CENA 1: Guilherme não acredita
nas palavras de Valentim.
-Isso deve ser um engano,
cara... não é outro Guilherme que você vai prender? Você veio no
lugar certo? Essa aqui é a festa do meu casamento!
-Não tem engano nenhum,
Guilherme. Eu tenho um mandado de prisão contra você. Você é o
chefe da maior facção do estado do Rio de Janeiro. Vai negar?
-Eu só falo na presença do
meu advogado. Mas que história sem pé nem cabeça é essa? Quem é
você, cara?
-Não finja que não me
conhece, Guilherme. Você já armou uma emboscada na tentativa de me
matar e assim, atrapalhar as investigações que acontecem há muito
tempo contra você.
-Você tem noção da
gravidade das acusações que está me fazendo? Eu também conheço
as leis, Valentim.
-Tá vendo? Eu nem falei meu
nome e você sabe como eu me chamo. Acabou de assumir sua culpa.
Todos na festa estão
perplexos e se olham chocados entre si.
-Não tenho paciência para
jogos. Esta é a festa do meu casamento. Agora deixa eu beber
champagne e aproveitar minha nova vida!
Guilherme parte para dentro da
casa e tenta fugir pelos fundos, mas é impedido por policiais. CORTA
A CENA.
CENA 2: Ao ser levado de volta
à sala principal pelos policiais, já algemado, Guilherme se depara
com Mateus.
-Que isso! Posso ser
esquizofrênico, mas não alucino não!
Mateus resolve falar.
-Isso não é alucinação
nenhuma, Guilherme. Esse é definitivamente o fim da linha pra você.
Todo mundo já tá sabendo quem é o chefe e... sabe quem foi que
contou tudo à polícia? Eu! Sabe qual foi seu erro, Guilherme? Sua
vaidade. Sempre se achando acima do bem e do mal, manipulando a vida
de todo mundo, bastava você descobrir uma mínima fraqueza nossa e
pronto, nos enredava na sua teia e não nos dava nem saída. Mas foi
essa mesma vaidade, essa mesma prepotência de se sentir um semideus
que foi sua ruína: os homens que você mandou me matar não fizeram
o serviço completo. Eu me fingi de morto enquanto ainda tinha tempo
de me salvar das facadas que levei. Minha morte foi toda forjada e
com isso eu pude entregar todos os seus crimes, todos os seus podres
que você cometeu desde a época do ensino médio, quando assumiu a
facção fundada pelo seu pai. Surpreso por me ver? Acho que você me
subestimou bonito, hein rapaz... depois dizem que nordestinos não
são espertos. Toma essa do baiano aqui! Chupa essa, Cristina Partel!
- fala Mateus.
Guilherme começa a ficar fora
de si.
-Isso é impossível! Você
estava morto! Eu vi! Eu fui ao seu velório! Chorei sobre seu caixão!
-Tem certeza, Guilherme? Não
percebeu que o caixão estava fechado? Eu não morri, pro seu azar.
-Aqueles homens foram mesmo
uns incompetentes! Serviço primário, nem ficaram pra conferir se
tava morto e deram no pé. Amadores.
-Tá vendo como você mesmo se
acusa nesse seu descontrole? Guilherme, inteligência privilegiada
nenhuma nesse mundo é capaz de esconder o ser podre que você é.
-A culpa é do Cláudio! Se
ele não tivesse me rejeitado quando eu pedi pelo amor dele, eu nunca
ia ter surtado, eu nunca ia ter ficado doente! Ele arruinou a minha
vida, acabou com minha saúde mental! Eu nunca mais pude ter uma vida
normal e a culpa é dele!
-Você sabe no fundo que não,
seu merda. Você teria a esquizofrenia de qualquer forma, seu bosta.
Procurar alguém a quem culpar só prova que você, apesar de toda
sua inteligência e sagacidade, é um fraco, um escapista, um sujeito
incapaz de assumir as próprias responsabilidades e ainda tem a
capacidade de jogar a culpa nos outros que não tem nada a ver com
isso!
-Olha que fala... logo você,
Mateus! Que culpava o Rafael por não ter o sucesso que achava que
merecia durante não sei quanto tempo na TV. Você não é ninguém
pra me apontar o dedo!
-Talvez eu não seja a pessoa
mais indicada, mas tenho dignidade e assumo os meus erros. Já estou
pagando por cada um deles.
-Eu vou te matar, seu infeliz!
- fala Guilherme, sendo contido pelos policiais. CORTA A CENA.
CENA 3: Cláudio começa a
falar.
