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terça-feira, 5 de julho de 2016

CAPÍTULO 44

CENA 1: Haroldo fica sem reação diante da entrada intempestiva de Cláudio. Marcelo fica espantado de ver seu ex melhor amigo ali.
-Fala alguma coisa, mano! Esse cara te chamou de Rodrigo! Que história é essa? - pergunta Mariana.
Marcelo cai em si e cochicha com Rafael.
-O Rodrigo... o ex namorado do Cláudio que a gente nunca conheceu... era o Haroldo! O tempo todo... por isso ele evitava de que qualquer um soubesse quem ele era... - fala Marcelo.
-Tudo faz sentido agora... - constata Rafael.
-Eu posso explicar, gente. A verdade é que eu estava fugindo de agiotas e isso não é segredo pra ninguém. Tive que me esconder, de tudo e todos... pra sobreviver e pra manter vocês a salvo.
-É, mas precisava ter mentido todo esse tempo pra mim, Ro... digo, Haroldo? Ainda nem me acostumei com o seu nome de verdade. Nós namoramos! Vivemos um amor! Pelo menos eu te amei, não sei mais o que era mentira e o que era verdade esse tempo todo... - fala Cláudio.
-Vocês querem fazer o favor de se acalmar, vocês dois? Cláudio, você não vê que de nada vai adiantar você se prestar a esse papel de fazer cena e climão na minha casa? Poxa vida, cara! Eu sei que você é amigo, ou era, do Marcelo, mas não fode! Essa aqui é a nossa casa! Nossa família! Com que direito você chega aqui, soltando fogo pelas ventas e metendo o dedo na cara do meu irmão? - confronta Rafael.
-Você tem razão. Desculpa, Rafael. Entrei na sua casa desse jeito e nem pensei na falta de educação... - arrepende-se Cláudio.
-E nem deu oi pra mim, né, seu tratante? Você pode ter brigado com meu filho, mas não brigou comigo... - fala Riva, estendendo os braços para Cláudio, que vai em sua direção e a abraça.
-Senti saudades de você, Riva.
-Sabe, eu acho essa briga entre você e o Marcelo ridícula. Acaso esqueceram que foram amigos desde sempre? Vocês deviam ir lá no escritório conversar um pouco... - fala Riva, puxando o braço de Marcelo.
-Mas, mãe...
-Não tem “mas” nem meio “mas”. Vá com o Cláudio que o Haroldo tá explicando a história aqui pra gente. - sentencia Riva. Marcelo e Cláudio seguem, constrangidos um com o outro, para o escritório.
-Então foi isso, gente. Eu acabei assumindo a identidade de Rodrigo Bernardes pra me manter a salvo, longe dos olhos de quem podia me encontrar e não só acabar comigo mas colocar vocês em risco também. Só, por favor... eu imploro que vocês parem as perguntas por aí. Tem muita coisa que eu não posso falar nunca. Acreditem em mim... se dependesse de mim eu já teria contado tudo, mas tenho medo de represálias. Não quero mais ser responsável por confusão nenhuma nessa família... - desabafa Haroldo.
Todos abraçam Haroldo em sinal de compreensão. CORTA A CENA.

