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quarta-feira, 13 de julho de 2016

CAPÍTULO 51

CENA 1: Suzanne segue falando e Riva fica cada vez mais hipnotizada pelas lembranças da gargantilha. Seu pensamento ganha voz.
“Essa gargantilha... se não for a gargantilha que mamãe me deu antes de morrer, foi comprada no mesmo lugar”.
Suzanne nota que Riva não está prestando atenção no que ela diz.
-Alô! Terra chamando Riva, oooi!
Riva volta a si.
-Ah... desculpe, querida. Me distraí por um momento.
-Está certo... como eu falava...
Riva interrompe a fala de Suzanne.
-Espera. Eu preciso te fazer uma pergunta. Aliás, antes dessa pergunta, um elogio: essa sua gargantilha é mesmo muito bonita, sabia?
-Obrigada, querida. Mas o que você queria me perguntar, Riva?
-De onde ela veio. Sabe o que é? É que ela é muito parecida, pra não dizer idêntica à gargantilha que minha mãe me deu no dia que morreu.
Suzanne finge espanto.
-Oh... sério? Como isso é possível?
-Eu não sei. Mas você poderia me dizer em que joalheria comprou essa gargantilha?
-Ah, claro que posso dizer, Riva. Era só isso? Comprei no shopping, acredita? Nem joia de verdade isso daqui é. Parece ouro, mas é bijuteria, não é incrível? Comprei faz umas semanas.
Riva segue desconfiada.
-Engraçado... olhando daqui parece ouro de verdade.
Suzanne tenta desconversar.
-A intenção de uma bijuteria bem feita é justamente essa, não é? Parecer uma joia verdadeira e brilhar aos nossos olhos...
-Sim, querida... mas uma bijuteria rapidamente perde o brilho, fica opaca. Essa gargantilha brilha como ouro, não como imitação de ouro.
-Como é que você sabe tanto sobre joias?
-Não sou eu que sei tanto assim, Suzanne... minha falecida mãe, dona Marinete, é que era fascinada por joias. Comprou uma gargantilha igual a essa com o primeiro salário que recebeu. Ela sempre me falava sobre a diferença entre joias e bijuterias.
Suzanne percebe que Riva continua desconfiada e tenta reverter a situação.
-Deve ter alguma explicação... de repente quem criou essa bijuteria se inspirou no design de uma joia antiga, não é?
-É... deve ter sido. De qualquer forma, essa é uma gargantilha muito bonita. Esse botão no meio dela é bem trabalhado nos detalhes, não é? Além de ser grandinho... já pensou se cabe uma foto 3 por 4 aí?
-Caberia, Riva... mas isso daqui é fechado, né...
-Sei. Bem, mas vamos voltar ao assunto... e sua mãe? Está bem depois do falecimento do seu pai?
-Ah... sabe como é... ela vai levando como pode...
As duas seguem a conversar e Riva olha desconfiada para a gargantilha. CORTA A CENA.

