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sábado, 23 de julho de 2016

CAPÍTULO 60

CENA 1: Mateus não acredita na súbita mudança de postura de “Chefe”.
-Tá, agora fala a verdade por trás desse seu discursinho repentino de bom samaritano. Isso aqui só pode ser uma pegadinha, confessa aí, chefe...
-Não tem nada de repentino no meu discurso. Nem sou bom samaritano. Eu realmente estou dispensando definitivamente seus serviços à organização.
-Mas com base no que, eu posso saber?
-Muitas coisas estão precisando ser modificadas. Os últimos meses não tem sido fáceis. Há investigadores na cola da gente e você nunca primou pela sutileza, nem pela discrição. Eu reconheço que você é um ótimo estrategista e nesses anos todos fez muito pela nossa organização, ajudou a crescer e a se manter estável num momento crítico, em que perdíamos muito dinheiro e investidores. Porém estou modificando algumas estratégias de ação. Não estou podendo lidar com amadores e você, apesar de tudo o que fez por nós, continua sendo um amador... tem alma de amador. Você e eu sabemos que você não nasceu pra isso.
-De fato, chefe... eu nunca entendi essa obsessão excessiva pelo poder. Essa necessidade de estar por toda parte, entre meios de comunicação, políticos influentes e famílias de elite...
-Tá vendo o motivo pelo qual eu digo que você tem alma de amador? Você nunca esteve conosco por acreditar na nossa missão, no nosso plano de poder. Essa organização deixou de ser útil pra você quando você chegou onde queria.
-Isso é verdade, chefe, mas ainda não tou entendendo essa sua atitude, essa sua decisão, esse seu gesto que eu sinceramente jamais esperava...
-Se fosse mais atento e não olhasse só pro seu umbigo, perceberia que você não é o primeiro a ser dispensado. Já fiz isso antes com o Haroldo, pelo mesmo motivo: ele nunca esteve sintonizado com nossos ideais. Você só entrou nessa organização porque eu mandei e porque durante esses anos todos eu me diverti de ter você e o seu ex amante nas mãos. Você não entende o prazer de ter todo o poder nas próprias mãos... você não é ambicioso. Não do jeito que nossa organização precisa. Se você quiser, pode avisar que o seu ex amante também está dispensado. Mas creio que isso não seja necessário, porque ele já deve ter entendido isso muito antes de você e sem eu precisar mandar nenhum recado.
-Vou ver se falo com ele quando eu puder. Mas essa sua dispensa me deixa com alguns pontos de interrogação na cabeça... porque mesmo depois de você ter dispensado o Haroldo, você continua cercando ele através dos homens que trabalham pra organização e eu sei disso, porque você mesmo faz questão de me dizer tudo. Você pretende fazer o mesmo comigo?
-Acredito que você seja um pouco menos passional que o Haroldo. Talvez não seja necessário eu me certificar nem mandar meus homens te cercarem. Você sabe porque tenho feito isso com o Haroldo: porque tenho medo que ele abra a boca pra polícia.
-Quanto a isso você pode ficar tranquilo, chefe: jamais pensaria em entregar você ou qualquer um que trabalhe pra essa facção.
-Isso é ótimo, Mateus. Não esperava outra postura de você.
-Então era só isso? Já posso ir embora sem olhar pra trás?
-Antes disso, tenho um último pagamento a te entregar. Pegue esse dinheiro, ele é seu. Você chegou onde queria, é funcionário efetivo da emissora. Não vai mais precisar dessa grana extra. Mas deixo esse último pagamento como agradecimento pelos anos de dedicação à nossa organização. Vá em paz.
Mateus deixa o apartamento, aliviado. CORTA A CENA.

CENA 2: Uma semana depois.
Chega o dia do casamento de Marcelo e Rafael.
-Nossa, amor... eu imaginava que tava ansioso, mas você tá com cara de que mal pregou o olho essa noite... - constata Marcelo.
-E você tem razão. Se eu dormi duas horas essa noite, foi muito. Ficava pensando no nosso casamento hoje e me acordando por qualquer coisinha...
-Nossa, tu também não consegui parar de pensar no casamento nessa última semana. Mas por algum motivo eu consegui descansar bem essa noite, afinal de contas não queria chegar na nossa festa com cara de zumbi...
