CENA 1: O delegado não
acredita em Mateus.
-Rapaz, você parece estar
muito nervoso. Talvez esteja fora de si.
-Eu não estou fora de mim,
delegado Montalvani. Eu cometi um crime e preciso pagar por isso.
-Veja bem, Mateus... eu tenho
mais de trinta anos de ofício. Já vi muita gente famosa vir aqui
confessar crimes que elas pensam que cometeram, mas no final das
contas elas estavam com transtornos e eram encaminhadas para
psicólogos e psiquiatras. Você parece estar sobrecarregado.
Desculpe, Mateus, mas não posso registrar nada seu.
Mateus perde a paciência e
bate na mesa!
-Eu fui o responsável pelo
acidente de carro do Rafael Alves ano passado! Quer fazer o favor de
me levar a sério?
O delegado se impressiona.
-Espere aí... o que você
está me dizendo é grave, rapaz.
-Eu sei disso, delegado. Você
sabe que ainda ano passado foi confirmada a sabotagem através da
perícia, não sabe?
-Claro que sei. Alguns
investigadores me falaram a respeito e o inquérito segue aberto, sem
solução.
-Pois acredite em mim,
delegado. A solução desse caso sou eu. Fui eu quem sabotou os
freios daquele carro.
-Você tem noção que isso
foi tentativa de homicídio por motivo torpe?
-Tenho total noção do que
fiz. Me arrependo, mas arrependimento não desfaz nada do que já foi
feito. Sei que ele e o marido poderiam ter morrido naquele acidente.
-Bem... pelo que você está
me contando, não foi um acidente.
-Não foi mesmo, delegado. Eu
preciso que você acredite em mim. Não tenho mais nada a perder, a
dignidade eu já deixei escorrer pelo ralo.
-Digamos que tudo isso seja
verdade... como é que você explica o fato de que na perícia não
foi encontrada sequer uma impressão digital no local da sabotagem?
-Eu vou explicar detalhe por
detalhe, delegado. Acredite: fui eu.
-Tá certo... escrivão, pode
começar a colher a confissão do rapaz! - ordena o delegado.
Mateus começa a dar detalhes
do crime. CORTA A CENA.
CENA 2: Riva conta mais
detalhes sobre Suzanne a Vicente.
-Acabei esquecendo de algo no
meio de toda essa sujeirada que contei sobre a Suzanne.
-O que? Olha... eu entendo que
o Márcio tenha motivos de sobra para detestar essa mulher, afinal de
contas ela destruiu a vida dele.
-A dele e a do Cláudio
também.
-Como é que é?
-Você não ligou as coisas,
Vicente? Cláudio é filho do Márcio...
-Meu Deus! Como é que não
pensei nisso antes? Pobre rapaz... filho de uma psicopata...
-No meio de tanta coisa que o
Márcio me contou, acabei deixando passar essa parte... que foi
justamente o começo da conversa. Quando ele me falou que a mãe do
Cláudio era a Suzanne eu custei a crer... mas foi então que ele
começou a falar de todos os podres dessa maldita.
-Maldita é pouco, Riva. A
mulher cisma com você desde que você é uma garota!
-Juro que não entendo essas
motivações, amor... até ano passado eu era uma pobretona, sem eira
nem beira! Como é que uma golpista feito ela iria querer acabar
comigo?
-Tudo isso é muito esquisito,
Riva... de verdade. Tem muita ponta solta nessa história.
-E o pior de tudo que nem o
Márcio sabe dessas motivações. Fez o que fez no passado porque
tava cego de amor por essa infeliz...
-Essa mulher realmente
destruiu grande parte da vida dele. Isso não é coisa que se faça...
agora faz sentido: primeiro ela tira o filho do pai... depois
descobre que você engravidou menos de um ano depois desse
acontecimento, isso depois de mandar que o Márcio te seduzisse... e
fica com tanta raiva de você que manda o Márcio, cego de amor por
ela, te roubar e te abandonar... tudo isso pra te deixar na merda. A
intenção dessa psicopata foi sempre te destruir!
-É isso que me deixa
exasperada, amor... não entendo as razões e os motivos dela. Eu só
fui conhecer a Suzanne de verdade quando fiquei rica. Eu devia ter
ouvido meu filho desde o começo. Pior é que se eu conto tudo isso
pra ele agora, é bem capaz de ele armar um escândalo.
-O que seria perfeitamente
justificável, né... vocês dois poderiam nem mais estar aqui se
essa demente tivesse acabado com sua alegria de viver.
