CENA 1: Marcelo confronta
Márcio.
-Anda! Fala! Aliás, falem
vocês, não é mesmo? Pelo visto eu fui o corno aqui... o último a
saber que o meu irmão é filho daquela psicopata! - fala Marcelo.
Riva tenta contemporizar.
-Se controle, meu filho! Você
não consegue ter a dimensão do que isso significa? Que o Cláudio
pode ficar ainda mais traumatizado por saber que a mãe dele é
justamente a Suzanne e que ela não passa de uma mentirosa golpista?
- fala Riva.
-Primeiro me contem direito
essa história. Quer dizer que a Suzanne é mesmo tudo aquilo que a
gente sempre desconfiou? - fala Marcelo.
-Infelizmente é, meu filho. E
também foi a mulher que mais amei na vida. Conheci ela ainda garoto
e fiz de tudo por ela, tudo o que ela me mandava fazer eu obedecia.
Fui cego de amor, fiz coisas condenáveis, mas eu me arrependo de
cada coisa que eu fiz só pra continuar tendo a Suzanne por perto...
- desabafa Márcio.
-Então quer dizer que essa
mulher realmente nunca foi do interior de São Paulo? Eu sempre
desconfiei daquele sotaque dela, carioca da gema feito a gente... -
constata Marcelo.
-Nunca foi de São Paulo...
muito menos de família rica e poderosa de fazendeiros, como ela
costuma dizer pra todas as vítimas dos golpes que aplica... -
esclarece Márcio.
-Filho... ela não passa de
uma golpista. Destruiu a vida do seu pai e tudo isso é verdade.
Obrigou o pobre coitado a abandonar o filho deles. - fala Riva.
-Filho esse que é o Cláudio,
meu irmão... que horror, gente! Indiretamente eu sou relacionado a
essa desgraçada!
-Mas felizmente não é
aparentado com ela... - observa Vicente.
-Graças a Deus! Fico com pena
é do meu irmão, coitado... prestes a se casar e ainda prestes a
receber essa bomba que é saber que a mulher que colocou ele no mundo
é justamente a Suzanne... - lamenta Marcelo.
-Mas o Cláudio não precisa
necessariamente saber dos podres da mãe biológica, precisa? -
contemporiza Riva.
-Claro que não precisa. Mas
ele tem o direito de saber quem é a mulher que pariu ele e... se eu
conheço bem o Cláudio, ele vai querer ir a fundo nisso em algum
momento, vai acabar descobrindo a bela bisca que a Suzanne é. Acho
melhor você contar pra ele tudo o que conseguir, Márcio. Vai ser
pior se o Cláudio descobrir a verdade por conta própria... conheço
bem como as coisas funcionam pra ele. - fala Marcelo.
-Mas meu filho... você acha
justo que eu vá contar pro Cláudio sobre a verdadeira mãe dele
justo agora? Falta tão pouco pra ele se casar! O momento é de
felicidade, de pensar no futuro! - pondera Márcio.
-Olha, pai... eu sinto muito,
mas vai ser pior se o Cláudio souber depois. Ele tem esse direito. E
é mais forte do que parece ser num primeiro momento.
-Tudo bem, eu prometo que vou
conversar com ele e contar tudo. Mas hoje não. Já está ficando
tarde e eu preciso voltar pra casa da dona Raquel.
-Nada disso. Hoje você fica
aqui, pai. Eu falo com o Ivan para ele liberar a edícula pra você.
Amanhã, sem falta, eu vou com você à casa do Cláudio e a gente
conta tudo. Ele anda afastado dos ensaios do grupo de teatro desde
que começou a preparar a festa do casamento, de qualquer jeito...
vai estar lá. E você vai contar tudo, faço questão de ir junto
pra me certificar disso.
-Está certo, meu filho. Nós
vamos amanhã. Mas a gente precisa ter cuidado com o que vai dizer...
CORTA A CENA.
CENA 2: Valentim retorna ao
quarto onde Mateus se recupera e está acompanhado de Laura e
Haroldo.
-Está feito, gente: o médico
responsável acabou de assinar o falso atestado de óbito do Mateus.
-Agora que a coisa tá feita,
chega a me dar uma sensação sinistra de brincar desse jeito com a
morte... - fala Mateus, impressionado.
-Isso é necessário, meu
querido... você sabe disso. Se há um Deus nos observando, ele sabe
que não estamos brincando com coisa séria... é estratégia de
sobrevivência... - observa Laura.
-Só fiquei com uma dúvida,
Valentim... como é que a gente vai dar sequência a tudo isso? -
fala Haroldo.
