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terça-feira, 20 de setembro de 2016

CAPÍTULO 110

CENA 1: Raquel permanece atônita diante da foto do pai de Riva e Valquíria não entende nada.
-O que há de errado com essa foto, Raquel? Você ficou muda de repente...
-Você não faz ideia do que isso tudo significa, dona Valquíria. E do quanto isso me ajuda a compreender o ódio da Suzanne pela sua neta.
-Quem não tá entendendo nada sou eu. O que tem o Frederico? Nem a Riva nunca quis saber desse pai que ela nunca conheceu...
-O Frederico era meu falecido marido, dona Valquíria. Pai da Suzanne. Você está começando a entender agora o que isso significa?
-Por Deus! Suzanne e Riva são irmãs!
-Exatamente. Percebe como tudo passa a fazer mais sentido agora? Claro que ainda tem muita coisa que falta ser explicada... eu sabia que o Frederico me traía de vez em quando, afinal de contas ele era caminhoneiro, mas eu fingia não ver. Não me importava realmente com nada disso. O que me intriga é como a Suzanne ficou sabendo disso... e como ela ficou sabendo antes de todo mundo que o pai dela teve uma filha fora do casamento. Ela idolatrava esse pai... sempre defendia ele quando eu e ele discutíamos pelos longos períodos que ele ficava longe, sempre a trabalho.
-Eu tou sinceramente surpresa, chocada, perplexa com isso tudo.
-Eu também estou, dona Valquíria.
-Isso quer dizer então que muito provavelmente a Suzanne soube da existência da Riva...
-Exatamente... mas como ela chegou nisso? São muitas perguntas, entende? O fato é que ela quis a vida que era da outra. Nós passamos por tempos muito difíceis, dona Valquíria. Frederico morreu cedo, quando a Suzanne ainda tinha doze anos. Foi adoecendo rápido... os médicos nunca souberam dizer o que ele tinha.
-Eu não sabia que Frederico tinha morrido... isso pra mim é uma novidade, Raquel. Tanto quanto saber que a mulher a quem ele traía com minha filha era você.
-A Suzanne sempre foi muito gananciosa. De repente resolveu procurar uma culpada pela morte do pai, que parece ter sido a única pessoa que ela teve algum amor nessa vida. Largou os estudos pela metade, só queria saber de subir rápido na vida, tirar vantagem... mas mesmo assim, eu não percebia que ela era uma aplicadora de golpes, criminosa... fui compreender isso há pouco tempo.
-E onde que o Márcio entra nisso?
-Foi logo depois da morte do Frederico, dona Valquíria. Márcio apareceu de sopetão na nossa casa, dei um teto a ele porque ele não tinha onde ficar. Tinha sido expulso de casa pelos pais em Barra de São João e veio fugido pro Rio com o pouco dinheiro que tinha guardado. Sempre tive muito apreço por ele, como se fosse meu filho de verdade. Tive meus desentendimentos com ele, sem saber que quem estava manipulando e distorcendo as coisas era minha própria filha... mas te garanto que ele sempre foi um bom homem, de coração generoso. Se acha esperto, coitado... mas é ingênuo de uma forma que chega a ser comovente. É um ser carente de amor e a Suzanne tirou o maior proveito possível disso durante mais de vinte anos. Se não fosse ele, se não fosse a denúncia que ele fez, não haveria nenhum inquérito aberto agora para investigar a Suzanne. Muito obrigada, dona Valquíria... você não sabe o quanto me ajudou com essas informações. Seu álbum de recordações trouxe à tona verdades que poderão explicar melhor o que aconteceu nesse passado que liga Suzanne a Riva, além do fato de elas serem irmãs, para surpresa de todos nós...
Valquíria abraça Raquel. CORTA A CENA.

