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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

CAPÍTULO 106

CENA 1: Suzanne se vê surpreendida pela ação de Riva, que lhe dá mais tapas.
-Mas o que é isso, Riva? Ficou louca? Sou eu, a Suzanne!
Riva dá um soco em Suzanne e a derruba ao chão.
-Tou louca sim! Tou muito louca! Louca de raiva, de vontade de te matar, de acabar com a sua raça!
Suzanne tenta se defender, mas Riva a imobiliza, furiosa.
-Eu vou gritar, sua louca!
-Pode gritar que ninguém vai te ouvir, miserável! Ladra! Golpista! Psicopata!
-Isso tudo deve ser um engano, Riva.
Riva se enfurece.
-Engano? Deixa eu esfregar esse engano na sua cara então. Tá vendo essa gargantilha? Ela é minha!
-Você tá ficando maluca, Riva.
Riva perde a paciência e abre o botão da gargantilha. Suzanne se surpreende.
-Eu não sabia que isso abria...
-Claro que não sabia, porque essa gargantilha é de ouro e é minha! Olha bem pra essa foto, mas olha com vontade. Sabe quem é essa mulher na foto? Minha mãe! Minha falecida mãe! Aposto que você não sabia disso, sabia? Ela me deu essa gargantilha quando morreu em noventa e dois. Era a única lembrança que eu tinha da minha mãe e você mandou o Márcio roubar essa gargantilha de mim!
Riva começa a chorar por ter resgatado sua gargantilha e Suzanne aproveita o momento de distração e fragilidade para fugir do banheiro. Porém, ao tentar abrir as portas, percebe que estão trancadas.
-Desiste, Suzanne. A gente tá trancada aqui dentro.
-Quem é que tá por trás disso? O Márcio? Eu sabia, aquele traidor!
-Traidor? Um homem que você destruiu durante anos resolve fazer a coisa certa e você chama ele de traidor? Você é uma vadia, Suzanne! Abandonou o próprio filho, o Cláudio!
-Aquele desgraçado me paga!
-Quem me paga é você, sua falsiane!
Riva avança para cima de Suzanne, que tenta se defender, mas acaba ficando novamente imobilizada. Riva começa a dar uma surra em Suzanne.
-Desgraçada! Vadia! Falsiane! Psicopata! Você pensou que ia destruir a minha vida? Pois quem vai te destruir sou eu!
Riva segue dando socos e tapas em Suzanne, que tenta se defender.
-Eu não tive culpa, Riva! Eu realmente fui sua amiga!
-Você não é amiga de ninguém, nem de si mesma, infeliz!
-Me deixa sair daqui!
-Sem chance, Suzanne. Você tá encurralada. Só vou parar quando eu quiser!
Riva segue batendo em Suzanne, que começa a perder as forças.
-Bem... acho que o serviço tá completo. Não chora muito, tá, flor? Não chora senão borra a maquiagem que eu fiz em você. Aliás, tá linda, viu? Toda trabalhada no roxo, super tendência, elegância a todo vapor! - ironiza Riva.
Riva bate na porta do banheiro.
-Tá liberado. A vadia tá no chão! - grita Riva, tendo a porta aberta. Marion entra.
-Menina do céu! Vamos retocar essa maquiagem agora, Riva! Cê tá toda suada! - fala Marion.
Suzanne geme de dor no chão do banheiro, sendo ignorada por Marion e Riva. CORTA A CENA.

