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segunda-feira, 5 de setembro de 2016

CAPÍTULO 97

CENA 1: Valentim e Mara olham com atenção para Mateus.
-Você está certo de que vai levar isso até o fim? - questiona Mara.
-É importante que você lembre que agora a coisa fica mais séria e tudo o que você disser será devidamente gravado. - alerta Valentim.
-Podem ligar o gravador do celular. Eu prometi que ia falar tudo e chegou a hora de contar detalhe por detalhe, de tudo o que eu sei dessa facção e principalmente, do “Chefe”. - fala Mateus.
-Pois então pode começar a falar... já coloquei para gravar. - fala Mara.
-Não sei exatamente por onde começar, mas vou explicar como eu terminei nas mãos dessa facção e consequentemente, nas mãos do “Chefe”. Vocês podem até considerar esse um motivo fútil, mas foi exatamente o que o “Chefe” usou contra mim por um bom tempo, pois sabia o quanto a revelação do meu segredo poderia destruir muita coisa na minha vida. O fato é que sou bissexual e um dia, logo depois que eu havia conhecido Bruno, com quem me relacionei secretamente por alguns anos, “Chefe” nos flagrou, numa boate que costumávamos frequentar.
-Então, Mateus, isso significa que o chefe também é bissexual? - questiona Valentim.
-Não. Ele é gay, mesmo. Mas o que está em discussão aqui não é a sexualidade dele, mas sim seu caráter. Esse cara é um sujeito sádico e muito articulado. Consegue enganar a quem quiser e ninguém desconfia do que ele realmente faz e de quem ele realmente é por trás da máscara de bondade e até mesmo fragilidade. Centenas de vidas estão nas mãos do “Chefe”... mais da metade do pessoal da facção não trabalha para ele porque quer, mas sim porque ele é especialista em descobrir os “podres” das pessoas e usar isso contra elas e a seu favor. Ele se alimenta da fragilidade dos outros para se fazer forte, essa é a realidade. E foi nisso que eu caí: ao ser flagrado por ele, eu e Bruno ficamos nas mãos dele. Bruno conseguiu se safar de trabalhar para a facção porque mal havia chegado de Coroados, sua terra natal. Mal tinha dinheiro pra comer, quanto mais para investir numa facção. Eu já estava começando a despontar na TV em papeis pequenos e tinha uma boa quantia em dinheiro. Quando eu vi, eu já estava envolvido com a facção dos pés até o último fio de cabelo da minha cabeça. Foram muitas as vezes que eu tentei sair da facção, mas “Chefe” dizia que só se sai da facção morto ou prometendo silêncio eterno. Acabei sendo dispensado da facção há algum tempo porque deixei de servir aos atuais propósitos do “Chefe”.
-E quais são os atuais propósitos do “Chefe”? - pergunta Mara.
-Eu não sei. Sabia até onde fiz parte da facção. O que sei é que ele assumiu a facção muito jovem ainda, depois da morte do fundador. Mas ele mudou drasticamente o modus operandi da coisa: grande parte das ações ordenadas por ele foram, durante muito tempo, para destruir a vida de Cláudio, a quem ele parecia culpar por problemas que na verdade são dele. Só que hoje, eu sinceramente não sei mais quais são as prioridades do “Chefe” e nem o que ele anda aprontando, além de armar assaltos a bancos e locais com alta circulação de dinheiro, para manter o alto nível de vida de quem faz parte dessa facção. Sei que ela existe por um antigo plano de poder que ainda é seguido à risca, mas não sei sinceramente por quais meios ele deseja que esse poder seja atingido da forma que deseja.
-Essas informações são muito valiosas, Mateus... mas acho que chegou a hora de você nos dizer: quem é o “Chefe”? - pergunta Valentim.
-Espero que já esteja na lista dos suspeitos, mas ainda acho que vocês vão ficar surpresos... o “Chefe” é...
CORTA A CENA.

