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sábado, 13 de agosto de 2016

CAPÍTULO 78

CENA 1: Rafael espera pela reação de Marcelo.
-Não vai dizer nada, Marcelo? Acho que essa pode ser a solução definitiva pra essa dúvida...
-Eu... sinceramente nem sei o que dizer. Nunca pensei na vida que teria que recorrer a um exame de DNA. Mas me pergunto como a gente vai fazer isso... pelo que eu conheço do Cláudio, eu sei que ele é desconfiado e que se a gente contasse pra ele sobre essa suspeita, ele ficaria possesso com o meu pai...
-O jeito é a gente conseguir uma amostra do DNA dele sem que ele saiba.
-Mas isso não é errado?
-Não acho que seja, amor... pensa comigo: se você sabe que ele não reagiria bem a uma suspeita dessas, a única alternativa que a gente tem é colher esse material e encaminhar pro exame secretamente.
-Sim, mas como que a gente vai conseguir isso? Isso pode parecer simples em novela, em filme, mas na vida real eu não tenho talento pra bancar o detetive...
-A gente não vai seguido na casa dele? Por que a gente não se convida pra jantar na casa dele essa noite?
-Seria uma ótima ideia, mas você tem noção que tanto eu quanto você estamos indo trabalhar agora e não temos hora pra sair dos estúdios da emissora?
-Isso eu resolvo com o pessoal da direção. Tudo pode ser resolvido no diálogo, acredita em mim. A gente pode sugerir que as nossas cenas, com os atores que contracenam conosco, sejam adiantadas na agenda. Assim a gente vai ter como sair mais cedo e vai dar tempo da gente ir jantar na casa do Cláudio.
-É uma excelente ideia, mas... como que a gente vai conseguir uma amostra do DNA dele?
-Você conhece melhor a casa dele do que eu, não? Talvez você saiba de uma solução...
-Bem... a única coisa que me passa pela cabeça é que ele é o único entre todos nós que tem cabelo comprido... sendo assim, deve ter no banheiro dele uma escova de cabelos. E mesmo que ele não fosse o único daquela casa de cabelo comprido, ele é o único ruivo...
-Tá vendo como a gente tem como conseguir o DNA dele? Fios de cabelo são ótimos.
-Sim, mas como é que a gente vai chegar no banheiro e arrancar meia dúzia de fios da escova dele sem que ele suspeite de nada?
-A gente vai pensando nisso com calma. Vai dar certo.
-Eu confio em você. Mas precisamos sair agora senão nos atrasamos...
Os dois deixam a mansão. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas mais tarde, ao anoitecer, Haroldo vai à casa de Laura em sua companhia. Ao chegarem, se deparam com Mateus deitado vendo TV.
-Oi, Mateus! Tudo bem com você? - fala Haroldo.
-Oi... não sabia que você vinha. Comigo tudo indo...
-Engraçado... podia jurar que você anda desanimado... - fala Haroldo.
-E não é só impressão sua, Haroldo. Mateus tá assim desde cedo, ainda pela manhã. Acordou frustrado, se sentindo meio esquecido, inútil, essas coisas... - esclarece Laura.
-Não precisava falar tudo isso, né Laura! - reclama Mateus.
-Ei! Eu não mordo, viu? Se você estiver precisando desabafar, a gente tá aqui pra te ajudar, viu? Não estamos aqui pra te julgar. - fala Haroldo.
-Eu sempre fui com sua cara, desde a época que pensei que você se chamava Rodrigo... tá certo. Eu vou falar o que tá pegando... sabe o que é? Eu sei que tem pouco tempo que eu tou sem trabalho, a Laura já tentou me tranquilizar, mas tou me sentindo inútil demais sem ser chamado pela emissora, nem pra programa da casa, entende? A sensação que isso me dá é que esqueceram completamente de mim e do papel que eu fiz na novela das nove que acabou... - desabafa Mateus.
-E desde quando esse período de descanso é motivo pra tanto desânimo, Mateus? Eu te conheço o suficiente pra entender que você é bem maior que tudo isso. Eu e você sabemos do tanto de esforço que a gente tem feito pra viver uma vida tranquila, em paz... - fala Haroldo.
-Tá vendo, Mateus? Até o Haroldo sabe que você é bem maior que essas coisas. Depois, ninguém podia prever que a atual novela ia fazer tanto sucesso e quase dobrar a audiência da antecessora. Esse tipo de coisa acontece a todo tempo... - fala Laura.
-Vocês não existem, mesmo. E combinam demais, juntos. Torço muito por vocês, sabiam?
Laura e Haroldo abraçam Mateus, para animá-lo. CORTA A CENA.

