CENA 1: Haroldo fica sem reação
diante da entrada intempestiva de Cláudio. Marcelo fica espantado de
ver seu ex melhor amigo ali.
-Fala alguma coisa, mano! Esse
cara te chamou de Rodrigo! Que história é essa? - pergunta Mariana.
Marcelo cai em si e cochicha
com Rafael.
-O Rodrigo... o ex namorado do
Cláudio que a gente nunca conheceu... era o Haroldo! O tempo todo...
por isso ele evitava de que qualquer um soubesse quem ele era... -
fala Marcelo.
-Tudo faz sentido agora... -
constata Rafael.
-Eu posso explicar, gente. A
verdade é que eu estava fugindo de agiotas e isso não é segredo
pra ninguém. Tive que me esconder, de tudo e todos... pra sobreviver
e pra manter vocês a salvo.
-É, mas precisava ter mentido
todo esse tempo pra mim, Ro... digo, Haroldo? Ainda nem me acostumei
com o seu nome de verdade. Nós namoramos! Vivemos um amor! Pelo
menos eu te amei, não sei mais o que era mentira e o que era verdade
esse tempo todo... - fala Cláudio.
-Vocês querem fazer o favor
de se acalmar, vocês dois? Cláudio, você não vê que de nada vai
adiantar você se prestar a esse papel de fazer cena e climão na
minha casa? Poxa vida, cara! Eu sei que você é amigo, ou era, do
Marcelo, mas não fode! Essa aqui é a nossa casa! Nossa família!
Com que direito você chega aqui, soltando fogo pelas ventas e
metendo o dedo na cara do meu irmão? - confronta Rafael.
-Você tem razão. Desculpa,
Rafael. Entrei na sua casa desse jeito e nem pensei na falta de
educação... - arrepende-se Cláudio.
-E nem deu oi pra mim, né,
seu tratante? Você pode ter brigado com meu filho, mas não brigou
comigo... - fala Riva, estendendo os braços para Cláudio, que vai
em sua direção e a abraça.
-Senti saudades de você,
Riva.
-Sabe, eu acho essa briga
entre você e o Marcelo ridícula. Acaso esqueceram que foram amigos
desde sempre? Vocês deviam ir lá no escritório conversar um
pouco... - fala Riva, puxando o braço de Marcelo.
-Mas, mãe...
-Não tem “mas” nem meio
“mas”. Vá com o Cláudio que o Haroldo tá explicando a história
aqui pra gente. - sentencia Riva. Marcelo e Cláudio seguem,
constrangidos um com o outro, para o escritório.
-Então foi isso, gente. Eu
acabei assumindo a identidade de Rodrigo Bernardes pra me manter a
salvo, longe dos olhos de quem podia me encontrar e não só acabar
comigo mas colocar vocês em risco também. Só, por favor... eu
imploro que vocês parem as perguntas por aí. Tem muita coisa que eu
não posso falar nunca. Acreditem em mim... se dependesse de mim eu
já teria contado tudo, mas tenho medo de represálias. Não quero
mais ser responsável por confusão nenhuma nessa família... -
desabafa Haroldo.
Todos abraçam Haroldo em
sinal de compreensão. CORTA A CENA.
CENA 2: No escritório,
Cláudio e Marcelo se encaram sem nada dizerem um ao outro, até que
Cláudio começa a falar.
-Olha... Marcelo, eu queria te
pedir desculpa por tudo. Eu tou realmente arrependido de ter sabotado
os seus vídeos. Sim, fui eu...
Marcelo se enfurece com a
confissão de Cláudio e lhe dá um soco na cara. Cláudio quase cai
no chão, mas não revida.
-Eu não vou revidar. Eu
mereci esse soco. Pode bater mais que eu mereço...
Marcelo começa a chorar e
Cláudio também.
-Olha o que você me fez
fazer, Cláudio! Nunca nessa vida eu precisei bater em ninguém. E
bati em você! Justo em você... que até outro dia, era meu melhor
amigo!
-Era?
-O que você acha, Cláudio?
Que você pode simplesmente me falar aquele monte de absurdos e
depois me atacar pela internet da maneira mais covarde possível,
sabendo que eu não perderia meu tempo revidando uma baixeza dessas,
mas... não, tudo bem! Você chega aqui, pede desculpas e tá tudo
resolvido? Que dá pra passar uma borracha nisso tudo e fingir que
nunca aconteceu?