-E tem mais, seu doente: nosso
casamento não valeu de nada. É totalmente inválido. Nós não
ficamos casados nem por meia hora, nem por um segundo! Eu já sabia
de tudo, sobre quem você realmente é, desde ontem. Sabe a juíza?
Sabia de tudo. Os papéis que ela trouxe eram frios. Valentim estava
por trás de tudo isso e orientou a juíza. Eu nunca me casaria com
um sujeito feito você. Um sujeito que me culpa pela sua própria
ruína, admitindo toda a sua pequinez, toda sua covardia. Você não
passa de um nada, Guilherme. Eu nunca deveria ter confiado em você,
nem por um segundo. Fui trouxa agora, mas nunca mais volto a ser
feito de trouxa por você. Valentim, por favor, os papéis!
Valentim entrega os papéis
para Cláudio, que os rasga na frente de Guilherme.
-Tá vendo bem o que eu faço
com essa merda aqui? Não era válido antes e agora vai pro lixo. Pro
mesmo lixo que você merecia estar! - finaliza Cláudio.
Guilherme começa a surtar.
-Isso tudo é um engano, é
uma conspiração! O chefe não sou eu, é ele, o Mateus! Prendam
ele, não eu! Ele mentiu! Ele mentiu que tava morto! Prendam ele! Eu
sou inocente! Vocês não sabem o que eu passei por causa desse
baiano infeliz! Ele mente! - apela Guilherme.
-A única mentira aqui é
você, Guilherme. Você não é nem nunca foi o que dizia ser. - fala
Cláudio.
-Policiais, levem o elemento
pra viatura. O show já acabou! - fala Valentim.
Guilherme é levado pelos
policiais. CORTA A CENA.
CENA 4: A festa de casamento
de Cláudio e Guilherme é encerrada e todos deixam a festa, menos
Rafael, Marcelo, Laura, Haroldo, Mateus e Bruno, que decidem dormir
por ali. Cláudio chora, desconsolado. Bruno tenta consolá-lo.
-Já passou, Cláudio. Agora
nós todos estamos livres do Guilherme. Me perdoa por nunca ter
falado que ele era o chefe? Eu realmente acreditei que ele estivesse
mudado e deixado a facção pra trás... - fala Bruno.
-Você, o Mateus... O Haroldo!
Meu Deus do céu... todos vocês foram vítimas dele! E eu julgando
vocês... eu fiz tudo errado achando que tava fazendo a coisa certa!
- lamenta Cláudio.
Marcelo, Rafael, Laura, Mateus
e Haroldo resolvem deixar os dois falando a sós. Bruno segue
falando.
-Para com isso, Cláudio...
ninguém podia fazer nada até o momento que ficou certo que ele ia
ser preso de uma vez. Acho que talvez agora você entenda o que eu
escondia de você. Eu apareci nessa casa pela primeira vez pelas
ordens dele. A intenção do Guilherme foi sempre manipular sua vida,
de forma que isso te fragilizasse e desse condições de ele entrar
na sua vida. Eu te amei desde o primeiro momento, mas não tinha
força pra ir contra ele...
-E você ainda acreditou que
ele podia estar mudado. Sabe por que? Porque você é uma pessoa
boa... de alma e coração puros. Coisa que aquele demente do
Guilherme jamais seria. Você foi forte apesar de tudo. Em silêncio,
sem ter ninguém pra contar, você enfrentou ele e nunca saiu do meu
lado... não tenho como te julgar, meu amigo. Você provou que está
ao meu lado...
-Fico feliz que você me
entenda. Minha intenção nunca foi esconder nada, acho que se
dependesse do Mateus, também não. Guilherme nos flagrou certa vez
juntos e passou a nos chantagear depois daquilo. Eu ainda consegui me
safar de trabalhar na facção, mas o Mateus não teve como... porque
tinha mais que eu a esconder.
-Uma pessoa capaz de usar os
segredos das pessoas contra elas não tem um pingo de caráter e
decência. E pensar que eu quase me casei com esse cara por pena. Por
pena! Porque ele não tem culpa de ser esquizofrênico... mas tem
culpa de não ter caráter. Tem culpa de me responsabilizar pela
merda que ele entrou por conta própria. Olha, eu sei que a família
dele sempre foi um horror... a mãe sumiu e o pai era o líder dessa
porra toda que eu nem sabia que existia, só achava aquele cara um
negligente com o filho mesmo. Morreu tarde, até... devia ter sido
eliminado antes. Mas o mais doido é que ainda consigo sentir dó do
Guilherme... ele nunca teve o amor que precisava... sempre mendigou
pelo amor desse pai e só recebia cobrança no lugar. Pensei que ele
superaria isso, mas pelo visto, é mais uma das coisas que ele não
supera... - fala Cláudio.
