disqus

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

CAPÍTULO 77


CENA 1: Diogo encara Victor.
-Posso saber por que tá me olhando com essa cara de espanto? Não é novidade nenhuma que eu quero sair desse país e viajar o mundo com você...
-Sabe o que me espanta, Victor? Essa sua urgência, essa pressão que você tá fazendo sobre mim. Você sabe muito bem, pelo tempo que nós estamos juntos, que eu não funciono sob pressão.
-Quer dizer que só por causa de uma impressão sua a respeito da minha atitude não vai mais ter viagem nenhuma? E o que a gente conversou esses dias? Você conseguiu suas férias remuneradas com dois anos de atraso e a gente vai ficar aqui com esse dinheiro todo à nossa disposição dando voltinha aonde? No Arpoador?
-Calma, Victor. Não vai se sujeitar a entrar em crise de novo por isso, vai? A gente vai viajar. A gente só precisa definir por onde a gente vai começar esse roteiro, pode ser?
-Pode.
-Antes disso eu preciso saber se você tá com os vistos renovados.
-Claro que estou. E os seus, como estão?
-Só falta um pra renovar, mas isso se resolve em dias e eu não acho que você esteja planejando passar pelos Estados Unidos...
-Ótimo. Eu pensei que a gente podia começar pela Espanha... o que você acha?
-Eu acho uma excelente ideia. Vou abrir o site da companhia aérea pra ver quanto que sai esse voo pra Espanha.
Diogo verifica os valores.
-Então... é muito caro?
-Mais barato do que imaginei. Vou comprar nossas passagens, certo?
-Ai, que maravilha, amor! Quantos dias a gente vai passar na Espanha? Porque eu andei pensando numas coisas... quem sabe depois da Espanha a gente passa aqui no Brasil de novo? Você disse que conhece muito pouco do Estado do Rio, então eu acho justo que você conheça todos os lugares daqui que ainda não conheceu... afinal de contas, as férias são suas...
-Vamos passar uns três a cinco dias na Espanha. É o que a gente pode pagar pra poder seguir viagem depois durante meu período de férias. Fica bom assim, pra você?
-Por mim eu passaria mais tempo, mas compreendo. Só de respirar outros ares, conhecer novas paisagens, ver uma outra cultura, já vai me fazer um bem danado!
-Se eu soubesse que você ia ficar feliz desse jeito, já tinha falado com meus chefes pra me liberar de férias antes. Me sinto muito feliz e aliviado de te ver bem assim, cada dia melhor, mais confiante e com mais certeza de que todo esse tratamento e terapia estão valendo absolutamente a pena. Pra quem há pouco tempo duvidada da própria força, você está me saindo muito mais forte do que esperei. Eu te amo, sabia?
-Eu que te amo, seu bobo. Não sei o que teria sido de mim sem você. Naquele dia que eu pensei em pular do prédio, se não fossem as coisas maravilhosas que você me disse, eu nem sei se estaria aqui. Foi difícil voltar a mim naquele dia. Nem eu reconheço a mim mesmo naquelas atitudes tão absurdas...
-Você não tem ideia do quanto eu fico alegre de te ver assim, tão consciente de si mesmo. Essas suas vitórias são minhas também, amor... nunca se esqueça disso. Saiba que sempre pode confiar em mim. Qualquer coisa, qualquer segredo. Eu vou estar com você em qualquer circunstância...
-Nossa, quanta melosidade! Mas eu fico me sentindo é muito amado desse jeito.
-Você é muito amado, Victor. Nunca duvide disso. Ah, tem um detalhe sobre o voo pra Espanha. Ele sai hoje à tarde do Galeão, acho melhor a gente já ir fazendo as malas.
-Pra já! Afinal de contas, suas férias podem começar amanhã oficialmente, mas o dinheiro já tá na sua conta e amanhã oficialmente já serão suas férias!
Os dois partem para o quarto para fazer as malas. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas mais tarde, Riva, Vicente, Marion, Ivan, Haroldo e Laura estão na festa de despedida promovida por Suzanne. Laura se sente incomodada com Suzanne dançando e tentando se esfregar em Haroldo e o chama para fora dali.
-Haroldo, você é tapado ou tá se fazendo de lerdo, mesmo? Aquela mulher tava praticamente se jogando pra cima de você!
-Eita! Segura esse forninho que eu nunca pensei que ia ver você com ciúme de mim... - diverte-se Haroldo.
-Não tenho ciúme, é que eu sei que vocês já ficaram antes da gente ficar junto, você mesmo que me contou.
-Você não devia se importar com a Suzanne. Ela vai pra França hoje mesmo e depois que eu encontrei você... ia eu querer saber de Suzanne? Ela pode até ser bonita, mas jamais chegaria perto de ser essa força da natureza que você é...
-É, mas bem que ela ficou te provocando ali enquanto dançava...
-E daí, Laura? Ela podia se jogar em cima de mim que eu ainda não iria querer nada com ela.
-Ai... desculpa ter te chamado até aqui. Vamos voltar pra festa que a música pelo menos tá ótima!
Os dois retornam à pista e estranham a ausência de Suzanne.
-Riva, você sabe onde foi a Suzanne? - pergunta Haroldo.
-Ih, Haroldo... do jeito que aquela dali é vaidosa, deve ter ido retocar a maquiagem pela enésima vez só porque bebeu um pouco mais... - fala Riva.
Todos seguem dançando e se divertindo com a música e vários instantes se passam. Dessa vez é Marion que estranha a ausência de Suzanne.
-Gente... desde aquela hora a Suzanne não voltou? Onde será que ela se enfiou? Que feio pra uma anfitriã fazer uma coisa dessas...
-Ih, Marion... tou começando a achar que ela se empolgou com a ideia de passar um tempo em Paris e resolveu sair à francesa pra se sentir mais familiarizada com a cultura parisiense... - brinca Riva.
-Você tá de brincadeira, mas tou achando que é exatamente isso que ela fez, até pra não perder o voo... - fala Vicente.
-Ah, gente... que seja! Essa festa tá ótima, não tá? - fala Laura.
-E não é? Fazia tempos que não tinha tanta música boa numa festa! - continua Haroldo.
Todos seguem a se divertir na festa sem a presença de Suzanne. CORTA A CENA.

