CENA 1: Riva fica apreensiva,
mas permanece firme.
-Você tá certo de que quer
falar isso? Sabe que isso é um caminho sem volta, não sabe?
-Eu sei, Riva. Mas antes de
qualquer coisa, eu preciso que você me prometa que vai manter
discrição... que não vai contar a ninguém enquanto não for
oportuno.
-Eu prometo, mas... por que
você me pediu isso?
-Você já vai entender. E com
isso também vai entender outras coisas: a mãe biológica do Cláudio
é a Suzanne.
Riva fica incrédula.
-Você tá de brincadeira
comigo, não tá? Não pode! Vocês nem se conhecem... se conhecem?
-A Suzanne não é o que
parecer ser. Nunca foi sua amiga. E nunca foi de família alguma do
interior de São Paulo. Ela é carioca da gema, criada em Curicica.
Eu fui parar na casa da mãe dela quando fui expulso de casa, em
Barra de São João. Cheguei no Rio de carona e ganhei uma casa lá
na dona Raquel.
-Raquel não é o nome da
empregada dela?
-Ela não tem empregada, Riva.
Raquel é mãe da Suzanne. O fato é que ela me seduziu logo de
cara... me envolveu nos seus ardis. Eu sempre fiz tudo o que ela
queria. Mais pro final de noventa e quatro, ela engravidou e eu
insisti para que ela tivesse o filho... só que ela me obrigou a
abandonar esse filho quando ele nasceu no ano seguinte, em maio. E te
digo mais, Riva: a Suzanne te odeia.
-Como assim, me odeia? Isso tá
tudo muito estranho, Márcio...
-Eu nunca soube o motivo...
ela nunca me contou. Mas ela tem uma cisma com você desde garota.
Ela sempre quis tudo o que foi destinado a você nessa vida... quando
ela descobriu que a garota que eu conheci, voltando ao Rio depois de
tentar me reconciliar com meus pais era você, ela me obrigou a te
seduzir. Só que eu realmente gostei de você. Na noite que você me
contou que tava grávida eu fiquei feliz, mas assustado ao mesmo
tempo porque eu sabia que tinha que repassar tudo pra Suzanne.
Naquela noite, assim que você dormiu, fui a um orelhão e contei
tudo pra ela. Eu sempre fui loucamente apaixonado pela Suzanne e ela
usou sempre isso para que eu fizesse exatamente o que ela tramava...
caso contrário, ela me deixaria. E eu não sabia viver sem ela... o
resto você deve supor.
-Então ela te obrigou a
roubar minha herança... e a fugir, me abandonando grávida. Claro!
Ela não podia permitir que você tivesse o gosto de ser pai depois
de te negar o seu primeiro filho. Que mulher doente, meu Deus! Mas
por que ela foi cismar logo comigo?
-Isso eu não sei, Riva. Mas
creio que tenha algum motivo muito anterior a qualquer coisa que
possamos supor.
-Só me pergunto o que...
gente, eu estou chocada! Eu acreditei na bondade dessa mulher! Fui
amiga o tempo inteiro!
-E tem mais, Riva. Ela pode
ser perigosa... foi ela que mandou que sequestrassem vocês e
levassem o Lúcio. Quando ela voltar do Brasil, finja que não sabe
de nada. Do jeito que ela te odeia, eu temo que ela faça outra
loucura contra vocês. Suzanne é uma psicopata, nunca prestou.
Destruiu a minha vida e a vida de muita gente.
-E você vai contar ao
Cláudio?
-Ainda preciso tomar coragem,
minha amiga...
-Vai ser muito difícil pra
ele saber que tipo de pessoa é a mãe dele...
Riva abraça Márcio,
assustada. CORTA A CENA.
CENA 2: Horas mais tarde,
Laura e Haroldo estão chegando em casa e se deparam com Bruno na
entrada do prédio.
-Bruno? O que cê veio fazer
aqui com essas malas, rapaz? - espanta-se Laura.
-Desculpe não ter ligado
antes avisando, mas é que tou numa situação meio chata. O
apartamento que eu alugava foi ocupado pelo dono do nada e eu tava no
Cláudio de novo, só que o Guilherme conversou comigo e a gente
concluiu que era melhor eu sair, eles estão prestes a se casar, você
sabe... daí eu fiquei sem ter pra onde ir nesse momento.
