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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

CAPÍTULO 89

CENA 1: Riva fica apreensiva, mas permanece firme.
-Você tá certo de que quer falar isso? Sabe que isso é um caminho sem volta, não sabe?
-Eu sei, Riva. Mas antes de qualquer coisa, eu preciso que você me prometa que vai manter discrição... que não vai contar a ninguém enquanto não for oportuno.
-Eu prometo, mas... por que você me pediu isso?
-Você já vai entender. E com isso também vai entender outras coisas: a mãe biológica do Cláudio é a Suzanne.
Riva fica incrédula.
-Você tá de brincadeira comigo, não tá? Não pode! Vocês nem se conhecem... se conhecem?
-A Suzanne não é o que parecer ser. Nunca foi sua amiga. E nunca foi de família alguma do interior de São Paulo. Ela é carioca da gema, criada em Curicica. Eu fui parar na casa da mãe dela quando fui expulso de casa, em Barra de São João. Cheguei no Rio de carona e ganhei uma casa lá na dona Raquel.
-Raquel não é o nome da empregada dela?
-Ela não tem empregada, Riva. Raquel é mãe da Suzanne. O fato é que ela me seduziu logo de cara... me envolveu nos seus ardis. Eu sempre fiz tudo o que ela queria. Mais pro final de noventa e quatro, ela engravidou e eu insisti para que ela tivesse o filho... só que ela me obrigou a abandonar esse filho quando ele nasceu no ano seguinte, em maio. E te digo mais, Riva: a Suzanne te odeia.
-Como assim, me odeia? Isso tá tudo muito estranho, Márcio...
-Eu nunca soube o motivo... ela nunca me contou. Mas ela tem uma cisma com você desde garota. Ela sempre quis tudo o que foi destinado a você nessa vida... quando ela descobriu que a garota que eu conheci, voltando ao Rio depois de tentar me reconciliar com meus pais era você, ela me obrigou a te seduzir. Só que eu realmente gostei de você. Na noite que você me contou que tava grávida eu fiquei feliz, mas assustado ao mesmo tempo porque eu sabia que tinha que repassar tudo pra Suzanne. Naquela noite, assim que você dormiu, fui a um orelhão e contei tudo pra ela. Eu sempre fui loucamente apaixonado pela Suzanne e ela usou sempre isso para que eu fizesse exatamente o que ela tramava... caso contrário, ela me deixaria. E eu não sabia viver sem ela... o resto você deve supor.
-Então ela te obrigou a roubar minha herança... e a fugir, me abandonando grávida. Claro! Ela não podia permitir que você tivesse o gosto de ser pai depois de te negar o seu primeiro filho. Que mulher doente, meu Deus! Mas por que ela foi cismar logo comigo?
-Isso eu não sei, Riva. Mas creio que tenha algum motivo muito anterior a qualquer coisa que possamos supor.
-Só me pergunto o que... gente, eu estou chocada! Eu acreditei na bondade dessa mulher! Fui amiga o tempo inteiro!
-E tem mais, Riva. Ela pode ser perigosa... foi ela que mandou que sequestrassem vocês e levassem o Lúcio. Quando ela voltar do Brasil, finja que não sabe de nada. Do jeito que ela te odeia, eu temo que ela faça outra loucura contra vocês. Suzanne é uma psicopata, nunca prestou. Destruiu a minha vida e a vida de muita gente.
-E você vai contar ao Cláudio?
-Ainda preciso tomar coragem, minha amiga...
-Vai ser muito difícil pra ele saber que tipo de pessoa é a mãe dele...
Riva abraça Márcio, assustada. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas mais tarde, Laura e Haroldo estão chegando em casa e se deparam com Bruno na entrada do prédio.
-Bruno? O que cê veio fazer aqui com essas malas, rapaz? - espanta-se Laura.
-Desculpe não ter ligado antes avisando, mas é que tou numa situação meio chata. O apartamento que eu alugava foi ocupado pelo dono do nada e eu tava no Cláudio de novo, só que o Guilherme conversou comigo e a gente concluiu que era melhor eu sair, eles estão prestes a se casar, você sabe... daí eu fiquei sem ter pra onde ir nesse momento.
Haroldo estranha.
-Mas, espera aí... quer dizer que o Guilherme ignorou que você não tem como encontrar um apê pra alugar assim do nada e mesmo assim te mandou embora? - questiona Haroldo.
-Não, gente... eu concluí por conta própria que era melhor deixar os dois sozinhos. Posso passar pelo menos alguns dias aqui na sua casa, Laura? Não tenho pra onde ir...
-Claro, querido! Sobe com a gente! Só não vai ter muito espaço porque os dois quartos já estão ocupados. Se você não se incomodar de dormir no sofá da sala... - fala Laura.
-Já tou acostumado, Laura. Desde que o Guilherme passou a dormir com frequência no Cláudio, eu ia pro sofá.
-Ótimo. Então só falta a gente falar com o Mateus... acho que ele vai ter maturidade o suficiente pra conviver contigo depois de tudo...
-Assim espero, Laura. Acho que ele já entendeu ano passado que eu e ele não tem mais volta. - fala Bruno.
-Vamos subindo, por favor... - fala Haroldo.
Os três sobem e Mateus se surpreende ao reencontrar Bruno.
-Você aqui, Bruno? Com malas? Tá se mudando pra cá? - questiona Mateus.
-Eu não tenho pra onde ir nesse momento. Depois eu explico melhor a situação... eu espero que minha presença não seja um problema pra você...
-De jeito nenhum, Bruno. Você é um cara legal... podemos ser amigos.
-Fico tranquilo de você ficar de boa com isso...
-E nem teria porque me opor... esse apartamento não é meu, é da Laura.
-Quanta bobeira, meninos... eu sei que o apartamento é meu, mas não sou só eu que moro nele. Não sou uma carrasca que fica cagando ordens e regras. Se você ficasse chateado, Mateus... a gente ia dar um jeito de encontrar uma solução. Mas fico tranquila, de verdade, por ver que vocês estão se tratando bem. - fala Laura.
-Desculpa incomodar, mas... onde que eu deixo minhas coisas, Laura? - pergunta Bruno.
-Vem comigo que eu me mostro onde você pode guardar suas roupas e suas coisas... - fala Laura.
Todos auxiliam Bruno a desfazer as malas. CORTA A CENA.

