CENA 1: Marcelo tenta conter
Cláudio.
-Chega, Cláudio! Quantas
vezes eu e o Rafa te pedimos pra se segurar? Pra deixar o cara falar?
Se aquiete, rapaz!
Márcio não entende nada.
-Vocês podem explicar o que é
que tá acontecendo aqui? Que pegadinha é essa? E quem você pensa
que é pra me tomar desse jeito, garoto? Olha aqui, moleque: eu sei
que fiz muita cagada nessa vida, mas não vou deixar que um garoto
que eu mal conheço venha me jogar acusações na cara! - fala
Márcio.
-Eu vou explicar o que está
acontecendo, Márcio. Sente-se, por favor... - fala Rafael.
-Deixa que eu explico, amor. É
melhor. Querendo ou não, esse daí é meu pai... melhor dizendo:
nosso pai. - fala Marcelo.
-Vocês querem me explicar o
que isso significa? Não tou entendendo nada... - fala Márcio,
confuso.
-Você não tem mesmo vergonha
nessa cara, né? Falso, dissimulado, abandona o filho bebê e agora
se faz de desentendido. - fala Cláudio, com raiva.
-Menos, Cláudio. Já deu de
showzinho por agora. Eu vou explicar desde o começo: tudo começou
com uma suspeita minha. Não é de hoje que algumas pessoas percebem
que eu e o Cláudio somos parecidos, mas a gente nunca levou isso
muito a sério. Até ele ser diagnosticado com psoríase. Minha
desconfiança chegou num nível insustentável e eu sou escorpiano,
daí já viu. O Rafael entrou nesse plano comigo. A gente descolou um
saquinho coletor, desses de plástico que a gente fecha feito zíper
e fomos até a casa do Cláudio semana passada, jantar lá. Eu fingi
passar mal e o Rafael me ajudou a executar o plano: pegamos chumaços
de cabelo do Cláudio e colocamos nesse saco. Encaminhamos ao
laboratório onde o material genético dele foi comparado com o meu
material, que era a saliva. Ontem nós recebemos esse resultado. E
Cláudio é meu irmão... seu filho, Márcio.
Márcio começa a chorar e a
tremer de emoção.
-Então é ele! O Cláudio!
Sabem por quanto tempo eu busquei desesperado por qualquer informação
sobre meu filho? Vinte e dois anos! Esse tempo todo foi só de
dúvida, eu não sabia se ele tava vivo, morto, eu não sabia de
nada! Eu não tive culpa disso, eu juro! Foi a mãe dele! Aquela
infeliz, desgraçada... sumiu com ele e me obrigou a nunca ir
atrás... meu Deus! Eu nunca pensei que ia chegar esse dia... e que
meu filho estivesse tão perto!
Riva percebe que Márcio está
sendo sincero. Ela e Vicente amparam Márcio, que chora muito.
Cláudio se impacienta.
-Eu não posso acreditar que
vocês vão cair nesse teatrinho! Não acredito em uma palavra do que
esse verme diz!
Cláudio sai em disparada à
edícula e é seguido por Marcelo e Rafael. CORTA A CENA.
CENA 2: Cláudio explode em
choro sentido, sentado na cama da edícula. Marcelo e Rafael chegam
logo atrás.
-Isso, Cláudio... bota esse
choro pra fora! - estimula Rafael.
-Sabe, eu te entendo,
Cláudio... mas você não deixou o Márcio falar! Eu também tou
revoltado com ele, mas se você não se dispõe a acreditar em nada
do que ele diz e tira as próprias conclusões, isso não é nada
justo. - fala Marcelo.
Cláudio, recuperando-se do
choro, começa a falar.
-E vocês esperam que eu faça
o que? Até ontem minha vida tinha um monte de certezas que agora eu
não tenho mais! É horrível essa sensação de sentir o chão se
abrindo sob os nossos pés. Eu não me sinto bem com tanta
instabilidade... a vida inteira eu lutei para ter coisas estáveis e
de repente eu me vejo nessa situação... filho de um pai que me
abandonou. De pais que me abandonaram! O único lado positivo disso é
saber que sou seu irmão, Marcelo... de resto tudo tá rodando na
minha cabeça ainda.
-Eu sei, querido... mas a
gente precisa ouvir o Márcio... quer dizer: nosso pai. Vem com a
gente, por favor! Deixa ele explicar o que aconteceu. A gente merece
saber da verdade... - estimula Marcelo.
Os três voltam à sala.
Cláudio é o primeiro a falar.
-Digamos que tudo isso que
você disse seja verdade, Márcio... que você procurou por mim todos
esses anos. Por que você nunca disse isso a ninguém nessa casa? -
questiona Cláudio.
