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sábado, 9 de julho de 2016

CAPÍTULO 48

CENA 1: Valentim fica admirado com a coragem de Raquel.
-Confesso que não estava esperando por essa resposta, Raquel. Fiz a proposta porque de fato eu vi a vocação em você, mas essa sua decisão corajosa me surpreendeu positivamente. Essa sua postura fala mais sobre você do que você possa imaginar. Pelo visto terei uma brilhante colega em breve! - se anima Valentim.
-Pensei muito em tudo antes de dormir. Inclusive demorei a pregar o olho, de tanto que fiquei pensando na proposta. Comecei a considerar todas as vezes que eu ajudei as minhas vizinhas a solucionar pequenos casos, mistérios, essas coisas. E entendi que eu nasci pra isso. Vai ser algo completamente novo na minha vida, ainda mais a essa altura...
-Você se prende demais nesse conceito de idade. O que importa é que você é jovial, bem disposta e parece ter muita vontade de aprender.
-Sim. Mas nem sei por onde começar, Valentim.
-Não se preocupe. Você vai ser devidamente instruída por mim.
-Por mim, eu começava hoje mesmo. Como sei que as coisas levam mais tempo que isso, quero poder começar a colaborar com você o quanto antes.
-Falta ainda eu te apresentar para Mara, que é minha companheira na Polícia Federal. Grande investigadora, por sinal.
-Já estou ficando curiosa.
-Depois disso a gente vai te passando outras instruções.
-Certo. Mas não tem nenhuma instrução que você possa me passar agora?
-Eu posso te dar umas dicas, pra ser sincero.
-Vou querer ouvir cada uma delas.
-Você é mesmo porreta, mulher! Vamos lá... primeira coisa é que você vai se colocada em “teste”, para ver se você consegue solucionar alguns casos meus que deixei arquivados aqui. Não vou te dar as respostas, óbvio, vou separar o material que contém apenas as pistas e então você vai chegando às suas conclusões. Passando por essa fase inicial, que espero que seja com sucesso, você vai a campo comigo e com a Mara... ou sem a gente, mas orientada por nós e com um distintivo provisório que tenho como conseguir pra você dentro da lei. Se você for bem em tudo isso e tiver a convicção de que quer continuar, vai ser mamão com mel pra você passar no concurso depois...
-Eu tou achando tudo isso muito interessante, de verdade!
Valentim segue a passar orientações sobre os primeiros passos de Raquel como investigadora. CORTA A CENA.

CENA 2: Já de volta em casa, Rafael e Marcelo vão à edícula e encontram Haroldo pensativo por lá.
-Ué, mano... o que te deu? Parece que tá com cara de velório... - constata Rafael.
-Rafa tem razão, Haroldo... você parece triste... - concorda Marcelo.
-Vocês se importam se eu desabafar um pouco com vocês? Tou realmente precisando... - fala Haroldo.
-Que isso, mano... sempre! - fala Rafael.
-Eu me arrependo muito de tudo que acabei fazendo o Cláudio passar... ele não merecia ter sido feito de idiota. Mas eu não menti pra ele porque eu quis... simplesmente não tive saída e, por mais que eu explique isso a ele, acho que ele nunca vai acreditar ou entender. E o pior disso é que eu não tiro a razão dele. Quem é que acreditaria? Eu nunca consigo falar toda a verdade sobre tudo o que me aconteceu nesses dois anos...
Haroldo começa a chorar. Marcelo e Rafael o afagam.
-Deixa disso, cunhado... - tenta consolar Marcelo.
-Vocês foram lá, não foram? - pergunta Haroldo.
-Fomos... - fala Rafael.
-Ele perguntou por mim? Mencionou alguma coisa sobre eu ter levado ele e o Bruno de volta pra casa?
-Haroldo, meu mano véio... vou ser sincero: ele mencionou só por cima. Ficou agradecido pela carona. Mas parou por aí. O Marcelo até deu uma insistida, mas o Cláudio pediu pra gente mudar de assunto quando o seu nome foi tocado. - esclarece Rafael.
-Eu imaginei. Ele tem dificuldade de passar uma borracha por cima das coisas. Também não é pra menos... ele pensava que eu me chamava Rodrigo Bernardes. Pensava que eu trabalhava fora e viajava a trabalho. Quando na verdade eu estava... bem, acho melhor parar por aqui. Tem algumas coisas que eu prefiro não falar, nem pra vocês. Tenho medo de colocar a gente em risco por causa das burradas do passado.
-Você fica com essas meias palavras, mano... o tempo todo. Só me responde uma coisa: você não consegue falar tudo porque tem alguém te ameaçando ou ameaçando a gente se você abrir a boca e contar toda a verdade? - questiona Rafael.
Haroldo faz sinal afirmativo com a cabeça.
-E o pai sabe disso? - prossegue Rafael.
-Sabe até onde contei. Claro que não dava pra falar muita coisa. Você não conhece nosso pai? Na primeira oportunidade ele ia entregar tudo pro Valentim... e nós somos os únicos além do Procópio que sabemos que a Mara e o Valentim são da Polícia Federal. Por mais que eles sejam amigos nossos e bem intencionados, imagina o estrago que isso poderia fazer nas nossas vidas se eles, investigando tudo com uma delação minha, falassem demais e isso chegasse em quem pode colocar a vida de todos nós em risco? Eu não falo pra me proteger, mas acima de tudo, pra proteger a todos nós. Esse é um dos motivos pelo qual eu fugi...
Rafael abraça o irmão, comovido. CORTA A CENA.