CENA 2: Laura chega em casa e conversa empolgada com Haroldo e Mateus.
-Gente, o Procópio tá começando a escrever um texto que pretende transformar em peça inspirado na nossa relação poliamorosa, não é o máximo? - fala Laura.
-Nunca pensei que o Procópio se inspiraria por nós. Mas tou adorando isso... - fala Mateus.
-Tou com o Mateus. Depois, pelo que você diz, ele teve vários bloqueios criativos nos últimos tempos... - fala Haroldo.
-Verdade... mas isso não é tudo, amores... sabe quem ele quer no papel principal da peça, quando ela estiver pronta? Euzinha aqui! - fala Laura, animada.
-Que ótimo, amor! Você merece, depois de tanto tempo sem pegar papel nenhum lá na companhia... - fala Haroldo.
-Só que tem mais uma coisinha nisso tudo. Ele quer vocês participando dessa peça também. - revela Laura.
-Já topei, Laura. Tava mesmo precisando sentir esse frio na barriga de pisar no palco outra vez. Sinto falta do teatro. - fala Mateus.
-Eu... sinceramente nem sei o que dizer, gente... - fala Haroldo.
-Basta você dizer que entra nessa com a gente! - fala Laura.
-Não é tão simples assim. Eu nunca fui ator e morro de vergonha de pisar num palco. - fala Haroldo.
-Não sei quantas vezes a Laura insistiu pra você tentar vencer esses seus bloqueios... - pontua Mateus.
-Tá vendo, amor? Até o Mateus sabe que eu tentei te arrastar comigo. Você tem talento, só não quis colocar nada disso pra funcionar ainda. - fala Laura.
-Não sei, amores... não sei se encararia tudo isso. Eu sempre quis ser ator, mas ao mesmo tempo morro de medo de tentar e descobrir que não passo de um aspirante medíocre. - desabafa Haroldo.
-Vai ficar realmente difícil se você permanecer assim, se nivelando sempre por baixo e minando a própria autoestima... - fala Laura.
-Melhor a gente deixar esse assunto pra outro momento, né? Não quero torta de climão entre nós... - fala Mateus.
Os três seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 3: Valquíria desce com Raquel à sala, onde estão Riva, Vicente, Marion, Ivan e Mariana.
-Queridos... a Raquel tem uma revelação a fazer a vocês todos... isso vai esclarecer muita coisa sobre a cisma da Suzanne com a Riva. - fala Valquíria.
-Me escutem com atenção, por favor. - fala Raquel.
Todos ficam atentos a Raquel.
-Preciso que todos sejam fortes, porque a verdade é um tanto dura e inesperada. Até eu fiquei chocada. O fato é que o pai da Riva, o Frederico, que está devidamente registrado no álbum de recordações da dona Valquíria, é meu falecido marido. Isso significa que ele também é pai da Suzanne. O resto, bem... vocês devem imaginar. - fala Raquel.
Riva fica perplexa.
-Eu não acredito! Devia ter desconfiado antes! Isso tava debaixo dos nossos narizes o tempo inteiro! Essa cisma dela comigo. Essa vontade de querer acabar com minha vida de qualquer jeito, mesmo quando eu era uma adolescente pobre, grávida do Márcio... tudo faz sentido agora! - conclui Riva.
-A Riva nunca fez questão de saber nada sobre esse pai. Sempre reafirmou que a mãe Marinete era tudo o que ela tinha... - fala Marion.
-Agora eu entendo porque... o motivo que ela deu em cima de mim antes de eu me casar com a Riva, o motivo que levou a Suzanne a mandar sequestrar nosso bebê Lúcio... é inveja também. Não é só psicopatia... é despeito. Real desejo de tirar tudo o que for da Riva e se apossar do que ela julga ser de direito dela... - divaga Vicente.
-Não é pra tanto, Vicente... pelo menos, acredito que não chegue a esse ponto. O fato é que vivíamos uma vida muito pobre, quase miserável... essa situação se agravou durante um tempo depois da morte do Frederico e só passamos a ter mais condições porque eu passei a ser diarista lá em Curicica, mesmo. Foram muitas as dificuldades, mas a Suzanne sempre queria mais, mesmo depois que estabilizamos financeiramente de novo. Em algum momento, não sei como, ela descobriu sobre você, Riva... precisamos apurar isso, pra entender... - fala Raquel.
-Concordo que tudo isso deva ser apurado. Até para aliviar um pouco nossa consciência de ter permitido que essa mulher entrasse na nossa vida sem nem saber quem ela realmente é. - fala Marion.
Todos seguem na conversa. CORTA A CENA.