CENA 3: Cláudio chega em casa e Guilherme o espera.
-Tudo certinho com a saída do Bruno? - pergunta Cláudio.
-Sim, amor. Ele ligou avisando há pouco que vai ficar morando na Laura, não é ótimo assim?
-Fico mais aliviado desse jeito. Assim eu sei que ele tem um teto pra morar antes de descolar um novo aluguel. Mas não é sobre isso que quero falar.
-Não? Sobre o que, então? Você ficou bravo comigo por causa da conversa que tive com ele?
-Nada disso, seu bobo... eu concordo que a gente vai precisar de mais momentos a sós... e é justamente sobre o casamento que eu quero falar... porque já decidi a data oficial. Acabei de voltar do cartório...
-E quando vai ser, Claudinho?
-Daqui dez dias.
-Que maravilha, amor! Finalmente eu vou poder dizer que sou casado com o único amor da minha vida!
Guilherme abraça e beija Cláudio.
-E tem mais: consegui que a juíza de paz venha aqui, celebrar o casamento em casa. Desse jeito, a gente não vai ter que se preocupar com deslocamento nenhum pra casar e depois ir pra festa.
-Ai, que tudo, Claudinho! Tá acontecendo tudo exatamente do jeito que eu sonhei! Isso significa demais pra mim, você não faz ideia do quanto!
-Eu sei sim, amor... também significa muito pra mim.
Guilherme torna a abraçar Cláudio, que demonstra estar hesitante. CORTA A CENA.

