CENA 1: Raquel permanece
atônita diante da foto do pai de Riva e Valquíria não entende
nada.
-O que há de errado com essa
foto, Raquel? Você ficou muda de repente...
-Você não faz ideia do que
isso tudo significa, dona Valquíria. E do quanto isso me ajuda a
compreender o ódio da Suzanne pela sua neta.
-Quem não tá entendendo nada
sou eu. O que tem o Frederico? Nem a Riva nunca quis saber desse pai
que ela nunca conheceu...
-O Frederico era meu falecido
marido, dona Valquíria. Pai da Suzanne. Você está começando a
entender agora o que isso significa?
-Por Deus! Suzanne e Riva são
irmãs!
-Exatamente. Percebe como tudo
passa a fazer mais sentido agora? Claro que ainda tem muita coisa que
falta ser explicada... eu sabia que o Frederico me traía de vez em
quando, afinal de contas ele era caminhoneiro, mas eu fingia não
ver. Não me importava realmente com nada disso. O que me intriga é
como a Suzanne ficou sabendo disso... e como ela ficou sabendo antes
de todo mundo que o pai dela teve uma filha fora do casamento. Ela
idolatrava esse pai... sempre defendia ele quando eu e ele
discutíamos pelos longos períodos que ele ficava longe, sempre a
trabalho.
-Eu tou sinceramente surpresa,
chocada, perplexa com isso tudo.
-Eu também estou, dona
Valquíria.
-Isso quer dizer então que
muito provavelmente a Suzanne soube da existência da Riva...
-Exatamente... mas como ela
chegou nisso? São muitas perguntas, entende? O fato é que ela quis
a vida que era da outra. Nós passamos por tempos muito difíceis,
dona Valquíria. Frederico morreu cedo, quando a Suzanne ainda tinha
doze anos. Foi adoecendo rápido... os médicos nunca souberam dizer
o que ele tinha.
-Eu não sabia que Frederico
tinha morrido... isso pra mim é uma novidade, Raquel. Tanto quanto
saber que a mulher a quem ele traía com minha filha era você.
-A Suzanne sempre foi muito
gananciosa. De repente resolveu procurar uma culpada pela morte do
pai, que parece ter sido a única pessoa que ela teve algum amor
nessa vida. Largou os estudos pela metade, só queria saber de subir
rápido na vida, tirar vantagem... mas mesmo assim, eu não percebia
que ela era uma aplicadora de golpes, criminosa... fui compreender
isso há pouco tempo.
-E onde que o Márcio entra
nisso?
-Foi logo depois da morte do
Frederico, dona Valquíria. Márcio apareceu de sopetão na nossa
casa, dei um teto a ele porque ele não tinha onde ficar. Tinha sido
expulso de casa pelos pais em Barra de São João e veio fugido pro
Rio com o pouco dinheiro que tinha guardado. Sempre tive muito apreço
por ele, como se fosse meu filho de verdade. Tive meus
desentendimentos com ele, sem saber que quem estava manipulando e
distorcendo as coisas era minha própria filha... mas te garanto que
ele sempre foi um bom homem, de coração generoso. Se acha esperto,
coitado... mas é ingênuo de uma forma que chega a ser comovente. É
um ser carente de amor e a Suzanne tirou o maior proveito possível
disso durante mais de vinte anos. Se não fosse ele, se não fosse a
denúncia que ele fez, não haveria nenhum inquérito aberto agora
para investigar a Suzanne. Muito obrigada, dona Valquíria... você
não sabe o quanto me ajudou com essas informações. Seu álbum de
recordações trouxe à tona verdades que poderão explicar melhor o
que aconteceu nesse passado que liga Suzanne a Riva, além do fato de
elas serem irmãs, para surpresa de todos nós...
Valquíria abraça Raquel.
CORTA A CENA.
CENA 2: Laura chega em casa e
conversa empolgada com Haroldo e Mateus.
-Gente, o Procópio tá
começando a escrever um texto que pretende transformar em peça
inspirado na nossa relação poliamorosa, não é o máximo? - fala
Laura.
-Nunca pensei que o Procópio
se inspiraria por nós. Mas tou adorando isso... - fala Mateus.
-Tou com o Mateus. Depois,
pelo que você diz, ele teve vários bloqueios criativos nos últimos
tempos... - fala Haroldo.
-Verdade... mas isso não é
tudo, amores... sabe quem ele quer no papel principal da peça,
quando ela estiver pronta? Euzinha aqui! - fala Laura, animada.
