CENA 1: Cláudio se espanta por
saber que Valentim espalhou a notícia.
-Não entendo, gente... eu
podia jurar que o Valentim não iria espalhar a notícia... -
estranha Cláudio.
-Mas você há de convir que
nós somos alvos potenciais do Guilherme... e nem é pelo fato de eu
ser seu irmão, mas sim pelo fato do Rafael ser irmão do Haroldo,
que foi chantageado e coagido pelo Guilherme antes... - fala Marcelo.
-Foi por isso que eu vim aqui,
meu filho. Eu sei que eu nunca fui um pai pra você, até porque eu
nem sabia que era você o meu filho antes... mas você sabe que te
amo, não sabe? - fala Márcio.
-Claro que sei... - fala
Cláudio.
-Então, meu filho... é
justamente por isso que eu tou aqui, com seu irmão e seu cunhado:
pra me juntar a eles e te dizer que você não está sozinho, que
você também tem o meu apoio. Não sei exatamente o que eu posso
fazer pra te ajudar ou tranquilizar, meu filho... mas qualquer coisa
que você precisar, qualquer coisa mesmo, é só me chamar. - fala
Márcio, se emocionando.
Cláudio também se emociona.
-Você não tem ideia do
quanto me aquece o coração saber que posso contar com você, pai. -
fala Cláudio.
Márcio fica surpreso ao
perceber que pela primeira vez na vida, Cláudio o chama de pai.
-Você me chamou do que,
Cláudio? - pergunta Márcio, ainda descrente.
-Escapou... mas se escapou é
porque veio do coração, pai. Pai, pai, pai. Meu pai!
Cláudio e Márcio se abraçam
emocionados. Bruno, Rafael, Marcelo, Vânia e Setembrino se emocionam
com os dois.
-Aqui... sem querer cortar o
barato desse momento tão comovente e mexicano, mas vamos falar das
coisas mais objetivas? - fala Rafael.
-Tem razão, Rafael... por que
você não convida eles pra ficarem pro jantar? - sugere Bruno.
-Mas tá cedo ainda... -
pondera Cláudio.
-Ah, a gente pode conhecer
melhor o seu pai biológico enquanto isso. Ele parece realmente ser
um bom homem... - fala Vânia.
-É... realmente parece. Mas a
senhora que não me invente de ficar de gracinha com ele... - brinca
Setembrino.
-Impressionante como esses
dois nunca mudam. O pai sempre com essas brincadeiras fora de hora! -
diverte-se Bruno.
-Ai, pelo menos a gente vai
dar uma arejada nesse ambiente conversando sobre qualquer coisa,
menos sobre a fuga daquele baixinho maluco do Guilherme. Chega dessa
urucubaca que viada que é viada tem que colocar a cara no sol pra
brilhar, meu bem. Como diria Inês Brasil, segura essa marimba, mon
amour! - fala Marcelo.
-Isso mesmo, amor. Bicha
bonita não se esconde, bota a cara no sol e samba de salto agulha na
cara das inimigas! - segue Rafael, descontraído.
Márcio se diverte com todos.
-Se eu soubesse antes o tanto
de tempo que perdi longe de vocês, meus filhos... teria largado a
Suzanne há muito mais tempo! - fala Márcio.
-Ai, credo, pai! Nem invoca o
nome dessa demônia que ela materializa. Quer dizer... desculpa,
Cláudio... - fala Marcelo.
-E por acaso isso é alguma
mentira? Relaxa, mano. Aquela lá só serviu pra me parir e nada
mais... - fala Cláudio.
Todos seguem falando sobre
amenidades. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, durante o café da manhã, Marcelo e Rafael decidem
conversar sobre o que andam planejando com Riva, Vicente, Marion e
Valquíria.
-Sabe, gente... eu sei que
pode parecer loucura o que eu vou dizer. Quer dizer... o que eu e o
Marcelo vamos dizer... mas o fato é que a gente andou pensando e
conversando muito nos últimos dias sobre um assunto que pode ser do
interesse de vocês, mas vamos compreender se não for... - fala
Rafael.
-E do que se trata, filho? -
questiona Marion.
-Então, tia... desde que o
Rafa se assumiu pra imprensa e, apesar da aparente boa recepção do
público e até mesmo por parte da mídia tradicional, a gente sente
falta de algo a mais. Algo que nos contemple por completo e faça
mais gente se sentir contemplada. Infelizmente a mídia tradicional
não nos proporciona isso, entendem? - fala Marcelo.
