CENA 1: Mateus não acredita na
súbita mudança de postura de “Chefe”.
-Tá, agora fala a verdade por
trás desse seu discursinho repentino de bom samaritano. Isso aqui só
pode ser uma pegadinha, confessa aí, chefe...
-Não tem nada de repentino no
meu discurso. Nem sou bom samaritano. Eu realmente estou dispensando
definitivamente seus serviços à organização.
-Mas com base no que, eu posso
saber?
-Muitas coisas estão
precisando ser modificadas. Os últimos meses não tem sido fáceis.
Há investigadores na cola da gente e você nunca primou pela
sutileza, nem pela discrição. Eu reconheço que você é um ótimo
estrategista e nesses anos todos fez muito pela nossa organização,
ajudou a crescer e a se manter estável num momento crítico, em que
perdíamos muito dinheiro e investidores. Porém estou modificando
algumas estratégias de ação. Não estou podendo lidar com amadores
e você, apesar de tudo o que fez por nós, continua sendo um
amador... tem alma de amador. Você e eu sabemos que você não
nasceu pra isso.
-De fato, chefe... eu nunca
entendi essa obsessão excessiva pelo poder. Essa necessidade de
estar por toda parte, entre meios de comunicação, políticos
influentes e famílias de elite...
-Tá vendo o motivo pelo qual
eu digo que você tem alma de amador? Você nunca esteve conosco por
acreditar na nossa missão, no nosso plano de poder. Essa organização
deixou de ser útil pra você quando você chegou onde queria.
-Isso é verdade, chefe, mas
ainda não tou entendendo essa sua atitude, essa sua decisão, esse
seu gesto que eu sinceramente jamais esperava...
-Se fosse mais atento e não
olhasse só pro seu umbigo, perceberia que você não é o primeiro a
ser dispensado. Já fiz isso antes com o Haroldo, pelo mesmo motivo:
ele nunca esteve sintonizado com nossos ideais. Você só entrou
nessa organização porque eu mandei e porque durante esses anos
todos eu me diverti de ter você e o seu ex amante nas mãos. Você
não entende o prazer de ter todo o poder nas próprias mãos... você
não é ambicioso. Não do jeito que nossa organização precisa. Se
você quiser, pode avisar que o seu ex amante também está
dispensado. Mas creio que isso não seja necessário, porque ele já
deve ter entendido isso muito antes de você e sem eu precisar mandar
nenhum recado.
-Vou ver se falo com ele
quando eu puder. Mas essa sua dispensa me deixa com alguns pontos de
interrogação na cabeça... porque mesmo depois de você ter
dispensado o Haroldo, você continua cercando ele através dos homens
que trabalham pra organização e eu sei disso, porque você mesmo
faz questão de me dizer tudo. Você pretende fazer o mesmo comigo?
-Acredito que você seja um
pouco menos passional que o Haroldo. Talvez não seja necessário eu
me certificar nem mandar meus homens te cercarem. Você sabe porque
tenho feito isso com o Haroldo: porque tenho medo que ele abra a boca
pra polícia.
-Quanto a isso você pode
ficar tranquilo, chefe: jamais pensaria em entregar você ou qualquer
um que trabalhe pra essa facção.
-Isso é ótimo, Mateus. Não
esperava outra postura de você.
-Então era só isso? Já
posso ir embora sem olhar pra trás?
-Antes disso, tenho um último
pagamento a te entregar. Pegue esse dinheiro, ele é seu. Você
chegou onde queria, é funcionário efetivo da emissora. Não vai
mais precisar dessa grana extra. Mas deixo esse último pagamento
como agradecimento pelos anos de dedicação à nossa organização.
Vá em paz.
Mateus deixa o apartamento,
aliviado. CORTA A CENA.
CENA 2: Uma semana depois.
Chega o dia do casamento de
Marcelo e Rafael.
-Nossa, amor... eu imaginava
que tava ansioso, mas você tá com cara de que mal pregou o olho
essa noite... - constata Marcelo.
-E você tem razão. Se eu
dormi duas horas essa noite, foi muito. Ficava pensando no nosso
casamento hoje e me acordando por qualquer coisinha...
-Nossa, tu também não
consegui parar de pensar no casamento nessa última semana. Mas por
algum motivo eu consegui descansar bem essa noite, afinal de contas
não queria chegar na nossa festa com cara de zumbi...
-Engraçadinho! Mas se você
soubesse a surpresa que tou preparando pra você, aposto que você
mal pregaria o olho também.
