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sábado, 3 de setembro de 2016

CAPÍTULO 96

CENA 1: Mateus paralisa e Valentim tenta estimulá-lo a falar.
-Vamos, Mateus... você vai estar seguro agora. Nada de mal pode te acontecer.
-Quem é que me garante isso?
-Eu e toda a polícia te garantimos isso, Mateus. Não é suficiente?
-Não sei se é o suficiente. A Mara me contou que você teve de molhar a mão de um funcionário corrupto do crematório pra ele não dar com a língua nos dentes.
-Sim, mas isso foi lá, não aqui.
-Quem me garante que todos os médicos daqui são incorruptíveis? Quem?
-Bem, aparentemente nenhum deles pediu dinheiro para se manter calado, isso é um bom sinal.
-Mesmo assim fico desconfiado, Valentim. Esse quarto pode ter câmeras ou microfones escondidos.
-Você acha que eu já não verifiquei isso antes, Mateus? Não tem nada aqui.
-Ainda assim, paredes às vezes tem ouvidos. Eu não conheço mais da metade das pessoas que fazem parte dessa facção atualmente. Nem você, nem a Mara, muito menos a Raquel, podem me garantir com segurança que não tenha algum infiltrado nessa clínica.
-Acho que você está desconfiado demais, rapaz... quase paranoico.
-E eu tenho razões pra isso, Valentim. Eu poderia ter morrido nesse atentado. A intenção dos homens era me matar.
-Tá certo... você tem razão. Afinal de contas, se eles soubessem que você ainda está vivo, provavelmente viriam para acabar o serviço que começaram.
-Entendeu agora, Valentim? Eu quero falar tudo o que sei. Só quero esperar o melhor momento, o momento que for, de preferência, o mais seguro. Não é só minha vida que está em jogo. É a vida de todos nós. Se um passo em falso for dado, acabou investigação, mas também acabou a vida de muita gente...
-Você tem razão, Mateus... mas posso saber quando você vai começar a contar toda a verdade?
-Se você não se incomoda, acho mais prudente que eu só faça isso quando já estiver na sua casa.
-Deve ser melhor assim, mesmo. Nós voltamos a falar sobre isso quando você estiver pronto para falar.
CORTA A CENA.

CENA 2: Rafael e Marcelo estão a caminho de casa.
-Marcelo, você não acha que a gente devia conversar com o seu irmão sobre a questão do Mateus?
-O que? Falar logo pro Cláudio? Ai, amor... não sei se isso vai prestar. Você já viu o Cláudio sabendo guardar segredo alguma vez?
-Nesse último ano... não.
-Pois é. Eu que conheço ele praticamente a uma vida inteira sei que mesmo sem querer, ele acaba dando com a língua nos dentes.
-Mas... e se você falar daquela nossa desconfiança sobre quem pode ser o “Chefe”?
-Aí que piora tudo, né! Cê tá cansado de saber que não é preciso contrariar muito o Cláudio pra ele fazer um escândalo e brigar.
-É, mas talvez a gente precise falar dessas desconfianças a ele e torcer pra que ele não nos leve a mal.
-Rafael... eu queria muito poder falar tudo isso, mas ele pode reagir daquele jeito infantil que você já viu antes.
-Será que você não tá subestimando seu irmão? Acho que desde aquele incidente lamentável de quando a gente ainda tava em Melbourne, muita coisa mudou na vida dele... acredito, acima de tudo, que ele esteja passando por um momento único de amadurecimento. O pai de vocês é uma prova viva e consistente disso.
-Você tá certo, amor. É que fico com medo do Cláudio agir daquele jeito infantil que já vi tantas vezes.
-Acho que isso não cabe mais na vida dele. Não pra quem ele tem se tornado.
-Ai, quer saber? Acho que é melhor chamar ele pra conversar.
-Hoje? Já tá ficando tarde.
-Sim, amor... eu sei disso. Tou pensando em ir falar com ele amanhã, o que você acha?
-Eu vou com você. Afinal de contas, precisamos nos assegurar que ele vai estar a sós com a gente e não vai contar pra ninguém que o Mateus tá vivo...
-Combinado assim, então. Vou mandar uma mensagem pra ele, avisando sobre amanhã.
CORTA A CENA.

