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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

CAPÍTULO 107

CENA 1: Suzanne duvida das palavras de sua mãe.
-Como é que é isso daí? Você tá falando isso pra me meter medo, só pode.
-E eu lá preciso meter medo? O Valentim conseguiu com a justiça esse impedimento. Você não pode deixar o país.
-Isso é um absurdo, uma arbitrariedade! Não tenho nenhum crime comprovado! Como isso pode ter sido feito?
-Falou bem: comprovado. Mas que tem, tem.
-Que papelão, dona Raquel. Minha própria mãe duvidando de mim.
-Deve ser porque você nunca me deu motivos para acreditar em você.
-Isso é abuso de poder! Você está influenciando as investigações porque trabalha com eles.
-Não, querida. Graças a Deus eu não sou uma conspiradora. Deixe isso para a direita.
-Mas eu ainda tenho o direito de ir e vir! Ninguém pode me impedir, mãe!
-Podemos e devemos. Você vai ser presa se for pega tentando fugir do país. Ficou conhecedora das leis agora, Suzanne? Essa é nova pra mim... pois saiba que não é assim que funciona! A partir do momento que o Márcio te denunciou, foi aberto um inquérito. Enquanto esse inquérito não for fechado ou arquivado, você tem a obrigação de estar à disposição da justiça e da polícia, para prestar esclarecimentos.
-Você e o Márcio são dois traidores! Vocês eram as únicas pessoas que eu tinha na vida e me apunhalaram desse jeito!
-Você quer realmente entrar nesse mérito, Suzanne? Então vamos lá: você enganou a mim e ao Márcio durante todo o tempo. Obrigou o coitado a esconder de mim que você esperava um filho e quando você teve esse filho, eu não soube e, se aproveitando disso, obrigou o Márcio a aceitar que você entregaria ele pro orfanato. Isso sem falar dos golpes que você praticou desde sempre e alguns deles o Márcio assumiu. Ele ficou fichado na polícia por crimes que não eram dele!
-Mas ele participou porque quis.
-Participou porque você se aproveitou do amor cego que ele tinha por você! Você sempre foi assim: usa as pessoas e depois joga fora quando elas não servem. Se o Márcio esteve esse tempo todo ao seu lado, foi por estar cego de amor. Mas ele está abrindo os olhos agora. Você não vai escapar, Suzanne. A justiça vai te pegar.
-Não enquanto não ficar provado algum crime meu.
-A gente sabe que você tem contas na Suíça.
-Mas elas não são irregulares.
-É o que aparenta. Mas estamos na sua cola. Você não vai escapar, entenda isso.
-Sai da minha casa.
-Essa casa nem é sua. E isso não é uma casa, é um apartamento de hotel. Ah... sabia que os funcionários do hotel que você destratou querem abrir um processo contra você? Eu vou apoiar se eles quiserem.
-Você é horrível, mãe. Uma mãe nunca faria isso.
-Você que é a psicopata aqui, Suzanne.
-Eu já disse pra ir embora daqui. Fora! Some da minha vida!
-Já vou embora, mas não é porque você tá me expulsando. Eu tenho um trabalho a fazer. Muito trabalho, por sinal... acho que você nem sabe o que é trabalhar. Vou investigar criminosos como você e defender as mulheres que são violentadas todos os dias.
-Vai embora!
Raquel deixa o apartamento. CORTA A CENA.

