CENA 1: Cláudio insiste no
assunto.
-Vocês estarão melhores
vindo com a gente pro Rio. O que não dá pra deixar é a dona Vânia
à espera de um atendimento apropriado ao caso dela. - fala Cláudio.
-Sou obrigado a dar razão pro
Cláudio. Vocês vão ficar melhores se vierem com a gente e até
onde eu lembro, você ainda inspira cuidados, pai... - fala Bruno.
-Eu tou bem, meu filho! Zerado
depois do infarto. Não precisa se preocupar com a gente, tudo vai
dar certo. - fala Setembrino.
-Vou sair dessa, queridos. Eu
sei que é um horror ter insuficiência renal, não pedi pra ter
isso, mas não acho nem um pouco justo dar esse trabalho pra vocês.
- fala Vânia.
-Você acha justo brincar com
sua saúde desse jeito pra não causar preocupação, dona Vânia?
Pra mim não ia ser trabalho nenhum cuidar de quem precisa... - fala
Cláudio.
-Muito menos pra mim, mãe.
Poxa, eu sou seu filho, deixa eu cuidar da senhora, do pai se for
preciso! O que a gente não pode permitir é que vocês fiquem sem a
assistência necessária... principalmente você, mãe. Eu sei que as
máquinas de diálise estão em falta no hospital aqui, deu na TV! -
fala Bruno.
-Vocês tem certeza que querem
isso? Vai doer deixar essa casa aqui... vivemos por mais de vinte e
cinco anos aqui... - fala Vânia.
-Mãe... por favor. A casa que
espere. E se a gente resolver ficar no Rio, que seja colocada à
venda. A gente pensa nisso depois. - fala Bruno.
-Ouçam o Bruno, meus
sogros... a gente tá se colocando à disposição de vocês e não
nos custa nada além do dinheiro, que a gente pode batalhar
tranquilamente, garantir essa força pra vocês. Principalmente pra
você, dona Vânia... o tratamento é necessário e indispensável. -
fala Cláudio.
-Tudo bem se a gente aceitar,
Bino? - pergunta Vânia.
-Acho que vai ser melhor pra
você, amor... aceitamos, sim. - fala Setembrino.
-Ótimo! Então nós partimos
ainda hoje. Sem tratamento você não fica, mãe! - afirma Bruno.
CORTA A CENA.
CENA 2: Marcelo e Rafael
conversam sobre o que ficaram sabendo a respeito de Suzanne.
-Sabe o mais maluco de tudo
isso, Marcelo?
-O que?
-Que saber tudo isso sobre a
Suzanne, sobre ela ter esse parentesco com sua mãe e com você, faz
todo sentido.
-Você tem toda a razão,
Rafa... querendo ou não, muita coisa se explica. A começar pela
implicância instantânea que eu tive com ela. Minha intuição já
dizia de alguma forma que ela não presta... que tinha algo de muito
errado naquela forçação de barra que foi a tentativa dela de se
aproximar da minha mãe e de todos nós. Tanto fez, tanto insistiu,
que acabou conseguindo. E agora nós sabemos o motivo.
-O que não entra ainda na
minha cabeça é o tamanho da crueldade dela... como ela foi capaz de
matar o próprio pai? Ele era seu avô, no final das contas! Você
poderia ter conhecido ele, mesmo a contragosto da Riva...
-Eu nem penso nisso. Na
verdade ele estava morto muito antes de eu sonhar em nascer. Mas tudo
isso me deixou realmente apavorado. A Suzanne, no fim das contas, é
uma assassina! E eu tenho o sangue de uma assassina correndo nas
minhas veias... isso é muito estranho...
-O que mais me revolta nisso é
me dar conta de que ela não tem mais como pagar por esse crime. Tudo
isso porque o bendito crime já prescreveu. Inacreditável.
-Mas ela deve ter outros
crimes mais recentes. Tem que ter. Que ela é golpista a gente sabe,
mas o desafio vai ser encontrar as vítimas, ou os associados.
-De qualquer maneira, isso não
é uma tarefa nem pra mim e pra você. Deixa pra Raquel, pro Valentim
e pra Mara... depois dele, a polícia resolve o que for preciso.
-Verdade. Mas sabe a que
conclusão que cheguei?
-Qual?
-Suzanne não pode ser
psicopata. Tem algum outro transtorno ou mesmo falta de caráter. Mas
do jeito torto dela, ela amou esse pai. E matou por ter se sentido
traída. Isso me faz acreditar que ela realmente desejou a vida da
minha mãe. Não basta o dinheiro pra Suzanne... ela sempre quer
mais. Ela quer prestígio, fama, os holofotes voltados a ela.
-Faz sentido, amor...
-Não faz? Então a cisma dela
piorou quando ela descobriu que a gente tava rico... só pode ser
isso. E famosos, ainda por cima, por sermos parentes de você e da
sua mãe, dois atores muito conhecidos...
