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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

CAPÍTULO 81

CENA 1: Cláudio não acredita em Marcelo.
-Ai, viado. Vocês me chamaram aqui pra você treinar seus dotes de ator? Foi chamado pra mais alguma coisa na emissora, foi isso? - fala Cláudio, incrédulo.
-Não, Cláudio. O que o Marcelo te falou é verdade. - fala Rafael.
-Vocês só podem estar brincando com a minha cara. Como é que um troço desses ia ser verdade? Eu conheço essa viada desde que a gente é pequeno, ok que a gente é melhor amigo, mas daí a inventar essa marmota de que eu sou irmão dele? Me fala, Rafa... você conseguiu essa reprodução de exame na emissora?
Marcelo se impacienta.
-Pelo amor de Deus, Cláudio, chega! Você acha que a gente brincaria com uma coisa dessas? Menos, viado, bem menos!
Cláudio começa a cair em si.
-Mas isso pode fazer sentido. Eu sempre soube que fui adotado pelos meus falecidos pais. Eles sempre me contavam do dia que me viram no orfanato e sabiam que eu ia ser o filho deles. Quer dizer que eu sou seu irmão, Marcelo? Como isso é possível?
-Nós somos filhos do mesmo pai. Seu pai biológico é o Márcio.
-Não pode ser... e como esse verme nunca falou nada? Nunca quis saber do filho que ele deixou no orfanato! Se bem que... ele não deve ter feito isso sozinho! E a minha mãe biológica? Cadê essa desnaturada? Eu quero olhar bem na cara dela e dizer que nunca precisei nem dela nem desse infeliz. Eu fui muito feliz, muito bem criado pelos meus pais... meus verdadeiros pais, os que escolheram me amar e me acolher!
-Calma, Cláudio... eu tou tão confuso quanto você. Até pouco tempo atrás eu nem convivia com o Márcio... quer dizer, meu pai. Digo, nosso pai... tem muita coisa que nem eu sei. Muita ponta solta nessa história toda. A gente vai ter que descobrir junto tudo isso... meu... irmão.
Os dois se abraçam, emocionados ao perceberem pela primeira vez que são irmãos.
-É louco pensar nisso. Vai levar um tempo pra cair minha ficha... cara, você sempre foi meu irmão! A gente sempre foi irmão e nunca suspeitou disso! - espanta-se Cláudio.
-Essa vida, esse destino... são uma coisa muito louca, meus queridos. Vocês não percebem o meu caso com o Marcelo? Ele veio morar aqui em casa do dia pra noite, praticamente caiu de para quedas depois que a prima ganhou na loteria... e em menos de um ano a gente se casou. Nossas vidas mudam o tempo inteiro e às vezes nem a gente entende direito o porque de tudo isso... mas pensem pelo lado positivo! Vocês são irmãos, no fundo isso tava dentro dos corações de vocês... apesar das brigas e dos desentendimentos, sempre foram amigos. Nunca conseguiram ficar muito tempo um longe do outro... - fala Rafael.
-Verdade, amor... tudo isso é louco, mas é muito bom. Eu sempre quis ter irmãos... até um ano atrás, não tinha nenhum e agora tenho dois. O que eu posso pedir a mais da vida?
-É, Marcelo... mas eu não sei se você deixou de perceber uma coisa... você não é o mais velho, agora. Sou eu! E você tem que obedecer o irmão mais velho! - brinca Cláudio.
-Bobo. Você tá bem pra voltar pra sua casa depois dessa montanha-russa toda?
-Ai, gente... eu nem sei o que pensar direito ainda. Se eu já sou naturalmente um cara de processos lentos, diante disso eu preciso de mais tempo que o normal. Vocês se incomodam de eu ficar aqui essa noite? Não quero incomodar vocês, eu posso ficar na edícula... - fala Cláudio.
-Claro que você pode ficar. Você agora é meu cunhado, não é? Se essa casa já era sempre aberta pra te receber, agora ela é praticamente sua! - fala Rafael.
-Eu agradeço pela hospitalidade de vocês, de coração... - fala Cláudio.
-Agora vocês me dão licença que eu preciso contar pra prima e pra mãe essa história toda. Você não precisa vir comigo, Marcelo... fica aí curtindo o seu irmão... - fala Rafael.
-Tá bem. Me conta depois como todo mundo reagiu... - fala Marcelo.
Rafael deixa o quarto. CORTA A CENA.

