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segunda-feira, 18 de julho de 2016

CAPÍTULO 55

CENA 1: Mateus duvida do pedido de Rafael.
-Já sei... você tá falando isso pra acabar com essa briga, só pode.
-Também é pra isso, Marcelo. Mas nunca falei tão sério na minha vida. Eu quero casar com você. Mas não é só isso: eu prometo que te assumo publicamente, pra imprensa, pro mundo, pra vida. Eu grito num megafone do alto do Cristo Redentor se você quiser, só pra deixar claro pra todo mundo que quem eu amo é você. Casa comigo, Marcelo!
Rafael se ajoelha. Marcelo se emociona.
-Então você realmente tá falando sério... eu vejo essa chama no seu olhar! Eu nem sei o que dizer...
-Diz que aceita se casar comigo...
-Eu aceito. Mas com uma condição.
-Eu aceito qualquer condição, amor... até hoje você aceitou todas as minhas condições, você tem direito de pedir o que quiser.
-Eu preciso de uma prova de que o seu amor por mim é maior do que o seu medo de perder o prestígio como ator.
-Sim... disso eu sei. O que você quer que eu faça?
-Que me assuma publicamente, mas não é de um jeitinho simples, tipo deixar que fotografem a gente e vazem a informação. Eu quero que você dê um jeito de convocar uma coletiva de imprensa. Que assuma diante dessa coletiva que é gay... e que vai casar comigo... você topa casar comigo ainda?
-Claro que sim, Marcelo. Isso é o mínimo que posso fazer por você, por nós, pelo nosso amor... mas eu vou precisar de um tempo pra tomar coragem, pra poder fazer isso.
-Quanto tempo, Rafael? Não tente me enrolar... você sabe que não sou de cair em enrolações...
-Vou precisar de algumas semanas. É só o que te peço... algumas semanas.
-Negativo. Algumas semanas é algo muito vago... você pode aumentar o prazo e continuar me enrolando. Entenda, Rafa... não é que eu não confie em você. Mas casamento é contrato... e contrato tem seus termos, dos dois lados. Você tem de aceitar meus termos, assim como eu tenho de aceitar os seus.
-E quanto tempo você sugere?
-Sugiro não... exijo: uma semana, no máximo. Sete dias... pode ser menos, mas não pode ser mais. Nem um dia a mais. Se chegar o oitavo dia e você não tiver feito nada, por mais que me doa no fundo do coração, porque moramos na mesma casa, eu vou me obrigar a terminar tudo com você, de uma vez por todas.
-Eu aceito. Uma semana vai ser tempo suficiente pra tomar fôlego, coragem e impulso pra fazer o que tem de ser feito.
-Eu te amo, seu bobão... se te dei esse sacode, foi justamente pra salvar o nosso amor... nunca duvide disso, Rafael.
-Eu sei disso... a gente pode ter a mesma exata idade, mas às vezes você tem uma maturidade que eu ainda não tenho.
-Não se subestime, meu amor... nós só vivemos realidades diferentes durante dezenove anos. Você sempre teve tudo na mão, nasceu em berço de ouro. Não tem culpa disso. Assim como eu aprendi desde cedo, com minha mãe, a lutar pela dignidade, pela sobrevivência, pra poder me fazer visto com o respeito que sempre busco merecer.
-É louco pensar como os nossos caminhos se cruzaram.
-Mas foi assim que tinha de ser. E eu espero que nós jamais nos separemos...
Os dois se beijam, emocionados. CORTA A CENA.