CENA 3: Bruno chega à casa de Cláudio.
-Achei estranho o Guilherme não estar aqui.
-Ele preferiu ficar um tempo no apartamento dele, sabe como é... querendo ou não ele viveu a vida toda lá e agora com o nosso casamento marcado, nada mais justo que ele queira ir se despedindo do cafofo dele... mas enfim. Te chamei aqui porque o Marcelo e o Rafael se convidaram pra vir aqui jantar, mas ainda estão presos dentro da emissora gravando pras personagens deles...
-Ah, entendi... e você não consegue pensar no jantar sozinho. Por isso mesmo que eu já passei no supermercado antes.
-Ai, que maravilha! Eu nem te digo as coisas e você já adivinha! Melhor assim...
-Sabe, Cláudio... andei reparando no Marcelo e em você.
-Que? Não entendi direito...
-Vocês já repararam como são parecidos?
-Você acha? Eu não vejo essa semelhança toda. Acho que a gente só tem em comum o fato de sermos ruivos, o que tá longe de ser a coisa mais rara do mundo...
-Pode ser só uma impressão boba minha, mas enfim... vamos começar a preparar esse jantar que não deve faltar muito pra eles confirmarem que já estão vindo...
Os dois vão à cozinha e começam a preparar o jantar, em clima de cumplicidade. CORTA A CENA.

CENA 4: Eva está concentrada no computador finalizando a criação do site. Na tela aparece o título “A Quem o Machismo Violentou Hoje”. Eva chama Renata.
-Amor, vem cá!
Renata vai até Eva.
-Fala, amor...
-O site acabou de ficar pronto e já temos pelo menos sete relatos que entraram em dois minutos...
-Gente, tudo isso? Será que a gente vai dar conta de publicar todos esses relatos no site?
-Com calma, a gente consegue administrar tudo isso. O que não podemos fazer é ignorar os relatos de tantas mulheres que sofreram e sofrem tanta violência diariamente por culpa do machismo...
-Sim, mas se o volume de relatos continuar a crescer, talvez fosse o caso de a gente colocar na descrição do site que poderemos levar, sei lá, de vinte e quatro a quarenta e oito horas para publicar todos os relatos.
-Verdade. E também tem a possibilidade da gente receber falsos relatos ou até mesmo ameaças de homens, mas nada disso pode nos intimidar. Entramos nessa luta e vamos até o fim.
-Isso mesmo, Eva. Aliás... que barulinhos são esses que não param de apitar?
-Chegaram mais vinte relatos. Acho melhor a gente ler todos eles e separar os que serão publicados ainda hoje...
As duas se concentram na leitura dos relatos recebidos. CORTA A CENA.

CENA 5: Marcelo e Rafael chegam apressadamente em casa e Márcio cumprimenta o filho.
-Que bom te ver mais cedo aqui em casa, filho! Vim visitar sua mãe e acabo te encontrando aqui ainda! - fala Márcio, animado.
-Você me desculpe, Márcio, mas eu e o Rafa estamos em cima da hora pra se arrumar e ir na casa do Cláudio pra jantar lá. A gente se fala melhor outra hora...
Marcelo e Rafael sobem rapidamente ao quarto e enquanto Marcelo se arruma, Rafael aproveita para pegar o celular do marido e confirmar com Cláudio que eles estão a caminho da casa dele.
-Alô, Cláudio? Não... não. Aqui é o Rafael. Marcelo tá se arrumando a toque de caixa agora. A gente fez de tudo pra sair mais cedo dos estúdios, mas acabou que nossos colegas acabaram errando o texto algumas vezes, coisa corriqueira... mas estamos a caminho mesmo assim. Em menos de meia hora a gente tá estourando aí em Santa Tereza, tá? Beijo, tchau...
Marcelo termina de se vestir.
-E então, amor... conseguiu falar direitinho com o Cláudio?
-Sim.
-Ótimo... então você se apresse agora que a gente tem que estar dentro do seu carro em menos de dez minutos!
-Tá... muita calma nessa hora. O Cláudio tava bem tranquilo ao telefone e entende que a gente ficou preso nas gravações. Se a gente demorar um pouquinho mais de meia hora pra chegar não vai ser problema nenhum.
-Ai, desculpa, amor... é que confesso: estou bem nervoso com esse plano que a gente vai tentar colocar em prática hoje...
-Confia que vai dar certo...
Rafael começa a se arrumar. CORTA A CENA.

