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quarta-feira, 27 de julho de 2016

CAPÍTULO 63

CENA 1: Suzanne mente para Márcio.
-Você e eu sabemos que o nosso filho morreu, Márcio.
Márcio se impacienta e segura Suzanne pelo rosto.
-Como é que você tem capacidade de mentir pra mim olhando no olho? Você acha que eu me esqueci do que você fez? Eu sei que nosso filho não morreu! Você deixou eu escolher um nome pra ele! Ele ia se chamar Leonardo... mas quando ele nasceu, você desapareceu com ele. Não me deixou ficar com nosso filho. Entregou ele pro orfanato.
-Mas depois eu soube que ele morreu, Márcio. Não estou mentindo pra você.
-Eu não acredito em uma palavra que você diz. Quando que você soube que ele morreu? Depois que você entregou nosso filho pro orfanato nós não nos separamos mais. Você me envolveu nas suas tramoias, nos seus golpes. Me fez ser presos pelos crimes que você arquitetou... você e eu sabemos que nosso filho não está morto.
-Tudo bem, Márcio... eu digo a verdade: ele não morreu. Mas minha mãe não pode saber disso. Ela anda intrometida demais... se souber que o filho que eu tive está vivo ela vai acabar indo atrás das informações e cedo ou tarde vai acabar chegando até ele.
-Você sabe onde está o nosso filho, não sabe?
-Não sei, Márcio. Você acha que se eu soubesse eu já não teria dado um jeito de você pelo menos se aproximar dele?
-De você eu espero qualquer coisa, Suzanne. Você me obrigou a abandonar a Riva grávida. Eu gostava da Riva, sabia?
-Gostava, mas nunca amou essa mulherzinha como me amou a vida inteira. Ou tou falando alguma mentira, por acaso?
-Me pergunto se eu devia ter insistido nesse amor que sinto por você.
-Você não faz nada obrigado, Márcio. Entrou nas coisas que entrou porque quis. Eu não tenho culpa se você deixou furo no meio do caminho.
-Não desconverse, Suzanne... você ainda não me respondeu o que perguntei.
-Teria respondido se pelo menos você tivesse feito a pergunta. Eu ainda não aprendi a ler pensamentos.
-Corte suas ironias, garota. Onde está nosso filho?
-Eu não sei, Márcio. Já te disse que não sei. Não sei nem se tá vivo ou morto.
-Eu não acredito em você.
-Então por que perguntou, animal? Se já veio fazendo pré julgamento e disposto a não acreditar nas coisas que eu digo... melhor seria nem ter perguntado, eu hein...
-Eu te conheço, Suzanne. Sei do que você é capaz. Você pode enganar a Riva, a Marion, o Haroldo, pode enganar qualquer pato que você quiser... mas não a mim. Você foi a melhor e a pior coisa que aconteceu na minha vida. Fui do céu ao inferno por causa de você, sabia disso?
-E eu estou morrendo de dó, Márcio. Ora bolas... tenha paciência! Você fala como se fosse um cara ingênuo, a vítima dessa história. Sabemos que não é nem nunca foi assim. Você é como eu, somos feitos da mesma matéria... nós não prestamos e sabemos disso.
-Pelo menos você tem autocrítica. Mas se engana se pensa que eu sou igual a você. A verdade é que durante mais de vinte anos eu me deixei levar por tudo o que você me obrigou a fazer.
-Ah, claro... e você é um pobre coitado, não é? Não tem opinião própria, valores próprios... não faz nada por conta própria, só faz se alguém manda. Pra cima de mim, Márcio? Você não é nem nunca foi um santo. Tá querendo ser bonzinho porque tá sentindo a idade chegar? Me poupe...
-Eu estou cansado. Cansado dos seus jogos. Farto de só conseguir algum dinheiro graças aos seus golpes. Eu devia ter seguido com minha vida depois que você abandonou nosso filho, mas segui com você. Cego de amor... emburreci.
-Ah, dá um tempo, Márcio! Pare de me tratar como se eu fosse a culpada de tudo.
-Eu sei que a culpa foi mais minha que sua. Mas quero acabar com isso.
-Você tá terminando comigo, Márcio?
-Ainda não. Mas não quero mais entrar nas suas tramoias. Pelo menos nisso, você vai ter de se virar sozinha. Ou procurar alguém pra arquitetar golpes com você. Nesse barco eu não entro mais. E se você acha que não vou descobrir onde nosso filho foi parar... me aguarde. Um dia eu vou saber onde ele está e quem ele é.
Márcio deixa o quarto. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, já na companhia de teatro, Laura está ensaiando marcações de palco com Cláudio e fica observando ele. Cláudio estranha o olhar da amiga.
-Tou com alguma coisa na cara, Laura? Você não para de me encarar...
-Nada não, Cláudio... na realidade eu tava reparando numa coisa... que sinceramente não sei como não reparei desde a época do colégio.
-Sei... e posso saber qual foi a grande epifania da artista? - brinca Cláudio.
-Deixa de graça, Claudinho... é sério. Você e o Marcelo se parecem... quer dizer, Marcelo se parece com você, porque ele é mais novo.
-Ai viada, “seje menas”, viu? Só porque nós somos ruivos? Daqui a pouco você vai estar achando que parecemos com a Marina Ruy Barbosa, vai vendo...
-Ai, Cláudio, na boa... você fica insuportável quando começa com essas suas ironias e sarcasmos.
-Mas é desse jeitinho que você me conheceu e se tornou minha amiga. Mas falando sério... de onde que você acha que Marcelo se parece comigo, sua loka?
-São pequenas coisas, sabe? Os traços, por exemplo... por mais que sejam ruivos, o olhar tem uma coisa meio indígena... já reparou como vocês tem essa parte dos olhos parecidíssimas? Além do nariz bem afilado, os lábios grossos...
-Laura... tem um monte de gente nesse mundo com essas características fenotípicas. Se for pra levar pra esse lado, eu e o Marcelo nos parecemos com uma cambada de brasileiros, não? Sejam eles loiros, morenos ou mesmo ruivos...
-É... por esse lado você tem razão. Mas que é no mínimo curioso que vocês se pareçam tanto, é... ainda mais por serem melhores amigos...
Procópio interrompe a conversa dos dois.
-Cês querem fazer o favor de deixar essa conversa animada pra depois? A hora do descanso ainda não chegou, então se concentrem nas marcações, fazendo favor...
Cláudio e Laura voltam a se concentrar. CORTA A CENA.

