CENA 1: Suzanne segue falando e
Riva fica cada vez mais hipnotizada pelas lembranças da gargantilha.
Seu pensamento ganha voz.
“Essa gargantilha... se não
for a gargantilha que mamãe me deu antes de morrer, foi comprada no
mesmo lugar”.
Suzanne nota que Riva não
está prestando atenção no que ela diz.
-Alô! Terra chamando Riva,
oooi!
Riva volta a si.
-Ah... desculpe, querida. Me
distraí por um momento.
-Está certo... como eu
falava...
Riva interrompe a fala de
Suzanne.
-Espera. Eu preciso te fazer
uma pergunta. Aliás, antes dessa pergunta, um elogio: essa sua
gargantilha é mesmo muito bonita, sabia?
-Obrigada, querida. Mas o que
você queria me perguntar, Riva?
-De onde ela veio. Sabe o que
é? É que ela é muito parecida, pra não dizer idêntica à
gargantilha que minha mãe me deu no dia que morreu.
Suzanne finge espanto.
-Oh... sério? Como isso é
possível?
-Eu não sei. Mas você
poderia me dizer em que joalheria comprou essa gargantilha?
-Ah, claro que posso dizer,
Riva. Era só isso? Comprei no shopping, acredita? Nem joia de
verdade isso daqui é. Parece ouro, mas é bijuteria, não é
incrível? Comprei faz umas semanas.
Riva segue desconfiada.
-Engraçado... olhando daqui
parece ouro de verdade.
Suzanne tenta desconversar.
-A intenção de uma bijuteria
bem feita é justamente essa, não é? Parecer uma joia verdadeira e
brilhar aos nossos olhos...
-Sim, querida... mas uma
bijuteria rapidamente perde o brilho, fica opaca. Essa gargantilha
brilha como ouro, não como imitação de ouro.
-Como é que você sabe tanto
sobre joias?
-Não sou eu que sei tanto
assim, Suzanne... minha falecida mãe, dona Marinete, é que era
fascinada por joias. Comprou uma gargantilha igual a essa com o
primeiro salário que recebeu. Ela sempre me falava sobre a diferença
entre joias e bijuterias.
Suzanne percebe que Riva
continua desconfiada e tenta reverter a situação.
-Deve ter alguma explicação...
de repente quem criou essa bijuteria se inspirou no design de uma
joia antiga, não é?
-É... deve ter sido. De
qualquer forma, essa é uma gargantilha muito bonita. Esse botão no
meio dela é bem trabalhado nos detalhes, não é? Além de ser
grandinho... já pensou se cabe uma foto 3 por 4 aí?
-Caberia, Riva... mas isso
daqui é fechado, né...
-Sei. Bem, mas vamos voltar ao
assunto... e sua mãe? Está bem depois do falecimento do seu pai?
-Ah... sabe como é... ela vai
levando como pode...
As duas seguem a conversar e
Riva olha desconfiada para a gargantilha. CORTA A CENA.
CENA 2: Mateus está aflito e
Laura percebe.
-É impressão minha ou você
tá assustado, Mateus?
-Assustado, eu? Por que eu
estaria assustado?
-Não sei... me diz você. Tem
motivos pra estar assustado, aflito ou qualquer coisa assim?
-Olha, Laura... eu
sinceramente gostaria de te dizer muito mais do que posso. Mas não é
bem assustado que estou... na realidade, é meio arrependido.
-Será que pelo menos uma vez
na vida você foi tomado por alguma consciência? Ou será que esse
arrependimento só surgiu depois que eu te contei que fui falar pro
Rafael pra abrir o olho com você?
-Não tem nada disso, Laura.
Já pedi pra gente enterrar esse assunto.
-E tem a ver com o que?
-Com o fato de que eu me sinto
um impostor. Um embuste, uma fraude. Uma mentira.
-Também não é pra tanto,
querido... você pode não ter agido pelos meios mais ortodoxos, mas
daí a pensar tudo isso...
-Me surpreende você tendo
esse olhar generoso sobre mim agora, depois de tudo...
-Mateus... você sabe que eu
gosto de você.
-O fato é que eu sou a
mentira aqui. Uma pessoa de mentira. Tive a capacidade de mentir pra
você, a quem eu amo tanto. Que espécie de homem sou eu?
