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quinta-feira, 7 de julho de 2016

CAPÍTULO 46

CENA 1: Bruno fica aflito e nem espera Cláudio responder.
-Olha, desculpa, Cláudio... eu sei que não devia dizer uma coisa dessas. Ficou parecendo que tou com ciúme só porque vocês estão ficando... mas eu te juro que não é nada disso...
-Calma, Bruno... você nem me deixou falar...
-Desculpe.
-Eu confesso que concordo com você. Eu gosto do Guilherme, acho ele gente boa ou pelo menos tem se esforçado em ser bom pra mim. Mas concordo quando você diz que não confia nele. Eu também não consigo sentir confiança nele. Não sei porque... ele tem sido legal comigo. Não sei se é implicância minha ou intuição...
-Mas se você se sente assim em relação a ele, porque continua ficando com ele? Desculpa perguntar, mas é esquisito.
-Eu fui apaixonado por ele na adolescência. Acho que um lado meu é meio nostálgico, sabe?
-Como se você quisesse resgatar uma história que terminou mal antes. É compreensível.
-Exatamente, Bruno. Eu sei que isso não tem muita lógica.
-O comportamento humano não tem lógica, Cláudio... relaxa.
-Verdade. Só sei que apesar de estar dando essa chance a ele, eu continuo não conseguindo confiar nele. E me sinto chateado por isso.
-Você podia arranjar uma desculpa, um pretexto qualquer, se quiser deixar de ficar com ele...
-Eu já pensei nisso uma dezena de vezes, acredite. Mas nesse momento eu não sei se consigo.
-Por que?
-Eu sinto dó dele... ou pena, não sei. Fico compadecido. Ainda mais depois dessa cena que a gente presenciou há pouco. A sensação que isso me passa é que ele precisa mais de mim do que eu imaginava. Diante disso eu não posso simplesmente lavar as mãos, você me entende?
-Entendo. Mas toma cuidado pra não se anular por causa de alguém.
-Eu vou tomar cuidado. Mas você há de convir comigo que ele não está no seu juízo perfeito. Deve ter algum transtorno, alguma doença de ordem mental. Ele precisa de apoio, não de julgamentos. Depois, eu quero consertar de alguma forma todas as merdas que já fiz... com o Marcelo, por exemplo, que era meu melhor amigo e eu joguei tudo isso fora por causa do meu egoísmo e inveja.
-Mas você acha justo se redimir com quem você errou através de outra pessoa?
-Não deixa de ser uma boa ação, deixa?
-Você tá certo.
-Eu preciso ir pro quarto, cuidar dele. Vai que ele se acorda ainda em crise...
Cláudio deixa a sala e Bruno fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 2: Laura percebe que Mateus recebeu uma sms e avisa a ele, que está no banho.
-Mateus, você recebeu uma mensagem!
-Ah, deve ser da operadora. Pode abrir e excluir, essa gente nunca descansa! - fala Mateus, do banheiro.
Laura pega o celular de Mateus e abre a mensagem, mas se surpreende ao ver que é de uma colega de elenco.
Você devia ter vergonha de se prestar a esse papel ridículo de fazer a cabeça dos grandões da emissora. Todo mundo do elenco tá sabendo que você só conseguiu esse papel no lugar do Rafael porque foi chorar no ouvido da direção da novela até eles repassarem a reclamação aos executivos”.
Laura fica furiosa. Logo em seguida, Mateus sai do banho.
-E aí, apagou a mensagem pra mim?
-Não. Deveria ter apagado sem ler?
-Deixa de bobeira, Laura. Deve ter sido da operadora. Não inventa história agora.
-Então pega esse seu celular e lê a mensagem pra ver se era mesmo da operadora.
Mateus pega o celular e gela.
-Laura... eu posso explicar isso aqui...
-Mateus, chega! Pra uma colega de elenco sua se abalar a te mandar uma mensagem desse teor, numa hora dessas, mentira não deve ser!
-Como é que você pode acreditar numa atriz que começou ontem e é coadjuvante de um núcleo secundário?
-Mateus... quem não te conhece que te compre! Sabe o que me decepciona? Dessa vez eu tava acreditando de verdade que você tinha conseguido esse papel por merecimento, por mérito próprio. Mas não... mais uma vez você foi fazer a cabeça dos grandões lá dentro pra eles colocarem o Rafael pra escanteio. Tudo isso pra que? Pra você tirar vantagem de toda essa situação e tomar um lugar na trama que nem deveria ser seu!
-Mas agora é meu. Você nunca vai entender, né Laura? Nunca teve os mesmos sonhos que eu. Nunca sonhou com a TV. Pra você é fácil falar e me julgar, já que você concentra toda a sua energia exclusivamente pro teatro.
-Não venha me falar sobre egoísmo, falta de empatia ou tentar virar o jogo numa altura dessas. Você mais uma vez está me decepcionando, Mateus. Por um momento eu me iludi acreditando que pelo menos uma vez na vida, você tinha alcançado um objetivo seu na honestidade. Mas mais uma vez eu me enganei...
-Você fala como se eu fosse um bandido, Laura.
-E você está agindo como? Como um bandido. Um ladino. Oportunista, sem princípios, passando feito um trator em cima de quem nunca te fez nada. Sabe o pior disso? O Rafael pensa que você é amigo dele. Com um amigo desses, ninguém precisa de inimigo.
-Ah, qual é? Ele deve estar feliz por ter mais tempo pra passar com o namorado.
-Você acha mesmo que eu vou acreditar que você tava zelando pela vida amorosa do Rafa? Me poupe, se poupe, nos poupe!
-Deixa eu explicar, Laura... por favor.
-Não tem mais nada que eu queira ouvir. Me deixa sozinha!
Laura parte furiosa para o quarto. CORTA A CENA.