-Acho eu que tou começando a
entender onde vocês querem chegar, meninos... - comenta Vicente.
-Provavelmente sim, Vicente.
Você sempre foi um artista dentro da emissora que se opôs às
tendências internas, inclusive politicamente falando, mas isso não
vem ao caso agora... a nossa ideia é que boicotemos, na medida do
possível, a mídia tradicional, que pouco ou nada se modificou nos
últimos cinquenta e tantos anos... ou sessenta e poucos, tanto faz.
- fala Rafael.
-Mas meu neto, como que a
gente vai fazer isso? Querendo ou não, é a mídia tradicional que
ainda nos dá a projeção nacional como atores... - pondera
Valquíria.
-É, gente... a mãe tá
certa. Como é que a gente vai combater esse império todo? -
questiona Marion.
-A ideia pode ser mais simples
do que imaginamos de ser executada. Não é segredo pra ninguém o
sucesso que eu e Rafael fizemos na plataforma digital da emissora com
aquela série exclusiva pra internet... onde tivemos liberdade de
tratar da temática LGBT sem censura. Na possibilidade da gente
romper o contrato que temos com a emissora, a gente podia justamente
pegar carona nesse sucesso e tentar um pouco mais essa inserção nas
mídias de internet, seja por redes sociais, sites de vídeos,
enfim... - fala Marcelo.
-Eu gostei muito da ideia,
meus queridos... mas como que a gente vai ter condições de bancar
tudo isso? O retorno nem é garantido... - fala Riva.
-A Riva tá certa, meninos...
a ideia é incrível... não é propriamente nova, mas certamente é
revolucionária, mas a questão é: como que a gente vai bancar tudo
isso? Sem patrocínio, sem anunciantes? Sem a estrutura? Vocês sabem
que não sou capitalista, mas vivemos nesse sistema e infelizmente
ainda somos dependentes dele... - considera Vicente.
-Isso é algo que a gente
ainda conversa. Se o problema for dinheiro ou a preocupação com os
gastos, acho meio inútil tanta preocupação, porque dinheiro é
algo que não falta a nenhum de nós. - fala Rafael.
-O Rafa tá certo, gente...
mas claro, a gente vai entender se vocês precisarem de algum tempo
pra pensarem nisso tudo ainda. É uma ideia que a gente tá tendo...
- fala Marcelo.
-Vocês estão me dando
algumas ideias, meninos... mas outra hora eu explico melhor sobre
isso... - fala Vicente.
CORTA A CENA.
CENA 3: Mara insiste com
Valentim que ele deve solicitar proteção policial a Cláudio e
Bruno.
-Poxa vida, amor! Será
possível que você não percebe o óbvio?
-Lá vem você de novo com
esse papo, Mara... a gente dormiu falando nisso, agora vamos começar
o dia falando nisso de novo?
-Eu não insistiria nesse
assunto se não fosse de extrema importância. A Raquel tem razão
quando diz que às vezes nem parece que você tem trinta anos de
polícia nas costas, porque francamente! Como é que você ainda não
solicitou proteção policial aos meninos?
-Porque talvez o Cláudio e o
Bruno não queiram essa proteção, considerem exagero!
-Acontece que a situação é
grave e você, como investigador e psiquiatra, não pode subestimar a
gravidade da situação.
-E o que você sugere que eu
faça? Que eu solicite a proteção sem que eles saibam?
-Não, seu imbecil. Eu tou
mesmo falando com você, Valentim? Às vezes parece que eu tou
falando com o Barbosa da TV Pirata, porque olha... te contar uma
coisa, viu?
-Vou dar meu jeito de
convencer os meninos de que a proteção policial é um procedimento
de praxe. Espero que eles não fiquem muito alarmados.
-E mesmo que fiquem alarmados,
é pela segurança deles tudo isso. Eles continuam a ser os
principais alvos do Guilherme e você parece subestimar essa
informação. A loucura obsessiva do Guilherme teve início por algo
que ele culpa o Cláudio por ter começado. Essa paixão louca,
doentia, facilmente se converte em ódio. E mais ódio ainda pode
acabar sendo direcionado ao Bruno, que “roubou” Cláudio dele.
Entendeu agora? Ou vai precisar que eu desenhe?
-Tá, Mara! Chega desse seu
papo cheio desse discurso agressivo! Eu sei o que tem que ser feito.
Só que ainda acho melhor que pensemos nisso, com calma. Talvez seja
preciso um pouco mais de tempo pra gente verificar se realmente há
necessidade disso ou não.
