CENA 1: Suzanne verifica o
cartão novamente e mais uma vez aponta que está bloqueado.
-Isso deve ser um engano,
moça. Devo ter me atrapalhado na hora de pegar os cartões antes de
sair de casa. Você espera eu dar uma olhada aqui na minha carteira?
- fala Suzanne.
-Claro, senhora... fique à
vontade. - fala a atendente.
Suzanne pega outro cartão de
crédito.
-Vou tentar com esse aqui, ok?
- fala Suzanne.
Suzanne tenta passar o cartão,
que acusa estar bloqueado também.
-Não entendo o que está
havendo, moça. Será que a máquina do cartão não está estragada?
- pergunta Suzanne.
-Não está, senhora. Passou
por reparos e revisões semana passada e até agora estava
funcionando perfeitamente. Mas se a senhora preferir, pode pagar em
dinheiro. - fala a atendente.
-É o jeito, né... vou dar
uma verificada na minha carteira.
Suzanne verifica sua carteira
e percebe que tem dinheiro suficiente para efetuar as compras.
-Felizmente eu vim prevenida,
moça. Dá pras compras e ainda sobra! - fala Suzanne, aliviada.
Suzanne efetua o pagamento das
suas compras e sai da loja do shopping intrigada com o fato de que
nenhum cartão seu foi aceito na loja. Suzanne resolve ligar para sua
mãe.
-O que foi, Suzanne? Tou
ocupada trabalhando, sabia?
-Eu queria saber se você tem
alguma coisa a ver com os meus cartões bloqueados.
-Ah, já ficou sabendo,
querida? Até que demorou pra isso, né! Suas contas bancárias estão
bloqueadas porque você está sendo investigada e eu consegui
agilizar isso com a justiça. Não é fantástico? Você não pode
sair do Brasil e agora também não pode sair por aí gastando...
-Com uma mãe que nem você,
eu definitivamente não preciso de inimigos.
-Você está apenas começando
a colher o que plantou por trinta e seis anos de vida. Tá achando
ruim? Não tivesse aplicado todos os golpes que aplicou.
-Se você pensa que eu tou na
rua da amargura, dona Raquel, se engana redondamente. Sempre fui
prevenida.
-Isso é típico de bandidos
como você, nem me surpreende.
-Pois é, que seja, então eu
sou uma bandida. Satisfeita? Mas o dinheiro que eu saquei – que não
é pouco – e tenho guardado comigo você e sua turminha justiceira
não podem bloquear.
-É uma pena. Mas faça bom
proveito dessa grana, Suzanne... cedo ou tarde ela vai acabar. Uma
coisa é certa: rica você não é mais. Aliás, nunca foi de
verdade, se parar pra pensar. Se os seus crimes ficarem provados, vai
ficar bem claro pra todo mundo que você nunca passou de uma ladra de
grife.
-Desafio você ou qualquer
pessoa a me pegar, mãe. Aposto que não vai conseguir. Sabe por que?
Porque eu nunca fui burra. E não ando sozinha.
-Isso é uma ameaça, garota?
Eu podia estar gravando essa ligação, sabia?
-Mas não está que eu sei.
Fique sossegada. Eu não ameaçaria minha própria mãe.
-Pelo menos um pingo de
caráter deve existir aí dentro.
-Você não devia ter
bloqueado minhas contas, mãe.
-Não fui eu, foi a polícia.
Eu só agilizei o processo. Agora faça o favor de me deixar
trabalhar.
Raquel desliga e Suzanne fica
enfurecida. CORTA A CENA.
CENA 2: O fim de semana passa.
Raquel vai à mansão dos
Bittencourt para conversar com Riva.
-Oi, dona Raquel... digo,
investigadora. - fala Riva.
-Por favor, Riva... me chame
apenas de Raquel.
-Está bem... entre, por
favor. Fique à vontade.
-Riva... eu vim conversar com
você sobre algo sério, que pode ter a ver com essa obsessão da
minha filha filha por você.
-Não dá nem pra acreditar
que você, gente boa desse jeito e investigadora de polícia, possa
ser mãe da Suzanne... mas enfim, o que exatamente você quer falar
comigo?
-Bem, inicialmente a minha
conversa vai ser com você... mas pode ser que eu acabe precisando
falar com seus familiares também.