CENA 2: Rafael chama Riva e Marion para conversarem no escritório.
-Por que chamou a gente aqui, filho? - estranha Marion.
-Pois é... também achei estranho, Rafael... - fala Riva.
-Não é um segredo. Mas prefiro contar primeiro pra vocês para vocês irem contando pro resto do pessoal aqui em casa, porque eu vou precisar segurar as pontas do Marcelo e do Cláudio... - fala Rafael.
-Ai... tou ficando aflita. Tem alguma coisa com esse climão esquisito que tá aqui em casa desde o dia que o Marcelo soltou as patas no pai dele? - pergunta Riva.
-Tem toda a relação que vocês possam imaginar. Nós encaminhamos um exame de DNA pro laboratório. Esse exame ficou pronto hoje, mais cedo. E esse exame confirmou o que já suspeitávamos: Marcelo e Cláudio são irmãos... filhos do Márcio.
Riva e Marion ficam perplexas.
-Como é que é essa história? O Márcio tá sabendo disso? - espanta-se Marion.
-Como é que esse sujeitinho teve a coragem de esconder da gente esse tempo todo que teve outro filho? - indigna-se Riva.
-Ei, se acalmem! Vocês não acham cedo demais pra tirar todas essas conclusões? Apesar do começo catastrófico das coisas, todo mundo dentro dessa casa hoje sabe que o Márcio é um cara do bem. Não tenho a mínima dúvida de que ele vai saber explicar tudo, tim tim por tim tim. - fala Rafael.
-Sim, mas quando? E como? Imagina como está a cabeça do meu filho! E do Cláudio, então? Eu conheço esse menino desde que ele era criança. Conheci os falecidos pais adotivos dele e sei o quanto ele superou na vida pra chegar onde está agora... - fala Riva.
-Ele vai ficar aqui essa noite. Mãe... você pede a permissão pro pai liberar a edícula pro Cláudio?
-Claro, querido! - fala Marion.
-Eu vou pedir que vocês se mantenham calmas e discretas nesse momento. Você pode falar pro Vicente, prima... mas peça pra ele não se meter por enquanto nesse assunto porque é algo delicado. A gente tá tentando encontrar um jeito de chamar o Márcio pra conversar com os dois. Obviamente isso não vai poder ser hoje, mas a gente vai fazer o possível pra que essa conversa aconteça amanhã. Se vocês quiserem conversar com os meninos, apoiar eles, isso vai ser muito importante pra eles. Os dois ainda estão muito impactados por tudo. Quanto mais compreensão e apoio a gente der nesse momento, melhor pros dois. Mas ainda assim, eu acho prudente que a vó Valquíria e a Mariana não fiquem sabendo de nada por enquanto. Com o Haroldo eu nem me preocupo porque ele tem passado mais tempo na Laura do que aqui... de qualquer forma, eu conto com a discrição de vocês... pelo menos, até amanhã. - fala Rafael.
CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Cláudio está instalado na edícula e conversando com Rafael e Marcelo.
-Eu nem sei como tanta coisa pode acontecer na vida da gente em tão pouco tempo. Tudo isso chega a me deixar tonto... - fala Cláudio.
-Acho que esse momento precisa de muita calma, gente. Querendo ou não, por mais esquentados que vocês sejam, agir de cabeça quente não vai ajudar em nada. Amanhã a gente chama o Márcio pra vir aqui. Vai ser um dia complicado, longo, difícil... mas necessário pra vocês. Espero de verdade que tudo possa se esclarecer da melhor forma. - fala Rafael.
-Admiro a sua calma nessas horas, amor... mas convenhamos que é muito complicado pra mim e pro Cláudio pensar com tanta calma. A gente descobriu que é irmão... a gente passou vinte anos sem saber disso! É muita coisa. Claro que a gente vai querer ouvir o que ele tem a dizer, mas a gente também tá com um monte de coisa presa na garganta. Ele também vai ter que nos ouvir! - fala Marcelo.
-E não vai ser pouco que esse sujeito vai ouvir, não. Eu nunca tive curiosidade de conhecer minha família biológica porque graças a Deus eu fui muito bem criado pelos meus pais verdadeiros, aqueles que me escolheram por amor... só que tudo muda quando eu descubro parte dessa família biológica por acidente. Atiçou em mim uma curiosidade que até então eu não tinha, mas agora faço questão de saber tudo... detalhe por detalhe. É direito meu, é direito do Marcelo... - fala Cláudio.
-Eu sei. Mas ainda assim vocês precisam ter o mínimo de boa vontade com o Márcio. Felizmente ou infelizmente, ele foi o cara que colocou vocês nesse mundo. A gente não sabe o que está por trás dessa história... e só vai saber se ele disser. - fala Rafael.
-Isso se ele tiver a decência de dizer a verdade... que motivos eu teria pra acreditar num cara que nunca se interessou em saber se eu tava vivo ou morto? - questiona Cláudio.
-Gente... sem querer ser chato, mas já sendo. Vocês não vão jantar, não? No meio dessa coisa toda a gente deixou a pizza no congelador e eu não sei vocês, mas eu tou morto de fome! - fala Rafael.
Os três vão comer. CORTA A CENA.