CENA 3: Márcio percebe que Suzanne está com expressão de desconfiança.
-Que bicho te mordeu? Desde que sua mãe saiu você ficou com essa cara...
-É justamente por isso, Márcio. Que tanto que a minha mãe fica saindo todo dia?
-Quem sabe porque ela tem vida própria além de ficar nesse apartamento de hotel?
-Você sempre defendendo a dona Raquel. Desde garoto que é assim, impressionante como você não muda o discurso.
-É o mínimo que devo. Gratidão a quem me acolheu como uma mãe na casa dela, quando meus próprios familiares me viraram as costas por causa dos delitos que cometi. Ela acreditou em mim quando ninguém mais acreditava. Dona Raquel é a mãe que eu sempre quis ter.
-Pega ela pra você, então... ela é toda sua. Será que você não percebe que ela pode estar indo atrás de coisas que podem prejudicar a gente? Isso nem passa pela sua cabeça, né Márcio?
-Na boa? Acho que você tá pirando demais. Sua mãe não pode ter a vida dela? A independência de sair e voltar a hora que bem quiser?
-Ela pode. Mas ela nunca diz direito pra onde vai. Sempre fica nessa coisa de que vai dar uma volta e tudo mais. Parece que tá sempre escondendo alguma coisa de mim.
-Não meça ela pela sua própria régua. Quem enganou sua mãe, desde garota, foi você.
-Não precisa me jogar essas coisas na cara, Márcio.
-Suzanne, sinceramente eu acho sem sentido desconfiar dela.
-Não sei... meu sexto sentido diz que não é tão sem sentido assim...
-E desde quando você tem sexto sentido? Sempre riu de quem dizia que tinha...
-Ai, Márcio... vai cagar, vai! Você é burro assim mesmo ou faz esforço pra ser mais ainda? Você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer... não é que eu sinta. Mas não é preciso ser gênio nenhum pra constatar que essas saídas dela, tão constantes, são no mínimo esquisitas...
-E você queria o que? Que ela ficasse aqui presa o tempo inteiro? Você acha que ela não deixou amigos em Curicica?
-Credo, tá difícil ter qualquer conversa com você hoje, Márcio. Quem vai dar uma volta sou eu, isso sim, pra me poupar de olhar pra essa sua cara!
Suzanne sai, impaciente. CORTA A CENA.

