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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

CAPÍTULO 118

CENA 1: Marcelo e Rafael se animam.
-Peraí... isso significa que todos vocês estão se desligando da emissora? Foi isso mesmo que eu entendi? - questiona Marcelo.
-Eu já estava desligada, meu bisneto... meu contrato era por obra e acabou no dia que terminou a novela... - fala Valquíria.
-Eu tenho contrato de longa duração, mas estou disposta a pagar a multa rescisória. - afirma Marion.
-O mesmo se aplica a mim. Vai ser uma multa alta? Vai, mas nem de perto vai deixar a gente quebrado... - fala Vicente.
-Eu não tinha pensado nisso, gente... mas meu contrato também é de longa duração... vai ser uma multa e tanto, mas... ando tão desgostoso com o rumo que a emissora anda tomando que pago o dinheiro que for preciso pra me desligar dela... - fala Rafael.
-Que sorte, a minha... no final eu fico de boas, que nem a bisa... - fala Marcelo.
-Eu é que vou encontrar problemas, acho... - fala Riva.
-Ah, gente... nós temos tudo para nos sairmos super bem dessa. Não digo nem que vai ser volta por cima porque a gente sequer vai afundar. Na verdade... eu vim amadurecendo uma ideia faz algum tempo e ela voltou a martelar na minha cabeça depois da conversa de mais cedo... - fala Vicente.
-E que ideia é essa que você faz tanto mistério e nem contou pra mim ainda? - pergunta Riva.
-Pois agora vou contar a todos vocês: na realidade, é um sonho antigo. Como vocês sabem, sempre me interessei por esse universo de entretenimento, de fazer televisão, dirigir, produzir... como a internet anda crescendo vertiginosamente nos últimos tempos, principalmente depois da popularização dos serviços de streaming, é meio notório que as emissoras da velha mídia estão sofrendo uma espécie de derretimento na audiência, o que é um processo natural, diga-se de passagem... assim foi quando a própria TV surgiu e passou a ameaçar o império do rádio. Os grandes empresários, donos de verdadeiros impérios e ligados à ultra direita quase que via de regra, fizeram de tudo para boicotar a TV. Por outro lado, a própria chegada da TV aqui no Brasil, como vocês sabem, foi uma ação visionária e muito bem paga pelo Assis Chateaubriand, que era um sujeito milionário. A TV, nos seus primórdios, começou por um capricho, aqui nesse país. Só que com a internet esse caminho foi completamente diferente... embora seja algo que existe há décadas e décadas, a popularização se mostrou democrática e espontânea, reflexo do crescimento num geral, do aumento do poder de aquisição das camadas da sociedade que eram, até então, excluídas. Bem... desculpem por falar esse monte de coisa pra explicar, mas tudo isso foi pra deixar bem claro qual é meu projeto: eu quero abrir uma produtora independente de conteúdo dramatúrgico. Pode ser aqui no terreno da nossa casa mesmo, já que ele é gigantesco e há um imenso espaço inutilizado. Penso num pequeno complexo de estúdios. Sem concessão pública, sem nada disso: o investimento inicial sai dos nossos bolsos... a gente vai produzindo na medida do possível, esperando que a coisa dê certo. - explica Vicente.
Todos se empolgam com a ideia.
-É brilhante isso, amor! - vibra Riva.
-Sempre confiei no potencial do meu grande amigo! - afirma Marion.
-E eu tou super empolgado com isso, Vicente! Seria um sonho produzirmos conteúdo dramatúrgico sem passar por censura nenhuma! - fala Rafael.
Todos seguem conversando sobre a ideia de Vicente. CORTA A CENA.

