CENA 1: Cláudio não acredita
em Marcelo.
-Ai, viado. Vocês me chamaram
aqui pra você treinar seus dotes de ator? Foi chamado pra mais
alguma coisa na emissora, foi isso? - fala Cláudio, incrédulo.
-Não, Cláudio. O que o
Marcelo te falou é verdade. - fala Rafael.
-Vocês só podem estar
brincando com a minha cara. Como é que um troço desses ia ser
verdade? Eu conheço essa viada desde que a gente é pequeno, ok que
a gente é melhor amigo, mas daí a inventar essa marmota de que eu
sou irmão dele? Me fala, Rafa... você conseguiu essa reprodução
de exame na emissora?
Marcelo se impacienta.
-Pelo amor de Deus, Cláudio,
chega! Você acha que a gente brincaria com uma coisa dessas? Menos,
viado, bem menos!
Cláudio começa a cair em si.
-Mas isso pode fazer sentido.
Eu sempre soube que fui adotado pelos meus falecidos pais. Eles
sempre me contavam do dia que me viram no orfanato e sabiam que eu ia
ser o filho deles. Quer dizer que eu sou seu irmão, Marcelo? Como
isso é possível?
-Nós somos filhos do mesmo
pai. Seu pai biológico é o Márcio.
-Não pode ser... e como esse
verme nunca falou nada? Nunca quis saber do filho que ele deixou no
orfanato! Se bem que... ele não deve ter feito isso sozinho! E a
minha mãe biológica? Cadê essa desnaturada? Eu quero olhar bem na
cara dela e dizer que nunca precisei nem dela nem desse infeliz. Eu
fui muito feliz, muito bem criado pelos meus pais... meus verdadeiros
pais, os que escolheram me amar e me acolher!
-Calma, Cláudio... eu tou tão
confuso quanto você. Até pouco tempo atrás eu nem convivia com o
Márcio... quer dizer, meu pai. Digo, nosso pai... tem muita coisa
que nem eu sei. Muita ponta solta nessa história toda. A gente vai
ter que descobrir junto tudo isso... meu... irmão.
Os dois se abraçam,
emocionados ao perceberem pela primeira vez que são irmãos.
-É louco pensar nisso. Vai
levar um tempo pra cair minha ficha... cara, você sempre foi meu
irmão! A gente sempre foi irmão e nunca suspeitou disso! -
espanta-se Cláudio.
-Essa vida, esse destino...
são uma coisa muito louca, meus queridos. Vocês não percebem o meu
caso com o Marcelo? Ele veio morar aqui em casa do dia pra noite,
praticamente caiu de para quedas depois que a prima ganhou na
loteria... e em menos de um ano a gente se casou. Nossas vidas mudam
o tempo inteiro e às vezes nem a gente entende direito o porque de
tudo isso... mas pensem pelo lado positivo! Vocês são irmãos, no
fundo isso tava dentro dos corações de vocês... apesar das brigas
e dos desentendimentos, sempre foram amigos. Nunca conseguiram ficar
muito tempo um longe do outro... - fala Rafael.
-Verdade, amor... tudo isso é
louco, mas é muito bom. Eu sempre quis ter irmãos... até um ano
atrás, não tinha nenhum e agora tenho dois. O que eu posso pedir a
mais da vida?
-É, Marcelo... mas eu não
sei se você deixou de perceber uma coisa... você não é o mais
velho, agora. Sou eu! E você tem que obedecer o irmão mais velho! -
brinca Cláudio.
-Bobo. Você tá bem pra
voltar pra sua casa depois dessa montanha-russa toda?
-Ai, gente... eu nem sei o que
pensar direito ainda. Se eu já sou naturalmente um cara de processos
lentos, diante disso eu preciso de mais tempo que o normal. Vocês se
incomodam de eu ficar aqui essa noite? Não quero incomodar vocês,
eu posso ficar na edícula... - fala Cláudio.
-Claro que você pode ficar.
Você agora é meu cunhado, não é? Se essa casa já era sempre
aberta pra te receber, agora ela é praticamente sua! - fala Rafael.
-Eu agradeço pela
hospitalidade de vocês, de coração... - fala Cláudio.
-Agora vocês me dão licença
que eu preciso contar pra prima e pra mãe essa história toda. Você
não precisa vir comigo, Marcelo... fica aí curtindo o seu irmão...
- fala Rafael.
-Tá bem. Me conta depois como
todo mundo reagiu... - fala Marcelo.
Rafael deixa o quarto. CORTA A
CENA.
CENA 2: Rafael chama Riva e
Marion para conversarem no escritório.
-Por que chamou a gente aqui,
filho? - estranha Marion.
-Pois é... também achei
estranho, Rafael... - fala Riva.