Haroldo estranha.
-Mas, espera aí... quer dizer
que o Guilherme ignorou que você não tem como encontrar um apê pra
alugar assim do nada e mesmo assim te mandou embora? - questiona
Haroldo.
-Não, gente... eu concluí
por conta própria que era melhor deixar os dois sozinhos. Posso
passar pelo menos alguns dias aqui na sua casa, Laura? Não tenho pra
onde ir...
-Claro, querido! Sobe com a
gente! Só não vai ter muito espaço porque os dois quartos já
estão ocupados. Se você não se incomodar de dormir no sofá da
sala... - fala Laura.
-Já tou acostumado, Laura.
Desde que o Guilherme passou a dormir com frequência no Cláudio, eu
ia pro sofá.
-Ótimo. Então só falta a
gente falar com o Mateus... acho que ele vai ter maturidade o
suficiente pra conviver contigo depois de tudo...
-Assim espero, Laura. Acho que
ele já entendeu ano passado que eu e ele não tem mais volta. - fala
Bruno.
-Vamos subindo, por favor... -
fala Haroldo.
Os três sobem e Mateus se
surpreende ao reencontrar Bruno.
-Você aqui, Bruno? Com malas?
Tá se mudando pra cá? - questiona Mateus.
-Eu não tenho pra onde ir
nesse momento. Depois eu explico melhor a situação... eu espero que
minha presença não seja um problema pra você...
-De jeito nenhum, Bruno. Você
é um cara legal... podemos ser amigos.
-Fico tranquilo de você ficar
de boa com isso...
-E nem teria porque me opor...
esse apartamento não é meu, é da Laura.
-Quanta bobeira, meninos... eu
sei que o apartamento é meu, mas não sou só eu que moro nele. Não
sou uma carrasca que fica cagando ordens e regras. Se você ficasse
chateado, Mateus... a gente ia dar um jeito de encontrar uma solução.
Mas fico tranquila, de verdade, por ver que vocês estão se tratando
bem. - fala Laura.
-Desculpa incomodar, mas...
onde que eu deixo minhas coisas, Laura? - pergunta Bruno.
-Vem comigo que eu me mostro
onde você pode guardar suas roupas e suas coisas... - fala Laura.
Todos auxiliam Bruno a
desfazer as malas. CORTA A CENA.
CENA 3: Cláudio chega em casa
e Guilherme o espera.
-Tudo certinho com a saída do
Bruno? - pergunta Cláudio.
-Sim, amor. Ele ligou avisando
há pouco que vai ficar morando na Laura, não é ótimo assim?
-Fico mais aliviado desse
jeito. Assim eu sei que ele tem um teto pra morar antes de descolar
um novo aluguel. Mas não é sobre isso que quero falar.
-Não? Sobre o que, então?
Você ficou bravo comigo por causa da conversa que tive com ele?
-Nada disso, seu bobo... eu
concordo que a gente vai precisar de mais momentos a sós... e é
justamente sobre o casamento que eu quero falar... porque já decidi
a data oficial. Acabei de voltar do cartório...
-E quando vai ser, Claudinho?
-Daqui dez dias.
-Que maravilha, amor!
Finalmente eu vou poder dizer que sou casado com o único amor da
minha vida!
Guilherme abraça e beija
Cláudio.
-E tem mais: consegui que a
juíza de paz venha aqui, celebrar o casamento em casa. Desse jeito,
a gente não vai ter que se preocupar com deslocamento nenhum pra
casar e depois ir pra festa.
-Ai, que tudo, Claudinho! Tá
acontecendo tudo exatamente do jeito que eu sonhei! Isso significa
demais pra mim, você não faz ideia do quanto!
-Eu sei sim, amor... também
significa muito pra mim.
Guilherme torna a abraçar
Cláudio, que demonstra estar hesitante. CORTA A CENA.
CENA 4: Riva convida Márcio
para ficar para o jantar.
-Por que você não fica pro
jantar, Márcio? Já passou parte do dia aqui... - fala Riva.
-É, pai... vai ser bom você
jantar aqui com a gente... - fala Marcelo.