-Eu sei. Eu fui um canalha com
você. Meu melhor amigo... fui infantil... invejoso, recalcado. Eu
reconheço que tudo o que falei pra você te acusando era despeito
meu.
-Eu fico feliz que você
reconheça, Cláudio. Mas isso não é suficiente, você deveria
saber disso.
-Então você não me perdoa?
-Eu te perdoo. Mas entenda,
Cláudio: perdoar não significa relevar. Não é do meu perdão que
você precisa. Nunca foi. Queria te fazer uma pergunta: você
consegue se perdoar?
-Sinceramente? Não. Eu não
sei me perdoar, Marcelo. Me sinto um bosta, um nada. Me sinto culpado
pelas merdas que fiz.
-Tá vendo por que não é do
meu perdão que você precisa? Meu perdão não vai resolver as suas
questões... os seus problemas, os seus fantasmas. O meu perdão
seria só decorativo.
-Mas a gente pode pelo menos
tentar ser amigo outra vez? Nós fomos amigos por uma vida inteira,
Marcelo...
-Agradeço pelos ótimos
momentos que vivemos juntos, mas você acha que nesse momento a gente
tem condição?
-Não sei, Marcelo... eu
realmente não sei.
Os dois choram.
-Eu também não sei, Cláudio.
Os dois se olham tristes e se
abraçam.
-A gente vai ter que começar
do zero, Cláudio. Como se estivéssemos nos conhecendo agora. No seu
surto, eu me deparei com uma parte que nunca conheci e isso me
assustou.
-Assustou a mim também.
-É por isso que precisamos ir
com calma, Cláudio. Não posso dizer que somos amigos agora.
-E como vai ser?
-Vamos nos tratar como seres
humanos civilizados que somos. O resto a gente vê como fica
depois... vamos voltar pra sala.
Os dois retornam com uma
expressão pesada. CORTA A CENA.
CENA 3: Márcio chega com
pequeno pacote e vai rapidamente até Suzanne. Raquel suspeita da
atitude de Márcio e resolve seguí-lo para ouvir conversa dele com
Suzanne, sem que eles percebam. Raquel se coloca atrás da porta do
quarto de Suzanne.
-Peguei o combinado.
-Gente, esse pacote é pequeno
demais. Tem certeza que vai funcionar?
-Suzanne, sua tapada! Isso
aqui é um tempero natural. Sabia que determinadas ervas utilizadas
como temperos podem ser abortivas? É o caso desse tempero. Assim,
não se levanta suspeitas, entende? O máximo que acontece é o
aborto se considerado acidental, por falta de informação.
-Márcio, você me saiu melhor
que a encomenda!
-Não fui eu, foi o cara que
me explicou isso.
-Que seja. Mas isso é genial!
Um tempero! Eu devia ter pesquisado melhor sobre isso antes! Assim o
meu plano dá certo e ninguém suspeita de mim. É perfeito!
-E o que tá pensando em
fazer?
-Não te parece óbvio? Não
sei se hoje ou outro dia qualquer, eu vou lá na casa da merendeira,
converso aquelas baboseiras de madame que elas costumam conversar e
me ofereço, com toda a graça e gentileza que me é peculiar, pra
fazer o jantar. Coloco meu tempero especial e voilà. Todo mundo fica
bem, porque o tempero só é perigoso pra uma mulher grávida, a Riva
perde o bebê depois de passar mal e ninguém desconfia de nada!
-Às vezes você é podre,
Suzanne. Não sei onde tava com minha cabeça quando resolvi aceitar
entrar nessa loucura que você inventou.
-Tá onde sempre deveria
estar. Do meu lado. Cola comigo que nada vai te acontecer.
-Mas isso é errado, Suzanne.
Você vai causar uma morte.
-E desde quando um feto que
nem sistema nervoso central tem ainda é ser vivo? Você me vem com
cada uma, Márcio... e o que foi isso agora? Deu pra ter crise de
consciência nos últimos tempos?
-Talvez eu não seja
exatamente quem você esperou que eu fosse, Suzanne.
-Corta essa. Você é o que eu
mandar você ser.
-Eu não quero mais falar
sobre isso, Suzanne. Senão a gente vai acabar brigando. Já tou
suficientemente culpado por te acobertar.
-Isso... para mesmo de falar
essas baboseiras. Depois de velho resolveu ter crise de consciência,
só o que me faltava...
Raquel se distancia ao
perceber que Márcio vai sair do quarto. CORTA A CENA.
