CENA 1: Mateus duvida do pedido
de Rafael.
-Já sei... você tá falando
isso pra acabar com essa briga, só pode.
-Também é pra isso, Marcelo.
Mas nunca falei tão sério na minha vida. Eu quero casar com você.
Mas não é só isso: eu prometo que te assumo publicamente, pra
imprensa, pro mundo, pra vida. Eu grito num megafone do alto do
Cristo Redentor se você quiser, só pra deixar claro pra todo mundo
que quem eu amo é você. Casa comigo, Marcelo!
Rafael se ajoelha. Marcelo se
emociona.
-Então você realmente tá
falando sério... eu vejo essa chama no seu olhar! Eu nem sei o que
dizer...
-Diz que aceita se casar
comigo...
-Eu aceito. Mas com uma
condição.
-Eu aceito qualquer condição,
amor... até hoje você aceitou todas as minhas condições, você
tem direito de pedir o que quiser.
-Eu preciso de uma prova de
que o seu amor por mim é maior do que o seu medo de perder o
prestígio como ator.
-Sim... disso eu sei. O que
você quer que eu faça?
-Que me assuma publicamente,
mas não é de um jeitinho simples, tipo deixar que fotografem a
gente e vazem a informação. Eu quero que você dê um jeito de
convocar uma coletiva de imprensa. Que assuma diante dessa coletiva
que é gay... e que vai casar comigo... você topa casar comigo
ainda?
-Claro que sim, Marcelo. Isso
é o mínimo que posso fazer por você, por nós, pelo nosso amor...
mas eu vou precisar de um tempo pra tomar coragem, pra poder fazer
isso.
-Quanto tempo, Rafael? Não
tente me enrolar... você sabe que não sou de cair em enrolações...
-Vou precisar de algumas
semanas. É só o que te peço... algumas semanas.
-Negativo. Algumas semanas é
algo muito vago... você pode aumentar o prazo e continuar me
enrolando. Entenda, Rafa... não é que eu não confie em você. Mas
casamento é contrato... e contrato tem seus termos, dos dois lados.
Você tem de aceitar meus termos, assim como eu tenho de aceitar os
seus.
-E quanto tempo você sugere?
-Sugiro não... exijo: uma
semana, no máximo. Sete dias... pode ser menos, mas não pode ser
mais. Nem um dia a mais. Se chegar o oitavo dia e você não tiver
feito nada, por mais que me doa no fundo do coração, porque moramos
na mesma casa, eu vou me obrigar a terminar tudo com você, de uma
vez por todas.
-Eu aceito. Uma semana vai ser
tempo suficiente pra tomar fôlego, coragem e impulso pra fazer o que
tem de ser feito.
-Eu te amo, seu bobão... se
te dei esse sacode, foi justamente pra salvar o nosso amor... nunca
duvide disso, Rafael.
-Eu sei disso... a gente pode
ter a mesma exata idade, mas às vezes você tem uma maturidade que
eu ainda não tenho.
-Não se subestime, meu
amor... nós só vivemos realidades diferentes durante dezenove anos.
Você sempre teve tudo na mão, nasceu em berço de ouro. Não tem
culpa disso. Assim como eu aprendi desde cedo, com minha mãe, a
lutar pela dignidade, pela sobrevivência, pra poder me fazer visto
com o respeito que sempre busco merecer.
-É louco pensar como os
nossos caminhos se cruzaram.
-Mas foi assim que tinha de
ser. E eu espero que nós jamais nos separemos...
Os dois se beijam,
emocionados. CORTA A CENA.
CENA 2: Fazendo compras no
supermercado, Bruno se esbarra com Mateus.
-O que você veio fazer em
Santa Tereza, Mateus? Você mora na Barra!
-Volto aqui sempre que posso.
Lá na Barra tudo é mais caro, prefiro ir mais longe e gastar menos
aqui.
-Por algum motivo eu não
consigo acreditar em uma palavra do que você diz...
-Você não precisa acreditar.
Mas quer saber? Eu esperava te ver aqui, mesmo. Fico feliz que tenha
conseguido.
-Não entendo o motivo dessa
empolgação. Te ver aqui hoje não me causa nenhuma reação.
-Sabe, Bruno... às vezes fico
pensando onde foi que a gente se perdeu. Nós tivemos uma história
juntos...