-Simples, Haroldo: primeiro eu
vou conseguir uns tijolos, daqueles bem pesados, para colocar no
caixão. Já já eu entro em contato com a funerária e encomendo o
caixão que será usado nessa farsa. Você, Haroldo, poderia por
exemplo comunicar à imprensa sobre a morte do Mateus.
-Eu acho melhor que a Laura
faça isso, afinal ela é conhecida por ter sido namorada dele, você
sabe... - fala Haroldo.
-Verdade. Tenho alguma fama
por causa do meu namoro anterior com Mateus. O certo é eu avisar
para os veículos de imprensa da falsa morte do Mateus. - fala Laura.
-Eu tou com medo de alguma
coisa nisso tudo acabar dando errado, gente... - fala Mateus,
apreensivo.
-Vocês estão devidamente
protegidos, sobretudo você, Mateus. Não se preocupe. A sua falsa
morte vai te dar tempo de sobra pra contar tudo o que você sabe
sobre a facção e sobre o “Chefe”. Não precisa nem ter pressa,
se sentir que está sendo difícil para você tocar em determinados
assuntos... - fala Valentim.
-Então vai ser assim.
Valentim, você tem como já ir ligando para a funerária agora?
Quanto antes eu avisar pra imprensa de tudo, melhor. Mais tempo a
gente ganha... - observa Laura.
-Claro! Vocês me deem licença
que eu já posso ligar agora... - fala Valentim.
-Pois então é chegada a
hora. Pelo menos durante alguns dias, meu amigo... você estará
oficialmente morto para todo o Brasil. - fala Laura.
Laura liga para a emissora.
CORTA A CENA.
CENA 3: Na manhã do dia
seguinte, Adelaide e Cleiton recebem a visita de Renata e Eva.
-Que bom vocês aqui de manhã
logo cedinho! - fala Adelaide.
-A gente veio falar da
repercussão do relato que vocês gravaram. Sabiam que tá super
bombando? Um monte de gente apoiando, vários pais se identificando
com a história... - fala Eva.
-Que bom, querida! Fico muito
aliviada de saber disso. Cês acreditam que o pastor continuou a me
fazer ameaças? - fala Adelaide.
-Eu já esperava por isso,
mãe. Esses fundamentalistas estão cada vez mais loucos. Não lembra
daquele dia que aquele grupo insultou a mim e à Eva, de graça? -
fala Renata.
-Essas coisas já
ultrapassaram todos os níveis do absurdo. Religião nenhuma pode
condenar o amor! - revolta-se Cleiton.
-É por isso que a gente
decidiu que vai comprar essa briga. Agora a gente vai até o fim.
Mexeram com a pessoa errada... eu fiquei quieta, calada e submissa
aos mandos e desmandos daquele pastor durante anos, mas não mais.
Conheço os podres daquela igreja e de cada um que ali frequenta. Se
é briga que ele quer, é briga que ele vai ter. E é bom se preparar
pra ter toda a merda jogada no ventilador porque eu não tenho nada a
perder! - fala Adelaide.
-Vocês tem todo o nosso
apoio... - fala Renata.
-Eu reforço o que a Renata
disse. Chega de aguentarmos caladas tanta opressão. Esse patriarcado
tá sempre querendo dar um jeito de silenciar as minorias,
principalmente a nós mulheres. Não podemos permitir que isso se
perpetue. - fala Eva.
-Eu sei que vocês tem muito o
que conversar e entendo a importância de tudo isso, mas a gente
poderia ir à mesa que eu tou morto de fome e a sua mãe fez um monte
de coisa gostosa pra gente? - fala Cleiton.
Os quatro conversam sobre
diversos assuntos à mesa. CORTA A CENA.
CENA 4: Cláudio e Guilherme
se acordam e Guilherme se oferece para preparar o café da manhã.
-Ai, Deus! Desse jeito eu vou
ficar mal acostumado, viu?
-É pra ficar mesmo, mas hoje
essa cozinha é minha de novo e você nem pense em colocar os pés
aqui. Vai assistir TV, se distrair um pouco, Claudinho... já já eu
te trago seu café.
Cláudio liga a TV na sala no
momento que a notícia da morte de Mateus é veiculada.
-Morreu ontem à noite o ator
Mateus Viveiros, conhecido pelo público pelas novelas “Radicalmente
Livres” e “Sonhos em Pedaços”. Por essa última novela, Mateus
foi considerado uma das revelações da TV. Ontem à tarde, quando
andava de volta para sua casa, Mateus foi atacado e esfaqueado por
dois homens e chegou consciente à clínica particular São Jerônimo,
mas lá seu estado se agravou e uma forte hemorragia interna causou
sua morte. Ainda não há notícias sobre os suspeitos de terem
cometido o crime. Mais informações sobre a trágica morte de Mateus
Viveiros ao longo da programação. - diz a repórter.