CENA 4: Laura resolve aparecer de surpresa na casa de Cláudio e Bruno a atende.
-Oi, Laura... veio ver o Cláudio? Ele já saiu pra trabalhar.
-Putz... me enganei. Podia jurar que hoje era o dia de folga dele.
-Não, Laura... foi ontem.
-Mas não vou perder a viagem agora, né... você se importa de eu te fazer companhia hoje enquanto o Claudinho não chega? Não tenho ensaio hoje...
-Vai ser um prazer, Laura. Eu gosto de você... e sinto muito por tudo o que te fiz passar no passado.
-Você não foi responsável por nada. Eu não te julgo... vamos colocar uma pedra nesse assunto. Não existe Mateus hoje, ok?
-Tudo bem, acho melhor assim. Você quer um café?
-Vou aceitar sim.
Bruno serve o café para Laura e para ele.
-Está uma delícia. Sabe, Bruno... eu nem sei se devia confidenciar uma coisa dessas a você, mas eu sinceramente preferia que o Cláudio estivesse ainda namorando com você. Espero que não leve a mal...
-Eu também sinto falta dele como namorado. Mas é a vida... a gente paga pelos erros que comete.
-Sinceramente espero que o Cláudio um dia consiga ver que o homem certo pra ele é você. Você tem algo de especial... não sei se é pelo olhar, mas você me transmite uma coisa muito boa.
-Assim você me envergonha... - fala Bruno, enrubescido.
-Desculpe... mas é que eu gosto de você de graça, é de coração. Já aquele outro, o Guilherme... aquele lá é outra história. Nunca fui muito com a cara dele, ele me dá arrepios!
-Mas o Cláudio disse que no começo você apoiava ele e o encorajava pra se declarar pro Guilherme...
-Fiz isso por amor ao meu amigo e porque não sabia quem era direito o Guilherme. Depois que o Cláudio se declarou, aquele ano passou a ser o pior pesadelo já vivido pelo Cláudio. Aconteceu de tudo... e o Guilherme maltratou demais o Claudinho! Não entendo o que motiva ele a estar junto dele agora... ficando com o Guilherme, depois de tudo. Sabe síndrome de Estocolmo? Acho que só isso explica.
-Sabe, Laura... te confesso que não gosto desse Guilherme também. Você promete que não conta pra ninguém, nem pro Cláudio, uma coisa que preciso te confessar?
-Fala, querido. Pode confiar em mim que eu sou leal.
-O Guilherme tentou me ameaçar num momento que o Cláudio tinha ido pro banho. Não me deixei intimidar. Ele queria que eu me afastasse o quanto antes do Cláudio.
-Sério, isso? Tou chocada! E você iria pra onde? Porque pra peça ali do lado não dá mais, já foi ocupada.
-Justamente, Laura... é claro que eu não me deixei ser intimidado, mas achei completamente absurdo ele chegar ao ponto de me ameaçar só por causa do suposto amor que ele diz sentir pelo Cláudio.
-Sabe do pior? Acho que esse Guilherme realmente ama o Cláudio. Só não sei se isso é saudável...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Mateus vai ao esconderijo de “Chefe” por ordens dele. Como habitual, a voz de “Chefe” é ouvida abafada e apenas sua silhueta aparece.
-Eu disse que te queria aqui em quinze minutos, você levou dezessete minutos pra chegar aqui.
-O que são dois minutos de atraso, chefe? Você ao menos me disse o motivo dessa chamada...
-Você está cansado de saber que não tolero atraso entre meus subordinados. Tem de ser pontualidade, senão eu vou penalizar. Como foram só dois minutos, dessa vez vou pegar leve.
“Chefe” dá um soco no estômago de Mateus.
-Vê se agora não se atrasa mais esses “dois minutinhos”, viu?
-Isso doeu, sabia?
-Foi pra doer mesmo, Mateus. Eu te chamei aqui porque andei sabendo que a sua namoradinha anda descobrindo coisas demais. Dê um jeito de parar ela.
-Parar ela? A Laura não é uma investigadora. Tudo o que ela soube foi de meu caso com Bruno no passado, nada além disso. Além, claro, da minhas pequenas armações pra conseguir destaque na TV, mas ela parou por aí.
-Você me dá sua palavra?
-E por que não daria, chefe? Alguma vez já te falei alguma mentira?
-Olhando por esse lado... realmente não. E é bom que ela fique quieta. Se ela não ficar, dê um jeito de ela ficar quieta. Senão já sabe: eu mando matar vocês dois e isso é uma ameaça bem real, não me subestime. Pode ir.
Mateus vai embora, assustado. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, já pela noite, Diogo está se arrumando e Victor o chama.
-Tá pensando em sair hoje, amor?
-Faz tempo que eu não saio para beber e curtir a noite. Por que você não vem comigo? Você vai gostar.
-E que graça teria eu ir, se nem beber eu ando podendo?
-Existem outras formas de se divertir.
-Ah, é mesmo? Então por que quando você sai, você sempre chega fedendo a bebida, se não é preciso beber pra se divertir? Você sabe se divertir sem beber? Então por que bebe? Ah, já sei... pra esquecer o Cláudio... - fala Victor, claramente entrando em crise.
-Você está entrando em crise, amor. Tente se controlar, respira fundo... eu já te trago o medicamento.
-Claro, né? Assim você me deixa mansinho e sai pra beber todas sem sentir culpa!
-Tá, Victor. Eu não vou mais sair hoje. Não posso te deixar aqui em casa nesse estado.
-Pelo menos um pingo de consideração ainda te resta...
-Victor... sério. Não entra nessa trip errada. Por favor. Você vai jogar fora tudo o que a gente tá conseguindo evoluir com o tratamento?
-Pra você é fácil falar, não é você que convive com esse transtorno limítrofe...
-Não, amor... não foi isso que eu quis dizer. Mas tenta se tranquilizar! Toma aqui o seu medicamento.
Victor toma um comprimido e volta a falar.
-Se não fosse o Cláudio ter passado na sua vida, você não teria se tornado esse cara boêmio que se tornou.
-Eu não acredito que você tá colocando a culpa nele de novo! Você o conheceu! Viu o quanto ele é gente boa.
-Mimimi, gente boa, mimimi... tá, ele é legal. Mas e daí? Não exclui o fato de que vocês namoraram e ele só acabou contigo porque acreditou na mentira da traição.
-Victor... vai dormir, sério. Você já tá falando merda.
Diogo vai à geladeira pegar um copo de água. CORTA A CENA.