-Eu posso imaginar o tanto que
ele pode ter sofrido e provavelmente sofreu na vida, Cláudio. Mas
nada disso justifica ele chantagear a mim, ao Mateus e a tantas
outras pessoas, centenas delas que ficaram nas mãos dele. Sem contar
as pessoas que morreram a mando dele. Ele pode nunca ter sujado as
mãos diretamente, mas ele causou muitas mortes. E quase acabou com a
vida do Mateus. Olha... eu sei que você nunca foi muito com a cara
dele, mas ele foi importante pra mim em algum momento.
-O Mateus nos salvou. Meu
conceito sobre ele está bem mudado, pode acreditar.
CORTA A CENA.
CENA 5: Guilherme chega à
delegacia e é levado para prestar depoimento, algemado. Ainda
aparentando estar muito revoltado, começa a ouvir as perguntas do
delegado.
-Sou o delegado Walcyr. Este
aí ao seu lado é o defensor público a quem você tem direito. -
fala o delegado.
-Me chamo Ariclenes. Estou
aqui para representar sua defesa.
-Dispenso sua defesa. - fala
Guilherme, secamente.
-Você foi preso por ter sido
o mentor de um assalto a banco e mandante da morte dos seus
delatores, em 2014. Ainda assim recaem sobre você acusações de
outros diversos crimes. O que você tem a falar sobre isso? - fala o
delegado.
-É tudo culpa do Cláudio! Eu
era só um adolescente, tava começando a viver... meu pai tinha sido
assassinado pelos traidores da facção e eu relutava em aceitar
entrar para a liderança, que era o que queriam de mim. Era o que meu
pai queria, antes de morrer... eu sempre rejeitei essa vida de crime,
de organização, de facção, dessas merdas todas... mas foi então
que eu me dei conta tarde demais que eu sempre amei o Cláudio e
precisava me desculpar com ele, por ter feito ele sofrer quando ele
foi apaixonado por mim. Mas aquele ingrato não estava mais esperando
por mim. Estava namorando e tudo! Quando fui procurar ele dizendo que
sabia naquele momento que o amava, ele disse que não precisava mais
de mim. Que eu não significava mais absolutamente nada na vida dele.
Eu saí atordoado dali... foi quando tive meu primeiro surto. Não
sabia até então que estava começando a manifestar os sintomas da
esquizofrenia. Encrenquei com um cara que passava na rua... achei que
ele me seguia, que queria fazer alguma merda comigo. Bati, bati, bati
até minha mão machucar. - fala Guilherme.
-Foi quando você foi detido
por agressão... - ressalta o delegado.
-E foi tudo culpa do Cláudio!
Se ele não tivesse rejeitado meu amor eu não tinha surtado daquele
jeito no meio da rua! A culpa é dele, é só dele, sempre ele! Ele
teve a vida que eu não tive! Ele teve o amor dos pais que eu não
tive! Ele teve os amigos que eu não tive! Ele teve todo o amor que
eu não tive! E o que mais me dói nisso é que ele não vê o quanto
eu amei e ainda amo ele! Tudo o que eu fiz foi pras pessoas se
afastarem dele, pra ele me amar, pra ele me querer, pra ele precisar
de mim. A única razão da minha vida é e sempre foi o Cláudio. Mas
ele não entende, nunca vai entender que tudo o que eu fiz, todos os
crimes que cometi, toda a gente que eu manipulei, foi pra ter ele só
pra mim, pro resto da vida. E agora tudo acabou, no dia do nosso
casamento! Ele é um ingrato! Ele estava há meses comigo e não
pensou duas vezes em me deixar ser preso. Não fez nada pra impedir.
Eu odeio o Cláudio! Quer dizer, não odeio, eu amo! Ah, eu não sei
mais de nada! Dediquei anos da minha vida, dentro dessa porra de
facção e mais da metade do que fiz por essa merda de facção foi
pra ter o Cláudio só meu, só pra mim, perto de mim e de mais
ninguém. Pra que? Tudo isso acabou! Eu não tenho mais nada na vida!
Eu odeio isso! Ele me abandonou e vai pagar! - fala Guilherme,
perdendo o controle.
-Levem esse rapaz para a cela
provisória. Ele está fora de si. - ordena o delegado. CORTA A CENA.
CENA 6: Na manhã seguinte,
todos se acordam na casa de Cláudio acomodados em colchonetes
colocados no chão da sala.
-Pensei que vocês não
acordavam mais. Já são quase dez da manhã – fala Cláudio.
