CENA 1: Bruno fica aflito e nem
espera Cláudio responder.
-Olha, desculpa, Cláudio...
eu sei que não devia dizer uma coisa dessas. Ficou parecendo que tou
com ciúme só porque vocês estão ficando... mas eu te juro que não
é nada disso...
-Calma, Bruno... você nem me
deixou falar...
-Desculpe.
-Eu confesso que concordo com
você. Eu gosto do Guilherme, acho ele gente boa ou pelo menos tem se
esforçado em ser bom pra mim. Mas concordo quando você diz que não
confia nele. Eu também não consigo sentir confiança nele. Não sei
porque... ele tem sido legal comigo. Não sei se é implicância
minha ou intuição...
-Mas se você se sente assim
em relação a ele, porque continua ficando com ele? Desculpa
perguntar, mas é esquisito.
-Eu fui apaixonado por ele na
adolescência. Acho que um lado meu é meio nostálgico, sabe?
-Como se você quisesse
resgatar uma história que terminou mal antes. É compreensível.
-Exatamente, Bruno. Eu sei que
isso não tem muita lógica.
-O comportamento humano não
tem lógica, Cláudio... relaxa.
-Verdade. Só sei que apesar
de estar dando essa chance a ele, eu continuo não conseguindo
confiar nele. E me sinto chateado por isso.
-Você podia arranjar uma
desculpa, um pretexto qualquer, se quiser deixar de ficar com ele...
-Eu já pensei nisso uma
dezena de vezes, acredite. Mas nesse momento eu não sei se consigo.
-Por que?
-Eu sinto dó dele... ou pena,
não sei. Fico compadecido. Ainda mais depois dessa cena que a gente
presenciou há pouco. A sensação que isso me passa é que ele
precisa mais de mim do que eu imaginava. Diante disso eu não posso
simplesmente lavar as mãos, você me entende?
-Entendo. Mas toma cuidado pra
não se anular por causa de alguém.
-Eu vou tomar cuidado. Mas
você há de convir comigo que ele não está no seu juízo perfeito.
Deve ter algum transtorno, alguma doença de ordem mental. Ele
precisa de apoio, não de julgamentos. Depois, eu quero consertar de
alguma forma todas as merdas que já fiz... com o Marcelo, por
exemplo, que era meu melhor amigo e eu joguei tudo isso fora por
causa do meu egoísmo e inveja.
-Mas você acha justo se
redimir com quem você errou através de outra pessoa?
-Não deixa de ser uma boa
ação, deixa?
-Você tá certo.
-Eu preciso ir pro quarto,
cuidar dele. Vai que ele se acorda ainda em crise...
Cláudio deixa a sala e Bruno
fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 2: Laura percebe que
Mateus recebeu uma sms e avisa a ele, que está no banho.
-Mateus, você recebeu uma
mensagem!
-Ah, deve ser da operadora.
Pode abrir e excluir, essa gente nunca descansa! - fala Mateus, do
banheiro.
Laura pega o celular de Mateus
e abre a mensagem, mas se surpreende ao ver que é de uma colega de
elenco.
“Você devia ter vergonha
de se prestar a esse papel ridículo de fazer a cabeça dos grandões
da emissora. Todo mundo do elenco tá sabendo que você só conseguiu
esse papel no lugar do Rafael porque foi chorar no ouvido da direção
da novela até eles repassarem a reclamação aos executivos”.
Laura fica furiosa. Logo em
seguida, Mateus sai do banho.
-E aí, apagou a mensagem pra
mim?
-Não. Deveria ter apagado sem
ler?
-Deixa de bobeira, Laura. Deve
ter sido da operadora. Não inventa história agora.
-Então pega esse seu celular
e lê a mensagem pra ver se era mesmo da operadora.
Mateus pega o celular e gela.
-Laura... eu posso explicar
isso aqui...
-Mateus, chega! Pra uma colega
de elenco sua se abalar a te mandar uma mensagem desse teor, numa
hora dessas, mentira não deve ser!
-Como é que você pode
acreditar numa atriz que começou ontem e é coadjuvante de um núcleo
secundário?
-Mateus... quem não te
conhece que te compre! Sabe o que me decepciona? Dessa vez eu tava
acreditando de verdade que você tinha conseguido esse papel por
merecimento, por mérito próprio. Mas não... mais uma vez você foi
fazer a cabeça dos grandões lá dentro pra eles colocarem o Rafael
pra escanteio. Tudo isso pra que? Pra você tirar vantagem de toda
essa situação e tomar um lugar na trama que nem deveria ser seu!