CENA 3: No final da manhã do dia seguinte, Riva liga para Suzanne.
-E aí, sumida! Não conseguiu vir semana passada pra ajudar nas aulas de etiqueta...
-Ah, Riva... muita correria, você sabe como é. Tocar os negócios dos meus pais à distância é um serviço pra lá de puxado.
-Imagino que seja, querida. Mas então, Suzi... eu queria saber se você pode vir aqui hoje. E ficar pro jantar.
-Claro que posso! Estou te devendo duas aulas atrasadas, não?
-Você não me deve nada, sua boba. Você é minha amiga... tá me ajudando de graça junto da Marion...
-Imagino que ela esteja mais ocupada agora.
-E tá mesmo, viu? Sai cedíssimo e volta com a noite já bem avançada. Já começaram as gravações das cenas do primeiro capítulo da novela que ela vai ser protagonista.
-Então devo estar sendo mais requisitada que nunca...
-Justamente, Suzanne. Não quero me abusar de você, você sabe disso.
-Que isso, Riva... nós somos ou não somos amigas?
-Claro que somos. Queria saber se você vem e fica pro jantar. Nessa loucura toda com a volta do Haroldo, a gente não tinha pensado antes em fazer um jantar pra comemorar minha gravidez...
-Claro que eu vou, querida! Pode contar com a minha presença. Mas me diga uma coisa: a que horas você deseja que eu esteja aí para as aulas de etiqueta?
-Se puder já vir por agora, eu agradeço. Marion, como você já sabe, tá ocupadíssima lá nos estúdios.
-Mas e o seu filho, e o seu genro? Eles não vão implicar comigo?
-Deixa que com eles eu me entendo. Eu ainda sou a mãe do Marcelo e o que eu decidir, está decidido.
-Ótimo. Em meia hora eu saio daqui do hotel. Quando estiver chegando eu te mando uma sms avisando.
-Perfeito. Eu te espero, amiga. Até mais.
Riva desliga e Suzanne sorri, triunfante. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas mais tarde, Diogo espera a consulta de Victor terminar e vai falar com Valentim.
-Estou atrapalhando? Você tem horário marcado com algum paciente?
-Não, Diogo. Pode ficar sossegado.
-Eu quero entrar de cabeça nessas investigações. Nem sei por onde começar, mas quero ajudar.
-Eu imaginei que você fosse me procurar pra me dizer isso.
-Sim. Depois que eu confirmei que Rodrigo era na verdade Haroldo e que estudamos juntos, muita coisa se encaixou, mas ao mesmo tempo muita pergunta ficou sem resposta. Dia desses eu e Victor visitamos Cláudio e no meio da conversa, Cláudio me confirmou que Rodrigo/Haroldo terminou com ele sem mais nem menos, de sopetão... sem dar maiores explicações.
-Onde você tá querendo chegar, Diogo?
-Que talvez Haroldo tenha sido vítima da mesma pessoa que me ameaçou e me obrigou a inventar um motivo pra terminar tudo com Cláudio. Outra hora te conto melhor sobre isso, porque estou com pressa. Mas vá por esse lado, investigador... de onde partiu essas ameaças pode estar um dos cabeças dessa facção.
Diogo despede-se de Valentim e ele percebe que Raquel está à sua espera. CORTA A CENA.