CENA 2: Mateus está aflito e Laura percebe.
-É impressão minha ou você tá assustado, Mateus?
-Assustado, eu? Por que eu estaria assustado?
-Não sei... me diz você. Tem motivos pra estar assustado, aflito ou qualquer coisa assim?
-Olha, Laura... eu sinceramente gostaria de te dizer muito mais do que posso. Mas não é bem assustado que estou... na realidade, é meio arrependido.
-Será que pelo menos uma vez na vida você foi tomado por alguma consciência? Ou será que esse arrependimento só surgiu depois que eu te contei que fui falar pro Rafael pra abrir o olho com você?
-Não tem nada disso, Laura. Já pedi pra gente enterrar esse assunto.
-E tem a ver com o que?
-Com o fato de que eu me sinto um impostor. Um embuste, uma fraude. Uma mentira.
-Também não é pra tanto, querido... você pode não ter agido pelos meios mais ortodoxos, mas daí a pensar tudo isso...
-Me surpreende você tendo esse olhar generoso sobre mim agora, depois de tudo...
-Mateus... você sabe que eu gosto de você.
-O fato é que eu sou a mentira aqui. Uma pessoa de mentira. Tive a capacidade de mentir pra você, a quem eu amo tanto. Que espécie de homem sou eu?
-Olha, Mateus... existe uma distância bem grande entre arrependimento e culpa. Não estou certa do que você está sentindo no momento... se é culpa ou arrependimento sincero.
-Não importa. Isso já tá acabando comigo.
-Você fala como se estivesse desistindo da vida. Nunca te vi desse jeito.
-Eu não sei se saberia desistir da vida. Não tenho coragem nem pra isso. Sou um covarde... isso é o que eu sempre fui. No fundo eu invejei o Cláudio... hoje, reconheço isso.
-A gente não pode consertar o passado... mas pode construir um novo presente. O nosso futuro sempre depende de nós...
-Eu tenho medo, Laura. Muito medo.
-Mas medo do que?
-Não sei dizer.
-Não quer dizer ou não pode? Tem algo que te impede?
-Laura... deixa isso pra lá... só fica aqui comigo, não me deixa só...
Laura afaga Mateus. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Cláudio percebe que Bruno já prepara o café na cozinha ao se acordar.
-Pulou da cama hoje, Bruno?
-Mal preguei o olho...
-O sofá tá desconfortável? Se estiver me fala que eu vejo se tenho como resolver isso...
-Não é isso, Cláudio. Não consegui dormir direito pensando em tudo. Cheguei à conclusão de que tou sendo inconveniente nessa casa... ela é sua. Não consegui sequer um emprego fixo até agora...
-Pare com isso, Bruno. Você é sempre tão gentil, prestativo... desde que se mudou pra cá faz quase todas as tarefas de casa sem eu nem pedir. Você faz bem pra esse ambiente... e me faz bem também.
-Mas estou começando a sobrar por aqui. Não quero me tornar uma presença indesejada. Você tá namorando com o Guilherme e a coisa parece estar ficando firme. Acho que ele não gosta muito de mim.
-O que o Guilherme acha ou deixa de achar de você é problema dele, o seu amigo aqui sou eu. Ele não tem que se meter nisso... cada coisa no seu lugar.
-Mas e se ele acabar te convencendo a me mandar embora daqui?
-Isso não tem a mínima chance de acontecer, Bruno... acredite.
-Não sei se pago pra ver. Antes disso, prefiro ir embora. Acho melhor eu ir arrumando as minhas poucas malas... até nisso eu te explorei, Cláudio. Será que você não vê que vai ser melhor sem mim aqui? Até minhas roupas foi você quem comprou!
-Fiz porque quis, ninguém me amarrou e me obrigou. Por favor, Bruno... não vá embora. Não me deixe sozinho aqui nessa casa...
-Sozinho você não vai ficar. Tem o seu namorado...
-Mas ele precisa de cuidados. Você sabe que ele é esquizofrênico. E se eu não der conta sozinho?
-E a minha vida, Cláudio, como é que fica? Parada? Vou passar o resto da vida ajudando vocês? E os meus sonhos, e os meus planos?
-Nisso você tem razão... mas por favor, eu te imploro. Não vai embora agora! Pensa nisso com mais calma, com carinho. Eu preciso de você... eu realmente preciso de você aqui comigo.
-Você me confunde com essas palavras, Cláudio. Nós somos amigos, lembra?
