CENA 1: Cláudio domina seu
asco, respira fundo e tenta agir naturalmente com Suzanne.
-Adoro festa! Você é a
Suzanne, não é? Faz tempo que eu não te via. - fala Cláudio,
dissimulado.
-E você, menino? Quem é?
Desculpe a indelicadeza, mas não consigo recordar de você. É amigo
do Rafael? - fala Suzanne.
-Não, querida. Sou irmão do
Marcelo... descobrimos tem pouco tempo, acredita? Fomos melhores
amigos uma vida inteira e num desses “plot twists” malucos que a
vida dá, a gente descobriu que é filho do mesmo pai, olha que
coisa! Você conhece o pai do Marcelo? Márcio o nome dele... e ele
também é meu pai, olha que sensacional! - fala Cláudio, irônico.
Marcelo teme que Suzanne
perceba a ironia de Cláudio.
-Que coisa, menino. Cláudio é
seu nome, né? Vem na minha festa também, querido. Você também faz
parte da família Bittencourt de alguma forma... - convida Suzanne,
fingindo não saber que Cláudio é seu filho abandonado.
-Claro que eu vou, amada.
Adoro festa, como eu disse. Vai ter open bar? Só vou se tiver bebida
liberada de graça! Posso nem ver que adoro beber até cair! -
provoca sutilmente Cláudio.
-Meio viadinho você, hein
rapaz? - fala Suzanne, desconfortável com atitude de Cláudio.
-Meio não, amada. Sou
viadíssimo, viadérrimo, toda banhada e trabalhada no glitter. Já
assistiu Rupaul's Drag Race? Assiste, mona! É uma delícia! - fala
Cláudio.
Marcelo e Rafael percebem que
Cláudio está prestes a deixar transparecer que sabe ser filho de
Suzanne e Rafael resolve interferir.
-Bem, agora que a gente
chegou, vocês nos deem licença que a gente vai na edícula pra
deixar lá os vinhos que a gente comprou. - fala Rafael.
Os três vão à edícula e
Marcelo perde a paciência com o irmão.
-Puta que pariu, Cláudio! Pra
que tudo aquilo? Tava quase estampado na sua cara o nojo que você
sentiu dela! - reclama Marcelo.
-Fiz pra chocar, mesmo! Tenho
certeza que aquela lá sabe direitinho que eu sou o filho que ela
abandonou. E esse filho é viadíssimo sim senhora! Vai ter que
engolir! - fala Cláudio.
Rafael se impacienta.
-Não se trata disso, Cláudio!
Você esqueceu do que a gente combinou ainda há pouco na sua casa?
Pelo amor de Cher, viado! Se controla!
-Pra vocês é fácil falar em
se controlar, não é? Não são vocês que estão diante da sua mãe
biológica sabendo que ela é uma psicopata, uma criminosa sem
escrúpulos, uma falsiane pior que qualquer outra! Vocês pedem pra
eu me controlar, mas tentaram pelo menos se colocar no meu lugar? -
esbraveja Cláudio.
-Responda você, Cláudio:
você está se colocando no nosso lugar? Entende a gravidade da
situação e do quanto necessitamos estar discretos pra que aquela lá
não note nada? Tem polícia no meio, viado! Se liga! - fala Marcelo.
-Desculpa, gente... é que foi
difícil de me conter... - fala Cláudio, arrependido.
-Desculpas aceitas. Mas pelo
amor de Deus, cunhado... pelo amor de Cher e de Inês Brasil: se
controla pelo menos até amanhã à noite. A gente não tem outra
saída. - fala Rafael.
-Tá, gente... vamos nos
acalmar. Não podemos chegar ao dia de amanhã com os ânimos
exaltados desse jeito. A propósito, me passem os vinhos pra eu
colocar no armário, por favor. - fala Marcelo.
CORTA A CENA.
CENA 2: Meia hora depois,
Marcelo e Rafael vão com Cláudio à casa de Laura, que os recebe
com um abraço.
-Desculpa vir assim, avisando
em cima da hora... mas é que o Cláudio, pra variar, quase colocou
todo nosso plano a perder... - fala Marcelo.
-Conheço bem esse meu melhor
amigo, foi melhor que vocês todos tenham vindo pra cá. Entrem, por
favor. - fala Laura.
Haroldo, ao ver Cláudio, o
cumprimenta feliz.
-Que bom te ver aqui, Cláudio!
Inclusive eu andava mesmo precisando falar com vocês... aliás, eu
não. Eu, a Laura e o Mateus... - fala Haroldo.