-Não é um segredo. Mas
prefiro contar primeiro pra vocês para vocês irem contando pro
resto do pessoal aqui em casa, porque eu vou precisar segurar as
pontas do Marcelo e do Cláudio... - fala Rafael.
-Ai... tou ficando aflita. Tem
alguma coisa com esse climão esquisito que tá aqui em casa desde o
dia que o Marcelo soltou as patas no pai dele? - pergunta Riva.
-Tem toda a relação que
vocês possam imaginar. Nós encaminhamos um exame de DNA pro
laboratório. Esse exame ficou pronto hoje, mais cedo. E esse exame
confirmou o que já suspeitávamos: Marcelo e Cláudio são irmãos...
filhos do Márcio.
Riva e Marion ficam perplexas.
-Como é que é essa história?
O Márcio tá sabendo disso? - espanta-se Marion.
-Como é que esse sujeitinho
teve a coragem de esconder da gente esse tempo todo que teve outro
filho? - indigna-se Riva.
-Ei, se acalmem! Vocês não
acham cedo demais pra tirar todas essas conclusões? Apesar do começo
catastrófico das coisas, todo mundo dentro dessa casa hoje sabe que
o Márcio é um cara do bem. Não tenho a mínima dúvida de que ele
vai saber explicar tudo, tim tim por tim tim. - fala Rafael.
-Sim, mas quando? E como?
Imagina como está a cabeça do meu filho! E do Cláudio, então? Eu
conheço esse menino desde que ele era criança. Conheci os falecidos
pais adotivos dele e sei o quanto ele superou na vida pra chegar onde
está agora... - fala Riva.
-Ele vai ficar aqui essa
noite. Mãe... você pede a permissão pro pai liberar a edícula pro
Cláudio?
-Claro, querido! - fala
Marion.
-Eu vou pedir que vocês se
mantenham calmas e discretas nesse momento. Você pode falar pro
Vicente, prima... mas peça pra ele não se meter por enquanto nesse
assunto porque é algo delicado. A gente tá tentando encontrar um
jeito de chamar o Márcio pra conversar com os dois. Obviamente isso
não vai poder ser hoje, mas a gente vai fazer o possível pra que
essa conversa aconteça amanhã. Se vocês quiserem conversar com os
meninos, apoiar eles, isso vai ser muito importante pra eles. Os dois
ainda estão muito impactados por tudo. Quanto mais compreensão e
apoio a gente der nesse momento, melhor pros dois. Mas ainda assim,
eu acho prudente que a vó Valquíria e a Mariana não fiquem sabendo
de nada por enquanto. Com o Haroldo eu nem me preocupo porque ele tem
passado mais tempo na Laura do que aqui... de qualquer forma, eu
conto com a discrição de vocês... pelo menos, até amanhã. - fala
Rafael.
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Cláudio
está instalado na edícula e conversando com Rafael e Marcelo.
-Eu nem sei como tanta coisa
pode acontecer na vida da gente em tão pouco tempo. Tudo isso chega
a me deixar tonto... - fala Cláudio.
-Acho que esse momento precisa
de muita calma, gente. Querendo ou não, por mais esquentados que
vocês sejam, agir de cabeça quente não vai ajudar em nada. Amanhã
a gente chama o Márcio pra vir aqui. Vai ser um dia complicado,
longo, difícil... mas necessário pra vocês. Espero de verdade que
tudo possa se esclarecer da melhor forma. - fala Rafael.
-Admiro a sua calma nessas
horas, amor... mas convenhamos que é muito complicado pra mim e pro
Cláudio pensar com tanta calma. A gente descobriu que é irmão... a
gente passou vinte anos sem saber disso! É muita coisa. Claro que a
gente vai querer ouvir o que ele tem a dizer, mas a gente também tá
com um monte de coisa presa na garganta. Ele também vai ter que nos
ouvir! - fala Marcelo.
-E não vai ser pouco que esse
sujeito vai ouvir, não. Eu nunca tive curiosidade de conhecer minha
família biológica porque graças a Deus eu fui muito bem criado
pelos meus pais verdadeiros, aqueles que me escolheram por amor... só
que tudo muda quando eu descubro parte dessa família biológica por
acidente. Atiçou em mim uma curiosidade que até então eu não
tinha, mas agora faço questão de saber tudo... detalhe por detalhe.
É direito meu, é direito do Marcelo... - fala Cláudio.
-Eu sei. Mas ainda assim vocês
precisam ter o mínimo de boa vontade com o Márcio. Felizmente ou
infelizmente, ele foi o cara que colocou vocês nesse mundo. A gente
não sabe o que está por trás dessa história... e só vai saber se
ele disser. - fala Rafael.