CENA 2: No escritório, Cláudio e Marcelo se encaram sem nada dizerem um ao outro, até que Cláudio começa a falar.
-Olha... Marcelo, eu queria te pedir desculpa por tudo. Eu tou realmente arrependido de ter sabotado os seus vídeos. Sim, fui eu...
Marcelo se enfurece com a confissão de Cláudio e lhe dá um soco na cara. Cláudio quase cai no chão, mas não revida.
-Eu não vou revidar. Eu mereci esse soco. Pode bater mais que eu mereço...
Marcelo começa a chorar e Cláudio também.
-Olha o que você me fez fazer, Cláudio! Nunca nessa vida eu precisei bater em ninguém. E bati em você! Justo em você... que até outro dia, era meu melhor amigo!
-Era?
-O que você acha, Cláudio? Que você pode simplesmente me falar aquele monte de absurdos e depois me atacar pela internet da maneira mais covarde possível, sabendo que eu não perderia meu tempo revidando uma baixeza dessas, mas... não, tudo bem! Você chega aqui, pede desculpas e tá tudo resolvido? Que dá pra passar uma borracha nisso tudo e fingir que nunca aconteceu?
-Eu sei. Eu fui um canalha com você. Meu melhor amigo... fui infantil... invejoso, recalcado. Eu reconheço que tudo o que falei pra você te acusando era despeito meu.
-Eu fico feliz que você reconheça, Cláudio. Mas isso não é suficiente, você deveria saber disso.
-Então você não me perdoa?
-Eu te perdoo. Mas entenda, Cláudio: perdoar não significa relevar. Não é do meu perdão que você precisa. Nunca foi. Queria te fazer uma pergunta: você consegue se perdoar?
-Sinceramente? Não. Eu não sei me perdoar, Marcelo. Me sinto um bosta, um nada. Me sinto culpado pelas merdas que fiz.
-Tá vendo por que não é do meu perdão que você precisa? Meu perdão não vai resolver as suas questões... os seus problemas, os seus fantasmas. O meu perdão seria só decorativo.
-Mas a gente pode pelo menos tentar ser amigo outra vez? Nós fomos amigos por uma vida inteira, Marcelo...
-Agradeço pelos ótimos momentos que vivemos juntos, mas você acha que nesse momento a gente tem condição?
-Não sei, Marcelo... eu realmente não sei.
Os dois choram.
-Eu também não sei, Cláudio.
Os dois se olham tristes e se abraçam.
-A gente vai ter que começar do zero, Cláudio. Como se estivéssemos nos conhecendo agora. No seu surto, eu me deparei com uma parte que nunca conheci e isso me assustou.
-Assustou a mim também.
-É por isso que precisamos ir com calma, Cláudio. Não posso dizer que somos amigos agora.
-E como vai ser?
-Vamos nos tratar como seres humanos civilizados que somos. O resto a gente vê como fica depois... vamos voltar pra sala.
Os dois retornam com uma expressão pesada. CORTA A CENA.

CENA 3: Márcio chega com pequeno pacote e vai rapidamente até Suzanne. Raquel suspeita da atitude de Márcio e resolve seguí-lo para ouvir conversa dele com Suzanne, sem que eles percebam. Raquel se coloca atrás da porta do quarto de Suzanne.
-Peguei o combinado.
-Gente, esse pacote é pequeno demais. Tem certeza que vai funcionar?
-Suzanne, sua tapada! Isso aqui é um tempero natural. Sabia que determinadas ervas utilizadas como temperos podem ser abortivas? É o caso desse tempero. Assim, não se levanta suspeitas, entende? O máximo que acontece é o aborto se considerado acidental, por falta de informação.
-Márcio, você me saiu melhor que a encomenda!
-Não fui eu, foi o cara que me explicou isso.
-Que seja. Mas isso é genial! Um tempero! Eu devia ter pesquisado melhor sobre isso antes! Assim o meu plano dá certo e ninguém suspeita de mim. É perfeito!
-E o que tá pensando em fazer?
-Não te parece óbvio? Não sei se hoje ou outro dia qualquer, eu vou lá na casa da merendeira, converso aquelas baboseiras de madame que elas costumam conversar e me ofereço, com toda a graça e gentileza que me é peculiar, pra fazer o jantar. Coloco meu tempero especial e voilà. Todo mundo fica bem, porque o tempero só é perigoso pra uma mulher grávida, a Riva perde o bebê depois de passar mal e ninguém desconfia de nada!
-Às vezes você é podre, Suzanne. Não sei onde tava com minha cabeça quando resolvi aceitar entrar nessa loucura que você inventou.
-Tá onde sempre deveria estar. Do meu lado. Cola comigo que nada vai te acontecer.
-Mas isso é errado, Suzanne. Você vai causar uma morte.
-E desde quando um feto que nem sistema nervoso central tem ainda é ser vivo? Você me vem com cada uma, Márcio... e o que foi isso agora? Deu pra ter crise de consciência nos últimos tempos?
-Talvez eu não seja exatamente quem você esperou que eu fosse, Suzanne.
-Corta essa. Você é o que eu mandar você ser.
-Eu não quero mais falar sobre isso, Suzanne. Senão a gente vai acabar brigando. Já tou suficientemente culpado por te acobertar.
-Isso... para mesmo de falar essas baboseiras. Depois de velho resolveu ter crise de consciência, só o que me faltava...
Raquel se distancia ao perceber que Márcio vai sair do quarto. CORTA A CENA.

