CENA 1: Valentim e Mara olham
com atenção para Mateus.
-Você está certo de que vai
levar isso até o fim? - questiona Mara.
-É importante que você
lembre que agora a coisa fica mais séria e tudo o que você disser
será devidamente gravado. - alerta Valentim.
-Podem ligar o gravador do
celular. Eu prometi que ia falar tudo e chegou a hora de contar
detalhe por detalhe, de tudo o que eu sei dessa facção e
principalmente, do “Chefe”. - fala Mateus.
-Pois então pode começar a
falar... já coloquei para gravar. - fala Mara.
-Não sei exatamente por onde
começar, mas vou explicar como eu terminei nas mãos dessa facção
e consequentemente, nas mãos do “Chefe”. Vocês podem até
considerar esse um motivo fútil, mas foi exatamente o que o “Chefe”
usou contra mim por um bom tempo, pois sabia o quanto a revelação
do meu segredo poderia destruir muita coisa na minha vida. O fato é
que sou bissexual e um dia, logo depois que eu havia conhecido Bruno,
com quem me relacionei secretamente por alguns anos, “Chefe” nos
flagrou, numa boate que costumávamos frequentar.
-Então, Mateus, isso
significa que o chefe também é bissexual? - questiona Valentim.
-Não. Ele é gay, mesmo. Mas
o que está em discussão aqui não é a sexualidade dele, mas sim
seu caráter. Esse cara é um sujeito sádico e muito articulado.
Consegue enganar a quem quiser e ninguém desconfia do que ele
realmente faz e de quem ele realmente é por trás da máscara de
bondade e até mesmo fragilidade. Centenas de vidas estão nas mãos
do “Chefe”... mais da metade do pessoal da facção não trabalha
para ele porque quer, mas sim porque ele é especialista em descobrir
os “podres” das pessoas e usar isso contra elas e a seu favor.
Ele se alimenta da fragilidade dos outros para se fazer forte, essa é
a realidade. E foi nisso que eu caí: ao ser flagrado por ele, eu e
Bruno ficamos nas mãos dele. Bruno conseguiu se safar de trabalhar
para a facção porque mal havia chegado de Coroados, sua terra
natal. Mal tinha dinheiro pra comer, quanto mais para investir numa
facção. Eu já estava começando a despontar na TV em papeis
pequenos e tinha uma boa quantia em dinheiro. Quando eu vi, eu já
estava envolvido com a facção dos pés até o último fio de cabelo
da minha cabeça. Foram muitas as vezes que eu tentei sair da facção,
mas “Chefe” dizia que só se sai da facção morto ou prometendo
silêncio eterno. Acabei sendo dispensado da facção há algum tempo
porque deixei de servir aos atuais propósitos do “Chefe”.
-E quais são os atuais
propósitos do “Chefe”? - pergunta Mara.
-Eu não sei. Sabia até onde
fiz parte da facção. O que sei é que ele assumiu a facção muito
jovem ainda, depois da morte do fundador. Mas ele mudou drasticamente
o modus operandi da coisa: grande parte das ações ordenadas por ele
foram, durante muito tempo, para destruir a vida de Cláudio, a quem
ele parecia culpar por problemas que na verdade são dele. Só que
hoje, eu sinceramente não sei mais quais são as prioridades do
“Chefe” e nem o que ele anda aprontando, além de armar assaltos
a bancos e locais com alta circulação de dinheiro, para manter o
alto nível de vida de quem faz parte dessa facção. Sei que ela
existe por um antigo plano de poder que ainda é seguido à risca,
mas não sei sinceramente por quais meios ele deseja que esse poder
seja atingido da forma que deseja.
-Essas informações são
muito valiosas, Mateus... mas acho que chegou a hora de você nos
dizer: quem é o “Chefe”? - pergunta Valentim.
-Espero que já esteja na
lista dos suspeitos, mas ainda acho que vocês vão ficar
surpresos... o “Chefe” é...
CORTA A CENA.
CENA 2: Márcio fica para o
jantar e para dormir na mansão dos Bittencourt. Após o jantar,
Márcio chama Vicente, Riva, Marcelo e Rafael para uma conversa.
-Gente... eu queria avisar a
vocês, que já sabem de toda a podridão que existe dentro da
Suzanne, que finalmente tomei coragem pra fazer o que devia ter feito
há muito tempo: eu denunciei ela. Sei que ela tá fora do Brasil e
isso ainda vai demorar, mas o primeiro passo, eu já dei... - fala
Márcio.