CENA 5: Durante conversa com Valentim, Raquel decide revelar a verdade.
-Valentim... desculpe a intromissão... mas eu escutei o final da conversa que você teve com o rapaz que saiu daqui. Eu entendi que você é investigador, além de psiquiatra.
-Sou mesmo, dona Raquel. Preferi manter segredo em relação a isso para que a senhora não se assustasse. Espero que entenda.
-Na verdade, me sinto até acalentada por saber que estou diante de um investigador.
-Por que a senhora está me dizendo isso?
-Porque eu lhe faltei com a verdade. Não tem conhecida minha nenhuma nessa história. A psicopata não é filha dessa conhecida... a psicopata é Suzanne, minha filha.
-Não me surpreende saber disso, Raquel. Eu reparei bem em sua postura corporal nas vezes que você começava a relatar sobre o passado de sua filha. Para mim isso já estava claro. Mas, como você não queria dizer a verdade, não seria eu que forçaria você. Fico feliz que você tenha tido a coragem de me dizer.
-Me sinto aliviada. Mas ao mesmo tempo envergonhada, Valentim. Sinto vergonha por ter colocado nesse mundo uma pessoa fria, sem sentimentos, sem respeito a ninguém. Sinto que é como se eu tivesse falhado como mãe.
-Não caia nessa armadilha, Raquel. Psicopatas são manipuladores e você não pode se deixar levar pelas coisas que sua filha diz.
-Não foi ela que me disse que fui uma má mãe. É algo que vem de dentro de mim.
-Não acredite nisso, por favor. A culpa nunca foi e nunca será sua. Você fez o que estava ao seu alcance, como qualquer mãe ou qualquer pai faria. Mesmo que você tivesse nascido rica, que tivesse dado as melhores oportunidades de educação à sua filha... ainda assim ela seria psicopata. Infelizmente, isso acontece em qualquer lugar. Não há fator predeterminante.
-Isso é o mais aterrador de tudo isso. Sabe, Valentim... eu tenho pesquisado muita literatura sobre psicopatas. Acabei tendo essa vontade de descobrir mais e mais... e por incrível que pareça, por mais que me doa ser mãe de uma psicopata, me dá certo fascínio descobrir mais e mais sobre eles, conforme eu vou lendo, me informando e me instruindo a respeito.
-A mente humana sempre nos desperta fascínio, Raquel. Você está começando a entender isso agora... nunca é tarde.
-Só lamento que não possa fazer nada para mudar Suzanne...
-Nem adiantaria tentar, Raquel. Psicopatas não tem noções de culpa. Não sentem remorso. O prazer deles é enganar e manipular as pessoas. O prazer de um psicopata consiste em ver o alvo mudar sua vida em função dele... quando desmascarado, o psicopata pode apanhar, ser preso, enfim... um monte de coisas, que vai continuar com a mesma expressão. Fria, como se nada de grave estivesse acontecendo. E para o psicopata, não é nada demais. Tudo isso porque eles não tem consciência. Nunca tiveram.
Os dois seguem a conversa sobre psicopatas. CORTA A CENA.

