CENA 1: Laura percebe que
Marcelo e Rafael desconfiam de algo no velório.
-Queridos... vocês podem vir
comigo e com o Haroldo aqui no canto, por um momento? - fala Laura.
-Claro... - fala Marcelo.
Os quatro vão a um canto
vazio.
-Primeiro, a gente precisa dar
um jeito de tirar aquela fã ensandecida do Mateus daqui. Ele não
está morto e por isso o caixão está fechado. Não tem corpo nenhum
ali. O que tem são tijolos... - esclarece Laura.
-Como é que é? Como isso é
possível? Por que essa farsa foi armada? - questiona Rafael.
-Mano, é o seguinte: os
homens que tentaram acabar com o Mateus foram mandados pelo “Chefe”
e o Mateus ouviu eles dizendo isso, antes de ser esfaqueado. O Mateus
não teve nenhum ferimento grave, só perdeu muito sangue. Mas daí,
o Valentim sugeriu que forjássemos a morte dele... porque o Mateus
tem informações privilegiadas sobre o “Chefe”, ele sabe quem é
esse cara. Só ainda não nos contou. Por isso o Valentim e toda a
equipe de investigadores decidiu que era a hora dele sair de cena...
para ficar protegido e para que a polícia possa chegar direto no
chefe da facção assim que puder... - esclarece Haroldo.
-Gente do céu! Uma novela ou
um filme não seriam tão eletrizantes quanto essa história! -
espanta-se Marcelo.
-É, queridos... mas a gente
precisa que vocês mantenham o bico calado diante disso. Por enquanto
é bom que ninguém mais saiba. Vai que o chefe aparece aqui no
velório? Se aparecer, não pode nem desconfiar que tudo isso não
passa de uma farsa... - fala Laura.
-Claro... podem contar com a
nossa discrição, sem dúvida... mas fiquei confuso: onde está o
Mateus agora? - pergunta Marcelo.
-Ele está na mesma clínica
particular onde supostamente morreu. Apesar de não correr risco de
morrer, seu estado ainda inspira cuidados... - esclarece Haroldo.
-Pelo menos assim, com essa
farsa dando certo, a gente pode se ver livre daquele “Chefe”, de
uma vez por todas... - fala Rafael.
-Espero que seja logo, meu
amigo. Quanto menos tempo levar pro Mateus contar toda a verdade
sobre a facção e sobre quem está no comando dela nesses últimos
anos, mais fácil fica pro Valentim trabalhar e prender esse
desgraçado que ameaça a todos nós... - fala Laura.
-Vem cá, ninguém viu que
aquela fã tresloucada tá tentando abrir o caixão? Chamem a
segurança! - fala Haroldo, gritando.
A fã enlouquecida é retirada
à força da capela.
-Pelo menos essa daí não vai
ser mais um problema pra vocês... - descontrai Marcelo.
-Deus me livre se alguém abre
esse caixão acidentalmente... felizmente ele está cadeado, por
ordens do Valentim, assim se dificulta a abertura de qualquer fã que
ainda queira aparecer e dar showzinho por aqui... - fala Laura.
-E os procedimentos finais, de
cremação e tudo mais... vai tudo ser feito normalmente? - questiona
Rafael.
-Sim, mano... pouco antes de
ser preparada a suposta cremação, as pessoas serão convidadas a se
retirar do rito de despedida... isso é prática comum por aqui. -
esclarece Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 2: Victor reclama com
Diogo de sua decisão de ir ao velório de Mateus.
-Não vejo o mínimo sentido
de você ir nesse velório daquele atorzinho. Ele nem amigo seu
era...
-Será que você não percebe,
Victor? O sujeito era ex namorado e amigo da Laura, que é melhor
amiga do Cláudio. O clima deve estar pesadíssimo!
-E daí? Era parente seu?
-Ai, Victor... isso é jeito
de se falar?
-Por acaso tou falando alguma
mentira?
-Não, mas poxa vida, sabe?
-Não era parente seu, não
era amigo, era ex namorado da melhor amiga do seu ex. Tá, beleza que
o Cláudio é gente boa e tudo mais, mas onde é que a gente entra
nisso? Qual é o sentido da gente ir nesse velório? Só porque o
morto era ator famosinho?
