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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CAPÍTULO 113

CENA 1: Cláudio se apressa em suas justificativas.
-Olha, eu queria deixar claro que não fui eu que desviei o filho de vocês, que eu sou gay, mas o Bruno é bissexual, ele também gosta de meninas, mas é que nos apaixonamos... - fala Cláudio.
-É isso, mãe. É isso, pai... eu só espero que vocês entendam e não me julguem, mas se vocês quiserem a gente pega as nossas coisas agora mesmo e vai embora. - fala Bruno.
Vânia e Setembrino seguem se olhando e Vânia solta uma gargalhada.
-Hahahahahaha! Eu disse que você ia perder essa aposta, Bino! Pode passar a grana! - fala Vânia.
-Que!? - falam Bruno e Cláudio ao mesmo tempo, espantados.
Setembrino vai até o armário e pega o dinheiro para entregar a Vânia, que pega o dinheiro e comemora.
-Ganhei a aposta, ganhei a aposta, la la la la! - vibra Vânia.
-Vocês podem me explicar o que tá acontecendo aqui? Continuo sem entender nada! - fala Bruno.
-Eu e sua mãe sempre suspeitamos sobre a sua sexualidade. Não é surpresa nenhuma pra nós... quer dizer, pra sua mãe, menos ainda. Porque eu apostava que você era gay e ela insistia que você é bissexual. Fizemos essa aposta semana passada, depois que falamos com você, meu filho. Perdi a aposta, paguei sua mãe, simples assim. - fala Setembrino.
-E vocês não estão nem um pouco espantados? - surpreende-se Cláudio.
-Sério mesmo que eu vivi pra ver isso? Vocês não vão se perguntar onde foi que erraram, nada disso? Porra... - espanta-se Bruno.
-Eu sempre soube sobre você, meu filho. Intuição de mãe... eu e seu pai já suspeitávamos disso quando você foi embora daqui de Coroados. E não tem nada a ver com sua ex... a Tamires nunca mais apareceu aqui depois que você terminou com ela porque ela não aceitava relacionamento à distância. Concluí por mim mesma. - fala Vânia.
-E eu comecei a lembrar de certas coisas, conforme sua mãe foi falando das suspeitas. Você sempre sofria quando brigava com algum amiguinho na escola, ainda criança. Sofria como se tivesse perdido um amor... - fala Setembrino.
-Mas gente, eu era só uma criança! Só fui compreender minha sexualidade depois dos dezesseis anos! - fala Bruno.
-Ainda assim, meu filho... mãe e pai sempre sabem. Os pais que dizem não saber estão mentindo... e os que não aceitam nunca deveriam pensar em ter filhos, porque filho a gente cria pro mundo, pra vida... pra ser o que é. Independente do que somos nós, os pais. Entenda que acima de tudo, temos orgulho pelo homem que você se tornou... de caráter, justo, mas acima de tudo, alguém que sabe amar e merece ser amado. Agora você me dá licença que eu quero um abraço do meu genro! - fala Vânia, abraçando Cláudio, que se emociona.
-Ah não, Vânia! Eu não vou ficar sem abraçar meu filho e meu genro, pode ir abrindo espaço aí! - fala Setembrino.
Bruno respira aliviado e se emociona com a atitude de seus pais diante da verdade. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Márcio conversa sobre Suzanne com Raquel durante o café da manhã.
-Sei que a gente mal acordou, mãezinha... mas fiquei pensando numa maneira de te ajudar nessa investigação que tá correndo sobre a Suzanne.
-Nunca é cedo pra falar de trabalho, meu querido. Sinta-se à vontade.
-Fiquei pensando e acho que talvez você possa dar uma pesquisada nos contatos antigos e atuais da Suzanne... talvez a chave para o que você, o Valentim e a Mara procuram não esteja diretamente ligado ao nome dela, mas sim com as pessoas com quem ela se associou em algum momento.
-É uma ideia excelente, Márcio, mas você saberia me dizer pelo menos o nome de cinco dessas pessoas?
-Teve um sujeito estrangeiro, que nem sei se ainda é vivo, se chama Alexis Gunnunderson.
-Você sabe de onde ele é ou era?
-Sim. Era alemão, mas vivia nos Estados Unidos. Foi com ele que Suzanne viajou durante seis anos.