CENA 2: Haroldo visita Cláudio e Bruno.
-Não esperava ver só você aqui, Haroldo. Achei que a Laura e o Mateus vinham junto... - fala Cláudio.
-Andei falando com eles. Senti que devia alguma explicação a você... - fala Haroldo.
-Você não me deve explicação alguma, até porque o Bruno voltou a ser meu namorado. Relaxa. - fala Cláudio.
-Vocês querem que eu saia? Acho que eu não tenho nada a acrescentar no papo de vocês... - fala Bruno.
-Fica, amor... você é de casa. - fala Cláudio.
-Eu prefiro não incomodar. Eu vou ler um livro. - fala Bruno, indo ao quarto.
-Sabe o que eu acho mais engraçado nisso tudo, Haroldo? A sua hipocrisia.
-Hipocrisia? Desde quando eu fui hipócrita, Cláudio?
-Desde o momento que quando você tava comigo e eu pensava que você se chamava Rodrigo, você tinha todo um pensamento mais caretão. Onde é que foi parar o seu machismo e conservadorismo?
-Eu nunca disse que fui conservador.
-Mas dava a entender que era, Haroldo. Não me faça de idiota. Eu acho realmente louvável, admirável que você esteja vivendo uma relação com a Laura e com o Mateus ao mesmo tempo, só que eu não posso deixar de criticar suas contradições.
-Quem você pensa que é pra me criticar, Cláudio? Se eu vim aqui até sua casa, foi justamente pra explicar algumas coisas e mostrar o tanto que mudei. Somos ou não somos amigos?
-E é justamente por sermos amigos que eu me sinto na liberdade de apontar o que estou apontando. Você foi outra pessoa naquele tempo que a gente ficava junto.
-Eu tive meus motivos, Cláudio... e hoje você sabe perfeitamente quais foram.
-Tá... que seja. Não foi fácil viver sob as ameaças do Guilherme sem nem saber que era ele o cara que te ameaçava, eu entendo isso. Mas será que você não vê que todo aquele seu discursinho de fidelidade de corpos era hipócrita? Olha onde você tá agora!
-Mas você condena minha relação com eles?
-Claro que não! Eu acho lindo! Mas você precisa reconhecer que a vida tá te mostrando que as coisas não são binárias do jeito que você pensava.
-Tá certo... eu reconheço. Não quero continuar essa discussão, mesmo. Chama o Bruno!
-Chamo sim. Aliás, quer ficar pra almoçar?
-Vou pensar no seu caso, seu taurino cheio de teimosia...
CORTA A CENA.

CENA 3: Adelaide conta a Cleiton sobre convite que acaba de receber pelo telefone.
-Quem era no telefone, amor?
-Você não vai acreditar.
-Se você não me disser, aí mesmo que não tenho como acreditar.
-Sabe a presidente do partido Socialismo e Diversidade?
-Ah, a Larissa Gama? Claro que sei! Ela é uma das melhores políticas desse país! Não vai dizer que foi ela que ligou, foi?
-Ela mesma, Cleiton. Dá pra crer?
-Difícil, mas se você tá dizendo...
-Pois então. Ela quer que eu me filie ao Socialismo e Diversidade e faça parte da militância a favor das pautas LGBT no partido.
-E você está bem animada, pelo que posso perceber.
-Tou animada demais, amor! Sabe o que isso significa? Que a nossa luta pela igualdade pode ser estendida para muito mais longe do que a gente sonhou. Isso é fantástico!
-Você vai se filiar?
-Claro, evidente que vou! Já simpatizava com a esquerda desde sempre, mesmo antes de desconstruir meus preconceitos.
-Eu também vou me filiar. Nesse momento, quanto mais a esquerda crescer, maior será a prevalência da justiça social.
-Fico feliz que você queira entrar nessa junto. E tem mais uma coisa, Cleiton... ela quer que eu me candidate a vereadora... para as eleições de 2020.
-Sério?
-Seríssimo! Não é uma maravilha? Vamos ter esses anos pra eu me preparar, conhecer a militância a fundo, ir pra rua, pressionar as autoridades, enfim... aprender a lutar e conhecer o valor dessa luta!
Os dois comemoram. CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Haroldo está de volta à casa de Laura e conversa com ela e Mateus sobre a conversa de mais cedo com Cláudio.
-Como é que é? Sério que o Cláudio teve a capacidade de dizer que você foi hipócrita? Por que ele não olha para as contradições dele antes de apontar as suas ou as de qualquer pessoa? - revolta-se Laura.
-Calma, gente... o Haroldo já disse que eles se entenderam e ele até almoçou lá. Não entendo o motivo dessa revolta, Laura. - fala Mateus.
-Me revolto com o fato de que, entra ano e sai ano, mesmo o Cláudio passando por perrengues que praticamente forçam ele a amadurecer, ele não perde essa mania absurda de apontar o dedo pras atitudes dos outros e não olha pras próprias. Vejam bem, meus amores... não tou apontando o dedo pra ele nem remoendo o passado, mas poxa vida! Eu tenho memória! Eu lembro que não tem tanto tempo assim e ele despirocou legal, brigou com o Marcelo a troco de nada, foi invejoso e teve uma tremenda dificuldade de admitir as próprias falhas! Vocês estão entendendo o que me revolta nisso? O Cláudio já melhorou e amadureceu em muitos aspectos, mas ainda precisa aprender a deixar de ser intransigente e dono da verdade. Ele precisa entender que as pessoas mudam, mentem, hesitam... poxa vida! Somos humanos, sabe? Mas ele não perde essa mania de apontar os dedos pra todo mundo e de ser ao mesmo tempo autocondescendente consigo. - fala Laura.
-Bem... nesse caso eu concordo com você, amor. E depois, eu sei como foi complicado o tempo que eu namorei com ele e nem foi pelos segredos que eu guardava. Foi pela infantilidade, mesmo. Ele acha que as pessoas nunca podem mentir, sendo que ele mesmo já mentiu pra proteger. É como se ele pensasse “eu posso, mas vocês não podem”. Assim fica realmente difícil... - fala Haroldo.
Os três seguem a conversa. CORTA A CENA.