-Certo... mas qual é a sua
suspeita, mais especificamente?
-Ainda é cedo pra falarmos em
suspeitas... digamos que sejam leves desconfianças. Hoje estou mais
aqui como uma mãe desconfiada que usa essa intuição de mãe pra se
guiar. A investigadora ficou do lado de fora.
-Tudo bem, querida, mas...
quais são as duas desconfianças, afinal?
-Acredito que essa cisma, essa
obsessão da Suzanne contigo, que é algo completamente diferente do
comportamento habitual dela como golpista, possa ter respostas no
passado. Só não sei em que ponto do passado possa haver uma
resposta.
-Sabe que eu também penso
isso, Raquel? É tudo muito estranho. Depois que entendi que Suzanne
é psicopata, tratei de ler bastante a respeito e juntando isso com o
que pude observar dela, é muito esquisito que com o restante das
pessoas ela pule de galho em galho e mantenha essa cisma comigo há
tanto tempo. A participação dela no roubo da minha herança é
direta. Ela obrigou o Márcio a me seduzir e depois a me abandonar
quando eu fiquei grávida. Tudo isso é sinistro porque mesmo quando
eu era uma pobretona sem eira nem beira, ela parecia querer me
destruir e eu só fui conhecer a Suzanne depois que fiquei rica.
-Mas além disso, Riva... você
não tem nenhuma outra lembrança ou explicação que possa me ajudar
a tentar esclarecer isso?
-Infelizmente receio que não,
Raquel. Como eu te disse, tem um ano que de fato eu conheci a
Suzanne.
-Tá cada vez mais enrolada
essa história, isso sim. Não condiz com a frieza dela. Bem... se
você não se importar, eu gostaria de passar o dia aqui com vocês...
fui liberada do expediente da delegacia da mulher porque há quem
fique no meu lugar. Quero poder conversar com a Marion e com sua avó,
se possível.
-Claro que pode. Se existe
tanta dificuldade de sabermos o que está por trás disso, talvez com
a minha tia com com a minha avó você consiga esclarecer alguma
coisa.
-Assim espero, Riva. Há
muitas peças soltas nesse quebra cabeça.
-Você não se sente culpada
por estar investigando a própria filha?
-De jeito nenhum. Já superei
esse sentimento... durante muito tempo eu fiquei pensando se eu havia
errado na criação da Suzanne, mas sei que o erro nunca foi meu. Dei
todo o amor que eu pude. Só que ela não soube reconhecer isso.
Psicopata é simplesmente psicopata... não precisa de uma causa.
-Enfim. Eu preparei umas
coisinhas de café da manhã. Tá servida?
-Obrigada, querida... mas
estou sem apetite. Pelo visto hoje vai ser um dia longo.
-Que seja pelo menos
esclarecedor de alguma maneira.
-Assim espero, Riva... assim
espero.
CORTA A CENA.
CENA 3: Mara chega à
companhia de teatro e encontra Procópio concentrado a escrever.
-Que milagre é esse,
Procópio? Sabe quanto tempo faz que eu não te vejo escrevendo? Tem
mais de ano...
-Não é, Mara? Mas do nada
começou a me pintar uma inspiração.
-Posso saber do que se trata
esse novo texto?
-Claro que pode, querida... se
trata de relações poligâmicas.
-Hmm... não sei porque, mas
acho que isso tem alguma relação indireta com o fato da Laura ter
assumido um relacionamento a três com o Haroldo e com o Mateus... ou
será que eu estou pensando demais?
-A relação é a mais direta
possível. Acho sensacional tudo isso e as possibilidades
dramatúrgicas são infinitas quando a gente decide explorar esse
tema. Acho mais sensacional que com uma juventude tão conservadora
em maioria, eles tenham peito de enfrentar essa tendência
retrógrada.
-Sempre notei isso,
Procópio... pelo menos na Laura. Aquela menina tem fogo nas ventas.
Tem ousadia, tem um espírito livre. Lembra muito o pessoal que a
gente andava junto na época da juventude. Esse tipo de coisa
definitivamente me renova as esperanças no futuro desse nosso mundo!
Me faz acreditar que, apesar de todas as tentativas de retrocesso, o
amor sempre há de prevalecer.
