CENA 1: Cláudio não demonstra
surpresa.
-Então, Valentim... os
meninos não te contaram? Já sei disso. Sei que ele está sendo
protegido por conta do que ele sabe sobre a facção, que foi quem
tentou matar ele.
-Pelo menos você já está
avisado. Só que tem mais coisa que eu preciso te contar e talvez
seja melhor te dizer pessoalmente.
-Mas por que pessoalmente? A
coisa é tão grave assim?
-Muito mais do que você
imagina. Você está sozinho na sua casa hoje?
-Sim. Mandei Guilherme para a
casa dele, para nos prepararmos pro casamento, amanhã.
-Ótimo. Tem como eu ir aí?
-Se você puder chegar em uns
quinze minutos, é exatamente esse tempo que eu levo para tomar meu
banho.
-Levo um pouco mais de tempo
que isso. Acredito que em meia hora eu chego na sua casa. Fica bom
pra você?
-Excelente. Mas você não
poderia me antecipar o que tem de tão importante pra me dizer?
Confesso que saber que um investigador precisa conversar comigo me
deixa um tanto quanto assustado.
-Não fique assustado.
Infelizmente não posso te antecipar nada. Mateus está sob os meus
cuidados, na minha casa. Vou chamar Mara para ficar aqui com ele
enquanto eu vou aí na sua casa. Até mais, Cláudio.
-Nos vemos mais tarde,
Valentim.
Cláudio desliga e aflito,
segue para o banho. CORTA A CENA.
CENA 2: Instantes depois,
Valentim está na casa de Cláudio e Cláudio está perplexo por
saber sobre a identidade de “Chefe”, chorando desesperado.
-Meu Deus! Como é que eu pude
me deixar enganar por tanto tempo? Logo eu que sempre me achei tão
esperto e conhecedor da alma das pessoas! Acreditei no primeiro
sorriso simpático que me apareceu... - lamenta Cláudio.
-Ouça, Cláudio... não é o
momento pra se desesperar agora. Precisamos agir com calma. Toda
cautela ainda é pouca, nesse caso.
-Me diz como que eu vou ter
calma, Valentim? Como? Mais uma vez eu me vejo cercado de mentiras. E
ainda sabendo que esse infeliz agiu dessa forma porque queria me
atingir de qualquer maneira!
-Cláudio... você é o ponto
fraco do “Chefe”. Deve usar isso a seu favor.
-Eu queria ter esse sangue
frio, Valentim... mas não sei se consigo.
-Vai ter que ter. Você e
qualquer pessoa é capaz de encontrar muito mais força do que
imagina dentro de si.
-Tou dispensando esse discurso
motivacional... olha, desculpa a grosseria, mas... preciso de mais
que isso.
-Tudo bem, Cláudio, eu te
entendo. No seu lugar eu estaria também bastante preocupado.
-Desesperado, você quer
dizer. Olha o tanto de crime que esse cara cometeu! E muitos desses
crimes foram motivados por essa louca obsessão que ele tem por mim!
Logo eu, Valentim! Que nunca fiz nada a ninguém!
-Pra uma mente doentia como a
dele, não é preciso que pessoas como você sejam nada além de
verdadeiras consigo mesmas para que isso desperte a ira, o ódio
irracional.
-Mas pessoas morreram
indiretamente por minha causa! Por minha culpa!
-Cláudio... não se culpe por
algo que não é nem nunca foi da sua responsabilidade. É exatamente
isso que esse cara quer: te fazer sentir culpa e continuar
manipulando.
-Não mais, Valentim. Essa
palhaçada acaba aqui.
-Na verdade eu tenho uma ideia
um pouco melhor, Cláudio... se você quiser ouvir o que tenho a
dizer, claro... mas ouça com boa vontade, porque isso pode
significar o êxito da operação pra prender o “chefe”... afinal
de contas, o mandado de prisão deve estar pronto no máximo até
amanhã pela manhã...
-Então diga qual é a sua
ideia, Valentim. Pelo menos ouvir eu vou... agora, se eu vou
concordar eu já não sei.
-Eu tava pensando que a
ocasião perfeita para a prisão desse cara é justamente no evento
do seu casamento.
-O quê? Você só pode estar
de brincadeira comigo. Polícia aqui na minha casa? Gente...
-Pensa comigo, Cláudio: o seu
casamento não é amanhã?