CENA 2: Márcio fica para o jantar e para dormir na mansão dos Bittencourt. Após o jantar, Márcio chama Vicente, Riva, Marcelo e Rafael para uma conversa.
-Gente... eu queria avisar a vocês, que já sabem de toda a podridão que existe dentro da Suzanne, que finalmente tomei coragem pra fazer o que devia ter feito há muito tempo: eu denunciei ela. Sei que ela tá fora do Brasil e isso ainda vai demorar, mas o primeiro passo, eu já dei... - fala Márcio.
-Finalmente, pai. Confesso que muito antes de saber da pilantra que essa mulher é, eu já não ia nem um pouco com a cara dela... - fala Marcelo.
-E nem eu. No começo nem dei tanta importância pro que o Marcelo dizia, mas depois notei que tinha algo de errado com ela. - fala Rafael.
-Já não era sem tempo, Márcio. Agora eu posso falar de tudo o que aquela mulher tentou fazer pra me seduzir e me fazer largar a Riva. Ela agiu de uma maneira repulsiva, se jogando pra cima de mim, de várias formas... - fala Vicente.
-Eu sabia de tudo isso. Ela me contava tudo e me pedia ajuda para que eu orientasse ela no que devia ser feito. Sempre achei isso uma cachorrice, mas eu ainda tava completamente envolvido por ela... - fala Márcio.
-O importante é que depois de tantos anos você começou a abrir os olhos em relação a quem realmente é a Suzanne. Pensa que agora ela não tem mais como te fazer de otário e a sua vida está cada vez mais nas suas próprias mãos, com você tomando as rédeas do seu destino... - fala Riva.
-Antes tarde do que nunca, gente... pensei que nunca ia me livrar dessa mulher. E ainda dói muito aqui dentro. Apesar de tudo, o amor que sinto não mudou. - fala Márcio.
-Mas você precisa aprender a resistir, pai... tudo o que esse amor pela Suzanne te trouxe foi desgraça. E ela também foi a responsável indireta por você ter abandonado a mim e à mãe... - fala Marcelo.
-É disso que tento lembrar, filho... toda vez que penso em fraquejar, me apego às lembranças de todo o mal que ela me causou... - fala Márcio.
-Um mal que, se Deus quiser e a justiça ajudar, vai acabar. Se alguma coisa ficar provada contra ela, ela vai pra cadeia... - fala Riva.
-E ainda vai ser pouco. Uma mulher capaz de abandonar o próprio filho do jeito que ela fez... - fala Rafael.
-Isso por si só não depõe contra ela. Está completamente nos conformes da lei uma mãe deixar seu filho num orfanato, para adoção, se não deseja criá-lo ou se percebe não ter condições para tal. Não se esqueçam que antes de ser ator, eu estudei pra ser advogado... - fala Vicente.
Todos seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: Raquel, ao chegar em casa, liga seu computador e começa a fazer buscas por informações sobre as movimentações financeiras de Suzanne, após denúncia de Márcio ser oficializada. Raquel liga para Mara.
-Oi, Mara... vocês ainda estão conversando com Mateus sobre a facção? Precisava dar uma palavrinha com você.
-Estamos sim, mas o Valentim tá com ele agora. Me fala o que você precisa, querida.
-Tou precisando que você me mande todo aquele levantamento que o Valentim fez há um tempo atrás sobre as movimentações financeiras da Suzanne. A denúncia dela foi aceita e como o inquérito já está aberto, eu preciso dessas informações pra nortear as buscas que vou começar a fazer...
-Claro, Raquel. Você só me dá um minutinho pra eu ligar o meu notebook que eu já te mando as informações para você buscar mais através delas.
-Ótimo.
-Mas me fala... foi mesmo o Márcio que denunciou a Suzanne?
-Foi ele mesmo. Tomou coragem depois de vinte e quatro anos preso a ela. Já não era sem tempo...
-Que bom. Ó, já liguei o notebook aqui, cê tá na frente do seu?
-Tou sim, querida.
-Então eu vou mandar agora o levantamento todo.
-Obrigada, Mara. Nos falamos amanhã.
Raquel começa a verificar as informações do levantamento.
CORTA A CENA.