CENA 3: Márcio se encaminha à delegacia e liga para Raquel.
-Oi, mãezinha... tou te atrapalhando muito no trabalho?
-Não. Pode falar.
-Acabei de voltar de um encontro com meu filho Marcelo. Ele me convenceu de uma vez por todas a denunciar Suzanne.
-Sério? Finalmente, meu querido! Avisa assim que denunciar.
-Vou denunciar agora. Acabei de chegar à delegacia.
-Melhor ainda. Depois me manda por mensagem a localização dessa delegacia que eu entro em contato com o delegado e passo as informações do inquérito para os outros investigadores.
-Pode deixar, mãezinha. É isso mesmo que vou fazer. Preciso desligar agora, já passo a localização. Beijo.
Márcio desliga e manda uma mensagem a Raquel com o local da delegacia onde ele vai prestar a queixa contra Suzanne. O delegado se aproxima.
-Pode me acompanhar, moço.
Márcio segue o delegado e inicia seu depoimento. CORTA A CENA.

CENA 4: Eva e Renata preparam o ambiente para que Adelaide grave mais um vídeo repudiando a homofobia e denunciando as falcatruas da igreja que participou durante anos.
-Já tá pronto pra gravar, meninas? - pergunta Adelaide.
-Prontíssimo, minha sogra. Agora é só mandar ver! - fala Eva.
-Gravando! - fala Renata.
Adelaide começa a falar.
-Bem... não sei nem por onde começar dessa vez, pois creio que todos que me assistem sabem o quanto tive de lutar para vencer a homofobia e os preconceitos que carregava em mim. Alguns deles ainda estão aqui, mas luto todos os dias para combatê-los. Diferente do vídeo anterior, que gravei com meu esposo, nesse aqui não quero dar enfoque ao infeliz acontecimento que se abateu tempos atrás com minha filha e minha nora: hoje eu quero falar sobre as mentiras da igreja evangélica. Isso mesmo, pessoal: durante anos, muitos anos mesmo, eu fui evangélica fervorosa. Aceitava tudo o que o pastor dizia, mesmo que isso me privasse de conviver e de amar com todo meu coração minha única filha. Como vocês já sabem, Renata é adotada porque eu nunca pude ter filhos. Mas venho hoje aqui denunciar o pastor Euclésio, por toda a alienação que ele causa aos seus fieis. Mas é muito mais que isso que se esconde naquela igreja: ele acoberta casos de estupro e pedofilia entre participantes da igreja, sempre alegando que todos tem direito a uma segunda chance e que, se aceitam Jesus no coração, não podem ser julgados pelas leis dos homens. Quando deixei de ser parte da igreja, passei a receber ameaças, mas resolvi que não vou me calar. Vou levar essa luta até onde puder. Pastor Euclésio não passa de um mercenário em busca do dinheiro fácil. Convence centenas de pessoas a pagarem o dízimo e os fieis, na sua maioria pobres, financiam a vida de luxo que ele leva às custas da ignorância e do medo alheio.
Adelaide segue relatando. CORTA A CENA.

CENA 5: Marion vai ao quarto de sua mãe para contar uma novidade.
-Desculpa se tou atrapalhando sua leitura, mãe...
-Imagina, querida. Já passo tanto tempo lendo, não me importo de ser interrompida.
-Sabe o que é? Um executivo da emissora falou comigo há pouco. Disse que querem eu e a senhora na próxima novela das sete.
-É o que? Mas gente, a atual mal estreou...
-Pois é, mas a ideia é que eles agilizem a produção da próxima, já que essa atual está afundando a audiência do horário... tanto que será encurtada em trinta capítulos...
-Olha, filha... você sabe o quanto eu amo atuar e o tanto que eu fiquei feliz de ter feito parte de uma novela, já. Mas ainda acho cedo pra aceitar outro papel.
-Sabe, mãe... eu tou com a senhora. Em outros tempos eu aceitaria de cara, mas passei tanto tempo longe de tudo antes de recomeçar que eu não tou me sentindo preparada pra emendar outro trabalho agora...
-A gente tem quanto tempo pra dar a resposta, filha?
-Dois meses, no máximo. A pré produção já está começando... o elenco será fechado e confirmado em no máximo dois meses.
-Acho que a gente vai ter tempo de pensar nisso com calma, pelo menos...
-Pois é. Na verdade eu ando meio desgostosa com várias coisas na emissora.
-É sobre as imposições absurdas que fazem aos atores?
-Também. A imagem pública que tentam construir das pessoas é irreal. E ainda tem gente despreparada que acaba se deixando levar pela vaidade e se sente maior que as outras pessoas, só por causa da fama...
-E ainda são chamados de excêntricos...
-Verdade. Mas vamos ter tempo de decidir, mãe. Mas confesso que não estou nem um pouco animada...
-Nem eu, Marion...
CORTA A CENA.

