acha? - fala Bruno.
-Pode ser. Mas eu preciso estar forte pra isso. E no momento eu não estou forte...
-Eu posso ficar aqui essa noite, para lhe fazer companhia... - sugere Guilherme.
-Vai ser melhor assim. Pode ficar... - fala Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 4: Durante o café da manhã, Diogo percebe que Victor está cada vez melhor.
-Sabe, Victor... eu fico muito feliz pela evolução que você anda fazendo nesse tratamento todo. Você está tão mais calmo, tão mais sereno, tão mais maduro...
-Ah, amor... nem sempre é tão fácil quanto parece, viu? Aqui dentro ainda ficam os medos, as paranoias, as inseguranças. Mas tenho tomado cada vez mais consciência de que tudo isso é responsabilidade minha. Que preciso me conscientizar disso pra não envolver mais ninguém.
-Sabe... eu andei pensando. Dia desses você disse que gostaria de conhecer o Cláudio, não disse?
-Disse sim, por que?
-Acho que agora é um bom momento. Você viu ontem na TV sobre a volta do filho do milionário, o tal do Haroldo. Eu sabia que conhecia ele, fomos realmente colegas no ensino médio. O Cláudio deve estar chocado por saber que Rodrigo nunca existiu. Acho que esse é um bom momento, pra que possamos ser solidários a ele e conversar sobre outras coisas, pra distrair... você sabe. Vocês vão gostar de se conhecer. O que você acha dessa ideia?
-Eu topo. E quando a gente vai?
-Hoje mesmo se você se sentir preparado.
-Por mim, está perfeito!
Os dois dão as mãos, com cumplicidade. CORTA A CENA.

CENA 5: Mateus percebe que Laura está encarando ele com desconfiança durante café da manhã.
-Iih... o que foi agora, Laura? A gente mal acorda e você fica me olhando com essa cara de quem tá me acusando?
-Por enquanto não tou te acusando de nada, Mateus. Mas você pode me explicar o que foi aquela sua saída ontem à noite? Voltou quase de madrugada!
-Engraçado, sabe. Não foi você que disse que estamos dando um tempo? Acredito que durante esse tempo nosso namoro está suspenso, logo, não somos namorados. Não me peça satisfações.
-Olha aqui, seu merda. Você mora no mesmo teto que eu! Independente de estarmos juntos ou não, quem é a dona desse apartamento sou eu! Você me deve sim satisfações!
-Você está ficando louca, descontrolada...
-Lá vem esse seu papo machista. A mulher é sempre a louca, a descontrolada. Não me subestime, Mateus. Não é de hoje que noto suas saídas misteriosas. Você nunca diz pra onde vai. Volta como se nada tivesse acontecido. Tá encontrando mais alguém?
-Isso não te diz respeito, Laura. Não estamos propriamente namorando nesse momento. Quer saber? Vou dar uma volta. Você com esse olhar inquisidor está insuportável.
-Isso, vai! Foge. Mas não esquece que mentira tem perna curta...
Mateus deixa o apartamento intempestivamente. CORTA A CENA.