-Mas agora é meu. Você nunca
vai entender, né Laura? Nunca teve os mesmos sonhos que eu. Nunca
sonhou com a TV. Pra você é fácil falar e me julgar, já que você
concentra toda a sua energia exclusivamente pro teatro.
-Não venha me falar sobre
egoísmo, falta de empatia ou tentar virar o jogo numa altura dessas.
Você mais uma vez está me decepcionando, Mateus. Por um momento eu
me iludi acreditando que pelo menos uma vez na vida, você tinha
alcançado um objetivo seu na honestidade. Mas mais uma vez eu me
enganei...
-Você fala como se eu fosse
um bandido, Laura.
-E você está agindo como?
Como um bandido. Um ladino. Oportunista, sem princípios, passando
feito um trator em cima de quem nunca te fez nada. Sabe o pior disso?
O Rafael pensa que você é amigo dele. Com um amigo desses, ninguém
precisa de inimigo.
-Ah, qual é? Ele deve estar
feliz por ter mais tempo pra passar com o namorado.
-Você acha mesmo que eu vou
acreditar que você tava zelando pela vida amorosa do Rafa? Me poupe,
se poupe, nos poupe!
-Deixa eu explicar, Laura...
por favor.
-Não tem mais nada que eu
queira ouvir. Me deixa sozinha!
Laura parte furiosa para o
quarto. CORTA A CENA.
CENA 3: No final da manhã do
dia seguinte, Riva liga para Suzanne.
-E aí, sumida! Não conseguiu
vir semana passada pra ajudar nas aulas de etiqueta...
-Ah, Riva... muita correria,
você sabe como é. Tocar os negócios dos meus pais à distância é
um serviço pra lá de puxado.
-Imagino que seja, querida.
Mas então, Suzi... eu queria saber se você pode vir aqui hoje. E
ficar pro jantar.
-Claro que posso! Estou te
devendo duas aulas atrasadas, não?
-Você não me deve nada, sua
boba. Você é minha amiga... tá me ajudando de graça junto da
Marion...
-Imagino que ela esteja mais
ocupada agora.
-E tá mesmo, viu? Sai
cedíssimo e volta com a noite já bem avançada. Já começaram as
gravações das cenas do primeiro capítulo da novela que ela vai ser
protagonista.
-Então devo estar sendo mais
requisitada que nunca...
-Justamente, Suzanne. Não
quero me abusar de você, você sabe disso.
-Que isso, Riva... nós somos
ou não somos amigas?
-Claro que somos. Queria saber
se você vem e fica pro jantar. Nessa loucura toda com a volta do
Haroldo, a gente não tinha pensado antes em fazer um jantar pra
comemorar minha gravidez...
-Claro que eu vou, querida!
Pode contar com a minha presença. Mas me diga uma coisa: a que horas
você deseja que eu esteja aí para as aulas de etiqueta?
-Se puder já vir por agora,
eu agradeço. Marion, como você já sabe, tá ocupadíssima lá nos
estúdios.
-Mas e o seu filho, e o seu
genro? Eles não vão implicar comigo?
-Deixa que com eles eu me
entendo. Eu ainda sou a mãe do Marcelo e o que eu decidir, está
decidido.
-Ótimo. Em meia hora eu saio
daqui do hotel. Quando estiver chegando eu te mando uma sms avisando.
-Perfeito. Eu te espero,
amiga. Até mais.
Riva desliga e Suzanne sorri,
triunfante. CORTA A CENA.
CENA 4: Horas mais tarde,
Diogo espera a consulta de Victor terminar e vai falar com Valentim.
-Estou atrapalhando? Você tem
horário marcado com algum paciente?
-Não, Diogo. Pode ficar
sossegado.
-Eu quero entrar de cabeça
nessas investigações. Nem sei por onde começar, mas quero ajudar.
-Eu imaginei que você fosse
me procurar pra me dizer isso.
-Sim. Depois que eu confirmei
que Rodrigo era na verdade Haroldo e que estudamos juntos, muita
coisa se encaixou, mas ao mesmo tempo muita pergunta ficou sem
resposta. Dia desses eu e Victor visitamos Cláudio e no meio da
conversa, Cláudio me confirmou que Rodrigo/Haroldo terminou com ele
sem mais nem menos, de sopetão... sem dar maiores explicações.
-Onde você tá querendo
chegar, Diogo?
