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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

CAPÍTULO 112

CENA 1: Bruno começa a ficar constrangido e Cláudio percebe, mas não diz nada.
-Fica à vontade, Cláudio... a casa também é sua! - fala Setembrino.
-Isso mesmo, Cláudio... nada de ficar achando que tá em outro planeta. Se você veio com o Bruno, é de casa também. - fala Vânia.
Cláudio fica encantado com simpatia dos pais de Bruno, que permanece tenso.
-Vocês são uns queridos mesmo. Bem que o Bruno sempre falou muito bem de vocês... - fala Cláudio.
-Filho... o Cláudio é seu...
Bruno interrompe a fala de Vânia.
-Amigo? Claro! Meu melhor amigo!
Cláudio fica perplexo com a fala de Bruno e tenta disfarçar.
-Ah... bem, vocês chegaram na hora certa, queridos. O seu amigo vai conhecer a minha famosa lasanha de espinafre, tá saindo do forno agorinha! - fala Vânia.
-Ih, Cláudio... você devia perguntar pro Bruno o que significa “agorinha” pra mãe dele... - fala Setembrino.
-O “agorinha” da dona Vânia é de quinze minutos pra cima. A vida inteira ela chamou a mim e ao pai muito tempo antes do jantar ficar pronto! - fala Bruno, menos tenso.
-Ah... meu falecido pai, que era quem cozinhava lá em casa, fazia a mesma coisa. - fala Cláudio.
Bruno percebe que Cláudio está revoltado com ele.
-Bem... sabendo disso, vocês se incomodam se eu e o Cláudio formos lá fora tirarmos as nossas malas do carro dele? - fala Bruno.
-Ah, o carro é dele? Pensei que fosse seu, filho... você veio dirigindo... - fala Vânia.
-Vim dirigindo porque eu conhecia o caminho do Rio até aqui, foi pra agilizar a viagem. Bem, a gente tá indo lá. - fala Bruno.
-Vocês não querem uma ajuda, meninos? - fala Setembrino.
-Nada disso, pai. Você já passou por um infarto e não tem que carregar peso. - fala Bruno.
Cláudio e Bruno vão pegar as malas no carro e Bruno nota o silêncio de Cláudio.
-Olha, amor... desculpa se eu não assumi você de cara. Eu não consegui... quando eu vi a minha defensiva já tinha feito eu dizer aquilo.
-Eu te entendo. Mas isso não faz com que eu esteja menos chateado contigo. Eu tinha quase certeza que sua mãe já tinha sacado tudo.
-Ela podia estar jogando um verde. Não sei como ela e o pai reagiriam. Tenta me entender.
-É o que eu tenho tentado. Mas não espere que eu te trate com mil sorrisos enquanto essa questão não se resolver. Não vivi tudo o que vivi pra ter que começar a me esconder agora, depois dos vinte anos...
-Tá... só tenha um pouco de paciência. A gente vai resolver isso.
-Só resta saber quando, Bruno.
-Confia em mim.
Os dois trazem as malas para dentro da casa dos pais de Bruno. CORTA A CENA.