-Do que vocês tão falando? -
estranha Cláudio.
-É que eu também estou
ficando com o Haroldo. - esclarece Mateus.
Rafael, Marcelo e Cláudio se
espantam.
-Que!? - falam os três, ao
mesmo tempo.
-Aí, tá vendo meninos? A
gente não podia chegar assim falando do nada. Óbvio que eles iriam
ficar chocados. - fala Laura.
-Bem, eu não me meto nesse
assunto. Vou fazer a Glória: não sou capaz de opinar. - fala
Marcelo.
-É... eu também prefiro
ficar na minha. - fala Rafael.
-Não digo que estou chocado,
mas que isso me deixa espantado... perplexo, talvez... ah, isso
deixa! - fala Cláudio.
-Cedo ou tarde você ia acabar
sabendo disso, Cláudio. Depois, eu sei que você jamais iria querer
mais nada comigo depois de tudo o que te fiz passar, ainda que contra
minha vontade, quando eu fui Rodrigo. - fala Haroldo.
-Eu confesso que estou
surpreso, mas ao mesmo tempo admirado. Quem diria, Mateus... logo
você, que se escondeu por tanto tempo, que namorou o Bruno
escondido... - fala Cláudio.
-Eu sei de tudo isso, Cláudio.
Lamento demais pelos erros do passado... inclusive tenho de admitir
que minha implicância com você era pelo fato de você ser livre. Eu
não sabia ser livre... tou aprendendo. - fala Mateus.
-Apesar de tudo o que já
passou, sempre tive simpatia por você, Mateus. Assim, de graça. -
fala Cláudio.
-Bem... eu espero que você
não julgue essa nossa decisão, Cláudio. Mas eu preferi aceitar
esse relacionamento a três do que negar a nós mesmos o direito de
nos amar. E nós nos amamos. - fala Laura.
-Eu confesso que estou
admirado com a sua atitude, minha amiga. Admirado e orgulhoso da sua
decisão de enfrentar as convenções. - fala Cláudio.
-Não vai ser um caminho
fácil. Vamos enfrentar muitos olhares maldosos, muita gente nos
julgando, dando pedrada. Mas o que importa é que nos amamos e é
esse amor que nos une... - fala Haroldo.
-Confesso que nunca esperei
que logo você, meu irmão, fosse entrar num relacionamento aberto. -
fala Rafael.
-Não é bem aberto... nós
nos relacionamos somente entre nós três. Não pensamos em ter mais
ninguém com a gente... - fala Haroldo.
-Eu achei muito interessante
vocês terem o peito pra assumirem esse relacionamento. E corajoso,
acima de tudo. - fala Marcelo.
-Bem, já que o assunto já
foi esclarecido, eu quero saber se vocês estão com fome, porque
posso chamar uma pizza pra gente. Tou varada de fome! - fala Laura.
-E vejam bem, pessoas: o
taurino aqui sou eu e é essa daí que tá sempre com um buraco no
estômago! - brinca Cláudio.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 3: Eva chama Renata para
falar sobre um telefonema que ela recebeu.
-Amor, você não tem noção
de quem acabou de me ligar.
-Quem?
-Nada mais, nada menos que
Gerusa Valentino.
-Como é que é? A mulher mais
influente de todo o movimento feminista brasileiro, é isso mesmo que
eu ouvi?
-Exatamente, Renata.
-E o que ela queria te dizer?
-Nos dizer, você quer
dizer...
-Que?
-Exatamente. Ela quer que nós
passemos a militar com ela e com aquele grupo maravilhoso de mulheres
cis e trans que estão no “Poder Roxo”.
-Mentira! Sério isso? Eva, se
isso for verdade eu já tou toda me tremendo aqui!
-É a mais pura verdade.
-Ai gente, só não peço pra
você me beliscar que eu ia ficar puta de ficar com um roxo no braço!
-Boba. Mas isso não é
sensacional?
-Muito! Demais!
-Ela quer que a gente viaje
pelo Brasil com o grupo, isso não é maravilhoso?
-Sim, isso é... mas a gente
vai tirar dinheiro de onde?
-São várias as empresas e
instituições que ajudam financeiramente o “Poder Roxo”.
Dinheiro não falta pra ninguém que faz parte.
-Ainda que não seja o
objetivo, né.
-Claro que não é e nem nunca
vai ser. O objetivo é livrar as mulheres das garras do machismo e
empoderar todas as mulheres desse mundo, cis ou trans. Contanto que
sejam mulheres.
