CENA 1: Victor segue ameaçando
pular do alto do edifício.
-Victor... escute Diogo! Ele é
a pessoa que mais se importa com você nessa vida! - contemporiza
Valentim.
-Quais são as garantias que
eu tenho disso? Eu sou um atraso pra vida de todo mundo. Minha
família desistiu de mim. Diogo também vai desistir. É um direito
dele não se importar com um desvairado feito eu. Pra que eu vou
querer continuar vivo, se for pra ser sozinho?
Diogo percebe que Victor está
cada vez mais próximo de pular e resolve tomar uma atitude,
puxando-o para dentro. Valentim se impacienta.
-Diogo! Você podia ter caído!
Colocou os dois em risco! - brada Valentim.
-Cês tão vendo como eu não
presto pra ninguém? Quase que o único homem que eu amo na vida se
mata por mim. O mais justo é eu morrer. Deixar ele livre, livre pra
viver ao lado de alguém que não dê esse trabalho que eu dou.
-Você não entende nada,
Victor. Eu amo você mais que tudo! De que valeria minha vida se você
pular desse prédio? Você está pensando em mim, de verdade? Porque
não parece. Você diz que está querendo me livrar de um peso que
você acha que eu carrego por cuidar de você. Será que você não
percebe que nos últimos tempos eu faço tudo o que faço por você
por amor? Nada disso que temos vivido nos últimos tempos faz com que
eu desista de você. Quando você não está em crise, você é a
pessoa mais doce e mais sincera que eu já conheci em toda vida. Você
é bom, tem um coração generoso, fora das crises é incapaz de
julgar qualquer pessoa. Isso me faz bem, sabia? Você me faz bem,
muito mais do que possa imaginar, muito mais do que possa sonhar.
Você mudou minha vida, mudou minha visão sobre as pessoas, sobre o
mundo, sobre empatia. Se você pular desse prédio metade de mim
morre junto. Pense nisso! - fala Diogo, emocionado.
Victor se emociona fortemente
com as palavras de Diogo. Valentim percebe que é o momento certo de
persuadir Victor a descer com eles.
-Você ouviu bem tudo o que
Diogo disse a você? Você precisa reconhecer o seu próprio valor...
você é amado por ele e por mais gente. Se a sua família biológica
desistiu de você, a culpa não é sua. Foram eles que não souberam
acolher um neuro atípico. Você não pediu para nascer com esse
transtorno, mas tem o direito de viver e ser feliz, lutando todos os
dias. Eu sei que lutar muitas vezes cansa, mas qual é a graça que
teria se tudo na vida fosse fácil, Victor? Nossas batalhas são
diárias, muitas vezes são ingratas, mas nenhum de nós pode
entregar os pontos tão facilmente dessa forma. Você ainda é tão
jovem, tem tanta vida pra viver, tantas lutas a vencer! Nada está
perdido, se você quiser continuar a lutar.
Victor começa a ir em direção
a Diogo.
-Você jura que eu não
atrapalho a sua vida? Você jura mesmo? - pergunta Victor a Diogo.
-Jamais atrapalharia. Você só
não podia ter faltado à terapia. Você precisa dela, você sabe
disso. Confia em você, confia em mim, confia em nós! A gente vai
vencer essa luta!
-Me perdoa, amor... eu quase
cometi essa loucura. Mas eu quero viver... eu juro que quero!
-Então vamos descer? - propõe
Diogo.
-Vamos... - fala Victor.
Os dois se abraçam
emocionados. Valentim se alivia com o sucesso da negociação.
-Eu nunca vou te deixar só,
Victor. Nunca duvide disso! - fala Diogo, emocionado.
-Me desculpa... - fala Victor.
Os três descem pelo elevador.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Raquel está tomando um café logo depois de se acordar e
escuta um grito de Márcio vindo do quarto onde está ele e Suzanne.
Estranhando a discussão, resolve escutar atrás da porta o motivo da
fúria de Márcio.
-Essa sua súbita mudança de
atitude tá dando no saco, Márcio! Resolveu bancar o defensor da
moral e dos bons costumes agora que descobriu que é bom ser pai do
ruivinho problematizador?
-Mais respeito com o meu
filho! Afinal de contas, é o único filho que eu conheço e a culpa
disso é sua!
-É fácil pra você falar que
a culpa é minha agora, né? Você não moveu uma palha pra me
impedir de entregar o nosso filho no orfanato. Ele não era só meu
não, tá achando que mulher faz filho com o dedo?