-E é verdade, Cláudio.
Acredita em mim! Meu filho... de volta, depois de tanto tempo! Me
deixa eu te abraçar!
Cláudio se esquiva dos braços
de Márcio.
-Não toca em mim! Fala essa
história de uma vez.
-Eu e sua mãe biológica
éramos muito garotos. Adolescentes, ainda... eu queria ficar com
você, meu filho... mas sua mãe não queria um bebê atrapalhando os
planos dela de vencer na vida. Eu fiz de tudo até o último instante
pra que ela não entregasse você pro orfanato lá em Niterói. Mas
não consegui. Quando eu fui no orfanato, semanas depois, eu descobri
que você já tinha sido adotado. Eu quase implorei de joelhos para
que eles me dessem as informações sobre onde você estava, mas eles
me disseram que eu não tinha como provar que era seu pai e não me
deram as informações. Eu passei meses procurando por você, até
que sua mãe me fez desistir, dizendo que eu jamais encontraria
rastro nenhum. Só que no fundo, eu nunca desisti. Olha, gente... eu
sei que errei pra caramba nessa vida, que logo depois disso me
envolvi com a Riva e a abandonei grávida do Marcelo... mas não
abandonei e roubei ela porque eu quis... eu fiz tudo isso a mando da
sua mãe biológica, Cláudio. Eu amei demais essa mulher. E essa
mulher destruiu a minha vida mais de uma vez...
Márcio cai em choro sentido e
é amparado por Riva, Vicente, Marion e Ivan.
-E você pode me dizer quem é
essa monstra que me pariu? - pergunta Cláudio.
-Eu não posso falar. Ainda
amo essa mulher... mesmo sabendo que ela me destruiu. Ela pode ser
uma pessoa perigosa... se eu denunciar ela, temo pelas nossas vidas.
-Você acha mesmo que eu vou
acreditar numa lorota dessas? Você está blefando! Isso tudo deve
ser mentira! Pra você sair de vítima da história e culpabilizar
exclusivamente a monstra que me colocou nesse mundo! - grita Cláudio.
-Francamente, Márcio... eu
esperava que você fosse assumir seus erros e não colocar na conta
de uma pessoa que você nem diz quem é... - fala Marcelo,
decepcionado.
Os dois saem da sala
acompanhados de Rafael e Márcio sofre. CORTA A CENA.
CENA 3: Márcio sofre por ser
desprezado pelos dois filhos, que partem no carro de Rafael até a
casa de Cláudio.
-Bem... eu acho que não tenho
mais nada pra fazer nessa casa. Eu sinto muito por não ter falado a
verdade antes. Vocês descobriram da pior forma que eu deixei um
filho que eu amei desde a barriga da mãe ser entregue pra adoção...
- fala Márcio.
Vicente se penaliza de Márcio.
-Não precisa ir embora agora,
cara... fica aqui com a gente. Ninguém nessa vida é perfeito,
ninguém pode te julgar. Fica pra almoçar com a gente, esquecer um
pouco essa história...
-O Vicente tem razão, Márcio.
Eu tive meus motivos pra te odiar e te querer longe por anos, mas
vendo o jeito que você tá sofrendo, não me resta dúvida de que
você foi completamente sincero. A gente não vai te fazer mais
perguntas se você não se sentir bem pra responder, tá? Hoje, nessa
casa, você é nosso amigo. Um amigo querido que a gente descobriu
com anos de atraso... - estimula Riva.
-Vocês não existem, gente...
eu não mereço tanta bondade.
-Claro que merece! Você vai
ver como seus filhos ainda vão te perdoar e te compreender. A vida
ensina conforme a gente amadurece que não vale a pena julgar. Fosse
assim, eu jamais teria feito as pazes com minha mãe e ela jamais
teria se tornado atriz... - fala Marion.
-Vocês se importam se eu não
comer muito? Não quero fazer desfeita com vocês, mas não tou com
muito apetite, ainda mais depois dessa situação que acabou de
acontecer... - fala Márcio.
-Vem com a gente que você só
sai daqui dessa casa com um sorriso no rosto, tá me ouvindo? -
sentencia Riva.
Todos vão à cozinha e seguem
conversando. CORTA A CENA.
CENA 4: Rafael e Marcelo levam
Cláudio à sua casa e ao mesmo tempo que eles chegam, aparece o
carro de Guilherme, que chega acompanhado de Bruno.
-Nossa... coincidência a
gente chegar ao mesmo tempo... - fala Cláudio.
Guilherme faz expressão de
desagrado.
-Entra, Cláudio. A gente
precisa conversar.