CENA 7: Bruno nota que Cláudio está melancólico.
-Que cara é essa de quem tá em qualquer lugar, menos no presente?
-Você sempre consegue me ler, Bruno... tou meio melancólico, relembrando o passado.
-Algo me diz que você está transportado pra algum momento que deve ser há uns cinco ou seis anos, estou certo?
-Sim, Bruno. Eu fico lembrando de tudo. Daqueles primeiros meses no colégio... eu via o Guilherme todos os dias, diante de mim, na carteira da frente... ele era o garoto mais bonito da minha turma, do colégio inteiro, sabia?
-Imagino... até hoje ele é bem bonito, mesmo.
-Não é? Eu ficava encantado por ele. Logo me apaixonei... mas não sabia como me declarar. Mal sabiam que sou gay naquela época e sempre fui tímido e introvertido. Só a Laura sabia... e me encorajava pra me declarar, o que levei uns quatro meses pra conseguir fazer.
-E foi aí que começou o tormento, né? Dele se fingir de hetero, essas coisas...
-Não foi fácil. Mas estamos aqui. Chegamos onde chegamos. Eu amei muito esse homem, Bruno. Amei tanto que doeu muito dentro de mim ver cada crueldade que ele fez comigo pra manter intacta a imagem de hetero.
-E ainda ama?
-Não sei. Eu sinto que ele me ama. Mas ao procurar esse amor dentro de mim, não sei se consigo reencontrar. Sinto que ele precisa mais de mim do que eu dele... então faço um esforço pra encontrar esse amor dentro de mim.
-Talvez ele tenha morrido, Cláudio.
-Talvez tenha. Mas eu preciso tentar encontrar dentro de mim antes, pra me certificar com cem por cento de certeza. Não posso deixar ele só... eu vejo que ele tem problemas, que precisa de compreensão e não de julgamentos.
-Eu admiro a sua generosidade com ele. Só espero que não se arrependa nem tome decisões precipitadas.
-Vou tentar agir da melhor forma possível, meu amigo...
Os dois se olham com cumplicidade. CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne chama sua mãe para conversar.
-Tá tudo bem com a senhora ultimamente?
-Tá sim, Suzanne... por que essa pergunta, filha?
-Notei que você anda saindo todos os dias... quase sempre nos mesmos horários.
-E o que isso tem demais? Gosto de andar por aí... pensar na vida. Ficar presa aqui nesse apartamento de hotel não faz muito meu estilo.
-Por que será que não acredito nessa sua desculpa, mãe?
-Isso é jeito de falar comigo, Suzanne Farina Lopes?
-Não me chame pelo nome completo que isso não me mete medo. Fala de uma vez com que tipo de coisa a senhora tá envolvida, fala! - fala Suzanne, confrontando a mãe.
FIM DO CAPÍTULO 48.

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