-E a coisa piorou quando o
Vicente se apaixonou pela sua mãe. Claro! O ator mais famoso do
começo da década passada se encantando pela ex vendedora de
quentinha. Foi demais pra ela...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 3: Laura se empolga com o
sucesso que o vídeo que ela gravou sobre poligamia está fazendo e
chama Mateus e Haroldo.
-Amores, venham cá ver uma
coisa! - grita Laura.
Haroldo e Mateus atendem.
-O que foi que te deu pra
gritar? Quase dei um pulo! - fala Haroldo.
-É... eu também! - fala
Mateus.
-Olhem só como tá bombando o
vídeo sobre poliamor! Já passou de setecentas mil visualizações,
daqui a pouco chega a um milhão! - fala Laura.
-É, mas e os haters? Estão
comentando muita bobagem? - pergunta Haroldo.
-Sempre vai haver haters. Eles
estão lá, no cantinho solitário deles destilando ódio... mas o
vídeo tem poucas avaliações negativas e... bem, queridos... leiam
os comentários de pessoas que apoiam e pessoas que vivem o poliamor!
- empolga-se Laura.
Mateus e Haroldo leem os
comentários e ficam surpresos e felizes.
-Que recepção bem linda! Não
esperava que houvesse tanta gente que apoia e tanta gente que vive
relações poligâmicas... mesmo que a maioria seja em segredo, eles
estão se sentindo representados por você, amor! - fala Haroldo.
-E daqui a pouco vão se
sentir representados por nós, conforme eu e o Haroldo formos
participando dos próximos vídeos. Isso é lindo demais, gente! -
fala Mateus.
CORTA A CENA.
CENA 4: Os internos Danilo e
Pedro vão a Guilherme contas sobre as novidades.
-E aí, rapazes? Novidades
sobre o nosso plano? - pergunta Guilherme.
-Tudo cada vez mais na mão! O
Danilo tem um jeito especial de falar com os mais medrosos e
revoltadinhos. - fala Pedro.
-Isso significa que eles
mudaram de ideia? - pergunta Guilherme.
-Não apenas mudaram de ideia
como alguns deles aceitaram inclusive entrar na execução da parte
mais difícil do nosso plano, que é imobilizar os enfermeiros e
carcereiros. O plano é relativamente simples: primeiro os
enfermeiros são imobilizados, o que vai fazer com que eles gritem
depois de amarrados ou encarcerados. Os carcereiros vão acudir os
enfermeiros sem ter muita ideia do que realmente tá acontecendo e,
como eles são poucos, temos pessoal mais que suficiente para
imobilizar eles também. Eu tenho como fazer cordas poderosas com os
lençóis e vários internos já me conseguiram material pra isso.
Dessa forma, quando todos estiverem presos ou imobilizados, ainda
vamos ter de passar pela entrada, mas mais uma vez: são duas pessoas
que ficam ali na entrada da instituição. Imobilizamos um deles e o
outro, acuado, vai se ver forçado a abrir se não quiser morrer,
porque nessa altura, a fúria dos mais descontroladinhos já vai
estar bem agressiva! - fala Danilo.
-Excelente, Danilo! Você é
um ótimo estrategista! Não tem como dar errado! - vibra Guilherme.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Cláudio
e Bruno voltam com Setembrino e Vânia para a casa de Cláudio.
Enquanto Bruno coloca as malas de todos para dentro de casa, Cláudio
faz companhia aos sogros.
-O que estão achando aqui do
bairro de Santa Tereza? - pergunta Cláudio.
-Muito simpático, Cláudio...
é completamente diferente do que eu imaginava qualquer bairro do
Rio... - fala Vânia.
-Não parece nem um pouco com
o que a gente viu na TV naquela novela do diamante cor de rosa. -
constata Setembrino.
-Ah, as novelas... elas sempre
enganam a gente! Mas olha, meus sogros, o Bruno e eu vamos dar um
jeito de desentulhar o quarto de hóspedes que nós nunca usamos. Já
tem uma cama de casal lá, mas não se preocupem que vamos comprar um
colchão novo. E você, seu Setembrino, nem pense em querer nos dar
uma força porque seu filho proibiu você de fazer esforço, tá me
ouvindo? Só vai poder fazer se o médico te liberar depois dos
exames, que você também não vai escapar de fazer. Fiquem à
vontade e qualquer coisa nos chamem! - fala Cláudio, indo ajudar
Bruno.
-E aí, amor... muito puxado
tirar esse monte de coisa velha que o antigo dono da casa deixou de
brinde antes de eu comprar?
-Tá bem complicado. Tem teia
de aranha até não poder mais aqui.
-Coragem. Desde que me mudei
pra cá – e olhe que tem anos – nunca tive coragem de mexer nessa
bagunça. Deixaram até brinquedos pra trás... quanto entulho, meu
Deus!
-É... mas você vai precisar
encontrar coragem de mexer nessa coisarada toda aqui... porque eu não
vou conseguir sozinho.