-Você só pode estar
brincando, sinceramente... não se perdem aqueles que nunca se
encontraram juntos. Você fala em história, mas que história foi
essa? Uma vida clandestina? Escondida? Sob o domínio daquele cara
que tem a gente nas mãos dele? Você realmente considera isso uma
história?
-Eu não sei o que te dizer
diante disso...
-Entendo que não saiba. Você
nunca parou pra pensar de verdade sobre tudo. Nunca olhou pra outro
lugar senão pra si mesmo.
-Não é bem assim, Bruno. Eu
sinto falta de nós dois. Eu queria tentar de novo.
-Ah, não brinca? E o que
mudou efetivamente nisso, posso saber? Você terminou com a Laura,
por exemplo?
-Não ainda...
-Eu imaginei. Nem deve estar
nos seus planos terminar com ela. Você ama ela.
-Mas eu também te amo.
-Um pouco tarde pra reconhecer
isso, não? Saiba você, Mateus, pela minha própria boca, que eu
nunca te amei. Pensei que te amava, mas tudo o que a gente viveu foi
uma ilusão, um delírio. Aprendi coisas boas com você, mas esse
aprendizado se encerrou. Vá viver sua vida como puder... nós
podemos ser amigos... mas não vai passar disso, entenda.
-Já vi que não tem jeito,
mesmo... até outra hora, paulistinha...
Mateus parte triste. CORTA A
CENA.
CENA 3: Horas depois, Raquel
está em frente a um shopping quando liga para Valentim.
-Alô, Valentim... o suspeito
acabou de entrar no shopping.
-Que roupas ele está usando?
-Um boné vermelho, uma
camiseta azul sem estampa e uma calça preta, larga. Precisa de mais
detalhes?
-Sim, por favor.
-Mede cerca de um metro e
noventa, é branco, estilo europeu e caminha de maneira esquisita,
com os pés levemente voltados para dentro.
-Estou indo eu, Mara e a
Polícia Federal imediatamente para o shopping. Você identificou a
presença de comparsas possíveis?
-Sim. Um suspeito de ser o
comparsa está conversando com o segurança, forçando simpatia. O
segurança está desconfiado da postura dele. Outros dois que parecem
ser comparsas entraram logo depois dele.
-Por favor, siga eles sem se
fazer notada e me diga para onde eles vão.
-Eles estão indo para uma
joalheria.
Instantes depois, Valentim,
Mara e a polícia chegam em frente ao shopping.
-Bloqueiem as saídas, cerquem
o shopping. - ordena Valentim aos policiais, que se dispersam.
Raquel vê Valentim e Mara se
aproximando e faz sinal de que vai entrar na joalheria. Mara e
Valentim ficam na retaguarda. Raquel dá voz de prisão ao chefe da
quadrilha.
-O senhor está preso. Coloque
as mãos pro alto e não resista.
Os comparsas tentam fugir e
são impedidos por Mara e Valentim. O chefe da quadrilha é algemado
por Raquel.
-Você foi muito melhor do que
imaginei. Você realmente nasceu pra isso, Raquel. Agiu com sangue
frio, firmeza e confiança o tempo inteiro... - fala Valentim,
admirado.
-Repara nesse daí não,
Raquel. Não é de hoje que ele tem mania de subestimar nós mulheres
na polícia... - brinca Mara.
-O importante é que
conseguimos resolver a tempo esse caso. A loja não foi assaltada e
ninguém correu risco. - fala Raquel.
-Você tá de parabéns,
Raquel. Sou obrigada a concordar com o Valentim: você nasceu pra
isso. Depois que você fizer o concurso e passar, ninguém te segura,
minha nega! - fala Mara.
-Que tal uma happy hour? Acho
que a gente tá merecendo! - sugere Valentim.
Os três partem do shopping.
CORTA A CENA.
CENA 4: Laura chama Mateus
para conversar.
-Precisando conversar, Lau?
-Sim, Mateus... eu preciso te
comunicar sobre uma decisão minha, uma decisão que afeta a nós
dois.
-Oxe... tá me assustando.
Fala!