-Anda, Suzanne... fala onde
está o nosso filho que você abandonou. Eu sei que você sabe! Você
sabe de tudo o que você quiser!
Raquel, ouvindo atrás da
porta, apesar de já saber que o neto não morreu, fica perplexa.
Suzanne, no quarto com Márcio, segue a falar.
-E por que você acha que eu
tenho algum interesse de saber onde esse menino está? Morto a gente
sabe que ele não tá, mas já te ocorreu que ele pode ter sido
adotado por estrangeiros? Que talvez nem a nacionalidade brasileira
ele tenha mais? O que te deu agora, Márcio? Já não tá
suficientemente feliz de ter conseguido o perdão do ruivinho
problematizador?
-Respeite Marcelo, ou então
eu meto a mão na sua cara!
-Isso, Márcio. Mete a mão,
mas mete com tudo! Mete pra machucar que eu te coloco na cadeia!
-Eu tenho nojo de você,
Suzanne.
-É mesmo? Cadê esse nojo na
hora de transar comigo? Não se engane, Márcio, você não sabe
viver sem mim.
-Me pergunto com eu posso amar
alguém como você. Você não sabe amar, mas eu insisto em te amar
mesmo assim.
-Tá vendo? Não adianta vir
querer crescer pra cima de mim. No fundo você sabe que é um fraco,
que sempre dependeu de mim pra tudo.
-Isso não vai durar pra
sempre, Suzanne. E pode anotar o que vou dizer agora: mesmo que você
não saiba onde foi parar nosso filho, o que eu duvido muito, eu vou
dar um jeito de descobrir. Nem que seja a última coisa que eu faça
nessa vida, tá me ouvindo bem?
-Faça o que você quiser,
Márcio. Agora fica mais fácil se você achar ele. Já é um homem
feito, como o rui... Marcelo. Você vai acabar encontrando o pacote
pronto, se tiver a sorte de achar o seu filho. Não vai se preocupar
com nada além disso.
-O filho também é seu. Agora
entendo porque você quis abandonar e me proibiu de ir atrás... não
queria um bebê atrapalhando seus planos.
-Mas não era óbvio? Você
acabou de descobrir a roda! Francamente, Márcio... deixa eu me
arrumar que tenho um longo dia pela frente!
CORTA A CENA.
CENA 3: Ivan toma um café e
resolve retornar ao seu quarto, mas acaba antes ouvindo uma conversa
entre Vicente e Riva e resolve participar.
-Bom dia, queridos...
incomodo? É que ouvi a Riva falando de uma tal de gargantilha... -
fala Ivan.
-Não incomoda em nada,
Ivan... Riva, você se sente confortável em falar sobre o que anda
desconfiando pro Ivan? - fala Vicente.
-De jeito nenhum! Senta aqui
com a gente, querido... a história é um pouco longa, então vou
explicar por cima e bem resumidamente: a Suzanne de vez em quando
aparece com uma gargantilha que é idêntica à gargantilha que minha
falecida mãe me deu no leito de morte, há vinte e cinco anos. Só
que ela diz que se trata de uma bijuteria, que não passa de uma
coincidência. Eu poderia acreditar nisso, mas não consigo por um
único detalhe: minha mãe me ensinou, desde menina, a identificar
quando algo é de ouro. E sempre que olho para aquela gargantilha no
pescoço da Suzanne, das poucas vezes que ela usa, fico com a certeza
de que aquilo não pode ser bijuteria. Óbvio que ela pode ter sido
enganada, porque o próprio Márcio, que me roubou a gargantilha
quando fugiu com minha herança, não faz ideia do que foi feito
dela. Mas me garante que não a repassou a nenhuma loja, muito menos
de bijuteria. - fala Riva.
-Pelo que entendi, isso pode
acabar virando caso de polícia. Tem alguma coisa que você possa
fazer para comprovar que aquela gargantilha é sua? - pergunta Ivan.
-Até tem... só que para isso
eu teria que estar com ela em mãos... para poder verificar se o
botão do meio abre. Dentro dele deve haver a foto de minha mãe, se
aquela for minha gargantilha... - fala Riva.
-Vocês se importam se eu
mandar uma mensagem para uma pessoa conhecida minha, que é
investigadora? Essa informação pode ser de interesse dela. - fala
Ivan.
-Claro que pode, querido! À
vontade! - fala Riva.
Vicente manda uma mensagem
para Mara. CORTA A CENA.
CENA 4: Haroldo acompanha os
ensaios de Laura e aguarda o intervalo para que eles possam almoçar
juntos. Laura fica feliz ao ver o namorado à sua espera.
