CENA 1: Valentim segue o homem
suspeito de ser o “Chefe”, mas este começa a dobrar por direções
opostas várias vezes em sequência.
-Será que esse pilantra me
percebeu? Não é possível! Estou a quase cem metros dele! Tem mais
gente nessa rua! Bem, talvez ele costume fazer isso para despistar
quaisquer possíveis perseguidores...
O homem chega numa rua sem
saída e entra numa casa aparentemente abandonada. Valentim observa
de longe.
-Então é esse o QG
alternativo do “Chefe”. Claro! Ele precisa de um plano B caso
seguissem ele até Copacabana...
Valentim entra na casa, que
está com a luz da sala acesa. Procura pelo homem suspeito de ser o
“Chefe” olhando para os lados, mas escuta um barulho de porta se
fechando. Intrigado, procura saber de onde vem o barulho e vai até
os fundos da casa, localizando uma porta de saída, trancada. Olha
para as janelas e estas estão trancadas por pedaços maciços de
madeira.
-Essa porta foi trancada
agora! Foi por aqui que esse sujeito saiu! - conclui Valentim.
Valentim escuta outro som de
porta fechando e percebe que está trancado dentro da casa.
-Desgraçado! Me trancou pra
poder me despistar!
Valentim sente um cheiro de
gás vazando.
-Peraí... tem gás vazando
aqui! Esse sujeito quer me matar!
Valentim volta à cozinha e vê
que o cano do gás foi cortado com uma canivete.
-Esse sujeito sabia que eu
tava seguindo ele o tempo inteiro! Ele pensou nessa emboscada antes,
claro! Passou na frente do prédio do meu consultório porque sabe
que sou investigador! Esse bandido fez tudo de caso pensado e ele
quer me eliminar pra se livrar de ser pego!
Valentim começa a se
desesperar, mas logo tenta se acalmar.
-Calma, Valentim... não é a
primeira nem a décima vez que você sofre uma emboscada nesses anos
todos...
Valentim procura pela casa
janelas ou portas que possam ser facilmente abertas, mas encontra
tudo trancado com pedaços maciços de madeira.
-Esse sujeito tá mesmo
determinado a me eliminar. Tou vendo que não vai ser nada fácil
sair daqui...
Valentim começa a se sentir
sonolento pelo efeito do gás.
-Merda... tou começando a
intoxicar... merda, merda, merda! Pensa, Valentim... pensa rápido
enquanto ainda te resta força bruta!
Valentim vai até um quarto e
encontra um pé de cabra.
-Amadores... o babaca esqueceu
justo de um pé de cabra...
Valentim tenta destruir a
porta de entrada, sem sucesso.
-Merda... tou ficando fraco!
Valentim olha para a janela ao
lado da porta e entende o que deve ser feito.
-É isso! Como é que não
pensei nisso antes?
Valentim quebra os vidros da
janela e respira o ar puro que vem da rua.
-Não foi dessa vez, “Chefe”.
Você ainda vai ser pego, nem que seja daqui dez anos, mas vai
terminar atrás das grades!
Valentim chuta o pedaço de
madeira que estava na janela, quebrando-o ao meio e sai da casa
abandonada.
CORTA A CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, Valentim convoca reunião com Procópio, Raquel, Mara e
Laura na companhia de teatro, antes que ela seja aberta para os
demais atores. Todos chegam e Procópio abre o teatro, fechando logo
em seguida para que eles possam se reunir sem perturbações.
-Bem... primeiramente eu
gostaria de pedir desculpa por ter feito vocês praticamente
madrugarem para estarem aqui mais cedo. Infelizmente esse é o único
momento do dia que temos segurança suficiente para tratar de
assuntos sérios. - fala Valentim.
-Então... nós chamamos
vocês, Procópio, Raquel e Laura, porque ontem o Valentim demorou
muito a chegar em casa. Como vocês sabem, estamos juntos e eu me
mudei para a casa dele. Saí mais cedo ontem do consultório e passei
rápido na Polícia Federal, para conduzir uma acariação. Depois
disso fui para casa e esperei por Valentim. Que ele costuma demorar
às vezes é normal, afinal de contas quem saiu mais cedo fui eu. Só
que o que aconteceu ontem foi algo gravíssimo... - fala Mara.
-Pelo visto deve ter sido um
imprevisto bem assustador, pela expressão de vocês... - observa
Raquel.
-Estou assustado, gente...
podem explicar o que está acontecendo? - preocupa-se Procópio.
