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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

CAPÍTULO 82

CENA 1: Marcelo tenta conter Cláudio.
-Chega, Cláudio! Quantas vezes eu e o Rafa te pedimos pra se segurar? Pra deixar o cara falar? Se aquiete, rapaz!
Márcio não entende nada.
-Vocês podem explicar o que é que tá acontecendo aqui? Que pegadinha é essa? E quem você pensa que é pra me tomar desse jeito, garoto? Olha aqui, moleque: eu sei que fiz muita cagada nessa vida, mas não vou deixar que um garoto que eu mal conheço venha me jogar acusações na cara! - fala Márcio.
-Eu vou explicar o que está acontecendo, Márcio. Sente-se, por favor... - fala Rafael.
-Deixa que eu explico, amor. É melhor. Querendo ou não, esse daí é meu pai... melhor dizendo: nosso pai. - fala Marcelo.
-Vocês querem me explicar o que isso significa? Não tou entendendo nada... - fala Márcio, confuso.
-Você não tem mesmo vergonha nessa cara, né? Falso, dissimulado, abandona o filho bebê e agora se faz de desentendido. - fala Cláudio, com raiva.
-Menos, Cláudio. Já deu de showzinho por agora. Eu vou explicar desde o começo: tudo começou com uma suspeita minha. Não é de hoje que algumas pessoas percebem que eu e o Cláudio somos parecidos, mas a gente nunca levou isso muito a sério. Até ele ser diagnosticado com psoríase. Minha desconfiança chegou num nível insustentável e eu sou escorpiano, daí já viu. O Rafael entrou nesse plano comigo. A gente descolou um saquinho coletor, desses de plástico que a gente fecha feito zíper e fomos até a casa do Cláudio semana passada, jantar lá. Eu fingi passar mal e o Rafael me ajudou a executar o plano: pegamos chumaços de cabelo do Cláudio e colocamos nesse saco. Encaminhamos ao laboratório onde o material genético dele foi comparado com o meu material, que era a saliva. Ontem nós recebemos esse resultado. E Cláudio é meu irmão... seu filho, Márcio.
Márcio começa a chorar e a tremer de emoção.
-Então é ele! O Cláudio! Sabem por quanto tempo eu busquei desesperado por qualquer informação sobre meu filho? Vinte e dois anos! Esse tempo todo foi só de dúvida, eu não sabia se ele tava vivo, morto, eu não sabia de nada! Eu não tive culpa disso, eu juro! Foi a mãe dele! Aquela infeliz, desgraçada... sumiu com ele e me obrigou a nunca ir atrás... meu Deus! Eu nunca pensei que ia chegar esse dia... e que meu filho estivesse tão perto!
Riva percebe que Márcio está sendo sincero. Ela e Vicente amparam Márcio, que chora muito. Cláudio se impacienta.
-Eu não posso acreditar que vocês vão cair nesse teatrinho! Não acredito em uma palavra do que esse verme diz!
Cláudio sai em disparada à edícula e é seguido por Marcelo e Rafael. CORTA A CENA.