-Talvez esteja aí um bom começo. Vou repassar isso ao Valentim e à Mara, com certeza.
-Acho que é justamente em algum ponto desse passado da Suzanne que está a resposta.
-Espero que você esteja certo, meu filho... o que não dá pra manter desse jeito é essa investigação que não sai do ponto de partida.
-Verdade. Ainda mais sabendo que Suzanne matou seu Frederico.
-Se você soubesse da revolta que eu sinto ao lembrar que ela nem pode mais pagar por esse crime porque já prescreveu...
-Eu imagino.
-Se a gente soubesse de tudo isso antes, a gente poderia ter denunciado ela assim que ela completou dezoito anos. Ela seria julgada e condenada. E provavelmente muita coisa teria sido evitada.
-Não sei, dona Raquel. A Suzanne tinha quinze anos quando ela me fez roubar a Riva e fugir com ela pra Niterói, não sei se a senhora lembra.
-Não falo só sobre a questão da Riva, mas de todas as pessoas que acabaram sendo vítimas dos golpes da minha filha, entende? Tudo isso poderia ter sido evitado. E talvez se ela tivesse passado alguns anos na prisão, pudesse ter aprendido alguma coisa sobre si mesma.
-Sinceramente, dona Raquel? Não acredito nisso.
-Nem eu, meu querido... nem eu. Mas mãe é esse bicho estranho e esquisito que, no fundo sempre guarda uma esperança de que seus filhos tortos acabem se redimindo em algum momento.
-Se eu fosse você, não contaria com isso, mãezinha...
-Eu sei, Márcio. Quem te viu, quem te vê: nunca imaginei que você pudesse ter tanta clareza sobre Suzanne.
-Nunca vou deixar de amar sua filha. Mas lembro todos os dias de todo o mal que ela me causou...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Em Coroados, Bruno e Cláudio tomam café da manhã com Vânia e Setembrino.
-Você é realmente um encanto, Cláudio. Genro melhor eu não poderia pedir a Deus... - fala Vânia.
Cláudio fica vermelho.
-Vânia, não tá vendo que o menino tá ficando tímido? - repreende Setembrino.
-Calma, gente... vocês são ótimos! Não vão ficar de discussão por causa disso. Eu fico muito lisonjeado, de coração, pelas suas palavras, Vânia. E pela hospitalidade de vocês. Eu realmente fico feliz em ter vocês como sogros. - fala Cláudio.
-Já disse o quanto eu amo vocês? Vocês são os melhores pais do mundo. Vai doer no coração quando a gente for embora. Queria ficar mais tempo aqui com vocês, mas a vida lá no Rio não para... - fala Bruno.
-Mas vocês podem ficar tranquilos, meus sogros. Eu vou cuidar muito bem do filho de vocês. E acho que é um bom momento pra dizer: a gente pretende se casar assim que for possível. - fala Cláudio.
-Sério? Que maravilha, isso! É tão difícil se encontrar um amor pra vida toda! Mas vejo esse brilho no olhar de vocês. Não tenho dúvidas de que vocês vão passar o resto da vida juntos... - fala Vânia.
-Amar é a melhor coisa dessa vida. O amor faz coisas milagrosas na vida da gente. Nos faz lutar, nos faz resistir. Se não fosse o amor da sua mãe depois que tive o infarto, não sei se eu estaria tão bem como estou hoje... - divaga Setembrino.
Os quatro seguem conversando animadamente durante o café da manhã. CORTA A CENA.

CENA 4: Na companhia de teatro, Mara observa Haroldo e o chama.
-Pode descansar um pouco, Haroldo. Vem cá falar comigo.
-Fui muito mal, Mara? Acho que fiquei muito inseguro.
-Você deve estar de brincadeira comigo, rapaz. Se todos os atores conseguirem se entregar da maneira que você conseguiu no ápice de suas inseguranças, então ninguém mais esquece texto ou erra na vida.
-Fui tão bem assim, Mara?
-Eu devia ter te gravado pra você ver com os próprios olhos. Você pegou um texto escrito há mais de quarenta anos e conseguiu transmitir modernidade na sua interpretação. Sabe quando eu vi isso da última vez?
-Quando?