-Isso se ele tiver a decência
de dizer a verdade... que motivos eu teria pra acreditar num cara que
nunca se interessou em saber se eu tava vivo ou morto? - questiona
Cláudio.
-Gente... sem querer ser
chato, mas já sendo. Vocês não vão jantar, não? No meio dessa
coisa toda a gente deixou a pizza no congelador e eu não sei vocês,
mas eu tou morto de fome! - fala Rafael.
Os três vão comer. CORTA A
CENA.
CENA 4: Instantes depois, após
o jantar, Cláudio e Marcelo estão na sala na companhia de Riva,
Vicente, Ivan e Marion, que já estão sabendo de toda a história.
Cláudio está claramente nervoso e Riva percebe.
-Claudinho... não fica
nervoso assim! Independente do que você descobriu agora, você teve
muita sorte nessa vida. Teve pais que escolheram te amar e deram do
bom e do melhor pra vocês. Eles foram pessoas sensacionais e eu me
orgulho de ter sido amiga deles. Te vi crescer e sei o tanto de força
que existe aí dentro, querido... você é praticamente um filho pra
mim e você deve se alegrar por fazer parte, de uma maneira torta, da
nossa família... - fala Riva, tentando tranquilizar Cláudio.
-Mãe... eu sei que você tá
cheia da boa intenção, mas se até eu tou muito chateado com o
Márcio... imagina pro Cláudio, que nunca sequer conheceu direito
ele? Imagina como é que é pra uma pessoa descobrir, depois de vinte
e dois anos, que um sujeito que ela viu uma ou duas vezes na vida
quando muito é o seu próprio pai? - considera Marcelo.
-Queridos... eu sei que não
deve estar sendo nada fácil pra vocês. Mas pensem na sorte que o
Cláudio tá tendo de pelo menos conhecer um pai ainda vivo! Eu daria
tudo para ter minha mãe ou meu pai de volta nessa vida... - fala
Vicente.
-Tudo bem, Vicente... eu
compreendo o seu ponto de vista. Como pai eu digo que sofri demais
pela ausência do Haroldo no tempo que ele desapareceu, mas... a
gente precisa ser empático e muitas vezes quando a gente quer
ajudar, a gente acaba falando as coisas pelo nosso próprio ponto de
vista e isso pode ser uma postura autoritária, mesmo que não seja
nossa intenção. Se eles estão vivendo a dor, a dúvida, a
incerteza, até mesmo o medo, eles precisam viver essas emoções.
Sei que seria mais fácil tirar com a mão essas chagas de dentro das
pessoas que amamos, mas são processos delas, não cabe a nós dizer
como deve ser o tempo das outras pessoas... - contemporiza Ivan.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 5: Bruno está se
preparando para dormir em seu apartamento quando toca sua campainha.
-Mas quem pode ser uma hora
dessas? São quase meia noite!
Bruno abre a porta e se depara
com Guilherme.
-Você? O que te deu pra vir
aqui, meu?
-Eu precisava de um ombro
amigo, pra desabafar. O Cláudio me despachou de última hora hoje
mais cedo dizendo pra eu não ir na casa dele. Não deu maiores
explicações. Pensei que ele estaria em casa por agora... passei lá
e não encontrei ninguém. Ele só me disse que precisava ir na casa
do Marcelo e não explicou mais nada... me senti abandonado.
Guilherme chora e Bruno o
ampara.
-Calma, cara... não fica
assim. Senta aqui...
-Olha, eu sei que você tem
todos os motivos do mundo pra me odiar e não te tiro a razão. Mas
você é a única pessoa que eu posso contar depois do Cláudio...
-Não é bem assim,
Guilherme... eu e você sabemos que você fez muita merda já. Mas eu
vi o quanto você tem mudado, o quanto se esforça em ser uma pessoa
melhor. Confesso que por mais improvável que isso possa parecer, eu
criei uma espécie de afeição por você. Hoje eu posso dizer que
sou seu amigo e você pode contar comigo, viu?
-Eu sei que não mereço tudo
isso, Bruno. Errei muito com você. Mas saber que tenho a sua amizade
me faz sentir menos solidão nessa vida.
-Querido... você está
começando a deixar de ser sozinho. Não tema mais a solidão.
Independente do que o Cláudio tenha ido fazer, ele não te
abandonou. Vocês vão casar em poucos dias, esqueceu?
Os dois seguem conversando e
Guilherme desabafa com Bruno, que o ouve atentamente. CORTA A CENA.
CENA 6: Marcelo e Rafael se
preparam para dormir, quando Rafael lembra de algo importante.
-Amor, cê não tá esquecendo
de nada, não?
