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sábado, 27 de agosto de 2016

CAPÍTULO 90

CENA 1: O delegado não acredita em Mateus.
-Rapaz, você parece estar muito nervoso. Talvez esteja fora de si.
-Eu não estou fora de mim, delegado Montalvani. Eu cometi um crime e preciso pagar por isso.
-Veja bem, Mateus... eu tenho mais de trinta anos de ofício. Já vi muita gente famosa vir aqui confessar crimes que elas pensam que cometeram, mas no final das contas elas estavam com transtornos e eram encaminhadas para psicólogos e psiquiatras. Você parece estar sobrecarregado. Desculpe, Mateus, mas não posso registrar nada seu.
Mateus perde a paciência e bate na mesa!
-Eu fui o responsável pelo acidente de carro do Rafael Alves ano passado! Quer fazer o favor de me levar a sério?
O delegado se impressiona.
-Espere aí... o que você está me dizendo é grave, rapaz.
-Eu sei disso, delegado. Você sabe que ainda ano passado foi confirmada a sabotagem através da perícia, não sabe?
-Claro que sei. Alguns investigadores me falaram a respeito e o inquérito segue aberto, sem solução.
-Pois acredite em mim, delegado. A solução desse caso sou eu. Fui eu quem sabotou os freios daquele carro.
-Você tem noção que isso foi tentativa de homicídio por motivo torpe?
-Tenho total noção do que fiz. Me arrependo, mas arrependimento não desfaz nada do que já foi feito. Sei que ele e o marido poderiam ter morrido naquele acidente.
-Bem... pelo que você está me contando, não foi um acidente.
-Não foi mesmo, delegado. Eu preciso que você acredite em mim. Não tenho mais nada a perder, a dignidade eu já deixei escorrer pelo ralo.
-Digamos que tudo isso seja verdade... como é que você explica o fato de que na perícia não foi encontrada sequer uma impressão digital no local da sabotagem?
-Eu vou explicar detalhe por detalhe, delegado. Acredite: fui eu.
-Tá certo... escrivão, pode começar a colher a confissão do rapaz! - ordena o delegado.
Mateus começa a dar detalhes do crime. CORTA A CENA.

CENA 2: Riva conta mais detalhes sobre Suzanne a Vicente.
-Acabei esquecendo de algo no meio de toda essa sujeirada que contei sobre a Suzanne.
-O que? Olha... eu entendo que o Márcio tenha motivos de sobra para detestar essa mulher, afinal de contas ela destruiu a vida dele.
-A dele e a do Cláudio também.
-Como é que é?
-Você não ligou as coisas, Vicente? Cláudio é filho do Márcio...
-Meu Deus! Como é que não pensei nisso antes? Pobre rapaz... filho de uma psicopata...
-No meio de tanta coisa que o Márcio me contou, acabei deixando passar essa parte... que foi justamente o começo da conversa. Quando ele me falou que a mãe do Cláudio era a Suzanne eu custei a crer... mas foi então que ele começou a falar de todos os podres dessa maldita.
-Maldita é pouco, Riva. A mulher cisma com você desde que você é uma garota!
-Juro que não entendo essas motivações, amor... até ano passado eu era uma pobretona, sem eira nem beira! Como é que uma golpista feito ela iria querer acabar comigo?
-Tudo isso é muito esquisito, Riva... de verdade. Tem muita ponta solta nessa história.
-E o pior de tudo que nem o Márcio sabe dessas motivações. Fez o que fez no passado porque tava cego de amor por essa infeliz...
-Essa mulher realmente destruiu grande parte da vida dele. Isso não é coisa que se faça... agora faz sentido: primeiro ela tira o filho do pai... depois descobre que você engravidou menos de um ano depois desse acontecimento, isso depois de mandar que o Márcio te seduzisse... e fica com tanta raiva de você que manda o Márcio, cego de amor por ela, te roubar e te abandonar... tudo isso pra te deixar na merda. A intenção dessa psicopata foi sempre te destruir!
-É isso que me deixa exasperada, amor... não entendo as razões e os motivos dela. Eu só fui conhecer a Suzanne de verdade quando fiquei rica. Eu devia ter ouvido meu filho desde o começo. Pior é que se eu conto tudo isso pra ele agora, é bem capaz de ele armar um escândalo.
-O que seria perfeitamente justificável, né... vocês dois poderiam nem mais estar aqui se essa demente tivesse acabado com sua alegria de viver.
-O que eu não engulo foi esse sequestro que ela mandou executar. Ela quis roubar o nosso Lúcio!
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 3: O delegado começa a interrogar Mateus.
-Então vamos lá: como foi arquitetado esse plano?
-Eu comecei a pensar nessa possibilidade logo depois que Rafael recebeu um convite pra próxima novela antes mesmo da novela que a gente participava acabar. Me senti desprestigiado, diminuído e injustiçado, pois toda a crítica elogiava meu talento e quem ficou com o próximo papel de destaque tinha sido ele. Minha intenção era dar um susto, tirar ele de circulação para que eu pudesse ser convidado pela emissora a assumir o papel.
-E quem participou desse plano?
-Eu, delegado. Só eu. Entrei em contato com uns caras que podiam fazer o serviço sem deixar rastros e eles sabotaram os freios.
-Quem são esses homens?
-Eles nunca mais apareceram, delegado. Eu fui o mandante, eu assumo esse crime sozinho.
-Você tem certeza que não vai delatar os executores do serviço?
-Tenho. Eu perdi contato com eles. Nem sei se estão na cidade e não posso garantir que os nomes sejam reais. Eles podiam estar usando identidades falsas.
-Pelo que você diz, isso me leva a crer que há mais gente, gente graúda por trás disso.
-Não, delegado. Eu conduzi tudo sozinho.
-Já que é assim... você está detido, Mateus. Pode ser liberado sob pagamento de fiança. Tem direito a um telefonema antes de ser levado à nossa cela.
CORTA A CENA.