CENA 4: Rafael e Marcelo sobem
ao quarto para conversarem.
-Impressão minha ou você
bateu no Cláudio? Podia jurar que a boca dele tava machucada...
-Eu bati nele sim, Rafael. Na
hora nem eu me reconheci. Fiquei cego de raiva quando ele confessou
ter sabotado meus vídeos quando a gente ainda tava lá em Melbourne.
-Nossa... nunca te imaginei
batendo em ninguém.
-E eu nunca bati, amor. Mas
enfim... tivemos uma conversa difícil... bem difícil.
-Imagino, Marcelo... como foi?
-Não lembro de tudo em
detalhes. Mas ele me pediu perdão. Eu disse que o perdoava, mas que
não era do meu perdão que ele precisava.
-Como assim?
-Ele não consegue se perdoar
pelas merdas e burradas que ele mesmo faz. Não é do meu perdão que
ele precisa. Ele precisa do próprio perdão consigo mesmo. Parar de
alimentar culpa desse jeito que ele faz. Enfim, assumir a
responsabilidade e tocar o barco...
-Então vocês não se
acertaram?
-Sim e não. Não vejo como a
gente possa tentar ser amigo de novo nesse momento. Deixei isso claro
pra ele.
-Eu te entendo, amor... é
como se vocês estivessem se conhecendo agora.
-Foi mais ou menos o que eu
disse pra ele. Que é melhor fingirmos que estamos nos conhecendo
agora. Porque, francamente, depois daquela que ele me aprontou, eu
não sei mais quem é o Cláudio. Ele me mostrou um lado desconhecido
e um tanto assustador. Ele mesmo disse que se assustou com o que fez.
-Não é pra menos. Foi cruel
e covarde o que ele tentou fazer contigo... Olha, você tem o meu
total apoio nessa decisão, amor. Não vejo decisão mais madura
senão essa que você tomou, diante de tudo. Espero que vocês possam
recuperar a amizade que tinha, mas isso demanda tempo...
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 5: Ivan vai à edícula e
liga para Valentim.
-Oi Valentim... preciso muito
falar com você.
-Notei pelo seu tom de voz,
Ivan... o que está acontecendo?
-Pensei mil vezes antes de
tomar a decisão de te ligar, mas vi que não tinha outra opção ou
outra saída. Não quero obstruir suas investigações.
-Fale logo, Ivan, está me
deixando aflito!
-Haroldo confessou que
utilizava uma identidade falsa durante esses anos que ficou longe.
-Eu sabia!
-Eu já sabia disso antes, ele
havia me contado, mas agora a situação saiu do controle. Um ex
namorado dele veio tirar satisfações com ele, dizendo que ele dizia
se chamar Rodrigo Bernardes, ou algo assim.
-Entendi. Você percebeu que a
coisa não tinha mais jeito quando esse menino chegou aí e o Haroldo
foi forçado a explicar parte da história pra todo mundo, não foi?
-Exatamente. Mas por favor,
meu amigo... não me julgue. Só queria proteger meu filho.
-Enquanto não houver nenhuma
acusação formal contra o Haroldo, nenhum processo pode ser aberto.
Fique tranquilo.
-Mas ele usou uma identidade
falsa.
-Sim, Ivan. Isso é fato. Mas
sequer sabemos quais foram as circunstâncias que levaram ele a isso.
Dependendo do que for descoberto, a gente vê o que faz. Mas nesse
momento é aquela velha história da presunção de inocência. Fique
tranquilo. Haroldo não está pra ser preso.
-Eu fico mais tranquilo por
saber disso, de verdade. Agora, se você me dá licença, vou
precisar desligar. Riva está chamando todos nós pro jantar.
-Até mais, meu amigo.
-Até mais, Valentim.
Ivan desliga. CORTA A CENA.
CENA 6: Dias depois.
Rafael está claramente
nervoso por não conseguir dormir cedo e Marcelo tenta tranquilizar
seu namorado.
-Rafa... você já tentou
ouvir uma música relaxante, alguma coisa do tipo?
-Ai, amor... eu sei que você
tá tentando ajudar, mas a responsabilidade era minha. Eu devia ter
consertado meu relógio biológico desde que a gente voltou pro
Brasil, eu sabia dos prazos. Sabia que amanhã tenho que levantar
cedo porque começa toda a preparação do elenco pra gente se
familiarizar com os personagens.
-Mas eu podia ter colaborado,
amor... desculpa.