CENA 2: Fazendo compras no supermercado, Bruno se esbarra com Mateus.
-O que você veio fazer em Santa Tereza, Mateus? Você mora na Barra!
-Volto aqui sempre que posso. Lá na Barra tudo é mais caro, prefiro ir mais longe e gastar menos aqui.
-Por algum motivo eu não consigo acreditar em uma palavra do que você diz...
-Você não precisa acreditar. Mas quer saber? Eu esperava te ver aqui, mesmo. Fico feliz que tenha conseguido.
-Não entendo o motivo dessa empolgação. Te ver aqui hoje não me causa nenhuma reação.
-Sabe, Bruno... às vezes fico pensando onde foi que a gente se perdeu. Nós tivemos uma história juntos...
-Você só pode estar brincando, sinceramente... não se perdem aqueles que nunca se encontraram juntos. Você fala em história, mas que história foi essa? Uma vida clandestina? Escondida? Sob o domínio daquele cara que tem a gente nas mãos dele? Você realmente considera isso uma história?
-Eu não sei o que te dizer diante disso...
-Entendo que não saiba. Você nunca parou pra pensar de verdade sobre tudo. Nunca olhou pra outro lugar senão pra si mesmo.
-Não é bem assim, Bruno. Eu sinto falta de nós dois. Eu queria tentar de novo.
-Ah, não brinca? E o que mudou efetivamente nisso, posso saber? Você terminou com a Laura, por exemplo?
-Não ainda...
-Eu imaginei. Nem deve estar nos seus planos terminar com ela. Você ama ela.
-Mas eu também te amo.
-Um pouco tarde pra reconhecer isso, não? Saiba você, Mateus, pela minha própria boca, que eu nunca te amei. Pensei que te amava, mas tudo o que a gente viveu foi uma ilusão, um delírio. Aprendi coisas boas com você, mas esse aprendizado se encerrou. Vá viver sua vida como puder... nós podemos ser amigos... mas não vai passar disso, entenda.
-Já vi que não tem jeito, mesmo... até outra hora, paulistinha...
Mateus parte triste. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Raquel está em frente a um shopping quando liga para Valentim.
-Alô, Valentim... o suspeito acabou de entrar no shopping.
-Que roupas ele está usando?
-Um boné vermelho, uma camiseta azul sem estampa e uma calça preta, larga. Precisa de mais detalhes?
-Sim, por favor.
-Mede cerca de um metro e noventa, é branco, estilo europeu e caminha de maneira esquisita, com os pés levemente voltados para dentro.
-Estou indo eu, Mara e a Polícia Federal imediatamente para o shopping. Você identificou a presença de comparsas possíveis?
-Sim. Um suspeito de ser o comparsa está conversando com o segurança, forçando simpatia. O segurança está desconfiado da postura dele. Outros dois que parecem ser comparsas entraram logo depois dele.
-Por favor, siga eles sem se fazer notada e me diga para onde eles vão.
-Eles estão indo para uma joalheria.
Instantes depois, Valentim, Mara e a polícia chegam em frente ao shopping.
-Bloqueiem as saídas, cerquem o shopping. - ordena Valentim aos policiais, que se dispersam.
Raquel vê Valentim e Mara se aproximando e faz sinal de que vai entrar na joalheria. Mara e Valentim ficam na retaguarda. Raquel dá voz de prisão ao chefe da quadrilha.
-O senhor está preso. Coloque as mãos pro alto e não resista.
Os comparsas tentam fugir e são impedidos por Mara e Valentim. O chefe da quadrilha é algemado por Raquel.
-Você foi muito melhor do que imaginei. Você realmente nasceu pra isso, Raquel. Agiu com sangue frio, firmeza e confiança o tempo inteiro... - fala Valentim, admirado.
-Repara nesse daí não, Raquel. Não é de hoje que ele tem mania de subestimar nós mulheres na polícia... - brinca Mara.
-O importante é que conseguimos resolver a tempo esse caso. A loja não foi assaltada e ninguém correu risco. - fala Raquel.
-Você tá de parabéns, Raquel. Sou obrigada a concordar com o Valentim: você nasceu pra isso. Depois que você fizer o concurso e passar, ninguém te segura, minha nega! - fala Mara.
-Que tal uma happy hour? Acho que a gente tá merecendo! - sugere Valentim.
Os três partem do shopping. CORTA A CENA.

