CENA 1: Valentim questiona
Diogo.
-Detalhes sobre o que,
exatamente? Acredito que não seja nada que eu já não saiba.
-Provavelmente sabe do
suficiente. Mas desde que o Haroldo voltou eu sinto que preciso te
detalhar algumas coisas. Sobre como ele e eu podemos ter sido vítimas
do mesmo cara, desse tal de “Chefe”.
-Sim, Diogo... disso já sei.
Sou investigador e você mesmo já me falou algumas coisas. Na
verdade eu gostaria é de confirmar a identidade falsa que Haroldo
usou nesses dois anos.
-Você não pensa em prender
ele por isso, não? Ele não é um criminoso.
-Mas se envolveu com
criminosos, ao contrário de você. Não pretendo prender ele, mas
isso não depende só de mim.
-Bem... ele usava a identidade
de Rodrigo Bernardes e eu só o encontrei na rua, como você sabe,
por um acaso do destino. Ele se escondia, sempre com medo de que
alguma coisa de ruim pudesse se abater sobre alguém... sobre o
Cláudio, especificamente.
-Onde é que o Cláudio entra
nisso?
-Eu tenho certeza que antes do
Haroldo ter voltado pra casa dele, ele foi obrigado a terminar com o
Cláudio... foi do nada, o Cláudio não esperava por isso. Isso me
lembra o que aconteceu comigo anos atrás. Fui ameaçado por esse
cara que provavelmente é esse “Chefe”: ele mandou uma carta
anônima pra mim com fotos dos meus familiares... dizendo que sabia
onde eles moravam e que algo de horrível poderia acontecer a eles se
eu não me afastasse imediatamente do Cláudio. De repente, o Haroldo
termina num sopetão com o Cláudio, que não entende nada e fica até
meio desnorteado pela surpresa da atitude dele... não é estranho,
Valentim?
-De fato, Diogo... você está
coberto de razão. Esses eventos tem um padrão parecido. Mas o que
me intriga nisso é que, se for realmente o “Chefe” que tá por
trás disso tudo... qual seria a fixação que ele tem pelo Cláudio?
Será que esse “Chefe” é alguém que o Cláudio conheceu, que
passou pela vida dele? Em que momento do passado esse bandido
resolveu acabar com a vida do Cláudio através dessas ameaças e
intimidações? Tem muita coisa que não se encaixa nisso ainda,
Diogo. O padrão de ação de quem está por trás disso tudo revela
acima de tudo uma fixação pelo Cláudio... o que por outro lado me
parece pouco provável, pra não dizer absurdo, já que Cláudio é
um rapaz sereno, pacato e conciliador. Quem haveria de querer
perseguir ele? Entende como essas peças não se encaixam? Nada disso
faz muito sentido, Diogo...
-Você tem razão, Valentim.
Mas o que você sugere que eu faça? Não tenho por onde encontrar
mais informações além dessas que já disponho.
-Nisso você tem razão. Eu
sei que eu como psiquiatra não deveria te dizer isso, mas a única
coisa que você pode fazer agora é desconfiar de tudo e todos.
Observar bem o comportamento de quem rodeia o Cláudio, se puder...
-Vou tentar o meu melhor...
mas não sei até onde consigo chegar. Espero ser útil, de qualquer
forma.
-Agora vá... chame seu noivo.
Quero saber como anda o tratamento.
Diogo deixa a sala. CORTA A
CENA.
CENA 2: Victor inicia sua
consulta com Valentim.
-Como você se sente hoje,
Victor?
-Sem dúvidas, bem melhor que
antes. Aquelas coisas que fiz parecem que foram feitas por outra
pessoa, não por mim.
-Quando você está
completamente em si, chega a ser difícil imaginar que tentaria
suicídio. Talvez você possa combater essas crises trabalhando mais
a sua autoconfiança... nunca te disseram isso na terapia?
-Disseram e continuam a dizer.
Mas nem sempre é um caminho fácil, doutor Valentim... quando o
sangue sobe na cabeça, eu esqueço de tudo. Me sinto um bosta,
enganado e deixado pra trás por todo mundo que já passou na minha
vida. Queria poder acabar com isso de uma vez por todas.
-Essas oscilações são
perfeitamente normais, Victor. A única coisa atípica e preocupante
nesses últimos dias foi a sua tentativa de suicídio. Você contou
ao Diogo?
