CENA 1: Diogo encara Victor.
-Posso saber por que tá me
olhando com essa cara de espanto? Não é novidade nenhuma que eu
quero sair desse país e viajar o mundo com você...
-Sabe o que me espanta,
Victor? Essa sua urgência, essa pressão que você tá fazendo sobre
mim. Você sabe muito bem, pelo tempo que nós estamos juntos, que eu
não funciono sob pressão.
-Quer dizer que só por causa
de uma impressão sua a respeito da minha atitude não vai mais ter
viagem nenhuma? E o que a gente conversou esses dias? Você conseguiu
suas férias remuneradas com dois anos de atraso e a gente vai ficar
aqui com esse dinheiro todo à nossa disposição dando voltinha
aonde? No Arpoador?
-Calma, Victor. Não vai se
sujeitar a entrar em crise de novo por isso, vai? A gente vai viajar.
A gente só precisa definir por onde a gente vai começar esse
roteiro, pode ser?
-Pode.
-Antes disso eu preciso saber
se você tá com os vistos renovados.
-Claro que estou. E os seus,
como estão?
-Só falta um pra renovar, mas
isso se resolve em dias e eu não acho que você esteja planejando
passar pelos Estados Unidos...
-Ótimo. Eu pensei que a gente
podia começar pela Espanha... o que você acha?
-Eu acho uma excelente ideia.
Vou abrir o site da companhia aérea pra ver quanto que sai esse voo
pra Espanha.
Diogo verifica os valores.
-Então... é muito caro?
-Mais barato do que imaginei.
Vou comprar nossas passagens, certo?
-Ai, que maravilha, amor!
Quantos dias a gente vai passar na Espanha? Porque eu andei pensando
numas coisas... quem sabe depois da Espanha a gente passa aqui no
Brasil de novo? Você disse que conhece muito pouco do Estado do Rio,
então eu acho justo que você conheça todos os lugares daqui que
ainda não conheceu... afinal de contas, as férias são suas...
-Vamos passar uns três a
cinco dias na Espanha. É o que a gente pode pagar pra poder seguir
viagem depois durante meu período de férias. Fica bom assim, pra
você?
-Por mim eu passaria mais
tempo, mas compreendo. Só de respirar outros ares, conhecer novas
paisagens, ver uma outra cultura, já vai me fazer um bem danado!
-Se eu soubesse que você ia
ficar feliz desse jeito, já tinha falado com meus chefes pra me
liberar de férias antes. Me sinto muito feliz e aliviado de te ver
bem assim, cada dia melhor, mais confiante e com mais certeza de que
todo esse tratamento e terapia estão valendo absolutamente a pena.
Pra quem há pouco tempo duvidada da própria força, você está me
saindo muito mais forte do que esperei. Eu te amo, sabia?
-Eu que te amo, seu bobo. Não
sei o que teria sido de mim sem você. Naquele dia que eu pensei em
pular do prédio, se não fossem as coisas maravilhosas que você me
disse, eu nem sei se estaria aqui. Foi difícil voltar a mim naquele
dia. Nem eu reconheço a mim mesmo naquelas atitudes tão absurdas...
-Você não tem ideia do
quanto eu fico alegre de te ver assim, tão consciente de si mesmo.
Essas suas vitórias são minhas também, amor... nunca se esqueça
disso. Saiba que sempre pode confiar em mim. Qualquer coisa, qualquer
segredo. Eu vou estar com você em qualquer circunstância...
-Nossa, quanta melosidade! Mas
eu fico me sentindo é muito amado desse jeito.
-Você é muito amado, Victor.
Nunca duvide disso. Ah, tem um detalhe sobre o voo pra Espanha. Ele
sai hoje à tarde do Galeão, acho melhor a gente já ir fazendo as
malas.
-Pra já! Afinal de contas,
suas férias podem começar amanhã oficialmente, mas o dinheiro já
tá na sua conta e amanhã oficialmente já serão suas férias!
Os dois partem para o quarto
para fazer as malas. CORTA A CENA.
CENA 2: Horas mais tarde,
Riva, Vicente, Marion, Ivan, Haroldo e Laura estão na festa de
despedida promovida por Suzanne. Laura se sente incomodada com
Suzanne dançando e tentando se esfregar em Haroldo e o chama para
fora dali.
-Haroldo, você é tapado ou
tá se fazendo de lerdo, mesmo? Aquela mulher tava praticamente se
jogando pra cima de você!
-Eita! Segura esse forninho
que eu nunca pensei que ia ver você com ciúme de mim... -
diverte-se Haroldo.