CENA 4: Rafael e Marcelo sobem ao quarto para conversarem.
-Impressão minha ou você bateu no Cláudio? Podia jurar que a boca dele tava machucada...
-Eu bati nele sim, Rafael. Na hora nem eu me reconheci. Fiquei cego de raiva quando ele confessou ter sabotado meus vídeos quando a gente ainda tava lá em Melbourne.
-Nossa... nunca te imaginei batendo em ninguém.
-E eu nunca bati, amor. Mas enfim... tivemos uma conversa difícil... bem difícil.
-Imagino, Marcelo... como foi?
-Não lembro de tudo em detalhes. Mas ele me pediu perdão. Eu disse que o perdoava, mas que não era do meu perdão que ele precisava.
-Como assim?
-Ele não consegue se perdoar pelas merdas e burradas que ele mesmo faz. Não é do meu perdão que ele precisa. Ele precisa do próprio perdão consigo mesmo. Parar de alimentar culpa desse jeito que ele faz. Enfim, assumir a responsabilidade e tocar o barco...
-Então vocês não se acertaram?
-Sim e não. Não vejo como a gente possa tentar ser amigo de novo nesse momento. Deixei isso claro pra ele.
-Eu te entendo, amor... é como se vocês estivessem se conhecendo agora.
-Foi mais ou menos o que eu disse pra ele. Que é melhor fingirmos que estamos nos conhecendo agora. Porque, francamente, depois daquela que ele me aprontou, eu não sei mais quem é o Cláudio. Ele me mostrou um lado desconhecido e um tanto assustador. Ele mesmo disse que se assustou com o que fez.
-Não é pra menos. Foi cruel e covarde o que ele tentou fazer contigo... Olha, você tem o meu total apoio nessa decisão, amor. Não vejo decisão mais madura senão essa que você tomou, diante de tudo. Espero que vocês possam recuperar a amizade que tinha, mas isso demanda tempo...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 5: Ivan vai à edícula e liga para Valentim.
-Oi Valentim... preciso muito falar com você.
-Notei pelo seu tom de voz, Ivan... o que está acontecendo?
-Pensei mil vezes antes de tomar a decisão de te ligar, mas vi que não tinha outra opção ou outra saída. Não quero obstruir suas investigações.
-Fale logo, Ivan, está me deixando aflito!
-Haroldo confessou que utilizava uma identidade falsa durante esses anos que ficou longe.
-Eu sabia!
-Eu já sabia disso antes, ele havia me contado, mas agora a situação saiu do controle. Um ex namorado dele veio tirar satisfações com ele, dizendo que ele dizia se chamar Rodrigo Bernardes, ou algo assim.
-Entendi. Você percebeu que a coisa não tinha mais jeito quando esse menino chegou aí e o Haroldo foi forçado a explicar parte da história pra todo mundo, não foi?
-Exatamente. Mas por favor, meu amigo... não me julgue. Só queria proteger meu filho.
-Enquanto não houver nenhuma acusação formal contra o Haroldo, nenhum processo pode ser aberto. Fique tranquilo.
-Mas ele usou uma identidade falsa.
-Sim, Ivan. Isso é fato. Mas sequer sabemos quais foram as circunstâncias que levaram ele a isso. Dependendo do que for descoberto, a gente vê o que faz. Mas nesse momento é aquela velha história da presunção de inocência. Fique tranquilo. Haroldo não está pra ser preso.
-Eu fico mais tranquilo por saber disso, de verdade. Agora, se você me dá licença, vou precisar desligar. Riva está chamando todos nós pro jantar.
-Até mais, meu amigo.
-Até mais, Valentim.
Ivan desliga. CORTA A CENA.