-Contei. Ele me fez prometer
que jamais tentaria algo desse tipo outra vez. Claro, prometi a
ele... não quero que ele sofra.
-Pois você deve prometer a si
mesmo, não a ele. É por você mesmo, pela sua melhora, que você
está aqui.
-Mas pensar nele me motiva a
melhorar, doutor...
-Exatamente! Diogo deve ser
uma motivação para você melhorar por si mesmo. Motivação sim,
motivo da sua luta não. Você deve lutar por si mesmo, entende?
-Entendo. Mas confesso que me
esqueço disso.
-É para isso que além do meu
tratamento, você está na terapia. Mas como você passou por um
descontrole que não estava previsto com a dosagem do medicamento que
lhe receitei e como aumentar a dosagem desse medicamento é
impossível, vou lhe receitar outro, de poucos ou nenhum efeito
colateral.
Valentim faz a receita do novo
medicamento.
-Vá amanhã mesmo à farmácia
e mostre o carimbo do meu consultório ao farmacêutico. Assim, você
ganha cinquenta por cento de desconto na compra desse medicamento,
que é um pouco mais caro do que o primeiro. De qualquer forma, me
mantenha informado sobre suas reações a esse medicamento. Mesmo
sendo baixíssima a probabilidade, existe a possibilidade de haver
efeitos colaterais, por isso preciso que você me garanta que vai me
informar sobre qualquer mínima coisa.
-Claro que eu digo. Quanto a
isso você pode ficar despreocupado. Espero que pelo menos eu consiga
aprender a dominar os meus fantasmas de uma maneira mais eficaz de
agora em diante.
-Com paciência, você
consegue. Infelizmente, eu já estava fechando o consultório quando
você e seu noivo chegaram e o nosso tempo já acabou. Nos vemos na
próxima consulta.
-Muito obrigado, doutor
Valentim.
-Não agradeça... melhore!
Os dois se despedem. CORTA A
CENA.
CENA 3: No dia seguinte,
Suzanne percebe que Márcio a olha com desaprovação.
-O que foi agora, Márcio?
Desde ontem você fica me olhando com essa cara de quem tá me
condenando e não diz quase nada...
-Você realmente perdeu noção
das coisas, Suzanne... não é possível.
-Se você não falar nada com
clareza, como é que eu vou adivinhar esses enigmas, me diz?
-Você tem noção do papelão
a que você se prestou no casamento da Riva com o Vicente anteontem?
-Eu tinha que garantir que
ninguém fosse desconfiar, ué.
-Ficou maluca? Jogou a
inteligência pelo ralo do chuveiro? Agora mesmo que você abriu
margem pra desconfiarem. Pra que forçar aquela intimidade com o
Vicente? As fotos que saíram nos sites mostram que o Vicente tava
constrangido e irritado com a situação. Teve até site de fofoca
fazendo piada de você, sabia disso? Te chamando de entrona,
penetra... e outras coisas menos cristãs.
-E me diz qual é o problema
disso? Não sei se você percebeu, mas nesse caso, a fama me protege,
nos protege, melhor dizendo. Resolveu bancar o moralista, agora? Não
foquei no Haroldo porque o panaca não deu chance. É mais lerdo que
lesma rastejando a cinquenta e quatro metros por hora. Alguma coisa
eu tinha que fazer pra ficar bem na fita, né. Se o Vicente se
incomodou o problema é dele, o que importa é que a Riva é minha
amiga e acredita em mim!
-Acredita tanto que desconfiou
da gargantilha que você resolveu usar pra provocar todo mundo
naquela família e ainda sair de santinha...
-Eu confio no meu taco. Aquela
lá mal sabe escrever o próprio nome, só aprendeu a ser fina porque
eu e a tia dela ajudamos. Ela tem uma relação de gratidão comigo,
não deixaria de acreditar em mim assim tão fácil.
-É, mas e se ela descobre que
aquela é a gargantilha dela?
-Eu minto que fui enganada na
loja, simples.
-Isso não convenceria nem a
uma criança, Suzanne.
-O que você sugere que eu
faça, então?
-Essa joia vale uma nota. Por
que você não coloca na penhora? Você tem o nome limpo, mesmo...
vai render uma grana legal pra gente.
-Até que você não é de
todo um completo idiota inútil que só fala besteira... de vez em
quando a luz da sabedoria te ilumina e você dá uma dentro. Quer
saber? É exatamente isso que vou fazer. Pelo menos por enquanto,
essa é uma ótima saída e assim eu tiro qualquer desconfiança de
cima de mim...