Cláudio fica perplexo.
-Guilherme, vem cá!
-O que foi? Você tá pálido,
amor...
-O Mateus morreu! Aliás, foi
assassinado por dois bandidos!
Guilherme fica lívido. CORTA
A CENA.
CENA 5: Mara, Raquel e
Valentim se reúnem no consultório de Valentim, para acertar os
detalhes do falso velório de Mateus.
-Primeiro eu preciso confirmar
que já ficou tudo combinado com o pessoal da funerária. Se algum
funcionário der com a língua nos dentes, toda essa nossa
investigação vai por água abaixo e aí sim que o Mateus pode
acabar morrendo pra valer... e muito mais gente. - fala Raquel.
-Quanto a isso não se
preocupe, Raquel. Já conversei e expliquei tudo para os funcionários
da funerária. Teve um mais corrupto que exigiu dinheiro pra ficar
calado, mas como eu já tava preparado pra esse tipo de coisa, molhei
a mão do pilantra. - fala Valentim.
-É um absurdo que as pessoas
queiram tirar vantagem em tudo, a qualquer momento. Mas pelo menos os
detalhes fundamentais do velório já estão acertados. E a coroa de
flores, já foi encomendada? - fala Mara.
-Tou indo providenciar isso
agora... - fala Raquel.
-Excelente. A gente precisa de
uma certa agilidade nesse processo, pra não gerar desconfianças de
quem não deve... - fala Valentim.
-Calma, gente. A gente tem até
o meio da tarde pra combinar tudo certinho no crematório. É lá que
ele vai ser “velado”, não é? - fala Raquel.
-Isso mesmo. Não tou
entendendo a razão de tanta pressa, Valentim... - fala Mara.
-Uma farsa enquanto não
estiver consumada, sempre pode ser desmascarada. Precisamos de
cautela. - fala Valentim.
-Eu compreendo essa cautela,
mas acho que não devemos ficar tão preocupados assim. Já armamos
farsas assim antes, para proteger outras testemunhas. Se até hoje
não deu errado, não vejo motivo de as coisas darem errado justo
agora. Nosso sigilo é sempre nossa arma. - fala Mara.
-Só você, Mara... às vezes
me sinto inexperiente diante de você, meu amor... - fala Valentim.
-Tá vendo, Raquel? Homens...
nunca deixam de depender das mulheres! - brinca Mara.
CORTA A CENA.
CENA 6: Márcio chega,
acompanhado de Marcelo e Rafael, à casa de Cláudio.
-Que surpresa, Márcio! Você
não disse que vinha... - surpreende-se Cláudio.
-E quase que a gente não vem,
mano... você ficou sabendo da morte do Mateus? Que coisa horrorosa!
Assim que eu souber dos horários do velório e onde vai ser eu vou
dar um abraço na Laura... - fala Marcelo.
-Foi horrível, mesmo. Entrem,
por favor. - fala Cláudio.
-Bem, na verdade eu vim aqui
pra te contar uma verdade que faltou você saber, meu filho... - fala
Márcio.
-Se vocês quiserem eu saio
daqui, se for uma conversa mais particular... - fala Guilherme.
-Deixa de besteira, você vai
ser meu marido. Mas se quiser ir pro quarto, tá liberado... - fala
Cláudio.
-O que eu tenho a te dizer é
sobre sua mãe biológica, meu filho. Sobre quem ela realmente é. -
fala Márcio.
-Fala, Márcio... quem é a
mulher que me abandonou? - fala Cláudio.
-Sua mãe é Suzanne. Aquela
mesma que anda com a Riva e se faz de melhor amiga... agora ela tá
no exterior. Mas acredite, meu filho: vai ser melhor que você não
tenha contato com essa mulher... ela não presta. Destruiu a minha
vida mais de uma vez, por causa dela eu fui preso. Ela cometeu os
crimes e sempre saiu impune. Não passa de uma golpista, que só
pensa em dinheiro e tirar vantagem de quem puder.
-Mesmo assim, Márcio... ela é
minha mãe biológica, não é? Quando essa sujeita voltar pro
Brasil, eu vou querer olhar na cara dela. Nem que seja para cuspir e
agradecer a Jean Wyllys pela ideia.
-Eu tou sinceramente surpreso
com sua reação, meu filho... esperava que você fosse se revoltar,
que fosse ficar com raiva de eu não ter dito antes.
-Te conheço pouco e nem
consigo te chamar de pai ainda, mas sei que você fez o que estava ao
seu alcance pra me proteger. Sei da fama de psicopata dessa mulher,
Marcelo e Rafael nunca gostaram dela.
