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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

CAPÍTULO 105

CENA 1: Cláudio domina seu asco, respira fundo e tenta agir naturalmente com Suzanne.
-Adoro festa! Você é a Suzanne, não é? Faz tempo que eu não te via. - fala Cláudio, dissimulado.
-E você, menino? Quem é? Desculpe a indelicadeza, mas não consigo recordar de você. É amigo do Rafael? - fala Suzanne.
-Não, querida. Sou irmão do Marcelo... descobrimos tem pouco tempo, acredita? Fomos melhores amigos uma vida inteira e num desses “plot twists” malucos que a vida dá, a gente descobriu que é filho do mesmo pai, olha que coisa! Você conhece o pai do Marcelo? Márcio o nome dele... e ele também é meu pai, olha que sensacional! - fala Cláudio, irônico.
Marcelo teme que Suzanne perceba a ironia de Cláudio.
-Que coisa, menino. Cláudio é seu nome, né? Vem na minha festa também, querido. Você também faz parte da família Bittencourt de alguma forma... - convida Suzanne, fingindo não saber que Cláudio é seu filho abandonado.
-Claro que eu vou, amada. Adoro festa, como eu disse. Vai ter open bar? Só vou se tiver bebida liberada de graça! Posso nem ver que adoro beber até cair! - provoca sutilmente Cláudio.
-Meio viadinho você, hein rapaz? - fala Suzanne, desconfortável com atitude de Cláudio.
-Meio não, amada. Sou viadíssimo, viadérrimo, toda banhada e trabalhada no glitter. Já assistiu Rupaul's Drag Race? Assiste, mona! É uma delícia! - fala Cláudio.
Marcelo e Rafael percebem que Cláudio está prestes a deixar transparecer que sabe ser filho de Suzanne e Rafael resolve interferir.
-Bem, agora que a gente chegou, vocês nos deem licença que a gente vai na edícula pra deixar lá os vinhos que a gente comprou. - fala Rafael.
Os três vão à edícula e Marcelo perde a paciência com o irmão.
-Puta que pariu, Cláudio! Pra que tudo aquilo? Tava quase estampado na sua cara o nojo que você sentiu dela! - reclama Marcelo.
-Fiz pra chocar, mesmo! Tenho certeza que aquela lá sabe direitinho que eu sou o filho que ela abandonou. E esse filho é viadíssimo sim senhora! Vai ter que engolir! - fala Cláudio.
Rafael se impacienta.
-Não se trata disso, Cláudio! Você esqueceu do que a gente combinou ainda há pouco na sua casa? Pelo amor de Cher, viado! Se controla!
-Pra vocês é fácil falar em se controlar, não é? Não são vocês que estão diante da sua mãe biológica sabendo que ela é uma psicopata, uma criminosa sem escrúpulos, uma falsiane pior que qualquer outra! Vocês pedem pra eu me controlar, mas tentaram pelo menos se colocar no meu lugar? - esbraveja Cláudio.
-Responda você, Cláudio: você está se colocando no nosso lugar? Entende a gravidade da situação e do quanto necessitamos estar discretos pra que aquela lá não note nada? Tem polícia no meio, viado! Se liga! - fala Marcelo.
-Desculpa, gente... é que foi difícil de me conter... - fala Cláudio, arrependido.
-Desculpas aceitas. Mas pelo amor de Deus, cunhado... pelo amor de Cher e de Inês Brasil: se controla pelo menos até amanhã à noite. A gente não tem outra saída. - fala Rafael.
-Tá, gente... vamos nos acalmar. Não podemos chegar ao dia de amanhã com os ânimos exaltados desse jeito. A propósito, me passem os vinhos pra eu colocar no armário, por favor. - fala Marcelo.
CORTA A CENA.

