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terça-feira, 16 de agosto de 2016

CAPÍTULO 80

CENA 1: Rafael apressa o marido.
-Anda, Marcelo... abre esse exame de uma vez!
-Tou nervoso, amor... agora que tá tão perto da gente saber da verdade eu não sei se tenho coragem de ler o resultado.
-Ah, pode parar! Se você não quer ver eu mesmo arranco isso daí da sua mão e leio!
-Tá! Não precisa dessa agressividade... eu vou olhar.
Marcelo respira fundo e abre o exame.
-Então... qual foi o resultado? Fala, Marcelo!
Marcelo paralisa e não consegue dizer nada. Lágrimas começam a correr de seu rosto e ele abraça Rafael, explodindo no choro. Rafael entende a situação e Marcelo entrega o exame para ele ler.
-Então é isso... - fala Rafael, perplexo.
-O Cláudio... é meu irmão! Eu cresci ao lado do meu irmão sem saber que ele era meu irmão! Tem noção do que é isso?
Marcelo chora e Rafael o ampara.
-Agora a gente vai precisar encontrar um jeito de dizer isso a ele... mas hei, amor! Se anima! Pra quem há um ano atrás não tinha nenhum irmão, agora você tem dois!
-Eu tou num misto de emoções, Rafael... por um lado eu fico feliz de saber que o Cláudio é meu irmão... só que ao mesmo tempo eu fico com raiva daquele cara...
-Do pai de vocês, você quer dizer?
-Esse mesmo! Ele nem merece ser chamado de pai. Como é que ele teve a coragem de fazer isso? Abandonou o Cláudio e abandonou a mim, durante mais de vinte anos!
-Isso é o que você supõe. Você ainda não ouviu a versão dele dos fatos...
-E por acaso precisa? Eu sou jornalista por acaso?
-Marcelo, não seja infantil...
-Infantil, Rafael? Não é o seu pai que abandonou dois filhos, um ainda na barriga da mãe e outro pra ser lançado à própria sorte num orfanato. Já pensou como o rumo da vida do Cláudio podia ter sido diferente se aquele merda do Márcio tivesse assumido ele como filho? E a mãe dele, quem será que é? Ninguém sabe!
-Por isso mesmo que eu digo, meu amor... a gente precisa pelo menos ouvir o que o seu pai tem a dizer. Ele vai acabar explicando tudo e quem sabe assim, já saibamos quem é a mãe do Cláudio...
-Tá... você tem razão. Mas não espere que eu receba o Márcio com flores depois de saber de tudo isso.
-Eu te entendo. Mas insisto pra você não concluir nada precipitadamente. Às vezes os mal entendidos acontecem justamente por falta de comunicação.
-Só você, amor... só você com sua sensatez pra me tranquilizar numa hora dessas.
-Deixa de bobeira... a gente precisa focar no lado positivo disso. Nossa família é maior do que a gente pensava...
-Vamos pra casa? Ainda vou precisar digerir essa notícia antes de decidir qualquer coisa.
-Também acho melhor. Acho que uma noite de descanso vai colocar suas ideias em ordem...
Os dois deixam o laboratório. CORTA A CENA.

