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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CAPÍTULO 93

CENA 1: Mateus cai, aparentemente desacordado, com as sacolas ao chão.
-Pode parar, Ronaldo. Esse daí já foi pro inferno, melhor dar o fora daqui antes que os homens apareçam... - fala o outro homem, que olha para os lados.
-Tá certo. Esse não vai mais dar problema pra organização e nem pro chefe... - fala o homem que esfaqueou.
Os dois saem correndo, antes que sejam vistos por mais alguém. Mateus percebe que eles estão distantes e, com muita dificuldade, consegue pegar o celular de seu bolso, ligando para Laura.
Laura está subindo novamente ao palco, quando seu celular toca.
-Desculpa, Procópio! Mil perdões! Mas é Mateus quem tá me ligando... eu vou atender e já volto aqui pro palco!
Laura corre até o camarim, para não perturbar os outros atores e atende o celular.
-Fala, Mateus...
-L...Laura! O chefe m...mandou dois homens pra me matar!
-O que? Mateus, que voz é essa? Você tá bem?
-Eu fui esfaqueado por um d...desses caras. Es...tou sangrando muito.
-Aguenta firme aí, meu amigo! Eu vou sair daqui agora. Onde você tá?
-A vin...te metros de c...casa.
-Mateus, liga pro Haroldo descer e te socorrer! Manda ele chamar uma ambulância, qualquer coisa, se eu não chegar a tempo!
Laura sai correndo e Procópio a para.
-O que está havendo, Laura?
-Não vai dar tempo de explicar. Aconteceu coisa séria, preciso ir embora.
Laura corre até sua moto e parte para sua casa. Em menos de cinco minutos, ela chega ao local onde Mateus está, sendo amparado por Haroldo.
-Você chamou a emergência, Haroldo?
-Claro que chamei! Mas eles deram quinze minutos pra chegar.
-E o Mateus? Como está?
-Eu... tou bem. Sou v...vaso ruim. Não vai ser d...dessa vez que vocês v...vão se livrar de mim... - fala Mateus.
-Procura falar pouco, Mateus! A gente ainda não sabe se essas facadas te feriram seriamente por dentro. Tenta não fazer esforço agora... a gente tá aqui contigo, vai dar tudo certo... - fala Laura.
-Ai, meu Deus. E essa ambulância que nunca chega? - preocupa-se Haroldo.
-Faz quanto tempo que você ligou pra emergência, amor? - pergunta Laura.
-Assim que o Mateus me ligou avisando que tava aqui em baixo, esfaqueado...
-Eu sinto tanto por não ter ouvido você, Haroldo... se eu não tivesse saído de casa, nada disso teria acontecido. Ia ser eu a sair pra fazer as compras... - lamenta Laura.
-Não é hora pra lamentação... eu... tou vivo ainda, ge...gente. Quem g...garante que não iam f...fazer o mesmo c...com você, Laura? - fala Mateus.
-Mas é teimoso mesmo, ô derrota! Baianinho bem arretado que tu é, rapaz! Já mandei você não falar e ficar quieto enquanto o atendimento não chega! - repreende Laura, preocupada.
A ambulância se aproxima deles.
-Até que enfim! Pensei que não chegavam mais! - fala Laura.
Os médicos descem, examinam rapidamente Mateus e o colocam dentro da ambulância. Haroldo e Laura entram junto de Mateus.
-Vai dar tudo certo, meu amigo... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 2: Mateus é levado à clínica particular e Laura estranha.
-Você não acha exagero demais, Haroldo?
-Cê tá bem doida que eu ia deixar nosso amigo ser levado pra um hospital público diante de uma situação dessas, né? Acho que você, melhor que ninguém, sabe que o “Chefe” é perigoso e as chances dele mandar os homens dele vigiarem os hospitais públicos é bem maior. Aqui, a segurança pode não ser completa, mas de todos os lugares, seria o último que o chefe mandaria o pessoal dele vasculhar. Ganhamos tempo e mantemos o Mateus a salvo, sacou?
-Não... agora eu acho que entendi melhor... desculpa se achei exagero, amor... é que essa situação toda tá me deixando nervosa, eu tive muito medo de que o Mateus acabasse morrendo e ainda tou com medo das complicações que ele pode ter por causa dessa atrocidade que fizeram com ele. Mas eu sei que foi melhor assim, Haroldo. Só não tenho como te pagar, te ressarcir tudo isso.