-Foi muita coisa ontem,
querido. Me surpreende você estar assim, tão disposto... - fala
Laura.
-Enfim, vou tomar um banho.
Fiquem à vontade. - fala Cláudio.
Todos notam que Mateus está
pensativo.
-Tá com a cabeça longe, hein
Mateus? - observa Haroldo.
-Na verdade eu tou pensando
como vai ser tudo daqui pra frente... se eu ainda acabo pegando
cadeia ou não... - desabafa Mateus.
-Liga pro Valentim, bobo. Ele
deve saber o que te dizer. - fala Marcelo.
-É isso mesmo que vou fazer!
- fala Mateus, se distanciando e indo ao hall de entrada da casa de
Cláudio, ligando para Valentim.
-Fala Mateus! Aliviado por
poder se assumir vivo de novo? - brinca Valentim.
-Muito engraçadinho você...
liguei porque fiquei preocupado com minha situação. Queria saber se
ainda corro o risco de voltar pra cadeia.
-Não, pode esquecer dessa
preocupação. O Rafael não prestou queixa contra você e nem
pretende te processar. O único processo ao qual você vai responder
é ao que foi aberto por sua confissão, mas com todas as informações
adicionais que você deu sobre a facção e ainda pelo fato de ter
colaborado com a prisão do Guilherme, isso vai te livrar da prisão.
Vai responder ao processo em liberdade... claro, vai ter que pagar
multa, indenização, essas coisas... mas se o que te preocupa é a
possibilidade de ir pra cadeia, pode esquecer que isso não vai
acontecer. Sua vida recomeça pra valer! - fala Valentim.
-Obrigado... fico feliz por
saber disso. Feliz e aliviado. Desculpe se atrapalhei seu trabalho.
Até mais.
Mateus desliga, aliviado.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, está
apenas Bruno na casa de Cláudio.
-Você não tinha que estar
trabalhando, Bruno?
-Acho que não tive tempo de
te contar no meio dessa loucura toda. Eu fui demitido. Acabou o
período de experiência e alegaram que eu estava incompatível com a
empresa.
-Que pena... mas você
encontra coisa melhor logo, tem que acreditar.
-Na verdade eu queria poder
voltar acreditar em outra coisa.
-No que?
-Em nós dois, Cláudio. Eu
sinto sua falta... teria lutado mais por você, se o Guilherme não
tivesse aparecido.
-Também sinto sua falta...
mas nem sem o que posso te dizer além disso.
-Não precisa dizer... só
precisa me dar uma chance. Pra gente tentar de novo, de onde tudo
parou...
-Bruno... eu amo você. Você
sabe disso. Mas minha cabeça tá confusa demais com as últimas
coisas que aconteceram. Me vejo irmão do Marcelo num dia, no outro
dia eu conheço meu pai biológico e no outro eu descubro que tava
prestes a me casar com meu inimigo. É muita coisa, entende? Vou
precisar de um tempo... pensando em tudo, ressignificando as
coisas... entendendo como me virar na vida daqui em diante. Se você
tiver paciência...
-Com você eu tenho toda a
paciência do mundo. Eu vou esperar pelo tempo que for preciso. Só
não posso e nem vou desistir de você.
-Não sei como você pode ter
tanta paciência comigo, Bruno. Querendo ou não, eu fui injusto com
você.
-Nem tanto assim. Você sabe
que eu vim aqui nessa casa a mando do Guilherme no dia que a gente se
conheceu... ainda que eu tenha desistido de cara e me apaixonado por
você no ato, isso não diminui o que aconteceu... me calei por medo.
-Seu medo é compreensível.
-Bem... eu vou voltar pra casa
da Laura... é lá que estou morando por enquanto... a gente vai se
falando, Cláudio.
Bruno abraça fortemente
Cláudio e parte. CORTA A CENA.
CENA 8: Rafael e Marcelo
assistem na TV a notícia sobre a prisão de Guilherme e seu
envolvimento com a facção. O repórter noticia.
-Foi preso ontem à noite
Guilherme Rodrigues Ruas, que hoje se sabe ser o chefe da maior
facção criminosa do estado do Rio de Janeiro. Sua prisão ocorreu
durante seu casamento, porém o casamento não foi sequer
oficializado, uma vez que toda a cena estava armada para que sua
prisão fosse efetuada com sucesso e sem oferecer riscos a ninguém.
