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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

CAPÍTULO 95

CENA 1: Laura percebe que Marcelo e Rafael desconfiam de algo no velório.
-Queridos... vocês podem vir comigo e com o Haroldo aqui no canto, por um momento? - fala Laura.
-Claro... - fala Marcelo.
Os quatro vão a um canto vazio.
-Primeiro, a gente precisa dar um jeito de tirar aquela fã ensandecida do Mateus daqui. Ele não está morto e por isso o caixão está fechado. Não tem corpo nenhum ali. O que tem são tijolos... - esclarece Laura.
-Como é que é? Como isso é possível? Por que essa farsa foi armada? - questiona Rafael.
-Mano, é o seguinte: os homens que tentaram acabar com o Mateus foram mandados pelo “Chefe” e o Mateus ouviu eles dizendo isso, antes de ser esfaqueado. O Mateus não teve nenhum ferimento grave, só perdeu muito sangue. Mas daí, o Valentim sugeriu que forjássemos a morte dele... porque o Mateus tem informações privilegiadas sobre o “Chefe”, ele sabe quem é esse cara. Só ainda não nos contou. Por isso o Valentim e toda a equipe de investigadores decidiu que era a hora dele sair de cena... para ficar protegido e para que a polícia possa chegar direto no chefe da facção assim que puder... - esclarece Haroldo.
-Gente do céu! Uma novela ou um filme não seriam tão eletrizantes quanto essa história! - espanta-se Marcelo.
-É, queridos... mas a gente precisa que vocês mantenham o bico calado diante disso. Por enquanto é bom que ninguém mais saiba. Vai que o chefe aparece aqui no velório? Se aparecer, não pode nem desconfiar que tudo isso não passa de uma farsa... - fala Laura.
-Claro... podem contar com a nossa discrição, sem dúvida... mas fiquei confuso: onde está o Mateus agora? - pergunta Marcelo.
-Ele está na mesma clínica particular onde supostamente morreu. Apesar de não correr risco de morrer, seu estado ainda inspira cuidados... - esclarece Haroldo.
-Pelo menos assim, com essa farsa dando certo, a gente pode se ver livre daquele “Chefe”, de uma vez por todas... - fala Rafael.
-Espero que seja logo, meu amigo. Quanto menos tempo levar pro Mateus contar toda a verdade sobre a facção e sobre quem está no comando dela nesses últimos anos, mais fácil fica pro Valentim trabalhar e prender esse desgraçado que ameaça a todos nós... - fala Laura.
-Vem cá, ninguém viu que aquela fã tresloucada tá tentando abrir o caixão? Chamem a segurança! - fala Haroldo, gritando.
A fã enlouquecida é retirada à força da capela.
-Pelo menos essa daí não vai ser mais um problema pra vocês... - descontrai Marcelo.
-Deus me livre se alguém abre esse caixão acidentalmente... felizmente ele está cadeado, por ordens do Valentim, assim se dificulta a abertura de qualquer fã que ainda queira aparecer e dar showzinho por aqui... - fala Laura.
-E os procedimentos finais, de cremação e tudo mais... vai tudo ser feito normalmente? - questiona Rafael.
-Sim, mano... pouco antes de ser preparada a suposta cremação, as pessoas serão convidadas a se retirar do rito de despedida... isso é prática comum por aqui. - esclarece Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 2: Victor reclama com Diogo de sua decisão de ir ao velório de Mateus.
-Não vejo o mínimo sentido de você ir nesse velório daquele atorzinho. Ele nem amigo seu era...
-Será que você não percebe, Victor? O sujeito era ex namorado e amigo da Laura, que é melhor amiga do Cláudio. O clima deve estar pesadíssimo!
-E daí? Era parente seu?
-Ai, Victor... isso é jeito de se falar?
-Por acaso tou falando alguma mentira?
-Não, mas poxa vida, sabe?
-Não era parente seu, não era amigo, era ex namorado da melhor amiga do seu ex. Tá, beleza que o Cláudio é gente boa e tudo mais, mas onde é que a gente entra nisso? Qual é o sentido da gente ir nesse velório? Só porque o morto era ator famosinho?
-Porque era um ser humano e uma pessoa próxima de pessoas que eu gosto, quem sabe?
-Interessante, isso... por que você não vai nos velórios das pessoas que morrem assassinadas todos os dias aqui nesse nosso Rio de Janeiro? Por que não vai aos morros fazer alguma coisa de útil pelas famílias que ficam destroçadas pela violência policial? O Mateus é só mais um de tantos que morrem nessa cidade todos os dias. Se você não se importa com os outros, não devia se importar com ele. Ou será que ficou mais comovido porque ele era famoso?
-A sua frieza em certos momentos consegue me assustar, Victor.
-Frio, eu? Você só pode estar de brincadeira...
-Você está fazendo pouco, desprezando uma vida que se perdeu.
-E por que eu deveria me importar?
-Porque uma tragédia dessas é horrível, quem sabe?
-Vou ser hipócrita e fingir que me importo? Eu não era nada desse cara, porra!
-Tá. Se for assim e você não quiser ir ao velório, deixa então que eu vou sozinho, pode ser?
-Não... também não é bem assim... se você for, eu também vou.
-Então trate de se comportar como um ser humano que respeita a dor de quem tá sofrendo pela perda do Mateus, certo?
-Ai, chega, Diogo... você não é meu pai e eu não sou uma criança.
-É mesmo? Então por que às vezes age como uma?
-Isso já é desrespeito, Diogo.
-Você quer ser respeitado? Que tal começar respeitando a mim, que sou praticamente seu marido? Depois pode experimentar respeitando as outras pessoas... não tira pedaço.
-Tá, tá... chega de sermão. Vamos pra esse velório de uma vez antes que fique tarde.
CORTA A CENA.