-Olha, Mateus... existe uma
distância bem grande entre arrependimento e culpa. Não estou certa
do que você está sentindo no momento... se é culpa ou
arrependimento sincero.
-Não importa. Isso já tá
acabando comigo.
-Você fala como se estivesse
desistindo da vida. Nunca te vi desse jeito.
-Eu não sei se saberia
desistir da vida. Não tenho coragem nem pra isso. Sou um covarde...
isso é o que eu sempre fui. No fundo eu invejei o Cláudio... hoje,
reconheço isso.
-A gente não pode consertar o
passado... mas pode construir um novo presente. O nosso futuro sempre
depende de nós...
-Eu tenho medo, Laura. Muito
medo.
-Mas medo do que?
-Não sei dizer.
-Não quer dizer ou não pode?
Tem algo que te impede?
-Laura... deixa isso pra lá...
só fica aqui comigo, não me deixa só...
Laura afaga Mateus. CORTA A
CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio percebe que Bruno já prepara o café na cozinha
ao se acordar.
-Pulou da cama hoje, Bruno?
-Mal preguei o olho...
-O sofá tá desconfortável?
Se estiver me fala que eu vejo se tenho como resolver isso...
-Não é isso, Cláudio. Não
consegui dormir direito pensando em tudo. Cheguei à conclusão de
que tou sendo inconveniente nessa casa... ela é sua. Não consegui
sequer um emprego fixo até agora...
-Pare com isso, Bruno. Você é
sempre tão gentil, prestativo... desde que se mudou pra cá faz
quase todas as tarefas de casa sem eu nem pedir. Você faz bem pra
esse ambiente... e me faz bem também.
-Mas estou começando a sobrar
por aqui. Não quero me tornar uma presença indesejada. Você tá
namorando com o Guilherme e a coisa parece estar ficando firme. Acho
que ele não gosta muito de mim.
-O que o Guilherme acha ou
deixa de achar de você é problema dele, o seu amigo aqui sou eu.
Ele não tem que se meter nisso... cada coisa no seu lugar.
-Mas e se ele acabar te
convencendo a me mandar embora daqui?
-Isso não tem a mínima
chance de acontecer, Bruno... acredite.
-Não sei se pago pra ver.
Antes disso, prefiro ir embora. Acho melhor eu ir arrumando as minhas
poucas malas... até nisso eu te explorei, Cláudio. Será que você
não vê que vai ser melhor sem mim aqui? Até minhas roupas foi você
quem comprou!
-Fiz porque quis, ninguém me
amarrou e me obrigou. Por favor, Bruno... não vá embora. Não me
deixe sozinho aqui nessa casa...
-Sozinho você não vai ficar.
Tem o seu namorado...
-Mas ele precisa de cuidados.
Você sabe que ele é esquizofrênico. E se eu não der conta
sozinho?
-E a minha vida, Cláudio,
como é que fica? Parada? Vou passar o resto da vida ajudando vocês?
E os meus sonhos, e os meus planos?
-Nisso você tem razão... mas
por favor, eu te imploro. Não vai embora agora! Pensa nisso com mais
calma, com carinho. Eu preciso de você... eu realmente preciso de
você aqui comigo.
-Você me confunde com essas
palavras, Cláudio. Nós somos amigos, lembra?
-Você me entendeu, Bruno.
Você é, além da Laura e do Marcelo, a única pessoa que confio.
Não me deixa aqui... por favor!
-Tá certo. Eu vou ficar, por
enquanto. Mais adiante eu vejo como a gente resolve minha situação.
Só não espere que eu fique pra sempre aqui. Uma hora a minha vida
vai me chamar... e eu não vou ignorar o seu chamado. Por
consideração e por amor a você, meu amigo, eu fico. Sinto que você
tá precisando de mim aqui...
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 4: Riva acorda-se antes
de Vicente e vai ao quarto de Marcelo e Rafael, que já estão
acordados.
-Com licença, queridos...
Rafael, posso roubar meu filho por um momento? - fala Riva.
-Claro, prima... o filho é
seu! - fala Rafael.
Marcelo sai do quarto.
-Tá precisando falar comigo,
mãe?
-Na verdade tou precisando te
perguntar umas coisas.