-O que eu não engulo foi esse
sequestro que ela mandou executar. Ela quis roubar o nosso Lúcio!
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 3: O delegado começa a
interrogar Mateus.
-Então vamos lá: como foi
arquitetado esse plano?
-Eu comecei a pensar nessa
possibilidade logo depois que Rafael recebeu um convite pra próxima
novela antes mesmo da novela que a gente participava acabar. Me senti
desprestigiado, diminuído e injustiçado, pois toda a crítica
elogiava meu talento e quem ficou com o próximo papel de destaque
tinha sido ele. Minha intenção era dar um susto, tirar ele de
circulação para que eu pudesse ser convidado pela emissora a
assumir o papel.
-E quem participou desse
plano?
-Eu, delegado. Só eu. Entrei
em contato com uns caras que podiam fazer o serviço sem deixar
rastros e eles sabotaram os freios.
-Quem são esses homens?
-Eles nunca mais apareceram,
delegado. Eu fui o mandante, eu assumo esse crime sozinho.
-Você tem certeza que não
vai delatar os executores do serviço?
-Tenho. Eu perdi contato com
eles. Nem sei se estão na cidade e não posso garantir que os nomes
sejam reais. Eles podiam estar usando identidades falsas.
-Pelo que você diz, isso me
leva a crer que há mais gente, gente graúda por trás disso.
-Não, delegado. Eu conduzi
tudo sozinho.
-Já que é assim... você
está detido, Mateus. Pode ser liberado sob pagamento de fiança. Tem
direito a um telefonema antes de ser levado à nossa cela.
CORTA A CENA.
CENA 4: Laura conversa com
Haroldo.
-O Mateus acabou de ligar.
Está detido na delegacia. Confessou a sabotagem...
-E ele vai poder ser liberado
logo?
-Hoje mesmo, mas acho que já
está muito tarde...
-Mediante pagamento de fiança?
-Exatamente, amor.
-Deixa que eu resolvo isso
amanhã pela manhã. Eu pago a fiança do Mateus... agora é rezar
pra isso não vazar pra imprensa.
-Acho difícil que não vaze.
Você sabe como as pessoas são quando se deparam com uma pessoa
famosa, ainda mais numa situação dessas... bem, acho melhor a gente
dormir pra gente poder acordar cedo amanhã e tirar o Mateus da
cadeia.
-Tá certo, Laura. Estou
morrendo de sono, mesmo.
-O Bruno já se entregou, tá
ali derrotado no sofá... pudera: trabalha demais esse rapaz...
Laura e Haroldo partem para o
quarto. CORTA A CENA.
CENA 5: Na manhã do dia
seguinte, Rafael vê na TV a notícia sobre a prisão de Mateus e se
revolta!
-Que ódio! - grita Rafael.
Marcelo se assusta.
-O que é isso, amor? Alguma
coisa de errado?
-Tudo errado! Acabei de ver na
TV que o Mateus foi preso. Adivinha por que?
-Não faço a mínima ideia,
amor...
-Lembra daquele nosso acidente
ano passado? Aquele que a gente escapou sem se ferir e depois se
confirmou que era sabotagem?
-Sei... não vai me dizer
que...
-Foi ele, Marcelo. Foi esse
cara. Eu fui amigo dele, caralho! Confiava no Mateus!
-Não é de hoje que ele se
mostra invejoso... não lembra do que ele aprontou quando vazou pra
mídia sobre a gente antes de você convocar a coletiva?
-Sim, mas daí a atentar
contra a minha vida, colocando a sua em risco junto, já passou de
qualquer limite! Esse sujeito queria me tirar do caminho a qualquer
custo! Isso é hediondo!
-Eu tou muito chocado com
isso, Rafael. A gente podia ter morrido e nem chegado a se casar se
não tivéssemos tido sorte naquele acidente...
-E muita habilidade ao volante
da minha parte, porque né...
-Verdade. O que você vai
fazer agora?
-Provavelmente a Laura ou o
Haroldo vão pagar a fiança dele. Vou esperar ele voltar pra casa da
Laura... e ele vai me ouvir!
-Se controla, amor...
-Controle? Marcelo, não me
peça que eu me contenha diante disso.
-Você tá certo... mas eu vou
com você.
CORTA A CENA.
CENA 6: Haroldo e Laura chegam
à delegacia.
-Bom dia, delegado Montalvani.
Sou Haroldo, irmão da vítima. Vim pagar a fiança de Mateus.
-Bom dia, Haroldo. O valor
estipulado da fiança é quatro mil e setecentos reais.