-Eu sei mais ou menos o que
aconteceu... quer dizer, suponho... mas fala, Valentim. - fala Laura.
-O “Chefe” definitivamente
sabe quem somos nós. Ontem, assim que fechei o consultório, eu o vi
andando do outro lado da rua. Não pensei duas vezes em seguir pra
ver onde ele ia. Ele deu várias voltas até que chegou numa rua sem
saída e nessa rua sem saída, havia uma casa aparentemente
abandonada. Esperei um tempo para entrar nessa casa que ele havia
entrado antes e fui vítima de uma emboscada. Ele sabia desde o
começo que eu o seguiria, fez tudo de caso pensado. Trancou a casa
inteira com pedaços maciços de madeira nas portas e janelas, mas
antes cortou o cano do gás, com a intenção de me eliminar, para
assim ficar livre para agir e comandar os homens de sua facção. Foi
por muito, muito pouco que me livrei dessa emboscada.
-Isso é assustador, Valentim!
Mas nem de longe surpreendente. Depois que os homens dele me raptaram
exclusivamente pra me meter medo e me mandar ficar longe de qualquer
investigação, não me espanta que o “Chefe” em pessoa tenha
tentado te apagar. - fala Laura.
-Vamos precisar mudar nossas
estratégias. Vamos seguir colaborando mutuamente para que essas
investigações cheguem nele. Mas agora sou eu, Valentim e Raquel,
que somos ligados à Polícia, que nos reuniremos fisicamente para
tratar desses assuntos no consultório dele. Vocês, Laura e
Procópio, quanto menos forem vistos com a gente fora desse teatro,
mais seguro será pra vocês. Vamos manter contato e vamos seguir
orientando, mas nesse momento precisamos mudar a tática, porque ele
está atrás de todos nós! - alerta Mara.
CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Rafael e
Marcelo vão à companhia de teatro e esperam Laura e Cláudio saírem
pro intervalo. Laura e Cláudio ficam felizes de ver os amigos ali.
-Que bom que vocês vieram!
Justo hoje meu namorado resolveu me abandonar, ó como sofro... -
brinca Laura.
-Até parece que você não
sabe que vira e mexe, meu irmão dorme mais que a cama... - fala
Rafael.
-A gente veio contar uma
novidade maravilhosa. Sabe a próxima novela das onze, escrita por
aquela maravilhosa da Patrícia Peron? Vai ter o Rafa nos primeiros
capítulos, interpretando o vilão na primeira fase! E sabe quem
ligou pra ele? A própria Patrícia Peron! - vibra Marcelo.
-Tá vendo como eu tenho um
marido que fala as coisas tudo na minha frente? - fala Rafael,
fingindo-se de contrariado.
-Eu fico muito feliz por
vocês. Nunca sonhei com a TV, mas sei que esse é um passo muito
importante pro Rafa... - fala Cláudio.
-Os conservadores vão ter que
segurar esse forninho! - vibra Laura.
Todos riem.
-Mas hein, gente... deixa eu
falar uma coisa. Acreditam que eu fui diagnosticado com psoríase
também? - fala Cláudio.
-É o que? Viada, e tu ainda
teve coragem de brigar comigo aquela vez! Tá vendo como a gente é
quase irmã? Até na doença auto imune a gente combina! - fala
Marcelo, tentando animar Cláudio.
-Ai viada, a senhora é
debochada mesmo, viu? Mas me fala... demorou pra sumirem as
irritações da sua pele quando o tratamento foi iniciado?
-Naaada, mulher. Foi questão
de menos de duas semanas e minha pele tava um pêssego de outro
mundo!
Todos seguem conversando e
Laura olha desconfiada para Cláudio e Marcelo. CORTA A CENA.
CENA 4: Marion chama Riva para
conversar.
-Não entendi você ter me
chamado pra falar a sós... é algo que o Vicente não pode saber?
-Não, sua boba... mas de
qualquer maneira eu acho melhor eu ter essa conversa com você
primeiro pra você poder contar sobre a novidade pro Vicente e pra
todo mundo depois...
-Mas que novidade é essa,
Marion?
-Eu recebi uma mensagem, do
diretor da próxima novela das seis, ele na verdade queria falar com
você, mas não tinha o seu contato e pediu pra eu transmitir: você
foi convidada para participar do elenco dessa próxima novela. Claro,
vai precisar ainda do teste de elenco pra ver como se sai e tudo
mais...