CENA 3: Ao anoitecer, Laura passa na companhia de teatro para ver Procópio e os amigos e acaba por encontrar Eva e Renata terminando o dia de ensaios.
-Que bom encontrar vocês aqui e tão animadas, meninas! - vibra Laura.
-A gente tinha quase esquecido que hoje você ia pra aquela festa de grã-fino... o que um namoro não faz com a vida, não é mesmo? - brinca Renata.
-Boba... o Haroldo não é ligado nessas coisas de dinheiro, sabia? Mas enfim... vocês duas estão especialmente iluminadas hoje, fico feliz de ver vocês assim, tão animadas e cheias de vida.
-A gente tem motivo pra isso, Laura. Você acredita que aquele nosso kickstart feito completamente nas coxas e com pressa tá viralizando na internet? Já foi divulgado pelo Jean Wyllys, tá boa querida? - fala Eva.
-Não creio! Vocês devem estar de brincadeira pra cima de mim... - fala Laura, incrédula.
-Não tá acreditando? Então olha que página eu tou acessando nesse exato momento no meu celular... - fala Renata, entregando seu celular para Laura.
Laura se surpreende com a repercussão do vídeo que as três gravaram.
-Gente! É real! Tou bem passada com isso! Isso é ótimo, meninas! Significa que estão levando a sério essa empreitada e principalmente sendo solidários à causa feminista! Chega a ser emocionante saber que ainda tem tanta gente boa nesse mundo... - emociona-se Laura.
-Espero que essa repercussão toda seja realmente algo positivo. Porque o que tem de gente por essa internet que se faz de A militante, A politizada, mas só problematiza pra ter curtida... não tá no gibi... - observa Renata.
-Ai Renata... a gente podia tentar pelo menos ser mais otimista, né? Faz bem pra pele... - fala Eva.
CORTA A CENA.

