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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

CAPÍTULO 111

CENA 1: Riva segue encarando Suzanne, que permanece sem palavras.
-O que foi, Suzanne? Ficou muda agora? Sempre tinha uma resposta pronta na ponta da língua... cadê a sua lábia, agora? Anda, mulher, me diz!
-Eu posso explicar, se você me deixar.
-Que papinho bem mequetrefe esse, me poupe! “Eu posso explicar” é tão novela mexicana! Me poupe, se poupe, nos poupe! Acabou a farsa. Eu já sei de tudo: sei que seu pai é Frederico, que por um acaso também é o homem que me colocou nesse mundo. Mas fica tranquila, viu queridinha? Nunca quis saber daquele cara. Ouvi dizer que ele morreu cedo, pra mim isso não faz diferença. O que faz diferença é saber que você provavelmente sabia o tempo todo que eu era a sua irmã bastarda.
-É isso mesmo que você é, Riva! Uma bastardinha! Uma filha de chocadeira! - explode Suzanne.
-Muito bem! Palmas para a verdadeira Suzanne! Primeira vez nesse tempo todo que te vejo com raiva. Isso, bota pra fora, mostra sua cara, mostra quem você realmente é. Aqui somos só eu e você... mais ninguém. E aí... vai ou não vai explicar tudinho? Posso apostar que essa sua cisma comigo, que te fez querer me prejudicar quando eu ainda era uma garota e depois ainda te fez tentar sequestrar meu Lúcio, tem a ver com o fato de que seu pai traiu sua mãe. Melhor dizendo: que você deixou de ser a única. É ou não é verdade? Fala! Desembucha!
Suzanne treme e chora de raiva.
-Você quer mesmo saber de tudo? Então senta aí, Riva. A história é longa.
-Tenho todo o tempo do mundo pra te ouvir.
-Melhor você vir comigo pro quarto. Daqui da sala alguém pode ouvir.
Riva segue Suzanne e Vicente vai logo atrás, para ouvir atrás da porta e gravar a conversa.
-Pronto. Chega de enrolação, Suzanne. Chegou a hora da verdade.
-Cê tá preparada? Então tá bem! Eu descobri que meu pai tinha tido você com a vadia da Marinete quando eu tinha dez anos, quase onze. Eu peguei nas coisas dele a foto que a dona Valquíria tinha dado de você junto com a sua mãe, para ele levar de lembrança. Eu roubei essa foto, peguei pra mim. Entendi tudo. O meu pai era meu herói, a única pessoa que nessa vida eu amei de verdade. Pouco tempo depois eu perguntei a ele se eu era a única filha dele e ele me mentiu! Disse que eu era sim a única! O meu ídolo, o meu herói! Mentindo pra mim. Você sabe o que significa isso pra uma criança? Eu tava destruída por dentro! Fugi de casa. Consegui várias caronas e cheguei à Barra de São João. Você não lembra de mim, mas eu lembro de você. Fui comprar uma correntinha de ouro falso da sua mãe, brinquei com você. Você me disse que se chamava Riva e isso era tudo o que eu precisava saber. Voltei pra casa. Resolvi que meu pai merecia morrer por ter mentido pra mim... eu era uma pessoa pura, que não admitia mentiras. Ele acabou com a minha fé na humanidade. Então eu descobri um veneno que saía de uma planta do quintal da minha casa. Como minha mãe era muito ocupada com os afazeres de casa, foi fácil envenenar ele aos poucos: eu colocava um pouco da mistura líquida que saía dessa planta o uísque dele. Veneno natural, você sabe como é... pra todo mundo ele tinha uma fraqueza, uma doença misteriosa. Mas eu sei que não foi isso. Eu fiz meu pai definhar e sofrer antes de morrer, por quase um ano. Eu fiquei sem herói, mas você também ficou sem pai. Só que ficamos muito pobres... até minha mãe virar diarista, quase passamos fome. Eu sempre odiei a pobreza. Sempre odiei Curicica... foi então que Márcio surgiu nas nossas vidas. Passou a ser quase da família. Não foi difícil seduzir o pato. Ele podia me ser útil. Só não sabia que seria tão rápido... em noventa e cinco ele voltou à Barra de São João pra tentar se reconciliar com os pais que tinham expulsado ele de casa. Foi quando ele conheceu você e Marion, por acidente. Quando eu soube disso, eu fiquei pensando na melhor maneira de tirar tudo o que você tinha, pra me apossar do que fosse seu e ainda te fazer sentir o gosto da miséria. Te fazer passar fome. Eu desejei sua morte, Riva. Você sempre foi uma bastarda... e a culpada pela morte do nosso pai.
Riva se choca e se revolta.
-Eu tou honestamente perplexa com isso. Você matou seu pai! Quer dizer... nosso pai! Você não percebe que eu não tive culpa?
-Você é a bastarda. Por sua culpa eu deixei de ser a única. Mas quando você engravidou e eu mandei o Márcio sumir com as suas economias e sua gargantilha, eu estava satisfeita. Naquela época eu já tinha tido o Cláudio, entregado ele pro orfanato e vivia dos golpes que aplicava... assim eu segui. Até descobrir que você, logo você, estava rica. E famosa! Vivendo uma vida que deveria ser minha desde o começo. Você roubou minha vida de mim, Riva! Eu que deveria ser rica, famosa, cheia de prestígio. E o que me restou? Aplicar golpes. Fiquei rica, sim... mas não fiquei famosa.