-Que talvez Haroldo tenha sido
vítima da mesma pessoa que me ameaçou e me obrigou a inventar um
motivo pra terminar tudo com Cláudio. Outra hora te conto melhor
sobre isso, porque estou com pressa. Mas vá por esse lado,
investigador... de onde partiu essas ameaças pode estar um dos
cabeças dessa facção.
Diogo despede-se de Valentim e
ele percebe que Raquel está à sua espera. CORTA A CENA.
CENA 5: Durante conversa com
Valentim, Raquel decide revelar a verdade.
-Valentim... desculpe a
intromissão... mas eu escutei o final da conversa que você teve com
o rapaz que saiu daqui. Eu entendi que você é investigador, além
de psiquiatra.
-Sou mesmo, dona Raquel.
Preferi manter segredo em relação a isso para que a senhora não se
assustasse. Espero que entenda.
-Na verdade, me sinto até
acalentada por saber que estou diante de um investigador.
-Por que a senhora está me
dizendo isso?
-Porque eu lhe faltei com a
verdade. Não tem conhecida minha nenhuma nessa história. A
psicopata não é filha dessa conhecida... a psicopata é Suzanne,
minha filha.
-Não me surpreende saber
disso, Raquel. Eu reparei bem em sua postura corporal nas vezes que
você começava a relatar sobre o passado de sua filha. Para mim isso
já estava claro. Mas, como você não queria dizer a verdade, não
seria eu que forçaria você. Fico feliz que você tenha tido a
coragem de me dizer.
-Me sinto aliviada. Mas ao
mesmo tempo envergonhada, Valentim. Sinto vergonha por ter colocado
nesse mundo uma pessoa fria, sem sentimentos, sem respeito a ninguém.
Sinto que é como se eu tivesse falhado como mãe.
-Não caia nessa armadilha,
Raquel. Psicopatas são manipuladores e você não pode se deixar
levar pelas coisas que sua filha diz.
-Não foi ela que me disse que
fui uma má mãe. É algo que vem de dentro de mim.
-Não acredite nisso, por
favor. A culpa nunca foi e nunca será sua. Você fez o que estava ao
seu alcance, como qualquer mãe ou qualquer pai faria. Mesmo que você
tivesse nascido rica, que tivesse dado as melhores oportunidades de
educação à sua filha... ainda assim ela seria psicopata.
Infelizmente, isso acontece em qualquer lugar. Não há fator
predeterminante.
-Isso é o mais aterrador de
tudo isso. Sabe, Valentim... eu tenho pesquisado muita literatura
sobre psicopatas. Acabei tendo essa vontade de descobrir mais e
mais... e por incrível que pareça, por mais que me doa ser mãe de
uma psicopata, me dá certo fascínio descobrir mais e mais sobre
eles, conforme eu vou lendo, me informando e me instruindo a
respeito.
-A mente humana sempre nos
desperta fascínio, Raquel. Você está começando a entender isso
agora... nunca é tarde.
-Só lamento que não possa
fazer nada para mudar Suzanne...
-Nem adiantaria tentar,
Raquel. Psicopatas não tem noções de culpa. Não sentem remorso. O
prazer deles é enganar e manipular as pessoas. O prazer de um
psicopata consiste em ver o alvo mudar sua vida em função dele...
quando desmascarado, o psicopata pode apanhar, ser preso, enfim... um
monte de coisas, que vai continuar com a mesma expressão. Fria, como
se nada de grave estivesse acontecendo. E para o psicopata, não é
nada demais. Tudo isso porque eles não tem consciência. Nunca
tiveram.
Os dois seguem a conversa
sobre psicopatas. CORTA A CENA.
CENA 6: Anoitece. Suzanne está
na mansão dos Bittencourt finalizando sua aula de etiqueta com Riva.
-Está ficando meio tarde. Vou
indo preparar o jantar... - fala Riva, olhando para o relógio.
-Deixa disso, sua boba! Hoje o
jantar fica por minha conta! - fala Suzanne.
Marcelo, Vicente e Rafael
ficam contrariados, mas procuram disfarçar para não criar
problemas.
-Você é mesmo uma caixinha
de surpresas... não sabia que você sabia cozinhar, Suzanne... -
fala Valquíria, alfinetando Suzanne.
-Pois é... vovó falou bem.
Não sabia mesmo que você gosta de cozinhar... - fala Riva,
inocentemente.