-Não, Marcelo... a
responsabilidade de tentar começar a dormir mais cedo era minha.
Você não tem a ver com isso.
Marcelo ouve o ruído de uma
mensagem chegando no celular de Rafael.
-Pera... esse não é o seu
celular? Acho que recebeu uma sms...
-Aposta quanto que é coisa da
operadora? Porra, isso que já solicitei trocentas vezes pra pararem
com isso.
-Não custa olhar pra saber o
que é, não?
Rafael pega o celular e abre a
mensagem. A mensagem é do diretor da novela.
“Rafael Alves,
considere-se livre das obrigações de amanhã. Nos reunimos com
executivos da emissora e consideramos que você deve dar um descanso
para sua imagem. Portanto, você está dispensado do seu papel para a
próxima novela das nove”.
-Marcelo, meu amor... você
não vai acreditar. Fui dispensado! E tou amando isso!
Os dois se abraçam, felizes.
-Mas agora fiquei com uma
dúvida, Rafa...
-Que dúvida? Você não leu a
mensagem que acabei de te mostrar? Tou dispensado desse trabalho...
-Não é sobre isso. Quer
dizer, em termos é... quem será que vai ficar com o seu papel?
-Ah, meu querido... isso
sinceramente não me interessa mais nesse momento. Só fico meio
chateado porque a mãe tava toda feliz de contracenar comigo e isso
não vai mais acontecer. Mas bem... ela é profissional e vai
entender. Amanhã pela manhã, antes dela sair pra começar a
preparação, eu aviso a ela.
-Tá certo, amor. Mas já que
a gente tem esse tempo livre a mais pra nós... eu tava pensando
numas coisas, sabe?
-Hmmm... tenho a séria
impressão de que são coisas sujas... será?
-Não sei... será que debaixo
da minha calça tem a resposta?
Os dois se amam. CORTA A CENA.
CENA 7: Mateus está
assistindo TV sozinho na sala quando recebe uma sms em seu celular.
Ao abrir a mensagem, ele lê:
“Mateus Viveiros.
Desculpe pelo inconveniente de avisar em cima da hora. Aqui é o
diretor da próxima novela das nove. Estou mandando essa mensagem
porque nos reunimos com executivos da emissora que consideraram que a
imagem de Rafael Alves precisa ser descansada e ele foi dispensado do
papel. Você está escalado em substituição ao Rafael. Esteja
amanhã na emissora às 6 e meia da manhã, para iniciarmos a
preparação do elenco”.
Mateus vibra e vai correndo ao
quarto de Laura.
-Laura, você não tem ideia
da mensagem que acabei de receber!
-Hmmm... pela sua cara de quem
ganhou na loteria, deve ter algo a ver com trabalho na TV.
-Exatamente, Lau! O diretor
acabou de me mandar uma mensagem dizendo que o Rafael foi dispensado
do papel porque acharam melhor descansarem a imagem dele. E adivinha
quem ficou com o papel que era pra ser dele?
-Você? Mateus! Você
conseguiu! Fico feliz por você, de verdade. Viu como não é difícil
conseguir as coisas na honestidade? As coisas boas vem naturalmente.
Parabéns! - fala Laura, abraçando Mateus.
-Agora trata de dormir cedo
porque você sabe como eles são exigentes com horários quando se
trata de novela do horário nobre... - continua Laura.
Mateus sai do quarto com uma
expressão que mistura alegria com apreensão. CORTA A CENA.
CENA 8: Suzanne insiste com
Márcio que ela já devia ter causado o aborto em Riva.
-Você não vai mais me
impedir, Márcio. Já tem dias que você fica nessa história de
arranjar pretexto pra eu não ir lá na Riva.
-É que eu tinha esperança
que você desistisse dessa ideia de causar o aborto nela.
-E pra que é que esse tempero
veio parar nas nossas mãos, criatura? Parece que tem cocô no lugar
do cérebro, nunca vi!
-Então tá certo, Suzanne.
Você vai. Mas siga pelo menos minhas orientações.
-À vontade.
-Você coloca esse tempero num
pote, certo? Assim que chegar lá na casa deles e for pra cozinha,
você coloca num pote de tempero que eles tiverem e estiver vazio...
assim suspeitarão menos de você.
Raquel escuta a conversa dos
dois e abre a porta.
-Vocês querem causar um
aborto na Riva, é isso mesmo que ouvi?
Suzanne e Márcio paralisam.
FIM DO CAPÍTULO 44.
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