-Relaxa, querida. Nós estamos juntos... estou fazendo o que deve ser feito e você não tem que se preocupar em me ressarcir de algo que não estou cobrando de ninguém.
O médico chega com notícias sobre Mateus.
-Vocês que vieram acompanhando Mateus Viveiros, certo? - fala o médico.
-Sim. Como ele está, doutor? - pergunta Laura.
-Felizmente os ferimentos foram mais superficiais e ele não corre risco de morrer. Ainda assim, como ele perdeu muito sangue, vai precisar passar o dia aqui conosco, recebendo sangue do nosso banco. Mas podem respirar aliviados que ele vai sair dessa! - fala o médico.
-Podemos ver ele? - pergunta Haroldo.
-Melhor não. Ele está recebendo sangue nesse momento. Eu aviso quando já for possível que vocês venham ver ele. - finaliza o médico, retornando de onde saiu.
-Laura... você não acha melhor avisar o Valentim de tudo o que aconteceu?
-Ainda bem que você me lembrou de fazer isso, amor... eu já ia me esquecendo. Também, foi tanta coisa ao mesmo tempo que nem deu tempo de pensar... vou ligar pra ele agora, cê me dá licença...
Laura liga para Valentim.
-Fale, Laura. Procópio não entendeu nada com você saindo apressada do teatro hoje...
-Eu tive de sair correndo sem explicar nada, tava correndo contra o relógio, Valentim. Mateus sofreu um atentado e quase morreu.
-Não brinca! E ele está bem? Vai se safar dessa?
-Felizmente vai, mas estamos numa clínica particular para evitar que o pessoal da facção chegue na gente. Foi ideia do Haroldo.
-Excelente ideia. Eu vou mais tarde aí, para conversar com vocês três, com calma. Podia me passar o endereço?
-Claro, Valentim... anota aí!
Laura passa o endereço da clínica onde eles estão para Valentim.
-Ótimo. Vou só finalizar algumas coisas que estou fazendo aqui e vou para a clínica o mais rápido possível. Recomendo que vocês comuniquem aos médicos que Mateus foi vítima de um atentado por ser arquivo vivo. Dessa forma, vocês ficam minimamente protegidos até eu chegar.
-Está certo, Valentim... vou pedir pro Haroldo falar com o médico. Até mais tarde, querido.
-Mantenham a calma. O cerco contra o “Chefe” tá mais perto de se fechar do que ele imagina...
-Ainda bem. Até mais, Valentim.
Laura desliga. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Victor volta de terapia e Diogo o recebe.
-E aí, amor? Foi tranquilo lá na terapia?
-Foi maravilhoso, Diogo... hoje teve uma espécie de dinâmica, onde a terapeuta aplicou umas técnicas pra eu tentar.
-Como elas funcionavam?
-Primeiro eu tinha que fazer um exercício de introspecção por uns quinze minutos em silêncio. Nem eu nem ela falávamos nada. Depois disso, ela me perguntava que emoções eu tinha reconhecido dentro de mim enquanto “meditava” naqueles minutos.
-Interessante, isso... e funcionou?
-Muito! Eu falei de todas as emoções e pensamentos que tive naquele tempo. Amor, raiva, ódio, desânimo, medo, coragem... tudo!
-E depois?
-Ela pediu para eu colocar pra fora o sentimento que mais me incomodava naquele momento. Que eu não tivesse medo de gritar a plenos pulmões, de chorar, de expurgar o fantasma colocando esse fantasma pra fora. Disse ela que isso faz parte da cura das próprias emoções, reconhecendo essas emoções e acolhendo cada uma delas.
-Que maravilhoso, amor! E isso parece ter te feito bem, tou te sentindo mais leve!
-E é verdade, Diogo. Eu coloquei toda a minha raiva pra fora... e o mais incrível é que todo o ódio que eu projetava pros outros, como o Cláudio por exemplo, na verdade eu entendi que era um processo de autossabotagem.
-Que lindo isso, Victor...
-É, mas mesmo assim eu preciso sempre ficar consciente de que não está nada ganho, que nada mudou da noite pro dia feito passe de mágica. Preciso lidar comigo todos os dias e tentar ficar atento pra não projetar nos terceiros as coisas que são minhas, né...