-Eu amo cozinhar! Sou
descendente de espanhóis e adoro caprichar nos temperos. Só não
gosto muito é de sal. Então, se vocês acharem que a comida possa
ter ficado meio sem sal, podem colocar sal a gosto que eu foco mais é
nos temperos. Mas tenho certeza de que vocês todos vão amar meus
dotes culinários!
-Então está certo, querida.
Você cozinha! Não vai nos dizer o que é? - fala Riva.
-Isso vocês só vão saber na
hora de comer! - fala Suzanne, marotamente.
Suzanne se dirige à cozinha,
se certifica de que ninguém a segue ou espia e encontra um pote de
tempero vazio no armário da cozinha. Rapidamente, despeja o tempero
abortivo do saquinho que estava em seu bolso e enrola o saco vazio
num bolo de papel, disfarçando e colocando no lixo.
-Agora é que a coisa vai
ficar “deliciosa”, merendeira!
Suzanne sorri triunfante.
CORTA A CENA.
CENA 7: Instantes depois, a
campainha toca e Marcelo abre a porta, surpreendendo-se ao ver que
Cláudio e Bruno estão ali. Marcelo fica constrangido.
-Oi Bruno, oi... Cláudio.
Entrem.
-Não se preocupe, Marcelo.
Vim falar com Haroldo. Espero não estar atrapalhando vocês... -
antecipa-se Cláudio.
-Haroldo... Cláudio está
aqui e quer conversar com você. Sugiro que vão ao escritório! -
anuncia Marcelo.
Marcelo e Bruno vão ao sofá
e ficam aflitos. Cláudio segue acompanhado de Haroldo ao escritório.
-Eu imagino porque veio aqui.
- fala Haroldo.
-Se imagina, pode então
começar a me explicar tim tim por tim tim dessa história louca de
inventar esse tal Rodrigo que nunca existiu. Sabe, Haroldo... é até
estranho dizer o seu nome... eu não vejo maldade em você. Mas
preciso entender. O que te levou a tudo isso? Por que você me
enganou? Fazia parte do plano?
-Não tinha plano nenhum
quando eu conheci você. Meu amor foi verdadeiro... mas só posso te
dizer isso. Mais que isso pode ser perigoso pra todos nós...
-Eu não entendo. Por que você
foge? Por que você se esconde?
Haroldo segue se esquivando
das perguntas de Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 8: Instantes depois, após
o jantar, Cláudio está novamente com Haroldo na sala e resolve
chamar Marcelo para um canto.
-Imagino que você queira
conversar comigo também...
-Sabe, Marcelo... eu sei
direitinho que você disse que a gente ia começar do zero. Eu tou
fazendo o que posso pra respeitar essa sua decisão... que considero
muito mais que justa.
-Então não tou entendendo
direito o motivo dessa conversa.
-Eu queria saber se a gente
ainda pode ser amigo. Sabe, Marcelo... eu sinto falta do que a gente
era antes daquele episódio lamentável.
-Episódio cujo único
responsável foi você. Você compreende isso?
-É claro que compreendo. Só
que me dói de verdade não poder mais confidenciar minhas coisas
contigo... não ter a mesma liberdade que a gente tinha.
-Olha, Cláudio... eu vou ser
muito sincero contigo. Eu sinto falta da sua amizade. Eu aceito ser
seu amigo de novo... mas a última coisa que a gente vai conseguir
resgatar nesse processo é a liberdade que a gente tinha antes um com
o outro. O que você fez deixou marcas em nós dois... marcas que são
feridas. Feridas demoram pra cicatrizar.
-Posso pelo menos te dar um
abraço?
-Sempre!
Os dois se abraçam selando a
amizade.
-Espero que você entenda...
tudo mudou. Mas a gente vai fazer o que pode. - finaliza Marcelo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne vai embora e
Riva se despede dela.
-Muito obrigada pelo jantar
dessa noite. Estava delicioso!
Suzanne parte e Riva senta-se
no sofá. Vicente nota que ela está um pouco pálida.
-Amor, cê tá bem? De repente
te achei meio pálida...
-Acho que devo ter comido
demais... aquela comida que a Suzanne fez tava ótima.
De repente, Riva sente uma
forte pontada na barriga e se encolhe, assustando a todos. Vicente
nota, quando Riva se vira, que há sangue no sofá.
-A Riva está sangrando!
Gente, vamos levar ela pro hospital!
-Eu não posso perder meu
bebê! - apavora-se Riva.
FIM DO CAPÍTULO 46.
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