CENA 4: Haroldo decide retomar o assunto com Mateus e Laura.
-Eu sei que você tinha pedido pra gente mudar de assunto, Mateus... mas andei pensando nesses minutos que passaram sobre o que foi falado antes... - fala Haroldo.
-Ai, Haroldo... se você for continuar esse papo só para continuar enumerando as dificuldades e impedimentos, pode esquecer. - fala Laura.
-Deixa eu falar, amor... na verdade eu pensei bastante e resolvi aceitar o convite do Procópio.
Laura e Mateus comemoram e abraçam Haroldo.
-Quer dizer que nosso namorado vai finalmente se render à nossa arte! - vibra Mateus.
-É, meus amores... vocês venceram. Acho que tudo nessa vida acontece por alguma razão e eu resolvi não questionar muito. Se for pra se jogar nessa empreitada, que seja de corpo inteiro! - fala Haroldo.
-Finalmente, amor! Eu sempre soube que você nasceu pra isso. A arte transpira em você, no modo como você enxerga a vida, as dificuldades, no modo como se expressa com as palavras e até mesmo pelos gestos. Vai dar muito certo! - vibra Laura.
-Se vai dar certo a gente não sabe, mas que ver você enfrentar esse seu medo de subir ao palco pela primeira vez na vida me deixa animado, ah... isso deixa! - fala Mateus.
-E vocês são a minha inspiração todos os dias, nunca esqueçam disso. Eu amo vocês com todas as minhas forças! - fala Haroldo.
Laura e Mateus abraçam Haroldo. CORTA A CENA.

CENA 5: Bruno conversa com Cláudio sobre planos de irem para Coroados.
-O que você acha da gente já ir amanhã, Cláudio?
-Pra onde? Coroados?
-Isso mesmo.
-Eu achei que ia ser mais adiante, mais pro final da semana, mas se você quiser... eu digo sim.
-Tá chegando o momento, amor. Em algum momento da vida isso fatalmente aconteceria. Preciso perder o medo de ferir os sentimentos dos meus pais, porque esconder tanta coisa sobre mim machuca muito mais a mim do que a eles.
-Disso eu não tenho dúvida. Mas que horas a gente sai daqui do Rio amanhã?
-Não precisa ser tão cedo assim. Não é uma viagem curta de carro, mas também não é extremamente longa.
-Menos mal, né...
-Vai ser tranquilo, amor.
-Você que não parece estar tranquilo, Bruno.
-E não estou. Na verdade estou uma pilha de nervos... num misto de ansiedade, expectativa e saudade. Saudade dos meus velhos... sinto muito a falta deles. Mas também fico ansioso. Não sei como vou agir diante deles.
-Que tal agir naturalmente? Já é um começo, não é?
-Acontece que tem três anos que estou aqui no Rio... não sei mais como eles esperam que eu aja.
-Talvez aí esteja seu erro, amor... pensar no que eles esperam de você e não olhar para o que você espera de si mesmo.
-Nossa, você largou a faculdade, mas a alma de psicólogo não sai de você...
-Tenho minhas vantagens...
-Bobo. Te amo, viu?
-Também te amo. Relaxa, amor... de uma forma ou de outra, vai dar tudo certo, confia nisso.
CORTA A CENA.

CENA 6: Poucas horas se passam e Riva está conversando com Vicente.
-Não entendo essa sua hesitação justo agora, Riva. Você já enfrentou aquela infeliz de frente de tantas formas, deu aquela surra e tudo! Agora fica aí pensando se deve ou não ir conversar com ela?
-Ai, Vicente... não é que seja hesitação. É medo do que eu vou ouvir. Por mais que não seja surpreendente descobrir que tenho o mesmo sangue que aquela maluca, isso é no mínimo aterrador... saber que uma irmã faz isso com a outra. Preciso pensar com calma em como vou confrontar ela.
-Mas você vai, não vai?
-Claro que vou. Eu sei onde ela mora.
-Então por que não vai hoje mesmo?
-Você não acha mais prudente esperar até amanhã?
-Não vejo necessidade. Não é tarde ainda. Isso pode ser feito ainda hoje.
-Nem me fala, Vicente... que dia bem longo, esse. Parece que não termina nunca mais! E mal são sete da noite...
-Eu acho que tem tempo pra dar e vender ainda. Não tem nada que te impeça de ir hoje enfrentar a fera. Eu vou com você e fico na sua retaguarda, se você quiser.
-Sendo assim eu vou. Você não mostra a cara. Se entrarmos no quarto do apartamento, você pode entrar. Qualquer coisa que precisar, você liga pra Raquel, tá?
-Ótimo, amor... eu sabia que você decidiria pela coisa certa.
-Se isso vai nos responder alguma coisa, só chegando lá pra saber... mas não custa tentar.
-Você vai agora?
-Não. Vou tomar um bom banho antes. Sugiro que você faça o mesmio.
CORTA A CENA.