CENA 2: Assim que termina de se maquiar, Riva volta triunfante ao lado de Marion para a festa e Vicente nota a gargantilha no pescoço de Riva.
-Tou vendo que a gargantilha você conseguiu de volta... o que aconteceu lá, amor?
-Acho que a Suzanne tem uma nova maquiagem... em tons de roxo e sangue!
-Não acredito! Você deu mesmo a surra que disse que ia dar nela?
-E você acha que eu ia perder essa oportunidade, Vicente? Com a minha avó cuidando do nosso filho lá em casa, eu fiz o que eu quis! Desmontei com a cara da falsiane.
-E onde ela está agora?
-Ficou lá, humilhada... jogada no chão do banheiro. Acho que bati um bocado nela, viu? Porque a “pobrezinha” tava gemendo de dor... fiquei morrendo de pena... só que não.
-Eu tou sinceramente boquiaberto com você, Riva.
-Isso é ruim?
-Não, amor... isso é ótimo! Não que eu concorde com violência, mas bem que a Suzanne merecia essa lição. Será que ela ainda volta pra festa?
-Do jeito que aquilo ali é fingida e cara de pau, acho que volta pra festa. E se não conseguir dar um jeito de disfarçar a sova que eu dei nela, é bem capaz de inventar alguma história absurda de que algum homem tentou estuprar ela no banheiro.
-Você acha que ela seria capaz disso, Riva?
-Ah, Vicente, meu amor... uma psicopata faz qualquer coisa pra escapar das coisas... aprendi lendo a respeito. Ela pode querer fazer de tudo pra se mostrar como a pobre vítima, vai vendo...
-Bem, vamos esquecer esse assunto por enquanto. Posso dar uma olhada na sua gargantilha, amor?
-Claro, Vicente. Tá vendo esse botão? Ele abre.
-Sério?
-Sim... abre pra ver a foto que tem dentro dele.
-Jesus amado! Essa mulher é idêntica a você! Quer dizer... você é idêntica. É a sua falecida mãe?
Riva se emociona.
-Ela mesma, amor... dona Marinete. Ela era bonitona, não era?
-E você é igual a ela, sem tirar nem por...
-Morreu jovem... tinha a minha idade agora quando foi embora desse mundo. A gente era pobre, eram tempos difíceis... Collor saindo do poder e o país em colapso. Ela teve tuberculose... e a gente não tinha dinheiro pra levar ela para um bom hospital para poder se tratar. Depois do diagnóstico ela só durou mais seis meses... foi quando ela me deu a gargantilha dela. Essa gargantilha ela ganhou no natal de 1980, da vó... presente dela. Elas tinham ido ao Rio de Janeiro, comprar as roupas pro meu enxoval, ela tava grávida de mim... minha mãe foi tudo na minha vida, Vicente. Ter essa gargantilha de volta depois de tanto tempo é como se uma parte minha voltasse a fazer de fato parte de mim.
-E pensar que durante todo esse tempo essa sua gargantilha estava nas mãos daquela psicopata da Suzanne...
-Não mais, Vicente. Ela pode querer tirar o que for de mim... mas nunca mais toca nessa gargantilha. Muito menos na minha dignidade.
-A cada dia que passa eu te amo e te admiro mais, Riva. Você é a mulher da minha vida...
-E você o homem da minha. Você mudou a minha vida.
Os dois se beijam. CORTA A CENA.

CENA 3: Suzanne, ainda deitada no chão do banheiro e temendo que alguém chegue ali, tenta se levantar.
-Ai! Essa pobretona conseguiu me deixar toda dolorida!
Suzanne se levanta com dificuldade e sentindo várias dores pelo corpo.
-Mas bem que ela tava certa. Quem me paga é o Márcio... ele não tinha que ter me traído depois de vinte e quatro anos...
Suzanne consegue ir até o espelho e analisar os danos da surra que levou de Riva.
-Essa desgraçada não fodeu só com a minha cara... olha esses meus braços! Tá tudo cheio de hematoma! Que mulherzinha bem lavadeira... não nega a pobreza entranhada... - murmura Suzanne.
Suzanne revira sua bolsa e encontra o estojo de maquiagem.
-Isso vai levar um tempo absurdo. Mas eu me chamo Suzanne Farina Lopes e não saio daqui menos que impecável... não mesmo! Pelo menos essa descontrolada da Riva não acertou perto dos meus olhos, senão eu tava ferrada... maquiagem nenhuma nesse mundo ia disfarçar o inchaço. Ah... mas se essa ex-merendeira pensa que eu vou deixar isso assim, tá muito enganada. Isso ainda vai ter volta, Riva Oliveira!
Suzanne maquia o rosto pacientemente até verificar cuidadosamente no espelho que não lhe resta mais nenhuma marca visível no rosto.
-Menos mal... bem que a boca podia estar menos inchada, mas... qualquer coisa eu digo que foi alguma coisa que eu comi e deu alergia... agora o jeito vai ser passar uma boa base nos braços, que essa lavadeira de uma figa deixou nesse estado...
Suzanne passa base em cada um dos hematomas em seus braços, pacientemente.
-Mas que saco de demora! Eu podia estar aproveitando a festa há horas e essa ridícula me deu essa surra. Sua sorte é que eu não sei bater, Riva... porque se eu soubesse, você tava pior que eu...
Suzanne se verifica no espelho. CORTA A CENA.