-Mas e os homens trans, não
entram nisso?
-Claro que entram, boba.
Apesar de serem homens, eles sofrem as consequências do machismo e
da transfobia, que insiste em tratá-los como mulheres. Enfim...
então eu posso ligar de volta pra Gerusa e avisar que a gente tá
dentro?
-Mas você tem alguma dúvida
disso, Eva?
As duas comemoram. CORTA A
CENA.
CENA 4: Horas depois, Cláudio
está de volta em casa e elogia jantar preparado por Bruno.
-Gente... você tá cozinhando
cada vez melhor. Que comida foi essa, meu Deus?
-Nem tava tudo isso,
Cláudio... você que tá sendo generoso comigo.
-E você sempre modesto... ai
ai...
-Antes modesto do que ser um
convencido, né...
-Sabe, Bruno... eu andei
pensando sobre tudo. Sobre mim mesmo, sobre você, sobre nós dois.
-E o que concluiu disso?
-Que às vezes eu sou um
chato. Um porre... eu dou no saco. Sempre com esse papo de que
preciso de mais tempo pra isso, tempo pra aquilo... mas esqueço que
a vida é agora. E agora eu quero estar com você.
-Você tá falando sério?
-Nunca falei tão sério na
vida. Você quer voltar a ser meu namorado?
-Você ainda pergunta? É o
que eu mais esperei nessa vida! Eu te amo, Cláudio!
-Eu também te amo, Bruno. Amo
mais do que pensei que poderia amar qualquer pessoa. Te amo mais que
tudo.
-Engano seu... quem te ama
mais que tudo aqui sou eu.
-Engano é seu, seu bobo... eu
me comovo com a sua bondade, com a sua generosidade, com o seu
coração sempre disposto a ajudar a fazer o bem. Você me comove,
Bruno... e me inspira a ser uma pessoa melhor.
-Você que me inspira,
Cláudio. Nunca duvide disso... a sua liberdade, a sua leveza, a sua
forma de encarar tudo de frente...
-Cala a boca, Bruno...
Os dois se beijam, selando o
namoro. CORTA A CENA.
CENA 5: No dia seguinte,
Suzanne organiza a festa no salão do hotel e passa ordens aos
funcionários.
-Eu não falei pra vocês
andarem mais rápido com isso? Quero tudo pronto e perfeito com no
mínimo duas horas de antecedência! - fala Suzanne, autoritária.
-Desculpe, dona Suzanne, mas
estamos trabalhando dentro do cronograma previsto pelos nossos
patrões. - fala uma funcionária do hotel.
-Não seja respondona, garota!
No momento eu sou a patroa de vocês. Vocês estão ganhando uma
quantia de dinheiro que nunca viram na vida. Os patrões de vocês
dão isso? - fala Suzanne.
Os funcionários fazem sinal
de negativo com a cabeça.
-Imaginei. Vocês nunca viram
tanto dinheiro na vida de vocês, não é? Pois pra terem esse
dinheiro, vão ter que trabalhar certinho, fazer tudo na velocidade
que eu quiser e do jeito que eu mandar! Garoto, quantas vezes eu
falei que eu quero as taças de cristal penduradas nas paredes para
os convidados se servirem? - reclama Suzanne a um dos funcionários.
-Dona Suzanne, isso já é
extravagância. Os copos podem se quebrar. - fala o funcionário.
-Que quebrem! Eu pago o que
for danificado. Agora vocês podem fazer o que eu estou mandando?
Vocês querem esse dinheiro, não querem? Então tratem de fazer tudo
exatamente do jeito que eu estou mandando. Vejam bem, não estou
pedindo: estou mandando. - continua Suzanne.
Uma das funcionárias desmaia
de cansaço.
-Ora essa... mais isso, agora?
Uma vagabundinha cheia de fricote fingindo desmaio? Vou falar pros
seus patrões, garota! Levanta daí, senão eu mando você ser
demitida! - fala Suzanne.
Um funcionário que acode a
funcionária que passou mal se revolta.
-Quer saber? A gente se demite
mesmo! A senhora pode ter dinheiro, mas não tem humanidade nem
respeito. Não somos obrigados a passar por isso!
O funcionário parte com a
funcionária que passou mal nos braços.
-Mais alguém quer fazer
companhia aos revoltadinhos? Não? Então continuem trabalhando! -
ordena Suzanne.
CORTA A CENA.
