CENA 1: Raquel e Márcio
aguardam a chegada de Suzanne.
-Pelo menos ela teve a
decência de lembrar de chamar a gente e avisar que voltava hoje...
pensei que não avisava mais.
-Ah, Márcio... pode apostar
que por trás desse aviso deve ter alguma coisa.
-Você acha, dona Raquel?
-Quase certeza. Ela está
usando a gente. Pra posar de boa filha pra mim e de amante boa pra
você. Não importa como ela venha, Márcio... resista.
-Pode deixar, mãezinha. Eu
posso até ficar com ela de novo, mas tou com a cabeça no lugar.
-Pelo amor de Deus, Márcio,
você não me invente de falar em hipótese alguma que ela foi
denunciada e que a investigação está correndo.
-Mas cedo ou tarde ela vai
acabar descobrindo, dona Raquel.
-Que não seja por nós.
Esqueceu que ela não faz a mínima ideia de que eu sou investigadora
da Polícia Federal? E isso é algo que nos beneficia.
-Verdade.
-Você precisa me jurar, me
prometer esse segredo. Não conte nada a ela. Pode ser pior.
-Confia em mim, mãezinha...
eu nunca te decepcionaria.
-Eu sei, querido. Melhor mudar
de assunto, ela tá chegando.
Suzanne surge e abre os braços
para abraçar a mãe, que a abraça secamente.
-Poxa, mãe! Eu passo esse
tempo todo fora e você me dá esse abraço xoxo?
-Não começa Suzanne. Você
já saiu tantas vezes do Brasil que já me acostumei com você longe.
Sem falar nos seis anos que fiquei sem notícias suas e do Márcio.
Aliás, não vai cumprimentar ele também?
-Você nem devia estar aqui,
Márcio. - reclama Suzanne.
-Eu vou fingir que não ouvi
essa sua indelicadeza. Bem vinda de volta, Suzanne. - fala Márcio.
-Quem não tem cão, caça com
gato. Obrigada por vir, Márcio. Mas se mais alguém te vir aqui,
estou perdida... - fala Suzanne.
-Por que, filha? Vai continuar
escondendo o Márcio como já faz há mais de vinte anos? Que feio,
Suzanne... trinta e seis anos na cara e não aprende nada! -
repreende Raquel.
-Deixa, dona Raquel. Com os
destratos dessa sua filha eu já me acostumei... - fala Márcio.
-Vocês podiam ser um pouco
mais simpáticos comigo, não? Acabo de voltar do Brasil e sou
recebida com esse monte de pedra? Credo, eu hein... - fala Suzanne.
-Tá, não vamos criar climão
também. O que você acha da gente ir na cafeteria aqui do aeroporto?
Tem cada delícia ali e imagino que você esteja com fome, filha... -
fala Raquel.
-E tou morta de fome mesmo,
mãe. No avião era cada comida ruim que passei a viagem a base de
vinho pra fingir que tinha alguma coisa no meu estômago. - fala
Suzanne.
-Então vamos... - fala
Márcio.
-Mas conta, filha: como foi
esse tempo lá na França? Muito trabalho? - pergunta Raquel.
-Muitos negócios, mãe...
você não faz ideia do quanto eu trabalhei, mas saí na vantagem e é
o que importa...
Os três seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 2: Laura chama Haroldo
para conversar no intervalo de seu ensaio na companhia de teatro.
-Acho bom que você tenha
vindo hoje, Haroldo. Desde sábado você tá com essa cara de quem tá
de bode... acho que a gente precisa conversar.
-Eu não sei se cabe essa
conversa outra vez, Laura. Você sabe que eu te amo, não sabe?
-Claro que eu sei. Mas você
precisa lembrar que eu também te amo e tou vendo que você tá
aflito, sofrendo de alguma forma.
-Eu não queria mais te
chatear com esse assunto.
-Até sei o que é... falando
nisso, você chegou a falar com o Mateus? Vocês conversaram a
respeito?