-Eu quero que você entenda
que eu não estou brava com você, não que tenham me faltado motivos
pra isso, mas enfim... não estou brigando com você, não estou
acabando com nossa amizade e nem te colocando pra fora dessa casa
porque eu sei que você não tem pra onde ir, mas... andei pensando
em tudo e no rumo que o nosso namoro tomou nesses últimos meses. É
inevitável que a gente termine, Mateus... não tem outra saída. A
gente vai ser mais feliz sendo livre.
-Mas Laura... eu te amo! Isso
nunca foi mentira.
-Sei que nunca foi. Também te
amo. Mas esse amor funciona melhor como amizade.
-E por que você só tomou
essa decisão agora?
-Porque eu não acho justo
comigo nem com você, sustentar um namoro em bases que nem existem
mais. Nós perdemos a confiança um no outro. Você errou, eu
errei... ninguém aqui é santo. Espero que você entenda que fora o
nosso namoro acabado, tudo continua igual entre nós.
-É, menos o sexo... olha,
Laura... não vai ser fácil pra aceitar. Mas seria egoísta eu te
prender... ainda mais depois de ter te traído e você ter descoberto
isso. Vai doer, já tá doendo, mas você tomou a melhor decisão.
-Eu sei, Mateus... estamos nos
libertando. Talvez assim a gente consiga conservar o que ainda há de
bom entre nós...
Os dois se abraçam, selando a
amizade. CORTA A CENA.
CENA 5: O fim de semana passa
e Rafael resolve correr na orla de Copacabana pela manhã. Ao parar
para descansar, acaba vendo Mateus se exercitando também.
-Você aqui uma hora dessas,
Mateus? Não tinha que estar nos estúdios?
-Hoje as gravações só
começam depois das dez pra mim. Vim aproveitar pra colocar a
malhação em dia.
-Engraçado... cê tá com uma
cara desanimada. Não parece estar gostando desse dia lindo...
-Sabe o que é, Rafa? A Laura
terminou comigo no sábado. Eu meio que já sabia que isso ia acabar
acontecendo, a gente tava desgastado pra caramba... mas o fim
oficializado dói mesmo assim.
-Que pena... isso acontece,
infelizmente. Quem sabe vocês se acertam ainda?
-Duvido muito, Rafa...
-Também quase terminei com o
Marcelo... quer dizer... ele quase terminou comigo.
-Oxe... por que?
-Porque ele cansou de eu
esconder ele da imprensa. Pensei muito em tudo... e pedi ele em
casamento. No máximo até o fim da semana eu falo pra toda imprensa
e acabo com essa mentira de posar de hetero...
-Ah, não diga... que ótimo
isso, pra vocês! Desejo felicidades!
-Bem... preciso voltar a
correr... a gente se vê qualquer hora dessas, colega!
Rafael volta a correr e Mateus
sorri maliciosamente. CORTA A CENA.
CENA 6: Horas depois, Rafael
chega exausto da corrida e vai direto ao quarto, onde Marcelo está
vendo um filme.
-Tava boa a corrida hoje,
amor?
-Ótima. O friozinho que tá
fazendo hoje só ajudou a me dar pique.
-Engraçado... tou te notando
com uma cara de quem fez travessura...
-Travessura eu não sei, mas
que certamente dei um tapa de luva no Mateus, isso eu sei que dei.
-Não entendi.
-O bonito tava lá se
exercitando quando eu tava no meu descanso. Fui lá e fiz questão de
deixar claro pra ele que vou assumir publicamente essa semana que sou
gay e vou me casar com você. Só quero ver como que esse recalcado
vai ter como fazer alguma coisa pra me derrubar depois dessa. Afinal
de contas, tou assumindo o risco de que a minha carreira seja
boicotada pela mídia tradicional, mas tou pouco me fodendo pra isso!
-Bicha, a senhora é
destruidora mesmo, viu viado! Adorei! E confesso que não esperava
que você tivesse essa coragem assim, tão cedo... só que eu achei
essa sua atitude meio temerária.
-Por que, amor? Eu quero é
deixar claro quem eu sou e que amo você...
-Acontece que eu não confio
no Mateus...
-E o que ele pode fazer? Já
tou fora da novela e nem queria estar lá, mesmo...
-Não sei... não tou com um
bom pressentimento.
-Para com isso, bobo... não
temos nada a perder... só a ganhar. Agora, você faça o favor de
pausar esse filme e vir pro banho comigo, seu paranoico!
CORTA A CENA.
CENA 7: Haroldo ouve a
campainha tocar e abre a porta.