CENA 2: No consultório de Valentim, ele e Mara seguem debatendo sobre a ausência de ação de “Chefe” e sua facção.
-Sabe o que tem de mais estranho em tudo isso, Mara? Que nesses anos todos, essa talvez seja a primeira vez que essa facção se silencia por tanto tempo...
-Isso se os homens dela realmente não estiverem agindo. Tudo isso pode não passar de uma grande cortina de fumaça. Sabemos que o número de pessoas que trabalhou ou trabalha para essa organização, compulsoriamente ou não, é grande... incalculável, ainda.
-Entendo sua cautela, amor... mas não acredito que nesse momento qualquer ação grande esteja sendo feita.
-O que ainda não significa que nenhuma ação menor não esteja sendo planejada ou executada. Não se esqueça que há políticos envolvidos nela...
-Eu sei, Mara. Mas ainda assim, ninguém nessa facção age sem as ordens do “Chefe”.
-Justamente por isso que eu pensei numa coisa: atualmente temos 6 suspeitos, certo?
-Sim, correto.
-Que tal se você tentasse analisar o perfil psicológico de cada um deles e não apenas daquele que eu coloquei como o principal suspeito encabeçando a lista?
-A sua ideia é excelente, amor. Eu deveria ter pensado nisso antes, afinal de contas a especialidade é minha...
-Tá vendo como uma mulher é fundamental na vida de um homem? Mas, deixando a brincadeira de lado, o que você teria a me dizer dos outros cinco, superficialmente?
-Bem... esse segundo da lista honestamente só permaneceu aqui por sua insistência e por desconfianças alheias... eu sinceramente não vejo esse rapaz como alguém que pudesse ter tanto sangue frio de mandar e desmandar em tantas vidas, decidindo quem vive e quem morre. É um sujeito controverso? Sem dúvida, mas nada aponta para um perfil criminoso...
-Certo.... e o terceiro? Ou melhor: a terceira?
-Essa é uma forte candidata. Escapa como ninguém dos olhos de quem suspeita rapidamente e é ardilosa o suficiente para não deixar rastros. Porém algo se contradiz nessa suspeita, porque mais de uma vez as ações de “Chefe” se mostraram um tanto apaixonadas, carregadas de emoções... negativas, mas emoções.
-Sou obrigada a concordar. Pode ser ela, mas seria contraditório.
-Sobre o quarto suspeito... esse sim. Aliás, tanto ele quanto o quinto souberam e sabem manter a discrição por tempo indeterminado. Ambos possuem um instinto de sobrevivência exacerbado e dependendo de como isso se manifesta na totalidade, poderia perfeitamente significar eliminar qualquer ameaça... inclusive pessoas.
-Esses eu sinceramente acho que você poderia já ter excluído da lista, Valentim. Não acredito que apesar do histórico deles, eles sejam criminosos...
-Enfim, que seja... o nosso último suspeito tem passado por uma súbita mudança de comportamento. Sua postura aparentemente cordata e mansa pode ocultar o extremo oposto de tudo isso...
Os dois seguem debatendo sobre o perfil psicológico dos suspeitos. CORTA A CENA.

CENA 3: Raquel está arrumando suas malas e Márcio conversa com ela.
-Eu vou sentir sua falta, dona Raquel... você sempre foi como uma mãe pra mim.
-Você pode vir comigo, se quiser. Você não tem nenhuma obrigação de continuar “morando” nesse hotel esperando pela Suzanne.
-Eu sei que não... mas eu amo a sua filha.
-O problema é que esse seu amor por ela sempre te fez cego. Não te culpo por isso... eu mesma levei anos, como mãe, para perceber que infelizmente minha filha nunca teve bom caráter. Você pode desconversar quantas vezes quiser, mas eu sei que você só foi preso anos atrás por culpa dela, pagou pelos crimes que ela planejou e você, cego de amor, executou.
-Sabe o que mais me dói nisso? Saber que você tá certa... mas eu nunca soube fazer da vida outra coisa senão seguir a Suzanne por onde ela fosse.
-E você acha justo isso com você, meu querido? Em algum momento ela se preocupou com você quando tomou as próprias decisões e te obrigou a não agir para impedir que ela entregasse o filho de vocês pra adoção?
-Eu... não lembrava que a senhora sabia disso.
-Acho que nunca te contei. Mas eu sei de muito mais do que você imagina. E estou ao seu lado. Você sabe o quão difícil é para uma mãe se colocar contra a própria filha? Mas eu sei que você é tão vítima quanto eu fui nesses anos todos... não posso te virar as costas. Mas também não posso admitir que um homem bom como você destrua a vida por alguém como a Suzanne. Vem pro apartamento que eu aluguei, querido. Vai ser melhor conviver menos com ela... afinal de contas, ela não se importou com você quando se mandou pra França sem nem se despedir direito...
-Desculpa, dona Raquel. Você é realmente uma mãe pra mim. Mas eu não sei deixar de amar a sua filha. Eu acho que esse amor só vai morrer dentro de mim no dia que eu tiver coragem de denunciar ela pelos crimes que ela cometeu.
-Eu não espero outra coisa de você, Márcio. De qualquer forma, minha casa estará sempre aberta pra você. Eu te amo como uma mãe ama um filho...
Raquel abraça Márcio emocionada e vai embora. CORTA A CENA.