CENA 2: Márcio chega em casa junto com Raquel e ela o recebe com um abraço.
-Nossa, pensei que não morava mais nessa casa. Me fala, meu filho... foi bom passar esses dois dias lá no meu neto?
-Maravilhoso e emocionante. Ele me chamou de pai pela primeira vez, acredita? Todo cheio de amor, me pergunto se mereço tudo isso.
-Claro que merece, meu querido. Merece todo o amor do mundo. E espero muito que você encontre uma mulher boa pra você, que te faça esquecer de uma vez por todas da Suzanne.
-Queria ter essa certeza, mas vou ser sincero com você, mãezinha... acho que nunca vou encontrar uma mulher que me encante. Já desisti disso.
-Você tá moço ainda, querido. Entrando recém nos quarenta... tem uma vida linda pela frente. Não é justo você se privar de amar dessa maneira.
-Vai por mim, dona Raquel... todo o amor que existe dentro de mim já se concentra pelos meus filhos e pela Suzanne. Os meus filhos eu posso amar sem sofrer, já a sua filha...
-Não é justo com você isso, Márcio. Definitivamente não é. Você sempre foi uma pessoa boa, de bom coração. Eu sempre enxerguei isso, mesmo quando todos duvidaram de você.
-E eu vou ser eternamente grato por isso... de verdade. Eu não sei até onde vai minha capacidade de amar, mas eu sinceramente não estou interessado em encontrar alguém.
-Pois deveria estar, meu filho... eu vejo estampado no seu rosto que você sofre por causa disso...
-Eu escolhi esse sofrimento quando aceitei me deixar envolver pela Suzanne.
-Continuo a te dizer que nada disso é justo com você mesmo. Você não pode passar a vida inteira se maltratando por um amor fadado ao fracasso. Você amou e isso basta.
-E ainda amo. Não tenha dúvidas disso.
-Mas esse amor não te faz bem, meu querido. Amor só é bom se nos fizer sorrir...
-Independente do que a Suzanne é... eu não sei deixar de amá-la.
-Isso é amor incondicional. Viva com esse sentimento se quiser, meu filho. Mas não permita que esse sentimento seja qualquer coisa maior do que sua própria dimensão, tá me ouvindo? Você pode escolher não sofrer, se não quiser mais sofrer. Quando o amor é amor, o simples fato de amar já basta. Lembre-se disso, tá? E não se esqueça de amar a si mesmo em primeiro lugar.
-Eu tento, dona Raquel... mas ainda é tão difícil, sabe?
-Ninguém disse que a vida era fácil... não é para amadores. Mas você já provou que é forte. Cedo ou tarde, vai superar tudo isso.
-O seu otimismo me contagia, mãezinha...
-E é pra contagiar, mesmo. Onde já se viu um homem bonito desses sofrendo por causa de uma mulher que não vale nada? Dá cá um abraço, vai!
Márcio abraça Raquel. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Mara acorda e estranha ver Valentim acordado antes dela, tomando uma caneca de café e pensativo na sala.
-Nunca te vi se levantar antes de mim, querido... e com essa cara de quem tá pensando na morte da bezerra, posso apostar cem reais que você tá com alguma coisa martelando forte na sua cabeça...
-E tou, Mara... eu me acordei com esse pensamento. Na realidade, mal dormi. Eram umas quatro da manhã quando eu comecei a pensar nisso...
-Do que se trata, Valentim?
-Fiquei pensando sobre a fuga do Guilherme.
-Depois sou eu que insisto nesse assunto. Tá vendo como eu tinha razão? Só não peço palmas porque eu mereço o Tocantins inteiro...
-Sem gracinha, sagitariana piadista. Eu tou começando a crer que ele tenha deixado o país.
-Baseado no que você acredita nisso? Porque olha, por mais que eu seja uma excelente observadora por cacoete profissional, o psiquiatra aqui ainda é você, então pode falar que eu quero entender suas teorias...
-Bem, querida... não são exatamente teorias. São observações do padrão comportamental dele. O Alceu me passou algumas informações há algum tempo.
-E do que se trata essas informações?
-Basicamente falam sobre o comportamento escapista do Guilherme.
-Até aí, novidade nenhuma... a negação da realidade é meio comum em vários momentos na vida de um esquizofrênico, não?
-Não é só isso, Mara... o Alceu relatou que, durante alguns surtos, Guilherme inventava novas realidades.
-E numa dessas ele poderia tomar a decisão de se mandar e recomeçar a vida... é isso?
-Exatamente.
-Espero mesmo que você esteja certo. Vai ser melhor pra todos. Agora quer fazer o favor de me acompanhar no café da manhã?
Valentim se diverte com Mara. CORTA A CENA.