CENA 3: Durante o velório, Cláudio se retira por alguns instantes para fumar um cigarro e, ao retornar à capela onde ocorre o velório de Mateus, encontra Guilherme chorando em excesso e estranha.
-Tá tudo bem com você, amor? Eu sei que toda essa tragédia mexe com a gente, mas pra que esse choro todo?
Guilherme segue a soluçar de tanto chorar e Cláudio acaba se emocionando junto, com a pungência do choro de seu noivo, resolvendo lhe dar um forte abraço para consolá-lo. Guilherme tranquiliza-se rapidamente e Cláudio estranha mais uma vez.
-Você tomou seu medicamento antes da gente sair, não tomou? - questiona Cláudio.
-Sim, tomei...
-Amor... cê pode vir aqui comigo rapidão? - fala Cláudio, indicando a entrada da capela.
Guilherme acompanha o noivo.
-Guilherme, que choro todo foi aquele? Nunca vi você ficar desse jeito nem durante um surto...
-Ai, Claudinho... é tudo tão triste, sabe?
-Sim, é triste, mas... você agiu como se tivesse perdido alguém muito próximo e o Mateus só havia sido seu colega há anos...
-Justamente isso que me deixou assim, amor. É horrível perder um ex colega desse jeito, dessa maneira tão estúpida... culpa dessa guerra urbana...
Cláudio acredita nas palavras de Guilherme.
-Realmente, amor... é terrível tudo isso. Mas precisamos encarar tudo isso com resignação...
Os dois retornam para dentro da capela. CORTA A CENA.