CENA 4: Riva convida Márcio para ficar para o jantar.
-Por que você não fica pro jantar, Márcio? Já passou parte do dia aqui... - fala Riva.
-É, pai... vai ser bom você jantar aqui com a gente... - fala Marcelo.
-Eu agradeço de coração pela hospitalidade de vocês, mas preciso ir... - fala Márcio.
-Você poderia vir comigo no escritório antes, Márcio? Teve algo que ficou pendente no nosso assunto... - fala Riva.
-Ih, lá vem vocês com esses segredos de novo... - fala Marcelo.
-É... não vão começar a ficar de tititi que eu tou de olho no gavião! - brinca Vicente.
-Tudo bem, Riva... desde que seja rápido, daqui a pouco os táxis entram em bandeira dois. - fala Márcio.
Riva e Márcio vão ao escritório.
-O que ficou pendente, Riva?
-Eu queria saber sobre a gargantilha que a Suzanne usa. É a mesma que você roubou quando fugiu em noventa e seis?
-Sim, Riva. Aquela é a sua gargantilha.
-Eu sabia! Sabia que era a gargantilha que minha mãe me deu! Reconheço uma joia à distância! Essa infeliz sabia disso o tempo todo, desgraçada!
-Por favor, Riva... contenha-se. A gente vai pensar num jeito de reaver sua jóia quando Suzanne voltar ao Brasil.
-Você promete?
-Eu juro, Riva. Passou da hora de eu consertar as merdas que eu fiz por causa dessa mulher.
CORTA A CENA.

CENA 5: Na manhã do dia seguinte, Haroldo volta cedo para a mansão dos Bittencourt e Ivan, que está tomando café na cozinha, recebe o filho.
-Quem é vivo sempre aparece, Haroldo. Pensei que você não morava mais nessa casa, meu filho...
-Ah, pai. Sabe como é, né... eu e a Laura estamos bem apaixonados. Quando vi, já tava ficando mais tempo lá que aqui.
-Imagino que seja realmente ótimo estar com quem a gente ama. Mas não é sobre isso que eu queria falar com você, meu filho.
-Ih, pai... se for começar com aquele papo de sermão sobre eu passar dias fora de casa, pode esquecer.
-Não é exatamente disso, filho. Só que eu fico preocupado.
-Com o que, exatamente?
-Com as coisas que você esconde.
-Pai... de uma vez por todas eu vou te explicar: não escondo tanta coisa porque decidi esconder. Se eu escondo coisas do meu passado, é pra salvar a nossa pele, entende?
-Só não entendo o que pode haver de tão grave no seu passado que coloque nossas vidas em risco.
-Não é exatamente com o meu passado, pai.
-É sobre o que, então?
-Pai... eu tou te pedindo... não insiste. Não mete a mão nesse vespeiro.
-Meu filho... você tem mais de trinta anos e devia saber que cedo ou tarde, a verdade sempre aparece.
-Que apareça, se for o caso. Mas não por mim. Olha, pai... esse assunto tá me incomodando, a gente pode tomar o café em paz?
Ivan se cala. CORTA A CENA.

CENA 6: Cláudio está tomando café da manhã quando sua campainha toca e ele atende. É Bruno.
-Oi, amigo... esqueceu de alguma coisa aqui?
-Desculpa, esqueci mesmo. Só me dei conta ontem, antes de dormir. Esqueci do me fio dental e de alguns discos.
-Ah, acontece. Deve estar tudo separado no meu quarto, você sabe como o Guilherme é maníaco por organização.
-Falar nisso, cadê ele?
-Dia de consulta, Bruno. Na verdade nem era, mas ele resolveu ir porque ficou todo empolgado com o casamento confirmado pra dez dias... quer dizer, nove agora, né...
-Entendi. Você me dá licença pra eu buscar minhas coisas no seu quarto?
-Claro, querido... vai lá!
Bruno volta instantes depois com seus pertences.
-Tava tudo lá mesmo, Cláudio. Desculpa essa vinda sem ter te avisado.
-Sem bobeira, Bruno... você é sempre bem vindo na minha casa... não quer ficar pro café?
-Adoraria, querido... mas já tomei café na Laura e não posso me demorar muito, senão me atraso...
-Tudo bem. Mas apareça aqui sempre que quiser, viu? Não precisa avisar. Ou melhor... só avisa quando for muito tarde, tá?
-Tá bem, amigo... mas agora eu realmente preciso ir. Beijo!
Bruno parte e Cláudio sofre ao vê-lo indo embora. CORTA A CENA.