-Sobre o que?
-Sobre a Suzanne.
-Isso aqui não é uma
pegadinha sua, né dona Riva Maria?
-Claro que não, meu filho...
eu quero que você me diga o que você sabe sobre a Suzanne.
-Por que?
-Tenho meus motivos. Talvez
ela não seja essa pessoa doce e gentil que pintei.
-Com base no que você tá
afirmando isso, mãe?
-Desconfianças...
desconfianças que prefiro não falar agora. Anda, filho... o que
você sabe sobre ela?
-Saber com certeza, nem eu,
nem o Rafael, muito menos o Vicente sabemos... mas o fato é que logo
que você e o Vicente começaram o namoro de vocês, eu e o Rafa
flagramos algumas situações em que a Suzanne claramente parecia
estar... bem, como é que vou dizer isso... dando em cima do Vicente,
entende? E o Vicente sempre se esquivando, tentando escapar... ainda
assim, tudo o que nós temos é o pouco que a gente viu. Prova mesmo
a gente não tem. Mas mãe... ouve o seu filho... a Suzanne não é o
que parece ser. Abre teu olho com ela. Pelo menos tenta.
-Talvez meus olhos estejam
começando a se abrir sobre a Suzanne, filho... só preciso de
confirmações e provas.
-Boa sorte nisso, mãe... você
vai precisar. Só espero que isso não prejudique o meu irmãozinho
ou irmãzinha que tá aí na sua barriga.
-Pode deixar que eu sei ser
fina, filha... agora vai lá... volta pro teu namorado. Desculpa
interromper o momento de vocês.
-Que isso, mãe... outra hora
chamo o Rafa pra falar contigo sobre tudo isso...
Marcelo volta para o quarto.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Haroldo
está passeando pela orla de Copacabana quando é abordado por
Mateus.
-Oi, Rodrigo... digo, Haroldo.
-Mateus... não esperava te
ver aqui. Já ficou sabendo de tudo, pelo visto.
-Sim. Confesso que tudo isso
me deixou bastante espantado, mesmo sabendo que o chefe faz dessas
crueldades... não imaginei que ele chegaria a tanto.
-Mas vem cá... você não
deveria estar nos estúdios da emissora agora?
-Hoje não tenho escala de
trabalho. A direção me liberou.
-Entendi.
-Olha, Haroldo... infelizmente
esse nosso encontro não foi por acaso. Na verdade eu vim por ordens
do chefe.
-De novo? Ele tá bem ciente
de que tou fazendo direitinho o que ele pediu. Tenho amor à vida.
-Ele sabe disso. Na verdade
ele tá encontrando dificuldades estratégicas com o pessoal que
ficou na organização. Ele tá pensando em te chamar de volta e
queria saber se você toparia dar uma colaborada, uma ajuda, pelo
menos enquanto as coisas não se aprumam na organização.
-Deixa ver se entendi...
parece que o jogo virou mesmo, hein? Ele tá pedindo? Não tá
mandando? Ele sempre foi de dar ordens... não tou entendendo.
-Pra você ver... acho que no
fundo ele tem consideração por você.
-Se tem uma coisa que o chefe
não tem pelas pessoas, é consideração.
-Mas diga, Haroldo... você
pensa em ajudar a organização de novo? Ele quer que eu repasse sua
resposta ainda hoje.
-Sem chance. Já que ele me
deu a liberdade de escolher, eu escolho continuar vivendo em paz com
minha consciência e com os meus. Diga a ele que não aceito nem por
decreto judicial. Ele que se vire com os homens que restaram...
Haroldo segue correndo na
orla. CORTA A CENA.
CENA 6: Guilherme resolve ir
acompanhar o ensaio de Cláudio na companhia de teatro e é bem
recebido por todos, porém se recolhe em um canto afastado de todos
para acompanhar o ensaio de Cláudio. Instantes se passam e os atores
vão lanchar. Cláudio vai até Guilherme.
-Que bom que você veio,
Guilherme!
-Você estava ótimo. De
verdade.
-E olha que o dia de ensaios
mal começou! Você não viu nada, ainda...
-Sabe que eu notei uma coisa?
Não pense que estou cobrando nada, mas... você me pediu em namoro,
começamos a namorar... e você não me chama de “meu amor”.