-Eu agradeço de coração
pela hospitalidade de vocês, mas preciso ir... - fala Márcio.
-Você poderia vir comigo no
escritório antes, Márcio? Teve algo que ficou pendente no nosso
assunto... - fala Riva.
-Ih, lá vem vocês com esses
segredos de novo... - fala Marcelo.
-É... não vão começar a
ficar de tititi que eu tou de olho no gavião! - brinca Vicente.
-Tudo bem, Riva... desde que
seja rápido, daqui a pouco os táxis entram em bandeira dois. - fala
Márcio.
Riva e Márcio vão ao
escritório.
-O que ficou pendente, Riva?
-Eu queria saber sobre a
gargantilha que a Suzanne usa. É a mesma que você roubou quando
fugiu em noventa e seis?
-Sim, Riva. Aquela é a sua
gargantilha.
-Eu sabia! Sabia que era a
gargantilha que minha mãe me deu! Reconheço uma joia à distância!
Essa infeliz sabia disso o tempo todo, desgraçada!
-Por favor, Riva...
contenha-se. A gente vai pensar num jeito de reaver sua jóia quando
Suzanne voltar ao Brasil.
-Você promete?
-Eu juro, Riva. Passou da hora
de eu consertar as merdas que eu fiz por causa dessa mulher.
CORTA A CENA.
CENA 5: Na manhã do dia
seguinte, Haroldo volta cedo para a mansão dos Bittencourt e Ivan,
que está tomando café na cozinha, recebe o filho.
-Quem é vivo sempre aparece,
Haroldo. Pensei que você não morava mais nessa casa, meu filho...
-Ah, pai. Sabe como é, né...
eu e a Laura estamos bem apaixonados. Quando vi, já tava ficando
mais tempo lá que aqui.
-Imagino que seja realmente
ótimo estar com quem a gente ama. Mas não é sobre isso que eu
queria falar com você, meu filho.
-Ih, pai... se for começar
com aquele papo de sermão sobre eu passar dias fora de casa, pode
esquecer.
-Não é exatamente disso,
filho. Só que eu fico preocupado.
-Com o que, exatamente?
-Com as coisas que você
esconde.
-Pai... de uma vez por todas
eu vou te explicar: não escondo tanta coisa porque decidi esconder.
Se eu escondo coisas do meu passado, é pra salvar a nossa pele,
entende?
-Só não entendo o que pode
haver de tão grave no seu passado que coloque nossas vidas em risco.
-Não é exatamente com o meu
passado, pai.
-É sobre o que, então?
-Pai... eu tou te pedindo...
não insiste. Não mete a mão nesse vespeiro.
-Meu filho... você tem mais
de trinta anos e devia saber que cedo ou tarde, a verdade sempre
aparece.
-Que apareça, se for o caso.
Mas não por mim. Olha, pai... esse assunto tá me incomodando, a
gente pode tomar o café em paz?
Ivan se cala. CORTA A CENA.
CENA 6: Cláudio está tomando
café da manhã quando sua campainha toca e ele atende. É Bruno.
-Oi, amigo... esqueceu de
alguma coisa aqui?
-Desculpa, esqueci mesmo. Só
me dei conta ontem, antes de dormir. Esqueci do me fio dental e de
alguns discos.
-Ah, acontece. Deve estar tudo
separado no meu quarto, você sabe como o Guilherme é maníaco por
organização.
-Falar nisso, cadê ele?
-Dia de consulta, Bruno. Na
verdade nem era, mas ele resolveu ir porque ficou todo empolgado com
o casamento confirmado pra dez dias... quer dizer, nove agora, né...
-Entendi. Você me dá licença
pra eu buscar minhas coisas no seu quarto?
-Claro, querido... vai lá!
Bruno volta instantes depois
com seus pertences.
-Tava tudo lá mesmo, Cláudio.
Desculpa essa vinda sem ter te avisado.
-Sem bobeira, Bruno... você é
sempre bem vindo na minha casa... não quer ficar pro café?
-Adoraria, querido... mas já
tomei café na Laura e não posso me demorar muito, senão me
atraso...
-Tudo bem. Mas apareça aqui
sempre que quiser, viu? Não precisa avisar. Ou melhor... só avisa
quando for muito tarde, tá?
