CENA 1: Suzanne se vê
surpreendida pela ação de Riva, que lhe dá mais tapas.
-Mas o que é isso, Riva?
Ficou louca? Sou eu, a Suzanne!
Riva dá um soco em Suzanne e
a derruba ao chão.
-Tou louca sim! Tou muito
louca! Louca de raiva, de vontade de te matar, de acabar com a sua
raça!
Suzanne tenta se defender, mas
Riva a imobiliza, furiosa.
-Eu vou gritar, sua louca!
-Pode gritar que ninguém vai
te ouvir, miserável! Ladra! Golpista! Psicopata!
-Isso tudo deve ser um engano,
Riva.
Riva se enfurece.
-Engano? Deixa eu esfregar
esse engano na sua cara então. Tá vendo essa gargantilha? Ela é
minha!
-Você tá ficando maluca,
Riva.
Riva perde a paciência e abre
o botão da gargantilha. Suzanne se surpreende.
-Eu não sabia que isso
abria...
-Claro que não sabia, porque
essa gargantilha é de ouro e é minha! Olha bem pra essa foto, mas
olha com vontade. Sabe quem é essa mulher na foto? Minha mãe! Minha
falecida mãe! Aposto que você não sabia disso, sabia? Ela me deu
essa gargantilha quando morreu em noventa e dois. Era a única
lembrança que eu tinha da minha mãe e você mandou o Márcio roubar
essa gargantilha de mim!
Riva começa a chorar por ter
resgatado sua gargantilha e Suzanne aproveita o momento de distração
e fragilidade para fugir do banheiro. Porém, ao tentar abrir as
portas, percebe que estão trancadas.
-Desiste, Suzanne. A gente tá
trancada aqui dentro.
-Quem é que tá por trás
disso? O Márcio? Eu sabia, aquele traidor!
-Traidor? Um homem que você
destruiu durante anos resolve fazer a coisa certa e você chama ele
de traidor? Você é uma vadia, Suzanne! Abandonou o próprio filho,
o Cláudio!
-Aquele desgraçado me paga!
-Quem me paga é você, sua
falsiane!
Riva avança para cima de
Suzanne, que tenta se defender, mas acaba ficando novamente
imobilizada. Riva começa a dar uma surra em Suzanne.
-Desgraçada! Vadia! Falsiane!
Psicopata! Você pensou que ia destruir a minha vida? Pois quem vai
te destruir sou eu!
Riva segue dando socos e tapas
em Suzanne, que tenta se defender.
-Eu não tive culpa, Riva! Eu
realmente fui sua amiga!
-Você não é amiga de
ninguém, nem de si mesma, infeliz!
-Me deixa sair daqui!
-Sem chance, Suzanne. Você tá
encurralada. Só vou parar quando eu quiser!
Riva segue batendo em Suzanne,
que começa a perder as forças.
-Bem... acho que o serviço tá
completo. Não chora muito, tá, flor? Não chora senão borra a
maquiagem que eu fiz em você. Aliás, tá linda, viu? Toda
trabalhada no roxo, super tendência, elegância a todo vapor! -
ironiza Riva.
Riva bate na porta do
banheiro.
-Tá liberado. A vadia tá no
chão! - grita Riva, tendo a porta aberta. Marion entra.
-Menina do céu! Vamos retocar
essa maquiagem agora, Riva! Cê tá toda suada! - fala Marion.
Suzanne geme de dor no chão
do banheiro, sendo ignorada por Marion e Riva. CORTA A CENA.
CENA 2: Assim que termina de
se maquiar, Riva volta triunfante ao lado de Marion para a festa e
Vicente nota a gargantilha no pescoço de Riva.
-Tou vendo que a gargantilha
você conseguiu de volta... o que aconteceu lá, amor?
-Acho que a Suzanne tem uma
nova maquiagem... em tons de roxo e sangue!
-Não acredito! Você deu
mesmo a surra que disse que ia dar nela?
-E você acha que eu ia perder
essa oportunidade, Vicente? Com a minha avó cuidando do nosso filho
lá em casa, eu fiz o que eu quis! Desmontei com a cara da falsiane.
-E onde ela está agora?
-Ficou lá, humilhada...
jogada no chão do banheiro. Acho que bati um bocado nela, viu?
Porque a “pobrezinha” tava gemendo de dor... fiquei morrendo de
pena... só que não.
-Eu tou sinceramente
boquiaberto com você, Riva.
-Isso é ruim?
-Não, amor... isso é ótimo!