CENA 2: Meia hora depois, Marcelo e Rafael vão com Cláudio à casa de Laura, que os recebe com um abraço.
-Desculpa vir assim, avisando em cima da hora... mas é que o Cláudio, pra variar, quase colocou todo nosso plano a perder... - fala Marcelo.
-Conheço bem esse meu melhor amigo, foi melhor que vocês todos tenham vindo pra cá. Entrem, por favor. - fala Laura.
Haroldo, ao ver Cláudio, o cumprimenta feliz.
-Que bom te ver aqui, Cláudio! Inclusive eu andava mesmo precisando falar com vocês... aliás, eu não. Eu, a Laura e o Mateus... - fala Haroldo.
-Do que vocês tão falando? - estranha Cláudio.
-É que eu também estou ficando com o Haroldo. - esclarece Mateus.
Rafael, Marcelo e Cláudio se espantam.
-Que!? - falam os três, ao mesmo tempo.
-Aí, tá vendo meninos? A gente não podia chegar assim falando do nada. Óbvio que eles iriam ficar chocados. - fala Laura.
-Bem, eu não me meto nesse assunto. Vou fazer a Glória: não sou capaz de opinar. - fala Marcelo.
-É... eu também prefiro ficar na minha. - fala Rafael.
-Não digo que estou chocado, mas que isso me deixa espantado... perplexo, talvez... ah, isso deixa! - fala Cláudio.
-Cedo ou tarde você ia acabar sabendo disso, Cláudio. Depois, eu sei que você jamais iria querer mais nada comigo depois de tudo o que te fiz passar, ainda que contra minha vontade, quando eu fui Rodrigo. - fala Haroldo.
-Eu confesso que estou surpreso, mas ao mesmo tempo admirado. Quem diria, Mateus... logo você, que se escondeu por tanto tempo, que namorou o Bruno escondido... - fala Cláudio.
-Eu sei de tudo isso, Cláudio. Lamento demais pelos erros do passado... inclusive tenho de admitir que minha implicância com você era pelo fato de você ser livre. Eu não sabia ser livre... tou aprendendo. - fala Mateus.
-Apesar de tudo o que já passou, sempre tive simpatia por você, Mateus. Assim, de graça. - fala Cláudio.
-Bem... eu espero que você não julgue essa nossa decisão, Cláudio. Mas eu preferi aceitar esse relacionamento a três do que negar a nós mesmos o direito de nos amar. E nós nos amamos. - fala Laura.
-Eu confesso que estou admirado com a sua atitude, minha amiga. Admirado e orgulhoso da sua decisão de enfrentar as convenções. - fala Cláudio.
-Não vai ser um caminho fácil. Vamos enfrentar muitos olhares maldosos, muita gente nos julgando, dando pedrada. Mas o que importa é que nos amamos e é esse amor que nos une... - fala Haroldo.
-Confesso que nunca esperei que logo você, meu irmão, fosse entrar num relacionamento aberto. - fala Rafael.
-Não é bem aberto... nós nos relacionamos somente entre nós três. Não pensamos em ter mais ninguém com a gente... - fala Haroldo.
-Eu achei muito interessante vocês terem o peito pra assumirem esse relacionamento. E corajoso, acima de tudo. - fala Marcelo.
-Bem, já que o assunto já foi esclarecido, eu quero saber se vocês estão com fome, porque posso chamar uma pizza pra gente. Tou varada de fome! - fala Laura.
-E vejam bem, pessoas: o taurino aqui sou eu e é essa daí que tá sempre com um buraco no estômago! - brinca Cláudio.
Todos seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Eva chama Renata para falar sobre um telefonema que ela recebeu.
-Amor, você não tem noção de quem acabou de me ligar.
-Quem?
-Nada mais, nada menos que Gerusa Valentino.
-Como é que é? A mulher mais influente de todo o movimento feminista brasileiro, é isso mesmo que eu ouvi?
-Exatamente, Renata.
-E o que ela queria te dizer?
-Nos dizer, você quer dizer...
-Que?
-Exatamente. Ela quer que nós passemos a militar com ela e com aquele grupo maravilhoso de mulheres cis e trans que estão no “Poder Roxo”.
-Mentira! Sério isso? Eva, se isso for verdade eu já tou toda me tremendo aqui!
-É a mais pura verdade.
-Ai gente, só não peço pra você me beliscar que eu ia ficar puta de ficar com um roxo no braço!
-Boba. Mas isso não é sensacional?
-Muito! Demais!
-Ela quer que a gente viaje pelo Brasil com o grupo, isso não é maravilhoso?
-Sim, isso é... mas a gente vai tirar dinheiro de onde?
-São várias as empresas e instituições que ajudam financeiramente o “Poder Roxo”. Dinheiro não falta pra ninguém que faz parte.
-Ainda que não seja o objetivo, né.
-Claro que não é e nem nunca vai ser. O objetivo é livrar as mulheres das garras do machismo e empoderar todas as mulheres desse mundo, cis ou trans. Contanto que sejam mulheres.
-Mas e os homens trans, não entram nisso?
-Claro que entram, boba. Apesar de serem homens, eles sofrem as consequências do machismo e da transfobia, que insiste em tratá-los como mulheres. Enfim... então eu posso ligar de volta pra Gerusa e avisar que a gente tá dentro?
-Mas você tem alguma dúvida disso, Eva?
As duas comemoram. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Cláudio está de volta em casa e elogia jantar preparado por Bruno.
-Gente... você tá cozinhando cada vez melhor. Que comida foi essa, meu Deus?
-Nem tava tudo isso, Cláudio... você que tá sendo generoso comigo.
-E você sempre modesto... ai ai...
-Antes modesto do que ser um convencido, né...
-Sabe, Bruno... eu andei pensando sobre tudo. Sobre mim mesmo, sobre você, sobre nós dois.
-E o que concluiu disso?
-Que às vezes eu sou um chato. Um porre... eu dou no saco. Sempre com esse papo de que preciso de mais tempo pra isso, tempo pra aquilo... mas esqueço que a vida é agora. E agora eu quero estar com você.
-Você tá falando sério?
-Nunca falei tão sério na vida. Você quer voltar a ser meu namorado?
-Você ainda pergunta? É o que eu mais esperei nessa vida! Eu te amo, Cláudio!
-Eu também te amo, Bruno. Amo mais do que pensei que poderia amar qualquer pessoa. Te amo mais que tudo.
-Engano seu... quem te ama mais que tudo aqui sou eu.
-Engano é seu, seu bobo... eu me comovo com a sua bondade, com a sua generosidade, com o seu coração sempre disposto a ajudar a fazer o bem. Você me comove, Bruno... e me inspira a ser uma pessoa melhor.
-Você que me inspira, Cláudio. Nunca duvide disso... a sua liberdade, a sua leveza, a sua forma de encarar tudo de frente...
-Cala a boca, Bruno...
Os dois se beijam, selando o namoro. CORTA A CENA.