CENA 4: Rafael tenta encorajar Marcelo a ligar para Cláudio.
-Amor... por que não liga de uma vez pro Cláudio?
-Você sabe que ele deve estar na companhia de teatro uma hora dessas e o assunto que a gente tem a tratar com ele é sério.
-Acho que você não tá entendendo bem, amor... não tou te dizendo para ligar pra ele e contar toda a verdade pelo telefone! Tou dizendo pra gente marcar de ver ele... ainda hoje, se possível.
-Ai... tá. Mas nesse caso não precisa ligar. Tenho medo de ele perceber alguma coisa pelo meu tom de voz. Acho mais prudente avisar ele pelo whatsapp que a gente quer ver ele ainda hoje, quando ele estiver em casa. Ou chamar ele pra vir aqui. Assim, quando ele ler, ele nos responde.
-Você tá certo. Do jeito que você tá tenso – e com toda a razão – o Cláudio perceberia alguma coisa pelo seu tom de voz.
-A gente ainda precisa pensar nas palavras certas pra mandar na mensagem... acho que vou deixar pra você decidir o que dizer, porque do jeito que minha cabeça ainda tá bagunçada com essa notícia, é capaz de eu acabar deixando escapar alguma coisa e isso não ia ser nada bom...
-Marcelo, você não devia ficar tão inseguro assim, não é esse o Marcelo que eu conheci e me apaixonei.
-É, só que o Marcelo que você conheceu e se apaixonou não sabia que tinha esse passado todo...
-Tá... me passa o seu celular que eu mando a mensagem...
Rafael começa a mandar mensagem para Cláudio. CORTA A CENA.

CENA 5: Vicente percebe que Riva está intrigada.
-Engraçado, amor... faz dias que você anda com uma cara esquisita, mas hoje especialmente você tá de um jeito que parece até estar pressentindo alguma coisa...
-Sabe, Vicente... tem uma semana que o Marcelo anda numa pilha de nervos. Conheço meu filho e sei que ele tá escondendo alguma coisa. Além disso o Rafael está esquisito também... desde aquele dia do incidente com o Márcio, que ninguém entendeu direito a grosseria do Marcelo com ele...
-De repente eles estavam tensos por conta da estreia daquele projeto secreto que tá viralizando na internet...
-Mas Vicente... se fosse isso essa tensão já teria acabado. O seriado está sendo super elogiado pelo público e pela crítica. E eles continuam esquivos. Quando a gente passa perto do quarto deles, um deles sempre fecha a porta. Coisa que não faziam antes da hora de dormir...
-Você acha que eles estão guardando segredo de alguma coisa, Riva?
-Tenho quase certeza. E tou me roendo de aflição por não ter a mínima ideia do que possa ser isso...
CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, Eva e Renata, que estão na casa dos pais de Eva, encerram a gravação do vídeo em que Regina, Adelaide, Cleiton e Geraldo dão seus relatos sobre conviver com filhas lésbicas e se posicionam contra o machismo da sociedade. Renata desliga a câmera.
-Gente, ficou ótimo! Cada um desses relatos vai ser editado e no máximo em dois dias, a gente publica o vídeo no canal da Eva e colocamos também no site. - fala Renata.
-Ficou bom o que eu falei, filha? Ainda fico preocupada com as besteiras que eu posso falar por não saber direito como entrar em certos assuntos... - desabafa Adelaide.
-Deixa disso, dona Adelaide! Você foi muito bem. Depois, não tem nada que uns truques básicos de edição não possam fazer pra manter apenas o melhor da sua fala. Não se preocupe com isso, minha sogra... - fala Eva.
-Ih, queridas! Acho que eu vou ser o que mais vai dar trabalho pra vocês na hora de editar tudo isso. Do jeito que eu fiquei divagando, fazendo pausas, indo e voltando do mundo da lua... - brinca Geraldo.
-Bobo. Você não se cansa de ser o melhor pai que existe? - fala Eva.
-Espero que esse vídeo sirva pelo menos de convite à reflexão de todas as famílias que tenham filhos ou parentes próximos que sejam LGBT... - fala Cleiton.
-E vai ser, meu amigo. O que não podemos é nos amedrontar e nos manter calados diante desse conservadorismo que incita a violência contra lésbicas, gays, mulheres, travestis, transexuais... ih, a lista é tão grande de pessoas ameaçadas por essa onda conservadora que se eu colocar isso num caderno, ainda falta espaço... - fala Regina.
-Bem, gente... por hoje já tivemos muito trabalho. Se vocês não se importam, vamos pra nossa casa porque eu pelo menos tou exausta de tanta coisa que fiz só no dia de hoje... - fala Renata.
-Você nos deixando em casa, filha, tá de bom tamanho... - fala Adelaide.
Eva, Renata, Cleiton e Adelaide partem da casa de Regina e Geraldo. CORTA A CENA.