CENA 3: Em Angra dos Reis, Rafael e Marcelo mergulham e admiram as profundezar do mar. Depois de alguns instantes, os dois retornam à superfície.
-Que dia lindo, amor!
-Não é, Marcelo! Aqui parece que até o céu fica mais azul...
-Demos sorte de pegar tempo bom logo de largada. Imagina que uó seria se pegássemos tempo ruim justo na lua-de-mel?
-Verdade. Mas São Pedro tem sido generoso com a gente... viu como mergulhar não é esse mistério todo?
-Tava me cagando de medo no começo. Mas você foi me tranquilizando, segurando minha mão...
-E em menos de cinco minutos você tava ali, todo feliz admirando o mar...
Marcelo começa a se coçar.
-É, mas essa roupa de mergulho, vou te contar um negócio... tá me pinicando horrores!
Rafael observa irritações na pele de Marcelo.
-Engraçado, amor... essa roupa é supertranquila, mas sua pele tá bem irritada.
-Ah vá, é mesmo? Se você não me contasse eu nem ia reparar... tou me coçando como se tivesse sido atacado por um monte de pulga...
-Será que foi alguma coisa que a gente comeu ontem? Porque é muito improvável, quase impossível que essa irritação seja culpa da roupa de mergulho...
-Não lembro de ter alergia a quase comida nenhuma. Nem camarão me dá problema...
Rafael se preocupa com Marcelo.
-Mas essa irritação não é normal.
-Deixa disso, Rafa... daqui a pouco isso daqui passa. Sabe no que eu tava pensando agora? Naquele suflê maravilhoso que tem na pousada. Esse mergulho me deu uma fome desgraçada!
-Pois é... também tou varado de fome...
Os dois deixam a beira da praia e seguem para a pousada. CORTA A CENA.