-É... quer dizer, pelo
menos...
-Vai ser amanhã de qualquer
forma, Cláudio.
-Onde é que você tá
querendo chegar?
-É simples, meu querido: todo
mundo vai estar aqui amanhã. Entendeu agora?
-Claro... inclusive ele.
-Exatamente, Cláudio. Dessa
forma, com essa casa cheia de gente, o “Chefe” não vai ter como
escapar de ser preso. Vai ter que responder na justiça por todos os
crimes que cometeu comprovadamente e pelos que ainda estão sendo
investigados.
-Bem, nesse caso... faz todo o
sentido. Só fico com medo que possa acontecer alguma tragédia.
-Confie em mim, Cláudio. Nada
vai acontecer a ninguém. Você concorda que a prisão dele seja
efetuada aqui, amanhã?
-Concordo. Mas me responde uma
coisa: o Mateus vai vir também?
-Ele vai estar aqui. Escondido
até a ordem de prisão. Assim, caso “Chefe” tente alegar
inocência, não vai ter meios de negar nenhum dos seus crimes.
-Isso pode ser perigoso.
-Perigoso é viver. Mas é
necessário. Melhor isso do que permitir que ele escape.
-Tá certo.
-Bem, querido... agora eu
preciso ir. Mas fique frio... finja que não sabe de nada. Mantenha o
sangue frio até amanhã.
-Não sei como vou
conseguir... mas prometo tentar.
-Você vai conseguir, Cláudio.
Sei que vai.
CORTA A CENA.
CENA 3: Diogo chama Victor
para uma nova conversa.
-Victor, eu preciso conversar
sério com você.
-Ai, Diogo... o que foi que eu
fiz dessa vez?
-Até o momento nada, pelo que
sei...
-Então me diz o que você
precisa conversar comigo.
-Quem é você, Victor?
-Mas que pergunta foi essa,
agora?
-Não se faça de
desentendido. Eu te amo, mas eu não sei quem você realmente é.
Quem é você de verdade, Victor?
-Ora! Isso não faz o mínimo
sentido, Diogo! Você sabe quem eu sou.
-Será que sei? Às vezes eu
olho pra você e a conclusão a que chego é que nunca realmente te
conheci. Porque você não me permite.
-Como é que é? De onde você
tá tirando essas afirmações? Eu já menti pra você alguma vez na
vida?
-Não que eu saiba. Mas ao
mesmo tempo eu não sei praticamente nada do seu passado.
-Eu já te disse que esse é
um assunto que não gosto de falar. Ser abandonado pelos parentes que
poderiam fazer algo por mim não é a coisa mais fácil de se lidar
nessa vida.
-Será que tudo isso é
verdade?
-Você está começando a me
ofender, Diogo. Estamos juntos ou não estamos?
-Estamos. E é por isso que eu
só queria saber quem você é de verdade.
-Eu sou quem você vê diante
dos seus olhos. Um ser humano com suas qualidades e defeitos. Sou
limítrofe? Infelizmente sou, mas não vá pensando que escolhi isso.
Você sabe que as coisas na vida não funcionam assim.
-Será que você não usa esse
seu transtorno para fugir de alguma coisa que tenha feito no passado?
-Chega, Diogo! Você já foi
longe demais! Você está me decepcionando com tudo isso,
francamente!
-Desculpe, Victor... eu não
quis que você ficasse assim, magoado e ofendido. Eu te amo.
-Agora é fácil pra você
dizer que me ama depois de insinuar um monte de coisas sobre mim. Vá
se foder, Diogo.
Victor parte enfurecido para o
quarto e Diogo o segue.
-Deixa eu me explicar, amor!
-Não quero papo, Diogo! Me
deixa em paz!
Diogo se arrepende do que
disse a Victor. CORTA A CENA.
CENA 4: O dia amanhece e chega
o dia o casamento de Cláudio e Guilherme. Cláudio dorme um sono
profundo e é despertado de surpresa por Guilherme.
-Ai que susto, Guilherme! Que
horas são?
-Sete e meia!
-Como é que é? Você não
dormiu?
-Até dormi um pouco, amor...
mas quando deu quatro da manhã eu não consegui mais.
-Dá pra perceber. Achei que
você só vinha aqui pra minha casa bem depois, tipo quase umas dez
da manhã...