-Não tive coragem, Laura...
por você e por ele. Gosto demais de vocês.
-Pois devia encontrar essa
coragem em algum lugar. O que não dá pra continuar do jeito que tá
é essa sua cara de quem tá sentindo culpa por uma coisa que nem
fez. Já tá virando climão isso, lá em casa. E por mais que eu te
ame, se continuar assim, em pouco tempo eu vou me ver obrigada a
convidar você a se mudar de volta pra sua casa, pra casa da sua
família. Não me sinto bem te vendo assim, isso também não me faz
bem.
-O problema é que eu não sei
o que fazer pra resolver isso, Laura. A gente não tira o desejo e o
bem querer por uma pessoa com a mão de dentro da gente.
-E alguém aqui tá falando
pra você negar o que você sente? Eu não falei. Olha, amor... eu
também não sei o que fazer. A gente precisa descobrir isso...
juntos.
-Mas como, Laura? Esse papo
nem devia estar acontecendo. Ainda acho estranho você não me
condenar por nisso.
-O único que está se
julgando e se condenando aqui é você mesmo. Já te disse antes e
repito que aprendi demais com o relacionamento que tive com o Mateus,
antes de você.
-E eu vou me interessar justo
por ele... vê como eu sou torto?
-Você não é torto, Haroldo.
Você é um ser humano. A gente pode amar mais de uma pessoa e isso
não apaga o sentimento que tem pela outra. A gente vai encontrar uma
solução pra isso... confia em mim, mas também procure se ajudar.
Sozinha eu não consigo.
-Eu quero encontrar essa
solução. Só que sinceramente eu não vejo solução possível pra
esse impasse.
-Mas eu vejo...
-Qual?
-Em casa nós conversamos
melhor sobre isso. Eu, você e Mateus.
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Márcio
visita Riva.
-Ué, e Vicente? E o Lúcio?
-Vicente saiu pra dar um
passeio com o nosso filho, mas pelo visto você tá realmente
precisando conversar, pra ter vindo sem avisar.
-É... realmente tou
precisando. Pensei que ia encontrar a casa cheia, meu filho aqui, a
Marion...
-Saíram pro passeio com o
Vicente. Fiquei em casa pra preparar o almoço porque você sabe que
sempre amei cozinar, mas enfim...
-Eu preciso te contar algo
sobre a Suzanne.
-Que ela tá sendo investigada
eu já sei. Que mais pode haver?
-Bem... não é exatamente
sobre a Suzanne... é sobre a pessoa que está tomando a frente nessa
investigação toda.
-Quem?
-Dona Raquel.
-Como é que é? A mãe dela?
Que coragem que essa mulher tem de encarar tudo isso com tanta
garra...
-Não é a toa que ela se
tornou investigadora depois dos cinquenta e tantos. Essa daí tem
talento pra coisa.
-Sim... mas mesmo assim,
Márcio. Ter a coragem de investigar os podres da própria filha, por
amor à profissão e sem se abalar... é impressionante. Louvável,
eu diria.
-Talvez ela sinta o coração
partido, mas a justiça é uma só e é por ela que dona Raquel
trabalha.
-Enfim... já que você tá
aqui e eu sei que você é outro que tem pé na cozinha, já pra
cozinha que você vai me ajudar a preparar o risoto de camarão hoje!
-Tem como negar? Posso nem ver
os ingredientes que já quero cozinhar.
-Eu queria que você me
ajudasse com uma coisa, pra não sobrecarregar a Marion no nosso
plano.
-Fala, Riva.
-Você ainda fala com a
Suzanne, então eu pensei que você podia dar um jeito de convencer
ela a fazer uma festa pra comemorar a volta dela ao país... e você
vai poder comparecer sem ela poder dizer nada, afinal você é parte
da nossa família, muito mais que ela. O que acha?
-Claro! Como não pensei nisso
antes? Melhor ideia!
Os dois seguem para a cozinha.
CORTA A CENA.
CENA 4: Bruno está
concentrado procurando empregos nos classificados do jornal quando
Cláudio o interrompe.