CENA 6: A pedido de Márcio,
Marion se encontra com ele e com Raquel na delegacia da mulher.
-Desculpem se me demorei
demais a chegar, o trânsito estava uma loucura... - desculpa-se
Marion.
-Não tem problema, querida. -
fala Raquel.
-A gente pediu pra que você
viesse porque precisamos acertar com você alguns detalhes de como
vai ser lá na festa hoje à noite. - fala Márcio.
-Perfeito, podem falar... -
fala Marion.
-Como você sabe, Marion,
minha filha não faz a mínima ideia e nem pode desconfiar que logo
eu, mãe dela, sou uma investigadora. Por isso que eu, Valentim e
Mara confiamos o plano e a execução desse plano a vocês...
justamente porque não temos materialidade de provas que sejam
suficientes para incriminar Suzanne. Ela é safa e sempre encontra
meios de escapar de qualquer armadilha. A única forma de se evitar
que ela escape é fazer com que ela não perceba estar sendo colocada
dentro de uma armadilha. Como já sabemos, o fraco dela é a vaidade
e é nisso que vocês devem trabalhar. - fala Raquel.
-Tá certo, dona Raquel. O que
eu e Riva pensamos é bem simples: tem a ver com a gargantilha que na
realidade é da Riva, presente da minha irmã à filha, antes de
morrer. Essa gargantilha está nas mãos da Suzanne e eu a convenci a
usar na festa. - fala Marion.
-Excelente. E o que vocês
planejam a mais? - pergunta Raquel.
-Que a Suzanne fique sozinha
com a Riva. Sozinha entre aspas, porque ela não vai saber que tem
gente atrás da porta ouvindo... já temos todo o esquema armado. Se
tudo funcionar como previsto, vai dar certo. - fala Marion.
-Ainda fico com medo de que
isso possa acabar colocando vocês em risco... - fala Márcio.
-Besteira, meu querido.
Suzanne é psicopata, não é doida. Seus atos são todos friamente
calculados antes. - fala Raquel.
-Bem... sendo assim, acho
melhor a gente ir embora e te deixar trabalhar, mãezinha. Ainda
precisamos nos arrumar para a “grande festa” - fala Márcio.
-Vão com Deus, queridos.
Confiem que tudo vai dar certo. Daqui a pouco eu também vou... -
finaliza Raquel.
Márcio e Marion deixam a
delegacia. CORTA A CENA.
CENA 7: Riva, Vicente, Marion,
Ivan, Mariana, Haroldo, Laura, Cláudio, Bruno, Rafaele Marcelo
chegam juntos à festa de Suzanne e a cumprimentam, logo se
dispersando e indo cada um para suas mesas. Vicente sai para fumar e
Riva o segue.
-Você parece nervosa, amor...
-E tou uma pilha de nervos
mesmo, Vicente.
-Imagino que esteja. Toda essa
tensão é complicada... também não estou muito calmo.
-A vontade que eu tinha era de
virar a mão na cara daquela falsiane assim que a gente chegou aqui.
-Riva, pelo amor de Deus, se
contenha. Falta tão pouco agora!
-Eu sei, amor... mas é
justamente por isso. Falta tão pouco e eu ainda não posso falar
umas verdades na cara daquela psicopata.
-Tá chegando a hora, Riva...
só espera a festa receber todos os convidados. Quando aqui estiver
cheio, vai ser o momento certo.
CORTA A CENA.
CENA 8: Instantes depois, com
a festa já cheia, Riva chama Suzanne ao toalete.
-Nossa, Suzanne... a música
aqui hoje tá ótima. Me acabei de dançar tanto que agora tenho que
retocar a maquiagem... - fala Riva.
-Fico feliz que você esteja
gostando tanto da festa. Foi feita pra todos vocês... - fala
Suzanne.
Riva olha para a gargantilha.
-Suzanne, você pode deixar eu
dar uma olhadinha na sua gargantilha? Adoraria ver como ela ficaria
no meu pescoço. Mesmo sendo uma bijuteria, ela me enche os olhos...
-Claro, Riva. Deixa eu tirar
aqui. Você fica linda de qualquer jeito!
Suzanne tira a gargantilha e a
entrega a Riva.
-Mas é uma beleza incrível
que essa jo... bijuteria tem!
Riva coloca sua gargantilha no
pescoço e Suzanne observa.
-E aí... gostou, Riva?
-Adorei... amei de paixão.
Sua vadia!
Riva se vira e esbofeteia
Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 105.
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