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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CAPÍTULO 94

CENA 1: Marcelo confronta Márcio.
-Anda! Fala! Aliás, falem vocês, não é mesmo? Pelo visto eu fui o corno aqui... o último a saber que o meu irmão é filho daquela psicopata! - fala Marcelo.
Riva tenta contemporizar.
-Se controle, meu filho! Você não consegue ter a dimensão do que isso significa? Que o Cláudio pode ficar ainda mais traumatizado por saber que a mãe dele é justamente a Suzanne e que ela não passa de uma mentirosa golpista? - fala Riva.
-Primeiro me contem direito essa história. Quer dizer que a Suzanne é mesmo tudo aquilo que a gente sempre desconfiou? - fala Marcelo.
-Infelizmente é, meu filho. E também foi a mulher que mais amei na vida. Conheci ela ainda garoto e fiz de tudo por ela, tudo o que ela me mandava fazer eu obedecia. Fui cego de amor, fiz coisas condenáveis, mas eu me arrependo de cada coisa que eu fiz só pra continuar tendo a Suzanne por perto... - desabafa Márcio.
-Então quer dizer que essa mulher realmente nunca foi do interior de São Paulo? Eu sempre desconfiei daquele sotaque dela, carioca da gema feito a gente... - constata Marcelo.
-Nunca foi de São Paulo... muito menos de família rica e poderosa de fazendeiros, como ela costuma dizer pra todas as vítimas dos golpes que aplica... - esclarece Márcio.
-Filho... ela não passa de uma golpista. Destruiu a vida do seu pai e tudo isso é verdade. Obrigou o pobre coitado a abandonar o filho deles. - fala Riva.
-Filho esse que é o Cláudio, meu irmão... que horror, gente! Indiretamente eu sou relacionado a essa desgraçada!
-Mas felizmente não é aparentado com ela... - observa Vicente.
-Graças a Deus! Fico com pena é do meu irmão, coitado... prestes a se casar e ainda prestes a receber essa bomba que é saber que a mulher que colocou ele no mundo é justamente a Suzanne... - lamenta Marcelo.
-Mas o Cláudio não precisa necessariamente saber dos podres da mãe biológica, precisa? - contemporiza Riva.
-Claro que não precisa. Mas ele tem o direito de saber quem é a mulher que pariu ele e... se eu conheço bem o Cláudio, ele vai querer ir a fundo nisso em algum momento, vai acabar descobrindo a bela bisca que a Suzanne é. Acho melhor você contar pra ele tudo o que conseguir, Márcio. Vai ser pior se o Cláudio descobrir a verdade por conta própria... conheço bem como as coisas funcionam pra ele. - fala Marcelo.
-Mas meu filho... você acha justo que eu vá contar pro Cláudio sobre a verdadeira mãe dele justo agora? Falta tão pouco pra ele se casar! O momento é de felicidade, de pensar no futuro! - pondera Márcio.
-Olha, pai... eu sinto muito, mas vai ser pior se o Cláudio souber depois. Ele tem esse direito. E é mais forte do que parece ser num primeiro momento.
-Tudo bem, eu prometo que vou conversar com ele e contar tudo. Mas hoje não. Já está ficando tarde e eu preciso voltar pra casa da dona Raquel.
-Nada disso. Hoje você fica aqui, pai. Eu falo com o Ivan para ele liberar a edícula pra você. Amanhã, sem falta, eu vou com você à casa do Cláudio e a gente conta tudo. Ele anda afastado dos ensaios do grupo de teatro desde que começou a preparar a festa do casamento, de qualquer jeito... vai estar lá. E você vai contar tudo, faço questão de ir junto pra me certificar disso.
-Está certo, meu filho. Nós vamos amanhã. Mas a gente precisa ter cuidado com o que vai dizer...
CORTA A CENA.

CENA 2: Valentim retorna ao quarto onde Mateus se recupera e está acompanhado de Laura e Haroldo.
-Está feito, gente: o médico responsável acabou de assinar o falso atestado de óbito do Mateus.
-Agora que a coisa tá feita, chega a me dar uma sensação sinistra de brincar desse jeito com a morte... - fala Mateus, impressionado.
-Isso é necessário, meu querido... você sabe disso. Se há um Deus nos observando, ele sabe que não estamos brincando com coisa séria... é estratégia de sobrevivência... - observa Laura.
-Só fiquei com uma dúvida, Valentim... como é que a gente vai dar sequência a tudo isso? - fala Haroldo.