-Conseguiu achar alguma coisa,
Bruno?
-Ainda não, Cláudio... na
verdade eu tou querendo garantir que não vá depender do seu
dinheiro agora que você tem dinheiro a parte da fortuna do seu
irmão...
-Deixa de ser cabeça dura,
por favor. Você sabe que dinheiro não é uma coisa tão importante
assim pra mim. Se eu tivesse ganância, já tinha vendido essa casa e
ostentado horrores. Mas acho mais justo te ajudar enquanto você não
consegue um outro emprego.
-O que eu não acho justo é
parecer que tou explorando você, só isso.
-Não precisa se justificar,
querido. Eu te conheço bem. Esquece isso e relaxa.
-Sabe, Cláudio... eu sinto
sua falta. Olha, eu sei que você me pediu paciência e eu juro que
tou tendo paciência, mas ao mesmo tempo, voltar a morar aqui com
você, mesmo que isso seja temporário, mexe comigo. Não dá pra não
pensar em nós dois... em resgatar o que a gente tinha antes...
-Eu amo você, Bruno. Você
sabe disso.
-Volta pra mim?
-Isso ainda me divide, Bruno.
Quisera eu que as coisas fossem assim, fáceis e simples de resolver.
-Mas podem ser fáceis e
simples, se você quiser.
-O problema disso tudo é ver
que eu me enganei tanto... justamente por ter agido de acordo com a
minha vontade. Me sinto em dívida com você, Bruno. Meu medo é te
ferir com minha teimosia taurina... por isso que talvez não seja
seguro voltar pra mim, entende?
-Você sabe que entendo sua
natureza, sou como você... mas eu entendo suas razões.
CORTA A CENA.
CENA 5: Márcio liga para
Suzanne.
-Que milagre é esse, Márcio?
-Não posso te ligar, Suzanne?
-Achei que você não quisesse
mais me ver, afinal de contas se mudou pro cafofo que a minha mãe
arranjou...
-Você devia pelo menos
agradecer que eu mantive em dia suas contas no hotel.
-Se é por falta de
agradecimento, muito obrigada. Mas se você puder ser mais objetivo,
eu agradeceria. Sou uma mulher ocupada e você sabe disso.
-Ocupada com suas tramóias,
você quer dizer.
-Que seja, Márcio.
-Suzanne, eu acho que você tá
perdendo uma excelente oportunidade com essa volta ao Brasil depois
de tanto tempo fora.
-Oportunidade do que, posso
saber?
-De fazer um daqueles festões
que você tanto adora fazer.
-Essa é uma ótima ideia! E
você só tem a ganhar com isso... agora eu tou vendo que você não
mudou mesmo... essa pose de bonzinho tava levando tempo demais,
mesmo. Evidente! Você pode agora ir nessa festa e fazendo parte da
família Bittencourt, de alguma forma.
-Eu sou pai do Marcelo e isso
é tudo. E do Cláudio também, não sei se você sabe, mas é ele o
nosso filho.
-Você devia ficar calado em
relação a isso. Mas tudo bem... eu vou planejar essa festa. Leve
quem você quiser. Só nem sonhe em dizer ao bastardinho que eu que
coloquei ele no mundo. Não nasci pra ser mãe de ninguém e você
sabe disso. Agora você me dá licença que preciso desligar. Tchau.
Suzanne desliga e Márcio
sorri, satisfeito. CORTA A CENA.
CENA 6: Marcelo vai à casa de
Cláudio e Bruno o recebe.
-Que bom te ver aqui, Bruno!
Tá morando de novo na casa do Cláudio?
-Não é que tou? As coisas
mudam tão rápido que no final das contas às vezes a gente volta à
estaca zero. Mas isso pode ser bom.
-Espero que ele acorde logo
pro óbvio, tá mais que na cara que vocês devem ficar juntos, mas
deixa isso pra lá... ele tá no teatro?