-Você parece estar lendo meus
pensamentos, Mara. É sobre essa resistência que eu quero tratar no
texto dessa peça que estou escrevendo. Não tem nem nome ainda, mas
quero muito realizar esse projeto ainda esse ano. Só falta ver quais
atores topariam essa empreitada.
-Não acredito que você não
pensou no óbvio, meu amigo... por que não chama a própria Laura e
os meninos?
-Porque o Haroldo não é
ator, quem sabe?
-Mas ele já manifestou
interesse. Se eu fosse você, aproveitava o intervalo dos ensaios
mais tarde e conversava com a Laura. Do jeito que ela é de se lançar
em desafios, é bem capaz de ela convencer o Haroldo a entrar nessa.
-Vou pensar com carinho nessa
ideia, Mara...
-Bem, agora cê me dá licença
que eu vou preparar o lanche dos atores que ficam aqui na hora do
intervalo.
Mara vai à cozinha. CORTA A
CENA.
CENA 4: Horas depois, Marion
conversa com Raquel sobre Suzanne.
-Basicamente é isso,
Raquel... num primeiro momento sua filha se apresentou como uma
pessoa simpática, adorável, acima de qualquer suspeita. Parecia
sempre bem intencionada, disposta a ajudar e ainda ofereceu auxílio
nas aulas de etiqueta que eu tentava passar pra Riva, de maneira
amadora. Tudo isso se dizendo profissional, mas sem cobrar um único
centavo. Não demorou para que ela se tornasse nossa amiga. Sei que
talvez tenhamos sido ingênuas... eu e a Riva, eu digo... tanto
Rafael quanto Marcelo nunca engoliram Suzanne... muito menos Vicente.
Ivan não se metia muito nesse assunto porque não se sentia capaz de
opinar, enfim...
-E durante esse tempo que ela
foi “amiga” de vocês, vocês não notaram eventos esquisitos
cercando ela?
-Olha, Raquel... tudo o que a
gente sabia era que os meninos e o Vicente implicavam com ela. Mas
até aí não tinha nada de alarmante.
-Além disso, o que você
lembra a mais, que possa indicar que a Suzanne tinha alguma cisma
maior com a Riva?
-Sinceramente? Nada, Raquel.
Suzanne viajava com frequência... ou dizia que viajava... sempre
dizendo que ia ao interior de São Paulo ver os pais e que o pai
estava muito doente... até que esse suposto pai morreu.
-Que mentira deslavada, gente!
Meu marido, pai dela, morreu há mais de vinte anos.
-Pra você ver. Mas até
então, nós acreditávamos que ela era do interior de São Paulo.
-Desculpe falar, mas vocês
foram um tanto ingênuas de acreditar nisso, com a Suzanne tendo
aquele sotaque de carioca da gema, criada em Curicica.
-De qualquer forma, ela dizia
que se sentia carioca de coração... atribuíamos a isso, essa
identificação...
-Infelizmente suas informações
ainda não me ajudaram muito, Marion. Você sabe se sua mãe chega
logo?
-Chega sim. Ela foi dar uma
volta pelo Jardim Botânico... ela gosta de ir sozinha lá. Deve
voltar logo.
-Vou querer conversar com ela.
-E faz bem. Talvez ela possa
te esclarecer algo... ela tem um álbum de recordações com cada
pessoa que passou pelas nossas vidas.
-Não brinca! Isso pode ser
ótimo!
CORTA A CENA.
CENA 5: No intervalo dos
ensaios, Procópio chama Laura para uma rápida conversa.
-Não quero atrapalhar seu
horário de lanche, querida, mas preciso te fazer um convite.
-Fala, Procópio.
-Essa sua história de
relacionamento poligâmico me inspirou de uma maneira que eu não me
inspirava há anos e eu comecei a escrever um texto, que pretendo
transformar em peça, com essa temática. Andei pensando no elenco e
resolvi que a atriz mais indicada para atuar na peça é você mesma,
Laura.
-Que fantástico, querido!
Nunca imaginei que a vida que levo com meus dois namorados pudesse
inspirar arte dessa forma! Claro que eu quero fazer parte disso...
quero muito!
-Fico feliz por isso. Mas você
tem uma outra missão, que eu deixo pra você: tentar convencer os
meninos a atuarem com você na peça.