CENA 7: Cláudio passa rapidamente em sua casa, toma um banho e se arruma. Antes de sair, liga para Marcelo.
-Fala, viado! Desculpa se não consegui sair mais cedo da companhia de teatro... mas, enfim. Tou saindo daqui da minha casa em menos de cinco minutos. Chamei um uber pra não demorar muito pra chegar até aí...
-Ótimo. Então você chega mais ou menos em meia hora?
-Acredito eu que sim, amigo. Só demoro mais se o motorista se perder no meio do caminho...
-E o Guilherme, não vem com você?
-Nada! Assim que eu li a mensagem mais cedo no whatsapp eu liguei pra ele, avisando pra ele nem ficar aqui em casa e ir pra casa dele, porque eu nem sei que horas volto pra cá...
-Perfeito. Te espero, então.
-Você tá com uma voz estranha, viado... parece que tá falando as coisas pela metade.
-Impressão sua, Cláudio.
-Não costumo me enganar, Marcelo... você parece que tá me escondendo algo.
-Querido... a gente conversa direitinho quando você chegar, ok? Não fica pensando muito nisso, tá? A gente tá te esperando e já compramos uma pizza caso você não tenha jantado.
-Tá certo, tou saindo. Beijo...
Cláudio fecha a porta de sua casa e espera o carro estacionar. CORTA A CENA.

CENA 8: Sozinho no apartamento do hotel, Márcio relembra o dia que Suzanne fugiu do hospital com o filho deles recém-nascido e ele a esperou no lado de fora. Corta para flashback de 1995.
-Você tá louca, Suzanne! Não tem nem vinte e quatro horas que nosso filho nasceu!
-Esse bebê não é meu, não é seu, não é nosso. Não é de ninguém.
-Eu não acredito que você vai levar esse plano adiante. Pensei que depois de parir a criança você fosse mudar de ideia.
-Posso saber por que eu mudaria? Você que insistiu pra esse menino nascer.
-E eu ia compactuar com você colocando sua vida em risco num aborto clandestino, Suzanne? Eu te amo!
-É, mas por causa desse seu amor eu tive que aguentar nove meses com meu corpo deformando e esse parasita crescendo dentro de mim!
-Não fala assim do nosso filho!
-Márcio, pela última vez eu te peço pra não chamar esse merdinha de nosso filho, tá me ouvindo? A gente precisa ir embora daqui. Onde está o carro?
-Deixei estacionado logo ali.
-Vamos sair daqui. Agora.
-Pra onde?
-Pra onde eu mandar. Esse parasita não vai atrapalhar meus planos, não vai atrapalhar nossos planos.
-Você não sente nem um pingo de amor por essa criança, Suzanne?
-E tenho eu motivo pra amar um vermezinho que cresceu dentro de mim e me roubou energia vital? Não! Eu não sei o que é amar tão rápido assim. Esse papinho de que ser mãe muda a mulher é conversa pra boi dormir. Me leva pro orfanato, esse bebê não fica com a gente nem por essa noite.
Márcio chora e Suzanne se irrita.
-Para de chorar, seu frouxo! Você sabia desde o começo que ia ser assim!
Márcio volta da lembrança e chora. CORTA A CENA.

CENA 9: Cláudio está na mansão dos Bittencourt e chega ao quarto de Marcelo e Rafael.
-Espero não ter demorado muito, meninos... agora vocês podem me dizer o que tanto precisam conversar comigo? - fala Cláudio.
-Cláudio... senta aí. O que a gente tem a te falar é muito sério e o Marcelo nem sabe por onde começar a te dizer. Por isso mesmo eu acho melhor te entregar esse exame pra que você mesmo conclua o que a gente tem a te dizer. - fala Rafael, entregando o exame de DNA para Cláudio, que lê o exame e fica confuso.
-Isso aqui é um exame de DNA. Mas comparando o meu DNA com quem? Eu só posso estar entendendo errado... - fala Cláudio, começando a compreender.
-Você não está errado. Eu fingi passar mal aquele dia na sua casa e peguei seu cabelo. Cláudio... você é meu irmão. - fala Marcelo, emocionado.
FIM DO CAPÍTULO 80.

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