CENA 7: Mateus chama Laura, que se arruma para mais um dia de ensaios.
-Você pode me dar cinco minutos?
-Até dez se você quiser, Mateus...
-Então, Laura... eu andei pensando em tudo e sei que preciso me entregar e confessar o crime que arquitetei, mas... tenho medo das represálias.
-Para com isso, Mateus... você sabe que se você assumir tudo sozinho, o “Chefe” não tem como fazer nada contra você... é uma segurança que você garante para si e pra todos nós.
-Mas e se esse cara resolve encasquetar e fica paranoico? Isso é bem típico dele...
-Você fala como se soubesse do que está falando. Como se soubesse a identidade desse cara... você sabe, não sabe?
-Laura, por favor... não é disso que eu estou falando, me respeite.
-Tá bem. Só que eu acho que a melhor coisa que você tem a fazer é se entregar. Você é réu primário, provavelmente vão te liberar mediante pagamento de fiança. Vai poder responder ao processo em liberdade.
-É, mas e se a mídia acabar sabendo disso? Meu contrato com a emissora pode ser anulado...
-Você sabia desse risco quando assumiu as consequências do que fez. Se acontecer, bola pra frente, trabalho nunca vai te faltar.
-Eu sei. Mas mesmo assim tem mais coisa. No fundo eu gosto do Rafael...
-Não é o que pareceu quando você quase causou a morte dele e do Marcelo...
-Laura, por favor... eu sei que eu errei, mas me arrependo até o último dia da minha vida de ter causado esse acidente. Eu juro!
-Eu acredito em você. Mas você precisa ser honesto. Ele vai acabar descobrindo cedo ou tarde que foi você. Se ele nunca te perdoar por isso, é direito dele. É a consequência natural e um tanto quanto previsível das merdas que você fez pra conseguir à força o destaque que queria na emissora...
-Tá. Eu vou me entregar, Laura.
-Quando?
-Hoje mesmo. Só vou esperar você voltar da companhia...
CORTA A CENA.

CENA 8: Riva confidencia a Vicente verdade sobre Suzanne.
-Sabe o mais chato disso, Riva? Eu te avisei. Seu filho e seu genro também te avisaram. Infelizmente, nada do que você me contou sobre essa Suzanne me surpreende.
-Eu sei, Vicente... eu fui boba, não fui? Uma tonta, iludida, seduzida pelo primeiro sorriso amigo...
-Não se culpe, meu amor. Essa gente está por toda parte.
-Mas não mais a Suzanne. Espera ela voltar pro Brasil! Ela vai ver que nunca deveria ter mexido com uma mulher como eu...
-O que você tá pensando em fazer? Se vingar?
-Exatamente.
-Querida, vingança por vingança não leva a lugar algum. A gente precisa de provas concretas contra essa mulher. Pra poder aniquilar a sujeita de vez... sem que ela tenha chance de se defender, entende?
-Você tá certo, querido... vou precisar de muito sangue frio... e paciência. Vai ser difícil não contar nada nem pro meu filho.
-É melhor que seja assim. Agindo em silêncio, você pega essa gatuna no pulo, entende?
Os dois seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 9: Mateus vai à delegacia e aguarda ser atendido. O delegado se apresenta.
-Pode vir comigo, rapaz. Sou o delegado Montalvani, Augusto Montalvani. Sente-se, por favor.
-Obrigado. Bem, eu nem sei por onde começar... me chamo Mateus Viveiros.
-Eu sei, afinal de contas você é famoso. Qual é a sua queixa, Mateus?
-Bem... na verdade não estou vindo aqui prestar queixa ou registrar boletim de ocorrência contra ninguém.
-Não? Você parece assustado, rapaz.
-E de fato, estou.
-Se sente ameaçado por algum desconhecido?
-Não, delegado. Na verdade a ameaça fui eu. Eu vim aqui me entregar por um crime que eu cometi.
FIM DO CAPÍTULO 89.

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