CENA 4: Laura conversa com Haroldo.
-O Mateus acabou de ligar. Está detido na delegacia. Confessou a sabotagem...
-E ele vai poder ser liberado logo?
-Hoje mesmo, mas acho que já está muito tarde...
-Mediante pagamento de fiança?
-Exatamente, amor.
-Deixa que eu resolvo isso amanhã pela manhã. Eu pago a fiança do Mateus... agora é rezar pra isso não vazar pra imprensa.
-Acho difícil que não vaze. Você sabe como as pessoas são quando se deparam com uma pessoa famosa, ainda mais numa situação dessas... bem, acho melhor a gente dormir pra gente poder acordar cedo amanhã e tirar o Mateus da cadeia.
-Tá certo, Laura. Estou morrendo de sono, mesmo.
-O Bruno já se entregou, tá ali derrotado no sofá... pudera: trabalha demais esse rapaz...
Laura e Haroldo partem para o quarto. CORTA A CENA.

CENA 5: Na manhã do dia seguinte, Rafael vê na TV a notícia sobre a prisão de Mateus e se revolta!
-Que ódio! - grita Rafael.
Marcelo se assusta.
-O que é isso, amor? Alguma coisa de errado?
-Tudo errado! Acabei de ver na TV que o Mateus foi preso. Adivinha por que?
-Não faço a mínima ideia, amor...
-Lembra daquele nosso acidente ano passado? Aquele que a gente escapou sem se ferir e depois se confirmou que era sabotagem?
-Sei... não vai me dizer que...
-Foi ele, Marcelo. Foi esse cara. Eu fui amigo dele, caralho! Confiava no Mateus!
-Não é de hoje que ele se mostra invejoso... não lembra do que ele aprontou quando vazou pra mídia sobre a gente antes de você convocar a coletiva?
-Sim, mas daí a atentar contra a minha vida, colocando a sua em risco junto, já passou de qualquer limite! Esse sujeito queria me tirar do caminho a qualquer custo! Isso é hediondo!
-Eu tou muito chocado com isso, Rafael. A gente podia ter morrido e nem chegado a se casar se não tivéssemos tido sorte naquele acidente...
-E muita habilidade ao volante da minha parte, porque né...
-Verdade. O que você vai fazer agora?
-Provavelmente a Laura ou o Haroldo vão pagar a fiança dele. Vou esperar ele voltar pra casa da Laura... e ele vai me ouvir!
-Se controla, amor...
-Controle? Marcelo, não me peça que eu me contenha diante disso.
-Você tá certo... mas eu vou com você.
CORTA A CENA.