-Tá bem, amigo... mas agora
eu realmente preciso ir. Beijo!
Bruno parte e Cláudio sofre
ao vê-lo indo embora. CORTA A CENA.
CENA 7: Mateus chama Laura,
que se arruma para mais um dia de ensaios.
-Você pode me dar cinco
minutos?
-Até dez se você quiser,
Mateus...
-Então, Laura... eu andei
pensando em tudo e sei que preciso me entregar e confessar o crime
que arquitetei, mas... tenho medo das represálias.
-Para com isso, Mateus... você
sabe que se você assumir tudo sozinho, o “Chefe” não tem como
fazer nada contra você... é uma segurança que você garante para
si e pra todos nós.
-Mas e se esse cara resolve
encasquetar e fica paranoico? Isso é bem típico dele...
-Você fala como se soubesse
do que está falando. Como se soubesse a identidade desse cara...
você sabe, não sabe?
-Laura, por favor... não é
disso que eu estou falando, me respeite.
-Tá bem. Só que eu acho que
a melhor coisa que você tem a fazer é se entregar. Você é réu
primário, provavelmente vão te liberar mediante pagamento de
fiança. Vai poder responder ao processo em liberdade.
-É, mas e se a mídia acabar
sabendo disso? Meu contrato com a emissora pode ser anulado...
-Você sabia desse risco
quando assumiu as consequências do que fez. Se acontecer, bola pra
frente, trabalho nunca vai te faltar.
-Eu sei. Mas mesmo assim tem
mais coisa. No fundo eu gosto do Rafael...
-Não é o que pareceu quando
você quase causou a morte dele e do Marcelo...
-Laura, por favor... eu sei
que eu errei, mas me arrependo até o último dia da minha vida de
ter causado esse acidente. Eu juro!
-Eu acredito em você. Mas
você precisa ser honesto. Ele vai acabar descobrindo cedo ou tarde
que foi você. Se ele nunca te perdoar por isso, é direito dele. É
a consequência natural e um tanto quanto previsível das merdas que
você fez pra conseguir à força o destaque que queria na
emissora...
-Tá. Eu vou me entregar,
Laura.
-Quando?
-Hoje mesmo. Só vou esperar
você voltar da companhia...
CORTA A CENA.
CENA 8: Riva confidencia a
Vicente verdade sobre Suzanne.
-Sabe o mais chato disso,
Riva? Eu te avisei. Seu filho e seu genro também te avisaram.
Infelizmente, nada do que você me contou sobre essa Suzanne me
surpreende.
-Eu sei, Vicente... eu fui
boba, não fui? Uma tonta, iludida, seduzida pelo primeiro sorriso
amigo...
-Não se culpe, meu amor. Essa
gente está por toda parte.
-Mas não mais a Suzanne.
Espera ela voltar pro Brasil! Ela vai ver que nunca deveria ter
mexido com uma mulher como eu...
-O que você tá pensando em
fazer? Se vingar?
-Exatamente.
-Querida, vingança por
vingança não leva a lugar algum. A gente precisa de provas
concretas contra essa mulher. Pra poder aniquilar a sujeita de vez...
sem que ela tenha chance de se defender, entende?
-Você tá certo, querido...
vou precisar de muito sangue frio... e paciência. Vai ser difícil
não contar nada nem pro meu filho.
-É melhor que seja assim.
Agindo em silêncio, você pega essa gatuna no pulo, entende?
Os dois seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 9: Mateus vai à
delegacia e aguarda ser atendido. O delegado se apresenta.
-Pode vir comigo, rapaz. Sou o
delegado Montalvani, Augusto Montalvani. Sente-se, por favor.
-Obrigado. Bem, eu nem sei por
onde começar... me chamo Mateus Viveiros.
-Eu sei, afinal de contas você
é famoso. Qual é a sua queixa, Mateus?
-Bem... na verdade não estou
vindo aqui prestar queixa ou registrar boletim de ocorrência contra
ninguém.
-Não? Você parece assustado,
rapaz.
-E de fato, estou.
-Se sente ameaçado por algum
desconhecido?
-Não, delegado. Na verdade a
ameaça fui eu. Eu vim aqui me entregar por um crime que eu cometi.
FIM DO CAPÍTULO 89.
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