A facção, conhecida pelo aplelido de “Comando do Sudeste”,
traficava armas, dinheiro ilegal e também efetuava diversos assaltos
a banco nos últimos anos, principalmente na capital, mas com ações
estendidas às cidades vizinhas, como Niterói. Pesam sobre Guilherme
ainda as acusações de assassinar comparsas da facção presos em
2014, por eles terem delatado sobre sua identidade. O processo de
investigação, que até o momento corria em segredo de justiça,
passa agora para o Ministério Público, que julgará o crime pelo
qual ele foi preso e ainda averiguará demais acusações. De acordo
com o delegado Walcyr Fernades Rosa, que colheu o depoimento de
Guilherme, o chefe da facção apresenta um comportamento
desequilibrado e consta no seu registro médico que ele sofre de
esquizofrenia, devendo assim ser transferido para uma instituição
psiquiátrica e de lá então, aguardar seu julgamento. - fala o
repórter.
-Pelo menos chegando na mídia
isso é mais uma garantia de que estamos todos realmente a salvo... -
fala Rafael.
-Verdade. Mas você notou que
a reportagem não falou em momento nenhum que se tratava de um
casamento homoafetivo? - observa Marcelo.
-Acho que nem cabia, amor...
não era o foco da reportagem. Depois, Guilherme é comprovadamente
um criminoso de alta periculosidade. Acho até que poderia pegar mal
se fosse citado que o preso é gay.
-Te entendo, mas discordo.
Visibilidade é visibilidade. Cada vez que deixam de mencionar algo
sobre nós, ficamos mais invisíveis. Independente de caráter. Ele é
um criminoso? É, sem dúvida alguma. Mas também é ser humano e na
reportagem só foi mencionado o casamento. Não disse que era com
outro homem. Querendo ou não, isso nos invisibiliza.
-Por esse lado eu te entendo,
mas só posso concordar em partes, Marcelo... pensa comigo: ia ser
bom o Cláudio, seu irmão, ser exposto numa reportagem dessas? Por
mais que ele seja ator, ele sempre repudiou a mídia, você sabe
disso...
-É... acho que nós dois
temos pontos a serem levados em consideração aqui. Empate técnico,
pelo visto... - brinca Marcelo.
-Só você... depois de tudo
isso ainda encontra tempo pra sorrir.
-Com você isso fica bem mais
fácil, afinal de contas me casei com você por alguns motivos...
-Ah é, Marcelo? Quais
motivos? - segue Rafael, na brincadeira.
-Assim, uns motivos meio
bobinhos, irrelevantes, como você ser podre de rico, gato pra
caralho, bom de cama, bom de papo...
Os dois se divertem. CORTA A
CENA.
CENA 9: Guilherme é
transferido para instituição psiquiátrica e ao chegar lá, se
assusta com os internos. Um deles puxa sua camiseta e cheira seu
pescoço. Guilherme paralisa sem dizer nada.
-Hmmm... cheiroso. Deve ser
grã-fino. Nem parece doido, mas pra tá aqui... - fala o interno.
-Quem disse que eu sou doido?
- irrita-se Guilherme.
-A gente é doido, mas não é
burro, moço. A gente sabe onde tá... isso aqui é instituição
psiquiátrica. É tudo doido aqui. Eu também sou, mas tomo os
remédios direitinho... - fala o interno.
-É? Não parece, porque você
não deve ver um chuveiro há dias, pelo cheiro...
-Aqui é cada um por si, meu
bom... quer as regalias? Tem que se comportar.
-O que cê tá querendo dizer?
Isso não faz o mínimo sentido...
-Aqui, se você não se
comprta direitinho, eles não deixam nem tu tomar banho...
-Pare de palhaçada! Não vou
acreditar num doido querendo me meter medo.
-Você também é doido.
Prazer, meu nome é Bernardo. Qual o seu nome?
-Vai fingir que não sabe?
Todo mundo viu na TV. Se você não viu, azar é o seu. Não vou
falar meu nome pra você.
-Ui! Tá estressadinho, já?
Melhor baixar a bola... tá cheio de doido agressivo aqui, se você
quer saber. Não sou da violência, mas conheço uns aqui que só
camisa de força pra dar conta. Abre teu olho e para de tratar o
pessoal com grosseria.
Guilherme revira os olhos.
CORTA A CENA.
CENA 10: Riva está terminando
de colocar Lúcio para dormir quando Vicente ouve o celular dela
tocar.
-Amor, pega o celular pra mim?
-Claro! - fala Vicente,
entregando o celular para Riva, que olha quem está chamando.
-Parece do exterior.
Riva atende e é Suzanne.
-Alô? Oi, Suzanne! Tudo bem
aí em Paris?
-Tudo maravilhoso. Tou ligando
pra avisar que vou voltar pro Brasil.
Riva gela. FIM DO CAPÍTULO
100.
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