-Fico feliz que você esteja tendo essa clareza toda, amor. Confesso que quando você acusava o Cláudio de coisas que ele nunca fez, isso chegava a me assustar.
-Ainda odeio ele um pouquinho de vez em quando, mas sei que isso é problema meu e que ele é uma boa pessoa...
-Ainda bem, Victor... ainda bem. Acho que era uma boa você falar da próxima vez pro Valentim sobre essa última sessão de terapia. Acho que ele vai gostar de saber.
-Acredito que vai sim, Diogo... ele que me indicou essa terapeuta e ela é maravilhosa mesmo, uma linda na vida do ser humano.
Os dois seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 4: Laura e Haroldo aguardam a chegada de Valentim, que está a caminho.
-Pelo menos agora a gente sabe que vai estar completamente seguro. Confio muito no Valentim... - fala Laura.
-E não é pra menos. Ele, além de ser um excelente investigador, é amigo pessoal de meu pai, há muitos anos. - fala Haroldo.
-Amor... eu andei pensando numa coisa: já ficou claro que ou o Mateus ou o Bruno sabem quem é esse “Chefe”... isso se os dois não souberem a identidade dele.
-Sim, isso é fato. Quanto ao Bruno eu não tou certo, mas o Mateus já me disse que conhece pessoalmente esse cara.
-Sério? E por que você não me contou isso antes?
-Primeiro porque não achei necessário e segundo porque a gente foi ameaçado até não poder mais, amor... mas agora, diante disso, não adianta mais esconder isso de você. O Mateus que me desculpe por passar por cima do pedido de segredo dele.
-Não... que isso, querido... você tá mais que certo. Nossas vidas não podem simplesmente ficar sempre nas mãos de um cara demente feito esse “Chefe”. Mas, seja sincero comigo: você também sabe qual é a identidade dele? A gente não pode mais brincar de esconder informações diante do que aconteceu...
-Eu adoraria te dizer que conheci o “Chefe”, mas infelizmente eu não conheci, Laura. Isso é o que me deixa mais furioso por tudo: o sujeito me teve completamente nas mãos durante mais de dois anos, me forçou a trabalhar pra facção e eu nem sei quem é.
-Acredito em você, amor. Mas confesso que isso me frustra. Aliás, frustração nem é a palavra... eu fico é odiada de saber como um sujeito pode manipular a vida de tanta gente sem sequer mostrar a cara... ele pode ser qualquer pessoa que a gente já tenha conhecido e isso me deixa meio atordoada, só de pensar.
Valentim chega e Haroldo percebe.
-Amor, o Valentim chegou...
Laura e Haroldo recebem Valentim na sala de espera da clínica. CORTA A CENA.

CENA 5: Ao fim da tarde, Riva e Vicente passeiam com o filho Lúcio e, andando pelas ruas, acabam encontrando por acaso com Márcio. Vicente é o primeiro a ver Márcio.
-Ei, Márcio! Dando volta antes de anoitecer também? - fala Vicente.
Márcio se aproxima e cumprimenta Riva e Vicente.
-Tava aqui dando umas voltas pra espairecer... esquecer dos problemas... - fala Márcio.
-Eu imagino... você não precisa fazer segredo pra mim, cara... a Riva me contou sobre a Suzanne... que ela é mãe do Cláudio.
-Pois é, Vicente... pra vocês verem. Essa vida já foi muito cruel comigo. Mais cruel foi o que a Suzanne aprontou ao longo de tantos anos comigo.
-Deixa disso, Márcio... você sabe muito bem que a Suzanne nunca amou ninguém... - contemporiza Riva.
-É, mas eu sempre a amei. Apesar de todas as barbaridades que ela me levou a fazer, apesar dos golpes que ela armou, apesar de todas as mentiras que ela contou pra tanta gente, eu ainda amo essa mulher... - desabafa Márcio.
-Márcio, meu amigo... você já perdeu tempo e vida demais em função de agradar uma pessoa que nunca fez nada de bom por você, que só te colocou pra baixo... - fala Riva.
-A Riva tá certa, Márcio. Tá na hora de você se libertar disso, de uma vez por todas. - fala Vicente.
-Sabem o que é mais duro nisso tudo pra mim? Saber que vocês estão cobertos de razão... mas ainda assim, não é fácil me desprender desse amor... eu dei minha vida por ela... - desabafa Márcio.
-Você não quer vir conosco? A gente já tá indo pra casa, você tá convidado pro jantar! - convida Vicente.