-Quando a Marion, sua madrasta, colocou os pés nesse teatro. E veja até onde ela foi... e se engana quem pensa que o patrocínio do seu pai ajudou. Ela não teria chegado a lugar algum sem talento.
-Você não acha que está exagerando? Eu nunca tinha colocado os pés num palco.
-Mas talento é uma coisa inata... ele nasce com a gente. E isso você tem de sobra. Quando o texto da peça que Procópio tá escrevendo com vocês ficar pronto, não tenho dúvidas de que o público vai reconhecer em você o grande monstro que você é.
-Não acha que tem um pouco de exagero nisso?
-Posso até ser exagerada de vez em quando, mas dessa vez não. Deixe de ser inseguro, Haroldo. Quer dizer... mantenha um pouco dessa insegurança, para não permitir que o ego destrua tudo. Mas você vai longe... pode ter certeza disso. Eu tenho olho clínico, como preparadora.
-Bem, sendo assim... me resta acreditar.
-Volte pro palco, rapaz... e arrase!
CORTA A CENA.
CENA 5: Os internos Danilo e Pedro, sob as ordens de Guilherme, conseguem chamar mais de dez internos para conversarem com eles e com Guilherme, que começa a falar.
-Vejam bem, companheiros: nada do que está acontecendo dentro desse lugar é justo com a gente. Eles entopem a gente de medicamentos, fazem a gente ficar como se fôssemos robôs. Comandados, abobados. Vocês querem que isso continue a ser assim? - fala Guilherme, altivo.
-Não! - respondem os internos, em uníssono.
-Escutem bem o que nosso líder Guilherme diz! E escutem as ideias que ele tem para que a gente saia desse inferno! - estimula Pedro.
-É isso aí! Vocês querem continuar vivendo essa vida que não é vida ou querem a liberdade de serem gente mais uma vez? - questiona Danilo, empolgado.
-A gente quer ser! - respondem os internos.
-Muito bem, meus amigos! Vocês precisam prestar muita atenção no que eu vou dizer a vocês: vocês não precisam nem nunca precisaram desse monte de remédios que essesw enfermeiros dão. Sejam discretos. Finjam que estão tomando os comprimidos, mas os escondam debaixo da língua. Esperem os enfermeiros virarem as costas e se certifiquem que nenhuma pessoa que não deva flagrar vocês observa. Então, depois de se certificarem, cuspam os comprimidos. Escondam em um lugar seguro onde ninguém possa encontrar. Vocês topam? - fala Guilherme.
Dois dos internos saem, discordando dos planos de Guilherme.
-Mais alguém tá fora ou vocês estão dentro?
CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, Bruno percebe que sua mãe está pálida.
-Mãe... a senhora tá bem?
-Claro que tou, filho. Vai lá ajudar seu namorado e seu pai com a preparação do almoço, só preciso ficar um pouco sentada aqui.
Bruno auxilia Cláudio e Setembrino nos detalhes finais da preparação da mesa para o almoço.
-Impressionante como certas coisas nunca mudam, pai... você sempre preparando o almoço e a mãe, o jantar... - fala Bruno.
-Verdade, filho... mas enfim. Chama sua mãe que já tá tudo pronto aqui. - fala Setembrino.
Bruno volta à sala.
-Mãe, vem comigo... o almoço já tá pronto.
Vânia levanta-se e sente uma forte tontura, sendo segurada por Bruno.
-O que tá acontecendo, mãe? Fala pra mim!
-Falta de ar... me coloca no sofá.
-Pai, Cláudio! Venham aqui ajudar a mãe! - grita Bruno.
Cláudio e Setembrino acodem Vânia.
-O que você tá sentindo, amor? - pergunta Setembrino.
-Aquela falta de ar de novo, Bino... - fala Vânia.
-O que está acontecendo aqui? O que vocês estão escondendo da gente? - pergunta Bruno, preocupado.
-Esses sintomas parecem com o que eu li sobre insuficiência... - fala Cláudio.
-Renal? Pois é isso mesmo que tá acontecendo tem algum tempo. - esclarece Setembrino.
-Amor, eu pedi tanto pra manter segredo! - reclama Vânia.
-Você fez certo em falar, pai. Os hospitais daqui talvez não sejam suficientes pra tratar da mãe... - fala Bruno.