CENA 5: Haroldo vai à mansão dos Bittencourt e conversa com o pai a sós na edícula.
-Preciso conversar sobre algo sério com você, pai. Não é que seja assim, algo tão sério ou grave... mas é algo sobre mim, sobre minha vida, que eu queria muito poder compartilhar com você e pedir para que você tente não julgar.
-Pode falar, Haroldo... você sabe que não sou sujeito de julgar.
-Sabe o que é, pai? Eu não tou mais só com a Laura.
-Como é que é? Me explica isso melhor... vocês não se amam?
-Claro que nos amamos, pai... mas eu não terminei com ela. Eu estou com ela e com o Mateus ao mesmo tempo.
-Nossa, filho... me desculpe falar, mas... isso me deixa no mínimo perplexo.
-Tenta não me julgar, pai... eu amo os dois. E sinto que eles me fazem felizes e posso fazer os dois felizes.
-Eu não estou te julgando, meu filho. Meu medo é que vocês acabem sendo agredidos por pessoas amargas, conservadoras... essas coisas, sabe?
-Fico feliz que me compreenda, pai. Por incrível que pareça, já fomos duramente criticados por amigos, como o Cláudio, por exemplo.
-É mesmo? Como é que foi isso?
-Vou explicar, pai... a história é meio longa...
Haroldo explica o que aconteceu a Ivan. CORTA A CENA.

CENA 6: Suzanne sai do banho e ainda percebe muitas marcas da surra que levou de Riva.
-Essa ex-merendeira. Não nega mesmo a alma de pobretona. Me lanhou inteira, essa desgraçada! Essa maluca tinha era que me pagar um estojo novo de maquiagem, isso sim!
Suzanne, revoltada, se maquia para disfarçar as marcas da surra.
-Preciso dar um jeito de virar esse jogo. Não posso entregar os pontos logo agora. Se nada der certo por aqui, eu preciso dar um jeito de sair desse país sem ser pega. Agora mais essa: não posso nem sair do país sem ser presa. A polícia na minha cola... como eu fui burra de subestimar o tonto do Márcio! De tonto ele só tem a cara. Me abandonou. E agora eu nem posso mais me vingar da Riva... mas deixe estar. Quem esperou mais de vinte anos pode esperar um pouquinho mais. Só preciso do caminho livre pra enganar outros patos. Sem isso, minha grana acaba e eu fico pobre. E eu não vou ficar pobre de novo por causa daquela ex pobretona merendeira, mas não vou mesmo!
Suzanne consegue terminar de se maquiar com sucesso e permanece falando consigo mesma.
-Me aguardem, seus patos. Se não for com vocês, vai ser com outros. Tem sempre um pato dando sopa, esperando pra conhecer uma mulher simpática, cheia de carisma, de charme... que fala exatamente o que eles esperam ouvir. Vocês são tão previsíveis, humanos... posso não sentir emoções, mas vocês me ensinaram direitinho a atuar. E a saber exatamente os pontos fracos de cada um. Não vai ser difícil... isso, Suzanne! Confiança! O jeito é pensar na próxima cena de pobre vítima pra comover os patos... ai, eu sou o máximo, mesmo!
Suzanne sorri maliciosamente. CORTA A CENA.