CENA 6: Anoitece. Suzanne está na mansão dos Bittencourt finalizando sua aula de etiqueta com Riva.
-Está ficando meio tarde. Vou indo preparar o jantar... - fala Riva, olhando para o relógio.
-Deixa disso, sua boba! Hoje o jantar fica por minha conta! - fala Suzanne.
Marcelo, Vicente e Rafael ficam contrariados, mas procuram disfarçar para não criar problemas.
-Você é mesmo uma caixinha de surpresas... não sabia que você sabia cozinhar, Suzanne... - fala Valquíria, alfinetando Suzanne.
-Pois é... vovó falou bem. Não sabia mesmo que você gosta de cozinhar... - fala Riva, inocentemente.
-Eu amo cozinhar! Sou descendente de espanhóis e adoro caprichar nos temperos. Só não gosto muito é de sal. Então, se vocês acharem que a comida possa ter ficado meio sem sal, podem colocar sal a gosto que eu foco mais é nos temperos. Mas tenho certeza de que vocês todos vão amar meus dotes culinários!
-Então está certo, querida. Você cozinha! Não vai nos dizer o que é? - fala Riva.
-Isso vocês só vão saber na hora de comer! - fala Suzanne, marotamente.
Suzanne se dirige à cozinha, se certifica de que ninguém a segue ou espia e encontra um pote de tempero vazio no armário da cozinha. Rapidamente, despeja o tempero abortivo do saquinho que estava em seu bolso e enrola o saco vazio num bolo de papel, disfarçando e colocando no lixo.
-Agora é que a coisa vai ficar “deliciosa”, merendeira!
Suzanne sorri triunfante. CORTA A CENA.

CENA 7: Instantes depois, a campainha toca e Marcelo abre a porta, surpreendendo-se ao ver que Cláudio e Bruno estão ali. Marcelo fica constrangido.
-Oi Bruno, oi... Cláudio. Entrem.
-Não se preocupe, Marcelo. Vim falar com Haroldo. Espero não estar atrapalhando vocês... - antecipa-se Cláudio.
-Haroldo... Cláudio está aqui e quer conversar com você. Sugiro que vão ao escritório! - anuncia Marcelo.
Marcelo e Bruno vão ao sofá e ficam aflitos. Cláudio segue acompanhado de Haroldo ao escritório.
-Eu imagino porque veio aqui. - fala Haroldo.
-Se imagina, pode então começar a me explicar tim tim por tim tim dessa história louca de inventar esse tal Rodrigo que nunca existiu. Sabe, Haroldo... é até estranho dizer o seu nome... eu não vejo maldade em você. Mas preciso entender. O que te levou a tudo isso? Por que você me enganou? Fazia parte do plano?
-Não tinha plano nenhum quando eu conheci você. Meu amor foi verdadeiro... mas só posso te dizer isso. Mais que isso pode ser perigoso pra todos nós...
-Eu não entendo. Por que você foge? Por que você se esconde?
Haroldo segue se esquivando das perguntas de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, após o jantar, Cláudio está novamente com Haroldo na sala e resolve chamar Marcelo para um canto.
-Imagino que você queira conversar comigo também...
-Sabe, Marcelo... eu sei direitinho que você disse que a gente ia começar do zero. Eu tou fazendo o que posso pra respeitar essa sua decisão... que considero muito mais que justa.
-Então não tou entendendo direito o motivo dessa conversa.
-Eu queria saber se a gente ainda pode ser amigo. Sabe, Marcelo... eu sinto falta do que a gente era antes daquele episódio lamentável.
-Episódio cujo único responsável foi você. Você compreende isso?
-É claro que compreendo. Só que me dói de verdade não poder mais confidenciar minhas coisas contigo... não ter a mesma liberdade que a gente tinha.
-Olha, Cláudio... eu vou ser muito sincero contigo. Eu sinto falta da sua amizade. Eu aceito ser seu amigo de novo... mas a última coisa que a gente vai conseguir resgatar nesse processo é a liberdade que a gente tinha antes um com o outro. O que você fez deixou marcas em nós dois... marcas que são feridas. Feridas demoram pra cicatrizar.
-Posso pelo menos te dar um abraço?
-Sempre!
Os dois se abraçam selando a amizade.
-Espero que você entenda... tudo mudou. Mas a gente vai fazer o que pode. - finaliza Marcelo. CORTA A CENA.

CENA 9: Suzanne vai embora e Riva se despede dela.
-Muito obrigada pelo jantar dessa noite. Estava delicioso!
Suzanne parte e Riva senta-se no sofá. Vicente nota que ela está um pouco pálida.
-Amor, cê tá bem? De repente te achei meio pálida...
-Acho que devo ter comido demais... aquela comida que a Suzanne fez tava ótima.
De repente, Riva sente uma forte pontada na barriga e se encolhe, assustando a todos. Vicente nota, quando Riva se vira, que há sangue no sofá.
-A Riva está sangrando! Gente, vamos levar ela pro hospital!
-Eu não posso perder meu bebê! - apavora-se Riva.
FIM DO CAPÍTULO 46.

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