-Em outros tempos eu ficaria
puta da cara de ter um namorado me esperando todo dia no intervalo.
Mas eu amo te ver aqui todos os dias!
-Ainda bem que não sou
incômodo. Imagino que você esteja morta de fome, vamos comer?
-Vamos!
Os dois chegam à lanchonete
do outro lado da rua.
-Sabe, Laura... eu andei
pensando em tudo o que andou acontecendo ultimamente...
-Sei... e quais foram as suas
conclusões sobre esse tal do chefe? É sobre isso que você tá
falando, não é?
-Exatamente, amor... eu acho
melhor você desistir de ir atrás de saber quem é esse cara... nem
eu sei, até hoje...
-Amor, confia em mim... eu vou
estar segura. Estou sendo orientada pelo Valentim e pela Mara, que
são investigadores e sabem o que estão fazendo. O que pode dar
errado? Eu não dou um passo adiante sem a permissão deles, eu te
prometo.
-Eu acho mais seguro deixar
pra eles que são profissionais. Tenho medo que algo de ruim possa te
acontecer...
-Confia em mim, Haroldo. Tudo
vai dar certo. A gente vai descobrir quem é esse cara e vamos nos
livrar de uma vez por todas do mal que ele faz a tanta gente.
-Você não vai desistir
mesmo, né?
-Não mesmo!
Haroldo fica preocupado, mas
aceita a decisão de Laura. CORTA A CENA.
CENA 5: Cláudio e Guilherme
voltam para a casa, após o diagnóstico do dermatologista.
-Só o que me faltava
desenvolver psoríase a essa altura da vida! - lamenta Cláudio.
-Ah, Claudinho... pensa pelo
lado positivo! Pelo menos é algo que pode ser facilmente controlado
e tratado. Basta que você evite novas situações de stress...
-Sim. Mas é chato saber que o
corpo pode responder tão violentamente a questões emocionais.
-Você não tem culpa, amor. É
autoimune, provavelmente tem algo de genético nisso,
predisposição... você sabe.
-É, só que é impossível eu
descobrir se herdei isso de meus familiares biológicos. Esqueceu que
meus falecidos pais eram adotivos? Nunca conheci ninguém da minha
família biológica.
-Isso é complicado, amor...
mas ainda assim, você teve sorte de ter uma mãe e um pai que te
amaram por catorze anos da sua vida. Eu nem lembro da minha mãe
biológica... ela sumiu no mundo quando eu era um bebê praticamente,
meu pai não dava a mínima pro que eu sentia, ficava só mandando eu
ser o substituto dele na maldita empresa. Acabou que essa pressão
disparou minha esquizofrenia... até hoje, depois de tanto tempo que
ele morreu, ainda sinto a voz dele ecoando na minha cabeça, dizendo
que sou uma decepção pra ele... - fala Guilherme, chorando.
-Não fica assim, Guilherme...
agora a gente vai ter uma família... confia nisso.
CORTA A CENA.
CENA 6: Em seu consultório,
Valentim passa orientações para Raquel.
-Então você confirmou nossas
suspeitas: seu neto está realmente vivo. Sabe o que fazer de agora
em diante?
-Sinceramente não sei,
Valentim. Mil coisas me passam pela cabeça, mas não sei exatamente
por onde começar. Não temos nenhum dado concreto que incrimine
minha filha por nenhum crime que ela já tenha cometido. Cheguei a
pensar na possibilidade de plantar escutas no apartamento do hotel,
uma na sala e outra no quarto, mas sei que precisaria de permissão
para isso.
-Você teve uma excelente
ideia, Raquel!
-Sério? Mas como que isso vai
ser feito contra a lei?
-Não vai, Raquel. Eu tenho
como conseguir uma permissão judicial para escutas com fim
investigatório em menos de vinte e quatro horas. Inclusive eu tenho
alguns aparelhos de escuta aqui na minha gaveta. Você pode levar
eles para casa e quando for um momento oportuno, quando Suzanne e
Márcio não estiverem, você planta as escutas em lugares que eles
não possam perceber nem suspeitar de nada. Avise sobre o
procedimento à gerência do hotel e mantenha a discrição, nem o
Márcio pode saber de nada, tá me ouvindo?
-Por mais que eu tenha o
Márcio como um filho, eu sei que ele é cego de amor pela Suzanne.
Sei que isso faz com que eu não possa falar todas as coisas para
ele, por mais que eu saiba que ele é bom e eu mesma tenha vontade de
contar toda a verdade para ele. Mas também sei que minha filha o
manipula há mais de vinte anos. Não posso correr esse risco.
