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sábado, 17 de setembro de 2016

CAPÍTULO 108

CENA 1: Rafael se impacienta e tenta impedir que Suzanne entre.
-Fora daqui, sua golpista, psicopata, mentirosa, ladra! - grita Rafael.
Riva percebe se tratar de Suzanne e intervém.
-Deixa ela entrar, Rafael... tou no mínimo curiosa pra ouvir o que essa falsiane tem a dizer. - determina Riva.
-Eu não sou obrigada a ficar aqui... - fala Valquíria, virando as costas e subindo.
-Muito menos eu... - fala Marion, subindo junto.
Mariana, Rafael, Marcelo e Ivan sobem por último.
-É, Suzanne... parece que o destino conspira pra nos deixar a sós. Mas fica tranquila que não vou te dar outra surra, viu? Não vale a pena contaminar minhas mãos com uma ratazana de esgoto. Diga o que você quer.
-Riva, eu preciso explicar tudo o que aconteceu, você precisa me ouvir e acreditar em mim!
-Sou toda ouvidos, “querida”. Vá em frente.
-Isso tudo é um grande mal entendido, uma conspiração da minha mãe e do Márcio!
-Ah, quer dizer que agora a dona Raquel é sua mãe de novo?
-Riva, é sério... eu escondia ela porque a psicopata, a doente da história, é ela. E o Márcio é manipulado por ela. Eu não tenho nada a ver com o roubo da sua gargantilha, eu só soube que era sua na festa. Mas você me deu a surra e eu não tive tempo de explicar nada.
-Verdade, Suzanne? Conte mais...
-Eu sei que você não tá acreditando. Você tem esse direito. Mas peço que não me condene por antecipação.
-Continue, Suzanne... sem drama, de preferência.
-O Márcio é que é o bandido. Ele e minha mãe estão juntos e ela é perigosa! Conseguiu se tornar agente da polícia, mas é uma bandida infiltrada!
-Eu tenho nojo de você, Suzanne. Como é que você tem capacidade de falar tantas mentiras e ainda envolver a sua mãe nessas mentiras? O Márcio foi a maior de suas vítimas. E o Cláudio, seu filho que você abandonou, é a prova definitiva e viva disso. Você não tem coração. Nunca teve. Se você tiver um pingo de decência, o que eu duvido que tenha, junte os cacos do que sobrou da sua dignidade, se é que um dia houve alguma dignidade aí dentro, pra ir pra bem longe dessa casa, bem longe de nós. Fora daqui, Suzanne. Isso não é um pedido, é uma ordem!
-Eu preciso que você acredite em mim, Riva! Eu não estou mentindo.
-Você é a maior de todas as mentiras, Suzanne. Rua! Será que eu vou ter que te tirar da minha casa à força?
-Tudo bem... eu vou embora. Mas um dia você vai acreditar em mim.
-Nunca!
Suzanne vai embora e Riva bate a porta, enfurecida. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, Cláudio resolve ir acompanhado de Bruno à casa de Laura.
-Oi, Laura... espero não ter acordado vocês. - fala Cláudio.
-Acordou não... a gente é acostumado a levantar cedo mesmo no sábado... mas imagino o motivo que te trouxe aqui. - fala Laura.
Bruno e Cláudio entram.
-Oi Haroldo, oi Mateus... - fala Bruno.
-Bem... eu acho que eu devo um pedido de desculpas a todos vocês... - fala Cláudio.
-Eu realmente acho que deve. - afirma Laura.
-Eu reconheço que fui injusto. Primeiramente com o Haroldo, depois com a Laura e depois com você, Mateus. Eu vim aqui pra deixar claro que desde que soube que vocês três estão juntos eu achei lindo, algo muito bom mesmo... só que quando o Haroldo foi lá em casa, eu apontei o dedo pra ele. Julguei sem necessidade. Acabei sendo injusto com a Laura também... me desculpa, minha amiga... minha melhor amiga. Eu não tinha o direito de chamar o Haroldo de hipócrita, sendo que eu também sou um. E quem me abriu os olhos pra isso foi o meu irmão... - fala Cláudio.
-Acho bonito quando você enche a boca pra dizer que o Marcelo é seu irmão, Cláudio... mas enfim... claro que eu te desculpo! Confesso que quando o Haroldo me contou tudo eu fiquei bem puta, mas... - fala Laura.
-Qual ariana não fica putinha por pouco? Esquentada desde que te conheço! - brinca Cláudio.
-Eu nem tenho o que desculpar, Cláudio... o que a gente conversou antes já foi o suficiente. Só espero que você siga amadurecendo e entendendo que as pessoas tem suas próprias razões e que não cabe a você julgar... - fala Haroldo.
-E você, Mateus? - pergunta Cláudio.
-Digo o mesmo que o Haroldo disse. Agora vamos mudar de assunto, por favor? - fala Mateus.
Os cinco conversam animadamente. CORTA A CENA.