CENA 5: No dia seguinte, Suzanne organiza a festa no salão do hotel e passa ordens aos funcionários.
-Eu não falei pra vocês andarem mais rápido com isso? Quero tudo pronto e perfeito com no mínimo duas horas de antecedência! - fala Suzanne, autoritária.
-Desculpe, dona Suzanne, mas estamos trabalhando dentro do cronograma previsto pelos nossos patrões. - fala uma funcionária do hotel.
-Não seja respondona, garota! No momento eu sou a patroa de vocês. Vocês estão ganhando uma quantia de dinheiro que nunca viram na vida. Os patrões de vocês dão isso? - fala Suzanne.
Os funcionários fazem sinal de negativo com a cabeça.
-Imaginei. Vocês nunca viram tanto dinheiro na vida de vocês, não é? Pois pra terem esse dinheiro, vão ter que trabalhar certinho, fazer tudo na velocidade que eu quiser e do jeito que eu mandar! Garoto, quantas vezes eu falei que eu quero as taças de cristal penduradas nas paredes para os convidados se servirem? - reclama Suzanne a um dos funcionários.
-Dona Suzanne, isso já é extravagância. Os copos podem se quebrar. - fala o funcionário.
-Que quebrem! Eu pago o que for danificado. Agora vocês podem fazer o que eu estou mandando? Vocês querem esse dinheiro, não querem? Então tratem de fazer tudo exatamente do jeito que eu estou mandando. Vejam bem, não estou pedindo: estou mandando. - continua Suzanne.
Uma das funcionárias desmaia de cansaço.
-Ora essa... mais isso, agora? Uma vagabundinha cheia de fricote fingindo desmaio? Vou falar pros seus patrões, garota! Levanta daí, senão eu mando você ser demitida! - fala Suzanne.
Um funcionário que acode a funcionária que passou mal se revolta.
-Quer saber? A gente se demite mesmo! A senhora pode ter dinheiro, mas não tem humanidade nem respeito. Não somos obrigados a passar por isso!
O funcionário parte com a funcionária que passou mal nos braços.
-Mais alguém quer fazer companhia aos revoltadinhos? Não? Então continuem trabalhando! - ordena Suzanne.
CORTA A CENA.