CENA 4: Riva chega em casa depois de gravar suas primeiras cenas como atriz e todos na mansão a recebem com curiosidade.
-E então, Riva... como foi o primeiro dia lá na emissora? - pergunta Marion.
-Gravei pouco, Marion... mas confesso que o clima foi completamente diferente do clima que esperei encontrar. Tudo muito organizado, profissional... fui muito bem orientada pela direção e pelos preparadores e preparadoras. Os próprios atores que contracenaram comigo ou próximos a mim me deram uma força tremenda. Tive uma grata surpresa quando a Martina Lobo me elogiou pra todo mundo ouvir... parecia que eu tava num sonho! Logo eu, que nunca fui atriz antes, tendo meu empenho elogiado por um dos monstros sagrados da TV brasileira... foi surreal! - fala Riva, empolgada.
-Nossa, mãe... eu fico pensando que tudo isso realmente mexe com a gente. Também penso como a vida é uma coisa louca. A gente jamais podia imaginar ano passado que a gente estaria onde está agora, levando a vida que a gente vive, tendo as oportunidades que a gente tem tido... - divaga Marcelo.
-Trabalhar com aquilo que a gente ama é sempre um prazer, amor... mesmo eu estando um pouco afastado das novelas mais recentes, eu gosto muito desse ritmo alucinante de trabalho, do gosto do desafio de fazermos todo o laboratório, toda a preparação pra sentir a essência das personagens, do tom que o texto pede... - fala Vicente.
-Agora eu tou começando a entender como tudo isso mexe de verdade com a gente... e acho engraçado tudo isso, por um lado. Quando eu lia nas revistas e jornais as entrevistas com gente famosa, eu achava que era exagero delas falar tanta coisa sobre o ofício de ser artista... achava super afetado, sabe? Confesso... julguei muita gente só pelo fato de elas serem pessoas públicas. Mas agora, que tou começando a sentir o gosto que tem trabalhar com tudo isso, começo a compreender que não tem nada de afetação nas coisas que já li e ouvi tantos dizerem... é real! A arte mexe com os sentimentos mais profundos da gente! - fala Riva.
-Eu sempre soube disso, minha neta. Mas confesso que mesmo depois de ter feito uma novela inteira, ainda não me caiu completamente a ficha de que sou uma atriz... mas fico aliviada por um lado porque isso talvez seja o que garanta meus pés no chão, talvez seja o que permite que eu me veja como um simples ser humano, que não está acima de ninguém... - divaga Valquíria.
Todos seguem animados na conversa. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas mais tarde, Rafael já está em casa novamente a conversar com Marcelo, antes de dormirem. Rafael percebe que Marcelo está com o pensamento distante.
-Impressão minha ou você mal tá prestando atenção no que eu disse?
-Ai, Rafa... desculpa, amor. Realmente fiquei com a cabeça longe... pensando numas coisas meio malucas aqui.
-Quer falar sobre isso?
-Não sei se devo...
-Pode parar com isso. Antes de ser seu marido eu sou seu amigo, não se esqueça disso... não preciso reforçar que você sempre pode contar comigo, né?
-Claro que não precisa reafirmar... mas é que eu fico inseguro. Posso estar pensando besteira.
-Mas fala mesmo assim, amor... se for importante pra você, também é importante pra mim.
-Sabe o que é? Ultimamente eu tenho começado a desconfiar de algumas coisas. Que eu e o Cláudio somos parecidos não é novidade pra ninguém. Mas agora começou a me cair a ficha que talvez a curiosidade do Márcio, digo... meu pai, possa ter relação com outra coisa.
-E o que seria essa outra coisa?
-Pensa comigo, Rafa... o Cláudio nunca soube nada sobre a família biológica dele. Daí o meu pai fica com essa curiosidade depois de saber que o Cláudio, assim como eu e ele, também tem psoríase.
-Acho que tou entendendo onde você pretende chegar, mas prefiro que você mesmo diga...
-Me passou pela cabeça que talvez o Cláudio possa ser meu irmão. Eu sei que isso não tem pé nem cabeça, mas...
-Você pode estar certo. O seu pai pode realmente ser pai biológico do Cláudio... mas a questão é que não temos como descobrir isso, pelo menos por enquanto...
-Tá vendo? A gente só tem suposições e eu nem tenho coragem de falar sobre isso com nenhum dos dois...
-A gente pensa nisso outra hora, Marcelo. Não vamos perder o sono por isso...
Rafael se vira pro lado para dormir e Marcelo fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 6: Ao amanhecer do dia seguinte, Marion é despertada por uma mensagem em seu celular. Ivan desperta junto da esposa enquanto ela lê o conteúdo da mensagem.
-Quem é que te mandou uma mensagem praticamente de madrugada, amor?
-Agora você vê... a diretora da nova novela das sete. Me mandando convite uma hora dessas pra participar da trama.
-E você vai aceitar?
-Leia você mesmo a mensagem e veja se eu tenho condições de aceitar mais do mesmo...
Ivan pega o óculos e lê a mensagem no celular de Marion.
-Poxa vida! Será que só lembram de te convidar pra algum papel quando é de perua ou aristocrata?
-Ai, Ivan... isso me cansa! Prefiro ficar aqui em casa, sem contrato fixo com a emissora do que me sujeitar a fazer sempre variações sobre o mesmo tema. Faz dezessete anos desde que eu interpretei meu único papel de apelo popular, uma mulher do povo... desde então, das poucas vezes que me chamaram pra voltar pra TV, foi só pra fazer mulheres ricas ou arrogantes. Tou de saco cheio disso, sabe?
-E não é pra menos, amor. É uma falta de respeito à sua trajetória de vinte anos no teatro e na TV...
-Eu sei que tem muita gente que daria um braço ou um rim pra estar numa novela da maior emissora do país, mas quando a gente se sente desprestigiado como artista, não vale a pena aceitar um trabalho só por conta da visibilidade. Se eu aceitasse esse papel, eu não ia me entregar a ele... ia fazer no automático. E tenho certeza que a crítica cairia de pau em cima de mim justamente por causa disso...
-Você nem precisa justificar isso na resposta à diretora, se não quiser. Basta que você diga que não aceita o convite e que acredita que outras atrizes interpretariam melhor esse papel.
-É isso mesmo que vou fazer, amor... tentar ser o mais curta e grossa possível. Depois, eu ando repensando muita coisa sobre a forma como a emissora trata os atores e atrizes, depois que nosso filho se assumiu diante da imprensa...
-Também penso muito nisso, Marion... não acho nem um pouco justo haver tantas imposições, pra tanta gente talentosa... criam praticamente personagens sobre essas figuras públicas...
-Enfim... já que a gente acordou, vou fazer o café da manhã que a forme tá apertando. Você vem comigo?
-Claro que sim!
Os dois se levantam da cama e descem. CORTA A CENA.