CENA 7: Adelaide e Cleiton visitam Eva e Renata e contam sobre o convite que Adelaide recebeu.
-Mãe, isso é maravilhoso! Vou te confessar uma coisa: nunca te imaginei sendo de esquerda, mas tou super amando essa nova Adelaide! - vibra Renata.
-Boba... essa Adelaide sempre esteve aqui. Mesmo nos tempos que eu era da igreja, eu sempre me senti mais de esquerda que qualquer outra coisa. Mas posso dizer uma coisa? Tou me borrando de medo dessa nova jornada... - fala Adelaide.
-Entendo a razão do medo, minha sogra. O desconhecido deixa a gente assim de vez em quando. Mas você tem o nosso apoio total e irrestrito. Conte conosco pro que precisar, mesmo porque já somos filiadas ao Socialismo e Diversidade. - fala Eva.
-Vou precisar mesmo de algum apoio, instruções... ih, meninas! Vou dar é um trabalhão pra vocês e pro pessoal do partido. Até a Larissa Gama vai acabar enjoando da minha cara com o tanto de pergunta que eu vou fazer quando a gente for às ruas... - fala Adelaide.
-Ah, isso é verdade, meninas... essa daí é virginiana ao cubo desde que conheci. Cheia de perguntas, curiosidade, quer saber como cada coisa funciona nos mínimos detalhes. Enfim, uma chata útil! - brinca Cleiton.
-É... e é com essa chata que você tá casado há vinte e cinco anos. Quem não te conhece que te compre, Cleiton! Quem olha pra essa sua carinha de calmo, de santinho, não sabe o demônio que você é se alguém deixa alguma coisa desarrumada! - revida Adelaide, marota.
-Disso eu sou testemunha ocular e posso afirmar: seu Cleiton quase tem um troço se alguma coisa for deixada fora do lugar! - continua Renata.
-Cês querem parar com essa besteira? Olha que eu fico magoadinho! - brinca Cleiton.
-Sabe, gente... eu tou feliz de verdade. Nunca pensei que a essa altura da vida as coisas fossem tomar esse rumo. Dá um frio na barriga, mas esse friozinho me faz sentir tão mais viva! Dá gosto de viver e sonhar, pensar num futuro melhor e que de alguma forma todas nós podemos ajudar a construir esse futuro, tijolinho por tijolinho... - divaga Adelaide, emocionada.
Eva e Renata se olham e olham para Cleiton, que entendem o comando do olhar das duas.
-Montinho! - gritam os três ao mesmo tempo, abraçando Adelaide. CORTA A CENA.

CENA 8: Rafael e Marcelo conversam com Cláudio por conversa em vídeo através do computador.
-Que feio, mano... criticando o Haroldo e apontando o dedo pra ele... eu fiquei sabendo disso e não gostei nem um pouco de saber. - repreende Marcelo.
-Eu já expliquei ao Haroldo que o que critiquei foi a hipocrisia dele. O relacionamento a três eu acho sensacional, lindo de verdade. - justifica-se Cláudio.
-Cláudio, acontece que você tá falando do meu irmão. E eu vou ser bem direto contigo: você não é ninguém pra apontar o dedo pra qualquer pessoa, ainda mais depois daquela briga bem desnecessária que você teve com o Marcelo ano passado, quando a gente tava em Melbourne. Isso sem mencionar o que você fez quando tava cego de raiva... preciso nem dizer, você sabe muito bem. - fala Rafael, firme.
-Eu já me arrependi de tudo isso, gente... eu mudei. E agora eu sei que o Marcelo é meu irmão. Vocês podiam pegar mais leve comigo. - reclama Cláudio.
-O problema é justamente esse, mano. Você não pensa duas vezes antes de pegar pesado com as pessoas e acaba sempre sendo autocondescendente. Não tolera críticas, leva pro pessoal. Se sente agredido e atacado. Não estamos te agredindo, entenda isso... só estamos querendo que você abra os olhos e pare de ser injusto desse jeito. Não é só sobre o Haroldo, é sobre a Laura também... ela é sua melhor amiga e mesmo que não tenha sido sua intenção, você acabou atacando ela. Pensa nisso. - fala Marcelo.
Os três seguem a conversa em vídeo. CORTA A CENA.

CENA 9: Instantes depois, Marcelo e Rafael estão na sala com Riva, Vicente, Ivan, Marion, Mariana e Valquíria. De repente, a campainha toca.
-Mas que inferno! Será que essa casa virou a casa da Mãe Joana? Toda hora aparecendo alguém aqui! - impacienta-se Valquíria.
-Eita, vó! Fazia tempo que eu não te via incomodada! - fala Riva.
-Não tou incomodada, querida... só acho inconveniente. São quase dez! - esclarece Valquíria.
-Bem, se vocês vão ficar nessa lenga lenga aí, eu vou atender. - prontifica-se Rafael, indo até a porta e abrindo, para deparar-se com Suzanne.
-Você? Mas é muita cara de pau, mesmo...
-Eu preciso explicar minha versão dos fatos. Vocês não podem fechar a porta na minha cara desse jeito. - fala Suzanne. FIM DO CAPÍTULO 107.

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