CORTA A CENA.
CENA 4: Guilherme volta para a
casa de Cláudio, que está se preparando para ir ao teatro. Bruno o
recebe e Cláudio o beija em seguida.
-Você tá bem, Guilherme? -
fala Cláudio, percebendo que Guilherme não está bem.
-Olha, eu sinto muito por
aquela cena toda de ontem... eu não posso nem imaginar a minha vida
mais longe de você, não posso te perder...
Guilherme se encolhe no sofá
da sala e começa a ficar catatônico. Bruno se compadece da situação
de Guilherme.
-É, Cláudio... isso vai
acontecer outras vezes. Andei lendo sobre esquizofrenia e os sintomas
negativos falam sobre catatonia e perda de contato com a realidade...
corta o coração ver um cara jovem e cheio de vida desse jeito... -
fala Bruno.
-Sabe, Bruno... eu achava que
tava preparado pra isso, mas tou vendo que vai ser difícil. De
qualquer forma eu nem penso na possibilidade de abandonar o
Guilherme... é triste ver que de uma hora pra outra ele perde
contato com esse mundo. Você me ajuda a levar ele pro quarto?
Os dois levam Guilherme
cuidadosamente até o quarto.
-E o que a gente faz, liga pro
psiquiatra dele?
-Ainda não. Falei com o
doutor Álvaro, que acompanha ele. Só devemos chamar se for o caso
dele ficar mais de um dia assim... Bruno, você cuida dele enquanto
eu estiver lá no teatro? Eu sei que isso pode parecer abuso, mas...
-Não é abuso nenhum,
Cláudio. Ele precisa de cuidados agora. Pode ir tranquilo que o
Guilherme tá seguro...
-Tá bem... muito obrigado por
existir, Bruno... não sei o que seria de mim sem você aqui. Preciso
ir, nos vemos mais tarde.
Cláudio parte e Bruno cuida
de Guilherme. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde,
durante o intervalo para o lanche do ensaio do grupo de teatro, Laura
procura Mara e Valentim, que conversam com Procópio naquele momento,
no camarim.
-Interrompo a conversa de
vocês?
-Não se preocupe, Laura...
não estamos falando sobre nada que você já não saiba... - fala
Mara.
-Pode falar, querida... eu sei
de tudo o que é preciso saber. - fala Procópio.
-Então, gente... eu acho que
fiz besteira ontem. Peguei o celular do Mateus enquanto ele tava no
banho e encontrei um número residencial que tinha ligado pra ele.
Peguei meu celular e liguei pra esse número. Um cara me atendeu e me
fez ameaças, que eu sinceramente não levei a sério num primeiro
momento, mas logo depois o Mateus saiu do banho e eu não percebi...
ficou apavorado com o que me viu fazer e arrancou o celular da minha
mão, desligando a ligação. Eu achei isso no mínimo esquisito.
Aquele homem parecia ser alguém perigoso, porque Mateus ficou
pálido, de tão apavorado. - fala Laura.
-Tudo que você relatou leva a
crer que esse homem que assusta tanto Mateus só pode ser o chefe...
- conclui Valentim.
-E o que eu faço diante
disso?
-Nada, Laura. O melhor que
você tem a fazer agora é recuar. Sabemos que esse “Chefe” é
perigoso, mas não fazemos a mínima ideia de quem ele possa ser
ainda. Se você chamou a atenção dele, isso já representa um
risco. Você precisa nesse momento manter a discrição. - fala Mara.
CORTA A CENA.
CENA 6: Marcelo está
navegando pela internet em seu notebook quando se depara com uma
matéria de um site sensacionalista.
-Rafael, vem cá agora!
Rafael vai rapidamente até
Marcelo.
-O que houve, amor?
-É melhor você sentar antes
de eu te mostrar o que eu acabei de ver naquele site de fofoca...
-Ai, meu Deus... não me
assusta.
-Cê lembra que a gente foi
dar uma volta depois de ir ao supermercado, né?
-Sim, claro que lembro.
-Então olha só o que
publicaram nessa matéria aqui...
Rafael olha e fica indignado.
-Foram paparazzi! Fotografaram
a gente na saída do supermercado! E olha as insinuações que estão
fazendo! Meu Deus do céu! A gente não tava fazendo nada demais!
-E eu não sei? Nem pegar na
sua mão eu peguei em público. Mas que raio de coisa que a gente fez
que chamou a atenção deles?