-Suzanne... você é doente. Eu pensava que você era uma psicopata, mas diante de tudo isso já nem sei mais. Não sei se sinto raiva ou pena de você. Você matou a única pessoa que diz ter amado. Que amor é esse, mulher?
-Você nunca vai entender. Nunca sentiu falta da presença de um pai. Eu idolatrava esse pai. O maior choque que eu tive na vida foi saber que justo ele, meu ídolo, mentia. Eu perdoaria se ele tivesse mentido pra outras pessoas, até pra minha mãe. Eu sabia que ele saía com outras mulheres, coisa de caminhoneiro. Mas ele mentiu pra mim, filha dele! Única pessoa que ele jamais poderia ter feito isso. Eu amei meu pai. Mas ele mereceu morrer.
-Essa conversa toda tá me enojando, Suzanne. Vou embora daqui antes que eu vomite na sua cara.
-Agora você já sabe. Eu não tenho mesmo mais nada a perder! Fracassei todas as vezes que tentei te destruir. Mas não pense que eu vou querer seu afeto.
-Fique tranquila, Suzanne. Saber que você é minha irmã não mudou nada. A última coisa que eu quero de você é afeto. Eu sinto pena de você. Não cabe a mim te julgar... a vida cuida. Agora eu vou embora. Espero nunca mais te ver.
Vicente sai rapidamente antes que seja flagrado e Riva deixa o apartamento que Suzanne está hospedada.
-Você gravou tudo, amor? - pergunta Riva a Vicente.
-Tudo... acho que é melhor passar tudo isso pra Raquel.
-Claro!
Vicente disca para Raquel. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, Vicente e Riva chamam Raquel para uma conversa.
-Esperamos que você não esteja muito atarefada hoje... - fala Vicente.
-Atarefada eu sempre estou, mas nada que não possa ser resolvido depois. Fiquei na realidade um tanto preocupada com vocês me chamando e dizendo que só poderiam me falar sobre o que era pessoalmente... - fala Raquel.
-Sabe o que é, Raquel? Eu fui conversar ainda ontem com a Suzanne... pra esclarecer de uma vez por todas qual era a cisma dela comigo e pra saber desde quando ela sabia que era minha irmã... o Vicente gravou nossa conversa. O que você vai ouvir talvez te deixe chocada. - fala Riva.
Vicente coloca a gravação para rodar no trecho destacado.
-Pronto. Chega de enrolação, Suzanne. Chegou a hora da verdade.
-Cê tá preparada? Então tá bem! Eu descobri que meu pai tinha tido você com a vadia da Marinete quando eu tinha dez anos, quase onze. Eu peguei nas coisas dele a foto que a dona Valquíria tinha dado de você junto com a sua mãe, para ele levar de lembrança. Eu roubei essa foto, peguei pra mim. Entendi tudo. O meu pai era meu herói, a única pessoa que nessa vida eu amei de verdade. Pouco tempo depois eu perguntei a ele se eu era a única filha dele e ele me mentiu! Disse que eu era sim a única! O meu ídolo, o meu herói! Mentindo pra mim. Você sabe o que significa isso pra uma criança? Eu tava destruída por dentro! Fugi de casa. Consegui várias caronas e cheguei à Barra de São João. Você não lembra de mim, mas eu lembro de você. Fui comprar uma correntinha de ouro falso da sua mãe, brinquei com você. Você me disse que se chamava Riva e isso era tudo o que eu precisava saber. Voltei pra casa. Resolvi que meu pai merecia morrer por ter mentido pra mim... eu era uma pessoa pura, que não admitia mentiras. Ele acabou com a minha fé na humanidade. Então eu descobri um veneno que saía de uma planta do quintal da minha casa. Como minha mãe era muito ocupada com os afazeres de casa, foi fácil envenenar ele aos poucos: eu colocava um pouco da mistura líquida que saía dessa planta o uísque dele. Veneno natural, você sabe como é... pra todo mundo ele tinha uma fraqueza, uma doença misteriosa. Mas eu sei que não foi isso. Eu fiz meu pai definhar e sofrer antes de morrer, por quase um ano. Eu fiquei sem herói, mas você também ficou sem pai. Só que ficamos muito pobres... até minha mãe virar diarista, quase passamos fome. Eu sempre odiei a pobreza. Sempre odiei Curicica... foi então que Márcio surgiu nas nossas vidas. Passou a ser quase da família. Não foi difícil seduzir o pato. Ele podia me ser útil. Só não sabia que seria tão rápido... em noventa e cinco ele voltou à Barra de São João pra tentar se reconciliar com os pais que tinham expulsado ele de casa. Foi quando ele conheceu você e Marion, por acidente. Quando eu soube disso, eu fiquei pensando na melhor maneira de tirar tudo o que você tinha, pra me apossar do que fosse seu e ainda te fazer sentir o gosto da miséria. Te fazer passar fome. Eu desejei sua morte, Riva. Você sempre foi uma bastarda... e a culpada pela morte do nosso pai.
Vicente pausa a gravação e Raquel está chocada, com lágrimas correndo de seu rosto.
-Nós sentimos muito... - fala Vicente.
CORTA A CENA.