-Vai por mim, amor... há
necessidade. Eles são os principais alvos.
-Então está certo. Assim que
der eu falo com eles. Satisfeita?
-Valentim, por favor... não
encare isso tudo como algo que estou te forçando a fazer... é algo
necessário e no fundo, por mais otimista que você seja, você sabe
disso. Prevenção nunca é demais. Vidas inocentes devem sempre
estar seguras e você sabe perfeitamente disso.
-Eu sei. Mas até o momento
nós não temos nenhuma posta do paradeiro do Guilherme.
-Justamente por isso. Esse
silêncio que antes não representava nada, agora pode representar
riscos reais depois da fuga dele. E nada me tira da cabeça que os
rapazes assassinados que foram encontrados morreram pelas mãos do
próprio Guilherme, pode apostar nisso.
-Você acha?
-Só falta confirmar...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois, Mara e
Raquel conversam sobre suspeitas de Raquel a respeito de Suzanne na
companhia de teatro.
-Então, Mara... depois de
tudo isso que eu te disse... você acha que minhas suspeitas tem
fundamento?
-Por um lado sim, por outro
lado não.
-Como assim?
-Que sua filha tem
envolvimento com grandes criminosos é praticamente certo. Se não
tem mais, em algum momento teve. Ainda mais com a gente sabendo que
ela foi a mandante do sequestro do filhinho da Riva.
-Sim! E até hoje ninguém
sabe do paradeiro desses dois homens. Simplesmente sumiram do mapa,
ninguém sabe, ninguém viu.
-Por outro lado me parece
improvável a ligação da Suzanne justo com a maior facção que
existia aqui no estado.
-Por que?
-Veja bem, Raquel: eu não
estou dizendo que não é possível... eu estou dizendo que é pouco
provável. O fato é que a Suzanne, por mais espertalhona que seja,
talvez não tenha propriamente o perfil de quem se associa com o
crime organizado. O trabalho dela parece ser mais individual, ela usa
as pessoas.
-Sim, mas isso pode ser
perfeitamente aplicável dentro de uma facção, não?
-Até pode, mas geralmente
esse pessoal mais individualista roda cedo dentro dessas facções.
Individualistas que são, querem dar passos maiores que as próprias
pernas e podem acabar mexendo com as pessoas erradas. Com peixe
grande, entende? Se assim fosse, sua filha provavelmente já estaria
morta.
-Entendo...
As duas seguem a conversa.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde,
Mateus e Haroldo preparam o jantar e não permitem que Laura se meta
na cozinha.
-Mas que palhaçada isso,
gente! Agora eu não posso nem cozinhar? Mereço! Se esqueceram que a
gente passou por um dia intenso de ensaios hoje? - protesta Laura.
-Justamente por isso,
amorzinho... você já se exercitou e se cansou o suficiente por
hoje... hora de descansar. - fala Haroldo.
-Tou com o Haroldo e não
abro. Nada de querer se meter aqui na cozinha. Fica bem sentadinha aí
no sofá assistindo a gente cozinhar. - fala Mateus.
-Vocês estão me tratando
como se eu estivesse doente. Em que século que nós estamos, mesmo?
No século quinze? Onde já se viu tratar gravidez como doença? Me
poupem, se poupem, nos poupem! - reclama Laura.
-Meu Deus do céu, cê só
sabe reclamar, mulher? - fala Mateus.
-Eu não teria motivos pra
reclamar se vocês dois não tivessem se juntado nessa coisa toda.
Vou te contar uma coisa... eu devo ter dançado pole dance na cruz e
depois ter feito uma suruba na santa ceia pra merecer uma coisa
dessas... - reclama Laura.
-Deixe de ser ingrata, amor! A
gente só tá querendo te fazer um agrado, poxa! Deixa que a gente
cozinha hoje, você não vai se arrepender dos nossos dotes
culinários... - fala Haroldo.
-Ai, tá certo. Hoje vocês
venceram, mas eu posso saber por que vocês estão com essa cara de
quem viu assombração desde hoje cedo no ensaio? Posso postar a unha
do meu dedo mindinho que vocês estão querendo me dizer alguma
coisa, mas não tem coragem e... antes de tentarem desconversar,
lembrem que sou uma excelente observadora e não vou me contentar com
qualquer resposta! - fala Laura.
Mateus e Haroldo se olham e
Mateus decide falar.
-É que a gente tem medo que
você acabe querendo abortar esse bebê...
Laura fica perplexa com fala
de Mateus. CORTA A CENA.