-Você me entendeu, Bruno. Você é, além da Laura e do Marcelo, a única pessoa que confio. Não me deixa aqui... por favor!
-Tá certo. Eu vou ficar, por enquanto. Mais adiante eu vejo como a gente resolve minha situação. Só não espere que eu fique pra sempre aqui. Uma hora a minha vida vai me chamar... e eu não vou ignorar o seu chamado. Por consideração e por amor a você, meu amigo, eu fico. Sinto que você tá precisando de mim aqui...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 4: Riva acorda-se antes de Vicente e vai ao quarto de Marcelo e Rafael, que já estão acordados.
-Com licença, queridos... Rafael, posso roubar meu filho por um momento? - fala Riva.
-Claro, prima... o filho é seu! - fala Rafael.
Marcelo sai do quarto.
-Tá precisando falar comigo, mãe?
-Na verdade tou precisando te perguntar umas coisas.
-Sobre o que?
-Sobre a Suzanne.
-Isso aqui não é uma pegadinha sua, né dona Riva Maria?
-Claro que não, meu filho... eu quero que você me diga o que você sabe sobre a Suzanne.
-Por que?
-Tenho meus motivos. Talvez ela não seja essa pessoa doce e gentil que pintei.
-Com base no que você tá afirmando isso, mãe?
-Desconfianças... desconfianças que prefiro não falar agora. Anda, filho... o que você sabe sobre ela?
-Saber com certeza, nem eu, nem o Rafael, muito menos o Vicente sabemos... mas o fato é que logo que você e o Vicente começaram o namoro de vocês, eu e o Rafa flagramos algumas situações em que a Suzanne claramente parecia estar... bem, como é que vou dizer isso... dando em cima do Vicente, entende? E o Vicente sempre se esquivando, tentando escapar... ainda assim, tudo o que nós temos é o pouco que a gente viu. Prova mesmo a gente não tem. Mas mãe... ouve o seu filho... a Suzanne não é o que parece ser. Abre teu olho com ela. Pelo menos tenta.
-Talvez meus olhos estejam começando a se abrir sobre a Suzanne, filho... só preciso de confirmações e provas.
-Boa sorte nisso, mãe... você vai precisar. Só espero que isso não prejudique o meu irmãozinho ou irmãzinha que tá aí na sua barriga.
-Pode deixar que eu sei ser fina, filha... agora vai lá... volta pro teu namorado. Desculpa interromper o momento de vocês.
-Que isso, mãe... outra hora chamo o Rafa pra falar contigo sobre tudo isso...
Marcelo volta para o quarto. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas depois, Haroldo está passeando pela orla de Copacabana quando é abordado por Mateus.
-Oi, Rodrigo... digo, Haroldo.
-Mateus... não esperava te ver aqui. Já ficou sabendo de tudo, pelo visto.
-Sim. Confesso que tudo isso me deixou bastante espantado, mesmo sabendo que o chefe faz dessas crueldades... não imaginei que ele chegaria a tanto.
-Mas vem cá... você não deveria estar nos estúdios da emissora agora?
-Hoje não tenho escala de trabalho. A direção me liberou.
-Entendi.
-Olha, Haroldo... infelizmente esse nosso encontro não foi por acaso. Na verdade eu vim por ordens do chefe.
-De novo? Ele tá bem ciente de que tou fazendo direitinho o que ele pediu. Tenho amor à vida.
-Ele sabe disso. Na verdade ele tá encontrando dificuldades estratégicas com o pessoal que ficou na organização. Ele tá pensando em te chamar de volta e queria saber se você toparia dar uma colaborada, uma ajuda, pelo menos enquanto as coisas não se aprumam na organização.
-Deixa ver se entendi... parece que o jogo virou mesmo, hein? Ele tá pedindo? Não tá mandando? Ele sempre foi de dar ordens... não tou entendendo.
-Pra você ver... acho que no fundo ele tem consideração por você.
-Se tem uma coisa que o chefe não tem pelas pessoas, é consideração.
-Mas diga, Haroldo... você pensa em ajudar a organização de novo? Ele quer que eu repasse sua resposta ainda hoje.
-Sem chance. Já que ele me deu a liberdade de escolher, eu escolho continuar vivendo em paz com minha consciência e com os meus. Diga a ele que não aceito nem por decreto judicial. Ele que se vire com os homens que restaram...
Haroldo segue correndo na orla. CORTA A CENA.