CENA 4: Instantes se passam e Bruno está na companhia de Laura e Haroldo. Cláudio aproveita que Guilherme se retira por alguns instantes e se aproxima dele. No entanto, ao notar que Cláudio se aproxima, Bruno se esquiva, antes que Cláudio chegue.
-Laura, Haroldo... eu vou ali em baixo fumar um cigarro e já volto... - anuncia Bruno.
Haroldo e Laura assentem com a cabeça e Bruno desce para a entrada do crematório. Enquanto acende o cigarro, nota que Cláudio mais uma vez se aproxima dele e finge não perceber, indo para a área arborizada, tentando se esquivar mais uma vez de Cláudio. Mesmo assim, Cláudio o alcança.
-Você tá me evitando, Bruno? Só vim fumar um cigarro...
-Cláudio... não faz quinze minutos que você voltou do último cigarro. Acho que a gente não tem nada pra falar agora... não me leve a mal.
-O que eu não consigo entender é o motivo de você estar sendo seco comigo. Não te fiz nada...
-Ok, que seja... você não me fez nada. Mas essa tragédia toda me deixou abalado demais. Eu prefiro ficar sozinho, não é nada pessoal...
-Bruno... eu te conheço. Você tá escondendo alguma coisa de mim. Alguma coisa séria.
-E se eu estivesse? É um direito meu não dizer, concorda? Você ia se sentir bem sendo pressionado?
-Desculpe... claro que não me sentiria bem.
-Pois então...
-Já vi que não adianta insistir...
-Cláudio, eu gosto muito de você, cê sabe disso... mas acredite em mim: esse não é um bom momento. Volte pro seu noivo, ele está precisando de você mais que eu.
Cláudio estranha a fala enigmática de Bruno, mas não retruca e volta para a capela. CORTA A CENA.

CENA 5: Na clínica particular, Mara faz companhia a Mateus, que fica entediado no quarto.
-Mara... por que você não liga a TV?
-Você sabe porque... a imprensa deve estar cobrindo o seu velório uma hora dessas.
-E daí? Eu quero ver, Mara... pra me certificar que tá tudo correndo como combinado.
-Não sei se vai ser bom pra você. Por mais que esse plano seja sua única saída, é meio mórbido ligar a TV pra assistir o próprio velório.
-Eu estou vivo, Mara... não vejo motivo pra me sentir impressionado assistindo essa farsa na televisão.
-Tá certo. Eu ligo a televisão. Mas você vai precisar me prometer uma coisa.
-O que? Eu faço tudo o que você, Raquel e Valentim me orientarem...
-Enquanto não acabar essa função de velório e suposta cremação, não ligue para Laura. A imprensa não sai de cima dela e do Haroldo.
-Claro que não vou falar com ela agora. Não sou doido de ligar antes de tudo isso acabar.
-Então está tudo bem. Preparado?
-Não preciso me preparar pra ver essa farsa toda. Preciso mesmo é juntar o que me resta de coragem pra falar toda a verdade sobre essa facção que quase acabou com a minha vida...
Mara liga a TV e ela e Mateus assistem a cobertura do falso velório dele. CORTA A CENA.

CENA 6: Na manhã do dia seguinte, Raquel conversa com Márcio.
-Você não acha que está numa boa hora de fazer o que tem que ser feito, querido?
-Não sei, dona Raquel. Se a senhora estiver falando sobre o que tou pensando...
-É sobre denunciar a Suzanne, sim.
-Mas ela é sua filha...
-De novo com esse argumento, Márcio? Você tá cansado de saber que apesar de eu ser mãe dela, eu não posso simplesmente passar por cima da lei. Meu ofício é esse, meu filho...
-Só fico com medo de que essa denúncia não dê em nada.
-Medo? Não vejo razão pra tanto, meu querido. O máximo que pode acontecer é o inquérito ser arquivado por falta de provas, mas...
-A gente não vai saber nunca se eu não fizer o que tem de ser feito, não é isso?
-Exatamente, Márcio. Nesses mais de vinte anos que ela passou a viver desses golpes, nunca ninguém a denunciou...
-E isso não é questão de sorte, dona Raquel... é de esperteza, mesmo. Já denunciaram a Suzanne, mas sempre denunciaram as identidades falsas que ela usou.
-Você pode e deve falar dessas identidades falsas quando for fazer a denúncia.
-Ainda não estou certo se tenho coragem pra denunciar.
-Não tem espaço pra incerteza mais aqui, meu querido. Lembre-se que ela destruiu seus sonhos mais de uma vez. Não sou rancorosa, mas é preciso relembrar tudo o que ela tirou de você... aliás, de nós.
-Como o Cláudio, por exemplo...
-Exatamente.
-Tá certo. No máximo até amanhã eu denuncio, mãezinha.
CORTA A CENA.