-Tá... tudo bem.
-E os meus pais, estão
gostando da casa, do Rio?
-Aparentemente sim... e ah,
proibi o seu pai de vir aqui tentar nos ajudar.
-Nunca é demais reafirmar
isso a ele. Do jeito que ele é prestativo e entrão...
-Tirando a parte do entrão,
eu acho que eu sei de quem você puxou essa coisa de ser solidário e
prestativo...
-Bobo... me ajuda aqui, esses
negócios vão cair em cima de mim!
CORTA A CENA.
CENA 6: Guilherme, na
companhia dos internos Pedro e Danilo, orienta os demais internos
sobre os planos da fuga que será executado ainda naquela noite.
-Então só pra repassar a
parte principal desse plano: nenhum de vocês, eu disse nenhum, vai
tomar os medicamentos. Façam como a maioria de vocês já vem
fazendo ultimamente: finjam tomar e joguem fora quando ninguém
estiver olhando. Vocês vão começar a agir, todos em conjunto,
quando for a hora da ceia antes da hora de dormir. Nessa hora todos
os enfermeiros ficam mais distraídos e estão mais cansados pelo
final do dia.. Os poucos carcereiros em sua maioria já dormem, então
tempo de agir não vai faltar pra ninguém aqui. Dúvidas? - fala
Guilherme.
-Nenhuma! - falam alguns
internos enquanto outros seguem olhando atentamente para Guilherme.
-Melhor assim... devo entender
que os que se calaram estão a par de tudo e concordam com nosso
plano, certo?
Todos os internos fazem sinal
afirmativo com a cabeça.
-Excelente, meus amigos. Vocês
nunca me decepcionam! - fala Guilherme.
-Pra finalizar, é importante
que tudo seja seguido a risca. Podem sentir raiva à vontade, só não
matem ninguém aqui. Vamos fugir sim, mas ninguém precisa morrer por
causa disso. - orienta Danilo.
-Então é isso, meus amigos!
Mais tarde, quando for a hora da ceia, nós todos precisamos começar
a agir em conjunto. Lembrem-se: vocês executam nosso plano. Eu,
Danilo e Pedro apenas assistimos e aproveitamos o ensejo pra fugir
junto! - fala Guilherme.
CORTA A CENA.
CENA 7: Mateus observa Laura e
Haroldo conversarem enquanto preparam o jantar e os dois percebem o
silêncio de Mateus.
-O que te deu, baianinho? Tava
até agora conversando com a gente e de repente fica mudo? - fala
Haroldo.
-Também reparei. Você não é
de ficar quieto assim do nada, Mateus... tá acontecendo alguma
coisa, querido? - pergunta Laura.
-Nada não, gente... só umas
besteiras que passaram pela minha cabeça. - fala Mateus.
-Besteira ou não, a gente se
preocupa e quer saber o que te aflige assim... - fala Laura.
-Continuem preparando o
jantar. Vocês querem que eu ajude com alguma coisa? Não me custa
nada... - fala Mateus.
-Amor... fala o que tá te
deixando assim, meu baianinho. Tou vendo que você tá precisando
desabafar... - fala Haroldo.
-Eu não sei o que desabafar.
Não sei direito o que tá acontecendo, gente... até quinze minutos
atrás eu tava me sentindo super bem, astral lá em cima... mas de
repente me deu uma coisa ruim, um aperto no peito... uma sensação
de que algo ruim pode acontecer. Um mau pressentimento, algo assim...
- fala Mateus.
-Será que de repente isso não
é resquício de algum estresse pós traumático que só foi aparecer
agora, depois de algum tempo? - questiona Laura.
-Pode ser, querida... eu
espero que seja. - fala Mateus.
-Acho que no fim das contas,
você deu uma boa sugestão, amor... vem cozinhar com a gente, assim
você distrai um pouco a cabeça e não fica alimentando essas
besteiras... - fala Haroldo.
Mateus ajuda Laura e Haroldo
na cozinha. CORTA A CENA.
CENA 8: No instituto penal
psiquiátrico, chega a hora da ceia dos internos. Guilherme, Pedro e
Danilo observam a movimentação de cada um dos enfermeiros
responsáveis por servir a comida aos internos, da mesa onde estão.
Guilherme começa a fazer gestos sutis para alguns internos dizendo
para eles esperarem mais um pouco e aguardarem a distração dos
funcionários da instituição. Danilo indica que o momento chegou e
os internos começam a pegar os funcionários de surpresa,
imobilizando cada um deles.
-Perderam, seu bando de filho
da puta! - fala um dos internos, que dá uma gravata no funcionário
que fica imobilizado.
De repente, toda a sala de
refeição está tomada de internos revoltados.
-Chegou a hora, meus amigos. É
só fazer tudo certinho que nós recuperamos a liberdade. - fala
Guilherme, sorrindo maliciosamente.
FIM DO CAPÍTULO 114.
Nenhum comentário:
Postar um comentário