-Não tenho ciúme, é que eu
sei que vocês já ficaram antes da gente ficar junto, você mesmo
que me contou.
-Você não devia se importar
com a Suzanne. Ela vai pra França hoje mesmo e depois que eu
encontrei você... ia eu querer saber de Suzanne? Ela pode até ser
bonita, mas jamais chegaria perto de ser essa força da natureza que
você é...
-É, mas bem que ela ficou te
provocando ali enquanto dançava...
-E daí, Laura? Ela podia se
jogar em cima de mim que eu ainda não iria querer nada com ela.
-Ai... desculpa ter te chamado
até aqui. Vamos voltar pra festa que a música pelo menos tá ótima!
Os dois retornam à pista e
estranham a ausência de Suzanne.
-Riva, você sabe onde foi a
Suzanne? - pergunta Haroldo.
-Ih, Haroldo... do jeito que
aquela dali é vaidosa, deve ter ido retocar a maquiagem pela enésima
vez só porque bebeu um pouco mais... - fala Riva.
Todos seguem dançando e se
divertindo com a música e vários instantes se passam. Dessa vez é
Marion que estranha a ausência de Suzanne.
-Gente... desde aquela hora a
Suzanne não voltou? Onde será que ela se enfiou? Que feio pra uma
anfitriã fazer uma coisa dessas...
-Ih, Marion... tou começando
a achar que ela se empolgou com a ideia de passar um tempo em Paris e
resolveu sair à francesa pra se sentir mais familiarizada com a
cultura parisiense... - brinca Riva.
-Você tá de brincadeira, mas
tou achando que é exatamente isso que ela fez, até pra não perder
o voo... - fala Vicente.
-Ah, gente... que seja! Essa
festa tá ótima, não tá? - fala Laura.
-E não é? Fazia tempos que
não tinha tanta música boa numa festa! - continua Haroldo.
Todos seguem a se divertir na
festa sem a presença de Suzanne. CORTA A CENA.
CENA 3: Ao anoitecer, Laura
passa na companhia de teatro para ver Procópio e os amigos e acaba
por encontrar Eva e Renata terminando o dia de ensaios.
-Que bom encontrar vocês aqui
e tão animadas, meninas! - vibra Laura.
-A gente tinha quase esquecido
que hoje você ia pra aquela festa de grã-fino... o que um namoro
não faz com a vida, não é mesmo? - brinca Renata.
-Boba... o Haroldo não é
ligado nessas coisas de dinheiro, sabia? Mas enfim... vocês duas
estão especialmente iluminadas hoje, fico feliz de ver vocês assim,
tão animadas e cheias de vida.
-A gente tem motivo pra isso,
Laura. Você acredita que aquele nosso kickstart feito completamente
nas coxas e com pressa tá viralizando na internet? Já foi divulgado
pelo Jean Wyllys, tá boa querida? - fala Eva.
-Não creio! Vocês devem
estar de brincadeira pra cima de mim... - fala Laura, incrédula.
-Não tá acreditando? Então
olha que página eu tou acessando nesse exato momento no meu
celular... - fala Renata, entregando seu celular para Laura.
Laura se surpreende com a
repercussão do vídeo que as três gravaram.
-Gente! É real! Tou bem
passada com isso! Isso é ótimo, meninas! Significa que estão
levando a sério essa empreitada e principalmente sendo solidários à
causa feminista! Chega a ser emocionante saber que ainda tem tanta
gente boa nesse mundo... - emociona-se Laura.
-Espero que essa repercussão
toda seja realmente algo positivo. Porque o que tem de gente por essa
internet que se faz de A militante, A politizada, mas só
problematiza pra ter curtida... não tá no gibi... - observa Renata.
-Ai Renata... a gente podia
tentar pelo menos ser mais otimista, né? Faz bem pra pele... - fala
Eva.
CORTA A CENA.
CENA 4: Riva chega em casa
depois de gravar suas primeiras cenas como atriz e todos na mansão a
recebem com curiosidade.
-E então, Riva... como foi o
primeiro dia lá na emissora? - pergunta Marion.
-Gravei pouco, Marion... mas
confesso que o clima foi completamente diferente do clima que esperei
encontrar. Tudo muito organizado, profissional... fui muito bem
orientada pela direção e pelos preparadores e preparadoras. Os
próprios atores que contracenaram comigo ou próximos a mim me deram
uma força tremenda. Tive uma grata surpresa quando a Martina Lobo me
elogiou pra todo mundo ouvir... parecia que eu tava num sonho! Logo
eu, que nunca fui atriz antes, tendo meu empenho elogiado por um dos
monstros sagrados da TV brasileira... foi surreal! - fala Riva,
empolgada.