Não que eu concorde com violência, mas bem que a Suzanne merecia
essa lição. Será que ela ainda volta pra festa?
-Do jeito que aquilo ali é
fingida e cara de pau, acho que volta pra festa. E se não conseguir
dar um jeito de disfarçar a sova que eu dei nela, é bem capaz de
inventar alguma história absurda de que algum homem tentou estuprar
ela no banheiro.
-Você acha que ela seria
capaz disso, Riva?
-Ah, Vicente, meu amor... uma
psicopata faz qualquer coisa pra escapar das coisas... aprendi lendo
a respeito. Ela pode querer fazer de tudo pra se mostrar como a pobre
vítima, vai vendo...
-Bem, vamos esquecer esse
assunto por enquanto. Posso dar uma olhada na sua gargantilha, amor?
-Claro, Vicente. Tá vendo
esse botão? Ele abre.
-Sério?
-Sim... abre pra ver a foto
que tem dentro dele.
-Jesus amado! Essa mulher é
idêntica a você! Quer dizer... você é idêntica. É a sua
falecida mãe?
Riva se emociona.
-Ela mesma, amor... dona
Marinete. Ela era bonitona, não era?
-E você é igual a ela, sem
tirar nem por...
-Morreu jovem... tinha a minha
idade agora quando foi embora desse mundo. A gente era pobre, eram
tempos difíceis... Collor saindo do poder e o país em colapso. Ela
teve tuberculose... e a gente não tinha dinheiro pra levar ela para
um bom hospital para poder se tratar. Depois do diagnóstico ela só
durou mais seis meses... foi quando ela me deu a gargantilha dela.
Essa gargantilha ela ganhou no natal de 1980, da vó... presente
dela. Elas tinham ido ao Rio de Janeiro, comprar as roupas pro meu
enxoval, ela tava grávida de mim... minha mãe foi tudo na minha
vida, Vicente. Ter essa gargantilha de volta depois de tanto tempo é
como se uma parte minha voltasse a fazer de fato parte de mim.
-E pensar que durante todo
esse tempo essa sua gargantilha estava nas mãos daquela psicopata da
Suzanne...
-Não mais, Vicente. Ela pode
querer tirar o que for de mim... mas nunca mais toca nessa
gargantilha. Muito menos na minha dignidade.
-A cada dia que passa eu te
amo e te admiro mais, Riva. Você é a mulher da minha vida...
-E você o homem da minha.
Você mudou a minha vida.
Os dois se beijam. CORTA A
CENA.
CENA 3: Suzanne, ainda deitada
no chão do banheiro e temendo que alguém chegue ali, tenta se
levantar.
-Ai! Essa pobretona conseguiu
me deixar toda dolorida!
Suzanne se levanta com
dificuldade e sentindo várias dores pelo corpo.
-Mas bem que ela tava certa.
Quem me paga é o Márcio... ele não tinha que ter me traído depois
de vinte e quatro anos...
Suzanne consegue ir até o
espelho e analisar os danos da surra que levou de Riva.
-Essa desgraçada não fodeu
só com a minha cara... olha esses meus braços! Tá tudo cheio de
hematoma! Que mulherzinha bem lavadeira... não nega a pobreza
entranhada... - murmura Suzanne.
Suzanne revira sua bolsa e
encontra o estojo de maquiagem.
-Isso vai levar um tempo
absurdo. Mas eu me chamo Suzanne Farina Lopes e não saio daqui menos
que impecável... não mesmo! Pelo menos essa descontrolada da Riva
não acertou perto dos meus olhos, senão eu tava ferrada...
maquiagem nenhuma nesse mundo ia disfarçar o inchaço. Ah... mas se
essa ex-merendeira pensa que eu vou deixar isso assim, tá muito
enganada. Isso ainda vai ter volta, Riva Oliveira!
Suzanne maquia o rosto
pacientemente até verificar cuidadosamente no espelho que não lhe
resta mais nenhuma marca visível no rosto.
-Menos mal... bem que a boca
podia estar menos inchada, mas... qualquer coisa eu digo que foi
alguma coisa que eu comi e deu alergia... agora o jeito vai ser
passar uma boa base nos braços, que essa lavadeira de uma figa
deixou nesse estado...
Suzanne passa base em cada um
dos hematomas em seus braços, pacientemente.
-Mas que saco de demora! Eu
podia estar aproveitando a festa há horas e essa ridícula me deu
essa surra. Sua sorte é que eu não sei bater, Riva... porque se eu
soubesse, você tava pior que eu...