CENA 4: Instantes depois, após o jantar, Cláudio e Marcelo estão na sala na companhia de Riva, Vicente, Ivan e Marion, que já estão sabendo de toda a história. Cláudio está claramente nervoso e Riva percebe.
-Claudinho... não fica nervoso assim! Independente do que você descobriu agora, você teve muita sorte nessa vida. Teve pais que escolheram te amar e deram do bom e do melhor pra vocês. Eles foram pessoas sensacionais e eu me orgulho de ter sido amiga deles. Te vi crescer e sei o tanto de força que existe aí dentro, querido... você é praticamente um filho pra mim e você deve se alegrar por fazer parte, de uma maneira torta, da nossa família... - fala Riva, tentando tranquilizar Cláudio.
-Mãe... eu sei que você tá cheia da boa intenção, mas se até eu tou muito chateado com o Márcio... imagina pro Cláudio, que nunca sequer conheceu direito ele? Imagina como é que é pra uma pessoa descobrir, depois de vinte e dois anos, que um sujeito que ela viu uma ou duas vezes na vida quando muito é o seu próprio pai? - considera Marcelo.
-Queridos... eu sei que não deve estar sendo nada fácil pra vocês. Mas pensem na sorte que o Cláudio tá tendo de pelo menos conhecer um pai ainda vivo! Eu daria tudo para ter minha mãe ou meu pai de volta nessa vida... - fala Vicente.
-Tudo bem, Vicente... eu compreendo o seu ponto de vista. Como pai eu digo que sofri demais pela ausência do Haroldo no tempo que ele desapareceu, mas... a gente precisa ser empático e muitas vezes quando a gente quer ajudar, a gente acaba falando as coisas pelo nosso próprio ponto de vista e isso pode ser uma postura autoritária, mesmo que não seja nossa intenção. Se eles estão vivendo a dor, a dúvida, a incerteza, até mesmo o medo, eles precisam viver essas emoções. Sei que seria mais fácil tirar com a mão essas chagas de dentro das pessoas que amamos, mas são processos delas, não cabe a nós dizer como deve ser o tempo das outras pessoas... - contemporiza Ivan.
Todos seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Bruno está se preparando para dormir em seu apartamento quando toca sua campainha.
-Mas quem pode ser uma hora dessas? São quase meia noite!
Bruno abre a porta e se depara com Guilherme.
-Você? O que te deu pra vir aqui, meu?
-Eu precisava de um ombro amigo, pra desabafar. O Cláudio me despachou de última hora hoje mais cedo dizendo pra eu não ir na casa dele. Não deu maiores explicações. Pensei que ele estaria em casa por agora... passei lá e não encontrei ninguém. Ele só me disse que precisava ir na casa do Marcelo e não explicou mais nada... me senti abandonado.
Guilherme chora e Bruno o ampara.
-Calma, cara... não fica assim. Senta aqui...
-Olha, eu sei que você tem todos os motivos do mundo pra me odiar e não te tiro a razão. Mas você é a única pessoa que eu posso contar depois do Cláudio...
-Não é bem assim, Guilherme... eu e você sabemos que você fez muita merda já. Mas eu vi o quanto você tem mudado, o quanto se esforça em ser uma pessoa melhor. Confesso que por mais improvável que isso possa parecer, eu criei uma espécie de afeição por você. Hoje eu posso dizer que sou seu amigo e você pode contar comigo, viu?
-Eu sei que não mereço tudo isso, Bruno. Errei muito com você. Mas saber que tenho a sua amizade me faz sentir menos solidão nessa vida.
-Querido... você está começando a deixar de ser sozinho. Não tema mais a solidão. Independente do que o Cláudio tenha ido fazer, ele não te abandonou. Vocês vão casar em poucos dias, esqueceu?
Os dois seguem conversando e Guilherme desabafa com Bruno, que o ouve atentamente. CORTA A CENA.