-Finalmente, pai. Confesso que
muito antes de saber da pilantra que essa mulher é, eu já não ia
nem um pouco com a cara dela... - fala Marcelo.
-E nem eu. No começo nem dei
tanta importância pro que o Marcelo dizia, mas depois notei que
tinha algo de errado com ela. - fala Rafael.
-Já não era sem tempo,
Márcio. Agora eu posso falar de tudo o que aquela mulher tentou
fazer pra me seduzir e me fazer largar a Riva. Ela agiu de uma
maneira repulsiva, se jogando pra cima de mim, de várias formas... -
fala Vicente.
-Eu sabia de tudo isso. Ela me
contava tudo e me pedia ajuda para que eu orientasse ela no que devia
ser feito. Sempre achei isso uma cachorrice, mas eu ainda tava
completamente envolvido por ela... - fala Márcio.
-O importante é que depois de
tantos anos você começou a abrir os olhos em relação a quem
realmente é a Suzanne. Pensa que agora ela não tem mais como te
fazer de otário e a sua vida está cada vez mais nas suas próprias
mãos, com você tomando as rédeas do seu destino... - fala Riva.
-Antes tarde do que nunca,
gente... pensei que nunca ia me livrar dessa mulher. E ainda dói
muito aqui dentro. Apesar de tudo, o amor que sinto não mudou. -
fala Márcio.
-Mas você precisa aprender a
resistir, pai... tudo o que esse amor pela Suzanne te trouxe foi
desgraça. E ela também foi a responsável indireta por você ter
abandonado a mim e à mãe... - fala Marcelo.
-É disso que tento lembrar,
filho... toda vez que penso em fraquejar, me apego às lembranças de
todo o mal que ela me causou... - fala Márcio.
-Um mal que, se Deus quiser e
a justiça ajudar, vai acabar. Se alguma coisa ficar provada contra
ela, ela vai pra cadeia... - fala Riva.
-E ainda vai ser pouco. Uma
mulher capaz de abandonar o próprio filho do jeito que ela fez... -
fala Rafael.
-Isso por si só não depõe
contra ela. Está completamente nos conformes da lei uma mãe deixar
seu filho num orfanato, para adoção, se não deseja criá-lo ou se
percebe não ter condições para tal. Não se esqueçam que antes de
ser ator, eu estudei pra ser advogado... - fala Vicente.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 3: Raquel, ao chegar em
casa, liga seu computador e começa a fazer buscas por informações
sobre as movimentações financeiras de Suzanne, após denúncia de
Márcio ser oficializada. Raquel liga para Mara.
-Oi, Mara... vocês ainda
estão conversando com Mateus sobre a facção? Precisava dar uma
palavrinha com você.
-Estamos sim, mas o Valentim
tá com ele agora. Me fala o que você precisa, querida.
-Tou precisando que você me
mande todo aquele levantamento que o Valentim fez há um tempo atrás
sobre as movimentações financeiras da Suzanne. A denúncia dela foi
aceita e como o inquérito já está aberto, eu preciso dessas
informações pra nortear as buscas que vou começar a fazer...
-Claro, Raquel. Você só me
dá um minutinho pra eu ligar o meu notebook que eu já te mando as
informações para você buscar mais através delas.
-Ótimo.
-Mas me fala... foi mesmo o
Márcio que denunciou a Suzanne?
-Foi ele mesmo. Tomou coragem
depois de vinte e quatro anos preso a ela. Já não era sem tempo...
-Que bom. Ó, já liguei o
notebook aqui, cê tá na frente do seu?
-Tou sim, querida.
-Então eu vou mandar agora o
levantamento todo.
-Obrigada, Mara. Nos falamos
amanhã.
Raquel começa a verificar as
informações do levantamento.
CORTA A CENA.
CENA 4: Mateus, exausto depois
de revelar toda a verdade sobre “Chefe” para Valentim e Mara,
acaba dormindo no quarto de hóspedes.
-Mas o Mateus já dormiu,
Mara?
-Mal deitou e captou derrotado
de sono. Acho que é mais pelo estresse de ter contado tudo sobre o
“Chefe” do que pelas facadas que ele levou...
-Pudera: esse cara é
definitivamente um monstro. Mas sabe o que mais me surpreende nisso?
-O que, querido?