CENA 2: Cláudio explode em choro sentido, sentado na cama da edícula. Marcelo e Rafael chegam logo atrás.
-Isso, Cláudio... bota esse choro pra fora! - estimula Rafael.
-Sabe, eu te entendo, Cláudio... mas você não deixou o Márcio falar! Eu também tou revoltado com ele, mas se você não se dispõe a acreditar em nada do que ele diz e tira as próprias conclusões, isso não é nada justo. - fala Marcelo.
Cláudio, recuperando-se do choro, começa a falar.
-E vocês esperam que eu faça o que? Até ontem minha vida tinha um monte de certezas que agora eu não tenho mais! É horrível essa sensação de sentir o chão se abrindo sob os nossos pés. Eu não me sinto bem com tanta instabilidade... a vida inteira eu lutei para ter coisas estáveis e de repente eu me vejo nessa situação... filho de um pai que me abandonou. De pais que me abandonaram! O único lado positivo disso é saber que sou seu irmão, Marcelo... de resto tudo tá rodando na minha cabeça ainda.
-Eu sei, querido... mas a gente precisa ouvir o Márcio... quer dizer: nosso pai. Vem com a gente, por favor! Deixa ele explicar o que aconteceu. A gente merece saber da verdade... - estimula Marcelo.
Os três voltam à sala. Cláudio é o primeiro a falar.
-Digamos que tudo isso que você disse seja verdade, Márcio... que você procurou por mim todos esses anos. Por que você nunca disse isso a ninguém nessa casa? - questiona Cláudio.
-E é verdade, Cláudio. Acredita em mim! Meu filho... de volta, depois de tanto tempo! Me deixa eu te abraçar!
Cláudio se esquiva dos braços de Márcio.
-Não toca em mim! Fala essa história de uma vez.
-Eu e sua mãe biológica éramos muito garotos. Adolescentes, ainda... eu queria ficar com você, meu filho... mas sua mãe não queria um bebê atrapalhando os planos dela de vencer na vida. Eu fiz de tudo até o último instante pra que ela não entregasse você pro orfanato lá em Niterói. Mas não consegui. Quando eu fui no orfanato, semanas depois, eu descobri que você já tinha sido adotado. Eu quase implorei de joelhos para que eles me dessem as informações sobre onde você estava, mas eles me disseram que eu não tinha como provar que era seu pai e não me deram as informações. Eu passei meses procurando por você, até que sua mãe me fez desistir, dizendo que eu jamais encontraria rastro nenhum. Só que no fundo, eu nunca desisti. Olha, gente... eu sei que errei pra caramba nessa vida, que logo depois disso me envolvi com a Riva e a abandonei grávida do Marcelo... mas não abandonei e roubei ela porque eu quis... eu fiz tudo isso a mando da sua mãe biológica, Cláudio. Eu amei demais essa mulher. E essa mulher destruiu a minha vida mais de uma vez...
Márcio cai em choro sentido e é amparado por Riva, Vicente, Marion e Ivan.
-E você pode me dizer quem é essa monstra que me pariu? - pergunta Cláudio.
-Eu não posso falar. Ainda amo essa mulher... mesmo sabendo que ela me destruiu. Ela pode ser uma pessoa perigosa... se eu denunciar ela, temo pelas nossas vidas.
-Você acha mesmo que eu vou acreditar numa lorota dessas? Você está blefando! Isso tudo deve ser mentira! Pra você sair de vítima da história e culpabilizar exclusivamente a monstra que me colocou nesse mundo! - grita Cláudio.
-Francamente, Márcio... eu esperava que você fosse assumir seus erros e não colocar na conta de uma pessoa que você nem diz quem é... - fala Marcelo, decepcionado.
Os dois saem da sala acompanhados de Rafael e Márcio sofre. CORTA A CENA.

CENA 3: Márcio sofre por ser desprezado pelos dois filhos, que partem no carro de Rafael até a casa de Cláudio.
-Bem... eu acho que não tenho mais nada pra fazer nessa casa. Eu sinto muito por não ter falado a verdade antes. Vocês descobriram da pior forma que eu deixei um filho que eu amei desde a barriga da mãe ser entregue pra adoção... - fala Márcio.
Vicente se penaliza de Márcio.
-Não precisa ir embora agora, cara... fica aqui com a gente. Ninguém nessa vida é perfeito, ninguém pode te julgar. Fica pra almoçar com a gente, esquecer um pouco essa história...
-O Vicente tem razão, Márcio. Eu tive meus motivos pra te odiar e te querer longe por anos, mas vendo o jeito que você tá sofrendo, não me resta dúvida de que você foi completamente sincero. A gente não vai te fazer mais perguntas se você não se sentir bem pra responder, tá? Hoje, nessa casa, você é nosso amigo. Um amigo querido que a gente descobriu com anos de atraso... - estimula Riva.
-Vocês não existem, gente... eu não mereço tanta bondade.
-Claro que merece! Você vai ver como seus filhos ainda vão te perdoar e te compreender. A vida ensina conforme a gente amadurece que não vale a pena julgar. Fosse assim, eu jamais teria feito as pazes com minha mãe e ela jamais teria se tornado atriz... - fala Marion.
-Vocês se importam se eu não comer muito? Não quero fazer desfeita com vocês, mas não tou com muito apetite, ainda mais depois dessa situação que acabou de acontecer... - fala Márcio.
-Vem com a gente que você só sai daqui dessa casa com um sorriso no rosto, tá me ouvindo? - sentencia Riva.
Todos vão à cozinha e seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 4: Rafael e Marcelo levam Cláudio à sua casa e ao mesmo tempo que eles chegam, aparece o carro de Guilherme, que chega acompanhado de Bruno.
-Nossa... coincidência a gente chegar ao mesmo tempo... - fala Cláudio.
Guilherme faz expressão de desagrado.
-Entra, Cláudio. A gente precisa conversar.
Bruno fica constrangido pela cena e Marcelo se irrita com Guilherme.
-Você tem ideia do motivo pelo qual o Cláudio não dormiu em casa? Não! Então pare de olhar pra ele com essa cara! - protesta Marcelo.
-Amor... acho melhor a gente ir embora e deixar eles conversarem... - sugere Rafael.
-Tá certo. A gente vai... qualquer coisa você me liga, Cláudio... - fala Marcelo. Ele e Rafael partem. Bruno, extremamente incomodado com a atitude intempestiva de Guilherme, começa a falar.
-Façam o favor de entrar, antes que os vizinhos comecem a espiar e fazer fofoca?
Os três entram em casa e Guilherme começa a gritar.
-Como é que você me apronta uma dessas? Me deixa sozinho pra ficar na casa do Marcelo? Resolveu tentar uma relação diferente com o seu melhor amigo? Me fala o que você foi fazer na casa dele!
Cláudio perde a paciência e dá um tapa em Guilherme.
-Cale-se! Você não sabe o que tá falando! Não lembra que o Marcelo é casado? E eu não ficaria com o meu próprio irmão!
Bruno e Guilherme ficam surpresos.
-Irmão? - questiona Guilherme, perplexo.
-Agora você quer saber? Pois eu não quero olhar na sua cara agora. Vai embora da minha casa até eu esfriar a cabeça! - ordena Cláudio.
-Me desculpa, amor! Eu não quis causar essa briga!
-Mas causou! Vai embora agora!
Bruno percebe o clima pesado e resolve intervir.
-Guilherme, meu amigo... acho que o melhor nesse momento é você voltar pra sua casa... depois vocês conversam melhor, tá? Eu fico aqui com o Cláudio, é meu dia de folga.
Guilherme se dá por vencido e vai embora.
-Cláudio, que história é essa do Marcelo ser seu irmão?
-Senta, Bruno... senta que a história é longa!
CORTA A CENA.