-Olá, Suzanne... olha, se
você tá procurando a Riva ou o Vicente, eles foram passear no
Jardim Botânico...
-Ah, que pena... mas posso
esperar aqui, não posso? Você é uma companhia tão agradável...
além de bonito, claro.
Haroldo se surpreende pela
atitude de Suzanne.
-Entre... na verdade, você me
deixou meio sem graça. Você também é muito bonita.
-Deixe de ser modesto e
tímido. Você sabe que é atraente... não tirei os olhos de você
desde a primeira vez que te vi nessa casa... - fala Suzanne
aproximando seu corpo do corpo de Haroldo, que se sente atraído, mas
ao mesmo tempo se assusta e acaba se esquivando.
-Você não pode estar falando
sério. Até outro dia eu não reparava que você olha pra mim... na
verdade era eu a olhar pra você.
-Vocês homens são mesmo
todos iguais... não percebem sinais sutis. Nós mulheres nos
utilizamos muito da visão periférica... olhamos de canto de olho.
Não entregamos o jogo de maneira óbvia. Eu percebi desde o começo
que você me olhava. E isso foi me deixando louca. Louca por você.
Suzanne beija Haroldo, que
corresponde ao beijo com vontade, mas logo recua.
-Pera... calma, Suzanne. O seu
beijo é fantástico, mas estamos nos conhecendo agora.
-Sim... pintou um clima. Mas
vejo que você ainda tá constrangido.
-Pode parecer mentira, mas sou
mais tímido do que você imagina.
-Eu acredito em você. Você
sabe se a Riva e o Vicente ainda demoram?
-Já tá quase chegando a hora
deles voltarem, só mais uns quinze minutos...
CORTA A CENA.
CENA 8: Nas últimas gravações
do dia, Valquíria passa mal e é acudida imediatamente por Marion.
-Diretor, chame algum médico
pra examinar minha mãe! Hoje ela não tem mais condições de
gravar, espero que entenda...
O diretor faz sinal de
compreensão e vai buscar auxílio.
-Mãe... como a senhora tá se
sentindo?
-Foi só uma fraqueza, não
precisava de tanto, Marion. Faltam só oito cenas pra finalizar o
dia...
-Você é uma péssima
mentirosa, mãe... fala a verdade, confia em mim.
-Tou morta de medo, filha.
Senti aquela pontada horrorosa na cabeça... foi o que me fez perder
o equilíbrio. Tenho medo que essas crises acabem prejudicando nosso
trabalho... ou pior: que me afastem da novela. Logo agora que falta
uma semana pra estrear!
-Vamos torcer pra que isso
seja apenas uma crise passageira. Mas se acontecer de novo, a senhora
nem me invente de fingir que tá tudo bem. A sua saúde vem em
primeiro lugar, o trabalho vem depois.
-Mas é a primeira vez que eu
realizo um sonho na vida, filha... é importante pra mim.
-Tá vendo? De repente isso
daí é só resultado da sua ansiedade.
-Deus te ouça, Marion...
-Não há de ser nada, mãe. A
senhora vai ver. Cadê esses médicos que não chegam?
-Filha, calma. Não estou
morrendo... fora essa coisa aqui na minha cabeça, minha saúde é
das melhores. Ou você esqueceu que vocês só conseguiram fugir há
vinte e um anos porque me deram aquele sossega leão?
As duas riem do passado.
-Quanta coisa a gente viveu,
mãe... quanta coisa. E quanta mudança!
CORTA A CENA.
CENA 9: Rafael e Marcelo se
preparam para dormir enquanto Marcelo liga seu notebook para
verificar seu perfil em rede social.
-Amor, dá uma olhada pra ver
se já tiraram aquela insinuação do site de fofoca, por favor?
-Claro! Afinal a emissora
ameaçou processar eles... já devem ter sumido com isso.
Marcelo abre o site de fofocas
e se choca com o que vê.
-Rafa... olha isso aqui. Você
não vai gostar nem um pouco... mas eu avisei.
Rafael olha para a notícia do
site de fofocas e se desespera.
-Como isso é possível, meu
Deus? Como é que esses abutres chegaram antes da imprensa? Eles
falam tudo sobre nós!
Marcelo e Rafael se encaram,
desesperados. FIM DO CAPÍTULO 55.
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