Bruno fica constrangido pela
cena e Marcelo se irrita com Guilherme.
-Você tem ideia do motivo
pelo qual o Cláudio não dormiu em casa? Não! Então pare de olhar
pra ele com essa cara! - protesta Marcelo.
-Amor... acho melhor a gente
ir embora e deixar eles conversarem... - sugere Rafael.
-Tá certo. A gente vai...
qualquer coisa você me liga, Cláudio... - fala Marcelo. Ele e
Rafael partem. Bruno, extremamente incomodado com a atitude
intempestiva de Guilherme, começa a falar.
-Façam o favor de entrar,
antes que os vizinhos comecem a espiar e fazer fofoca?
Os três entram em casa e
Guilherme começa a gritar.
-Como é que você me apronta
uma dessas? Me deixa sozinho pra ficar na casa do Marcelo? Resolveu
tentar uma relação diferente com o seu melhor amigo? Me fala o que
você foi fazer na casa dele!
Cláudio perde a paciência e
dá um tapa em Guilherme.
-Cale-se! Você não sabe o
que tá falando! Não lembra que o Marcelo é casado? E eu não
ficaria com o meu próprio irmão!
Bruno e Guilherme ficam
surpresos.
-Irmão? - questiona
Guilherme, perplexo.
-Agora você quer saber? Pois
eu não quero olhar na sua cara agora. Vai embora da minha casa até
eu esfriar a cabeça! - ordena Cláudio.
-Me desculpa, amor! Eu não
quis causar essa briga!
-Mas causou! Vai embora agora!
Bruno percebe o clima pesado e
resolve intervir.
-Guilherme, meu amigo... acho
que o melhor nesse momento é você voltar pra sua casa... depois
vocês conversam melhor, tá? Eu fico aqui com o Cláudio, é meu dia
de folga.
Guilherme se dá por vencido e
vai embora.
-Cláudio, que história é
essa do Marcelo ser seu irmão?
-Senta, Bruno... senta que a
história é longa!
CORTA A CENA.
CENA 5: Instantes depois,
Bruno se espanta com toda a história contada por Cláudio.
-Deus do céu... quem diria
que o seu irmão tava perto de você o tempo todo! E durante esses
anos todos, vocês nunca desconfiaram de nada...
-Sim... imagina como é que a
gente ficou, Bruno! Depois de uma vida inteira praticamente
convivendo como melhores amigos, perceber que a gente sempre foi
irmão. Isso é muito, muito doido... e daí me chega o Guilherme
aqui, dando ceninha de ciúme, sem nem querer saber o que andou
acontecendo... é pra matar, Bruno.
-Sinceramente eu não esperava
isso vindo dele, Cláudio. Ele dormiu lá no meu apartamento essa
noite. A gente conversou muito, ele desabafou sobre as inseguranças
dele, mas até antes da gente chegar aqui por minha sugestão de te
fazer uma surpresa, ele tava supertranquilo. Não entendi quando ele
começou com aquele ataque de nervos ao ver você chegando com o
Marcelo e o Rafael...
-E não é? Achei tudo aquilo
tão fora de propósito! Já ando com a cabeça lotada de coisa e ele
quer atenção? Ah, me poupe! Eu sei que ele tem essas impulsividades
por conta da esquizofrenia, mas mesmo assim, Bruno!
-É... você tem razão: ele
poderia ter mais consideração por você. Enxergar alguma coisa além
do próprio umbigo. Mas acho que vocês devem conversar quando os
dois estiverem de cabeça fria. Não dá pra brigar por tão pouco
num momento que você precisa tanto da gente por perto...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 6: No intervalo de seus
ensaios, Laura almoça na companhia de Haroldo.
-Amor, você não sabe do que
andou acontecendo lá em casa... meu pai me ligou há pouco contando
tudo.
-O que, Haroldo? Com essa sua
cara de espanto eu fico até assustada. Não foi nada grave, foi?
-Grave eu não sei, mas que
muda tudo, isso muda...
-Fala, querido! Tou começando
a ficar aflita...
-Sabe o Marcelo e o Cláudio?
Eles descobriram que realmente são irmãos. O Márcio é pai
biológico dos dois!
Laura quase engasga com o
suco.
-Como é que é? Meu Deus do
céu! Lembra que eu sempre achei meio esquisito como eles se parecem?
Mas confesso que mesmo assim isso me deixou passada!
-Também tou bem espantado.
Mas pelo visto rolou treta lá em casa. O Cláudio ficou
revoltadíssimo.
-Não é de se espantar.
Conheço meu melhor amigo e ele tem uma personalidade difícil...
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 7: Em seu consultório em
horário vago, Valentim escuta Mara.