-Engraçadinho! Mas se você soubesse a surpresa que tou preparando pra você, aposto que você mal pregaria o olho também.
-Ah, então é isso, seu safadinho? Você sabe que detesto mistérios, pode ir falando agora mesmo o que você tá tramando aí...
-Negativo, senhor Marcelo! Se fosse pra eu te dizer alguma coisa agora, não se chamaria “surpresa”.
-Então por que você tá me dizendo agora, amor?
-Só tou falando pra você preparar o coração e os lenços.
-Olha aqui, se você tá pensando que vai me comover com tele mensagem ou qualquer coisa desse tipo, saiba que eu acho tudo isso mais brega do que usar crocs com meia.
-Você acha mesmo que eu ia aprontar uma dessas? Também detesto essas coisas, digamos... melosas e duvidosas.
-Sei. Então se você estiver pensando em fazer dedicatória com poemas ou citações clichês, saiba que isso não vai me emocionar também, mas vai me deixar com vontade de enfiar a cara num buraco.
-Aaah... tou entendendo esse seu joguinho, espertinho. Cê acha mesmo que vai arrancar alguma coisa de mim jogando esse monte de verde pra ver se colhe maduro? Acho que você esquece que também sou escorpiano... conheço as artimanhas que a gente usa quando quer saber de algo. Tá muitíssimo enganado se tá achando que comendo pelas beiradas vai chegar no prato principal.
Marcelo se dá por vencido.
-Não custa tentar, não é? Vai que eu te pegue num ato falho e acabo entendendo o que vem por aí...
-Seu safado. Tá precisando é de uma lição, isso sim.
-É desse safado que você gosta, afinal tá indo se casar com ele... diga qual é a punição, ó poderoso Rafael Alves...
Os dois brincam, se amam e se divertem. CORTA A CENA.

CENA 3: Cláudio e Guilherme estão em uma loja que aluga ternos e roupas de gala, escolhendo os trajes que vão utilizar no casamento de Rafael e Marcelo. Guilherme sai do provador, enquanto Cláudio está terminando de pagar pelo aluguel dos trajes que escolheu para si.
-Que tal, amor? Estou bem assim?
-Nossa, Guilherme... você é lindo, mas de marrom fica péssimo. Sem falar que deixou de ser uma cor discreta faz algumas décadas. Por que não tenta aquele grafite que eu te mostrei quando escolhi o meu traje?
Guilherme pega o traje sugerido anteriormente por Cláudio e volta ao provador, retornando instantes depois.
-Agora sim, Guilherme! Tá infinitamente melhor e mais elegante com esse traje! Você se sentiu bem com ele?
-Me senti bem melhor, Cláudio... é esse aqui que vou alugar.
-Perfeito.
Guilherme paga pelo aluguel da roupa e os dois saem da loja com as sacolas e vão até o carro de Guilherme.
-Cláudio, você se importa de dirigir de novo?
-Claro que não, seu bobo... - fala Cláudio, assumindo a direção.
-Acho melhor a gente não demorar muito pra se arrumar, afinal o Marcelo te avisou que a cerimônia na casa deles vai ser cedo.
-Sim, amor... vamos ser rápidos, mas tou achando estranha essa sua cara de contrariado...
-Ah, Cláudio... eu achei injusto só você ter sido convidado pra testemunha e eu não ter sido...
-Tá com ciúme do meu amigo agora? Ai, Guilherme... menos. Não é pra tanto! Eles escolheram as testemunhas entre eles dois, não tenho nada com isso! Tanto que o Rafael escolheu a Laura pra ser testemunha junto comigo...
Guilherme se cala, contrariado e enciumado. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas mais tarde, já com os preparativos do casamento adiantado na mansão dos Bittencourt, Victor e Diogo são os primeiros a chegar. Eles são recebidos por Haroldo, que os leva até a sala.
-Vocês podem ficar aqui, queridos. Os meninos estão terminando de acertar alguns detalhes e a juíza de paz deve chegar em quinze minutos. Se vocês não se importam, vou subir novamente, pois preciso ajudar meu irmão e meu cunhado... - fala Haroldo, subindo as escadas novamente.
Diogo se sente constrangido.
-Tá vendo, Victor? Eu falei que a gente não precisava ter saído de casa tão cedo. O Cláudio e o namorado dele nem chegaram aqui ainda...
