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sexta-feira, 15 de julho de 2016

CAPÍTULO 53

CENA 1: Valentim questiona Diogo.
-Detalhes sobre o que, exatamente? Acredito que não seja nada que eu já não saiba.
-Provavelmente sabe do suficiente. Mas desde que o Haroldo voltou eu sinto que preciso te detalhar algumas coisas. Sobre como ele e eu podemos ter sido vítimas do mesmo cara, desse tal de “Chefe”.
-Sim, Diogo... disso já sei. Sou investigador e você mesmo já me falou algumas coisas. Na verdade eu gostaria é de confirmar a identidade falsa que Haroldo usou nesses dois anos.
-Você não pensa em prender ele por isso, não? Ele não é um criminoso.
-Mas se envolveu com criminosos, ao contrário de você. Não pretendo prender ele, mas isso não depende só de mim.
-Bem... ele usava a identidade de Rodrigo Bernardes e eu só o encontrei na rua, como você sabe, por um acaso do destino. Ele se escondia, sempre com medo de que alguma coisa de ruim pudesse se abater sobre alguém... sobre o Cláudio, especificamente.
-Onde é que o Cláudio entra nisso?
-Eu tenho certeza que antes do Haroldo ter voltado pra casa dele, ele foi obrigado a terminar com o Cláudio... foi do nada, o Cláudio não esperava por isso. Isso me lembra o que aconteceu comigo anos atrás. Fui ameaçado por esse cara que provavelmente é esse “Chefe”: ele mandou uma carta anônima pra mim com fotos dos meus familiares... dizendo que sabia onde eles moravam e que algo de horrível poderia acontecer a eles se eu não me afastasse imediatamente do Cláudio. De repente, o Haroldo termina num sopetão com o Cláudio, que não entende nada e fica até meio desnorteado pela surpresa da atitude dele... não é estranho, Valentim?
-De fato, Diogo... você está coberto de razão. Esses eventos tem um padrão parecido. Mas o que me intriga nisso é que, se for realmente o “Chefe” que tá por trás disso tudo... qual seria a fixação que ele tem pelo Cláudio? Será que esse “Chefe” é alguém que o Cláudio conheceu, que passou pela vida dele? Em que momento do passado esse bandido resolveu acabar com a vida do Cláudio através dessas ameaças e intimidações? Tem muita coisa que não se encaixa nisso ainda, Diogo. O padrão de ação de quem está por trás disso tudo revela acima de tudo uma fixação pelo Cláudio... o que por outro lado me parece pouco provável, pra não dizer absurdo, já que Cláudio é um rapaz sereno, pacato e conciliador. Quem haveria de querer perseguir ele? Entende como essas peças não se encaixam? Nada disso faz muito sentido, Diogo...
-Você tem razão, Valentim. Mas o que você sugere que eu faça? Não tenho por onde encontrar mais informações além dessas que já disponho.
-Nisso você tem razão. Eu sei que eu como psiquiatra não deveria te dizer isso, mas a única coisa que você pode fazer agora é desconfiar de tudo e todos. Observar bem o comportamento de quem rodeia o Cláudio, se puder...
-Vou tentar o meu melhor... mas não sei até onde consigo chegar. Espero ser útil, de qualquer forma.
-Agora vá... chame seu noivo. Quero saber como anda o tratamento.
Diogo deixa a sala. CORTA A CENA.