-Porque era um ser humano e
uma pessoa próxima de pessoas que eu gosto, quem sabe?
-Interessante, isso... por que
você não vai nos velórios das pessoas que morrem assassinadas
todos os dias aqui nesse nosso Rio de Janeiro? Por que não vai aos
morros fazer alguma coisa de útil pelas famílias que ficam
destroçadas pela violência policial? O Mateus é só mais um de
tantos que morrem nessa cidade todos os dias. Se você não se
importa com os outros, não devia se importar com ele. Ou será que
ficou mais comovido porque ele era famoso?
-A sua frieza em certos
momentos consegue me assustar, Victor.
-Frio, eu? Você só pode
estar de brincadeira...
-Você está fazendo pouco,
desprezando uma vida que se perdeu.
-E por que eu deveria me
importar?
-Porque uma tragédia dessas é
horrível, quem sabe?
-Vou ser hipócrita e fingir
que me importo? Eu não era nada desse cara, porra!
-Tá. Se for assim e você não
quiser ir ao velório, deixa então que eu vou sozinho, pode ser?
-Não... também não é bem
assim... se você for, eu também vou.
-Então trate de se comportar
como um ser humano que respeita a dor de quem tá sofrendo pela perda
do Mateus, certo?
-Ai, chega, Diogo... você não
é meu pai e eu não sou uma criança.
-É mesmo? Então por que às
vezes age como uma?
-Isso já é desrespeito,
Diogo.
-Você quer ser respeitado?
Que tal começar respeitando a mim, que sou praticamente seu marido?
Depois pode experimentar respeitando as outras pessoas... não tira
pedaço.
-Tá, tá... chega de sermão.
Vamos pra esse velório de uma vez antes que fique tarde.
CORTA A CENA.
CENA 3: Durante o velório,
Cláudio se retira por alguns instantes para fumar um cigarro e, ao
retornar à capela onde ocorre o velório de Mateus, encontra
Guilherme chorando em excesso e estranha.
-Tá tudo bem com você, amor?
Eu sei que toda essa tragédia mexe com a gente, mas pra que esse
choro todo?
Guilherme segue a soluçar de
tanto chorar e Cláudio acaba se emocionando junto, com a pungência
do choro de seu noivo, resolvendo lhe dar um forte abraço para
consolá-lo. Guilherme tranquiliza-se rapidamente e Cláudio estranha
mais uma vez.
-Você tomou seu medicamento
antes da gente sair, não tomou? - questiona Cláudio.
-Sim, tomei...
-Amor... cê pode vir aqui
comigo rapidão? - fala Cláudio, indicando a entrada da capela.
Guilherme acompanha o noivo.
-Guilherme, que choro todo foi
aquele? Nunca vi você ficar desse jeito nem durante um surto...
-Ai, Claudinho... é tudo tão
triste, sabe?
-Sim, é triste, mas... você
agiu como se tivesse perdido alguém muito próximo e o Mateus só
havia sido seu colega há anos...
-Justamente isso que me deixou
assim, amor. É horrível perder um ex colega desse jeito, dessa
maneira tão estúpida... culpa dessa guerra urbana...
Cláudio acredita nas palavras
de Guilherme.
-Realmente, amor... é
terrível tudo isso. Mas precisamos encarar tudo isso com
resignação...
Os dois retornam para dentro
da capela. CORTA A CENA.
CENA 4: Instantes se passam e
Bruno está na companhia de Laura e Haroldo. Cláudio aproveita que
Guilherme se retira por alguns instantes e se aproxima dele. No
entanto, ao notar que Cláudio se aproxima, Bruno se esquiva, antes
que Cláudio chegue.
-Laura, Haroldo... eu vou ali
em baixo fumar um cigarro e já volto... - anuncia Bruno.
Haroldo e Laura assentem com a
cabeça e Bruno desce para a entrada do crematório. Enquanto acende
o cigarro, nota que Cláudio mais uma vez se aproxima dele e finge
não perceber, indo para a área arborizada, tentando se esquivar
mais uma vez de Cláudio. Mesmo assim, Cláudio o alcança.