-Não achei nem um pouco
prudente você falar logo pro Procópio sobre as suas suspeitas. Você
não sabe o quanto nosso amigo é impressionável? Mais que isso:
pedir pra ele guardar segredo sobre algo é pedir pro coitado sofrer!
-Ah, Mara... dá um tempo. Por
que você não me impediu, então? Era só me dizer antes que não
concordava que eu fosse falar com ele...
-Você resolveu ficar
dependente de namorada depois de velho, Valentim? A decisão era sua,
a análise desse caso também. Tudo o que eu fiz foi auxiliar na
criação dessa lista de suspeitos, mas de quem é a responsabilidade
de conduzir a fundo essas investigações? De quem é a
responsabilidade de aprender a calar depois de tantos anos de
profissão? Por muito tempo você assumiu suas responsabilidades
sozinho, então nem tente colocar essa conta pra eu pagar porque ela
é sua!
-Desculpa, querida... eu sei
que eu poderia ter evitado isso. Mas naquele momento considerei
sensato falar pelo menos a Procópio.
-Pra que? Você que insistiu
em colocar o Haroldo nessa lista. Não há nada, absolutamente nada
que aponte para a participação dele na liderança dessa facção.
-Você está certa. Acho que
vou inclusive retirar o Haroldo da lista de suspeitos.
-Já devia ter feito isso
antes. Quanto mais afunilada essa lista for, melhor para ganharmos
tempo e chegarmos ao real criminoso...
Os dois seguem debatendo sobre
os suspeitos. CORTA A CENA.
CENA 8: Márcio vai à casa de
Raquel, desabafar com ela.
-Entende agora, dona Raquel?
Eu não sabia de nada... não tinha como. A Suzanne não me deixou
procurar pelo nosso filho e quando eu tentei, já era tarde demais.
Passei esses mais de vinte anos sem saber se ele tava vivo, se tava
morto, se era moreno feito eu ou se era ruivo feito minha mãe...
-Claro que entendo, querido...
eu realmente espero, de coração, que os seus filhos possam entender
que a culpa não foi sua. Só não entendo por que você insiste em
proteger a Suzanne depois de todas as coisas que ela te fez passar
desde que vocês eram garotos...
-Você sabe, dona Raquel... eu
fiz de tudo pelo amor da sua filha. Dediquei boa parte da minha vida
a fazer ela feliz, a fazer o que ela queria que eu fizesse, porque eu
não sabia fazer outra coisa senão viver pra agradar ela. Eu esqueci
de mim, dos meus próprios valores, da minha própria moral. Deixei
que ela cometesse crueldade e paguei por isso. Talvez seja justo que
o Cláudio, sabendo que é meu filho agora, nunca me perdoe.
-Não se maltrate assim,
Márcio. Você cometeu os seus erros, como qualquer pessoa nessa vida
comete. Um dia eles vão entender isso. O que você não pode fazer
consigo mesmo é assumir toda a responsabilidade de coisas que foi a
psicopata da minha filha que fez.
-Você tá insinuando que a
sua própria filha seja psicopata?
-Não estou insinuando,
querido... estou afirmando. Pelo seu próprio bem, você deveria se
afastar dela o quanto antes. Agora mesmo, se tiver força. Ela é e
sempre foi uma psicopata. Sempre enganando, manipulando,
dissimulando, aplicando pequenos golpes, envolvendo você e sabe lá
quanta gente a mais nos golpes que ela armou e saindo ilesa disso...
ou você esqueceu dos crimes que ela cometeu e você pagou por eles,
ficando preso? Eu sei que você nunca foi um santo, meu filho, mas...
também sei que a cabeça de tudo isso sempre foi minha filha. Levei
tempo demais pra perceber tudo isso...
-Pelo menos você me entende.
Só que não é fácil, dona Raquel... eu não sei mais como é viver
longe da Suzanne. São mais de vinte anos fazendo tudo por essa
mulher...
-Vai ter que aprender, meu
querido...
CORTA A CENA.
CENA 9: Renata e Eva estão
preparando o jantar quando recebem uma ligação no telefone
residencial.
-Ora essa, quem é que liga
pra telefone residencial nos dias de hoje? - espanta-se Eva.
-Deixa que eu atendo, amor.
Pode ser algo importante. - fala Renata.
Renata atende o telefone e Eva
segue preparando o jantar. Poucos instantes depois, Renata retorna.
-E então, quem era? Engano? -
pergunta Eva.
-Era da delegacia da mulher. A
delegada disse que precisamos comparecer lá. Parece que pegaram os
caras que estupraram a gente.
FIM DO CAPÍTULO 82.
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