-Ah, então é isso, seu
safadinho? Você sabe que detesto mistérios, pode ir falando agora
mesmo o que você tá tramando aí...
-Negativo, senhor Marcelo! Se
fosse pra eu te dizer alguma coisa agora, não se chamaria
“surpresa”.
-Então por que você tá me
dizendo agora, amor?
-Só tou falando pra você
preparar o coração e os lenços.
-Olha aqui, se você tá
pensando que vai me comover com tele mensagem ou qualquer coisa desse
tipo, saiba que eu acho tudo isso mais brega do que usar crocs com
meia.
-Você acha mesmo que eu ia
aprontar uma dessas? Também detesto essas coisas, digamos... melosas
e duvidosas.
-Sei. Então se você estiver
pensando em fazer dedicatória com poemas ou citações clichês,
saiba que isso não vai me emocionar também, mas vai me deixar com
vontade de enfiar a cara num buraco.
-Aaah... tou entendendo esse
seu joguinho, espertinho. Cê acha mesmo que vai arrancar alguma
coisa de mim jogando esse monte de verde pra ver se colhe maduro?
Acho que você esquece que também sou escorpiano... conheço as
artimanhas que a gente usa quando quer saber de algo. Tá muitíssimo
enganado se tá achando que comendo pelas beiradas vai chegar no
prato principal.
Marcelo se dá por vencido.
-Não custa tentar, não é?
Vai que eu te pegue num ato falho e acabo entendendo o que vem por
aí...
-Seu safado. Tá precisando é
de uma lição, isso sim.
-É desse safado que você
gosta, afinal tá indo se casar com ele... diga qual é a punição,
ó poderoso Rafael Alves...
Os dois brincam, se amam e se
divertem. CORTA A CENA.
CENA 3: Cláudio e Guilherme
estão em uma loja que aluga ternos e roupas de gala, escolhendo os
trajes que vão utilizar no casamento de Rafael e Marcelo. Guilherme
sai do provador, enquanto Cláudio está terminando de pagar pelo
aluguel dos trajes que escolheu para si.
-Que tal, amor? Estou bem
assim?
-Nossa, Guilherme... você é
lindo, mas de marrom fica péssimo. Sem falar que deixou de ser uma
cor discreta faz algumas décadas. Por que não tenta aquele grafite
que eu te mostrei quando escolhi o meu traje?
Guilherme pega o traje
sugerido anteriormente por Cláudio e volta ao provador, retornando
instantes depois.
-Agora sim, Guilherme! Tá
infinitamente melhor e mais elegante com esse traje! Você se sentiu
bem com ele?
-Me senti bem melhor,
Cláudio... é esse aqui que vou alugar.
-Perfeito.
Guilherme paga pelo aluguel da
roupa e os dois saem da loja com as sacolas e vão até o carro de
Guilherme.
-Cláudio, você se importa de
dirigir de novo?
-Claro que não, seu bobo... -
fala Cláudio, assumindo a direção.
-Acho melhor a gente não
demorar muito pra se arrumar, afinal o Marcelo te avisou que a
cerimônia na casa deles vai ser cedo.
-Sim, amor... vamos ser
rápidos, mas tou achando estranha essa sua cara de contrariado...
-Ah, Cláudio... eu achei
injusto só você ter sido convidado pra testemunha e eu não ter
sido...
-Tá com ciúme do meu amigo
agora? Ai, Guilherme... menos. Não é pra tanto! Eles escolheram as
testemunhas entre eles dois, não tenho nada com isso! Tanto que o
Rafael escolheu a Laura pra ser testemunha junto comigo...
Guilherme se cala, contrariado
e enciumado. CORTA A CENA.
CENA 4: Horas mais tarde, já
com os preparativos do casamento adiantado na mansão dos
Bittencourt, Victor e Diogo são os primeiros a chegar. Eles são
recebidos por Haroldo, que os leva até a sala.
-Vocês podem ficar aqui,
queridos. Os meninos estão terminando de acertar alguns detalhes e a
juíza de paz deve chegar em quinze minutos. Se vocês não se
importam, vou subir novamente, pois preciso ajudar meu irmão e meu
cunhado... - fala Haroldo, subindo as escadas novamente.
Diogo se sente constrangido.
-Tá vendo, Victor? Eu falei
que a gente não precisava ter saído de casa tão cedo. O Cláudio e
o namorado dele nem chegaram aqui ainda...
-Ah, para de se constranger
por pouco, amor. Não foi o Cláudio que nos convidou? Então somos
convidados de qualquer forma...