CENA 2: Victor inicia sua consulta com Valentim.
-Como você se sente hoje, Victor?
-Sem dúvidas, bem melhor que antes. Aquelas coisas que fiz parecem que foram feitas por outra pessoa, não por mim.
-Quando você está completamente em si, chega a ser difícil imaginar que tentaria suicídio. Talvez você possa combater essas crises trabalhando mais a sua autoconfiança... nunca te disseram isso na terapia?
-Disseram e continuam a dizer. Mas nem sempre é um caminho fácil, doutor Valentim... quando o sangue sobe na cabeça, eu esqueço de tudo. Me sinto um bosta, enganado e deixado pra trás por todo mundo que já passou na minha vida. Queria poder acabar com isso de uma vez por todas.
-Essas oscilações são perfeitamente normais, Victor. A única coisa atípica e preocupante nesses últimos dias foi a sua tentativa de suicídio. Você contou ao Diogo?
-Contei. Ele me fez prometer que jamais tentaria algo desse tipo outra vez. Claro, prometi a ele... não quero que ele sofra.
-Pois você deve prometer a si mesmo, não a ele. É por você mesmo, pela sua melhora, que você está aqui.
-Mas pensar nele me motiva a melhorar, doutor...
-Exatamente! Diogo deve ser uma motivação para você melhorar por si mesmo. Motivação sim, motivo da sua luta não. Você deve lutar por si mesmo, entende?
-Entendo. Mas confesso que me esqueço disso.
-É para isso que além do meu tratamento, você está na terapia. Mas como você passou por um descontrole que não estava previsto com a dosagem do medicamento que lhe receitei e como aumentar a dosagem desse medicamento é impossível, vou lhe receitar outro, de poucos ou nenhum efeito colateral.
Valentim faz a receita do novo medicamento.
-Vá amanhã mesmo à farmácia e mostre o carimbo do meu consultório ao farmacêutico. Assim, você ganha cinquenta por cento de desconto na compra desse medicamento, que é um pouco mais caro do que o primeiro. De qualquer forma, me mantenha informado sobre suas reações a esse medicamento. Mesmo sendo baixíssima a probabilidade, existe a possibilidade de haver efeitos colaterais, por isso preciso que você me garanta que vai me informar sobre qualquer mínima coisa.
-Claro que eu digo. Quanto a isso você pode ficar despreocupado. Espero que pelo menos eu consiga aprender a dominar os meus fantasmas de uma maneira mais eficaz de agora em diante.
-Com paciência, você consegue. Infelizmente, eu já estava fechando o consultório quando você e seu noivo chegaram e o nosso tempo já acabou. Nos vemos na próxima consulta.
-Muito obrigado, doutor Valentim.
-Não agradeça... melhore!
Os dois se despedem. CORTA A CENA.

CENA 3: No dia seguinte, Suzanne percebe que Márcio a olha com desaprovação.
-O que foi agora, Márcio? Desde ontem você fica me olhando com essa cara de quem tá me condenando e não diz quase nada...
-Você realmente perdeu noção das coisas, Suzanne... não é possível.
-Se você não falar nada com clareza, como é que eu vou adivinhar esses enigmas, me diz?
-Você tem noção do papelão a que você se prestou no casamento da Riva com o Vicente anteontem?
-Eu tinha que garantir que ninguém fosse desconfiar, ué.
-Ficou maluca? Jogou a inteligência pelo ralo do chuveiro? Agora mesmo que você abriu margem pra desconfiarem. Pra que forçar aquela intimidade com o Vicente? As fotos que saíram nos sites mostram que o Vicente tava constrangido e irritado com a situação. Teve até site de fofoca fazendo piada de você, sabia disso? Te chamando de entrona, penetra... e outras coisas menos cristãs.
-E me diz qual é o problema disso? Não sei se você percebeu, mas nesse caso, a fama me protege, nos protege, melhor dizendo. Resolveu bancar o moralista, agora? Não foquei no Haroldo porque o panaca não deu chance. É mais lerdo que lesma rastejando a cinquenta e quatro metros por hora. Alguma coisa eu tinha que fazer pra ficar bem na fita, né. Se o Vicente se incomodou o problema é dele, o que importa é que a Riva é minha amiga e acredita em mim!
-Acredita tanto que desconfiou da gargantilha que você resolveu usar pra provocar todo mundo naquela família e ainda sair de santinha...
-Eu confio no meu taco. Aquela lá mal sabe escrever o próprio nome, só aprendeu a ser fina porque eu e a tia dela ajudamos. Ela tem uma relação de gratidão comigo, não deixaria de acreditar em mim assim tão fácil.
-É, mas e se ela descobre que aquela é a gargantilha dela?
-Eu minto que fui enganada na loja, simples.
-Isso não convenceria nem a uma criança, Suzanne.
-O que você sugere que eu faça, então?
-Essa joia vale uma nota. Por que você não coloca na penhora? Você tem o nome limpo, mesmo... vai render uma grana legal pra gente.
-Até que você não é de todo um completo idiota inútil que só fala besteira... de vez em quando a luz da sabedoria te ilumina e você dá uma dentro. Quer saber? É exatamente isso que vou fazer. Pelo menos por enquanto, essa é uma ótima saída e assim eu tiro qualquer desconfiança de cima de mim...
CORTA A CENA.