CENA 4: Mateus, exausto depois de revelar toda a verdade sobre “Chefe” para Valentim e Mara, acaba dormindo no quarto de hóspedes.
-Mas o Mateus já dormiu, Mara?
-Mal deitou e captou derrotado de sono. Acho que é mais pelo estresse de ter contado tudo sobre o “Chefe” do que pelas facadas que ele levou...
-Pudera: esse cara é definitivamente um monstro. Mas sabe o que mais me surpreende nisso?
-O que, querido?
-Tava o tempo inteiro debaixo do meu nariz. Não sei como não percebi isso antes...
-Eu te falei, Valentim... eu te avisei tanto! Análise pragmática nem sempre funciona. Eu te disse há meses que esse cara era um dos maiores suspeitos de ser o líder dessa facção e você não me deu ouvidos...
-Minha culpa... culpa da minha teimosia.
-E do seu machismo.
-Quem, eu? Logo eu?
-Meu querido, às vezes o machismo é reproduzido de forma inconsciente, você o reproduz sem perceber quando subestima uma mulher, mesmo que essa não seja a sua intenção...
-Desculpa qualquer coisa, amor...
-Não tem o que desculpar. Tá tudo certo. O problema vai ser efetuar a prisão do “Chefe”.
-Nem me fale, Mara... como é que a gente vai conseguir um mandado de prisão somente com essa gravação do Mateus falando tudo?
-Precisamos de mais provas, Valentim... e correr contra o relógio para impedir que uma tragédia aconteça.
CORTA A CENA.

CENA 5: Na manhã do dia seguinte, Cláudio verifica quem confirmou presença no seu casamento e fica feliz, indo até Guilherme, que está fritando ovos.
-Amor, você não vai acreditar!
-No que? Em disco voador? Nem quando tou em surto... - brinca Guilherme.
-Bobo! É sobre a nossa festa de casamento.
-É? E pelo visto a notícia é boa, hein?
-Maravilhosa! Cê acredita que todo mundo que eu convidei confirmou presença?
-Que delícia isso, gente! Mas como é que a gente vai fazer essa festa dar certo? Tá, sua casa não é pequena, não me interpreta mal, mas... será que cabe todo mundo aqui?
-Também pensei nisso. Apertando direitinho, cabe todo mundo.
-Ai não, Claudinho... detesto aperto, nem vem!
-É por isso mesmo que eu já pensei na solução perfeita.
-E posso saber qual é?
-Claro que pode: a mesa de centro daqui da sala vai pra área de serviço. Tem espaço pra colocar a mesa e muito mais coisa lá. Depois, eu trago aquele outro sofá do meu... quer dizer, do nosso quarto pra sala e distribuo o espaço bem aqui na sala. A mesa de jantar sai da cozinha e vai pra sala, afinal de contas é um evento mais que especial.
-Arrasou, amor! Cê tinha que ser designer de interiores, viu?
-Nem brinca com isso que eu sou bem capaz de levar a sério.
-E não seria uma má ideia, talento não te falta, amor...
-Mas que futuro marido babão eu fui arrumar, hein!
Os dois se divertem. CORTA A CENA.