Cláudio, Bruno e Setembrino seguem acudindo Vânia. CORTA A CENA.

CENA 7: Marcelo e Rafael voltam de viagem e aparecem de surpresa na mansão dos Bittencourt. Marion, Ivan, Riva, Vicente, Mariana e Valquíria os recebem com abraços.
-Pensei que vocês iriam ficar mais tempo lá em Angra, queridos... - fala Marion.
-A gente queria, Marion... mas no final das contas, sentimos saudades dessa loucura que é essa casa. Desse convívio com todo mundo, desse barulho bom que nunca acaba. - fala Marcelo.
-Filho... você tá lindo! Esses dias te fizeram muito bem! - fala Riva.
-Ah, que isso, mãe. São seus olhos. Tava morrendo de saudade de você! - fala Marcelo, abraçando a mãe.
-Mas foram mesmo dias maravilhosos. Podia ter sido mais tempo, mas o Marcelo falou a coisa certa: a gente acaba sentindo saudade dessa casa, desse convívio, de todos vocês. Família é mesmo uma coisa louca... a gente reclama, mas nunca consegue ficar muito tempo longe... - divaga Rafael.
-Mas, se vocês não se incomodarem, a gente precisa subir pra tomar uma chuveirada e recarregar as baterias, porque melhor que seja a viagem, ir e voltar sempre dá aquele cansaço básico. - fala Marcelo.
-Claro, queridos! Fiquem à vontade. Depois a gente vai encher vocês de perguntas sobre como foi a viagem! - fala Ivan.
CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, Riva chama Marcelo para conversar a sós.
-Não entendi o motivo de me chamar pra falar só comigo, mãe...
-Então, querido... nesse momento a Marion também deve estar conversando com o Rafael. É que a gente precisa contar sobre uma coisa séria, realmente grave, que nós descobrimos sobre a Suzanne.
-O que pode ser tão grave assim, mãe?
-As razões que estão por trás da cisma da Suzanne comigo. É maior do que qualquer um de nós possa ter imaginado.
-Fala logo, mãe! Já tá começando a me assustar!
-Suzanne é sua tia.
-Como é que é? Não acredito! Isso é uma pegadinha, tem que ser!
-Pois não é. Graças à Raquel, chegamos à conclusão que somos filhas do mesmo pai, do Frederico. E o pior é que ela matou esse pai ao saber da minha existência... se sentiu traída. E por eu ser a bastarda, ela se empenhou de todas as maneiras para primeiro me destruir e depois que ficamos ricos, a ideia dela era tomar o meu lugar... na vida das pessoas e na sociedade.
-Eu tou sinceramente horrorizado. Perplexo de verdade! Não bastava ela ser mãe do Cláudio... agora eu descubro que nós dois temos o mesmo sangue que aquela doente! E ela fez tudo sempre de caso pensado! Isso é tão absurdo que nem sei o que dizer, mãe...
-Nem precisa dizer nada, meu filho... só queria que você entendesse melhor as coisas e soubesse da verdade por mim antes que qualquer pessoa viesse te contar sobre tudo isso.
-Gente... ela matou o próprio pai! Isso é cruel demais...
-E ela só tinha doze anos quando fez isso, o que torna as coisas ainda mais mórbidas.
-Gente...
Marcelo permanece chocado. CORTA A CENA.

CENA 9: Cláudio se impacienta com discussão entre Bruno, Setembrino e Vânia.
-Será que vocês não podem parar de discutir enquanto a dona Vânia ainda não se recuperou totalmente da falta de ar! Poxa vida! Discutir não vai resolver nada! É de tratamento que ela precisa, ponto! - fala Cláudio.
-Desculpa, amor... mas é que a gente se preocupa com a saúde dela. - fala Bruno.
-Só que eu não queria causar essa preocupação a vocês... - justifica-se Vânia.
-Minha sogra... não se trata de escolher. Você tem que se tratar, não pode esconder seu estado de saúde de ninguém, muito menos da sua família. E eu tou pensando que o melhor a ser feito nesse momento é que vocês dois, dona Vânia e seu Setembrino, venham com a gente pro Rio! - sentencia Cláudio.
FIM DO CAPÍTULO 113.

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