-A ansiedade pelo nosso
casamento não deixou, meu amor. Esse é o dia mais feliz da minha
vida. Ah, deixei todo o café pronto na mesa. Tem tudo o que você
gosta.
-Obrigado, mas não estou com
muito apetite.
-Come um pouco, amor... saco
vazio não para em pé...
-Tá, eu vou comer, Guilherme.
O nosso dia vai ser longo hoje.
-Impressão minha ou você tá
seco comigo?
-Impressão sua. Você sabe
que não gosto de ser acordado quando não espero por isso. Não sou
ninguém antes do café.
Guilherme estranha atitude de
Cláudio, mas nada diz. CORTA A CENA.
CENA 5: Valentim leva Mateus
de volta à casa de Laura e ela e Haroldo o recebem com um forte
abraço.
-Que bom poder estar de volta
à minha casinha... quer dizer, sua casa, Laura. - fala Mateus.
-Esse apartamento não é só
meu. É da gente, bobo... - fala Laura.
-Pelo menos essa palhaçada
vai acabar logo, meu amigo. Logo você vai poder dizer a todos que
está vivo... - fala Haroldo.
-É gente, o mandado de prisão
acabou de ser expedido. Agora é só imprimir o mandado e efetuar a
prisão durante o casamento do Cláudio, já que todo mundo que
interessa vai estar lá, inclusive o “Chefe” - fala Valentim.
-Mal dá pra acreditar que
esse pesadelo vai acabar. Depois de tanto tempo a gente vai conseguir
viver com o mínimo de paz e tranquilidade de novo. Até eu, que não
sou facilmente impressionável, já andava bem apavorada com os
últimos acontecimentos... - desabafa Laura.
-Pelo menos ninguém mais
morreu por causa dessa maldita facção. Pelo menos eu não morri...
- fala Mateus.
-Queridos, só vim trazer o
Mateus. Preciso ir embora agora para agilizar toda a documentação
necessária com a polícia – fala Valentim, partindo.
Mateus demonstra ainda estar
com medo de tudo.
-Impressão minha ou você
ainda tá bem apavorado, Mateus? - observa Haroldo.
-Estou mesmo. Enquanto essa
coisa toda não acabar eu vou continuar alerta, com medo que algo de
ruim nos aconteça. Nossas vidas ainda não deixaram de correr
risco... - desabafa Mateus.
-Melhor pensar positivo,
agora. Já falta tão pouco pra tudo isso acabar! Do casamento do
Cláudio esse infeliz não vai ter como escapar! - fala Laura.
CORTA A CENA.
CENA 6: Horas mais tarde, os
convidados começam a chegar na casa de Cláudio. Riva comenta com
Marion sobre a decoração para a festa.
-Que deslumbre que está essa
decoração! Simples e de bom gosto! - fala Riva.
-Não é, menina? E você pelo
visto aprendeu direitinho que menos é mais... que não é preciso
gastar rios de dinheiro para fazer uma festa elegante, com detalhes
indispensáveis... - fala Marion.
Cláudio recebe as duas.
-Que bom que vocês já estão
aqui, queridas! - fala Cláudio.
-Achei muito legal essa
pré-festa antes do casamento. - fala Riva.
-Foi uma ideia do Guilherme. -
fala Cláudio.
-E ele, onde está? - pergunta
Marion.
-Está se arrumando, ainda.
Afinal ainda faltam algumas horas pro casamento... - esclarece
Cláudio.
-Você parece estar calmo,
Cláudio... e ele, como está? - pergunta Riva.
-Ansioso pra caramba. Mal cabe
em si de felicidade, diz que é o dia mais feliz da vida dele, mas
enfim... e os meninos?
-Seu irmão e seu cunhado
estão estacionando lá fora. Devem estar pra entrar... - fala
Marion.
Os três seguem conversando
sobre a decoração do ambiente. CORTA A CENA.
CENA 7: Instantes depois,
Marcelo e Rafael conversam animadamente com Cláudio e Guilherme.
-Queridos, vocês se importam
de eu já ir pegando alguma coisa pra beber? - pergunta Marcelo.
-Que isso, você é meu irmão,
você pode tudo... - fala Cláudio.
Rafael vai com Marcelo pegar
champagne.
-Ei... você pare atrás de
mim. Nada de beber que é você quem tá dirigindo! - repreende
Marcelo.