-Tava o tempo inteiro debaixo
do meu nariz. Não sei como não percebi isso antes...
-Eu te falei, Valentim... eu
te avisei tanto! Análise pragmática nem sempre funciona. Eu te
disse há meses que esse cara era um dos maiores suspeitos de ser o
líder dessa facção e você não me deu ouvidos...
-Minha culpa... culpa da minha
teimosia.
-E do seu machismo.
-Quem, eu? Logo eu?
-Meu querido, às vezes o
machismo é reproduzido de forma inconsciente, você o reproduz sem
perceber quando subestima uma mulher, mesmo que essa não seja a sua
intenção...
-Desculpa qualquer coisa,
amor...
-Não tem o que desculpar. Tá
tudo certo. O problema vai ser efetuar a prisão do “Chefe”.
-Nem me fale, Mara... como é
que a gente vai conseguir um mandado de prisão somente com essa
gravação do Mateus falando tudo?
-Precisamos de mais provas,
Valentim... e correr contra o relógio para impedir que uma tragédia
aconteça.
CORTA A CENA.
CENA 5: Na manhã do dia
seguinte, Cláudio verifica quem confirmou presença no seu casamento
e fica feliz, indo até Guilherme, que está fritando ovos.
-Amor, você não vai
acreditar!
-No que? Em disco voador? Nem
quando tou em surto... - brinca Guilherme.
-Bobo! É sobre a nossa festa
de casamento.
-É? E pelo visto a notícia é
boa, hein?
-Maravilhosa! Cê acredita que
todo mundo que eu convidei confirmou presença?
-Que delícia isso, gente! Mas
como é que a gente vai fazer essa festa dar certo? Tá, sua casa não
é pequena, não me interpreta mal, mas... será que cabe todo mundo
aqui?
-Também pensei nisso.
Apertando direitinho, cabe todo mundo.
-Ai não, Claudinho... detesto
aperto, nem vem!
-É por isso mesmo que eu já
pensei na solução perfeita.
-E posso saber qual é?
-Claro que pode: a mesa de
centro daqui da sala vai pra área de serviço. Tem espaço pra
colocar a mesa e muito mais coisa lá. Depois, eu trago aquele outro
sofá do meu... quer dizer, do nosso quarto pra sala e distribuo o
espaço bem aqui na sala. A mesa de jantar sai da cozinha e vai pra
sala, afinal de contas é um evento mais que especial.
-Arrasou, amor! Cê tinha que
ser designer de interiores, viu?
-Nem brinca com isso que eu
sou bem capaz de levar a sério.
-E não seria uma má ideia,
talento não te falta, amor...
-Mas que futuro marido babão
eu fui arrumar, hein!
Os dois se divertem. CORTA A
CENA.
CENA 6: Diogo acorda Victor.
-Amor... levanta. Hoje é dia
de terapia, esqueceu?
Victor, sonolento, se
espreguiça.
-Não esqueci, Diogo... tou
morrendo de preguiça de sair dessa cama, isso sim.
-Faz um esforço, querido...
-Ai, eu tou dengoso hoje,
amor... deixa eu dormir mais cinco minutinhos...
-Victor, desse jeito você vai
acabar se atrasando pra terapia...
-Ai, me deixa ficar um
pouquinho mais... três minutos, pode ser?
-Mereço... pechinchando sono
agora? - diverte-se Diogo.
-Só mais um pouquinho, vai...
-Eu faço o seguinte, então:
você fica aí que eu preparo o seu café, do jeito que você gosta.
Até lá você pode ficar assim, morrendo de preguiça. Fechado?
-Fechado.
Diogo vai até a cozinha e
coloca a água para fever e prepara o café de Victor.
-Esse meu amor... só ele
mesmo pra me fazer rir logo de manhã...
Diogo fica pensativo e
relembra frieza com qual Victor reagiu diante da morte de Mateus.
-É, mas às vezes certas
coisas me assustam...
Diogo tenta se concentrar na
preparação do café, mas segue preocupado.
-Ai... tomara que ele não me
invente de fazer nenhuma besteira justo no casamento do Cláudio...
ah, Diogo. Tira isso da cabeça! Faz parte do processo essas
variações de humor... ele vai conseguir. Não tem motivo pra se
preocupar... - fala Diogo, consigo mesmo.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, Laura e
Haroldo conversam com Mara e Laura fica completamente atônita ao
descobrir quem é o “Chefe”. Mara tenta tranquilizá-la.