-Se não for incomodar...
-Você é pai do meu primogênito, seu bobo. Não incomoda nunca! - fala Riva.
Os três partem para o carro de Vicente. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura, Haroldo e Valentim visitam Mateus no quarto da clínica.
-Valentim? Pra que você veio aqui? - estranha Mateus.
-Garantir a segurança de todos vocês, Mateus. Minha equipe já está devidamente avisada e há policiais lá fora... - esclarece Valentim.
-Que susto que você nos deu, hein amigão? - fala Haroldo.
-Nem me fala, Haroldo... quando eles me atacaram, cheguei a pensar que ia morrer. Não sei como eu consegui me fingir de morto enquanto me retorcia de dor por dentro... acho que foi isso que evitou que eles me esfaqueassem mais. - fala Mateus.
-Eles vieram pra matar mesmo, Mateus. O “Chefe” não tá mais de brincadeira... acabou o “amor”. É preciso que algo urgente seja feito... - fala Laura.
-Mais urgente do que eu receber a transfusão de sangue pra ficar bom? Isso já tá resolvido... - brinca Mateus.
-Não brinca com isso, ainda mais numa hora dessas, Mateus! Você não percebe a gravidade de tudo isso? - fala Laura.
-Evidente que sim, Laura.
-Eu sei que você sabe quem é o chefe. Haroldo me contou, mas não fique bravo com ele. - fala Laura.
-Ele tá certo... se eu não tive coragem de dizer antes, alguém que sabia isso sobre mim tinha de ter. - fala Mateus.
-Não vamos te pressionar a dizer nada além daquilo que você se sentir seguro para dizer, Mateus. Fique tranquilo. - fala Valentim.
-Não, Valentim... agora eu quero ir até o fim. Só vou precisar de um tempo pra pensar em tudo e garantir que tudo fique seguro pra nós... - fala Mateus.
-Bem... então eu acho que a sugestão do Valentim deve ser levada a sério: nós vamos forjar sua morte. Assim, a gente arma todo o ritual de velório, enterro... tudo isso pra engabelar o “Chefe”. Ele, pensando ter te eliminado, não vai esperar que você conte tudo à polícia... você topa? - fala Laura.
-Topo sem nem pensar duas vezes! - fala Mateus.
-Ótimo. Valentim, vá comunicar os médicos a respeito do nosso plano... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Valentim explica aos médicos a situação que envolve Mateus.
-Só tenho uma dúvida, investigador: não há risco de isso tudo manchar a reputação da nossa clínica? - pergunta um dos médicos.
-De jeito nenhum. Sou um representante da lei. As providências para a proteção das testemunhas já vinham sendo tomadas antes desse atentado. Eu e a Polícia Federal assumimos, por conta e risco, essa farsa. Mateus é uma importante peça de um quebra-cabeça que envolve uma facção perigosíssima. Se o líder dessa facção acreditar que o eliminou, nós temos como pegar esse criminoso, sem que ele suspeite que o cerco está se fechando contra ele, entenderam?
-Agora sim... - fala o médico.
-De qualquer forma, é importante que vocês esperem ainda algumas horas antes de assinar o falso atestado de óbito de Mateus. Ele chegou aqui consciente, se comunicando com todos e provavelmente houve testemunhas de que ele estava ainda consciente no local do crime.
-Faz sentido, investigador... esse período de tempo dá respaldo para dizermos que houve alguma complicação, hemorragia interna...
-Exatamente, doutor.
CORTA A CENA.

CENA 8: Após jantar, Vicente e Riva conversam a sós com Márcio.
-Eu sei que pode ser muito duro pra você ter de encarar tudo de uma vez, mas acho que passou da hora de você contar pro Cláudio toda a verdade... - fala Vicente.
-Ah, Vicente... não é tão fácil quanto parece. Depois, falta tão pouco pro casamento do meu filho, sabe? Nem é justo soltar uma bomba dessas nesse momento... - fala Márcio.
-Mas Márcio... mesmo assim! Depois do casamento do Cláudio você não vai ter como escapar de contar pra ele que a mãe dele é a Suzanne... é um direito dele saber disso. - fala Riva.
Marcelo, que passa pelo corredor, escuta a conversa.
-E é um direito meu também! - fala Marcelo, surpreendendo a todos.
FIM DO CAPÍTULO 93.

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