CENA 6: Haroldo procura por seu pai e encontra Ivan na edícula.
-Você não muda mesmo, hein pai? Passa mais tempo nessa edícula do que dentro de casa...
-É o meu lugar preferido da nossa casa, filho... sempre foi. Aqui eu sempre encontro paz, sossego... bebo meus vinhos, meus uísques... escuto minhas canções preferidas...
-Também gosto muito daqui. Senti falta desse acolhimento. Mas pai... eu queria te contar uma coisa. Uma verdade que eu preciso te dizer antes que você saiba por outras pessoas.
-Fala, Haroldo... tá me assustando.
-Por favor, não me julgue. Não tive saída... você sabe que saí de casa porque fui ameaçado. O fato é que passei esse tempo todo com uma identidade falsa. Durante dois anos eu não fui Haroldo... eu fui Rodrigo.
-Eu já esperava por isso, filho. Mas você pode ser processado por isso... pode até pegar cadeia.
-Estou disposto a pagar por isso, pai. Só quero me livrar desses fantasmas do meu passado.
-Eu te entendo. Pode deixar que não vou contar nada pra ninguém.
-Eu agradeço, pai... mas em algum momento, todos vão saber. Seja por mim ou não... ainda não tenho coragem de contar pro pessoal...
-Não se pressione, filho. Cada coisa no seu tempo... cada tempo no seu lugar.
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 7: Suzanne está na mansão dos Bittencourt para auxiliar Marion em mais uma aula de etiqueta a Riva. Haroldo observa Suzanne admirado com sua beleza, mas fica de longe, junto de Ivan. Mariana, Vicente e Valquíria acompanham mais de perto as instruções.
-Sabe Suzanne... antes de começar as instruções, queria falar sobre algo maravilhoso que pode estar começando a acontecer na minha vida... - fala Riva.
-Você tem certeza que quer falar sobre isso? - pergunta Marion, preocupada.
-Claro que sim, Marion... não tem problema falar sobre isso... Suzanne, é bem possível que eu esteja grávida. Andei passando mal e tudo mais.
Vicente fica apreensivo e interrompe.
-Amor, é muito cedo pra ter certeza. Você fez o exame de farmácia hoje e deu negativo...
-Tá, Vicente. Mas exame de farmácia não é muito eficaz... - fala Riva.
-Que notícia maravilhosa! Imagina que alegria se estiver pintando aí mais um herdeiro? Marcelo vai adorar ter um irmãozinho, não vai? - fala Suzanne, forçando alegria.
-Não tem como ter certeza de nada ainda, Suzanne. Você não devia se empolgar tanto... - alfineta sutilmente Valquíria.
-Mas vamos manter o pensamento positivo, né? Nunca pensei que nessa altura da vida eu posso voltar a ser mãe. Espero muito estar grávida. Mas estou realista. Só vou comemorar depois do médico... - finaliza Riva. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, Diogo e Victor estão na casa de Cláudio, que está mais animado a conversar com eles, Guilherme e Bruno.
-Você me parece ser gente boa, Victor. Você devia ter nos apresentado antes, Diogo. Aliás... agradeço a visita de vocês. Tá sendo ótimo pra esquecer essa loucura toda dos últimos tempos... - fala Cláudio.
-Também te achei muito gente boa. Não sei porque hesitei tanto em te conhecer. Bem que Diogo sempre me disse que você é um cara super do bem. Dá pra perceber isso.
-E eu fico feliz de te visitar, Cláudio. Apesar de tudo te quero muito bem, sempre. - fala Diogo.
-Digo o mesmo a você, Diogo... é uma pena que vocês já tenham de ir embora.
-Ah, Cláudio... se eu atraso um minuto pra levar o Victor na consulta, eu escuto horrores depois! - descontrai Diogo.
Todos se despedem de Victor e Diogo.
-Gente, adorei os dois! Parecem tão otimistas, pra cima! - fala Bruno.
-Eu achei o Victor meio estranho. Parece esconder alguma coisa... - fala Guilherme.
-Ai Guilherme... pra que pensar isso do cara? Não vê que ele disse que tava em tratamento psiquiátrico? Ele tem transtorno borderline. - fala Cláudio.
-Enfim... que seja. Vamos trocar de assunto? Tou pensando em fazer uma lasanha de espinafre de jantar, o que vocês acham? - propõe Bruno.
-Eu tou dentro! - fala Cláudio.
-Eu também... - emenda Guilherme.
Os três vão à cozinha. CORTA A CENA.

CENA 9: Na mansão dos Bittencourt, todos conversam sobre diversos assuntos.
-Ai Riva, achei meio desnecessário você dizer que acha que tá grávida pra Suzanne... - fala Marion.
-Até você agora, Marion? Não vejo motivo pra não dizer...
-Bem, de qualquer forma já foi. A Riva quis dizer e disse... - contemporiza Vicente.
-Eu achei a Suzanne gente boa. E uma gata, diga-se de passagem – fala Haroldo.
-Ficou interessado nela, filho? - provoca Ivan.
-Não é pra tanto, gente. Só achei ela uma gata, não significa que eu queira alguma coisa... - desconversa Haroldo.
De repente, todos ouvem alguém colocando a chave na porta.
-Vocês ouviram isso? Tem alguém abrindo a porta... - espanta-se Haroldo.
Todos ficam sem ação quando Rafael e Marcelo aparecem em casa.
-Surpresa! Estamos de volta! - fala Rafael.
Haroldo corre para abraçar o irmão. FIM DO CAPÍTULO 42.

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