-Marcelo, isso tá com cheiro
de coisa feita, armada por alguém.
-Ai, Rafa... não é pra
tanto. Mas eu sei que eu fico indignado com isso.
-E eu, então? Esse tipo de
insinuação pode ser danosa pra minha carreira!
Rafael sai dali atordoado.
CORTA A CENA.
CENA 7: Mateus está deixando
os estúdios, ao final da tarde, quando recebe uma ligação de
“Chefe”.
-Fala, chefe... olha, eu sei
que eu prometi controlar a Laura, mas ela fez aquilo quando eu tava
no banho.
-Levasse o celular pro banho
junto, animal! Mas pode deixar que pelo menos por enquanto eu não
tou a fim de brincar de assustar essa garota metida a heroína de
novela das sete.
-E posso saber por que me
ligou, então?
-Pra te perguntar que
palhaçada foi aquela de entregar onde o Marcelo e o Rafael
costumavam fazer compras e vender a informação para aquele site de
fofocas. Eu não te falei pra sossegar o facho, Mateus?
-Dessa vez você tá
repreendendo a pessoa errada. Eu não tenho nada a ver com isso.
-Pra cima de mim, Mateus? Quem
mais estaria interessado em levantar isso sobre eles?
-Deve ter mais gente, não
sei! Mas muito me surpreende você me ligar bancando o moralizador
por causa disso. Eu por acaso tou pedindo grana extra pra você? Não
tou! O que eu faço ou deixo de fazer fora da organização, com o
perdão da palavra, não é da sua conta!
-Não seria da minha conta se
você não tivesse as responsabilidades que tem. Mas se você me
garante que dessa vez não tem nada com isso, me resta acreditar.
-Você deve acreditar, chefe.
Não tenho motivos pra mentir pra você. Meus planos pro Rafael são
outros e eu ainda tou pensando no que eu vou fazer.
-Tá certo. Só não vai
prejudicar seu trabalho comigo e com a organização.
-Quanto a isso fique
tranquilo. Preciso desligar agora.
Mateus desliga. CORTA A CENA.
CENA 8: Já à noite, Victor
vai com Diogo ao pub que ele costuma frequentar.
-Estou orgulhoso de você, meu
amor... confesso que nem esperava que você viesse mais comigo.
-Eu devia isso a nós dois.
Também preciso aprender a me divertir mais, a socializar, a viver
mais leve, mais livre... depois, aqui tem cerveja sem álcool, você
não disse?
-Exatamente. Você pode pedir
uma já, se quiser.
-Deixa pra depois, Diogo. A
gente mal chegou aqui.
-Verdade. E ainda nem começou
o melhor da noite, meus amigos nem chegaram ainda. Você vai ver como
aqui é um lugar ótimo. Daqui a pouco chegam as bandas que vão se
apresentar ao longo da noite. E antes que você pense que é qualquer
música ao vivo, você vai ver um ambiente completamente diferente.
Aqui acontecem verdadeiros shows!
-Você vai se incomodar se eu
me sentir cansado no meio da noite e não aguentar?
-Deixa disso, amor... eu vim
com você e vou embora a hora que você quiser. Hoje eu tou mais aqui
por você. Quando você for se acostumando com esse ambiente, você
vai ver que a melhor coisa é ficar aqui até o dia raiar.
-O garçom tá passando... eu
fico meio sem graça de chamar. Você chama ele pra mim?
-Claro. Peço a sua cerveja
sem álcool?
-Por favor, Diogo...
Diogo chama o garçom. CORTA A
CENA.
CENA 9: Rafael nota que
Marcelo está evasivo antes de dormir.
-Tou te achando estranho
comigo, amor... desde o meio da tarde.
-Deixa isso pra lá, Rafa...
eu tou cansado. Tou precisando dormir... amanhã a gente conversa.
-Você sabe que eu detesto
mistérios.
-Também detesto. Mas estou
realmente cansado.
-Você não pode me deixar
nessa curiosidade toda, dizer que a gente tem algo a conversar e
deixar isso pra amanhã! Eu não vou pregar o olho desse jeito!
-Você quer mesmo saber o que
é que você fez? Melhor seria dizer o que você não fez: você não
tem um pingo de coragem de me assumir pra imprensa, seu covarde!
Rafael fica perplexo com a
fala de Marcelo. FIM DO CAPÍTULO 53.
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