-Eu preciso de um pouco mais
de tempo pra dizer isso naturalmente, Guilherme...
-Eu entendo. E respeito... mas
você me ama?
-Se eu não te amasse, não
teria te pedido em namoro. Claro que eu te amo.
-Você promete que não me
deixa?
-Seu bobo... não vou te
deixar tão fácil assim. Agora vem comigo na lanchonete que eu tou
morto de fome!
Cláudio parte com Guilherme
para uma lanchonete. CORTA A CENA.
CENA 7: Riva conversa com
Vicente, Marcelo e Rafael sobre Suzanne.
-Então é isso, meus
queridos... o fato é que comecei a notar que talvez a Suzanne não
seja essa pessoa doce e sempre querida que tanto se esforça em
parecer ser...
-Você tá certa de começar a
abrir os olhos, prima... não é birra minha, mas sempre achei a
simpatia da Suzanne forçada demais. - fala Rafael.
-De qualquer forma, meu
amor... acho mais prudente que você seja cautelosa com ela.
Desconfianças são desconfianças e até o momento a gente não tem
prova de nada que deponha efetivamente contra ela. Acho melhor a
gente evitar acusações diretamente a ela, porque ela pode muito bem
virar o jogo a seu favor e causar problemas... - alerta Vicente.
-Sabe que você tá certo,
amor? Porque se a Suzanne não é essa coisa boa toda que quer
mostrar ser, a gente não sabe exatamente o que está por debaixo
dessa capa, dessa máscara que ela usa diante da gente... mas tem uma
coisa que me deixa pensativa... sobre o pai dela que faleceu... acho
que a gente devia dar um tempo, esperar ela se recuperar desse
luto... - completa Riva.
-Você acreditou nessa
história, mãe? Algo me diz que esse pai nem existia... - fala
Marcelo.
Os três seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois,
Valquíria e Marion chegam exaustas em casa e são recebidas por
Riva, Marcelo, Vicente, Rafael, Ivan, Haroldo e Mariana.
-Dia puxado esse de vocês,
hein? - fala Rafael.
-Nem me fala, filho. As
gravações estão ótimas, mas me esqueci de como isso cansava... -
fala Marion.
-E eu achando que gravar
novela era fichinha. Mas tou gostando desse cansaço. A direção tá
elogiando nosso empenho... - continua Valquíria.
-Viu só do que você se
livrou, amor? Se já era puxado gravar aquela novela da tarde,
imagina o volume de cenas diárias de uma novela das nove? - fala
Marcelo a Rafael.
-Nossa... ainda bem que ainda
tou de férias. Não sei se dava conta disso, não... - fala Rafael.
-E eu achando que gravar era
tão fácil feito ser figurante. Ou eu que tou velha, né... foram
mais de quarenta anos longe de tudo isso... - fala Valquíria.
-Não, mãe... as coisas
realmente são relativamente mais simples pros figurantes. Eles
acordam tão cedo quanto a gente ou mais ainda, mas tem muito mais
pausas descanso que nós... - esclarece Marion.
-Então não mudou muita coisa
dos anos setenta pra cá... - constata Valquíria.
Todos seguem conversando
animadamente, antes de irem para seus quartos dormir. CORTA A CENA.
CENA 9: Dias depois.
Chega o dia do casamento de
Vicente e Riva e Vicente fica aflito com a demora de Riva em chegar à
igreja onde será celebrado o casamento. Marion e Ivan notam a
ansiedade de Ivan.
-Querido, você precisa se
acalmar. Até parece que não sabe que é quase sagrado que as noivas
devem se atrasar um pouco... - fala Marion.
-É, mas isso funciona bem na
ficção. Na vida real eu tou tremendo na base... não pensei que
casar fosse mexer tanto com minhas emoções... - desabafa Vicente.
-Calma, meu amigo. Daqui a
pouco você vai estar casado com a Riva... - fala Ivan.
Riva chega à porta da igreja,
deslumbrante em seu vestido e é levada ao altar por Marcelo. O padre
dá início à cerimônia de casamento entre Riva e Vicente e os dois
se emocionam diante um do outro. FIM DO CAPÍTULO 51.
Nenhum comentário:
Postar um comentário