CENA 7: Laura se acorda e encontra Mateus pensativo e reflexivo na mesa da sala, tomando seu café.
-Nossa, Mateus... tá pensando na morte da bezerra? Faz tempo que não te vejo com essa tromba toda...
-Ai, Laura... me acordei pensando no tanto de tempo que já tou sem ser chamado pra trabalho nenhum.
-Você não acha que tá exagerando? Não chegou nem a três meses de férias... não devia se preocupar tanto com isso... você tem contrato fixo com a emissora, não tem? Ou eles estão atrasando o pagamento?
-Não... o pagamento tá certinho. Tou recebendo tudo conforme as normas do contrato assinado.
-Mas se a questão não envolve dinheiro, por que essa tromba toda?
-Eu fico frustrado, chateado de não estar sendo chamado nem pra participar de programas. Meu papel na novela fez um sucesso tremendo, público e crítica foram só elogios, mas... parece que todos esqueceram de mim assim que a novela acabou. Também... com o sucesso da novela que tá passando no lugar, acho que esse esquecimento respingou em mim, na Marion, em todo mundo...
-Esse tipo de coisa acontece o tempo inteiro, meu amigo. O seu trabalho não se torna menos brilhante por causa do que veio depois. As consequências sempre são imprevisíveis, quando se tratam de obras abertas na TV. Uma fórmula que hoje dá certo pode ser um fracasso retumbante se usada daqui dez anos, por exemplo... e vice versa. Tem coisa que fracassa de largada, mas dá certo no final... você devia estar acostumado a isso, já são alguns anos na TV...
-Você sempre sabe como me animar. O Haroldo que tem razão quando diz que você é uma força da natureza...
Laura abraça Mateus. CORTA A CENA.

CENA 8: Rafael e Marcelo se preparam para mais um dia de trabalho.
-Marcelo, eu tava pensando que a gente pode encontrar uma solução praquela sua dúvida...
-Como, amor? A gente não tem meios de conseguir provar nada baseados nas nossas dúvidas e suposições.
-Pois eu pensei numa solução pra justamente acabar com essa dúvida de uma vez por todas.
-E eu posso saber como?
-Simples, amor... a gente pode pagar um exame de DNA entre você e Cláudio. Não sei como a gente não pensou nisso antes...
Marcelo fica sem reação. FIM DO CAPÍTULO 77.

Nenhum comentário:

Postar um comentário