-Que ótimo, amor! Você
merece, depois de tanto tempo sem pegar papel nenhum lá na
companhia... - fala Haroldo.
-Só que tem mais uma coisinha
nisso tudo. Ele quer vocês participando dessa peça também. -
revela Laura.
-Já topei, Laura. Tava mesmo
precisando sentir esse frio na barriga de pisar no palco outra vez.
Sinto falta do teatro. - fala Mateus.
-Eu... sinceramente nem sei o
que dizer, gente... - fala Haroldo.
-Basta você dizer que entra
nessa com a gente! - fala Laura.
-Não é tão simples assim.
Eu nunca fui ator e morro de vergonha de pisar num palco. - fala
Haroldo.
-Não sei quantas vezes a
Laura insistiu pra você tentar vencer esses seus bloqueios... -
pontua Mateus.
-Tá vendo, amor? Até o
Mateus sabe que eu tentei te arrastar comigo. Você tem talento, só
não quis colocar nada disso pra funcionar ainda. - fala Laura.
-Não sei, amores... não sei
se encararia tudo isso. Eu sempre quis ser ator, mas ao mesmo tempo
morro de medo de tentar e descobrir que não passo de um aspirante
medíocre. - desabafa Haroldo.
-Vai ficar realmente difícil
se você permanecer assim, se nivelando sempre por baixo e minando a
própria autoestima... - fala Laura.
-Melhor a gente deixar esse
assunto pra outro momento, né? Não quero torta de climão entre
nós... - fala Mateus.
Os três seguem a conversar.
CORTA A CENA.
CENA 3: Valquíria desce com
Raquel à sala, onde estão Riva, Vicente, Marion, Ivan e Mariana.
-Queridos... a Raquel tem uma
revelação a fazer a vocês todos... isso vai esclarecer muita coisa
sobre a cisma da Suzanne com a Riva. - fala Valquíria.
-Me escutem com atenção, por
favor. - fala Raquel.
Todos ficam atentos a Raquel.
-Preciso que todos sejam
fortes, porque a verdade é um tanto dura e inesperada. Até eu
fiquei chocada. O fato é que o pai da Riva, o Frederico, que está
devidamente registrado no álbum de recordações da dona Valquíria,
é meu falecido marido. Isso significa que ele também é pai da
Suzanne. O resto, bem... vocês devem imaginar. - fala Raquel.
Riva fica perplexa.
-Eu não acredito! Devia ter
desconfiado antes! Isso tava debaixo dos nossos narizes o tempo
inteiro! Essa cisma dela comigo. Essa vontade de querer acabar com
minha vida de qualquer jeito, mesmo quando eu era uma adolescente
pobre, grávida do Márcio... tudo faz sentido agora! - conclui Riva.
-A Riva nunca fez questão de
saber nada sobre esse pai. Sempre reafirmou que a mãe Marinete era
tudo o que ela tinha... - fala Marion.
-Agora eu entendo porque... o
motivo que ela deu em cima de mim antes de eu me casar com a Riva, o
motivo que levou a Suzanne a mandar sequestrar nosso bebê Lúcio...
é inveja também. Não é só psicopatia... é despeito. Real desejo
de tirar tudo o que for da Riva e se apossar do que ela julga ser de
direito dela... - divaga Vicente.
-Não é pra tanto, Vicente...
pelo menos, acredito que não chegue a esse ponto. O fato é que
vivíamos uma vida muito pobre, quase miserável... essa situação
se agravou durante um tempo depois da morte do Frederico e só
passamos a ter mais condições porque eu passei a ser diarista lá
em Curicica, mesmo. Foram muitas as dificuldades, mas a Suzanne
sempre queria mais, mesmo depois que estabilizamos financeiramente de
novo. Em algum momento, não sei como, ela descobriu sobre você,
Riva... precisamos apurar isso, pra entender... - fala Raquel.
-Concordo que tudo isso deva
ser apurado. Até para aliviar um pouco nossa consciência de ter
permitido que essa mulher entrasse na nossa vida sem nem saber quem
ela realmente é. - fala Marion.
Todos seguem na conversa.
CORTA A CENA.
CENA 4: Haroldo decide retomar
o assunto com Mateus e Laura.
-Eu sei que você tinha pedido
pra gente mudar de assunto, Mateus... mas andei pensando nesses
minutos que passaram sobre o que foi falado antes... - fala Haroldo.
-Ai, Haroldo... se você for
continuar esse papo só para continuar enumerando as dificuldades e
impedimentos, pode esquecer. - fala Laura.