-Laura... você precisa ficar
mais tranquila! Desse jeito que você tá, não segura essa revelação
até a gente conseguir um jeito de prender o “Chefe”... - fala
Mara.
-Nada disso me surpreende. Eu
conheci de vista esse sujeito, confesso que nunca me passou pela
cabeça que fosse ser justamente ele o líder da facção, mas... faz
sentido, agora. Ele sempre teve um olhar triunfante, esquisito... -
constata Haroldo.
-Não sei como você consegue
manter a calma diante de tudo isso, Haroldo... isso é muito
horrível! Olha o tanto de perigo que a gente correu esse tempo todo!
Por anos! Eu nunca podia imaginar. Tá certo que eu nunca fui muito
com a cara dele, mas... Deus! Ele pode acabar com a vida do...
Haroldo interrompe a fala de
Laura.
-Nem pensa numa besteira
dessas. Agora o jeito é correr contra o tempo... - fala Haroldo.
-Como? Me diz como a gente vai
poder fazer alguma coisa? Uma tragédia pode acontecer a qualquer
momento! - desespera-se Laura.
-Querida, você não pode se
desesperar dessa forma. Mateus está seguro na nossa casa. - fala
Mara.
-É, mas e quem não está
seguro como ele, como é que fica? - questiona Laura.
-Precisamos reunir provas
suficientes que levem à prisão do “Chefe”, entende? - fala
Mara.
-Tá... eu entendo essa parte.
Mas tudo o que o Mateus não pode ser suficiente pelo menos para uma
prisão preventiva? - questiona Laura.
-Infelizmente não. Vamos
atrás das provas baseados no que colhemos do depoimento do Mateus.
Assim, se encontrarmos provas cabais que sirvam como respaldo para a
prisão desse cara, nós o prendemos, entende? - fala Mara.
-Amor... você precisa
acreditar que tudo vai dar certo. Eu sei que tudo isso deixa a gente
na incerteza, com medo, meio apavorado... mas vai dar certo... - fala
Haroldo.
CORTA A CENA.
CENA 8: Mateus estranha
Valentim estar em casa.
-Que eu mal pergunte, você
não deveria estar no consultório? - questiona Mateus.
-Tenho uma colega psiquiatra,
a Vera, que me cobre, me substitui em momentos como esse, em que
preciso por alguma eventualidade proteger uma testemunha. - esclarece
Valentim.
-Menos mal. Confesso que tava
com medo de ficar sozinho nessa casa.
-Não é pra tanto, Mateus...
aqui é seguro.
-É, mas vai que o “Chefe”
descobre onde você mora... eu sei da emboscada que ele armou pra
você.
-Ele pode conhecer meu local
de trabalho como psiquiatra, mas não sabe onde moro.
-Ainda assim, Valentim... eu
fico com medo.
-Já disse que não há mais
razão pra tanto medo. Nós estamos investigando até encontrar
provas que o coloquem definitivamente atrás das grades. Ou melhor
dizendo: numa instituição psiquiátrica.
-Mas por enquanto ele está à
solta. Temo por todos nós.
-Entendo o seu temor, mas
discordo dele. Vai dar tudo certo.
-Qual a garantia que eu tenho
disso, Valentim? Esse cara não é nem um pouco burro...
-Tem a minha garantia. Nunca
deixei de esclarecer nada.
-Vou tentar me tranquilizar...
-Vai ser melhor assim.
CORTA A CENA.
CENA 9: Cláudio chega à
mansão dos Bittencourt.
-Demorou, viado! - fala
Marcelo.
-Mais respeito que pra você
eu sou senhor viado e agora seu irmão mais velho! - brinca Cláudio.
-Mas ainda bem que conseguiu
chegar. Eu preciso que você suba comigo. Rafael já tá lá em cima
esperando por nós.
-Ai, Marcelo... mas que tanto
mistério é esse, mano? - pergunta Cláudio.
-É algo que precisamos te
contar... sobre a morte do Mateus.
-Olha, se for pra falar
daquele papo de facção, pode esquecer.
-Vamos subir que a gente fala
do que se trata?
Os dois chegam ao quarto e
Rafael cumprimenta Cláudio.
-Falem logo, o que vocês
querem tanto conversar comigo?
-Bem... a gente nem sabe como
dizer, mas... o Mateus tá vivo. - fala Rafael.
Cláudio fica chocado. FIM DO
CAPÍTULO 97.
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