-Nada! Desde que toda aquela
coisa horrorosa começou, ele não tem ido. Tá aqui em casa, deve
estar saindo do banho agora. Entra, Marcelo... vou chamar ele.
Em poucos instantes, Cláudio
recebe o irmão.
-Mano! Que surpresa te ver
aqui! E que milagre é esse do Rafa não estar aqui?
-Ele é meu marido, seu
bobo... não é minha sombra. Ficou em casa ajudando o Vicente num
roteiro que o Vicente quer desenvolver.
-Ah, esses artistas... um dia
eles vão acabar se tornando independentes...
-Ui, que profético! Mas
então, Cláudio... o que me trouxe aqui é um assunto um pouquinho
mais sério... é sobre Suzanne.
-Ah, aquela falsiane que me
pariu? Que tem ela?
-Você tava ciente de que ela
tava passando uma temporada lá por Paris, não tava?
-Sim, fiquei sabendo disso...
-Pois é, viado... ela tá de
volta ao Brasil.
-Quer dizer que eu vou acabar
me deparando com essa infeliz em algum momento, então...
-Exatamente. E eu vim aqui
justamente por isso. Pra te fazer um pedido.
-Olha, dependendo do pedido
que for, talvez eu não consiga acatar.
-Pelo menos me escuta,
Cláudio... é importante pra nós... e pra minha mãe,
principalmente.
-Se é importante pra dona
Riva, então também é importante pra mim. Diga do que se trata.
-Eu preciso que você pelo
menos tente manter o sangue frio, por mais difícil que isso possa
parecer.
-Tá... o sangue frio eu posso
manter, mas... onde sua mãe entra nisso?
-Não é segredo pra nós que
a Suzanne tem uma cisma com a minha mãe e quer arrancar o dinheiro e
sabe-se lá mais o que dela. Nós estamos sabendo disso, mas a
Suzanne não suspeita que nós estamos cientes disso, entende?
-Acho que tou começando a
entender... isso significa que ela não faz ideia de que eu já sei
que ela é minha mãe.
-Talvez nem ela faça ideia
disso. Tudo o que eu sei é que nosso pai está lutando para se
manter afastado dela, só que não sei até que ponto ele ainda
mantém contato com ela... pelo bem das investigações que foram
abertas a partir do momento que ele fez a denúncia contra ela.
-Saquei. Ela tá com a corda
no pescoço e não faz a mínima ideia disso.
-Exatamente, Cláudio.
-Mas o que vocês esperam que
eu faça, diante disso, afinal?
-Sei que pode parecer difícil
pra você, mas peço que você compreenda que esse vai ser um esforço
necessário. Depois, você é ator. Vai saber como disfarçar, fingir
que não sabe de nada.
-Mas ela vai continuar
frequentando a sua casa, Marcelo?
-Até segunda ordem e enquanto
a primeira parte do nosso plano não se consumar, é a única saída.
Qualquer passo em falso que a gente der pode deixar ela desconfiada e
não queremos uma psicopata desconfiada, entende?
-Tá certo. Confesso que
imaginar que a mulher que me botou nesse mundo é uma psicopata é um
pensamento um tanto quanto aterrador...
-Eu sei, mano... mas
infelizmente é assim que as coisas foram. É bom que você não se
esqueça, que apesar de todos os erros que cometeu, nosso pai talvez
seja a maior vítima das manipulações dessa falsiane...
-Você tá certo, Marcelo. Eu
gosto do Márcio de graça. Até me acho parecido com ele, acredita?
-Verdade. Nós somos parecidos
com ele, no final das contas.
-Tava tão na nossa cara a
vida inteira que a gente só podia ser irmão e a gente levou esses
anos todos pra confirmar...
-E só foi confirmado porque
eu desconfiei, diga-se de passagem.
-Ui, falou o escorpiano que
acha que tem alma de detetive. Viado, “seje menas”, querida...
-Bobo!
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 7: Laura chama Haroldo e
Mateus para uma conversa.