-Ah, para de se constranger por pouco, amor. Não foi o Cláudio que nos convidou? Então somos convidados de qualquer forma...
-É, mas seria mais prudente que tivéssemos esperado ele nos avisar que estava a caminho, que seguíamos o carro do Guilherme e chegaríamos juntos...
-Ai, Diogo... chega! O que já foi já foi. Não faz o mínimo sentido lamentar pelo que poderia ter sido e não foi! Relaxa! Não tá vendo que tá cheio de bebida aqui?
-Nem pensa em relar a mão em qualquer coisa alcoólica nessa casa, Victor.
-Ah, o que é que tem? A dosagem dos meus medicamentos foi diminuída pra somente uma vez pela semana...
-E você realmente acha que isso te dá direito de beber coisa alcoólica? Esses medicamentos tem efeito prolongado no organismo. Você tá mesmo disposto a pagar pra ver o revertério que isso pode causar? Porque eu não tou...
-Você às vezes fica chato, viu, Diogo? Fico me perguntando se você tá realmente preocupado comigo ou se tá preocupado com o mico que pode acontecer, com o que os outros vão pensar, em vez de se preocupar com o que tá passando comigo. Mais libriano que isso, impossível.
-Lá vem você com esses papos de astrologia... você sabe que não acredito muito nessas coisas. Fosse assim, você por ser ariano, de acordo com o que falam, seria uma pessoa briguenta, violenta, agressiva. Então vamos parar de papo furado. Eu estou com fome, vai querer um desses petiscos que estão aqui na mesa?
-Ai, Diogo... mas ninguém chegou ainda...
-Parece que o jogo virou, não é mesmo? Deixa de ser besta... não tem ninguém olhando ainda. Vai preferir passar fome enquanto o resto dos convidados não chega?
-Você sempre dá um jeito de me convencer a fazer tudo o que você quer. Me alcança aqueles doritos ali, por favor?
Os dois se divertem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Mara e Valentim ficam responsáveis pelo fechamento da companhia de teatro.
-Bem que o Procópio poderia ter ido embora um pouquinho mais tarde... - lamenta Valentim.
-E você não conhece seu melhor amigo, Valentim? Se ele fosse mulher, ele não demoraria tanto pra se arrumar para ir a uma festa ou a um evento.
-Desde garoto sempre foi assim, não sei como você aguentou quase vinte anos casada com um cara que te deixava esperando quando você tá tava pronta...
-Ah, ele foi um bom marido pra mim, você sabe disso. Mas é com você que eu estou agora e é isso que importa. Mas mudando de assunto... você já decidiu se vai levar a sério e investigar o Victor por causa das suspeitas do Diogo?
-Decidi sim. Por improvável que isso pareça, o Diogo deve ter suas razões para suspeitar do próprio namorado. Vou investigar o Victor sim, só não vou começar isso imediatamente.
-Claro... afinal hoje é dia de esquecermos de tudo isso. Temos o casamento dos meninos pra ir...
-Se a gente não for, capaz do Ivan e do Procópio ficarem decepcionadíssimos com a gente... mas não podemos deixar nosso trabalho atrapalhar nossa convivência com nossos amigos queridos.
-Só não entendo como você consegue ter a capacidade de suspeitar logo do Victor. Pra mim ele parece tão inofensivo... intuição feminina minha, sabe?
-Ora, Mara! Muito me surpreende você, depois de macaca véia nesse ramo dar ouvidos à intuição. Trabalhamos com fatos... qualquer pessoa é passível de ser investigada e você tá cansada de saber disso...
-Tá, Valentim... só que nosso trabalho também envolve observação e senso crítico. Não é bem à intuição que me refiro. Me expressei mal. Olha, eu sei que o psiquiatra aqui é você, que você tem mais conhecimento sobre uma série de coisas que não domino, mas mesmo assim, continuo achando completamente sem sentido que o Victor seja considerado um suspeito.
-Você parece esquecer que esse “Chefe” que investigamos é rei dos disfarces. Sabemos que é uma pessoa de estatura baixa. Pode ser um homem ou uma mulher. O que não podemos é deixar de trabalhar com imparcialidade baseados em impressões pessoais. Se alguém apontou alguém como suspeito, devemos ir atrás disso...
-Tá, Valentim... eu desisto. Vamos à festa de uma vez.