-Gente! Que tudo! Amei! O
Mateus pode aceitar mais de boa, afinal ele é ator, mas... o
Haroldo, tadinho... vai ser mais difícil. Ele tem muita vontade de
ser ator, mas morre de vergonha e tem muita autocobrança. De
qualquer forma vou conversar com eles e espero muito que eles entem
nessa comigo. Agora eu preciso lanchar, a gente fala melhor sobre
isso depois.
-Claro, querida. Vai lá que
eu não quero te atrapalhar. A gente vai fazer essa peça acontecer e
vai ser lindo!
Laura, empolgada, vai lanchar.
CORTA A CENA.
CENA 6: Marcelo e Rafael estão
a caminho de Angra dos Reis.
-Bem... pelo menos depois de
toda essa loucura dos últimos dias, a gente encontrou algum tempo de
voltar onde tudo começou... - fala Marcelo.
-Tava te devendo isso, amor.
Você não teve culpa de manifestar os sintomas mais severos da
psoríase justamente durante nossa lua-de-mel. Agora a gente vai
terminar dignamente o que começou.
-Podem até ser poucos dias,
mas pelo menos a gente vai ficar com uma lua-de-mel mais real e
lembranças mais bonitas pra levar.
-Nem é só isso, Marcelo...
esse é só o começo. A gente ainda vai encontrar tempo de viajar
por esse Brasilzão inteiro, você vai ver.
-Quero muito poder viajar com
você por todos os cantos do nosso país... mas ainda acho que isso
não vai acontecer tão cedo.
-Seu bobo. Enquanto houver
vida, vai haver tempo.
-Sim, isso é fato... mas falo
de toda essa coisa que tá em torno da Suzanne agora. A gente não
sabe até que ponto ela pode ou não ser perigosa.
-Você acha que ela seria
perigosa? Duvido muito.
-Não duvido de nada... ela é
mãe do meu irmão e abandonou ele num orfanato, obrigando o meu pai
a aceitar tudo isso.
-De fato. Manipuladora e
mandona ela sempre foi... mas daí a ser perigosa...
-É um pulo, Rafa... ela foi
capaz de obrigar meu pai a abandonar minha mãe grávida de mim, a
roubar tudo dela e ainda pior: antes disso ela convenceu meu pai a
seduzir minha mãe, mas ignorou completamente o afeto sincero que ele
passou a sentir por ela...
-Seu pai de fato foi cego de
amor por essa mulher... foi prejudicado e acabou prejudicando a Riva
no meio disso.
-Fico tranquilo que ele tenha
acordado a tempo. Mas sei que ele nunca vai deixar de amar a Suzanne.
-É triste isso, pra ele. Ele
ainda é tão jovem, sabe? Poderia conhecer outra mulher, viver um
amor sem ser essa coisa doentia que a Suzanne alimentou por mais de
vinte anos...
-Ai, amor... vamos mudar de
assunto antes da gente chegar em Angra? A gente merece um tempo só
nosso.
CORTA A CENA.
CENA 7: Valquíria chega em
casa do passeio e Marion a chama.
-Mãe... você pode vir
comigo? Tem alguém querendo falar com você... - fala Marion.
-Claro, filha... só não
imagino quem possa ser. - fala Valquíria.
-Oi, dona Valquíria. Você
não deve estar lembrada de mim... sou Raquel, mãe de Suzanne e
investigadora.
-Lembro vagamente de você,
querida. Nem parece que aquela doente é sua filha, quer dizer...
desculpe. - fala Valquíria.
-Bem... eu vou deixar vocês
duas conversando a sós... - fala Marion, deixando o quarto de
Valquíria.
-Não precisa se desculpar,
dona Valquíria... eu sei bem o tipo de psicopata que Suzanne é. A
propósito, sinto sua falta na TV, adorei te assistir na novela...
ninguém dizia que era uma atriz estreante, tamanha era a sua
segurança em cena...
-Obrigada pela generosidade,
Raquel. Mas diga, o que você gostaria de falar comigo? Posso ajudar
em alguma coisa?
-Acredito que possa. Desconfio
que a cisma de Suzanne com Riva venha de um passado mais distante do
que nós possamos imaginar, mas nem a Riva nem a Marion souberam me
disser nada além daquilo que eu já sei.