CENA 7: Cláudio e Guilherme tomam café da manhã e Guilherme nota que Cláudio está com olhar melancólico.
-Tá pensando em tudo o que aconteceu ontem, amor?
-Também, Guilherme... sabe, a vida é um troço doido mesmo...
-Mais doido que eu? Acho difícil, viu... - brinca Guilherme.
-Bobo. Desculpa se eu não tou conseguindo rir... sei que você quer me ver sorrir, mas não consigo agora...
-Não imaginei que você fosse ainda estar assim por causa da morte do Mateus.
-Amor... não é só por isso.
-Não?
-Infelizmente algumas coisas ficaram martelando na minha cabeça desde que me acordei hoje...
-O que, exatamente?
-Agora que tá começando a me cair a ficha sobre a infeliz daquela mulher que é minha mãe biológica. No meio daquele alvoroço todo de ontem eu mal tive tempo de pensar a respeito. Só que agora isso me dói... é como se tivesse uma faca cravada no meu peito, saber que minha própria mãe, ou melhor dizendo, a mulher que me pariu, não me quis... que obrigou meu pai a aceitar que eu fosse entregue pro orfanato...
Cláudio chora e Guilherme o consola.
-Mas você teve pais adotivos maravilhosos, não teve?
-Claro que tive. Eles que realmente foram meus pais... me ensinaram a amar...
-Então por que sofrer?
-Talvez você não entenda... mas dói demais saber que eu fui abandonado por não ter sido desejado...
Guilherme segue amparando Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas mais tarde, Marcelo e Rafael se encontram com Márcio, num shopping.
-Tudo bem com vocês, meninos? - fala Márcio.
-Comigo tudo bem, pai... - fala Marcelo.
-Comigo também... ainda superando aquela tragédia com Mateus... - fala Rafael.
-Foi tudo bem chato, mesmo. Mas vida que segue... - fala Márcio.
-Eu tava pensando que a gente podia fazer um lanche ali na praça de alimentação, o que vocês acham? - propõe Marcelo.
-Eu topo... - fala Márcio.
Os três chegam à praça de alimentação e Rafael vai fazer os pedidos. Marcelo e Márcio ficam a sós.
-Sabe, filho... andei conversando com a dona Raquel... a mãe da Suzanne. Ela acha que eu devo denunciar a Suzanne.
-Eu concordo com a dona Raquel, pai. Acho que enquanto a Suzanne não for denunciada, ela vai continuar impune.
-Mas ela ainda tá fora do Brasil, sabe?
-E daí? Isso não impede que ela seja denunciada, impede?
-Impedir não impede, meu filho... mas dificulta bastante as coisas.
-Eu já acho mais prudente que tudo isso seja feito agora.
-Só me deixa inseguro saber que ela, com o nome dela mesma, nunca teve uma única passagem pela polícia.
-Bem... o Rafa tá chegando com nossos pedidos... depois a gente fala melhor sobre isso.
CORTA A CENA.

CENA 9: Valentim chega ao quarto da clínica particular onde Mateus está.
-E aí, morto-vivo! Tá se sentindo muito morto ainda? - brinca Valentim.
Mateus ri.
-Muito morto não, meio morto talvez! - fala Mateus, seguindo na brincadeira.
-Então, Mateus... essa descontraída foi pra saber de uma coisa.
-Até já imagino o que seja, Valentim...
-Pois então. Assim que você receber a alta daqui algumas horas, você vem comigo para minha casa. Questão de segurança, entende?
-Perfeito. Melhor assim.
-Mas antes disso ser feito, eu queria saber exatamente o que você sabe sobre o “Chefe”.
Mateus gela. FIM DO CAPÍTULO 95.

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