-Nossa, mãe... eu fico
pensando que tudo isso realmente mexe com a gente. Também penso como
a vida é uma coisa louca. A gente jamais podia imaginar ano passado
que a gente estaria onde está agora, levando a vida que a gente
vive, tendo as oportunidades que a gente tem tido... - divaga
Marcelo.
-Trabalhar com aquilo que a
gente ama é sempre um prazer, amor... mesmo eu estando um pouco
afastado das novelas mais recentes, eu gosto muito desse ritmo
alucinante de trabalho, do gosto do desafio de fazermos todo o
laboratório, toda a preparação pra sentir a essência das
personagens, do tom que o texto pede... - fala Vicente.
-Agora eu tou começando a
entender como tudo isso mexe de verdade com a gente... e acho
engraçado tudo isso, por um lado. Quando eu lia nas revistas e
jornais as entrevistas com gente famosa, eu achava que era exagero
delas falar tanta coisa sobre o ofício de ser artista... achava
super afetado, sabe? Confesso... julguei muita gente só pelo fato de
elas serem pessoas públicas. Mas agora, que tou começando a sentir
o gosto que tem trabalhar com tudo isso, começo a compreender que
não tem nada de afetação nas coisas que já li e ouvi tantos
dizerem... é real! A arte mexe com os sentimentos mais profundos da
gente! - fala Riva.
-Eu sempre soube disso, minha
neta. Mas confesso que mesmo depois de ter feito uma novela inteira,
ainda não me caiu completamente a ficha de que sou uma atriz... mas
fico aliviada por um lado porque isso talvez seja o que garanta meus
pés no chão, talvez seja o que permite que eu me veja como um
simples ser humano, que não está acima de ninguém... - divaga
Valquíria.
Todos seguem animados na
conversa. CORTA A CENA.
CENA 5: Horas mais tarde,
Rafael já está em casa novamente a conversar com Marcelo, antes de
dormirem. Rafael percebe que Marcelo está com o pensamento distante.
-Impressão minha ou você mal
tá prestando atenção no que eu disse?
-Ai, Rafa... desculpa, amor.
Realmente fiquei com a cabeça longe... pensando numas coisas meio
malucas aqui.
-Quer falar sobre isso?
-Não sei se devo...
-Pode parar com isso. Antes de
ser seu marido eu sou seu amigo, não se esqueça disso... não
preciso reforçar que você sempre pode contar comigo, né?
-Claro que não precisa
reafirmar... mas é que eu fico inseguro. Posso estar pensando
besteira.
-Mas fala mesmo assim, amor...
se for importante pra você, também é importante pra mim.
-Sabe o que é? Ultimamente eu
tenho começado a desconfiar de algumas coisas. Que eu e o Cláudio
somos parecidos não é novidade pra ninguém. Mas agora começou a
me cair a ficha que talvez a curiosidade do Márcio, digo... meu pai,
possa ter relação com outra coisa.
-E o que seria essa outra
coisa?
-Pensa comigo, Rafa... o
Cláudio nunca soube nada sobre a família biológica dele. Daí o
meu pai fica com essa curiosidade depois de saber que o Cláudio,
assim como eu e ele, também tem psoríase.
-Acho que tou entendendo onde
você pretende chegar, mas prefiro que você mesmo diga...
-Me passou pela cabeça que
talvez o Cláudio possa ser meu irmão. Eu sei que isso não tem pé
nem cabeça, mas...
-Você pode estar certo. O seu
pai pode realmente ser pai biológico do Cláudio... mas a questão é
que não temos como descobrir isso, pelo menos por enquanto...
-Tá vendo? A gente só tem
suposições e eu nem tenho coragem de falar sobre isso com nenhum
dos dois...
-A gente pensa nisso outra
hora, Marcelo. Não vamos perder o sono por isso...
Rafael se vira pro lado para
dormir e Marcelo fica pensativo. CORTA A CENA.
CENA 6: Ao amanhecer do dia
seguinte, Marion é despertada por uma mensagem em seu celular. Ivan
desperta junto da esposa enquanto ela lê o conteúdo da mensagem.
-Quem é que te mandou uma
mensagem praticamente de madrugada, amor?
-Agora você vê... a diretora
da nova novela das sete. Me mandando convite uma hora dessas pra
participar da trama.
-E você vai aceitar?