CENA 6: Marcelo e Rafael se preparam para dormir, quando Rafael lembra de algo importante.
-Amor, cê não tá esquecendo de nada, não?
-Sinceramente eu não lembro de nada que eu esteja esquecendo, Rafa... mas minha cabeça já deu tanta volta hoje que eu não entendi o seu recado...
-Você falou com o seu pai?
-Ah, aquele cara que me botou no mundo... acabei esquecendo. E não estou disposto a ligar.
-Mas como é que você espera que ele venha aqui amanhã pra conversar com vocês? Que ele adivinhe por telepatia? Não força, né viado...
-Tá... eu vou mandar uma mensagem pra ele.
-Quando? De madrugada? Olha que horas são!
-Ai, amor... desculpa. Foi muita coisa pra um dia só...
Rafael percebe que pegou pesado com Marcelo.
-Eu que peço desculpa... eu tento ajudar, mas não quis entender o seu lado... essa situação toda é mais que desgastante. Desculpa, amor...
-Sem problema, Rafa. Ninguém tá no seu juízo perfeito hoje...
-Você tem ele no whatsapp?
-Não. Vou mandar sms pro celular dele, mesmo.
-Ótimo.
Marcelo manda a mensagem.
-Pronto, enviada.
-O que você mandou pra ele?
-Pedi pra ele vir aqui amanhã cedo que vai ter almoço. Acho que assim ele não suspeita de nada.
-Tá bom assim. Melhor que ele esteja bem tranquilo pra quando a hora da verdade chegar...
-Agora vamos dormir? Tudo o que eu preciso agora é de uma boa noite de sono...
Os dois se preparam para dormir. CORTA A CENA.

CENA 7: Na manhã seguinte, Valentim e Mara acompanham Procópio na abertura da companhia de teatro.
-Mara... você confere as marcações do palco pro ensaio de hoje? Vou precisar levar um papo a sós com o Procópio... - fala Valentim.
-Claro, querido. Vão lá que qualquer coisa eu ajusto as marcações...
Valentim e Procópio seguem ao camarim.
-Não entendi o motivo desse chamado, Valentim...
-Procópio... o que eu tenho a te dizer é uma coisa séria. Como eu e você somos amigos do Ivan, que além de tudo é nosso patrocinador, eu preciso falar pelo menos com você sobre os rumos da investigação.
-Sim, mas... por que comigo e não com ele?
-Porque o Ivan não pode saber sobre a lista completa de suspeitos.
-Posso saber por que não? Ele e o Haroldo são os maiores interessados em saber logo quem é esse “Chefe” e você sabe disso.
-Acontece que o Haroldo pode ser o “Chefe”.
Procópio fica perplexo.
-Como é que é? Você não tá sendo precipitado?
-Não. Ele é um dos seis suspeitos que tenho atualmente na lista. Por isso estou dizendo a você... para que você fique atento quando ele vier aqui e estiver com a Laura. Ela pode ser um alvo fácil, caso ele realmente seja esse “Chefe” dessa facção.
-Mas isso não faz o mínimo sentido! Ele fugiu por dois anos, desapareceu, porque estava nas mãos desse “Chefe”!
-Ele pode estar falando a verdade, mas também pode não estar. Não se esqueça que uma facção dessa proporção deve ser chefiada por alguém cuja sagacidade seja o suficiente para despistar e enganar todos à volta...
-Ainda assim, Valentim... vá me desculpar. Eu sei que os investigadores aqui são você, a Mara e agora a Raquel. Mas eu não acredito que o Haroldo seja o “Chefe”. Não deveria nem estar na lista de suspeitos. Eu vi esse menino crescer, ele é um cara do bem!
-As aparências podem enganar, meu amigo... nunca se deixe levar por elas. Mas enfim, eu peço que não diga nada sobre essas suspeitas ao Ivan. Ele pode acabar obstruindo nosso trabalho se souber de algo e quiser defender o filho...
Valentim deixa o camarim. CORTA A CENA.

CENA 8: Márcio chega na mansão dos Bittencourt e Riva o recebe.
-Oi, Riva... e o nosso filho, onde está?
-Deve estar dormindo ainda. Ele disse pra você vir cedo, não é? É que começamos a preparação do almoço com antecedência, mesmo...
-Disse sim. Tudo bem se eu esperar aqui na sala?
-Acho que não vai ser preciso. Ele, o Rafa e o Cláudio estão descendo, olha... - fala Riva.
Marcelo tenta conter a ira de Cláudio, mas Cláudio perde a paciência.
-Então é você o grande Márcio? Como você se sente sendo um cafajeste, um merda? Ah, me esqueci de me apresentar. Sou Cláudio, “papai”.
Márcio paralisa. FIM DO CAPÍTULO 81.

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