CENA 2: Mara flagra Valentim escutando conversa entre Laura, Mateus e Haroldo sem que eles percebam.
-Que feio, Valentim! Um cara com quase sessenta anos, psiquiatra e investigador de polícia, ouvindo a conversa dos outros!
-Antes de me repreender, quer fazer o favor de falar baixo? Vamos pro camarim.
Os dois chegam ao camarim.
-Tá... qual foi a razão de você ficar escutando a conversa deles?
-A razão é simples: notei que Mateus parecia meio tenso.
-Até aí, nada demais.
-Me escuta, Mara!
-Tá... desculpa... fala logo.
-É que eu sabia que tinha a ver com alguma preocupação dele relacionada ao Guilherme.
-E era?
-Sim. Ele disse basicamente que conhece bem como funciona o comportamento do Guilherme e que tá estranhando esse silêncio todo sobre ele desde que houve a prisão.
-E você acha que isso tem fundamento? Porque o psiquiatra aqui é você...
-Não acredito que tenha. Guilherme está numa instituição penal psiquiátrica e dificilmente fugiria dali.
-Por que você não acredita nisso? Desculpa falar ou ferir seu ego leonino, mas... até pouco antes do atentado que o Mateus sofreu, você achava um absurdo colocar o Guilherme na lista de suspeitos. Você lembra quem insistiu para colocar ele, não lembra?
-Claro que lembro. Foi você.
-Eu sei que seu ofício de psiquiatra ajuda, mas você não pode arranjar uma coisa que eu recebi de graça da natureza.
-O que?
-Intuição feminina.
-E o que a sua intuição diz sobre isso, sucessora da mãe Diná?
-Não seja irônico, Valentim! Você sabe que minha intuição sempre me serviu para solucionar casos nas investigações. No momento, pra ser sincera, não me diz nada. Apenas acho que esse não é o melhor momento para baixarmos a guarda. Embora desbaratada na sua célula principal, nós sabemos que células menores da facção permanecem atuantes. O desejo do Guilherme, apesar de toda a obsessão que ele alimentou por anos pelo Cláudio, ainda é o poder. Ele herdou isso do pai. Você realmente acha que ele desistiria fácil assim? Um rapaz jovem, de vinte e dois anos, entregando os pontos assim? Ele perdeu a liderança da maior facção que esse estado já viu!
-Sim, mas o que você espera que eu faça, Mara? O sujeito já tá na prisão, não tá? Isso sem contar que ele tá aguardando julgamento e outras acusações vem sendo feitas. Ele vai acabar condenado de qualquer maneira. Mas não há nada que eu ou você possa fazer pra acelerar um processo que é com a justiça.
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Laura, Haroldo e Mateus ficam encantados com o texto que Procópio já escreveu para a peça que pretende fazer.
-É de uma sensibilidade comovente, esse texto! Parece que você captou a essência de cada um de nós! - admira-se Laura.
-De fato. Parece que você entrou inclusive na minha essência! - espanta-se Haroldo.
-Nada disso é novo pra mim... vocês deviam saber, queridos. Sou um ótimo observador da alma das pessoas e quando tive a ideia desse texto foi justamente quando fiquei admirado com a coragem de vocês. - fala Procópio.
-Eu tou mesmerizado, ainda... - fala Mateus.
-E tem mais, gente: eu queria que cada um de vocês contribuísse um pouco com o texto, seja com falas, ações, qualquer ideia que vocês tiverem. Tenho certeza que se vocês toparem isso, a nossa peça vai ter muito a ganhar com a participação artística completa de cada um de vocês. - fala Procópio.
-Ai, eu super me pilho. Amo escrever, criar roteiros, situações, enfim... - fala Laura.
-Tou com a Laura... sempre escrevi muito, mas peguei gosto pela coisa no tempo que passei “exilado” sendo outra pessoa. - fala Haroldo.
-Você pode por exemplo tentar transformar essa sua experiência numa figura de linguagem interessante pro texto da sua personagem, Haroldo... dependendo de como a gente desenvolver isso, pode ser riquíssimo. - empolga-se Procópio.
-Vou confessar que não tenho muito talento pra escrever. Quer dizer... nunca tentei a sério. Meu negócio sempre foi atuar, mergulhar no texto alheio. Mas eu posso tentar. - fala Mateus.
-Essa falsa modéstia aí do Mateus é só porque ele não mergulhou fundo nisso, ainda. Tenho certeza que ele tem mais talentos que imagina... - estimula Laura.
Os quatro seguem debatendo sobre futura peça. CORTA A CENA.

CENA 4: Vânia serve o jantar para Bruno e Cláudio e Setembrino conversa com o filho.
-Me conta, filho... como tem sido esses três anos no Rio? - pergunta Setembrino.
-Mais difíceis do que pude imaginar. Não consegui me matricular numa universidade ainda... - desbafa Bruno.
-Por que você não tentou uma bolsa de estudos, filho? - questiona Vânia.
-Eu até pensei em tentar, mas no final das contas eu mal cheguei no Rio e já me vi em meio a dificuldades, acabou que eu tinha que tratar de sobreviver sem passar fome primeiro pra depois pensar nos meus planos pro futuro... - fala Bruno.
-Vai dar tudo certo, filho... cedo ou tarde você vai ser o médico que um dia sonhou ser. - estimula Vânia.
-É... um dia ele vai ser exatamente o que ele disse que ia ser. Só espero que não leve muito tempo pra isso... - fala Cláudio, em tom ríspido.
Vânia e Setembrino percebem ironia de Cláudio, mas nada dizem.
-Bem... o que importa é que o tempo ainda está a favor... - fala Setembrino, para quebrar o clima tenso.
-Mas me fala, Cláudio... o que achou da minha lasanha de espinafre? É o prato preferido do Bruno desde criancinha... - fala Vânia.
-É realmente delicioso, dona Vânia. Só não estou com muito apetite. Algumas coisas não me caíram bem hoje... - fala Cláudio.
-Não me chame de dona, querido... me chame de você. Tá ruim do estômago? Eu tenho um sal de frutas aqui, se você quiser. - oferece Vânia.
-Obrigado, querida. Mas essa indisposição vai passar. Deve ter sido algo que eu comi e não caiu bem... - desconversa Cláudio.
Bruno tenta disfarçar tensão. CORTA A CENA.