CENA 4: Guilherme volta para a casa de Cláudio, que está se preparando para ir ao teatro. Bruno o recebe e Cláudio o beija em seguida.
-Você tá bem, Guilherme? - fala Cláudio, percebendo que Guilherme não está bem.
-Olha, eu sinto muito por aquela cena toda de ontem... eu não posso nem imaginar a minha vida mais longe de você, não posso te perder...
Guilherme se encolhe no sofá da sala e começa a ficar catatônico. Bruno se compadece da situação de Guilherme.
-É, Cláudio... isso vai acontecer outras vezes. Andei lendo sobre esquizofrenia e os sintomas negativos falam sobre catatonia e perda de contato com a realidade... corta o coração ver um cara jovem e cheio de vida desse jeito... - fala Bruno.
-Sabe, Bruno... eu achava que tava preparado pra isso, mas tou vendo que vai ser difícil. De qualquer forma eu nem penso na possibilidade de abandonar o Guilherme... é triste ver que de uma hora pra outra ele perde contato com esse mundo. Você me ajuda a levar ele pro quarto?
Os dois levam Guilherme cuidadosamente até o quarto.
-E o que a gente faz, liga pro psiquiatra dele?
-Ainda não. Falei com o doutor Álvaro, que acompanha ele. Só devemos chamar se for o caso dele ficar mais de um dia assim... Bruno, você cuida dele enquanto eu estiver lá no teatro? Eu sei que isso pode parecer abuso, mas...
-Não é abuso nenhum, Cláudio. Ele precisa de cuidados agora. Pode ir tranquilo que o Guilherme tá seguro...
-Tá bem... muito obrigado por existir, Bruno... não sei o que seria de mim sem você aqui. Preciso ir, nos vemos mais tarde.
Cláudio parte e Bruno cuida de Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas mais tarde, durante o intervalo para o lanche do ensaio do grupo de teatro, Laura procura Mara e Valentim, que conversam com Procópio naquele momento, no camarim.
-Interrompo a conversa de vocês?
-Não se preocupe, Laura... não estamos falando sobre nada que você já não saiba... - fala Mara.
-Pode falar, querida... eu sei de tudo o que é preciso saber. - fala Procópio.
-Então, gente... eu acho que fiz besteira ontem. Peguei o celular do Mateus enquanto ele tava no banho e encontrei um número residencial que tinha ligado pra ele. Peguei meu celular e liguei pra esse número. Um cara me atendeu e me fez ameaças, que eu sinceramente não levei a sério num primeiro momento, mas logo depois o Mateus saiu do banho e eu não percebi... ficou apavorado com o que me viu fazer e arrancou o celular da minha mão, desligando a ligação. Eu achei isso no mínimo esquisito. Aquele homem parecia ser alguém perigoso, porque Mateus ficou pálido, de tão apavorado. - fala Laura.
-Tudo que você relatou leva a crer que esse homem que assusta tanto Mateus só pode ser o chefe... - conclui Valentim.
-E o que eu faço diante disso?
-Nada, Laura. O melhor que você tem a fazer agora é recuar. Sabemos que esse “Chefe” é perigoso, mas não fazemos a mínima ideia de quem ele possa ser ainda. Se você chamou a atenção dele, isso já representa um risco. Você precisa nesse momento manter a discrição. - fala Mara.
CORTA A CENA.