CENA 4: No instituto penal psiquiátrico, Guilherme cativa cada vez mais os internos com suas histórias. Na hora do jantar, seis internos estão à sua volta.
-É isso, gente. Eu sou um cara muito poderoso. Tinha o mundo nas minhas mãos e não preciso fazer muito esforço pra conseguir tudo isso outra vez. - delira Guilherme.
Os internos se extasiam com cada palavra de Guilherme.
-Você é mesmo um cara inteligente demais pra estar aqui. Como é que os polícia te colocaram aqui? Isso aqui não é lugar pra doutor importante feito você. - fala um dos internos.
-Isso daí foi engano de quem me prendeu. Acho que em pouco tempo eles me colocam numa prisão normal. - fala Guilherme.
-Mas a gente vai sentir sua falta. Você é um cara gente boa! - fala outro interno.
-Talvez eu fique aqui. Gosto de conversar com vocês, contar minhas histórias, que não são poucas. Sabiam que meu pai foi criminoso a vida inteira e nunca chegou a ser preso ou mesmo investigado? Esse cara era meu ídolo, gente, vocês não fazem ideia. Ele me preparou pra tomar o lugar dele na facção quando fosse a hora dele se aposentar. Só que muito antes disso ele morreu. Assassinado... e até hoje não sei quem foi o filho da puta traidor da facção que matou ele. Mas desconfiei do interino que ficou no lugar dele enquanto eu, ainda adolescente, me preparava pra substituir. Quando assumi, na dúvida, mandei apagar o cara. Eu mando apagar quem eu quiser e nunca sujo as mãos com o sangue de ninguém! - fala Guilherme.
-Porra cara, você podia mandar apagar esses homens que ficam falando na minha cabeça, né? - fala outro interno.
-Claro, claro que eu posso! Eu posso dominar o mundo inteiro e ainda fazer de vocês meu seguidores! - delira Guilherme.
Os internos ouvem encantados suas palavras. CORTA A CENA.