CENA 5: Instantes depois, Bruno se espanta com toda a história contada por Cláudio.
-Deus do céu... quem diria que o seu irmão tava perto de você o tempo todo! E durante esses anos todos, vocês nunca desconfiaram de nada...
-Sim... imagina como é que a gente ficou, Bruno! Depois de uma vida inteira praticamente convivendo como melhores amigos, perceber que a gente sempre foi irmão. Isso é muito, muito doido... e daí me chega o Guilherme aqui, dando ceninha de ciúme, sem nem querer saber o que andou acontecendo... é pra matar, Bruno.
-Sinceramente eu não esperava isso vindo dele, Cláudio. Ele dormiu lá no meu apartamento essa noite. A gente conversou muito, ele desabafou sobre as inseguranças dele, mas até antes da gente chegar aqui por minha sugestão de te fazer uma surpresa, ele tava supertranquilo. Não entendi quando ele começou com aquele ataque de nervos ao ver você chegando com o Marcelo e o Rafael...
-E não é? Achei tudo aquilo tão fora de propósito! Já ando com a cabeça lotada de coisa e ele quer atenção? Ah, me poupe! Eu sei que ele tem essas impulsividades por conta da esquizofrenia, mas mesmo assim, Bruno!
-É... você tem razão: ele poderia ter mais consideração por você. Enxergar alguma coisa além do próprio umbigo. Mas acho que vocês devem conversar quando os dois estiverem de cabeça fria. Não dá pra brigar por tão pouco num momento que você precisa tanto da gente por perto...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 6: No intervalo de seus ensaios, Laura almoça na companhia de Haroldo.
-Amor, você não sabe do que andou acontecendo lá em casa... meu pai me ligou há pouco contando tudo.
-O que, Haroldo? Com essa sua cara de espanto eu fico até assustada. Não foi nada grave, foi?
-Grave eu não sei, mas que muda tudo, isso muda...
-Fala, querido! Tou começando a ficar aflita...
-Sabe o Marcelo e o Cláudio? Eles descobriram que realmente são irmãos. O Márcio é pai biológico dos dois!
Laura quase engasga com o suco.
-Como é que é? Meu Deus do céu! Lembra que eu sempre achei meio esquisito como eles se parecem? Mas confesso que mesmo assim isso me deixou passada!
-Também tou bem espantado. Mas pelo visto rolou treta lá em casa. O Cláudio ficou revoltadíssimo.
-Não é de se espantar. Conheço meu melhor amigo e ele tem uma personalidade difícil...
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 7: Em seu consultório em horário vago, Valentim escuta Mara.
-Não achei nem um pouco prudente você falar logo pro Procópio sobre as suas suspeitas. Você não sabe o quanto nosso amigo é impressionável? Mais que isso: pedir pra ele guardar segredo sobre algo é pedir pro coitado sofrer!
-Ah, Mara... dá um tempo. Por que você não me impediu, então? Era só me dizer antes que não concordava que eu fosse falar com ele...
-Você resolveu ficar dependente de namorada depois de velho, Valentim? A decisão era sua, a análise desse caso também. Tudo o que eu fiz foi auxiliar na criação dessa lista de suspeitos, mas de quem é a responsabilidade de conduzir a fundo essas investigações? De quem é a responsabilidade de aprender a calar depois de tantos anos de profissão? Por muito tempo você assumiu suas responsabilidades sozinho, então nem tente colocar essa conta pra eu pagar porque ela é sua!
-Desculpa, querida... eu sei que eu poderia ter evitado isso. Mas naquele momento considerei sensato falar pelo menos a Procópio.
-Pra que? Você que insistiu em colocar o Haroldo nessa lista. Não há nada, absolutamente nada que aponte para a participação dele na liderança dessa facção.
-Você está certa. Acho que vou inclusive retirar o Haroldo da lista de suspeitos.
-Já devia ter feito isso antes. Quanto mais afunilada essa lista for, melhor para ganharmos tempo e chegarmos ao real criminoso...
Os dois seguem debatendo sobre os suspeitos. CORTA A CENA.