-Você tá me evitando, Bruno?
Só vim fumar um cigarro...
-Cláudio... não faz quinze
minutos que você voltou do último cigarro. Acho que a gente não
tem nada pra falar agora... não me leve a mal.
-O que eu não consigo
entender é o motivo de você estar sendo seco comigo. Não te fiz
nada...
-Ok, que seja... você não me
fez nada. Mas essa tragédia toda me deixou abalado demais. Eu
prefiro ficar sozinho, não é nada pessoal...
-Bruno... eu te conheço. Você
tá escondendo alguma coisa de mim. Alguma coisa séria.
-E se eu estivesse? É um
direito meu não dizer, concorda? Você ia se sentir bem sendo
pressionado?
-Desculpe... claro que não me
sentiria bem.
-Pois então...
-Já vi que não adianta
insistir...
-Cláudio, eu gosto muito de
você, cê sabe disso... mas acredite em mim: esse não é um bom
momento. Volte pro seu noivo, ele está precisando de você mais que
eu.
Cláudio estranha a fala
enigmática de Bruno, mas não retruca e volta para a capela. CORTA A
CENA.
CENA 5: Na clínica
particular, Mara faz companhia a Mateus, que fica entediado no
quarto.
-Mara... por que você não
liga a TV?
-Você sabe porque... a
imprensa deve estar cobrindo o seu velório uma hora dessas.
-E daí? Eu quero ver, Mara...
pra me certificar que tá tudo correndo como combinado.
-Não sei se vai ser bom pra
você. Por mais que esse plano seja sua única saída, é meio
mórbido ligar a TV pra assistir o próprio velório.
-Eu estou vivo, Mara... não
vejo motivo pra me sentir impressionado assistindo essa farsa na
televisão.
-Tá certo. Eu ligo a
televisão. Mas você vai precisar me prometer uma coisa.
-O que? Eu faço tudo o que
você, Raquel e Valentim me orientarem...
-Enquanto não acabar essa
função de velório e suposta cremação, não ligue para Laura. A
imprensa não sai de cima dela e do Haroldo.
-Claro que não vou falar com
ela agora. Não sou doido de ligar antes de tudo isso acabar.
-Então está tudo bem.
Preparado?
-Não preciso me preparar pra
ver essa farsa toda. Preciso mesmo é juntar o que me resta de
coragem pra falar toda a verdade sobre essa facção que quase acabou
com a minha vida...
Mara liga a TV e ela e Mateus
assistem a cobertura do falso velório dele. CORTA A CENA.
CENA 6: Na manhã do dia
seguinte, Raquel conversa com Márcio.
-Você não acha que está
numa boa hora de fazer o que tem que ser feito, querido?
-Não sei, dona Raquel. Se a
senhora estiver falando sobre o que tou pensando...
-É sobre denunciar a Suzanne,
sim.
-Mas ela é sua filha...
-De novo com esse argumento,
Márcio? Você tá cansado de saber que apesar de eu ser mãe dela,
eu não posso simplesmente passar por cima da lei. Meu ofício é
esse, meu filho...
-Só fico com medo de que essa
denúncia não dê em nada.
-Medo? Não vejo razão pra
tanto, meu querido. O máximo que pode acontecer é o inquérito ser
arquivado por falta de provas, mas...
-A gente não vai saber nunca
se eu não fizer o que tem de ser feito, não é isso?
-Exatamente, Márcio. Nesses
mais de vinte anos que ela passou a viver desses golpes, nunca
ninguém a denunciou...
-E isso não é questão de
sorte, dona Raquel... é de esperteza, mesmo. Já denunciaram a
Suzanne, mas sempre denunciaram as identidades falsas que ela usou.
-Você pode e deve falar
dessas identidades falsas quando for fazer a denúncia.
-Ainda não estou certo se
tenho coragem pra denunciar.
-Não tem espaço pra
incerteza mais aqui, meu querido. Lembre-se que ela destruiu seus
sonhos mais de uma vez. Não sou rancorosa, mas é preciso relembrar
tudo o que ela tirou de você... aliás, de nós.