CENA 4: Laura chama Mateus para conversar.
-Precisando conversar, Lau?
-Sim, Mateus... eu preciso te comunicar sobre uma decisão minha, uma decisão que afeta a nós dois.
-Oxe... tá me assustando. Fala!
-Eu quero que você entenda que eu não estou brava com você, não que tenham me faltado motivos pra isso, mas enfim... não estou brigando com você, não estou acabando com nossa amizade e nem te colocando pra fora dessa casa porque eu sei que você não tem pra onde ir, mas... andei pensando em tudo e no rumo que o nosso namoro tomou nesses últimos meses. É inevitável que a gente termine, Mateus... não tem outra saída. A gente vai ser mais feliz sendo livre.
-Mas Laura... eu te amo! Isso nunca foi mentira.
-Sei que nunca foi. Também te amo. Mas esse amor funciona melhor como amizade.
-E por que você só tomou essa decisão agora?
-Porque eu não acho justo comigo nem com você, sustentar um namoro em bases que nem existem mais. Nós perdemos a confiança um no outro. Você errou, eu errei... ninguém aqui é santo. Espero que você entenda que fora o nosso namoro acabado, tudo continua igual entre nós.
-É, menos o sexo... olha, Laura... não vai ser fácil pra aceitar. Mas seria egoísta eu te prender... ainda mais depois de ter te traído e você ter descoberto isso. Vai doer, já tá doendo, mas você tomou a melhor decisão.
-Eu sei, Mateus... estamos nos libertando. Talvez assim a gente consiga conservar o que ainda há de bom entre nós...
Os dois se abraçam, selando a amizade. CORTA A CENA.

CENA 5: O fim de semana passa e Rafael resolve correr na orla de Copacabana pela manhã. Ao parar para descansar, acaba vendo Mateus se exercitando também.
-Você aqui uma hora dessas, Mateus? Não tinha que estar nos estúdios?
-Hoje as gravações só começam depois das dez pra mim. Vim aproveitar pra colocar a malhação em dia.
-Engraçado... cê tá com uma cara desanimada. Não parece estar gostando desse dia lindo...
-Sabe o que é, Rafa? A Laura terminou comigo no sábado. Eu meio que já sabia que isso ia acabar acontecendo, a gente tava desgastado pra caramba... mas o fim oficializado dói mesmo assim.
-Que pena... isso acontece, infelizmente. Quem sabe vocês se acertam ainda?
-Duvido muito, Rafa...
-Também quase terminei com o Marcelo... quer dizer... ele quase terminou comigo.
-Oxe... por que?
-Porque ele cansou de eu esconder ele da imprensa. Pensei muito em tudo... e pedi ele em casamento. No máximo até o fim da semana eu falo pra toda imprensa e acabo com essa mentira de posar de hetero...
-Ah, não diga... que ótimo isso, pra vocês! Desejo felicidades!
-Bem... preciso voltar a correr... a gente se vê qualquer hora dessas, colega!
Rafael volta a correr e Mateus sorri maliciosamente. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Rafael chega exausto da corrida e vai direto ao quarto, onde Marcelo está vendo um filme.
-Tava boa a corrida hoje, amor?
-Ótima. O friozinho que tá fazendo hoje só ajudou a me dar pique.
-Engraçado... tou te notando com uma cara de quem fez travessura...
-Travessura eu não sei, mas que certamente dei um tapa de luva no Mateus, isso eu sei que dei.
-Não entendi.
-O bonito tava lá se exercitando quando eu tava no meu descanso. Fui lá e fiz questão de deixar claro pra ele que vou assumir publicamente essa semana que sou gay e vou me casar com você. Só quero ver como que esse recalcado vai ter como fazer alguma coisa pra me derrubar depois dessa. Afinal de contas, tou assumindo o risco de que a minha carreira seja boicotada pela mídia tradicional, mas tou pouco me fodendo pra isso!
-Bicha, a senhora é destruidora mesmo, viu viado! Adorei! E confesso que não esperava que você tivesse essa coragem assim, tão cedo... só que eu achei essa sua atitude meio temerária.
-Por que, amor? Eu quero é deixar claro quem eu sou e que amo você...
-Acontece que eu não confio no Mateus...
-E o que ele pode fazer? Já tou fora da novela e nem queria estar lá, mesmo...
-Não sei... não tou com um bom pressentimento.
-Para com isso, bobo... não temos nada a perder... só a ganhar. Agora, você faça o favor de pausar esse filme e vir pro banho comigo, seu paranoico!
CORTA A CENA.