CENA 4: Suzanne é acordada pela campainha tocando.
-Mas que merda! Se for alguém daquela família chata de comercial de margarina eu juro que meto a mão na cara e ainda chamo a segurança! - esbraveja Suzanne, vestindo um robe e indo à porta.
Ao abrir a porta, depara-se com um homem.
-Bom dia. Quem é você? - pergunta Suzanne.
-Sou Gustavo Marcolino, oficial de justiça. - fala o homem.
-Ih, lá vem bomba. Qual é a bronca, Gustavo?
-Você está sendo intimada a comparecer na delegacia para prestar esclarecimentos ao delegado às dezesseis horas. Aqui na intimação estão todas as informações que você precisa saber. É sobre suas contas no exterior, dona Suzanne. Esteja na delegacia pontualmente às dezesseis horas, pois caso contrário você será conduzida coercitivamente. - fala Gustavo.
-Não precisa se preocupar... Gustavo é seu nome, né?
-Isso.
-Fique sossegado. Não sou mulher de fugir da raia. Estarei lá antes mesmo da hora marcada. Passar bem, rapaz.
Suzanne fecha a porta e fica apreensiva. CORTA A CENA.

CENA 5: Antes de saírem para ensaiar, Laura, Mateus e Haroldo acertam os últimos detalhes para a gravação de um novo vídeo, dessa vez com a participação dos três e não somente de Laura, para o canal dela.
-Tá tudo ok, meninos? - pergunta Laura.
-Quase lá, amor. Mateus, senta ao lado dela que eu sento do outro lado e confiro aqui depois se o enquadramento pegou todo mundo... - fala Haroldo.
Mateus se senta de um lado e Haroldo do outro. Rapidamente Haroldo confere que está tudo certo.
-Então é isso, queridos... gravando! Depois a gente edita isso tudo aqui. Prontos? - fala Haroldo.
Laura começa a falar.
-Oi galerinha do bem! Espero que não tenham sentido muita saudade de mim. Prometo que vou levar menos tempo pro próximo vídeo. Como vocês podem ver, hoje ao meu lado estão Mateus e Haroldo, os homens da minha dúvida. Assim, não que vocês precisem ser apresentados a Mateus Viveiros, mas na dúvida... - fala Laura, descontraída.
-Pois é, pessoal! Vocês me conhecem da TV e aqui estou eu falando abertamente sobre o relacionamento que tenho com Laura e Haroldo. Sim, eu namoro os dois! - afirma Mateus, se sentindo à vontade.
-E eu sou o Haroldo, a outra ponta desse triângulo. Amo esses dois de um jeito que nem vale a pena tentar comparar. É algo indescritível. Pra quem não sabe, sou o filho mais velho de Ivan Bittencourt e, consequentemente, irmão de Rafael Alves. - fala Haroldo.
-Bem, feita essa apresentação dos amores da minha vida, queria falar sobre um outro amor que está surgindo nas nossas vidas. Antes que vocês, safadinhos, pensem que tem mais alguém com a gente, se engana: eu descobri recentemente que estou grávida. Isso mesmo, galerinha do bem! Vou ser mãe! Porém, é importante a gente falar sobre a legalização do aborto: não é porque eu decidi levar essa gravidez adiante que me torno contrária à legalização. Como bem sabemos, a legalização é uma questão urgente e de saúde pública...
Laura segue falando. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Márcio liga para Cláudio.
-Que surpresa você me ligar! Tudo bem com você, pai?
-Tudo indo, né filho... eu sei que você não gosta que eu fale na Su...
-Nem continua, por favor. A única coisa que aquela mulher fez por mim foi me colocar nesse mundo e eu não quero falar sobre ela.
-Tá certo. Liguei pra saber como estão as coisas por aí, como vai a sua sogra.
-Graças a Deus a dona Vânia não teve mais nenhuma crise renal das bravas. Mas mesmo assim estamos procurando uma maneira de colocá-la na diálise novamente, mas essa mulher é teimosa...
Vânia escuta Cláudio.
-Ei! Eu ouvi isso, meu genro! Sou teimosa mesmo, sou teimosa pra caramba! - grita Vânia.
-Tá vendo? Mas é esse humor que você pode ver pessoalmente. Uma delícia de se ter por perto.
-Sabe, filho... queria saber se você me perdoou de coração por tudo...
-Estou aprendendo a lidar com tudo, pai. Eu não tenho o que perdoar. Nós dois fomos vítimas esse tempo todo. Você pela sua omissão causada pelo amor cego e eu por ter sido abandonado. Mas águas passadas não movem moinhos.
-Verdade, Cláudio...
-Bem, eu vou precisar desligar agora que eu acho que a máquina de lavar tá com problema. A gente vai se falando, pai. Beijo!
-Te amo, filho.
-Eu também, pai.
CORTA A CENA.