-Talvez eu tenha como te
ajudar mais, só não faço ideia de como. Tudo o que posso te dizer
nesse primeiro momento é que minha filha Marinete foi abandonada
pelo pai da Riva assim que ele soube da gravidez de minha filha.
Foram tempos muito difíceis... só que tem um detalhe nisso que
nunca contei para nenhuma das meninas, nem para minha falecida filha
Marinete, nem pra Marion ou Riva...
-E o que seria isso, dona
Valquíria?
-Eu mantive contato com o
pilantra que abandonou minha filha. Exigi que ele desse alguma
contribuição financeira para que Riva pudesse ser criada sem que
minha filha se sacrificasse tanto sendo camelô. Não tive como
evitar que minha filha continuasse até o fim da vida trabalhando
como camelô, mas o dinheiro que eu juntei acabou servindo mais tarde
como a herança deixada pela Marinete e que as meninas levaram com
elas quando me doparam e fugiram de Barra de São João. Deve ter
sido esse mesmo dinheiro que o Márcio roubou a mando da sua filha.
Cuidei desse dinheiro enquanto as meninas moravam comigo, mas admito
que naquele tempo não fui uma boa mãe nem uma boa avó... eu era
amargurada. Mas cuidei de tudo. Resisti ao plano Collor... e ainda
consegui converter em reais todo aquele dinheiro. Sempre pensei no
futuro das meninas.
-Isso é muito interessante,
de verdade. Mas acredito que você possa fazer ainda mais para me
ajudar a entender essa história toda, pra ver onde a Suzanne entra
nisso.
-E o que seria?
-Marion me contou que você
tem um álbum de recordações com todas as pessoas que já passaram
pela vida de vocês...
-Sim, é verdade. Eu sempre
levava minha máquina fotográfica comigo. Às vezes levava meses pra
conseguir revelar tudo. Você quer que eu pegue? Tá em algum canto
do meu roupeiro...
-Por favor, dona Valquíria...
CORTA A CENA.
CENA 8: Guilherme está no
pátio da instituição psiquiátrica e respira aliviado.
-Pelo menos hoje aquele bando
de doido baba ovo me deixou em paz. É um saco ficar socializando com
essa gente babona e cagona. - murmura Guilherme consigo mesmo.
Guilherme segue a observar os
internos, horrorizado com o que vê.
-Eu não sou doido como essa
gente. O estado dessas pessoas é mais que deplorável, é
degradande, afronta os meus olhos. Eu nunca deveria ter parado nesse
lugar. Mas bem que esses doidos podem me ser úteis no final das
contas...
Guilherme permanece observando
os internos e analisa os menos afetados pelos transtornos.
-Muito úteis, por sinal... a
maioria deles já baba ovo pra mim. Isso é uma vantagem que eu
tenho, sem dúvida. Eles acreditam em qualquer coisa que eu disser...
se eu disser que sou Deus, eles acreditam. Talvez seja a hora de
começar a reverter tudo isso a meu favor. Usar esses panacas...
fazer com que eles me ajudem a sair desse lugar. Vai ser mais fácil
que tirar doce de criança...
Guilherme sorri
maliciosamente. CORTA A CENA.
CENA 9: Valquíria encontra o
grande álbum de recordações e senta-se ao lado de Raquel.
-É pesado esse pequeno
monstro, mas aqui tem todos os momentos mais importantes que
registrei dos anos setenta até noventa e cinco...
-Ótimo, dona Valquíria.
Valquíria começa a mostrar
as fotos e indicar quem são as pessoas das fotos.
-Esse cara aqui é o
Roberto... pai da Marinete. Me deixou sozinha quando eu estava quase
ganhando a nossa filha. Nunca mais apareceu, nunca mais deu notícias.
Ah... esse outro aqui é Francisco, pai da Marion. Ficou comigo até
os dois anos da Marion, mas acabou botando o pé no mundo... antes de
ir embora, disse que aquilo que a gente vivia não era vida...
-Muito interessante tudo isso,
dona Valquíria. Suas filhas realmente foram crianças adoráveis.
-Eu poderia ser sua mãe...
mas enfim... vou continuar mostrando as fotos.
Valquíria vira a página e
Raquel se surpreende com o que vê.
-Quem é esse cara?
-Pai da Riva. Se chamava
Frederico.
-Não pode ser! - fala Raquel,
perplexa. FIM DO CAPÍTULO 109.
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