-Bem, vocês devem estar se
perguntando porque eu chamei vocês dois pra ter essa conversa aqui
comigo. Eu não hesito em responder: eu tou de saco cheio desse
chove-não-molha entre vocês. Desde semana passada tá esse climão
entre vocês e eu sei exatamente o motivo. Então, se o Haroldo não
tem coragem de dizer, digo eu pra você, Mateus... na frente dos
dois: ele tá te querendo, te desejando. - fala Laura.
Mateus se assusta.
-Laura, minha amiga... eu juro
que não provoquei isso, nem foi de propósito... você sabe que eu
tenho muita consideração por você e não te trairia. -
justifica-se Mateus.
-Amor... não precisava dessa
conversa entre nós três... - fala Haroldo, desconfortável.
-Como que não precisava?
Vocês dois estão sofrendo por causa disso e me corta o coração
ver duas pessoas que eu amo sofrendo assim, por se sentirem presas às
convenções sociais. Eu andei pensando muito numa solução pra esse
caso... cheguei à conclusão que vocês tem todo o direito do mundo
de ficarem também... de se desejarem, de explorarem seus corpos e
suas almas. - afirma Laura.
Mateus fica perplexo e sem
palavras, enquanto Haroldo se espanta.
-Mas você disse que não
queria que a gente terminasse, Laura. Não estou entendendo mais
nada.
-E eu falei em terminar alguma
coisa aqui? Acho que não. Eu realmente pensei muito a respeito. Eu
amo vocês... e vocês parecem estar começando a se amar... e eu sei
que o Haroldo não me ama menos por causa disso. Foi então que me
veio a luz, a epifania para essa situação: a gente pode tentar um
relacionamento a três! O que eu não posso deixar acontecer é ver
vocês sofrendo por causa desse desejo reprimido, não é justo.
-Você tá falando sério,
Laura? Nunca esperei isso vindo de você... - fala Mateus, perplexo.
-No fundo eu nunca deixei de
te amar também, Mateus. Se vocês toparem essa nova jornada nas
nossas vidas, isso tem a ver exclusivamente com nós. E vai ser mais
saudável assim... lealdade acima de tudo. - afirma Laura.
-Se o Mateus não se opuser...
eu acho que pode ser uma boa solução... - fala Haroldo.
-E o que vocês estão
esperando pra se beijarem? Vou ter que fazer a adolescente que grita
“beija, beija, beija” pra que vocês façam o que sentem vontade?
- estimula Laura.
Mateus e Haroldo se beijam.
CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Cláudio prepara o jantar.
-Já disse que eu ia preparar
o jantar, Cláudio.
-Pode parar com isso, Bruno.
Você mal voltou a morar aqui e pensa que eu ia te dar esse trabalho
todo?
-Mas não é trabalho, bobo.
Eu gosto de cozinhar e você sabe muito bem disso.
-Então estamos quites, porque
eu também adoro e a cozinha sempre foi minha melhor terapia.
-Ok... não tem nem como
discutir com você.
-Sabe o que eu andei pensando,
Bruno? Você mal fala dos seus pais...
-Ah, a dona Vânia e seu
Setembrino... eu amo muito aqueles velhos. Daria minha vida por eles,
mas... por enquanto não tenho a mínima condições de trazer eles
de lá de Coroados pra cá.
-E por que não tenta?
-Não envolve só a questão
do dinheiro, Cláudio. Envolve tudo o que eu nunca tive coragem de
dizer.
-Tem a ver com você ser
bissexual?
-Exatamente. Eles nunca nem
sonharam com essa possibilidade. Lá em Coroados eu só tinha
namoradas. Não que eu não as desejasse, você sabe... mas eu
reprimia completamente o desejo que também sinto por homens.
-E você parece ter medo...
-E tenho mesmo. Não é que
eles sejam religiosos fanáticos, mas você sabe como é... cidade do
interior, todo mundo conhece todo mundo. Eles sempre ficaram bastante
preocupados com o que o pessoal poderia pensar ou falar deles. Sabe
aquelas pessoas que vivem da imagem que criam pros outros? Eles são
assim... mas eu sei que não fazem por mal, apenas fazem o que todo
mundo faz naquela cidade.