CENA 6: Márcio, que dormiu na
casa de Cláudio, se prepara para ir embora.
-Fica pelo menos pro jantar,
pai! Tanto o Bruno quanto os pais dele adoraram conversar com você!
-Eu agradeço imensamente,
filho... mas já tomei muito do seu tempo. Isso já tá virando abuso
da minha parte, não quero dar trabalho.
-Sério, pai... eu já perdi
algum tempo nessa minha mania de julgar e fazer birra... eu tou
curtindo ter um pai. Você não me dá trabalho nenhum. Se você
quiser ficar mais essa noite aqui, eu dou meu jeito, você já viu
que o sofá-cama da sala é bom...
-Prefiro voltar pra minha
casa, Cláudio. Eu moro com a sua avó... aliás, você bem que
poderia ir qualquer hora dessas conhecer a dona Raquel de perto. Ela
é a minha mãe do coração... acreditou em mim quando ninguém mais
acreditou.
-Se Deus quiser e minha
memória não me trair, logo eu vou conhecer minha avó de perto. É
bom saber que tenho uma família viva... e de sangue.
-Mas agora eu preciso ir,
filho. Faz algum tempo que eu me decidi em fazer todas as coisas
certinhas. Peço que me entenda... não quero dar um passo maior que
a perna.
-Eu te entendo, pai. Pode
sossegar. Mas não se esqueça que a minha casa vai sempre estar de
portas abertas pra te receber. Eu sei que pode parecer meio doido
dizer isso, mas tou criando uma afeição forte por você. Eu acho
até que te amo...
Cláudio se emociona e Márcio
também.
-Eu sempre te amei, meu
filho... mesmo antes de saber quem você era. Meu coração sempre te
esperou.
Os dois se abraçam e Márcio
vai embora. CORTA A CENA.
CENA 7: Laura começa a
gargalhar diante de Haroldo e Mateus, que não entendem nada.
-Você pode fazer o favor de
parar de rir do que a gente acabou de falar? - reclama Haroldo.
-Ai, meninos... vocês são
ótimos, meus amores! Vocês acham mesmo que eu iria abortar essa
criança? Pensei que vocês me conhecessem melhor... - fala Laura.
-Não vai? Mas você... -
Mateus começa a falar e é interrompido.
-Mas o que? Eu sou defensora
da legalização do aborto, não significa que nessa altura da minha
vida, mulher feita e dona do meu próprio nariz, eu fosse pensar em
abortar. Ai, amores... às vezes vocês são bem bobos, viu? Defender
a legalização salva a vida de muitas mulheres, sabia? Mas desde que
eu descobri que tou grávida, eu já comecei a amar essa criança que
vai nascer. Pode ser menino, menina, cis, trans... o que for. É
parte de mim. E eu já amo essa vida que tá se formando dentro de
mim... - esclarece Laura.
-Você não sabe o quanto isso
me alivia, querida. Na verdade eu não tive coragem de dizer antes,
mas o meu medo em relação a tudo isso, de que essa gravidez pudesse
afetar nossa relação a três, não tinha a ver com a gravidez em
si... mas com o que você poderia fazer dela... - fala Mateus.
-Depois o Mateus conversou
isso comigo, ainda ontem... naquela hora que você tava de papo com a
Eva e com a Renata... acabei entrando na pilha... tive medo, também.
- fala Haroldo.
-Seus bobos... a gente vai ter
esse filho. E eu já pensei em tudo... como eu tenho certeza de que
ele é filho do Haroldo, pela questão temporal mesmo, o Haroldo
registra ele e você, Mateus... você vai ser o padrinho dessa
criança! - afirma Laura.
Os três se abraçam. Haroldo
e Mateus estão aliviados.
-Ai... como é que eu pude
arranjar namorados tão bobos nessa vida? Me diz, meu Deus? - fala
Laura.
CORTA A CENA.
CENA 8: Vicente, Marion,
Valquíria e Riva procuram Marcelo e Rafael para conversarem.
-Bem... a gente espera não
estar incomodando o momento de vocês... - fala Riva.
-Que isso, gente... podem
entrar. É sobre o assunto que tou pensando? - fala Rafael.
-Creio que sim, Rafael. A
gente andou considerando tudo o que foi conversado... - fala Vicente.
-Depois, constatamos que
chegamos num momento da vida onde nossos sonhos já se realizaram...
percebemos que podemos arriscar mais e por isso decidimos que vamos
romper com a emissora! - afirma Marion.
FIM DO CAPÍTULO 117.
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