CENA 1: Rafael se impacienta e
tenta impedir que Suzanne entre.
-Fora daqui, sua golpista,
psicopata, mentirosa, ladra! - grita Rafael.
Riva percebe se tratar de
Suzanne e intervém.
-Deixa ela entrar, Rafael...
tou no mínimo curiosa pra ouvir o que essa falsiane tem a dizer. -
determina Riva.
-Eu não sou obrigada a ficar
aqui... - fala Valquíria, virando as costas e subindo.
-Muito menos eu... - fala
Marion, subindo junto.
Mariana, Rafael, Marcelo e
Ivan sobem por último.
-É, Suzanne... parece que o
destino conspira pra nos deixar a sós. Mas fica tranquila que não
vou te dar outra surra, viu? Não vale a pena contaminar minhas mãos
com uma ratazana de esgoto. Diga o que você quer.
-Riva, eu preciso explicar
tudo o que aconteceu, você precisa me ouvir e acreditar em mim!
-Sou toda ouvidos, “querida”.
Vá em frente.
-Isso tudo é um grande mal
entendido, uma conspiração da minha mãe e do Márcio!
-Ah, quer dizer que agora a
dona Raquel é sua mãe de novo?
-Riva, é sério... eu
escondia ela porque a psicopata, a doente da história, é ela. E o
Márcio é manipulado por ela. Eu não tenho nada a ver com o roubo
da sua gargantilha, eu só soube que era sua na festa. Mas você me
deu a surra e eu não tive tempo de explicar nada.
-Verdade, Suzanne? Conte
mais...
-Eu sei que você não tá
acreditando. Você tem esse direito. Mas peço que não me condene
por antecipação.
-Continue, Suzanne... sem
drama, de preferência.
-O Márcio é que é o
bandido. Ele e minha mãe estão juntos e ela é perigosa! Conseguiu
se tornar agente da polícia, mas é uma bandida infiltrada!
-Eu tenho nojo de você,
Suzanne. Como é que você tem capacidade de falar tantas mentiras e
ainda envolver a sua mãe nessas mentiras? O Márcio foi a maior de
suas vítimas. E o Cláudio, seu filho que você abandonou, é a
prova definitiva e viva disso. Você não tem coração. Nunca teve.
Se você tiver um pingo de decência, o que eu duvido que tenha,
junte os cacos do que sobrou da sua dignidade, se é que um dia houve
alguma dignidade aí dentro, pra ir pra bem longe dessa casa, bem
longe de nós. Fora daqui, Suzanne. Isso não é um pedido, é uma
ordem!
-Eu preciso que você acredite
em mim, Riva! Eu não estou mentindo.
-Você é a maior de todas as
mentiras, Suzanne. Rua! Será que eu vou ter que te tirar da minha
casa à força?
-Tudo bem... eu vou embora.
Mas um dia você vai acreditar em mim.
-Nunca!
Suzanne vai embora e Riva bate
a porta, enfurecida. CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio resolve ir acompanhado de Bruno à casa de Laura.
-Oi, Laura... espero não ter
acordado vocês. - fala Cláudio.
-Acordou não... a gente é
acostumado a levantar cedo mesmo no sábado... mas imagino o motivo
que te trouxe aqui. - fala Laura.
Bruno e Cláudio entram.
-Oi Haroldo, oi Mateus... -
fala Bruno.
-Bem... eu acho que eu devo um
pedido de desculpas a todos vocês... - fala Cláudio.
-Eu realmente acho que deve. -
afirma Laura.
-Eu reconheço que fui
injusto. Primeiramente com o Haroldo, depois com a Laura e depois com
você, Mateus. Eu vim aqui pra deixar claro que desde que soube que
vocês três estão juntos eu achei lindo, algo muito bom mesmo... só
que quando o Haroldo foi lá em casa, eu apontei o dedo pra ele.
Julguei sem necessidade. Acabei sendo injusto com a Laura também...
me desculpa, minha amiga... minha melhor amiga. Eu não tinha o
direito de chamar o Haroldo de hipócrita, sendo que eu também sou
um. E quem me abriu os olhos pra isso foi o meu irmão... - fala
Cláudio.
-Acho bonito quando você
enche a boca pra dizer que o Marcelo é seu irmão, Cláudio... mas
enfim... claro que eu te desculpo! Confesso que quando o Haroldo me
contou tudo eu fiquei bem puta, mas... - fala Laura.
-Qual ariana não fica putinha
por pouco? Esquentada desde que te conheço! - brinca Cláudio.
-Eu nem tenho o que desculpar,
Cláudio... o que a gente conversou antes já foi o suficiente. Só
espero que você siga amadurecendo e entendendo que as pessoas tem
suas próprias razões e que não cabe a você julgar... - fala
Haroldo.