CENA 6: Dias depois.
Rafael está claramente nervoso por não conseguir dormir cedo e Marcelo tenta tranquilizar seu namorado.
-Rafa... você já tentou ouvir uma música relaxante, alguma coisa do tipo?
-Ai, amor... eu sei que você tá tentando ajudar, mas a responsabilidade era minha. Eu devia ter consertado meu relógio biológico desde que a gente voltou pro Brasil, eu sabia dos prazos. Sabia que amanhã tenho que levantar cedo porque começa toda a preparação do elenco pra gente se familiarizar com os personagens.
-Mas eu podia ter colaborado, amor... desculpa.
-Não, Marcelo... a responsabilidade de tentar começar a dormir mais cedo era minha. Você não tem a ver com isso.
Marcelo ouve o ruído de uma mensagem chegando no celular de Rafael.
-Pera... esse não é o seu celular? Acho que recebeu uma sms...
-Aposta quanto que é coisa da operadora? Porra, isso que já solicitei trocentas vezes pra pararem com isso.
-Não custa olhar pra saber o que é, não?
Rafael pega o celular e abre a mensagem. A mensagem é do diretor da novela.
Rafael Alves, considere-se livre das obrigações de amanhã. Nos reunimos com executivos da emissora e consideramos que você deve dar um descanso para sua imagem. Portanto, você está dispensado do seu papel para a próxima novela das nove”.
-Marcelo, meu amor... você não vai acreditar. Fui dispensado! E tou amando isso!
Os dois se abraçam, felizes.
-Mas agora fiquei com uma dúvida, Rafa...
-Que dúvida? Você não leu a mensagem que acabei de te mostrar? Tou dispensado desse trabalho...
-Não é sobre isso. Quer dizer, em termos é... quem será que vai ficar com o seu papel?
-Ah, meu querido... isso sinceramente não me interessa mais nesse momento. Só fico meio chateado porque a mãe tava toda feliz de contracenar comigo e isso não vai mais acontecer. Mas bem... ela é profissional e vai entender. Amanhã pela manhã, antes dela sair pra começar a preparação, eu aviso a ela.
-Tá certo, amor. Mas já que a gente tem esse tempo livre a mais pra nós... eu tava pensando numas coisas, sabe?
-Hmmm... tenho a séria impressão de que são coisas sujas... será?
-Não sei... será que debaixo da minha calça tem a resposta?
Os dois se amam. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus está assistindo TV sozinho na sala quando recebe uma sms em seu celular. Ao abrir a mensagem, ele lê:
Mateus Viveiros. Desculpe pelo inconveniente de avisar em cima da hora. Aqui é o diretor da próxima novela das nove. Estou mandando essa mensagem porque nos reunimos com executivos da emissora que consideraram que a imagem de Rafael Alves precisa ser descansada e ele foi dispensado do papel. Você está escalado em substituição ao Rafael. Esteja amanhã na emissora às 6 e meia da manhã, para iniciarmos a preparação do elenco”.
Mateus vibra e vai correndo ao quarto de Laura.
-Laura, você não tem ideia da mensagem que acabei de receber!
-Hmmm... pela sua cara de quem ganhou na loteria, deve ter algo a ver com trabalho na TV.
-Exatamente, Lau! O diretor acabou de me mandar uma mensagem dizendo que o Rafael foi dispensado do papel porque acharam melhor descansarem a imagem dele. E adivinha quem ficou com o papel que era pra ser dele?
-Você? Mateus! Você conseguiu! Fico feliz por você, de verdade. Viu como não é difícil conseguir as coisas na honestidade? As coisas boas vem naturalmente. Parabéns! - fala Laura, abraçando Mateus.
-Agora trata de dormir cedo porque você sabe como eles são exigentes com horários quando se trata de novela do horário nobre... - continua Laura.
Mateus sai do quarto com uma expressão que mistura alegria com apreensão. CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne insiste com Márcio que ela já devia ter causado o aborto em Riva.
-Você não vai mais me impedir, Márcio. Já tem dias que você fica nessa história de arranjar pretexto pra eu não ir lá na Riva.
-É que eu tinha esperança que você desistisse dessa ideia de causar o aborto nela.
-E pra que é que esse tempero veio parar nas nossas mãos, criatura? Parece que tem cocô no lugar do cérebro, nunca vi!
-Então tá certo, Suzanne. Você vai. Mas siga pelo menos minhas orientações.
-À vontade.
-Você coloca esse tempero num pote, certo? Assim que chegar lá na casa deles e for pra cozinha, você coloca num pote de tempero que eles tiverem e estiver vazio... assim suspeitarão menos de você.
Raquel escuta a conversa dos dois e abre a porta.
-Vocês querem causar um aborto na Riva, é isso mesmo que ouvi?
Suzanne e Márcio paralisam. FIM DO CAPÍTULO 44.

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