Suzanne se verifica no
espelho. CORTA A CENA.
CENA 4: No instituto penal
psiquiátrico, Guilherme cativa cada vez mais os internos com suas
histórias. Na hora do jantar, seis internos estão à sua volta.
-É isso, gente. Eu sou um
cara muito poderoso. Tinha o mundo nas minhas mãos e não preciso
fazer muito esforço pra conseguir tudo isso outra vez. - delira
Guilherme.
Os internos se extasiam com
cada palavra de Guilherme.
-Você é mesmo um cara
inteligente demais pra estar aqui. Como é que os polícia te
colocaram aqui? Isso aqui não é lugar pra doutor importante feito
você. - fala um dos internos.
-Isso daí foi engano de quem
me prendeu. Acho que em pouco tempo eles me colocam numa prisão
normal. - fala Guilherme.
-Mas a gente vai sentir sua
falta. Você é um cara gente boa! - fala outro interno.
-Talvez eu fique aqui. Gosto
de conversar com vocês, contar minhas histórias, que não são
poucas. Sabiam que meu pai foi criminoso a vida inteira e nunca
chegou a ser preso ou mesmo investigado? Esse cara era meu ídolo,
gente, vocês não fazem ideia. Ele me preparou pra tomar o lugar
dele na facção quando fosse a hora dele se aposentar. Só que muito
antes disso ele morreu. Assassinado... e até hoje não sei quem foi
o filho da puta traidor da facção que matou ele. Mas desconfiei do
interino que ficou no lugar dele enquanto eu, ainda adolescente, me
preparava pra substituir. Quando assumi, na dúvida, mandei apagar o
cara. Eu mando apagar quem eu quiser e nunca sujo as mãos com o
sangue de ninguém! - fala Guilherme.
-Porra cara, você podia
mandar apagar esses homens que ficam falando na minha cabeça, né? -
fala outro interno.
-Claro, claro que eu posso! Eu
posso dominar o mundo inteiro e ainda fazer de vocês meu seguidores!
- delira Guilherme.
Os internos ouvem encantados
suas palavras. CORTA A CENA.
CENA 5: Poucas horas depois,
Suzanne circula pela sua festa como se nada tivesse acontecido.
Cláudio então resolve subir ao palco.
-Boa noite, queridos! Já que
nossa anfitriã está demorando para subir ao palco e agradecer a
todos pelo comparecimento, venho eu, Cláudio, agradecer Suzanne por
promover essa festa que tá babadeira! - fala Cláudio.
Suzanne fica apreensiva ao ver
Cláudio no palco e falando ao microfone, mas disfarça e sorri. Em
seguida, Marcelo também sobe ao palco.
-Olá, pessoal... vocês sabem
quem eu sou, né? Devem me conhecer pelo CD... hahaha,
brincadeirinha, é que quem não ama Ines Brasil, nénom? Seguinte,
cambada: vocês acham eu e o Cláudio parecidos, não acham? É que a
gente sempre foi melhor amigo, mas olha que bafão: a gente descobriu
tem pouco tempo que sempre foi irmão, isso não é incrível?
Babado, confusão e gritaria, adoro! E gostaria de chamar ao palco
também o nosso pai. Márcio, por favor! - fala Marcelo.
Márcio sobe ao palco e
Suzanne começa a se apavorar, mas permanece imóvel para não
demonstrar sua preocupação.
-Obrigado por chamarem, meus
filhos. Bem, pra alta sociedade que não me conhecia, eu sou o
Márcio, pai do Cláudio e do Marcelo. Mas vocês sabem do mais
maluco de toda essa história? Eu só fui descobrir que sou o pai do
Cláudio vinte e dois anos depois. Sabem por que? Por que a mãe
biológica dele o abandonou num orfanato. Passei anos procurando por
pistas do meu menino, mas se não fosse a perspicácia do meu caçula
Marcelo, o exame de DNA jamais teria acontecido. Vocês sabem quem é
essa mulher que abandonou o próprio filho? É Suzanne Farina
Lopes... a dona dessa festa! - revela Márcio.
Suzanne tenta ir ao palco, mas
é impedida por Rafael.
-Você fica aqui, paradinha. O
show é nosso agora, desgraçada. - fala Rafael, subindo ao palco e
pegando o microfone das mãos de Márcio.