-Então está certo, Raquel.
Guarde os aparelhos na sua bolsa, leve para casa e instale quando
puder.
-Ótimo. Obrigada por oferecer
os aparelhos a mim... preciso ir. Eu te aviso quando tiver instalado?
-Por favor, avise. Assim eu
deixo o gravador ligado por aqui.
Raquel deixa o consultório.
CORTA A CENA.
CENA 7: Durante conversa com
Marion, à beira da piscina, Riva lembra-se de falar sobre
gargantilha.
-Marion... cê lembra daquela
gargantilha que minha mãe me deu antes de morrer?
-Sim. Que você contou depois
que Márcio levou junto da herança quando te roubou e abandonou
grávida do Marcelo... o que tem?
-Você reparou que aquela
gargantilha que a Suzanne usa de vez em quando é idêntica?
-Reparei sim. Já faz um bom
tempo que reparei. Mas até aí, não tem nada demais, ou tem? Até
onde sei, lojas de bijuteria recriam todo tipo de joia e tentam ser
bem fiéis ao conceito da joia original.
-O que me intriga nisso é que
a cópia parece ser perfeita. Tão perfeita que a corrente é tão
bem feita que parece ouro de vinte e quatro quilates!
-Ai, Riva... eu não entendo
muito bem disso. Não sei como minha irmã conseguia distinguir...
-Mas eu consigo, Marion...
aprendi tudo o que minha mãe me passou. Consigo iodentificar uma
joia só de olhar. Dá pra diferenciar de longe de uma bijuteria.
-Desculpe se estou sendo
leiga, Riva... mas você chegou a tocar na gargantilha da Suzanne,
pelo menos?
-Não... só elogiei, mesmo.
-Então como que você pode
ter certeza absoluta que não é uma bijuteria? Tá certo que não é
de hoje que percebo que Suzanne não é essa santinha toda que ela
tenta mostrar ser, mas... daí a se apropriar de uma joia roubada?
Acho que já é um pouco demais...
-Pode ser. Mas não consigo
tirar isso da minha cabeça...
-Ai, Riva... vamos cair na
piscina que o dia está lindo!
As duas caem na piscina. CORTA
A CENA.
CENA 8: Rafael vai ao quarto
dele e de Marcelo empolgado.
-Amor, você não sabe quem
acabou de me ligar.
-Quem?
-A autora da próxima novela
das onze. Ela quer que eu faça uma participação nos primeiros
capítulos da novela porque acha que eu tenho o perfil perfeito pro
vilão na primeira fase!
Marcelo abraça Rafael,
animado.
-Tá vendo, amor? Pra quem
achou que a sua carreira estava acabada depois de assumir a gente,
parece que não é bem assim...
-É, mas mesmo assim isso não
exclui a arbitrariedade das imposições que tantos atores e atrizes
sofrem para não revelarem quem realmente são...
-A gente ainda pode dar um
jeito de denunciar essas coisas erradas que fazem com tanta gente que
tá na mídia.
-É uma excelente ideia,
amor... mas fico com medo que isso acabe fazendo eu perder trabalhos.
-Você acha que perderia? Não
tenho tanta certeza, viu? Afinal de contas, quantos foram os artistas
da casa contrários ao golpe que foi apoiado pela própria emissora?
Incontáveis. Eles se mantiveram firmes em seus posicionamentos, não
se curvaram às exigências dos grandões e não perderam seus
empregos...
-É, mas continuam sendo
agredidos de várias formas pelos reacionários nos locais públicos.
-Isso faz parte do processo,
infelizmente. Há pessoas sensatas e ignorantes. Mas chega de falar
nisso que a gente tem é que comemorar esse seu novo trabalho!
CORTA A CENA.
CENA 9: Horas mais tarde,
Valentim fecha seu consultório e deixa o prédio. Ao sair do prédio,
vê um homem baixo, de roupas escuras, boné e óculos escuros do
outro lado da rua.
-Só pode ser o “Chefe”
Valentim decide seguir o
homem, para ver onde ele vai. Tenta manter uma distância segura para
que não seja notado e se esconde atrás de uma árvore quando o
homem olha para trás. Ao perceber que o homem segue caminhando,
volta a segui-lo. O homem entra em uma rua à direita e Valentim tem
certeza que é o “Chefe”.
-É hoje que eu descubro quem
é esse “Chefe”!
FIM DO CAPÍTULO 70.
Nenhum comentário:
Postar um comentário