-Não vim beber com você,
amor... na verdade tou te notando com uma carinha de preocupação,
que você tentou disfarçar diante dos meninos...
-Sabe o que é, amor? Eu
conheço o Cláudio muito bem, muito antes de saber que ele é meu
irmão... ele tá com uma cara diferente. É como se parte dele não
quisesse realmente estar aqui. Tem algo acontecendo...
-Você não acha que é
suficiente pra ele estar com aquela cara o fato de que a prisão do
“Chefe” vai acontecer justamente durante essa festa?
-Pode ser. Mas poderia apostar
contigo que tem mais coisa nisso. Não sei até onde ele está
sabendo das coisas e nem ouso perguntar, por motivos óbvios... e pra
ser bem sincero, estou com medo.
-Eu também tou sentindo um
pouco de medo. Mas a gente precisa confiar que tudo vai dar certo.
-Pode parecer que tou sendo
exagerado, mas fico com medo que isso acabe resultando em uma
tragédia... só que dessa vez, real.
-Ei, Marcelo! Cuida o que você
fala! As pessoas estão passando e podem sacar o que você quis
dizer...
-Tá... foi mal, Rafa...
-Tranquilo, amor. Só estou
cuidando pra que nada saia errado.
-Acho que nem o melhor autor
de novelas poderia imaginar que a vida real podia ser tão cheia de
emoções. Tou com o coração na mão, morrendo de medo.
-Calma, amor... você vai ver
como tudo vai dar certo. Daqui a pouco essa tormenta toda vai acabar
e todos nós vamos estar um pouco mais livres depois de tudo...
Rafael afaga Marcelo. CORTA A
CENA.
CENA 8: A juíza chega e é
dado início ao casamento de Cláudio e Guilherme.
-Boa noite. Estou aqui para
realizar o casamento civil entre Cláudio Muniz Pacheco e Guilherme
Rodrigues Ruas. De acordo com o que foi acertado, ambos passarão a
adotar o sobrenome Muniz Ruas a partir da oficialização do
matrimônio. Dito isso, pergunto primeiramente a Cláudio: é de
livre e espontânea vontade que você deseja se unir em matrimônio,
com separação total de bens, com Guilherme? - fala a juíza.
-Sim. - responde Cláudio.
-Certo. Guilherme, sua vez: é
de livre e espontânea vontade que você deseja se unir em
matrimônio, com separação total de bens, com Cláudio? - fala a
juíza.
-Sim, mil vezes sim! - fala
Guilherme.
-Muito bem. Seguindo o rito,
se alguém aqui tiver alguma objeção à união dos dois, que se
manifeste agora e apresente suas razões... ninguém? Então seguimos
com o rito... podem assinar os documentos, por favor. - fala a juíza.
Guilherme e Cláudio assinam
os documentos, oficializando o casamento.
-Sendo assim e ninguém se
manifestando contrariamente à união, pelos poderes que me são
concedidos pelo Estado, eu declaro os dois casados. - finaliza a
juíza.
Guilherme beija Cláudio, que
parece recuar do beijo. Guilherme estranha, mas nada diz. Todos
aplaudem e a juíza deixa a casa. CORTA A CENA.
CENA 9: A festa do casamento
se inicia. Rafael estranha a demora para alguma ação ser tomada por
parte de Valentim e comenta com Marcelo.
-Você não acha que os
investigadores já deviam ter chegado? - questiona Rafael.
-Pois é... tou achando
demorado demais tudo isso e quanto mais demora, mais tenso eu fico...
- fala Marcelo.
Guilherme dança
freneticamente e bebe champagne, sob os olhares de reprovação de
Cláudio.
-Você prometeu que não ia
beber, Guilherme! - repreende Cláudio.
-Hoje é nosso casamento,
amor! Agora eu sou seu marido oficialmente! Só um pouquinho, vai! -
insiste Guilherme.
Cláudio desiste de convencer
Guilherme a não beber. Valentim chega à casa.
-O senhod Guilherme Rodrigues
Ruas se encontra? - fala Valentim.
-Sou eu, moço! Mas agora já
sou Guilherme Muniz Ruas! - fala Guilherme, ainda dançando.
-Você está preso, Guilherme.
- anuncia Valentim.
FIM DO CAPÍTULO 99.
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