-Simples, Haroldo: primeiro eu vou conseguir uns tijolos, daqueles bem pesados, para colocar no caixão. Já já eu entro em contato com a funerária e encomendo o caixão que será usado nessa farsa. Você, Haroldo, poderia por exemplo comunicar à imprensa sobre a morte do Mateus.
-Eu acho melhor que a Laura faça isso, afinal ela é conhecida por ter sido namorada dele, você sabe... - fala Haroldo.
-Verdade. Tenho alguma fama por causa do meu namoro anterior com Mateus. O certo é eu avisar para os veículos de imprensa da falsa morte do Mateus. - fala Laura.
-Eu tou com medo de alguma coisa nisso tudo acabar dando errado, gente... - fala Mateus, apreensivo.
-Vocês estão devidamente protegidos, sobretudo você, Mateus. Não se preocupe. A sua falsa morte vai te dar tempo de sobra pra contar tudo o que você sabe sobre a facção e sobre o “Chefe”. Não precisa nem ter pressa, se sentir que está sendo difícil para você tocar em determinados assuntos... - fala Valentim.
-Então vai ser assim. Valentim, você tem como já ir ligando para a funerária agora? Quanto antes eu avisar pra imprensa de tudo, melhor. Mais tempo a gente ganha... - observa Laura.
-Claro! Vocês me deem licença que eu já posso ligar agora... - fala Valentim.
-Pois então é chegada a hora. Pelo menos durante alguns dias, meu amigo... você estará oficialmente morto para todo o Brasil. - fala Laura.
Laura liga para a emissora. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Adelaide e Cleiton recebem a visita de Renata e Eva.
-Que bom vocês aqui de manhã logo cedinho! - fala Adelaide.
-A gente veio falar da repercussão do relato que vocês gravaram. Sabiam que tá super bombando? Um monte de gente apoiando, vários pais se identificando com a história... - fala Eva.
-Que bom, querida! Fico muito aliviada de saber disso. Cês acreditam que o pastor continuou a me fazer ameaças? - fala Adelaide.
-Eu já esperava por isso, mãe. Esses fundamentalistas estão cada vez mais loucos. Não lembra daquele dia que aquele grupo insultou a mim e à Eva, de graça? - fala Renata.
-Essas coisas já ultrapassaram todos os níveis do absurdo. Religião nenhuma pode condenar o amor! - revolta-se Cleiton.
-É por isso que a gente decidiu que vai comprar essa briga. Agora a gente vai até o fim. Mexeram com a pessoa errada... eu fiquei quieta, calada e submissa aos mandos e desmandos daquele pastor durante anos, mas não mais. Conheço os podres daquela igreja e de cada um que ali frequenta. Se é briga que ele quer, é briga que ele vai ter. E é bom se preparar pra ter toda a merda jogada no ventilador porque eu não tenho nada a perder! - fala Adelaide.
-Vocês tem todo o nosso apoio... - fala Renata.
-Eu reforço o que a Renata disse. Chega de aguentarmos caladas tanta opressão. Esse patriarcado tá sempre querendo dar um jeito de silenciar as minorias, principalmente a nós mulheres. Não podemos permitir que isso se perpetue. - fala Eva.
-Eu sei que vocês tem muito o que conversar e entendo a importância de tudo isso, mas a gente poderia ir à mesa que eu tou morto de fome e a sua mãe fez um monte de coisa gostosa pra gente? - fala Cleiton.
Os quatro conversam sobre diversos assuntos à mesa. CORTA A CENA.
CENA 4: Cláudio e Guilherme se acordam e Guilherme se oferece para preparar o café da manhã.
-Ai, Deus! Desse jeito eu vou ficar mal acostumado, viu?
-É pra ficar mesmo, mas hoje essa cozinha é minha de novo e você nem pense em colocar os pés aqui. Vai assistir TV, se distrair um pouco, Claudinho... já já eu te trago seu café.
Cláudio liga a TV na sala no momento que a notícia da morte de Mateus é veiculada.
-Morreu ontem à noite o ator Mateus Viveiros, conhecido pelo público pelas novelas “Radicalmente Livres” e “Sonhos em Pedaços”. Por essa última novela, Mateus foi considerado uma das revelações da TV. Ontem à tarde, quando andava de volta para sua casa, Mateus foi atacado e esfaqueado por dois homens e chegou consciente à clínica particular São Jerônimo, mas lá seu estado se agravou e uma forte hemorragia interna causou sua morte. Ainda não há notícias sobre os suspeitos de terem cometido o crime. Mais informações sobre a trágica morte de Mateus Viveiros ao longo da programação. - diz a repórter.