Riva não acredita nas
palavras de Marion.
-É sério, isso? Depois de
trinta e cinco anos me chamaram pra ser atriz? Me belisca! Eu só
posso estar sonhando!
-Pois não está, Riva... o
seu sonho pode acabar se tornando realidade!
Riva abraça Marion,
emocionada.
-Tanta coisa tá me passando
pela cabeça agora, Marion! Lembra da gente lá em Barra de São
João, ainda menina, implorando pra minha mãe pra deixar a gente
brincar de teatro escondido da vó?
-Eram tempos difíceis,
querida... mas acreditávamos naquele sonho. E agora o seu antigo
sonho pode se tornar realidade, como já se tornou para minha mãe...
-Quem diria que a vó ia se
tornar essa pessoa doce e realizada... se me falassem isso há vinte
e cinco anos, eu jamais acreditaria...
-Agora pode ser a sua vez. O
teste elenco é daqui algumas semanas. Força na peruca, mulher!
As duas se abraçam novamente.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Márcio
está na mansão dos Bittencourt, visitando o filho e conversando
animadamente com ele e com Rafael.
-Mas você nem sabe da última,
Márcio... digo, pai: sabe quem foi diagnosticado com psoríase
também? - fala Marcelo.
-Não faço ideia, filho...
ainda sei pouco sobre as pessoas que você conhece.
-Você já deve ter me ouvido
falar sobre meu melhor amigo, né? Que chegamos a ter uma briga feia
há algum tempo e tudo mais... pois bem, é o Cláudio, cê acredita?
Foi diagnosticado tem pouquíssimo tempo...
-Que coisa, filho... mas será
que o que desencadeou a psoríase dele foi stress ou fator genético?
-Aí é que a coisa complica
pro lado dele, Márcio... é mais fácil ele acreditar que foi algum
stress do passado do que pelo fator genético.
-Por que? Ele perdeu contato
com os familiares?
-Desde sempre. Ele nunca
conheceu a família biológica. Os pais dele, que morreram num
acidente quando ele tinha catorze anos, adotaram ele quando ele ainda
era um bebê de colo, entende? Nunca esconderam isso dele e o Cláudio
sempre lembra deles com muito amor. Ocorre que agora, diante da
psoríase, ele só pode acreditar que tenha causas no stress, porque
ele não faz a mínima ideia de quem são os parentes biológicos
dele. Podem até estar mortos também ou nem serem daqui...
Márcio desconfia que Cláudio
seja seu filho perdido, mas nada diz para Marcelo e Rafael. CORTA A
CENA.
CENA 6: Horas depois, toca a
campainha na mansão dos Bittencourt e Haroldo atende a porta.
-Mateus? O que você veio
fazer aqui, cara?
-Então, Haroldo... você
podia chamar seu irmão aqui? Eu preciso muito ter uma conversa com
ele...
-Tudo bem... vou chamar o
Rafa... você se incomoda de esperar aqui na sala?
-De jeito nenhum... tá ótimo
assim.
Haroldo chama Rafael, que em
poucos instantes aparece.
-O que você veio fazer aqui,
cara? Olha, se for pra reclamar do meu papel na próxima novela das
onze, você que ligue pra Patrícia Peron em pessoa, porque foi ela
que me convidou!
-Não, Rafael... não é nada
disso. Eu vim aqui desarmado... você pode se desarmar pra me ouvir?
-Hmm... tá. Diga logo o que
te trouxe aqui.
-Eu vim te pedir perdão pelas
merdas que eu fiz pra te prejudicar. Hoje eu percebo com clareza que
eu agi errado... que cada um de nós merece o próprio lugar ao sol.
Eu queria saber se a gente ainda pode ser amigo.
-Talvez eu seja um panaca, mas
a gente pode ser amigo, sim. De alguma forma eu sinto que seu
arrependimento é sincero. Tem mais coisa que você esconde, mas não
cabe a mim questionar. Confesso que senti falta do seu humor ácido...
-E eu senti falta de implicar
com essa sua mania de ser sempre o fiel da balança de tudo! Você
me desculpa pelas merdas que eu fiz pra conseguir meu emprego fixo na
emissora?
-Já tá no passado. A gente
vive o agora, Mateus... deixa de frescura e dá cá um abraço!
Os dois selam a amizade. CORTA
A CENA.