-Deixa eu falar, amor... na
verdade eu pensei bastante e resolvi aceitar o convite do Procópio.
Laura e Mateus comemoram e
abraçam Haroldo.
-Quer dizer que nosso namorado
vai finalmente se render à nossa arte! - vibra Mateus.
-É, meus amores... vocês
venceram. Acho que tudo nessa vida acontece por alguma razão e eu
resolvi não questionar muito. Se for pra se jogar nessa empreitada,
que seja de corpo inteiro! - fala Haroldo.
-Finalmente, amor! Eu sempre
soube que você nasceu pra isso. A arte transpira em você, no modo
como você enxerga a vida, as dificuldades, no modo como se expressa
com as palavras e até mesmo pelos gestos. Vai dar muito certo! -
vibra Laura.
-Se vai dar certo a gente não
sabe, mas que ver você enfrentar esse seu medo de subir ao palco
pela primeira vez na vida me deixa animado, ah... isso deixa! - fala
Mateus.
-E vocês são a minha
inspiração todos os dias, nunca esqueçam disso. Eu amo vocês com
todas as minhas forças! - fala Haroldo.
Laura e Mateus abraçam
Haroldo. CORTA A CENA.
CENA 5: Bruno conversa com
Cláudio sobre planos de irem para Coroados.
-O que você acha da gente já
ir amanhã, Cláudio?
-Pra onde? Coroados?
-Isso mesmo.
-Eu achei que ia ser mais
adiante, mais pro final da semana, mas se você quiser... eu digo
sim.
-Tá chegando o momento, amor.
Em algum momento da vida isso fatalmente aconteceria. Preciso perder
o medo de ferir os sentimentos dos meus pais, porque esconder tanta
coisa sobre mim machuca muito mais a mim do que a eles.
-Disso eu não tenho dúvida.
Mas que horas a gente sai daqui do Rio amanhã?
-Não precisa ser tão cedo
assim. Não é uma viagem curta de carro, mas também não é
extremamente longa.
-Menos mal, né...
-Vai ser tranquilo, amor.
-Você que não parece estar
tranquilo, Bruno.
-E não estou. Na verdade
estou uma pilha de nervos... num misto de ansiedade, expectativa e
saudade. Saudade dos meus velhos... sinto muito a falta deles. Mas
também fico ansioso. Não sei como vou agir diante deles.
-Que tal agir naturalmente? Já
é um começo, não é?
-Acontece que tem três anos
que estou aqui no Rio... não sei mais como eles esperam que eu aja.
-Talvez aí esteja seu erro,
amor... pensar no que eles esperam de você e não olhar para o que
você espera de si mesmo.
-Nossa, você largou a
faculdade, mas a alma de psicólogo não sai de você...
-Tenho minhas vantagens...
-Bobo. Te amo, viu?
-Também te amo. Relaxa,
amor... de uma forma ou de outra, vai dar tudo certo, confia nisso.
CORTA A CENA.
CENA 6: Poucas horas se passam
e Riva está conversando com Vicente.
-Não entendo essa sua
hesitação justo agora, Riva. Você já enfrentou aquela infeliz de
frente de tantas formas, deu aquela surra e tudo! Agora fica aí
pensando se deve ou não ir conversar com ela?
-Ai, Vicente... não é que
seja hesitação. É medo do que eu vou ouvir. Por mais que não seja
surpreendente descobrir que tenho o mesmo sangue que aquela maluca,
isso é no mínimo aterrador... saber que uma irmã faz isso com a
outra. Preciso pensar com calma em como vou confrontar ela.
-Mas você vai, não vai?
-Claro que vou. Eu sei onde
ela mora.
-Então por que não vai hoje
mesmo?
-Você não acha mais prudente
esperar até amanhã?
-Não vejo necessidade. Não é
tarde ainda. Isso pode ser feito ainda hoje.
-Nem me fala, Vicente... que
dia bem longo, esse. Parece que não termina nunca mais! E mal são
sete da noite...
-Eu acho que tem tempo pra dar
e vender ainda. Não tem nada que te impeça de ir hoje enfrentar a
fera. Eu vou com você e fico na sua retaguarda, se você quiser.
-Sendo assim eu vou. Você não
mostra a cara. Se entrarmos no quarto do apartamento, você pode
entrar. Qualquer coisa que precisar, você liga pra Raquel, tá?
-Ótimo, amor... eu sabia que
você decidiria pela coisa certa.