CENA 4: Guilherme surge de surpresa no intervalo dos ensaios de Cláudio na companhia de teatro e vai lanchar com ele.
-Você não disse que vinha, amor...
-Decidi de última hora. Na verdade senti uma preguiça imensa de pensar no que fazer pro almoço, então aproveitei que o seu intervalo é logo depois da hora do almoço e já vim fazer o lanche contigo.
-Eu que sou o taurino aqui e você que é o preguiçoso! Mas você fez bem de vir aqui... a comida que servem aqui é uma delícia.
-Verdade. Senti falta disso, também. Mas sabe no que eu andei pensando, amor?
-Fala, Guilherme...
-Sobre nós dois... sobre a certeza que eu tenho de que é você quem eu vou amar pro resto da minha vida.
-Eita! Acordou inspirado hoje?
-Você me inspira todos os dias, Cláudio... a ser uma pessoa melhor... por você.
-Eu fico emocionado de verdade de te ouvir dizer essas coisas, mas você também precisa fazer as coisas por você mesmo, a ser uma pessoa melhor para você...
-Sem você, nada me interessa. Nem a vida, nem nada. Sem você eu morro.
-Ai, credo, Guilherme! Falando desse jeito chega a me assustar!
-Desculpa, amor... só tava sendo sincero.
-É, mas de qualquer forma, Guilherme... as coisas na vida não podem ser assim, tão à ponta de faca...
Os pedidos dos dois chegam. CORTA A CENA.