-É, mas seria mais prudente
que tivéssemos esperado ele nos avisar que estava a caminho, que
seguíamos o carro do Guilherme e chegaríamos juntos...
-Ai, Diogo... chega! O que já
foi já foi. Não faz o mínimo sentido lamentar pelo que poderia ter
sido e não foi! Relaxa! Não tá vendo que tá cheio de bebida aqui?
-Nem pensa em relar a mão em
qualquer coisa alcoólica nessa casa, Victor.
-Ah, o que é que tem? A
dosagem dos meus medicamentos foi diminuída pra somente uma vez pela
semana...
-E você realmente acha que
isso te dá direito de beber coisa alcoólica? Esses medicamentos tem
efeito prolongado no organismo. Você tá mesmo disposto a pagar pra
ver o revertério que isso pode causar? Porque eu não tou...
-Você às vezes fica chato,
viu, Diogo? Fico me perguntando se você tá realmente preocupado
comigo ou se tá preocupado com o mico que pode acontecer, com o que
os outros vão pensar, em vez de se preocupar com o que tá passando
comigo. Mais libriano que isso, impossível.
-Lá vem você com esses papos
de astrologia... você sabe que não acredito muito nessas coisas.
Fosse assim, você por ser ariano, de acordo com o que falam, seria
uma pessoa briguenta, violenta, agressiva. Então vamos parar de papo
furado. Eu estou com fome, vai querer um desses petiscos que estão
aqui na mesa?
-Ai, Diogo... mas ninguém
chegou ainda...
-Parece que o jogo virou, não
é mesmo? Deixa de ser besta... não tem ninguém olhando ainda. Vai
preferir passar fome enquanto o resto dos convidados não chega?
-Você sempre dá um jeito de
me convencer a fazer tudo o que você quer. Me alcança aqueles
doritos ali, por favor?
Os dois se divertem
conversando. CORTA A CENA.
CENA 5: Mara e Valentim ficam
responsáveis pelo fechamento da companhia de teatro.
-Bem que o Procópio poderia
ter ido embora um pouquinho mais tarde... - lamenta Valentim.
-E você não conhece seu
melhor amigo, Valentim? Se ele fosse mulher, ele não demoraria tanto
pra se arrumar para ir a uma festa ou a um evento.
-Desde garoto sempre foi
assim, não sei como você aguentou quase vinte anos casada com um
cara que te deixava esperando quando você tá tava pronta...
-Ah, ele foi um bom marido pra
mim, você sabe disso. Mas é com você que eu estou agora e é isso
que importa. Mas mudando de assunto... você já decidiu se vai levar
a sério e investigar o Victor por causa das suspeitas do Diogo?
-Decidi sim. Por improvável
que isso pareça, o Diogo deve ter suas razões para suspeitar do
próprio namorado. Vou investigar o Victor sim, só não vou começar
isso imediatamente.
-Claro... afinal hoje é dia
de esquecermos de tudo isso. Temos o casamento dos meninos pra ir...
-Se a gente não for, capaz do
Ivan e do Procópio ficarem decepcionadíssimos com a gente... mas
não podemos deixar nosso trabalho atrapalhar nossa convivência com
nossos amigos queridos.
-Só não entendo como você
consegue ter a capacidade de suspeitar logo do Victor. Pra mim ele
parece tão inofensivo... intuição feminina minha, sabe?
-Ora, Mara! Muito me
surpreende você, depois de macaca véia nesse ramo dar ouvidos à
intuição. Trabalhamos com fatos... qualquer pessoa é passível de
ser investigada e você tá cansada de saber disso...
-Tá, Valentim... só que
nosso trabalho também envolve observação e senso crítico. Não é
bem à intuição que me refiro. Me expressei mal. Olha, eu sei que o
psiquiatra aqui é você, que você tem mais conhecimento sobre uma
série de coisas que não domino, mas mesmo assim, continuo achando
completamente sem sentido que o Victor seja considerado um suspeito.
-Você parece esquecer que
esse “Chefe” que investigamos é rei dos disfarces. Sabemos que é
uma pessoa de estatura baixa. Pode ser um homem ou uma mulher. O que
não podemos é deixar de trabalhar com imparcialidade baseados em
impressões pessoais. Se alguém apontou alguém como suspeito,
devemos ir atrás disso...
-Tá, Valentim... eu desisto.
Vamos à festa de uma vez.
Os dois partem. CORTA A CENA.