-Se isso vai nos responder
alguma coisa, só chegando lá pra saber... mas não custa tentar.
-Você vai agora?
-Não. Vou tomar um bom banho
antes. Sugiro que você faça o mesmio.
CORTA A CENA.
CENA 7: Marcelo e Rafael
caminham à beira-mar.
-Coisa maravilhosa, sentir
essa brisa... esse cheiro do mar... impressionante como aqui pode ser
tão diferente da capital... - divaga Marcelo.
-O que tou achando maravilhoso
nisso tudo é poder aproveitar esse tempo ao seu lado sem susto.
-Nem fala, Rafa... da outra
vez eu tava me coçando tanto que parecia que o universo tinha jogado
pó de mico em mim!
-É um bobo, mesmo! Felizmente
sua psoríase ficou sob controle.
-E graças a ela que eu
cheguei a conclusão de que Cláudio podia ser meu irmão e fomos
atrás de saber a verdade...
-A vida é mesmo uma coisa
muito louca. Como é que tanta coisa pode mudar em tão pouco tempo,
né?
-Verdade...
Os dois seguem andando
distraídos quando um grupo de pessoas os reconhece.
-Gente, olhem pra lá! São
eles! Rafael Alves e Marcelo Oliveira!
Rafael e Marcelo ficam
surpresos por serem reconhecidos na praia.
-É, Marcelo... parece que não
sou eu o único famoso aqui mais... - fala Rafael.
-Gente! Quando que eu fiquei
famoso que eu não me dei conta?
-Deve ser pela participação
na novela, pelo sucesso na internet...
Os dois cumprimentam os fãs,
que pedem autógrafos e os tratam com gentileza, pedindo para tirar
fotos. Logo depois, os fãs se afastam e Marcelo fica extasiado.
-Gente do céu! Isso realmente
tá acontecendo! Não dá pra acreditar, mas é bom sentir esse
carinho, essa energia gostosa das pessoas que gostam da gente de
graça, que sorriem por se sentirem de alguma forma representadas
pela gente... - divaga Marcelo.
-Parece que você foi mordido
pelo bichinho da arte da nossa família, hein...
-E eu achando que era exagero
seu. Essa sensação é muito boa!
Os dois seguem passeando pela
beira da praia. CORTA A CENA.
CENA 8: Haroldo e Mateus
preparam o ambiente para Laura gravar seu vídeo de introdução
sobre o tema poligamia.
-Vocês bem que podiam
participar comigo desse primeiro vídeo, não? - fala Laura.
-A gente vai participar nos
próximos, não vai, Haroldo? - fala Mateus.
-Claro que a gente vai. Mas o
canal é seu... depois, você tem uma excelente maneira de expressar
as ideias. Acho que é melhor que essa introdução seja feita por
você... depois a gente entra nisso... - fala Haroldo.
-Ainda assim vocês poderiam
aparecer mais no finalzinho do vídeo, não? Afinal de contas, se
vamos tratar de poliamor e relações poligâmicas num geral, acho
justo que vocês, que se relacionam comigo e entre si, participem
também. - continua Laura.
-Sim, querida... mas ainda
assim, a introdução é sua porque o canal é seu... - insiste
Mateus.
-Ai... tá certo. A gente vai
se aperfeiçoando sobre o tema com o tempo... - conforma-se Laura.
-Mateus, dá uma olhadinha pra
ver se o microfone tá recebendo bem o áudio? - pede Haroldo.
Mateus senta-se à frente do
computador, coloca os fones de ouvido e faz sinal de positivo.
-Perfeito. Agora eu vou ver
como tá a iluminação, se a câmera tá pegando bem... qualquer
coisa eu ajusto. - fala Haroldo.
Haroldo verifica os detalhes
finais e confirma que está tudo certo..
-Certo. Gravando! - anuncia
Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne está comendo
uma pizza quando sua campainha toca e ela suspira, irritada.
-Gente sem noção. Aposto que
é serviço de hotel. Já pedi tantas vezes pra não me incomodarem
depois das oito!
Suzanne vai até a porta e ao
abrir, se depara com Riva.
-Não precisa nem convidar pra
entrar que eu já faço isso muito bem sozinha. - fala Riva, entrando
no apartamento.
-O que cê tá fazendo aqui,
Riva? Resolveu acreditar em mim?
-Nada disso. Quanto a isso
pode ficar sossegada que eu não acredito em você. Só que eu já
sei de tudo: eu sei que nós somos irmãs.
Suzanne fica atônita. FIM DO
CAPÍTULO 110.
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