CENA 5: Mara está no camarim com Procópio e Valentim.
-Andei pensando numas coisas aqui... na realidade observando... - fala Mara.
-Tem alguma relação com as investigações? - pergunta Valentim.
-Por enquanto não, mas pode vir a ter futuramente...
-Acho que nunca vou me acostumar com essas charadinhas que vocês ficam soltando, papinho de investigador... - fala Procópio.
-Gente... foco. Será que eu sou a única aqui que acha o comportamento do namorado do Cláudio estranho pra caramba?
-Mara, acho que você esquece que o rapaz é esquizofrênico. Se trata com um conhecido meu, inclusive.
-Muito me surpreende você me dizer isso nesses termos, Valentim... não foi você mesmo que me disse ainda outro dia que caráter é algo que independe da pessoa ser ou não ser neuro atípica? Não estou compreendendo essa sua contradição... e não se esqueça que o Guilherme é filho do cara que iniciou essa facção toda por trás da empresa fantasma...
-Me surpreende você fazer essa associação primária depois de tantos anos, Mara. Agora porque havia um criminoso na família do cara, ele passa automaticamente a também ser? Quando o pai dele morreu ele era apenas um adolescente, incapaz de assumir os “negócios” deixados pelo pai. Procópio, o que você acha disso?
-Sinceramente? Prefiro fazer a Glória: não sou capaz de opinar...
-Você não tá dando o mínimo de crédito pra mim, Valentim... esperava mais de você...
-Mara... você precisa entender que enquanto não houver motivos concretos para suspeitar de Guilherme, é imprudente incluir ele na lista de suspeitos. Só serviria para desviar nosso foco que já anda pra lá de disperso há meses...
Os três seguem a conversa. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, Valentim está de volta a seu consultório e recebe Raquel em hora vaga.
-Então é isso, Valentim... ela veio com essa conversa toda. Disse que meu neto morreu.
-E você acreditou?
-Na hora eu acreditei, não vou mentir. Mas sabendo o tanto que a Suzanne mente... passei a questionar se realmente tive um neto ou se ainda tenho.
-Eu acho que você ainda tem.
-Sim, mas não sabemos nada sobre ele, talvez nem a própria Suzanne saiba. Deve ter abandonado ele e nunca mais quis saber de nada sobre o próprio filho...
-É uma possibilidade. Mas talvez ela tenha se informado sobre a criança, justamente para se certificar de que ficariam longe de encontrá-la. Talvez tenha sido levado para fora do país e nem saiba ser brasileiro.
-Concordo, Valentim. Só que até esse momento, tudo o que temos são apenas suposições e as poucas informações que a Suzanne me deu podem não corresponder à verdade dos fatos. Sendo assim, isso vai complicar pra caramba os rumos das nossas investigações sobre o que afinal de contas aconteceu com essa criança. Hoje já seria um homem adulto, prestes a compltar vinte e dois anos. Mas sequer sabemos se está vivo ou morto... isso não vai ser fácil de se descobrir.
-Verdade, Raquel... mas se fosse fácil, nós não seríamos investigadores, certo? Falta saber como que nós podemos chegar nessas informações.
-Vai ser difícil, Valentim. Se pegássemos todos os registros de nascimento no dia 4 de maio de 1995 de bebês do sexo masculino naquele hospital, ainda assim teríamos sérias dificuldades de localizar qualquer informação precisa. Mesmo porque, caso tenha sido realmente um caso de abandono, isso não estaria necessariamente documentado nos registros do hospital, mas no máximo em alguma delegacia de polícia de Niterói. Isso se alguém tiver registrado ocorrência, o que talvez nem tenha acontecido, afinal de contas muitas coisas passam despercebidas, principalmente quando se trata de abandono de recém-nascido. Só de imaginar as possibilidades desse caso o meu estômago embrulha... meu neto pode ter sido jogado numa caçamba de lixo ou mesmo coisa pior! Mas prefiro crer que Suzanne não tenha chegado a esse ponto. Ela pode ser psicopata, mas nunca chegaria ao ponto de matar ninguém...
-Que nós saibamos, Raquel... que nós saibamos. Psicopatas são qualquer coisa, menos previsíveis. Como são dissimulados, podem esconder na expressão “angelical” atitudes hediondas sem despertar qualquer suspeita nos olhares mais desatentos...
-Eu sei disso. Mas imaginar que minha filha seria capaz de matar o próprio filho... é assustador.
-Mas precisamos trabalhar com essa possibilidade, Raquel, porque é uma possibilidade concreta.
-Adoraria que você estivesse errado, mas sei que isso é uma possibilidade a ser encarada.
-Não se preocupe, Raquel. Ainda hoje eu encontro uma solução para tentarmos descobrir mais sobre toda essa história mal contada...
-Conto com você, como investigador e como amigo.
-Pois conte sempre. Nós vamos descobrir uma maneira...
CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus está preparando o jantar e Laura elogia o cheiro da comida.
-Nossa, esse cheiro tá maravilhoso...
-Só não é melhor que o seu cheiro, Laura...
Os dois se agarram e se beijam e logo depois se afastam um do outro, constatando algo.
-Sabe, Laura... eu sei que a gente acabou de iniciar esse relacionamento aberto, mas...
-Mas eu não sei você... só que eu não estou certa que vá funcionar. Não senti mais o tesão que esperava sentir. Acho que alguma coisa esfriou entre a gente.
-Eu tava indo dizer quase a mesma coisa. Eu realmente amo você, Laura... mas é um amor amigo. Acho que se transformou dentro de mim.
-Se transformou dentro de nós, Mateus... talvez nós sejamos melhores como amigos. Talvez com benefícios de vez em quando ainda... mas não vejo sentido em nos obrigarmos a sentir tesão um no outro quando não estamos nessa sintonia.
-Obrigado por entender, Laura...
-Estamos na mesma sintonia, querido. Não precisa me agradecer...
-Prefiro essa liberdade, sabe? De a gente só ficar se pintar alguma vontade... sem nada oficial, sem obrigações, sem neuras, sem encucação...
-É mais justo comigo e com você, principalmente, Mateus... eu sei que ainda preciso vencer meu ciúme. Ele ainda existe aqui dentro... e não quero te privar de desejar homens e mulheres. Você merece se libertar... pelo menos para si mesmo, já que a mídia te exige o contrário.
-Quem diria que depois da gente brigar tanto por minha culpa, você me entenderia dessa forma, Laura... você é a melhor pessoa que conheço nessa vida.
-Não sei se sou tão boa assim, mas por amor a gente precisa deixar de ser egoísta... e nós nos amamos, como amigos.
Os dois se abraçam, selando a amizade. CORTA A CENA.

CENA 8: Raquel e Valentim estão ainda no consultório de Valentim, com a hora avançada. Raquel acaba pegando no sono sobre os papeis. Valentim a desperta.
-Raquel... tá chegando a hora da gente ir embora, a hora extra que paguei está terminando.
-Desculpe, acabei cochilando. E então: alguma novidade?
-Quase nada por enquanto, Raquel, infelizmente...
-Pena. Não gosto dessa sensação de dia de trabalho desperdiçado.
-Nunca vai ser desperdiçado, Raquel... sempre haverão dias de dificuldade, nem por isso devemos desistir.
-Mas é frustrante, Valentim...
-Faz parte do processo. Mas se isso te consola, eu tenho meios de descobrir o paradeiro do seu neto.
Raquel se anima. FIM DO CAPÍTULO 63.

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