-Então você não está
chateado comigo?
-Não tenho motivos para
estar. Tenho mais motivos pra te agradecer pela consideração.
Márcio abraça Cláudio.
CORTA A CENA.
CENA 7: Guilherme volta do
quarto.
-Eu tou interrompendo algum
papo de vocês? - pergunta Guilherme.
-Nada, amor. A gente já tinha
encerrado o assunto principal... já estávamos falando de outras
coisas...
-É que parece que confirmaram
o horário do velório e cremação do Mateus. Acabei de ver na TV.
-E qual vai ser o horário? -
pergunta Rafael.
-Depois das dezenove horas. -
fala Guilherme.
-Se eu soubesse que o Mateus
ia morrer, talvez não tivesse quebrado a cara dele daquele jeito...
- lamenta Rafael.
-Para com isso, amor... vocês
se acertaram, ele partiu com a consciência leve... - contemporiza
Marcelo.
Rafael começa a chorar,
arrependido e vai até o hall de entrada da casa de Cláudio. Marcelo
o segue.
-Não vai adiantar ficar
assim, amor... eu sei que tudo isso é triste, também tou destruído
por dentro, mas a gente não pode fazer mais nada...
-Marcelo, isso me deixa mais
triste por saber que podia ter sido qualquer um de nós, vítimas
dessa facção maldita. Tenho certeza que é coisa desse “Chefe”
- desabafa Rafael.
CORTA A CENA.
CENA 8: Instantes depois,
Márcio está se despedindo de Cláudio.
-Eu lamento que tudo isso
esteja acontecendo ao mesmo tempo, meu filho... eu te contando sobre
a Suzanne, você lidando com a morte de um conhecido... espero que
nosso próximo encontro seja marcado por melhores acontecimentos... -
fala Márcio.
-Eu também espero por dias
melhores, Márcio... mas temos que pensar pelo lado positivo, né? Eu
vou me casar, a festa é daqui a poucos dias... tudo vai mudar pra
melhor e eu faço questão da sua presença no meu casamento! - fala
Cláudio.
-Fico muito feliz de ver você
e o Marcelo me tratando bem assim... meus filhos de quem não pude
ser pai antes por covardia e por não saber, no seu caso. Vocês são
generosos demais comigo... - derrete-se Márcio, sendo abraçado por
Marcelo e Cláudio.
-Você merece essa chance,
pai. A gente nota que quanto mais você se desliga daquela louca da
Suzanne, mais você se torna quem você realmente é... - fala
Marcelo.
-Eu podia ter sido um bom pai
pra vocês... sinto muito por não ter feito isso antes... - lamenta
Márcio.
-Mas agora vai ter tempo, não
vai, Marcelo? - fala Cláudio.
-Claro que vai! Enquanto há
vida, há tempo de começar e recomeçar quantas vezes a gente
precisar. Caiu? Levanta... aprendi isso com dona Riva. - fala
Marcelo.
-Me sinto muito mais
endividado com você, Cláudio... endividado porque durante mais de
vinte anos eu não fiz ideia de onde você estava nem de quem você
era. Mas se você me deixar ser seu pai, eu prometo que vou tentar
ser sempre presente na sua vida. Você me deixa tentar? - fala
Márcio.
-Claro que deixo. Eu gosto de
você de graça, Márcio... desculpe se ainda não consigo te chamar
de pai... isso vem com o tempo.
Márcio, Marcelo e Rafael
partem da casa de Cláudio. CORTA A CENA.
CENA 9: Começa o velório de
Mateus no crematório. Rafael e Marcelo são os primeiros a chegar e
Marcelo estranha a expressão calma de Laura, Haroldo e Bruno.
-Olha que estranho, amor...
eles parecem estar calmos diante do caixão... - fala Marcelo.
-Talvez estejam em choque ou
já tenham se esgotado de tanto chorar, né? Afinal de contas, foi
uma morte trágica... deve ter sido traumático, especialmente pra
Laura e pro meu irmão... - fala Rafael.
Os dois se aproximam e abraçam
Haroldo, Bruno e Laura, sem dizer palavra alguma. Cláudio, Guilherme
e algumas fãs de Mateus começam a chegar na capela. Uma das fãs se
descontrola.
-Eu preciso me despedir do meu
ídolo! Um pouco de mim morreu junto! - fala a fã, de maneira
esparrenta.
Rafael e Marcelo então
percebem que o caixão está fechado.
-Laura, por que não abre o
caixão? - pergunta Rafael, deixando Laura tensa.
FIM DO CAPÍTULO 94.
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