CENA 5: Na instituição psiquiátrica, Guilherme conversa com os internos Danilo e Pedro.
-E aí... vocês conseguiram chamar quantos? - questiona Guilherme.
-Tá difícil ainda, Guilherme. Mas estamos só no começo. Tem uns sete ou oito que estão começando a se revoltar graças ao que você mandou a gente dizer a eles. - esclarece Danilo.
-Eles estão considerando suspender a medicação sem que os enfermeiros saibam? - pergunta Guilherme.
-Aos poucos. Eles ainda ficam com medo. Medo de voltarem a ouvir as vozes, de alucinarem as coisas. Tem um deles que tá mais assustado porque da última vez que alucionou, antes de matar o primo, se jogou nos trilhos do trem. Podia ter morrido ali, mas foi salvo pelo pessoal que viu a cena toda. - continua Pedro.
-Vocês precisam dar um jeito de fazer eles se sentirem mais seguros e confiantes. Estimulem a autoconfiança deles. Elogiem bastante. Quase qualquer pessoa nesse mundo fica envaidecida com meia dúzia de elogios e com palavras bonitas. Falem exatamente o que eles desejam ouvir. Induzam eles a se revoltarem com os enfermeiros daqui, mas peçam que eles ajam em silêncio... - fala Guilherme.
-A gente vai fazer o que pode, mas isso tem um prazo? - questiona Danilo.
-Não... fiquem sossegados. Não existe pressa. Precisamos é de um serviço bem executado, sem furos, sem falhas. Assim nós três livramos nossas caras... e ainda conseguimos fugir tranquilamente. - fala Guilherme.
-Mas e o pessoal que se juntar com a gente? - questiona Pedro.
-Eu cuido da segurança deles. Se esqueceram de quem eu sou? O chefe da maior facção que esse estado já viu. Todo mundo tem emprego garantido. - afirma Guilherme.
CORTA A CENA.

CENA 6: Após o jantar, Marion e Valquíria conversam no quarto de Valquíria e olham o álbum de recordações.
-Que saudade que dá da Marinete... - desabafa Marion.
-Nem me fale. Minha primogênita... aprendi a ser mulher e a ser mãe com ela. Nem parece que já faz tanto tempo que ela nos deixou... - fala Valquíria.
-Ela tinha tantos sonhos, mãe... dá uma dor no peito de imaginar que ela não conseguiu realizar nenhum deles.
-Pelo menos ela conseguiu encontrar alguma felicidade depois que a Riva nasceu.
-Ainda assim... mas sabe o que me consola? Que no fim das contas nós conseguimos realizar nossos sonhos... e isso é, de certa forma, uma maneira de honrar a memória da Marinete.
-Verdade, filha... mas eu lamento não ter estimulado nunca os sonhos de vocês. Eu fui amarga durante muito tempo... eu era frustrada e queria que todo mundo à minha volta estivesse exatamente no mesmo buraco que eu me enfiei por ter feito as escolhas erradas.
-Pare com isso, mãe... a senhora se reinventou. Hoje é uma mulher realizada.
-Ainda bem que nunca precisei de macho pra sonhar meus sonhos. Pelo menos nisso...
-A Marinete deve estar muito orgulhosa de nós... do quanto a gente foi longe. De onde ela estiver, ela deve estar olhando por nós... satisfeita por termos ido tão longe.
As duas se abraçam, emocionadas. CORTA A CENA.