CENA 5: Poucas horas depois, Suzanne circula pela sua festa como se nada tivesse acontecido. Cláudio então resolve subir ao palco.
-Boa noite, queridos! Já que nossa anfitriã está demorando para subir ao palco e agradecer a todos pelo comparecimento, venho eu, Cláudio, agradecer Suzanne por promover essa festa que tá babadeira! - fala Cláudio.
Suzanne fica apreensiva ao ver Cláudio no palco e falando ao microfone, mas disfarça e sorri. Em seguida, Marcelo também sobe ao palco.
-Olá, pessoal... vocês sabem quem eu sou, né? Devem me conhecer pelo CD... hahaha, brincadeirinha, é que quem não ama Ines Brasil, nénom? Seguinte, cambada: vocês acham eu e o Cláudio parecidos, não acham? É que a gente sempre foi melhor amigo, mas olha que bafão: a gente descobriu tem pouco tempo que sempre foi irmão, isso não é incrível? Babado, confusão e gritaria, adoro! E gostaria de chamar ao palco também o nosso pai. Márcio, por favor! - fala Marcelo.
Márcio sobe ao palco e Suzanne começa a se apavorar, mas permanece imóvel para não demonstrar sua preocupação.
-Obrigado por chamarem, meus filhos. Bem, pra alta sociedade que não me conhecia, eu sou o Márcio, pai do Cláudio e do Marcelo. Mas vocês sabem do mais maluco de toda essa história? Eu só fui descobrir que sou o pai do Cláudio vinte e dois anos depois. Sabem por que? Por que a mãe biológica dele o abandonou num orfanato. Passei anos procurando por pistas do meu menino, mas se não fosse a perspicácia do meu caçula Marcelo, o exame de DNA jamais teria acontecido. Vocês sabem quem é essa mulher que abandonou o próprio filho? É Suzanne Farina Lopes... a dona dessa festa! - revela Márcio.
Suzanne tenta ir ao palco, mas é impedida por Rafael.
-Você fica aqui, paradinha. O show é nosso agora, desgraçada. - fala Rafael, subindo ao palco e pegando o microfone das mãos de Márcio.
-E tem mais, viu gente? Olha que sensacional: essa sa-fa-din-ha enganou muito mais gente, ela não é realmente a inteligência humana? Muito esperta, a Suzanne. Mandou meu sogro roubar a minha sogra há mais de vinte anos, sabem pra que? Pra não apenas tirar vantagem da herança que a Riva tinha recebido da falecida mãe como também pra destruir a vida da minha prima. Não é muita esperteza pra um ser humano só? Vamos aplaudir Suzanne, ela merece! Ah... não vão aplaudir? Que pena... Riva, minha prima e querida sogra, não quer subir pra falar um pouco? - fala Rafael.
Riva sobe ao palco.
-Obrigada, querido. Vocês estão vendo essa gargantilha no meu pescoço? Ela é minha. Antes que vocês pensem que eu roubei da Suzanne, foi o contrário que aconteceu. Ela mandou Márcio roubar a gargantilha quando eu era só uma adolescente boba, grávida do Marcelo. Ah, olhem só que maravilhoso! Esse botão aqui na gargantilha abre! E sabem que tem uma foto aqui dentro? Uma foto três por quatro. De mais de trinta e seis anos atrás. Da minha mãe, dona Marinete, que foi quem me deu essa gargantilha no dia que deixou esse mundo. Chupa, rameira! Recuperei a lembrança da minha mãe. E antes que eu me esqueça: não é bijuteria, é joia. Agora, Suzanne, se eu fosse você, eu juntava meus caquinhos e dava o fora daqui. Essa festa não é sua... é nossa!
Suzanne se desespera. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, com a festa já avançada, Marcelo, Rafael, Cláudio e Bruno percebem que Márcio está triste.
-Poxa, paizinho... não fica assim, não. Você fez a coisa certa e pode ter certeza que ganhou muitos pontos com a gente... - fala Marcelo.
-Sei que fiz o que é certo, gente... só não me conformo de ter feito a Suzanne passar por essa humilhação... - desabafa Márcio.
-Você vá me desculpar, mas o que é essa humilhação merecida que ela passou perto de tudo o que ela fez com você, com a gente? Eu podia estar te odiando se as coisas não fossem esclarecidas ou mesmo se eu tivesse escolhido não acreditar em você... - fala Cláudio.
-O Cláudio tá certo, Márcio. Mas compreendo que você tenha sentido pena. Isso se chama empatia... algo que uma pessoa como a Suzanne jamais seria capaz de ter. - pontua Rafael.
-Olha, seu Márcio... eu mal te conheço e é até maluco imaginar que você é meu sogro, mas queria te dizer pra ficar firme. Eu mal entendi o que aconteceu aqui hoje, mas entendi que sem a sua ajuda, nada disso teria sido possível. - fala Bruno.
-Meus queridos... obrigado por estarem me apoiando, isso significa muito pra mim, de verdade. Não sei se mereço tudo isso. - fala Márcio.
-Claro que merece, pai. Agora você sabe que ser bom é bom. - fala Marcelo.
Marcelo, Rafael, Cláudio e Bruno seguem conversando com Márcio para animá-lo. CORTA A CENA.