CENA 6: A pedido de Márcio, Marion se encontra com ele e com Raquel na delegacia da mulher.
-Desculpem se me demorei demais a chegar, o trânsito estava uma loucura... - desculpa-se Marion.
-Não tem problema, querida. - fala Raquel.
-A gente pediu pra que você viesse porque precisamos acertar com você alguns detalhes de como vai ser lá na festa hoje à noite. - fala Márcio.
-Perfeito, podem falar... - fala Marion.
-Como você sabe, Marion, minha filha não faz a mínima ideia e nem pode desconfiar que logo eu, mãe dela, sou uma investigadora. Por isso que eu, Valentim e Mara confiamos o plano e a execução desse plano a vocês... justamente porque não temos materialidade de provas que sejam suficientes para incriminar Suzanne. Ela é safa e sempre encontra meios de escapar de qualquer armadilha. A única forma de se evitar que ela escape é fazer com que ela não perceba estar sendo colocada dentro de uma armadilha. Como já sabemos, o fraco dela é a vaidade e é nisso que vocês devem trabalhar. - fala Raquel.
-Tá certo, dona Raquel. O que eu e Riva pensamos é bem simples: tem a ver com a gargantilha que na realidade é da Riva, presente da minha irmã à filha, antes de morrer. Essa gargantilha está nas mãos da Suzanne e eu a convenci a usar na festa. - fala Marion.
-Excelente. E o que vocês planejam a mais? - pergunta Raquel.
-Que a Suzanne fique sozinha com a Riva. Sozinha entre aspas, porque ela não vai saber que tem gente atrás da porta ouvindo... já temos todo o esquema armado. Se tudo funcionar como previsto, vai dar certo. - fala Marion.
-Ainda fico com medo de que isso possa acabar colocando vocês em risco... - fala Márcio.
-Besteira, meu querido. Suzanne é psicopata, não é doida. Seus atos são todos friamente calculados antes. - fala Raquel.
-Bem... sendo assim, acho melhor a gente ir embora e te deixar trabalhar, mãezinha. Ainda precisamos nos arrumar para a “grande festa” - fala Márcio.
-Vão com Deus, queridos. Confiem que tudo vai dar certo. Daqui a pouco eu também vou... - finaliza Raquel.
Márcio e Marion deixam a delegacia. CORTA A CENA.

CENA 7: Riva, Vicente, Marion, Ivan, Mariana, Haroldo, Laura, Cláudio, Bruno, Rafaele Marcelo chegam juntos à festa de Suzanne e a cumprimentam, logo se dispersando e indo cada um para suas mesas. Vicente sai para fumar e Riva o segue.
-Você parece nervosa, amor...
-E tou uma pilha de nervos mesmo, Vicente.
-Imagino que esteja. Toda essa tensão é complicada... também não estou muito calmo.
-A vontade que eu tinha era de virar a mão na cara daquela falsiane assim que a gente chegou aqui.
-Riva, pelo amor de Deus, se contenha. Falta tão pouco agora!
-Eu sei, amor... mas é justamente por isso. Falta tão pouco e eu ainda não posso falar umas verdades na cara daquela psicopata.
-Tá chegando a hora, Riva... só espera a festa receber todos os convidados. Quando aqui estiver cheio, vai ser o momento certo.
CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, com a festa já cheia, Riva chama Suzanne ao toalete.
-Nossa, Suzanne... a música aqui hoje tá ótima. Me acabei de dançar tanto que agora tenho que retocar a maquiagem... - fala Riva.
-Fico feliz que você esteja gostando tanto da festa. Foi feita pra todos vocês... - fala Suzanne.
Riva olha para a gargantilha.
-Suzanne, você pode deixar eu dar uma olhadinha na sua gargantilha? Adoraria ver como ela ficaria no meu pescoço. Mesmo sendo uma bijuteria, ela me enche os olhos...
-Claro, Riva. Deixa eu tirar aqui. Você fica linda de qualquer jeito!
Suzanne tira a gargantilha e a entrega a Riva.
-Mas é uma beleza incrível que essa jo... bijuteria tem!
Riva coloca sua gargantilha no pescoço e Suzanne observa.
-E aí... gostou, Riva?
-Adorei... amei de paixão. Sua vadia!
Riva se vira e esbofeteia Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 105.

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