Os dois partem. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, já com todos os convidados presente na mansão dos Bittencourt, começa o casamento de Marcelo e Rafael. A juíza de paz dá início ao rito. Laura e Cláudio se aproximam e todos assistem emocionados ao casamento.
-Manifestada a intenção de se unirem em matrimônio diante da lei, com separação total de bens e não havendo nenhuma objeção dos aqui presentes, com o poder que me é investido, declaro os dois casados em nome da lei. - fala a juíza.
Marcelo e Rafael assinam os documentos oficializando o casamento.
-As testemunhas já podem assinar. Aproximem-se. - prossegue a juíza.
Cláudio e Laura assinam os documentos. Rafael e Marcelo se beijam e são aplaudidos por todos.
-Então é isso, pessoal. Finalmente estamos casados. A festa deve começar em quinze minutos. Só falta acertar uns detalhezinhos pequenos, mas quem quiser já ir pro salão de festas, está tudo pronto. - fala Rafael.
-Você não vai me dizer mesmo que surpresa é essa que você tá tramando, não é? - fala Marcelo, ao pé do ouvido de Rafael.
-Não mesmo. Agora já falta pouco. Quinze minutos não vão fazer diferença, vai valer a pena essa espera. - sentencia Rafael.
A juíza recolhe suas coisas.
-Bem, queridos. Minha parte já foi feita. Desejo felicidades aos noivos e que o casamento seja duradouro. Se não se importam, já vou indo.
-Deixa que eu te acompanho até a porta... - oferece-se Haroldo.
Haroldo conduz a juíza até a porta. CORTA A CENA.

CENA 7: Instantes depois, já com a festa iniciada, Marcelo não se contém de ansiedade e pergunta a Rafael novamente do que se trata a surpresa.
-Poxa, amor! Você não vai me dizer nada, mesmo?
-Segura mais um pouco esse edy, criatura! Falta tão pouco!
Nesse instante, a imprensa começa a chegar na festa.
-Tá vendo? Nem precisei entregar a surpresa antes da hora... - fala Rafael, triunfante.
Marcelo se emociona.
-Mas você disse que não teria imprensa nenhuma...
-Falei pra te despistar, seu bobinho... queria manter a surpresa até o último momento. Amanhã pela manhã, toda a imprensa já vai ter noticiado nosso casamento em todos os meios de comunicação...
Marcelo beija e abraça Rafael, emocionado.
-Se existia alguma dúvida de que você faria qualquer coisa por mim, acho que essa dúvida acabou nesse momento.
-Mas é claro que você não duvidava mais do meu amor, não é?
-Claro que não duvidava. No fundo nunca duvidei... tudo o que a gente viveu até aqui valeu a pena.
-Tá, Marcelo... melhor dizendo: meu marido... chega de enrolação e vamos receber a imprensa, afinal temos muitas fotos pra posar, declarações para dar para revistas, jornais, portais de internet, televisão...
-Vamo botar a cara no sol, querida!
Os dois se deixam ser fotografados pelos fotógrafos presentes e jornalistas começam a se aproximar e fazer perguntas.
CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, a festa está animada e Riva estranha a ausência precoce de Suzanne da festa.
-Você viu isso, Vicente? Nunca vi a Suzanne ir embora tão cedo de uma festa... ainda mais quando essa festa é do casamento do meu filho...
-Ah, Riva... você sabe como é: nem seu filho nem o Rafa gostam da Suzanne. Aceitaram a presença dela por respeito à amizade que você tem com ela. Talvez ela tenha noção disso e não tenha tido vontade de se estender...
-Você tá certo, amor... bem, amanhã eu converso com ela pra ver se foi isso mesmo. Agora é hora de aproveitar a festa que tá ótima. E o Lúcio, tá se comportando com a babá lá em cima?
-Ela acabou de me mandar uma mensagem dizendo que ele tá dormindo como um anjo...
De repente, a imprensa se concentra na entrada do salão de festas. Riva, Vicente, Rafael e Marcelo estranham a movimentação. De repente, surge Márcio. Riva e Marcelo ficam perplexos e Riva é a primeira a ir em direção a Márcio, furiosa.
-O que é que você veio fazer aqui, seu merda? Não basta ter me deixado na pior no passado?
-Eu vim pedir perdão a vocês. - fala Márcio. FIM DO CAPÍTULO 60.

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