CENA 6: Laura e Bruno chegam ao mesmo tempo em casa. Ela, do ensaio e ele, do trabalho. Haroldo os recebe.
-Coincidência vocês chegando hoje juntos... - fala Haroldo.
-Verdade... mas tou te notando preocupado, Haroldo... - constata Bruno.
-O Bruno tem razão. Você tá com uma cara de quem tá de piriri... - fala Laura.
-Eu ando tenso com toda essa situação, gente... - fala Haroldo.
-Qual situação? A farsa da morte do Mateus? - questiona Laura.
-Exatamente, amor. Essa farsa é um tiro no escuro. A gente não sabe onde que ela vai dar.
-Como que não sabe, amor? Já ficou claro pra todos nós que o Mateus conhece a identidade do “Chefe” - fala Laura.
-Vocês me dão licença, mas não quero participar desse assunto. Vou tomar um banho... - fala Bruno, indo ao banheiro.
-Conhecer ele até pode conhecer, mas esse plano ainda pode dar errado. Já pensou se algum dos homens dessa facção descobre que o Mateus está mais vivo que nunca?
-Você precisa confiar no Valenti, na Mara e na Raquel. Eles sabem exatamente o que estão fazendo, principalmente a Mara e o Valentim... eles já fizeram isso várias vezes com outras testemunhas e nunca deu nada errado.
-É, mas a coisa toda não estava girando em torno da maior facção dessa cidade...
-De qualquer forma, amor. Eles estão agindo por conta. Vai dar certo. Sabe do que eu desconfio, na verdade? Que o Bruno também sabe quem é o “Chefe”.
-Tenho quase certeza que ele sabe, Laura. Mas os motivos para não dizer nós conhecemos bem...
CORTA A CENA.

CENA 7: Ivan ajuda Procópio a fechar o teatro.
-Fazia tempo que você não vinha me ajudar com o fechamento da casa, meu amigo...
-Ah, Procópio... tava precisando dar uma passada aqui. Esse lugar transpira vida e sempre que preciso recarregar as energias, eu sei que o melhor lugar é esse teatro.
-Não é a toa que você é o maior patrocinador daqui... mas tou vendo que você anda tenso... o que foi, Ivan?
-O Haroldo, pra variar... esse menino não se cansa de me dar preocupação.
-Como é que é? Um homem feito, com mais de trinta anos na cara... te dando preocupação ainda? Não, né! Depois, ele anda com a vida dele bem nos trilhos...
-É, ele tá feliz e bem ao lado da Laura. Ela realmente é uma mulher sensacional pra ele. Mas sabe o que é? Ele quase não para mais em casa. Fico com medo que aconteça outra merda e ele acabe sumindo de novo...
-Deixa de bobeira, meu amigo... nunca fui pai, mas isso daí é insegurança de pai, certeza.
-Também acho que é... mas não dá pra esquecer que os anos que Haroldo passou sumido foram por conta de criminosos que tinham ele na mão. E por minha culpa!
-Você não pode se martirizar pelos passos errados que ele deu.
-É, mas se eu não fosse viciado em jogos, não levaria meu filho a também ser. Eu falhei como pai, durante anos.
-Você não falhou, Ivan. Hoje ele está livre desse vício.
-Enfim... não vou ficar te alugando com isso, meu amigo. Vamos terminar de fechar a casa...
CORTA A CENA.

CENA 8: Mateus chega à casa de Valentim, acompanhado dele e de Mara. Os três descem no estacionamento interno do prédio e tomam precauções para que não sejam vistos por ninguém.
-Finalmente, um pouco mais de segurança! - fala Mateus, sentando-se no sofá da sala da casa de Valentim e Mara.
-Agora você vai poder ficar mais descansado. Até aqui, nenhum dos homens dessa facção chegou perto de desconfiar que você não morreu... - fala Mara.
-Pelo menos assim tanto eu quanto as pessoas que eu amo estão salvas. - fala Mateus.
-É, Mateus... acho que esse é um bom momento pra você começar a falar, se já se sentir confortável para isso... - fala Valentim.
-Eu sei. Agora não existe mais nada me impedindo de falar o que eu sei. É bom vocês se prepararem, porque eu vou começar a contar tudo.
FIM DO CAPÍTULO 96.

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