CENA 6: Marcelo está navegando pela internet em seu notebook quando se depara com uma matéria de um site sensacionalista.
-Rafael, vem cá agora!
Rafael vai rapidamente até Marcelo.
-O que houve, amor?
-É melhor você sentar antes de eu te mostrar o que eu acabei de ver naquele site de fofoca...
-Ai, meu Deus... não me assusta.
-Cê lembra que a gente foi dar uma volta depois de ir ao supermercado, né?
-Sim, claro que lembro.
-Então olha só o que publicaram nessa matéria aqui...
Rafael olha e fica indignado.
-Foram paparazzi! Fotografaram a gente na saída do supermercado! E olha as insinuações que estão fazendo! Meu Deus do céu! A gente não tava fazendo nada demais!
-E eu não sei? Nem pegar na sua mão eu peguei em público. Mas que raio de coisa que a gente fez que chamou a atenção deles?
-Marcelo, isso tá com cheiro de coisa feita, armada por alguém.
-Ai, Rafa... não é pra tanto. Mas eu sei que eu fico indignado com isso.
-E eu, então? Esse tipo de insinuação pode ser danosa pra minha carreira!
Rafael sai dali atordoado. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus está deixando os estúdios, ao final da tarde, quando recebe uma ligação de “Chefe”.
-Fala, chefe... olha, eu sei que eu prometi controlar a Laura, mas ela fez aquilo quando eu tava no banho.
-Levasse o celular pro banho junto, animal! Mas pode deixar que pelo menos por enquanto eu não tou a fim de brincar de assustar essa garota metida a heroína de novela das sete.
-E posso saber por que me ligou, então?
-Pra te perguntar que palhaçada foi aquela de entregar onde o Marcelo e o Rafael costumavam fazer compras e vender a informação para aquele site de fofocas. Eu não te falei pra sossegar o facho, Mateus?
-Dessa vez você tá repreendendo a pessoa errada. Eu não tenho nada a ver com isso.
-Pra cima de mim, Mateus? Quem mais estaria interessado em levantar isso sobre eles?
-Deve ter mais gente, não sei! Mas muito me surpreende você me ligar bancando o moralizador por causa disso. Eu por acaso tou pedindo grana extra pra você? Não tou! O que eu faço ou deixo de fazer fora da organização, com o perdão da palavra, não é da sua conta!
-Não seria da minha conta se você não tivesse as responsabilidades que tem. Mas se você me garante que dessa vez não tem nada com isso, me resta acreditar.
-Você deve acreditar, chefe. Não tenho motivos pra mentir pra você. Meus planos pro Rafael são outros e eu ainda tou pensando no que eu vou fazer.
-Tá certo. Só não vai prejudicar seu trabalho comigo e com a organização.
-Quanto a isso fique tranquilo. Preciso desligar agora.
Mateus desliga. CORTA A CENA.

CENA 8: Já à noite, Victor vai com Diogo ao pub que ele costuma frequentar.
-Estou orgulhoso de você, meu amor... confesso que nem esperava que você viesse mais comigo.
-Eu devia isso a nós dois. Também preciso aprender a me divertir mais, a socializar, a viver mais leve, mais livre... depois, aqui tem cerveja sem álcool, você não disse?
-Exatamente. Você pode pedir uma já, se quiser.
-Deixa pra depois, Diogo. A gente mal chegou aqui.
-Verdade. E ainda nem começou o melhor da noite, meus amigos nem chegaram ainda. Você vai ver como aqui é um lugar ótimo. Daqui a pouco chegam as bandas que vão se apresentar ao longo da noite. E antes que você pense que é qualquer música ao vivo, você vai ver um ambiente completamente diferente. Aqui acontecem verdadeiros shows!
-Você vai se incomodar se eu me sentir cansado no meio da noite e não aguentar?
-Deixa disso, amor... eu vim com você e vou embora a hora que você quiser. Hoje eu tou mais aqui por você. Quando você for se acostumando com esse ambiente, você vai ver que a melhor coisa é ficar aqui até o dia raiar.
-O garçom tá passando... eu fico meio sem graça de chamar. Você chama ele pra mim?
-Claro. Peço a sua cerveja sem álcool?
-Por favor, Diogo...
Diogo chama o garçom. CORTA A CENA.

CENA 9: Rafael nota que Marcelo está evasivo antes de dormir.
-Tou te achando estranho comigo, amor... desde o meio da tarde.
-Deixa isso pra lá, Rafa... eu tou cansado. Tou precisando dormir... amanhã a gente conversa.
-Você sabe que eu detesto mistérios.
-Também detesto. Mas estou realmente cansado.
-Você não pode me deixar nessa curiosidade toda, dizer que a gente tem algo a conversar e deixar isso pra amanhã! Eu não vou pregar o olho desse jeito!
-Você quer mesmo saber o que é que você fez? Melhor seria dizer o que você não fez: você não tem um pingo de coragem de me assumir pra imprensa, seu covarde!
Rafael fica perplexo com a fala de Marcelo. FIM DO CAPÍTULO 53.

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