CENA 7: Horas depois, Renata e
Eva dormem tranquilamente em sua casa, até que o sonho de Renata
aparece. Nesse sonho, Renata anda com Eva pela rua tranquilamente,
até que começa a enxergar vultos. Ao olhar para os lados, os vultos
desaparecem e Eva ignora os apelos de Renata para elas irem para um
local seguro. Eva insiste que a rua é segura e fica a dançar leve
pelas ruas. Renata tenta relaxar com a imagem de Eva leve e feliz,
mas logo sente novamente a presença de vultos rondando as duas.
Decidida a acreditar que aqueles vultos não são capazes de fazer
mal nenhum, Renata segue, no sonho, a observar os passos leves da
dança de Eva e resolve ir em sua direção, para também participar
da dança. No entanto, antes que Renata consiga tocar Eva, os vultos
se tornam homens que agarram Eva à força. Renata tenta lutar com os
homens e acaba também sendo dominada por eles.
Renata acorda suada e dando um
grito. Eva se sobressalta.
-O que foi isso, amor? Teve um
pesadelo? - questiona Eva.
-É a terceira vez que tenho
esse mesmo pesadelo. É horrível! Parece real...
-Para com isso, Renata... mal
nenhum pode ser maior que nós duas juntas...
-Eu realmente espero que nunca
mal nenhum possa nos atingir. Esse pesadelo é horrível!
-Ainda bem que foi só um
pesadelo. Eu vou pegar uma água com açúcar pra você, tá? Procura
ficar tranquila, amor... sonhos ruins acontecem. Mas tá tudo bem!
Eva sai do quarto e Renata
fica apreensiva. CORTA A CENA.
CENA 8: Na manhã do dia
seguinte, Diogo acompanha Victor num consultório particular.
-Eu tou com um pouco de
receio, Diogo... será que essa nova psicóloga vai me ajudar mais?
-É por isso que estamos vindo
aqui. Pesquisei muito antes de chegar nesse consultório e o Valentim
me ajudou muito nesse processo. As recomendações sobre a doutora
Marlise são as melhores. Não vamos também diminuir o valor da sua
terapia anterior, mas enquanto você estiver precisando de ajuda, a
gente troca de terapeuta quantas vezes for necessário. Não importa
o dinheiro que eu gaste nisso... importa é que você fique cada vez
melhor.
-Sinceramente eu não vi essa
necessidade toda de trocar de terapeuta. Eu sei que minhas recaídas
são um transtorno, mas tanto o Valentim quanto os psicólogos
salientam que isso é algo que se espera durante o primeiro ano do
tratamento...
-Eu sei, amor... mas não
custa nada a gente buscar o que é melhor pra você. Não foi você
mesmo que disse que não se sentia livre na outra terapia?
-Nem um pouco, Diogo... em vez
de respeitarem meu tempo de conseguir as coisas, eu notava mais um
olhar julgador, esperando que eu fizesse avanços largos em pouco
tempo e me censurando se eu relatasse minhas recaídas. Se o
interesse era lutar pelo meu melhor, não entendi direito essa
necessidade que tinham de cobrar de uma maneira tão sufocante que eu
me torne a pessoa mais calma do mundo do dia pra noite...
-Justamente por isso, Victor.
Profissionais também são seres humanos e podem estar sujeitos a
erros. Pelo que falam sobre a Marlise, ela é a melhor terapeuta
nesse sentido.
A psicóloga abre a porta de
seu consultório.
-Ouvi falar no meu nome?
Espero que tenha sido pro bem... você deve ser o Victor, não é?
Pode entrar...
Victor entra e Diogo faz sinal
de força. CORTA A CENA.
CENA 9: Suzanne segue Márcio
no restaurante do hotel.
-Resolveu tomar café da manhã
misturado com o povão, Márcio? Quem te viu e quem te vê...
-Vá se foder, Suzanne. Eu
tava tentando justamente não ter que olhar pra essa sua cara nessa
hora da manhã.
-Você já foi mais gentil
comigo, Márcio. Pelo visto aquele seu filho tá mesmo virando a sua
cabeça.
-A única pessoa que me virou
a cabeça esses anos todos foi você, Suzanne. Minha vida poderia ter
sido outra, bem melhor, se eu não tivesse seguido você por onde
quer que você fosse. E você brinca com o perigo, tira a joia que é
da Riva da penhora e fica ostentando. Sabe o que isso vai causar? Sua
fuga! Você tem que deixar o Brasil!
FIM DO CAPÍTULO 71.
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