-Mas eles não são todo
mundo. Olha, Bruno... eu sei que é até clichê dizer isso, mas
quantas vezes sua mãe não deve ter te dito isso quando te proibiu
de ir numa baladinha?
-Ih, Cláudio... várias
vezes. Perdi a conta.
-Quem sabe não seja o momento
de você ser sincero com eles...
-Não sei se valeria a pena,
Cláudio. Acho que eu só teria peito e coragem de falar que sou
bissexual se eu estivesse com alguém, não importa se fosse homem ou
mulher. Eu, falando sozinho, dá a impressão de que estou falando
pra chocar... e tenho medo de passar isso a eles.
-Você percebe que de certa
forma ainda não se desapegou daquela cultura interiorana de
Coroados?
-De certa forma sim, vivi toda
minha vida lá, antes de vir pro Rio...
-Mas você precisa aprender a
se desfazer disso. Eu sei que o maior amor do mundo é o amor que a
gente sente pelos pais. Até hoje amo com todo meu coração meus
pais adotivos, que infelizmente não estão mais aqui... e confesso
que tou aprendendo a amar meu pai biológico. Você precisa se impor,
em algum momento.
-Eu sei disso, Cláudio. Só
não sei quando.
-Precisa ser logo. A gente não
pode viver sempre achando que tem todo o tempo do mundo...
Cláudio ampara Bruno. CORTA A
CENA.
CENA 9: Laura conversa com
Mateus.
-Não sei pra que você tá
assim, Mateus...
-Sinto como se estivesse te
traindo mais uma vez, Laura. Isso não é justo.
-Você não percebe que as
coisas mudaram completamente agora? Não somos mais apenas amigos.
Você voltou a fazer parte do meu coração, de certa forma.
-Ainda acho isso muito doido.
Nunca imaginei que nossa relação teria essa natureza um dia.
-Mas a vida está nos levando
a isso. Não entendo esse sentimento de culpa todo.
-Não é culpa, Laura... é
medo. Medo de acabar causando algum estremecimento entre você e o
Haroldo.
-E por que isso aconteceria?
Nós três nos amamos, não?
-Sim... mas são em
intensidades diferentes, sabe? Eu nunca deixei de te amar.
-Nem eu deixei de te amar.
-Mas você percebe que ainda
assim o amor entre você e o Haroldo é mais forte? O meu medo é
diminuir a intensidade do que existe de lindo entre vocês.
-Besteira. O amor é livre. O
que aprisiona são as convenções, meu querido... liberte-se delas!
Vocês tem o direito de viver o que sentem um pelo outro. E olha a
vantagem disso! Agora eu e você podemos também ficar juntos de
novo, sem trair ninguém. Só tem vantagens, Mateus... você que não
tá vendo.
-O Haroldo tem razão,
Laura... você é mesmo uma força da natureza.
Laura e Mateus se beijam.
CORTA A CENA.
CENA 10: Riva, Marion,
Valquíria, Ivan, Vicente, Marcelo, Rafael e Mariana estão
terminando o jantar e conversam entre si, quando a campainha toca.
-Ai, meu Deus do céu. Quase
dez horas da noite e tem gente vindo aqui? Sem nem a decência de
ligar? - protesta Marion.
-Eu acho que eu sei quem é,
Marion... - fala Riva.
-Só uma pessoa teria a cara
de pau de chegar sem avisar e ainda se sentir a pessoa mais querida
do mundo... - fala Marcelo.
-Você tá pensando o que tou
pensando, amor? - fala Rafael.
-Eu abro, gente... - fala
Riva.
Riva abre a porta e se depara
com Suzanne.
-Suzanne, que surpresa! Nem
ligou avisando que vinha!
-Agora eu voltei mesmo pro
Brasil! - fala Suzanne.
FIM DO CAPÍTULO 103.
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