CENA 6: Instantes depois, Marcelo e Rafael descem as escadas e Márcio tenta conversar um pouco com o filho.
-Como foi o seu dia, filho?
-Foi bom, Márcio. - fala Marcelo, secamente.
Riva fica constrangida com a rispidez do filho, mas disfarça e tenta contemporizar.
-Deve ter sido um dia bastante cheio, com o ritmo das gravações, não é? Hoje eu não gravei tanto, mas sei que deixa a gente com a cabeça a mil, não é, filho? - fala Riva.
-É isso, mãe. Vocês desculpem, mas a gente tá com um pouco de pressa... - fala Marcelo.
-É, amor, mas não precisa falar desse jeito com eles, né? - repreende Rafael.
-Eu só queria saber como foi seu dia, meu filho. Vim aqui visitar Riva e aproveitar pra paparicar um pouco o seu irmãozinho, que é um bebê adorável. Mas entendo se você estiver com pressa. - fala Márcio.
-Olha só, cara... eu gosto de você, você tá se mostrando uma pessoa legal e se esforçando em ser um bom pai, mas vamos combinar uma coisa? Não força a barra. Eu não te dei liberdade pra ficar me perguntando como foi o meu dia ou o que eu fiz durante o dia. Isso é da minha conta e da conta de quem participa todos os dias da minha vida. Agora dá licença que eu tou indo pro carro... - fala Marcelo, indo na frente de Rafael.
Rafael e Riva ficam completamente constrangidos e Márcio, triste, mas nada diz. Rafael vai atrás de Marcelo.
-Marcelo, que grosseria foi aquela com o seu pai?
-Ai, amor... dá um desconto. Você sabe que estou numa pilha de nervos e ainda me deparo com o Márcio! Sabendo que ele pode também ser pai do Cláudio. Entende agora?
-Você poderia pelo menos tentar disfarçar um pouco melhor. Sua mãe ficou morrendo de constrangimento diante do seu pai e eu também!
-Tá... eu errei. Desculpa.
-Você deveria pedir desculpas pro seu pai, não pra mim. Mas isso a gente resolve depois. Vamos pro Cláudio antes que você tenha um troço...
Rafael arranca com o carro. CORTA A CENA.

CENA 7: Valentim se queixa com Mara sobre a ausência de pistas concretas sobre o chefe.
-Sabe, amor... chega uma hora que a gente cansa. Dá vontade de chutar o balde. De repente eu tou ficando velho e quanto mais velho, mais impaciente eu fico com esse tempo todo que a gente dá voltas e não chega a lugar nenhum sobre quem é esse “Chefe”.
-Sinceramente, Valentim... quem te viu e quem te vê! Você alguma vez nessa vida foi de entregar as suas investigações pra outros na Polícia Federal? Não! Você lembra daquele caso de mais de vinte anos atrás que envolvia tráfico de drogas em colégio particular? Foram mais de quatro anos de investigação até a gente chegar à traficante, que era a professora de matemática. Em algum momento você pensou em desistir? Me responde!
-Não... eu não disse que vou desistir. A gente precisa desbaratar de uma vez por todas essa facção. Pegar o chefe dela vai ser um golpe duríssimo para eles e, se for uma pessoa jovem, provavelmente não há ninguém na linha sucessória. O problema é que quem eu já coloquei na lista de suspeitos acaba se revelando inocente em algum momento.
-E por que você não refaz a lista? Se nenhum dos suspeitos é de fato o “Chefe”, talvez estejamos procurando nos alvos errados...
-É isso mesmo que vou fazer. Você me ajuda a refazer a lista de suspeitos?
-Claro, querido!
Mara começa a sugerir suspeitos a Valentim. CORTA A CENA.

CENA 8: Horas depois, já após o jantar, Marcelo e Rafael conversam animadamente com Bruno e Cláudio. Rafael olha para o relógio do celular e vê que já passou das dez e faz um sinal para Marcelo, discretamente, indicando que plano deles deve ser colocado em prática. Marcelo entende o recado e começa a se retorcer no sofá.
-Ai, gente... a comida tava uma delícia, mas acho que alguma coisa não me bateu legal... - finge Marcelo.
-Será que é alguma alergia? Ai gente, nunca soube de nada... - preocupa-se Cláudio.
-Eu não sei, viado... senti uma pontada e agora me sinto tonto... - mente Marcelo, se levantando e fingindo perder o equilíbrio. Rafael o leva até o banheiro.
-Fiquem aqui que eu cuido dele, tá? - fala Rafael.
Os dois entram no banheiro e Marcelo pega a escova de cabelo.
-É isso aqui que vai nos revelar a verdade! - afirma Marcelo.
FIM DO CAPÍTULO 78.

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