CENA 3: Valquíria conversa em seu quarto com Marion.
-Sabe, filha... todas essas coisas que aconteceram me deram uma saudade danada da sua irmã...
-Imagino, mãe. Já se passaram vinte e cinco anos e eu ainda sinto saudade da Marinete. Uma pena que ela tenha partido tão jovem...
-Trinta e seis anos... um pecado! Uma vida inteira pela frente... estaria prestes a completar sessenta e um agora. Minha primeira filha, com ela eu aprendi a ser mãe quando era só uma garotinha de catorze anos...
-Eu lembro de tudo, mãe. As pessoas sempre perguntavam se vocês eram irmãs...
-A vida foi mais cruel com ela do que comigo, Marion. Eu tive uma segunda chance, ainda que depois dos setenta... ela não teve essa chance. Esperou anos pra se envolver com homens, com medo de gravidez na adolescência... quando conheceu o Frederico, já passava dos vinte e três. Você lembra do Frederico?
-Vagamente. O rosto eu sinceramente não lembro, mas sei o tanto que ele fez a Marinete sofrer.
-Um enganador. Vinha na nossa casa e se dizia apaixonado pela Marinete... quando ela engravidou da Riva, ele contou a verdade: era casado e não pretendia se separar. A Marinete só sobreviveu a isso porque já amava aquela criança na barriga dela. E foi pela Riva que ela viveu... mas nunca se recuperou de ter sido abandonada pelo único homem que amou...
Valquíria chora e Marion a afaga. CORTA A CENA.