Cláudio fica perplexo.
-Guilherme, vem cá!
-O que foi? Você tá pálido, amor...
-O Mateus morreu! Aliás, foi assassinado por dois bandidos!
Guilherme fica lívido. CORTA A CENA.

CENA 5: Mara, Raquel e Valentim se reúnem no consultório de Valentim, para acertar os detalhes do falso velório de Mateus.
-Primeiro eu preciso confirmar que já ficou tudo combinado com o pessoal da funerária. Se algum funcionário der com a língua nos dentes, toda essa nossa investigação vai por água abaixo e aí sim que o Mateus pode acabar morrendo pra valer... e muito mais gente. - fala Raquel.
-Quanto a isso não se preocupe, Raquel. Já conversei e expliquei tudo para os funcionários da funerária. Teve um mais corrupto que exigiu dinheiro pra ficar calado, mas como eu já tava preparado pra esse tipo de coisa, molhei a mão do pilantra. - fala Valentim.
-É um absurdo que as pessoas queiram tirar vantagem em tudo, a qualquer momento. Mas pelo menos os detalhes fundamentais do velório já estão acertados. E a coroa de flores, já foi encomendada? - fala Mara.
-Tou indo providenciar isso agora... - fala Raquel.
-Excelente. A gente precisa de uma certa agilidade nesse processo, pra não gerar desconfianças de quem não deve... - fala Valentim.
-Calma, gente. A gente tem até o meio da tarde pra combinar tudo certinho no crematório. É lá que ele vai ser “velado”, não é? - fala Raquel.
-Isso mesmo. Não tou entendendo a razão de tanta pressa, Valentim... - fala Mara.
-Uma farsa enquanto não estiver consumada, sempre pode ser desmascarada. Precisamos de cautela. - fala Valentim.
-Eu compreendo essa cautela, mas acho que não devemos ficar tão preocupados assim. Já armamos farsas assim antes, para proteger outras testemunhas. Se até hoje não deu errado, não vejo motivo de as coisas darem errado justo agora. Nosso sigilo é sempre nossa arma. - fala Mara.
-Só você, Mara... às vezes me sinto inexperiente diante de você, meu amor... - fala Valentim.
-Tá vendo, Raquel? Homens... nunca deixam de depender das mulheres! - brinca Mara.
CORTA A CENA.

CENA 6: Márcio chega, acompanhado de Marcelo e Rafael, à casa de Cláudio.
-Que surpresa, Márcio! Você não disse que vinha... - surpreende-se Cláudio.
-E quase que a gente não vem, mano... você ficou sabendo da morte do Mateus? Que coisa horrorosa! Assim que eu souber dos horários do velório e onde vai ser eu vou dar um abraço na Laura... - fala Marcelo.
-Foi horrível, mesmo. Entrem, por favor. - fala Cláudio.
-Bem, na verdade eu vim aqui pra te contar uma verdade que faltou você saber, meu filho... - fala Márcio.
-Se vocês quiserem eu saio daqui, se for uma conversa mais particular... - fala Guilherme.
-Deixa de besteira, você vai ser meu marido. Mas se quiser ir pro quarto, tá liberado... - fala Cláudio.
-O que eu tenho a te dizer é sobre sua mãe biológica, meu filho. Sobre quem ela realmente é. - fala Márcio.
-Fala, Márcio... quem é a mulher que me abandonou? - fala Cláudio.
-Sua mãe é Suzanne. Aquela mesma que anda com a Riva e se faz de melhor amiga... agora ela tá no exterior. Mas acredite, meu filho: vai ser melhor que você não tenha contato com essa mulher... ela não presta. Destruiu a minha vida mais de uma vez, por causa dela eu fui preso. Ela cometeu os crimes e sempre saiu impune. Não passa de uma golpista, que só pensa em dinheiro e tirar vantagem de quem puder.
-Mesmo assim, Márcio... ela é minha mãe biológica, não é? Quando essa sujeita voltar pro Brasil, eu vou querer olhar na cara dela. Nem que seja para cuspir e agradecer a Jean Wyllys pela ideia.
-Eu tou sinceramente surpreso com sua reação, meu filho... esperava que você fosse se revoltar, que fosse ficar com raiva de eu não ter dito antes.