-E tem mais, viu gente? Olha
que sensacional: essa sa-fa-din-ha enganou muito mais gente, ela não
é realmente a inteligência humana? Muito esperta, a Suzanne. Mandou
meu sogro roubar a minha sogra há mais de vinte anos, sabem pra que?
Pra não apenas tirar vantagem da herança que a Riva tinha recebido
da falecida mãe como também pra destruir a vida da minha prima. Não
é muita esperteza pra um ser humano só? Vamos aplaudir Suzanne, ela
merece! Ah... não vão aplaudir? Que pena... Riva, minha prima e
querida sogra, não quer subir pra falar um pouco? - fala Rafael.
Riva sobe ao palco.
-Obrigada, querido. Vocês
estão vendo essa gargantilha no meu pescoço? Ela é minha. Antes
que vocês pensem que eu roubei da Suzanne, foi o contrário que
aconteceu. Ela mandou Márcio roubar a gargantilha quando eu era só
uma adolescente boba, grávida do Marcelo. Ah, olhem só que
maravilhoso! Esse botão aqui na gargantilha abre! E sabem que tem
uma foto aqui dentro? Uma foto três por quatro. De mais de trinta e
seis anos atrás. Da minha mãe, dona Marinete, que foi quem me deu
essa gargantilha no dia que deixou esse mundo. Chupa, rameira!
Recuperei a lembrança da minha mãe. E antes que eu me esqueça: não
é bijuteria, é joia. Agora, Suzanne, se eu fosse você, eu juntava
meus caquinhos e dava o fora daqui. Essa festa não é sua... é
nossa!
Suzanne se desespera. CORTA A
CENA.
CENA 6: Horas depois, com a
festa já avançada, Marcelo, Rafael, Cláudio e Bruno percebem que
Márcio está triste.
-Poxa, paizinho... não fica
assim, não. Você fez a coisa certa e pode ter certeza que ganhou
muitos pontos com a gente... - fala Marcelo.
-Sei que fiz o que é certo,
gente... só não me conformo de ter feito a Suzanne passar por essa
humilhação... - desabafa Márcio.
-Você vá me desculpar, mas o
que é essa humilhação merecida que ela passou perto de tudo o que
ela fez com você, com a gente? Eu podia estar te odiando se as
coisas não fossem esclarecidas ou mesmo se eu tivesse escolhido não
acreditar em você... - fala Cláudio.
-O Cláudio tá certo, Márcio.
Mas compreendo que você tenha sentido pena. Isso se chama empatia...
algo que uma pessoa como a Suzanne jamais seria capaz de ter. -
pontua Rafael.
-Olha, seu Márcio... eu mal
te conheço e é até maluco imaginar que você é meu sogro, mas
queria te dizer pra ficar firme. Eu mal entendi o que aconteceu aqui
hoje, mas entendi que sem a sua ajuda, nada disso teria sido
possível. - fala Bruno.
-Meus queridos... obrigado por
estarem me apoiando, isso significa muito pra mim, de verdade. Não
sei se mereço tudo isso. - fala Márcio.
-Claro que merece, pai. Agora
você sabe que ser bom é bom. - fala Marcelo.
Marcelo, Rafael, Cláudio e
Bruno seguem conversando com Márcio para animá-lo. CORTA A CENA.
CENA 7: Na manhã do dia
seguinte, Riva acorda Valquíria.
-Bom dia, vó... espero não
estar incomodando.
-Você nunca incomoda, Riva.
-O Lúcio se comportou bem com
você?
-Um anjinho, como sempre. Esse
menino não dá quase trabalho nenhum...
-Então, vó... eu não sei se
você tá sabendo de tudo o que aconteceu ontem na festa da
Suzanne...
-Não tou sabendo, mas posso
imaginar. Se o plano de vocês tiver dado certo.
-Deu certo. Podia ter dado
mais certo se a gente tivesse conseguido arrancar alguma confissão
da Suzanne, mas pelo menos ela foi humilhada publicamente e a alta
sociedade já sabe bem que tipinho de pessoa ela é.
-É... podia ter sido melhor,
mas a queda da falsária já começou.
-Vó... tem uma coisa que eu
queria te mostrar... uma coisa que eu resgatei, depois de anos.
-O que, querida?
Riva tira do bolso a
gargantilha que Valquíria deu a Marinete no passado.
-Olha, vó... a gargantilha.
Valquíria se emociona.
-Não é possível... então
era mesmo a gargantilha que eu dei pra Marinete?
-Era sim... abre o botão,
vó...
Valquíria abre o botão e vê,
intacta, a foto de Marinete.