CENA 4: Raquel vai ao teatro e pede para conversar a sós com Valentim no camarim.
-Espero não estar atrapalhando suas poucas horas de descanso no sábado.
-Nada disso, Raquel. Somos investigadores... qualquer hora pode ser hora de trabalhar.
-Eu queria falar com você sobre minhas suspeitas em relação à cisma que a Suzanne tem com a Riva desde garota.
-É um bom ponto, Raquel. Essa coisa toda é muito estranha. Foge ao padrão do perfil de psicopata da Suzanne, que pula de galho em galho à espera do novo alvo de seus golpes.
-Por isso mesmo que tudo isso me intriga, Valentim. Você não acha no mínimo esquisito tudo isso? Mais de vinte anos tentando atingir a mesma pessoa, de qualquer maneira, deliberadamente por maldade... não combina com o que sabemos sobre ela. Ela faz o mal desejando o próprio benefício e eu não vejo razão para ela se beneficiar da Riva quando ela era pobre, por exemplo.
-Suspeito que tenha relação com algo ainda mais longínquo no passado delas...
-Mas como, Valentim? A Riva só veio de Barra de São João em noventa e cinco.
-Vocês costumavam ir nessa cidade?
-Quase nunca. Quem ia mais era meu falecido marido, pai da Suzanne. Mas também não ia com muita frequência, pois ia a outras cidades também, sempre a trabalho.
-Talvez a gente devesse investigar por aí...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Laura conversa animadamente com Haroldo e Mateus.
-Sabe, amores... eu ando pensando que a gente podia dar um jeito de encontrar meios para combater os estigmas que giram em torno do tema poligamia. - fala Laura.
-Acho uma excelente ideia, Laura... mas como a gente pode fazer isso? - fala Mateus.
-Meios de comunicação nos dias de hoje é algo que não falta. Mas fico pensando como que a gente abordaria a temática de uma maneira que fosse esclarecedora, didática sem ser cansativa... - sugere Haroldo.
-Esse vai ser o desafio. Quem sabe a gente abre um blog para publicar relatos? - fala Laura.
-Mas relato de onde? Nós somos o único relacionamento poliamoroso que conhecemos... - fala Mateus.
-Verdade, Laura... de onde a gente vai cavar esses relatos? Inventar que a gente não vai... - fala Haroldo.
-Não, nem eu disse isso. Mas um bom começo seria cada um de nós falando sobre nossas visões um sobre o outro, depois cada um falando como tem sido esse processo de adaptação a uma relação poligâmica, sabe? Acho no mínimo interessante a gente pensar nisso, levar em consideração. Pode ser que a gente acabe encorajando mais gente ao amor livre, sem amarras do ciúme e da possessividade... - fala Laura.
-Esse é um bom ponto... - concorda Mateus.
Os três seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 6: Bruno conversa com Cláudio.
-Andei pensando em ir ver meus pais em Coroados, amor. O que você acha?
-É uma ótima ideia. Você deve estar morrendo de saudade dos seus pais e eles mais ainda.
-Eu quero que você vá comigo, Cláudio.
-Vou dar meu jeito de conseguir. Pra quando?
-Semana que vem, se não for te atrapalhar muito.
-Atrapalha não... já perdi esse semestre da faculdade de qualquer jeito e o dinheiro que eu ainda tenho do seguro desemprego mais o dinheiro do teatro, somado à quantia que ficou comigo que pertencia ao Guilherme... acho que não há impedimento nenhum pra que a gente vá semana que vem a Coroados.
-É... você finalmente vai conhecer dona Vânia e seu Setembrino.
-Você vai me apresentar como, Bruno? Sei que eles ainda não sabem...
-Quero te apresentar como namorado, só não sei se vou conseguir fazer isso assim, logo de cara, assim que a gente pintar por lá.
-Não é o que eu queria, mas eu entendo. Quer dizer... entender eu não entendo porque nunca estive no armário e meus parâmetros familiares são um tanto diferentes, mas enfim...
-Eu vou dar uma pesquisada nos valores das passagens de ônibus.
-Cê tá bem doido que a gente vai gastar com passagem, né? Eu tenho um carro agora. Tá certo que eu ainda tenho que me livrar dele e comprar outro pra me livrar da urucubaca do Guilherme de uma vez por todas, mas... no momento tá valendo mais a pena fazer uma revisão geral no carango e meter o pé na estrada.
-Vai ser melhor assim. Tou morrendo de saudade dos meus velhos. Como eu amo aqueles dois! Tou com medo é de decepcionar eles por não ter conseguido nem um quinto do que eu vim buscar aqui no Rio...
-Não é hora pra pensar nisso, amor... procura relaxar...
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, Haroldo pede para conversar com Mateus e Laura.
-Desculpa chamar pra conversar sobre isso, mas... desculpem, amores... só que eu tou realmente preocupado e aflito com umas coisas que andam passando pela minha cabeça. - fala Haroldo.
-Fala o que te aflige, amor... - fala Mateus.
-Tou ficando preocupada já com essa sua cara. - fala Laura.
-Sei que pode parecer bobeira minha, mas diante de todo o retrocesso que a gente quase viveu definitivamente aqui no país, eu fico com medo que essas pessoas da ala mais conservadora ainda se considerem fortes, sabe? Principalmente os fanáticos religiosos... eles podem cair de pau em cima da gente, se a gente levar adiante a ideia de falar abertamente sobre o poliamor... - desabafa Haroldo.
-É um medo justificável e legítimo, querido... mas não vejo razão pra tanto. Apesar dos grandes tropeços recentes, já está ficando claro para uma maioria considerável da sociedade que o conservadorismo só representa retrocessos e que isso atinge a todos, até os “isentões”. - fala Laura.
-Concordo contigo, Laura... mas se eu disser que não sinto uma pontinha desse medo que o Haroldo tá sentindo, vou estar mentindo. Ainda mais eu, que estou ficando mais famoso, não só pelo trabalho na TV, mas também pelo caso todo de ter desmascarado o Guilherme e a facção... - fala Mateus
-Por esse lado, realmente... pode ser problemático. Muita agressividade e crueldade pode partir daquelas pessoas que gostam de julgar todo mundo sem nem conhecer suas histórias... - fala Laura.
Os três seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 8: Suzanne está no shopping, experimentando roupas, vestidos e sapatos que deseja comprar. Vai ao provador e se admira no espelho.
-Mas tu é gostosa mesmo, hein mulher? Impressionante como o tempo só te valoriza, felpuda!
Suzanne segue a se admirar no espelho e experimenta as outras roupas que separou.
-Parece que tudo isso aqui foi feito pra mim. Cada roupa que experimento eu fico mais gata!
Suzanne separa as roupas e sapatos que vai levar e se dirige à fila.
-Ai, que absurdo! Uma mulher rica como eu enfrentando fila de shopping!
Chega a vez de Suzanne ser atendida e a atendente passa as compras.
-Sete mil e oitocentos reais com vinte e nove centavos. - fala a atendente.
Suzanne passa o cartão e descobre que ele está bloqueado.
-Seu cartão está bloqueado, senhora. - diz a atendente. FIM DO CAPÍTULO 108.

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