CENA 6: Horas depois, já com
todos os convidados presente na mansão dos Bittencourt, começa o
casamento de Marcelo e Rafael. A juíza de paz dá início ao rito.
Laura e Cláudio se aproximam e todos assistem emocionados ao
casamento.
-Manifestada a intenção de
se unirem em matrimônio diante da lei, com separação total de bens
e não havendo nenhuma objeção dos aqui presentes, com o poder que
me é investido, declaro os dois casados em nome da lei. - fala a
juíza.
Marcelo e Rafael assinam os
documentos oficializando o casamento.
-As testemunhas já podem
assinar. Aproximem-se. - prossegue a juíza.
Cláudio e Laura assinam os
documentos. Rafael e Marcelo se beijam e são aplaudidos por todos.
-Então é isso, pessoal.
Finalmente estamos casados. A festa deve começar em quinze minutos.
Só falta acertar uns detalhezinhos pequenos, mas quem quiser já ir
pro salão de festas, está tudo pronto. - fala Rafael.
-Você não vai me dizer mesmo
que surpresa é essa que você tá tramando, não é? - fala Marcelo,
ao pé do ouvido de Rafael.
-Não mesmo. Agora já falta
pouco. Quinze minutos não vão fazer diferença, vai valer a pena
essa espera. - sentencia Rafael.
A juíza recolhe suas coisas.
-Bem, queridos. Minha parte já
foi feita. Desejo felicidades aos noivos e que o casamento seja
duradouro. Se não se importam, já vou indo.
-Deixa que eu te acompanho até
a porta... - oferece-se Haroldo.
Haroldo conduz a juíza até a
porta. CORTA A CENA.
CENA 7: Instantes depois, já
com a festa iniciada, Marcelo não se contém de ansiedade e pergunta
a Rafael novamente do que se trata a surpresa.
-Poxa, amor! Você não vai me
dizer nada, mesmo?
-Segura mais um pouco esse
edy, criatura! Falta tão pouco!
Nesse instante, a imprensa
começa a chegar na festa.
-Tá vendo? Nem precisei
entregar a surpresa antes da hora... - fala Rafael, triunfante.
Marcelo se emociona.
-Mas você disse que não
teria imprensa nenhuma...
-Falei pra te despistar, seu
bobinho... queria manter a surpresa até o último momento. Amanhã
pela manhã, toda a imprensa já vai ter noticiado nosso casamento em
todos os meios de comunicação...
Marcelo beija e abraça
Rafael, emocionado.
-Se existia alguma dúvida de
que você faria qualquer coisa por mim, acho que essa dúvida acabou
nesse momento.
-Mas é claro que você não
duvidava mais do meu amor, não é?
-Claro que não duvidava. No
fundo nunca duvidei... tudo o que a gente viveu até aqui valeu a
pena.
-Tá, Marcelo... melhor
dizendo: meu marido... chega de enrolação e vamos receber a
imprensa, afinal temos muitas fotos pra posar, declarações para dar
para revistas, jornais, portais de internet, televisão...
-Vamo botar a cara no sol,
querida!
Os dois se deixam ser
fotografados pelos fotógrafos presentes e jornalistas começam a se
aproximar e fazer perguntas.
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, a festa
está animada e Riva estranha a ausência precoce de Suzanne da
festa.
-Você viu isso, Vicente?
Nunca vi a Suzanne ir embora tão cedo de uma festa... ainda mais
quando essa festa é do casamento do meu filho...
-Ah, Riva... você sabe como
é: nem seu filho nem o Rafa gostam da Suzanne. Aceitaram a presença
dela por respeito à amizade que você tem com ela. Talvez ela tenha
noção disso e não tenha tido vontade de se estender...
-Você tá certo, amor... bem,
amanhã eu converso com ela pra ver se foi isso mesmo. Agora é hora
de aproveitar a festa que tá ótima. E o Lúcio, tá se comportando
com a babá lá em cima?
-Ela acabou de me mandar uma
mensagem dizendo que ele tá dormindo como um anjo...
De repente, a imprensa se
concentra na entrada do salão de festas. Riva, Vicente, Rafael e
Marcelo estranham a movimentação. De repente, surge Márcio. Riva e
Marcelo ficam perplexos e Riva é a primeira a ir em direção a
Márcio, furiosa.
-O que é que você veio fazer
aqui, seu merda? Não basta ter me deixado na pior no passado?
-Eu vim pedir perdão a vocês.
- fala Márcio. FIM DO CAPÍTULO 60.
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