CENA 7: Na manhã do dia seguinte, Riva acorda Valquíria.
-Bom dia, vó... espero não estar incomodando.
-Você nunca incomoda, Riva.
-O Lúcio se comportou bem com você?
-Um anjinho, como sempre. Esse menino não dá quase trabalho nenhum...
-Então, vó... eu não sei se você tá sabendo de tudo o que aconteceu ontem na festa da Suzanne...
-Não tou sabendo, mas posso imaginar. Se o plano de vocês tiver dado certo.
-Deu certo. Podia ter dado mais certo se a gente tivesse conseguido arrancar alguma confissão da Suzanne, mas pelo menos ela foi humilhada publicamente e a alta sociedade já sabe bem que tipinho de pessoa ela é.
-É... podia ter sido melhor, mas a queda da falsária já começou.
-Vó... tem uma coisa que eu queria te mostrar... uma coisa que eu resgatei, depois de anos.
-O que, querida?
Riva tira do bolso a gargantilha que Valquíria deu a Marinete no passado.
-Olha, vó... a gargantilha.
Valquíria se emociona.
-Não é possível... então era mesmo a gargantilha que eu dei pra Marinete?
-Era sim... abre o botão, vó...
Valquíria abre o botão e vê, intacta, a foto de Marinete.
-Esses anos todos... e a foto ficou intacta! Nenhuma marca do tempo! Isso mexe demais comigo... que saudades da minha filha! Posso não ter sido a melhor mãe, mas amor no meu coração nunca faltou.
-Eu sei disso, vó... os tempos eram difíceis. A senhora não tinha perspectivas de conseguir realizar os sonhos que hoje já são realidade nas nossas vidas.
-Não importa a fortuna que eu gastei nessa gargantilha nem em quantas vezes eu tive que parcelar. É o valor afetivo que conta. É um pedaço da minha filha, da sua mãe, que volta pra nós...
Riva e Valquíria, fortemente emocionadas, se abraçam.
-É, vó... a Suzanne pode ter tentado roubar de mim tudo, mas nunca seria capaz de roubar as nossas memórias. Nem a nossa dignidade.
-Verdade, querida. Dignidade não tem preço. De onde quer que esteja, eu sinto que hoje a Marinete está feliz... aliviada de alguma forma.
-Todas nós estamos, vó... acredite.
-Minha menininha... minha primogênita. Tão frágil e ao mesmo tempo tão forte! Aguentou ser abandonada pelo seu pai que nunca mais apareceu depois que ela decidiu levar a gravidez adiante. E graças a isso você nasceu, Riva.
-Minha mãe foi mesmo uma mulher incrível. Mesmo hoje, tanto tempo depois que ela partiu, ela ainda me inspira.
-Você nunca sentiu falta de um pai, Riva?
-Sinceramente, não. Nunca quis saber quem foi o cara que me colocou nesse mundo.
-Mas você sabe que eu sei quem ele é.
-Por favor, vó... não vamos tocar nesse assunto. Quem sabe em outro momento. Eu tive uma figura paterna quando vim aqui pro Rio... o falecido seu Anacleto. Ele me acolheu quando todo mundo tinha virado às costas pra mim. Me deu casa, comida, emprego, dignidade. Me ensinou a andar com minhas próprias pernas. Me fez a mulher forte que eu sou hoje.
As duas seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 8: Marcelo discute com Rafael.
-Sério, Rafael... eu não acredito que você acabou de dizer o que disse.
-E quer que eu diga o que? Que não é promiscuidade três pessoas se relacionarem ao mesmo tempo?
-Você tá se ouvindo falar? Não é possível. O Haroldo é seu irmão, caramba!
-E daí? Isso faz dele menos promíscuo?
-Não consigo crer que você acha tranquilo julgar seu irmão e sua amiga desse jeito. Você é gay, caramba! Deveria entender que toda forma de amor é válida!
-Mas, Marcelo... você não percebe que as pessoas podem falar merda deles?
-Ah, então é isso. Sério mesmo que depois de tudo o que a gente passou, depois de toda a coragem que você teve de se assumir diante da imprensa, você vai de novo adotar esse discursinho raso de quem fica se importando com a opinião da maioria? A maioria é opressora, você devia saber disso!
-Mas...
-Não tem “mas” nem meio “mas”. Você tá sendo machista, conservador. Heteronormativo, inclusive. Não é porque você não viveria um relacionamento a três que isso te dá o direito de julgar quem vive tranquilamente assim. Acho que você tá precisando desconstruir uns preconceitos enraizados aí... e urgentemente!
-Desculpa, Marcelo... eu faço o meu melhor. Eu juro que faço.
-Que tal começar então observando mais e julgando menos?
-Eu vou me esforçar, amor...
-Você vai conseguir, Rafael... acredito nisso.
CORTA A CENA.

CENA 9: Raquel, que acompanhou Suzanne ao hotel, cuida dos ferimentos da filha.
-Quer dizer que logo você se tornou investigadora. Quem diria, hein dona Raquel.
-Acabei tomando gosto pela coisa, Suzanne. E você sabe que há uma investigação agora. Você foi denunciada pelo Márcio e eu o apoiei nessa decisão.
-Não sei o que você tá fazendo aqui, então.
-Você não tem mais ninguém e ainda é minha filha. Quem mais cuidaria das suas feridas?
-Fazer o que... quem não tem cão, caça com gato.
-E tem mais algumas coisas que você precisa saber. Como você está sendo investigada, você está proibida de deixar o país outra vez.
-Como é que é? - espanta-se Suzanne.
FIM DO CAPÍTULO 106.

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