CENA 6: Guilherme resolve ir acompanhar o ensaio de Cláudio na companhia de teatro e é bem recebido por todos, porém se recolhe em um canto afastado de todos para acompanhar o ensaio de Cláudio. Instantes se passam e os atores vão lanchar. Cláudio vai até Guilherme.
-Que bom que você veio, Guilherme!
-Você estava ótimo. De verdade.
-E olha que o dia de ensaios mal começou! Você não viu nada, ainda...
-Sabe que eu notei uma coisa? Não pense que estou cobrando nada, mas... você me pediu em namoro, começamos a namorar... e você não me chama de “meu amor”.
-Eu preciso de um pouco mais de tempo pra dizer isso naturalmente, Guilherme...
-Eu entendo. E respeito... mas você me ama?
-Se eu não te amasse, não teria te pedido em namoro. Claro que eu te amo.
-Você promete que não me deixa?
-Seu bobo... não vou te deixar tão fácil assim. Agora vem comigo na lanchonete que eu tou morto de fome!
Cláudio parte com Guilherme para uma lanchonete. CORTA A CENA.

CENA 7: Riva conversa com Vicente, Marcelo e Rafael sobre Suzanne.
-Então é isso, meus queridos... o fato é que comecei a notar que talvez a Suzanne não seja essa pessoa doce e sempre querida que tanto se esforça em parecer ser...
-Você tá certa de começar a abrir os olhos, prima... não é birra minha, mas sempre achei a simpatia da Suzanne forçada demais. - fala Rafael.
-De qualquer forma, meu amor... acho mais prudente que você seja cautelosa com ela. Desconfianças são desconfianças e até o momento a gente não tem prova de nada que deponha efetivamente contra ela. Acho melhor a gente evitar acusações diretamente a ela, porque ela pode muito bem virar o jogo a seu favor e causar problemas... - alerta Vicente.
-Sabe que você tá certo, amor? Porque se a Suzanne não é essa coisa boa toda que quer mostrar ser, a gente não sabe exatamente o que está por debaixo dessa capa, dessa máscara que ela usa diante da gente... mas tem uma coisa que me deixa pensativa... sobre o pai dela que faleceu... acho que a gente devia dar um tempo, esperar ela se recuperar desse luto... - completa Riva.
-Você acreditou nessa história, mãe? Algo me diz que esse pai nem existia... - fala Marcelo.
Os três seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, Valquíria e Marion chegam exaustas em casa e são recebidas por Riva, Marcelo, Vicente, Rafael, Ivan, Haroldo e Mariana.
-Dia puxado esse de vocês, hein? - fala Rafael.
-Nem me fala, filho. As gravações estão ótimas, mas me esqueci de como isso cansava... - fala Marion.
-E eu achando que gravar novela era fichinha. Mas tou gostando desse cansaço. A direção tá elogiando nosso empenho... - continua Valquíria.
-Viu só do que você se livrou, amor? Se já era puxado gravar aquela novela da tarde, imagina o volume de cenas diárias de uma novela das nove? - fala Marcelo a Rafael.
-Nossa... ainda bem que ainda tou de férias. Não sei se dava conta disso, não... - fala Rafael.
-E eu achando que gravar era tão fácil feito ser figurante. Ou eu que tou velha, né... foram mais de quarenta anos longe de tudo isso... - fala Valquíria.
-Não, mãe... as coisas realmente são relativamente mais simples pros figurantes. Eles acordam tão cedo quanto a gente ou mais ainda, mas tem muito mais pausas descanso que nós... - esclarece Marion.
-Então não mudou muita coisa dos anos setenta pra cá... - constata Valquíria.
Todos seguem conversando animadamente, antes de irem para seus quartos dormir. CORTA A CENA.

CENA 9: Dias depois.
Chega o dia do casamento de Vicente e Riva e Vicente fica aflito com a demora de Riva em chegar à igreja onde será celebrado o casamento. Marion e Ivan notam a ansiedade de Ivan.
-Querido, você precisa se acalmar. Até parece que não sabe que é quase sagrado que as noivas devem se atrasar um pouco... - fala Marion.
-É, mas isso funciona bem na ficção. Na vida real eu tou tremendo na base... não pensei que casar fosse mexer tanto com minhas emoções... - desabafa Vicente.
-Calma, meu amigo. Daqui a pouco você vai estar casado com a Riva... - fala Ivan.
Riva chega à porta da igreja, deslumbrante em seu vestido e é levada ao altar por Marcelo. O padre dá início à cerimônia de casamento entre Riva e Vicente e os dois se emocionam diante um do outro. FIM DO CAPÍTULO 51.

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