-Sinceramente eu não lembro
de nada que eu esteja esquecendo, Rafa... mas minha cabeça já deu
tanta volta hoje que eu não entendi o seu recado...
-Você falou com o seu pai?
-Ah, aquele cara que me botou
no mundo... acabei esquecendo. E não estou disposto a ligar.
-Mas como é que você espera
que ele venha aqui amanhã pra conversar com vocês? Que ele adivinhe
por telepatia? Não força, né viado...
-Tá... eu vou mandar uma
mensagem pra ele.
-Quando? De madrugada? Olha
que horas são!
-Ai, amor... desculpa. Foi
muita coisa pra um dia só...
Rafael percebe que pegou
pesado com Marcelo.
-Eu que peço desculpa... eu
tento ajudar, mas não quis entender o seu lado... essa situação
toda é mais que desgastante. Desculpa, amor...
-Sem problema, Rafa. Ninguém
tá no seu juízo perfeito hoje...
-Você tem ele no whatsapp?
-Não. Vou mandar sms pro
celular dele, mesmo.
-Ótimo.
Marcelo manda a mensagem.
-Pronto, enviada.
-O que você mandou pra ele?
-Pedi pra ele vir aqui amanhã
cedo que vai ter almoço. Acho que assim ele não suspeita de nada.
-Tá bom assim. Melhor que ele
esteja bem tranquilo pra quando a hora da verdade chegar...
-Agora vamos dormir? Tudo o
que eu preciso agora é de uma boa noite de sono...
Os dois se preparam para
dormir. CORTA A CENA.
CENA 7: Na manhã seguinte,
Valentim e Mara acompanham Procópio na abertura da companhia de
teatro.
-Mara... você confere as
marcações do palco pro ensaio de hoje? Vou precisar levar um papo a
sós com o Procópio... - fala Valentim.
-Claro, querido. Vão lá que
qualquer coisa eu ajusto as marcações...
Valentim e Procópio seguem ao
camarim.
-Não entendi o motivo desse
chamado, Valentim...
-Procópio... o que eu tenho a
te dizer é uma coisa séria. Como eu e você somos amigos do Ivan,
que além de tudo é nosso patrocinador, eu preciso falar pelo menos
com você sobre os rumos da investigação.
-Sim, mas... por que comigo e
não com ele?
-Porque o Ivan não pode saber
sobre a lista completa de suspeitos.
-Posso saber por que não? Ele
e o Haroldo são os maiores interessados em saber logo quem é esse
“Chefe” e você sabe disso.
-Acontece que o Haroldo pode
ser o “Chefe”.
Procópio fica perplexo.
-Como é que é? Você não tá
sendo precipitado?
-Não. Ele é um dos seis
suspeitos que tenho atualmente na lista. Por isso estou dizendo a
você... para que você fique atento quando ele vier aqui e estiver
com a Laura. Ela pode ser um alvo fácil, caso ele realmente seja
esse “Chefe” dessa facção.
-Mas isso não faz o mínimo
sentido! Ele fugiu por dois anos, desapareceu, porque estava nas mãos
desse “Chefe”!
-Ele pode estar falando a
verdade, mas também pode não estar. Não se esqueça que uma facção
dessa proporção deve ser chefiada por alguém cuja sagacidade seja
o suficiente para despistar e enganar todos à volta...
-Ainda assim, Valentim... vá
me desculpar. Eu sei que os investigadores aqui são você, a Mara e
agora a Raquel. Mas eu não acredito que o Haroldo seja o “Chefe”.
Não deveria nem estar na lista de suspeitos. Eu vi esse menino
crescer, ele é um cara do bem!
-As aparências podem enganar,
meu amigo... nunca se deixe levar por elas. Mas enfim, eu peço que
não diga nada sobre essas suspeitas ao Ivan. Ele pode acabar
obstruindo nosso trabalho se souber de algo e quiser defender o
filho...
Valentim deixa o camarim.
CORTA A CENA.
CENA 8: Márcio chega na
mansão dos Bittencourt e Riva o recebe.
-Oi, Riva... e o nosso filho,
onde está?
-Deve estar dormindo ainda.
Ele disse pra você vir cedo, não é? É que começamos a preparação
do almoço com antecedência, mesmo...
-Disse sim. Tudo bem se eu
esperar aqui na sala?
-Acho que não vai ser
preciso. Ele, o Rafa e o Cláudio estão descendo, olha... - fala
Riva.
Marcelo tenta conter a ira de
Cláudio, mas Cláudio perde a paciência.
-Então é você o grande
Márcio? Como você se sente sendo um cafajeste, um merda? Ah, me
esqueci de me apresentar. Sou Cláudio, “papai”.
Márcio paralisa. FIM DO
CAPÍTULO 81.
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