-E você, Mateus? - pergunta
Cláudio.
-Digo o mesmo que o Haroldo
disse. Agora vamos mudar de assunto, por favor? - fala Mateus.
Os cinco conversam
animadamente. CORTA A CENA.
CENA 3: Valquíria conversa em
seu quarto com Marion.
-Sabe, filha... todas essas
coisas que aconteceram me deram uma saudade danada da sua irmã...
-Imagino, mãe. Já se
passaram vinte e cinco anos e eu ainda sinto saudade da Marinete. Uma
pena que ela tenha partido tão jovem...
-Trinta e seis anos... um
pecado! Uma vida inteira pela frente... estaria prestes a completar
sessenta e um agora. Minha primeira filha, com ela eu aprendi a ser
mãe quando era só uma garotinha de catorze anos...
-Eu lembro de tudo, mãe. As
pessoas sempre perguntavam se vocês eram irmãs...
-A vida foi mais cruel com ela
do que comigo, Marion. Eu tive uma segunda chance, ainda que depois
dos setenta... ela não teve essa chance. Esperou anos pra se
envolver com homens, com medo de gravidez na adolescência... quando
conheceu o Frederico, já passava dos vinte e três. Você lembra do
Frederico?
-Vagamente. O rosto eu
sinceramente não lembro, mas sei o tanto que ele fez a Marinete
sofrer.
-Um enganador. Vinha na nossa
casa e se dizia apaixonado pela Marinete... quando ela engravidou da
Riva, ele contou a verdade: era casado e não pretendia se separar. A
Marinete só sobreviveu a isso porque já amava aquela criança na
barriga dela. E foi pela Riva que ela viveu... mas nunca se recuperou
de ter sido abandonada pelo único homem que amou...
Valquíria chora e Marion a
afaga. CORTA A CENA.
CENA 4: Raquel vai ao teatro e
pede para conversar a sós com Valentim no camarim.
-Espero não estar
atrapalhando suas poucas horas de descanso no sábado.
-Nada disso, Raquel. Somos
investigadores... qualquer hora pode ser hora de trabalhar.
-Eu queria falar com você
sobre minhas suspeitas em relação à cisma que a Suzanne tem com a
Riva desde garota.
-É um bom ponto, Raquel. Essa
coisa toda é muito estranha. Foge ao padrão do perfil de psicopata
da Suzanne, que pula de galho em galho à espera do novo alvo de seus
golpes.
-Por isso mesmo que tudo isso
me intriga, Valentim. Você não acha no mínimo esquisito tudo isso?
Mais de vinte anos tentando atingir a mesma pessoa, de qualquer
maneira, deliberadamente por maldade... não combina com o que
sabemos sobre ela. Ela faz o mal desejando o próprio benefício e eu
não vejo razão para ela se beneficiar da Riva quando ela era pobre,
por exemplo.
-Suspeito que tenha relação
com algo ainda mais longínquo no passado delas...
-Mas como, Valentim? A Riva só
veio de Barra de São João em noventa e cinco.
-Vocês costumavam ir nessa
cidade?
-Quase nunca. Quem ia mais era
meu falecido marido, pai da Suzanne. Mas também não ia com muita
frequência, pois ia a outras cidades também, sempre a trabalho.
-Talvez a gente devesse
investigar por aí...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 5: Laura conversa
animadamente com Haroldo e Mateus.
-Sabe, amores... eu ando
pensando que a gente podia dar um jeito de encontrar meios para
combater os estigmas que giram em torno do tema poligamia. - fala
Laura.
-Acho uma excelente ideia,
Laura... mas como a gente pode fazer isso? - fala Mateus.
-Meios de comunicação nos
dias de hoje é algo que não falta. Mas fico pensando como que a
gente abordaria a temática de uma maneira que fosse esclarecedora,
didática sem ser cansativa... - sugere Haroldo.
-Esse vai ser o desafio. Quem
sabe a gente abre um blog para publicar relatos? - fala Laura.
-Mas relato de onde? Nós
somos o único relacionamento poliamoroso que conhecemos... - fala
Mateus.
-Verdade, Laura... de onde a
gente vai cavar esses relatos? Inventar que a gente não vai... -
fala Haroldo.
-Não, nem eu disse isso. Mas
um bom começo seria cada um de nós falando sobre nossas visões um
sobre o outro, depois cada um falando como tem sido esse processo de
adaptação a uma relação poligâmica, sabe? Acho no mínimo
interessante a gente pensar nisso, levar em consideração. Pode ser
que a gente acabe encorajando mais gente ao amor livre, sem amarras
do ciúme e da possessividade... - fala Laura.