CENA 6: Haroldo e Laura chegam à delegacia.
-Bom dia, delegado Montalvani. Sou Haroldo, irmão da vítima. Vim pagar a fiança de Mateus.
-Bom dia, Haroldo. O valor estipulado da fiança é quatro mil e setecentos reais.
-Sim, delegado. Me informei a respeito e estou com a quantia.
-Certo. Vocês podem aguardar um instante? Você pode efetuar o pagamento agora e eu vou trazer Mateus aqui.
Haroldo paga a fiança e o delegado vai à cela onde Mateus dormiu.
-Venha, Mateus. Você está liberado. Pagaram sua fiança.
Mateus é levado pelo delegado à sala e reencontra Laura e Haroldo. Laura o abraça.
-Vai dar tudo certo, meu amigo. O Haroldo pagou sua fiança. - fala Laura.
-Eu espero poder ressarcir esse dinheiro logo, se tudo correr bem... - fala Mateus.
-Não se preocupe com isso... - fala Haroldo.
Mateus nota expressão apreensiva em Laura e Haroldo.
-Vocês parecem estar querendo me dizer alguma coisa... - observa Mateus.
-Mateus... infelizmente não deu para evitar que o pior acontecesse. A notícia da sua prisão vazou à imprensa e... bem, foi noticiado hoje, mais cedo. - fala Laura.
-Droga! Mas eu sabia que podia isso acontecer. É chato, mas previsível... - fala Mateus.
-Acho bom você se preparar pra uma visita do meu irmão, cara... se conheço bem o Rafael, ele vai querer esclarecer tudo olhando na sua cara. - alerta Haroldo.
-É um direito dele, Haroldo. Aliás, nem sei como você teve a capacidade de ser generoso comigo e pagar minha fiança. Eu poderia ter causado a morte do seu irmão por causa de um capricho besta meu...
-Não sei porque, Mateus... mas por algum motivo, nem que eu queira, consigo sentir raiva de você. Mas da raiva do meu irmão você não tem como escapar... - fala Haroldo.
-Podemos ir pra casa? Estou exausto e dormi muito mal naquela cela... - fala Mateus.
Os três partem da delegacia. CORTA A CENA.

CENA 7: Marcelo chama Rafael para conversar.
-Amor, acabou de dar na TV que Mateus foi libertado, sob pagamento de fiança.
-Tá vendo? Eu disse que isso aconteceria ainda hoje.
-E você vai até a Laura pra resolver esse assunto cara a cara com o Mateus?
-Você ainda duvida? Claro que eu vou! E você vem comigo, conforme combinamos.
-Confesso que tou muito curioso pra ouvir o que esse sujeitinho tem a dizer. No fim das contas ele nem precisava ter feito tudo o que fez... acabou tendo destaque e sendo reconhecido pelo trabalho na novela que veio depois. Se tivesse esperado mais um pouco, teria se poupado de passar por isso...
-Você tá com peninha dele, é isso mesmo?
-Não, Rafa... só estou constatando a coisa da maneira mais imparcial possível.
-Imparcial ou não, o fato é que eu e você poderíamos ter nos dado muito mal naquele acidente.
-Que nem acidente foi... foi uma sabotagem. Graças à sua habilidade estamos aqui hoje e o senhor envolvido na colisão também.
-Engraçado você falar nesse senhor. Apesar de todo o susto, o saldo daquela noite foi positivo pra todos nós...
-Não sei se você acredita em proteção espiritual, mas se aquilo não foi proteção, então não sei de mais nada.
-Claro que eu acredito, amor. Bem, acho melhor a gente ir se preparando pra sair. É hoje que eu vou olhar na cara daquele infeliz e esclarecer as coisas.
Os dois se aprontam para ir à casa de Laura. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, Mateus está almoçando com Laura e Haroldo quando a campainha toca.
-É, meu amigo... acho que chegou a hora da verdade. - fala Haroldo.
-Deve ser o Rafael... - constata Laura.
-Nem sei o que fazer agora. Quando arquitetei tudo eu me sentia poderoso, invencível... agora nem sei como olhar na cara dele... - fala Mateus.
-Não se acovarde, viado... no fundo você é bom e sabe disso. Mas precisa pagar pelo que fez. Se redimir como puder... vamos, Mateus. Abra para Rafael. - fala Laura.
-Mas eu nem sei como receber ele... - hesita Mateus.
-Vai! - fala Laura, se impacientando.
Mateus abre a porta e se depara com Rafael e Marcelo. Rafael lhe recebe com um soco.
-Filho da puta! - grita Rafael. FIM DO CAPÍTULO 90.

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