CENA 3: Alguns minutos depois, Raquel procura Mara e Valentim na companhia de teatro e pede para conversar com eles a sós.
-Você parece muito aflita, praticamente abalada... - percebe Mara.
-É mesmo... o que está acontecendo, Raquel? - pergunta Valentim.
-Eu descobri algo horrível sobre o passado de Suzanne. Meu marido não morreu de uma doença misteriosa. Ele foi envenenado ao longo de meses até que não resistiu. Quem envenenou Frederico foi Suzanne... a própria filha! Tudo isso porque ela sabia da existência da Riva e se sentiu traída pelo fato do pai ter mentido a ela. - desabafa Raquel.
-Isso é horrível, Raquel... nem sei o que dizer. - fala Mara.
-Faz quanto tempo que isso aconteceu? - pergunta Valentim.
-Vinte e quatro anos... quase vinte e cinco. Suzanne tinha doze anos quando Frederico se foi... - fala Raquel.
-Más notícias, então... infelizmente o crime dela prescreveu no mínimo há quatro anos... - fala Valentim.
Raquel lamenta saber da verdade. CORTA A CENA.

CENA 4: Cláudio e Bruno estão arrumando as malas para partirem mais tarde para Coroados.
-Tá empolgado, Bruno?
-Não sei dizer, amor... sei que tou um pouco nervoso.
-Sabe... eu andei pensando aqui... não é nada oficial nem um pedido, porque se fosse, seria bem torto, mas enfim... relembrando tudo o que a gente passou desde que se conheceu e tendo cada vez mais certeza do amor que une a gente, eu pensei que talvez seja a hora da gente pensar em casamento... assim, diante da lei, direitos garantidos.
-Eu não queria te dizer nada antes, com medo de estar sendo apressado, mas eu penso exatamente a mesma coisa. A gente passou por poucas e boas e isso só fortaleceu o que eu sinto por você.
-E também fortaleceu o que eu sinto por você. Nosso amor tem resistido bravamente a muita coisa.
-Depois que sobreviveu à presença sinistra do Guilherme, sou capaz de apostar que sobrevive a tudo!
-Pior que você tá coberto de razão, Bruno. Então a gente podia discutir essa ideia quando a gente voltar da casa dos seus pais?
-Claro! Pra mim vai ser num tempo bem confortável.
-Ai, agora me ajuda com a minha mala aqui: você acha que eu levo esse moletom aqui?
-Leva... às vezes faz frio quando anoitece.
Os dois seguem arrumando as malas. CORTA A CENA.

CENA 5: Guilherme conversa com dois internos.
-Bem... eu chamei vocês dois porque vocês parecem ser os mais... digamos, ajuizados daqui. Eu tenho uma tarefa pra você... Pedro e Danilo, é esse o nome de vocês, não é?
-Isso! - falam os dois.
-Mas explica melhor isso pra gente, Guilherme. O que você tá pensando? - fala Danilo.
-Numa coisa que pode ser vantajosa pra mim, pra vocês e para todos que vocês conseguirem convencer a participar desse meu plano. - fala Guilherme.
-Ah! Então é um plano... deve ser de fuga, acertei? - fala Pedro.
-Exatamente. Eu tava pensando numa coisa aqui... algo que deixe a todos nós seguros, que não nos coloque em risco de maneira alguma. Mas para isso eu vou precisar contar com a ajuda de vocês, que são os mais ajuizados daqui... eu sei que vocês tem poder de persuadir quantas pessoas quiserem, tudo isso junto comigo pode se tornar imbatível. - afirma Guilherme.
-E quais são exatamente os seus planos? - pergunta Paulo.
-É... a gente vai precisar de um detalhamento bem aprofundado. Não precisa ser nada desenhado ou por escrito que a gente tem memória fotográfica e ninguém pode desconfiar, então pode começar a falar... - fala Danilo.
Guilherme começa a detalhar seu plano de fuga. CORTA A CENA.