CENA 8: Márcio vai à casa de Raquel, desabafar com ela.
-Entende agora, dona Raquel? Eu não sabia de nada... não tinha como. A Suzanne não me deixou procurar pelo nosso filho e quando eu tentei, já era tarde demais. Passei esses mais de vinte anos sem saber se ele tava vivo, se tava morto, se era moreno feito eu ou se era ruivo feito minha mãe...
-Claro que entendo, querido... eu realmente espero, de coração, que os seus filhos possam entender que a culpa não foi sua. Só não entendo por que você insiste em proteger a Suzanne depois de todas as coisas que ela te fez passar desde que vocês eram garotos...
-Você sabe, dona Raquel... eu fiz de tudo pelo amor da sua filha. Dediquei boa parte da minha vida a fazer ela feliz, a fazer o que ela queria que eu fizesse, porque eu não sabia fazer outra coisa senão viver pra agradar ela. Eu esqueci de mim, dos meus próprios valores, da minha própria moral. Deixei que ela cometesse crueldade e paguei por isso. Talvez seja justo que o Cláudio, sabendo que é meu filho agora, nunca me perdoe.
-Não se maltrate assim, Márcio. Você cometeu os seus erros, como qualquer pessoa nessa vida comete. Um dia eles vão entender isso. O que você não pode fazer consigo mesmo é assumir toda a responsabilidade de coisas que foi a psicopata da minha filha que fez.
-Você tá insinuando que a sua própria filha seja psicopata?
-Não estou insinuando, querido... estou afirmando. Pelo seu próprio bem, você deveria se afastar dela o quanto antes. Agora mesmo, se tiver força. Ela é e sempre foi uma psicopata. Sempre enganando, manipulando, dissimulando, aplicando pequenos golpes, envolvendo você e sabe lá quanta gente a mais nos golpes que ela armou e saindo ilesa disso... ou você esqueceu dos crimes que ela cometeu e você pagou por eles, ficando preso? Eu sei que você nunca foi um santo, meu filho, mas... também sei que a cabeça de tudo isso sempre foi minha filha. Levei tempo demais pra perceber tudo isso...
-Pelo menos você me entende. Só que não é fácil, dona Raquel... eu não sei mais como é viver longe da Suzanne. São mais de vinte anos fazendo tudo por essa mulher...
-Vai ter que aprender, meu querido...
CORTA A CENA.

CENA 9: Renata e Eva estão preparando o jantar quando recebem uma ligação no telefone residencial.
-Ora essa, quem é que liga pra telefone residencial nos dias de hoje? - espanta-se Eva.
-Deixa que eu atendo, amor. Pode ser algo importante. - fala Renata.
Renata atende o telefone e Eva segue preparando o jantar. Poucos instantes depois, Renata retorna.
-E então, quem era? Engano? - pergunta Eva.
-Era da delegacia da mulher. A delegada disse que precisamos comparecer lá. Parece que pegaram os caras que estupraram a gente.
FIM DO CAPÍTULO 82.

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