CENA 7: O delegado ouve Suzanne depor e depois de alguns instantes, faz as últimas perguntas.
-Então está certo, dona Suzanne. Até o momento não chegamos a nada que te incrimine de fato. - diz o delegado.
-Eu estou dizendo a verdade, delegado. Minhas contas no exterior, a maior partes dela na Suíça, são inteiramente legais. Não tem nada de ilícito porque elas sempre foram declaradas.
-De fato, Suzanne. Desde que foi inciada a investigação, pudemos averiguar que a procedência dessas contas aparentemente é legal.
-Não teria motivos pra não ser. Assim como eu não teria motivos para mentir para um homem bonito como você...
-Por favor, dona Suzanne, contenha-se. Estou trabalhando.
-Tá bem, seu delegado... era só um elogio, não precisa ficar ofendido.
-Prossigamos... bem, apesar de nada apontar para algo de ilícito, o inquérito não será fechado. Você permanecerá a ser investigada.
-E as minhas contas bancárias?
-Uma vez provado até segunda ordem que não há nada de ilegal, suas contas bancárias serão desbloqueadas.
-Menos mal. E o meu passaporte?
-Esse continuará retido. Você não tem permissão para deixar o território nacional.
CORTA A CENA.

CENA 8: No consultório de Valentim, Mara conversa com ele sobre Guilherme.
-Eu sei que você tem seus motivos para acreditar que o Guilherme foi pra longe, mas...
-Mas o que, Mara?
-Eu não sei se ele realmente teria feito isso. Talvez você esteja subestimando a inteligência dele.
-De forma alguma. Eu sei que ele é extremamente articulado e inteligente. Dissimulado também.
-Justamente, querido... você mesmo admite tudo isso. Você não acha que ele pode estar preparando o bote? Desculpa falar, mas acho que esse silêncio nos dá mais motivos pra preocupação do que qualquer outra coisa.
-O pior é que você pode estar certa. Mas vamos tentar ser otimistas.
-Ninguém nessa vida é mais otimista que eu. Só que otimismo não combina com nossa profissão e muito menos vai mudar o caráter de um bandido.
-Eu sei de tudo isso, Mara... me expressei mal. Você sabe que eu não seria imprudente.
-Mas está a um passo de ser, se mantiver as coisas imóveis como estão. E a proteção pros meninos, que ainda não foi solicitada?
-Eu vou providenciar isso, querida... fique sossegada.
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas mais tarde, a imprensa chega à mansão dos Bittencourt, convocada por Marion.
-Vem por aqui, queridos... no salão de habitualmente. - indica Marion.
Os jornalistas, repórteres e fotógrafos se acomodam no salão de festas da mansão. Marion começa a falar.
-Bem... já que todos já estão aqui presentes, eu gostaria de fazer um comunicado importante. Aliás, não somente eu, como meu filho Rafael, meu amigo Vicente, minha sobrinha Riva e minha mãe Valquíria. - fala Marion.
-E sobre o que seria esse comunicado? - pergunta uma jornalista.
-Circulam rumores de que você, Marion, anda estremecida com o pessoal da emissora. É verdade? - pergunta outro jornalista.
-Não passam de boatos. Sempre tive uma boa relação com todo o pessoal. No entanto, chamei vocês aqui hoje para comunicar que nós todos estamos nos desligando da emissora.
Cria-se um burburinho entre a imprensa. FIM DO CAPÍTULO 118.

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