-Esses anos todos... e a foto
ficou intacta! Nenhuma marca do tempo! Isso mexe demais comigo... que
saudades da minha filha! Posso não ter sido a melhor mãe, mas amor
no meu coração nunca faltou.
-Eu sei disso, vó... os
tempos eram difíceis. A senhora não tinha perspectivas de conseguir
realizar os sonhos que hoje já são realidade nas nossas vidas.
-Não importa a fortuna que eu
gastei nessa gargantilha nem em quantas vezes eu tive que parcelar. É
o valor afetivo que conta. É um pedaço da minha filha, da sua mãe,
que volta pra nós...
Riva e Valquíria, fortemente
emocionadas, se abraçam.
-É, vó... a Suzanne pode ter
tentado roubar de mim tudo, mas nunca seria capaz de roubar as nossas
memórias. Nem a nossa dignidade.
-Verdade, querida. Dignidade
não tem preço. De onde quer que esteja, eu sinto que hoje a
Marinete está feliz... aliviada de alguma forma.
-Todas nós estamos, vó...
acredite.
-Minha menininha... minha
primogênita. Tão frágil e ao mesmo tempo tão forte! Aguentou ser
abandonada pelo seu pai que nunca mais apareceu depois que ela
decidiu levar a gravidez adiante. E graças a isso você nasceu,
Riva.
-Minha mãe foi mesmo uma
mulher incrível. Mesmo hoje, tanto tempo depois que ela partiu, ela
ainda me inspira.
-Você nunca sentiu falta de
um pai, Riva?
-Sinceramente, não. Nunca
quis saber quem foi o cara que me colocou nesse mundo.
-Mas você sabe que eu sei
quem ele é.
-Por favor, vó... não vamos
tocar nesse assunto. Quem sabe em outro momento. Eu tive uma figura
paterna quando vim aqui pro Rio... o falecido seu Anacleto. Ele me
acolheu quando todo mundo tinha virado às costas pra mim. Me deu
casa, comida, emprego, dignidade. Me ensinou a andar com minhas
próprias pernas. Me fez a mulher forte que eu sou hoje.
As duas seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 8: Marcelo discute com
Rafael.
-Sério, Rafael... eu não
acredito que você acabou de dizer o que disse.
-E quer que eu diga o que? Que
não é promiscuidade três pessoas se relacionarem ao mesmo tempo?
-Você tá se ouvindo falar?
Não é possível. O Haroldo é seu irmão, caramba!
-E daí? Isso faz dele menos
promíscuo?
-Não consigo crer que você
acha tranquilo julgar seu irmão e sua amiga desse jeito. Você é
gay, caramba! Deveria entender que toda forma de amor é válida!
-Mas, Marcelo... você não
percebe que as pessoas podem falar merda deles?
-Ah, então é isso. Sério
mesmo que depois de tudo o que a gente passou, depois de toda a
coragem que você teve de se assumir diante da imprensa, você vai de
novo adotar esse discursinho raso de quem fica se importando com a
opinião da maioria? A maioria é opressora, você devia saber disso!
-Mas...
-Não tem “mas” nem meio
“mas”. Você tá sendo machista, conservador. Heteronormativo,
inclusive. Não é porque você não viveria um relacionamento a três
que isso te dá o direito de julgar quem vive tranquilamente assim.
Acho que você tá precisando desconstruir uns preconceitos
enraizados aí... e urgentemente!
-Desculpa, Marcelo... eu faço
o meu melhor. Eu juro que faço.
-Que tal começar então
observando mais e julgando menos?
-Eu vou me esforçar, amor...
-Você vai conseguir,
Rafael... acredito nisso.
CORTA A CENA.
CENA 9: Raquel, que acompanhou
Suzanne ao hotel, cuida dos ferimentos da filha.
-Quer dizer que logo você se
tornou investigadora. Quem diria, hein dona Raquel.
-Acabei tomando gosto pela
coisa, Suzanne. E você sabe que há uma investigação agora. Você
foi denunciada pelo Márcio e eu o apoiei nessa decisão.
-Não sei o que você tá
fazendo aqui, então.
-Você não tem mais ninguém
e ainda é minha filha. Quem mais cuidaria das suas feridas?
-Fazer o que... quem não tem
cão, caça com gato.
-E tem mais algumas coisas que
você precisa saber. Como você está sendo investigada, você está
proibida de deixar o país outra vez.
-Como é que é? - espanta-se
Suzanne.
FIM DO CAPÍTULO 106.
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