-Esse é um bom ponto... -
concorda Mateus.
Os três seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 6: Bruno conversa com
Cláudio.
-Andei pensando em ir ver meus
pais em Coroados, amor. O que você acha?
-É uma ótima ideia. Você
deve estar morrendo de saudade dos seus pais e eles mais ainda.
-Eu quero que você vá
comigo, Cláudio.
-Vou dar meu jeito de
conseguir. Pra quando?
-Semana que vem, se não for
te atrapalhar muito.
-Atrapalha não... já perdi
esse semestre da faculdade de qualquer jeito e o dinheiro que eu
ainda tenho do seguro desemprego mais o dinheiro do teatro, somado à
quantia que ficou comigo que pertencia ao Guilherme... acho que não
há impedimento nenhum pra que a gente vá semana que vem a Coroados.
-É... você finalmente vai
conhecer dona Vânia e seu Setembrino.
-Você vai me apresentar como,
Bruno? Sei que eles ainda não sabem...
-Quero te apresentar como
namorado, só não sei se vou conseguir fazer isso assim, logo de
cara, assim que a gente pintar por lá.
-Não é o que eu queria, mas
eu entendo. Quer dizer... entender eu não entendo porque nunca
estive no armário e meus parâmetros familiares são um tanto
diferentes, mas enfim...
-Eu vou dar uma pesquisada nos
valores das passagens de ônibus.
-Cê tá bem doido que a gente
vai gastar com passagem, né? Eu tenho um carro agora. Tá certo que
eu ainda tenho que me livrar dele e comprar outro pra me livrar da
urucubaca do Guilherme de uma vez por todas, mas... no momento tá
valendo mais a pena fazer uma revisão geral no carango e meter o pé
na estrada.
-Vai ser melhor assim. Tou
morrendo de saudade dos meus velhos. Como eu amo aqueles dois! Tou
com medo é de decepcionar eles por não ter conseguido nem um quinto
do que eu vim buscar aqui no Rio...
-Não é hora pra pensar
nisso, amor... procura relaxar...
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Haroldo
pede para conversar com Mateus e Laura.
-Desculpa chamar pra conversar
sobre isso, mas... desculpem, amores... só que eu tou realmente
preocupado e aflito com umas coisas que andam passando pela minha
cabeça. - fala Haroldo.
-Fala o que te aflige, amor...
- fala Mateus.
-Tou ficando preocupada já
com essa sua cara. - fala Laura.
-Sei que pode parecer bobeira
minha, mas diante de todo o retrocesso que a gente quase viveu
definitivamente aqui no país, eu fico com medo que essas pessoas da
ala mais conservadora ainda se considerem fortes, sabe?
Principalmente os fanáticos religiosos... eles podem cair de pau em
cima da gente, se a gente levar adiante a ideia de falar abertamente
sobre o poliamor... - desabafa Haroldo.
-É um medo justificável e
legítimo, querido... mas não vejo razão pra tanto. Apesar dos
grandes tropeços recentes, já está ficando claro para uma maioria
considerável da sociedade que o conservadorismo só representa
retrocessos e que isso atinge a todos, até os “isentões”. -
fala Laura.
-Concordo contigo, Laura...
mas se eu disser que não sinto uma pontinha desse medo que o Haroldo
tá sentindo, vou estar mentindo. Ainda mais eu, que estou ficando
mais famoso, não só pelo trabalho na TV, mas também pelo caso todo
de ter desmascarado o Guilherme e a facção... - fala Mateus
-Por esse lado, realmente...
pode ser problemático. Muita agressividade e crueldade pode partir
daquelas pessoas que gostam de julgar todo mundo sem nem conhecer
suas histórias... - fala Laura.
Os três seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 8: Suzanne está no
shopping, experimentando roupas, vestidos e sapatos que deseja
comprar. Vai ao provador e se admira no espelho.
-Mas tu é gostosa mesmo, hein
mulher? Impressionante como o tempo só te valoriza, felpuda!
Suzanne segue a se admirar no
espelho e experimenta as outras roupas que separou.
-Parece que tudo isso aqui foi
feito pra mim. Cada roupa que experimento eu fico mais gata!
Suzanne separa as roupas e
sapatos que vai levar e se dirige à fila.
-Ai, que absurdo! Uma mulher
rica como eu enfrentando fila de shopping!
Chega a vez de Suzanne ser
atendida e a atendente passa as compras.
-Sete mil e oitocentos reais
com vinte e nove centavos. - fala a atendente.
Suzanne passa o cartão e
descobre que ele está bloqueado.
-Seu cartão está bloqueado,
senhora. - diz a atendente. FIM DO CAPÍTULO 108.
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