CENA 6: Diogo acorda Victor.
-Amor... levanta. Hoje é dia de terapia, esqueceu?
Victor, sonolento, se espreguiça.
-Não esqueci, Diogo... tou morrendo de preguiça de sair dessa cama, isso sim.
-Faz um esforço, querido...
-Ai, eu tou dengoso hoje, amor... deixa eu dormir mais cinco minutinhos...
-Victor, desse jeito você vai acabar se atrasando pra terapia...
-Ai, me deixa ficar um pouquinho mais... três minutos, pode ser?
-Mereço... pechinchando sono agora? - diverte-se Diogo.
-Só mais um pouquinho, vai...
-Eu faço o seguinte, então: você fica aí que eu preparo o seu café, do jeito que você gosta. Até lá você pode ficar assim, morrendo de preguiça. Fechado?
-Fechado.
Diogo vai até a cozinha e coloca a água para fever e prepara o café de Victor.
-Esse meu amor... só ele mesmo pra me fazer rir logo de manhã...
Diogo fica pensativo e relembra frieza com qual Victor reagiu diante da morte de Mateus.
-É, mas às vezes certas coisas me assustam...
Diogo tenta se concentrar na preparação do café, mas segue preocupado.
-Ai... tomara que ele não me invente de fazer nenhuma besteira justo no casamento do Cláudio... ah, Diogo. Tira isso da cabeça! Faz parte do processo essas variações de humor... ele vai conseguir. Não tem motivo pra se preocupar... - fala Diogo, consigo mesmo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, Laura e Haroldo conversam com Mara e Laura fica completamente atônita ao descobrir quem é o “Chefe”. Mara tenta tranquilizá-la.
-Laura... você precisa ficar mais tranquila! Desse jeito que você tá, não segura essa revelação até a gente conseguir um jeito de prender o “Chefe”... - fala Mara.
-Nada disso me surpreende. Eu conheci de vista esse sujeito, confesso que nunca me passou pela cabeça que fosse ser justamente ele o líder da facção, mas... faz sentido, agora. Ele sempre teve um olhar triunfante, esquisito... - constata Haroldo.
-Não sei como você consegue manter a calma diante de tudo isso, Haroldo... isso é muito horrível! Olha o tanto de perigo que a gente correu esse tempo todo! Por anos! Eu nunca podia imaginar. Tá certo que eu nunca fui muito com a cara dele, mas... Deus! Ele pode acabar com a vida do...
Haroldo interrompe a fala de Laura.
-Nem pensa numa besteira dessas. Agora o jeito é correr contra o tempo... - fala Haroldo.
-Como? Me diz como a gente vai poder fazer alguma coisa? Uma tragédia pode acontecer a qualquer momento! - desespera-se Laura.
-Querida, você não pode se desesperar dessa forma. Mateus está seguro na nossa casa. - fala Mara.
-É, mas e quem não está seguro como ele, como é que fica? - questiona Laura.
-Precisamos reunir provas suficientes que levem à prisão do “Chefe”, entende? - fala Mara.
-Tá... eu entendo essa parte. Mas tudo o que o Mateus não pode ser suficiente pelo menos para uma prisão preventiva? - questiona Laura.
-Infelizmente não. Vamos atrás das provas baseados no que colhemos do depoimento do Mateus. Assim, se encontrarmos provas cabais que sirvam como respaldo para a prisão desse cara, nós o prendemos, entende? - fala Mara.
-Amor... você precisa acreditar que tudo vai dar certo. Eu sei que tudo isso deixa a gente na incerteza, com medo, meio apavorado... mas vai dar certo... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 8: Mateus estranha Valentim estar em casa.
-Que eu mal pergunte, você não deveria estar no consultório? - questiona Mateus.
-Tenho uma colega psiquiatra, a Vera, que me cobre, me substitui em momentos como esse, em que preciso por alguma eventualidade proteger uma testemunha. - esclarece Valentim.
-Menos mal. Confesso que tava com medo de ficar sozinho nessa casa.
-Não é pra tanto, Mateus... aqui é seguro.
-É, mas vai que o “Chefe” descobre onde você mora... eu sei da emboscada que ele armou pra você.
-Ele pode conhecer meu local de trabalho como psiquiatra, mas não sabe onde moro.
-Ainda assim, Valentim... eu fico com medo.
-Já disse que não há mais razão pra tanto medo. Nós estamos investigando até encontrar provas que o coloquem definitivamente atrás das grades. Ou melhor dizendo: numa instituição psiquiátrica.
-Mas por enquanto ele está à solta. Temo por todos nós.
-Entendo o seu temor, mas discordo dele. Vai dar tudo certo.
-Qual a garantia que eu tenho disso, Valentim? Esse cara não é nem um pouco burro...
-Tem a minha garantia. Nunca deixei de esclarecer nada.
-Vou tentar me tranquilizar...
-Vai ser melhor assim.
CORTA A CENA.

CENA 9: Cláudio chega à mansão dos Bittencourt.
-Demorou, viado! - fala Marcelo.
-Mais respeito que pra você eu sou senhor viado e agora seu irmão mais velho! - brinca Cláudio.
-Mas ainda bem que conseguiu chegar. Eu preciso que você suba comigo. Rafael já tá lá em cima esperando por nós.
-Ai, Marcelo... mas que tanto mistério é esse, mano? - pergunta Cláudio.
-É algo que precisamos te contar... sobre a morte do Mateus.
-Olha, se for pra falar daquele papo de facção, pode esquecer.
-Vamos subir que a gente fala do que se trata?
Os dois chegam ao quarto e Rafael cumprimenta Cláudio.
-Falem logo, o que vocês querem tanto conversar comigo?
-Bem... a gente nem sabe como dizer, mas... o Mateus tá vivo. - fala Rafael.
Cláudio fica chocado. FIM DO CAPÍTULO 97.

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