-Como o Cláudio, por
exemplo...
-Exatamente.
-Tá certo. No máximo até
amanhã eu denuncio, mãezinha.
CORTA A CENA.
CENA 7: Cláudio e Guilherme
tomam café da manhã e Guilherme nota que Cláudio está com olhar
melancólico.
-Tá pensando em tudo o que
aconteceu ontem, amor?
-Também, Guilherme... sabe, a
vida é um troço doido mesmo...
-Mais doido que eu? Acho
difícil, viu... - brinca Guilherme.
-Bobo. Desculpa se eu não tou
conseguindo rir... sei que você quer me ver sorrir, mas não consigo
agora...
-Não imaginei que você fosse
ainda estar assim por causa da morte do Mateus.
-Amor... não é só por isso.
-Não?
-Infelizmente algumas coisas
ficaram martelando na minha cabeça desde que me acordei hoje...
-O que, exatamente?
-Agora que tá começando a me
cair a ficha sobre a infeliz daquela mulher que é minha mãe
biológica. No meio daquele alvoroço todo de ontem eu mal tive tempo
de pensar a respeito. Só que agora isso me dói... é como se
tivesse uma faca cravada no meu peito, saber que minha própria mãe,
ou melhor dizendo, a mulher que me pariu, não me quis... que obrigou
meu pai a aceitar que eu fosse entregue pro orfanato...
Cláudio chora e Guilherme o
consola.
-Mas você teve pais adotivos
maravilhosos, não teve?
-Claro que tive. Eles que
realmente foram meus pais... me ensinaram a amar...
-Então por que sofrer?
-Talvez você não entenda...
mas dói demais saber que eu fui abandonado por não ter sido
desejado...
Guilherme segue amparando
Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas mais tarde,
Marcelo e Rafael se encontram com Márcio, num shopping.
-Tudo bem com vocês, meninos?
- fala Márcio.
-Comigo tudo bem, pai... -
fala Marcelo.
-Comigo também... ainda
superando aquela tragédia com Mateus... - fala Rafael.
-Foi tudo bem chato, mesmo.
Mas vida que segue... - fala Márcio.
-Eu tava pensando que a gente
podia fazer um lanche ali na praça de alimentação, o que vocês
acham? - propõe Marcelo.
-Eu topo... - fala Márcio.
Os três chegam à praça de
alimentação e Rafael vai fazer os pedidos. Marcelo e Márcio ficam
a sós.
-Sabe, filho... andei
conversando com a dona Raquel... a mãe da Suzanne. Ela acha que eu
devo denunciar a Suzanne.
-Eu concordo com a dona
Raquel, pai. Acho que enquanto a Suzanne não for denunciada, ela vai
continuar impune.
-Mas ela ainda tá fora do
Brasil, sabe?
-E daí? Isso não impede que
ela seja denunciada, impede?
-Impedir não impede, meu
filho... mas dificulta bastante as coisas.
-Eu já acho mais prudente que
tudo isso seja feito agora.
-Só me deixa inseguro saber
que ela, com o nome dela mesma, nunca teve uma única passagem pela
polícia.
-Bem... o Rafa tá chegando
com nossos pedidos... depois a gente fala melhor sobre isso.
CORTA A CENA.
CENA 9: Valentim chega ao
quarto da clínica particular onde Mateus está.
-E aí, morto-vivo! Tá se
sentindo muito morto ainda? - brinca Valentim.
Mateus ri.
-Muito morto não, meio morto
talvez! - fala Mateus, seguindo na brincadeira.
-Então, Mateus... essa
descontraída foi pra saber de uma coisa.
-Até já imagino o que seja,
Valentim...
-Pois então. Assim que você
receber a alta daqui algumas horas, você vem comigo para minha casa.
Questão de segurança, entende?
-Perfeito. Melhor assim.
-Mas antes disso ser feito, eu
queria saber exatamente o que você sabe sobre o “Chefe”.
Mateus gela. FIM DO CAPÍTULO
95.
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