-Leia você mesmo a mensagem e
veja se eu tenho condições de aceitar mais do mesmo...
Ivan pega o óculos e lê a
mensagem no celular de Marion.
-Poxa vida! Será que só
lembram de te convidar pra algum papel quando é de perua ou
aristocrata?
-Ai, Ivan... isso me cansa!
Prefiro ficar aqui em casa, sem contrato fixo com a emissora do que
me sujeitar a fazer sempre variações sobre o mesmo tema. Faz
dezessete anos desde que eu interpretei meu único papel de apelo
popular, uma mulher do povo... desde então, das poucas vezes que me
chamaram pra voltar pra TV, foi só pra fazer mulheres ricas ou
arrogantes. Tou de saco cheio disso, sabe?
-E não é pra menos, amor. É
uma falta de respeito à sua trajetória de vinte anos no teatro e na
TV...
-Eu sei que tem muita gente
que daria um braço ou um rim pra estar numa novela da maior emissora
do país, mas quando a gente se sente desprestigiado como artista,
não vale a pena aceitar um trabalho só por conta da visibilidade.
Se eu aceitasse esse papel, eu não ia me entregar a ele... ia fazer
no automático. E tenho certeza que a crítica cairia de pau em cima
de mim justamente por causa disso...
-Você nem precisa justificar
isso na resposta à diretora, se não quiser. Basta que você diga
que não aceita o convite e que acredita que outras atrizes
interpretariam melhor esse papel.
-É isso mesmo que vou fazer,
amor... tentar ser o mais curta e grossa possível. Depois, eu ando
repensando muita coisa sobre a forma como a emissora trata os atores
e atrizes, depois que nosso filho se assumiu diante da imprensa...
-Também penso muito nisso,
Marion... não acho nem um pouco justo haver tantas imposições, pra
tanta gente talentosa... criam praticamente personagens sobre essas
figuras públicas...
-Enfim... já que a gente
acordou, vou fazer o café da manhã que a forme tá apertando. Você
vem comigo?
-Claro que sim!
Os dois se levantam da cama e
descem. CORTA A CENA.
CENA 7: Laura se acorda e
encontra Mateus pensativo e reflexivo na mesa da sala, tomando seu
café.
-Nossa, Mateus... tá pensando
na morte da bezerra? Faz tempo que não te vejo com essa tromba
toda...
-Ai, Laura... me acordei
pensando no tanto de tempo que já tou sem ser chamado pra trabalho
nenhum.
-Você não acha que tá
exagerando? Não chegou nem a três meses de férias... não devia se
preocupar tanto com isso... você tem contrato fixo com a emissora,
não tem? Ou eles estão atrasando o pagamento?
-Não... o pagamento tá
certinho. Tou recebendo tudo conforme as normas do contrato assinado.
-Mas se a questão não
envolve dinheiro, por que essa tromba toda?
-Eu fico frustrado, chateado
de não estar sendo chamado nem pra participar de programas. Meu
papel na novela fez um sucesso tremendo, público e crítica foram só
elogios, mas... parece que todos esqueceram de mim assim que a novela
acabou. Também... com o sucesso da novela que tá passando no lugar,
acho que esse esquecimento respingou em mim, na Marion, em todo
mundo...
-Esse tipo de coisa acontece o
tempo inteiro, meu amigo. O seu trabalho não se torna menos
brilhante por causa do que veio depois. As consequências sempre são
imprevisíveis, quando se tratam de obras abertas na TV. Uma fórmula
que hoje dá certo pode ser um fracasso retumbante se usada daqui dez
anos, por exemplo... e vice versa. Tem coisa que fracassa de largada,
mas dá certo no final... você devia estar acostumado a isso, já
são alguns anos na TV...
-Você sempre sabe como me
animar. O Haroldo que tem razão quando diz que você é uma força
da natureza...
Laura abraça Mateus. CORTA A
CENA.
CENA 8: Rafael e Marcelo se
preparam para mais um dia de trabalho.
-Marcelo, eu tava pensando que
a gente pode encontrar uma solução praquela sua dúvida...
-Como, amor? A gente não tem
meios de conseguir provar nada baseados nas nossas dúvidas e
suposições.
-Pois eu pensei numa solução
pra justamente acabar com essa dúvida de uma vez por todas.
-E eu posso saber como?
-Simples, amor... a gente
pode pagar um exame de DNA entre você e Cláudio. Não sei como a
gente não pensou nisso antes...
Marcelo fica sem reação. FIM
DO CAPÍTULO 77.
Nenhum comentário:
Postar um comentário