-Te conheço pouco e nem consigo te chamar de pai ainda, mas sei que você fez o que estava ao seu alcance pra me proteger. Sei da fama de psicopata dessa mulher, Marcelo e Rafael nunca gostaram dela.
-Então você não está chateado comigo?
-Não tenho motivos para estar. Tenho mais motivos pra te agradecer pela consideração.
Márcio abraça Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 7: Guilherme volta do quarto.
-Eu tou interrompendo algum papo de vocês? - pergunta Guilherme.
-Nada, amor. A gente já tinha encerrado o assunto principal... já estávamos falando de outras coisas...
-É que parece que confirmaram o horário do velório e cremação do Mateus. Acabei de ver na TV.
-E qual vai ser o horário? - pergunta Rafael.
-Depois das dezenove horas. - fala Guilherme.
-Se eu soubesse que o Mateus ia morrer, talvez não tivesse quebrado a cara dele daquele jeito... - lamenta Rafael.
-Para com isso, amor... vocês se acertaram, ele partiu com a consciência leve... - contemporiza Marcelo.
Rafael começa a chorar, arrependido e vai até o hall de entrada da casa de Cláudio. Marcelo o segue.
-Não vai adiantar ficar assim, amor... eu sei que tudo isso é triste, também tou destruído por dentro, mas a gente não pode fazer mais nada...
-Marcelo, isso me deixa mais triste por saber que podia ter sido qualquer um de nós, vítimas dessa facção maldita. Tenho certeza que é coisa desse “Chefe” - desabafa Rafael.
CORTA A CENA.

CENA 8: Instantes depois, Márcio está se despedindo de Cláudio.
-Eu lamento que tudo isso esteja acontecendo ao mesmo tempo, meu filho... eu te contando sobre a Suzanne, você lidando com a morte de um conhecido... espero que nosso próximo encontro seja marcado por melhores acontecimentos... - fala Márcio.
-Eu também espero por dias melhores, Márcio... mas temos que pensar pelo lado positivo, né? Eu vou me casar, a festa é daqui a poucos dias... tudo vai mudar pra melhor e eu faço questão da sua presença no meu casamento! - fala Cláudio.
-Fico muito feliz de ver você e o Marcelo me tratando bem assim... meus filhos de quem não pude ser pai antes por covardia e por não saber, no seu caso. Vocês são generosos demais comigo... - derrete-se Márcio, sendo abraçado por Marcelo e Cláudio.
-Você merece essa chance, pai. A gente nota que quanto mais você se desliga daquela louca da Suzanne, mais você se torna quem você realmente é... - fala Marcelo.
-Eu podia ter sido um bom pai pra vocês... sinto muito por não ter feito isso antes... - lamenta Márcio.
-Mas agora vai ter tempo, não vai, Marcelo? - fala Cláudio.
-Claro que vai! Enquanto há vida, há tempo de começar e recomeçar quantas vezes a gente precisar. Caiu? Levanta... aprendi isso com dona Riva. - fala Marcelo.
-Me sinto muito mais endividado com você, Cláudio... endividado porque durante mais de vinte anos eu não fiz ideia de onde você estava nem de quem você era. Mas se você me deixar ser seu pai, eu prometo que vou tentar ser sempre presente na sua vida. Você me deixa tentar? - fala Márcio.
-Claro que deixo. Eu gosto de você de graça, Márcio... desculpe se ainda não consigo te chamar de pai... isso vem com o tempo.
Márcio, Marcelo e Rafael partem da casa de Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 9: Começa o velório de Mateus no crematório. Rafael e Marcelo são os primeiros a chegar e Marcelo estranha a expressão calma de Laura, Haroldo e Bruno.
-Olha que estranho, amor... eles parecem estar calmos diante do caixão... - fala Marcelo.
-Talvez estejam em choque ou já tenham se esgotado de tanto chorar, né? Afinal de contas, foi uma morte trágica... deve ter sido traumático, especialmente pra Laura e pro meu irmão... - fala Rafael.
Os dois se aproximam e abraçam Haroldo, Bruno e Laura, sem dizer palavra alguma. Cláudio, Guilherme e algumas fãs de Mateus começam a chegar na capela. Uma das fãs se descontrola.
-Eu preciso me despedir do meu ídolo! Um pouco de mim morreu junto! - fala a fã, de maneira esparrenta.
Rafael e Marcelo então percebem que o caixão está fechado.
-Laura, por que não abre o caixão? - pergunta Rafael, deixando Laura tensa.
FIM DO CAPÍTULO 94.

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