-Sim, delegado. Me informei a
respeito e estou com a quantia.
-Certo. Vocês podem aguardar
um instante? Você pode efetuar o pagamento agora e eu vou trazer
Mateus aqui.
Haroldo paga a fiança e o
delegado vai à cela onde Mateus dormiu.
-Venha, Mateus. Você está
liberado. Pagaram sua fiança.
Mateus é levado pelo delegado
à sala e reencontra Laura e Haroldo. Laura o abraça.
-Vai dar tudo certo, meu
amigo. O Haroldo pagou sua fiança. - fala Laura.
-Eu espero poder ressarcir
esse dinheiro logo, se tudo correr bem... - fala Mateus.
-Não se preocupe com isso...
- fala Haroldo.
Mateus nota expressão
apreensiva em Laura e Haroldo.
-Vocês parecem estar querendo
me dizer alguma coisa... - observa Mateus.
-Mateus... infelizmente não
deu para evitar que o pior acontecesse. A notícia da sua prisão
vazou à imprensa e... bem, foi noticiado hoje, mais cedo. - fala
Laura.
-Droga! Mas eu sabia que podia
isso acontecer. É chato, mas previsível... - fala Mateus.
-Acho bom você se preparar
pra uma visita do meu irmão, cara... se conheço bem o Rafael, ele
vai querer esclarecer tudo olhando na sua cara. - alerta Haroldo.
-É um direito dele, Haroldo.
Aliás, nem sei como você teve a capacidade de ser generoso comigo e
pagar minha fiança. Eu poderia ter causado a morte do seu irmão por
causa de um capricho besta meu...
-Não sei porque, Mateus...
mas por algum motivo, nem que eu queira, consigo sentir raiva de
você. Mas da raiva do meu irmão você não tem como escapar... -
fala Haroldo.
-Podemos ir pra casa? Estou
exausto e dormi muito mal naquela cela... - fala Mateus.
Os três partem da delegacia.
CORTA A CENA.
CENA 7: Marcelo chama Rafael
para conversar.
-Amor, acabou de dar na TV que
Mateus foi libertado, sob pagamento de fiança.
-Tá vendo? Eu disse que isso
aconteceria ainda hoje.
-E você vai até a Laura pra
resolver esse assunto cara a cara com o Mateus?
-Você ainda duvida? Claro que
eu vou! E você vem comigo, conforme combinamos.
-Confesso que tou muito
curioso pra ouvir o que esse sujeitinho tem a dizer. No fim das
contas ele nem precisava ter feito tudo o que fez... acabou tendo
destaque e sendo reconhecido pelo trabalho na novela que veio depois.
Se tivesse esperado mais um pouco, teria se poupado de passar por
isso...
-Você tá com peninha dele, é
isso mesmo?
-Não, Rafa... só estou
constatando a coisa da maneira mais imparcial possível.
-Imparcial ou não, o fato é
que eu e você poderíamos ter nos dado muito mal naquele acidente.
-Que nem acidente foi... foi
uma sabotagem. Graças à sua habilidade estamos aqui hoje e o senhor
envolvido na colisão também.
-Engraçado você falar nesse
senhor. Apesar de todo o susto, o saldo daquela noite foi positivo
pra todos nós...
-Não sei se você acredita em
proteção espiritual, mas se aquilo não foi proteção, então não
sei de mais nada.
-Claro que eu acredito, amor.
Bem, acho melhor a gente ir se preparando pra sair. É hoje que eu
vou olhar na cara daquele infeliz e esclarecer as coisas.
Os dois se aprontam para ir à
casa de Laura. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, Mateus
está almoçando com Laura e Haroldo quando a campainha toca.
-É, meu amigo... acho que
chegou a hora da verdade. - fala Haroldo.
-Deve ser o Rafael... -
constata Laura.
-Nem sei o que fazer agora.
Quando arquitetei tudo eu me sentia poderoso, invencível... agora
nem sei como olhar na cara dele... - fala Mateus.
-Não se acovarde, viado... no
fundo você é bom e sabe disso. Mas precisa pagar pelo que fez. Se
redimir como puder... vamos, Mateus. Abra para Rafael. - fala Laura.
-Mas eu nem sei como receber
ele... - hesita Mateus.
-Vai! - fala Laura, se
impacientando.
Mateus abre a porta e se
depara com Rafael e Marcelo. Rafael lhe recebe com um soco.
-Filho da puta! - grita
Rafael. FIM DO CAPÍTULO 90.
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