CENA 6: Bruno e Cláudio fecham suas malas e verificam a casa.
-Tá tudo certo, amor? Tem certeza que você fechou o gás da cozinha?
-Sim, Bruno. Você pode conferir se eu deixei a porta da dispensa trancada?
-Claro!
Bruno confere e confirma que a porta não estava trancada.
-Não tava trancada, acho que você esqueceu... só trancou a porta da área de serviço, mesmo.
-Ah, os meus lapsos, mais uma vez me pregando essa peça... tudo certinho então?
-Agora sim.
-Então vamos...
Cláudio e Bruno colocam as malas no porta-malas do carro.
-Você quer ir dirigindo, Bruno? Eu prefiro que você vá, porque fico nervoso com a pessoa me guiando e falando enquanto eu dirijo. Claro, isso se você estiver com sua habilitação em dia.
-Tá tudo certo com a habilitação. Se você prefere, vou eu dirigindo, mesmo.
-Ótimo. E vê se não fica nervoso, tá?
-Ah, amor... isso eu já estou desde que a gente bateu o martelo sobre essa viagem pra ver meus pais...
-É, mas agora não é hora de sofrer por antecedência nem nada do tipo, ainda mais que o responsável pela direção vai ser você.
-Quanto a isso, fica tranquilo. Eu posso não ter meu carro e estar um pouco desacostumado, mas não desaprendi a dirigir. Vamos chegar em segurança.
-Eu confio em você, amor. Tudo pronto, então?
-Prontíssimo.
-Então agora é fé em Deus e pé na tábua!
Bruno e Cláudio partem para Coroados. CORTA A CENA.

CENA 7: Na companhia de teatro, Mateus estranha a falta de notícias sobre Guilherme desde sua prisão e comenta com Haroldo e Laura.
-Vocês não acham esquisito que não se soube de mais nada do Guilherme desde que ele foi preso no dia do que seria o casamento dele? - questiona Mateus.
-Não acho estranho, querido. Ele foi desmascarado e tá pagando pelos crimes que cometeu... isso que ainda há outras acusações contra ele que podem pesar mais ainda no julgamento dele, se forem confirmadas. - fala Laura.
-Tou com a Laura, amor... não vejo nada demais nisso. É até melhor que tudo esteja assim, calmo, em paz... estamos livres dele e dessa facção dele. - fala Haroldo.
-Juro que queria ter esse mesmo otimismo de vocês, mas acho que esse silêncio dele pode significar outra coisa. - fala Mateus.
-Não sei sinceramente o que isso poderia significar além da constatação de que podemos respirar aliviados sem nenhuma ameaça vindo daquele monstro que quase acabou com as nossas vidas e com a vida do Cláudio... - fala Laura.
-Esse silêncio é preocupante, será que vocês não percebem? Eu conheço o Guilherme melhor que ninguém. Pra ele estar quieto desse jeito, eu temo que ele esteja tramando alguma coisa, como fugir, sei lá... e se ele conseguir essa fuga, que eu espero que nem aconteça, todos nós voltamos a correr os mesmos riscos de antes, senão maiores ainda... - fala Mateus.
-Ai, chega desse baixo astral, amor! Daqui a pouco o Procópio vem mostrar o que ele já tem de texto pra gente e eu não quero a gente com essa cara de bunda! - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 8: Bruno e Cláudio chegam à casa dos pais de Bruno em Coroados e buzinam para se fazerem notados. Vânia e Setembrino, pais de Bruno, se emocionam fortemente ao ver o filho, que também se emociona e os abraça.
-Que saudades de vocês, meus velhos! - fala Bruno, entre lágrimas de felicidade.
-Pensei que não vinha mais. Você tá tão magrinho, filho... - fala Vânia.
-Deixe sua mãe... pra ela, todo mundo tá sempre magrinho... - brinca Setembrino.
Cláudio resolve se apresentar.
-Oi, gente... eu sou o Cláudio. Prazer em conhecer vocês. - fala Cláudio.
-Que bonito que você é, rapaz! Cabelos cor de fogo, olhos escuros... parece uma escultura! - elogia Vânia.
-Mãe, a senhora tá envergonhando o Cláudio! - constrange-se Bruno.
-Ele não parece estar constrangido, filho. Entrem, por favor. Não reparem a bagunça. - fala Vânia.
Cláudio e Bruno se olham, tensos. FIM DO CAPÍTULO 111.

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