CENA 7: Depois do jantar, Cláudio e Bruno se fecham no quarto que era de Bruno na casa de seus pais e discutem.
-Isso já passou dos limites, Bruno. Você não percebe o quanto me atinge me escondendo dos seus pais assim, na cara-dura?
-E o que você espera que eu faça? Foram três anos longe daqui! Você acha que é fácil pra mim chegar neles e dizer “olha gente, o Cláudio não é meu amigo, é meu namorado”? Em que mundo você vive?
-Num mundo onde não há mentira.
-Começou a mesma merda de sempre. Você percebe como sempre cobra mais dos outros e nunca de si mesmo? Os outros não podem mentir, os outros não podem ter seus medos, suas histórias. Que porra de empatia é essa, que acaba sempre sendo seletiva?
-E você por um acaso tá sendo empático comigo? Se coloca em algum momento no meu lugar? Você disse na cara da sua mãe que eu sou seu amigo e você sabe que isso não é verdade!
-Deixamos de ser amigos, agora? Além de você se meu namorado, você também é meu amigo, não é?
-Não fuja da conversa com esse papo furado. É evidente que somos amigos. Mas você não percebe que se esconder desse jeito não vai nos levar a lugar nenhum? E o que a gente tinha conversado antes de vir pra cá, Bruno? Não te valeu de nada?
-Eu só preciso de um tempo pra tomar coragem e dizer toda a verdade a eles.
-Quanto tempo? A gente não vai passar mais que uma semana aqui. Você não pode simplesmente ficar adiando pra sempre esse momento. Nós merecemos a sua honestidade. Tanto eu quanto seus pais.
-Sabe o que mais me machuca nisso? Não é essa nossa discussão... é saber que você está coberto de razão, apesar de tudo.
-Eu não quero ter razão... eu só quero que essa aflição acabe de uma vez. Também sinto sua dor.
-Eu vou dar um jeito, Cláudio... confia em mim. Ainda hoje, se possível. Mas se eu não conseguir, de amanhã não passa...
Vânia escuta toda a conversa atrás da porta e não demonstra estar surpresa. CORTA A CENA.

CENA 8: Em sua casa, na companhia de Márcio, Raquel conta sobre passado de Suzanne e Márcio se choca.
-Dona Raquel, eu juro que não sabia dessa parte. Eu sabia que a Suzanne tinha essa cisma com a Riva, mas daí a saber que elas são irmãs eu nunca soube. Ela só dizia que eu tinha que ajudar a destruir a Riva. Mas o que mais me choca nisso é saber que ela era só uma garotinha de doze anos quando matou o próprio pai! O que é isso, meu Deus?
-Fiquei perplexa, sem chão, mais que decepcionada... me senti apunhalada. Frederico nunca foi um santo, eu sempre soube que ele me traía nas suas viagens... não podia fazer nada pra mudar isso. Sabia que ele podia ter tido filhos fora do nosso casamento, mas nunca fui atrás disso. Não sei como a Suzanne, com dez anos, teve a perspicácia de descobrir isso tudo sozinha.
-Talvez ela não seja psicopata, mãezinha... ela sempre fala que sente falta do seu Frederico.
-Sente falta, mas foi ela mesma que matou. Mesmo assim, talvez você esteja certo, meu filho... no fundo ela amou esse pai e se sentiu traída, enganada por ele. Deixou de ser a filha única.
-Ainda assim, nada disso justifica tudo o que se iniciou depois disso. Agora vejo que ela usou a mim e a todo mundo porque de alguma forma, ela deixou de ter qualquer sentimento, por qualquer pessoa, mas talvez não tenha nascido assim.
-Não sei, querido... ela matava pequenos animais muito antes disso. Bem, o que importa é saber da verdade. E investigar mais coisas que possam de fato incriminar ela, já que esse crime em específico, prescreveu.
CORTA A CENA.

CENA 9: Bruno vai com Cláudio à sala, onde seus pais assistem TV.
-Gente... vocês podem baixar o volume da televisão um instantinho? - pede Bruno.
-Ai, filho... bem na hora da minha novela? Mas tudo bem... não é todo dia que você vem nos visitar. Bino, querido... pega o controle pra mim? - fala Vânia.
Setembrino diminui o volume da TV.
-Então, gente... eu e o Cláudio precisamos ter uma conversa meio séria com vocês. - fala Bruno.
-Espero que vocês compreendam. - fala Cláudio.
-Falem logo que estou ficando aflito... - fala Setembrino.
-Então... é que o Cláudio não é só meu amigo. Somos amigos, é claro... mas ele também é meu namorado. - fala Bruno.
Vânia e Setembrino se olham e Bruno fica tenso. FIM DO CAPÍTULO 112.

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