CENA 7: Haroldo ouve a campainha tocar e abre a porta.
-Olá, Suzanne... olha, se você tá procurando a Riva ou o Vicente, eles foram passear no Jardim Botânico...
-Ah, que pena... mas posso esperar aqui, não posso? Você é uma companhia tão agradável... além de bonito, claro.
Haroldo se surpreende pela atitude de Suzanne.
-Entre... na verdade, você me deixou meio sem graça. Você também é muito bonita.
-Deixe de ser modesto e tímido. Você sabe que é atraente... não tirei os olhos de você desde a primeira vez que te vi nessa casa... - fala Suzanne aproximando seu corpo do corpo de Haroldo, que se sente atraído, mas ao mesmo tempo se assusta e acaba se esquivando.
-Você não pode estar falando sério. Até outro dia eu não reparava que você olha pra mim... na verdade era eu a olhar pra você.
-Vocês homens são mesmo todos iguais... não percebem sinais sutis. Nós mulheres nos utilizamos muito da visão periférica... olhamos de canto de olho. Não entregamos o jogo de maneira óbvia. Eu percebi desde o começo que você me olhava. E isso foi me deixando louca. Louca por você.
Suzanne beija Haroldo, que corresponde ao beijo com vontade, mas logo recua.
-Pera... calma, Suzanne. O seu beijo é fantástico, mas estamos nos conhecendo agora.
-Sim... pintou um clima. Mas vejo que você ainda tá constrangido.
-Pode parecer mentira, mas sou mais tímido do que você imagina.
-Eu acredito em você. Você sabe se a Riva e o Vicente ainda demoram?
-Já tá quase chegando a hora deles voltarem, só mais uns quinze minutos...
CORTA A CENA.

CENA 8: Nas últimas gravações do dia, Valquíria passa mal e é acudida imediatamente por Marion.
-Diretor, chame algum médico pra examinar minha mãe! Hoje ela não tem mais condições de gravar, espero que entenda...
O diretor faz sinal de compreensão e vai buscar auxílio.
-Mãe... como a senhora tá se sentindo?
-Foi só uma fraqueza, não precisava de tanto, Marion. Faltam só oito cenas pra finalizar o dia...
-Você é uma péssima mentirosa, mãe... fala a verdade, confia em mim.
-Tou morta de medo, filha. Senti aquela pontada horrorosa na cabeça... foi o que me fez perder o equilíbrio. Tenho medo que essas crises acabem prejudicando nosso trabalho... ou pior: que me afastem da novela. Logo agora que falta uma semana pra estrear!
-Vamos torcer pra que isso seja apenas uma crise passageira. Mas se acontecer de novo, a senhora nem me invente de fingir que tá tudo bem. A sua saúde vem em primeiro lugar, o trabalho vem depois.
-Mas é a primeira vez que eu realizo um sonho na vida, filha... é importante pra mim.
-Tá vendo? De repente isso daí é só resultado da sua ansiedade.
-Deus te ouça, Marion...
-Não há de ser nada, mãe. A senhora vai ver. Cadê esses médicos que não chegam?
-Filha, calma. Não estou morrendo... fora essa coisa aqui na minha cabeça, minha saúde é das melhores. Ou você esqueceu que vocês só conseguiram fugir há vinte e um anos porque me deram aquele sossega leão?
As duas riem do passado.
-Quanta coisa a gente viveu, mãe... quanta coisa. E quanta mudança!
CORTA A CENA.

CENA 9: Rafael e Marcelo se preparam para dormir enquanto Marcelo liga seu notebook para verificar seu perfil em rede social.
-Amor, dá uma olhada pra ver se já tiraram aquela insinuação do site de fofoca, por favor?
-Claro! Afinal a emissora ameaçou processar eles... já devem ter sumido com isso.
Marcelo abre o site de fofocas e se choca com o que vê.
-Rafa... olha isso aqui. Você não vai gostar nem um pouco... mas eu avisei.
Rafael olha para a notícia do site de fofocas e se desespera.
-Como isso é possível, meu Deus? Como é que esses abutres chegaram antes da imprensa? Eles falam tudo sobre nós!
Marcelo e Rafael se encaram, desesperados. FIM DO CAPÍTULO 55.

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