CENA 7: Marcelo e Rafael caminham à beira-mar.
-Coisa maravilhosa, sentir essa brisa... esse cheiro do mar... impressionante como aqui pode ser tão diferente da capital... - divaga Marcelo.
-O que tou achando maravilhoso nisso tudo é poder aproveitar esse tempo ao seu lado sem susto.
-Nem fala, Rafa... da outra vez eu tava me coçando tanto que parecia que o universo tinha jogado pó de mico em mim!
-É um bobo, mesmo! Felizmente sua psoríase ficou sob controle.
-E graças a ela que eu cheguei a conclusão de que Cláudio podia ser meu irmão e fomos atrás de saber a verdade...
-A vida é mesmo uma coisa muito louca. Como é que tanta coisa pode mudar em tão pouco tempo, né?
-Verdade...
Os dois seguem andando distraídos quando um grupo de pessoas os reconhece.
-Gente, olhem pra lá! São eles! Rafael Alves e Marcelo Oliveira!
Rafael e Marcelo ficam surpresos por serem reconhecidos na praia.
-É, Marcelo... parece que não sou eu o único famoso aqui mais... - fala Rafael.
-Gente! Quando que eu fiquei famoso que eu não me dei conta?
-Deve ser pela participação na novela, pelo sucesso na internet...
Os dois cumprimentam os fãs, que pedem autógrafos e os tratam com gentileza, pedindo para tirar fotos. Logo depois, os fãs se afastam e Marcelo fica extasiado.
-Gente do céu! Isso realmente tá acontecendo! Não dá pra acreditar, mas é bom sentir esse carinho, essa energia gostosa das pessoas que gostam da gente de graça, que sorriem por se sentirem de alguma forma representadas pela gente... - divaga Marcelo.
-Parece que você foi mordido pelo bichinho da arte da nossa família, hein...
-E eu achando que era exagero seu. Essa sensação é muito boa!
Os dois seguem passeando pela beira da praia. CORTA A CENA.

CENA 8: Haroldo e Mateus preparam o ambiente para Laura gravar seu vídeo de introdução sobre o tema poligamia.
-Vocês bem que podiam participar comigo desse primeiro vídeo, não? - fala Laura.
-A gente vai participar nos próximos, não vai, Haroldo? - fala Mateus.
-Claro que a gente vai. Mas o canal é seu... depois, você tem uma excelente maneira de expressar as ideias. Acho que é melhor que essa introdução seja feita por você... depois a gente entra nisso... - fala Haroldo.
-Ainda assim vocês poderiam aparecer mais no finalzinho do vídeo, não? Afinal de contas, se vamos tratar de poliamor e relações poligâmicas num geral, acho justo que vocês, que se relacionam comigo e entre si, participem também. - continua Laura.
-Sim, querida... mas ainda assim, a introdução é sua porque o canal é seu... - insiste Mateus.
-Ai... tá certo. A gente vai se aperfeiçoando sobre o tema com o tempo... - conforma-se Laura.
-Mateus, dá uma olhadinha pra ver se o microfone tá recebendo bem o áudio? - pede Haroldo.
Mateus senta-se à frente do computador, coloca os fones de ouvido e faz sinal de positivo.
-Perfeito. Agora eu vou ver como tá a iluminação, se a câmera tá pegando bem... qualquer coisa eu ajusto. - fala Haroldo.
Haroldo verifica os detalhes finais e confirma que está tudo certo..
-Certo. Gravando! - anuncia Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne está comendo uma pizza quando sua campainha toca e ela suspira, irritada.
-Gente sem noção. Aposto que é serviço de hotel. Já pedi tantas vezes pra não me incomodarem depois das oito!
Suzanne vai até a porta e ao abrir, se depara com Riva.
-Não precisa nem convidar pra entrar que eu já faço isso muito bem sozinha. - fala Riva, entrando no apartamento.
-O que cê tá fazendo aqui, Riva? Resolveu acreditar em mim?
-Nada disso. Quanto a isso pode ficar sossegada que eu não acredito em você. Só que eu já sei de tudo: eu sei que nós somos irmãs.
Suzanne fica atônita. FIM DO CAPÍTULO 110.

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