CENA 1: Rafael espera pela
reação de Marcelo.
-Não vai dizer nada, Marcelo?
Acho que essa pode ser a solução definitiva pra essa dúvida...
-Eu... sinceramente nem sei o
que dizer. Nunca pensei na vida que teria que recorrer a um exame de
DNA. Mas me pergunto como a gente vai fazer isso... pelo que eu
conheço do Cláudio, eu sei que ele é desconfiado e que se a gente
contasse pra ele sobre essa suspeita, ele ficaria possesso com o meu
pai...
-O jeito é a gente conseguir
uma amostra do DNA dele sem que ele saiba.
-Mas isso não é errado?
-Não acho que seja, amor...
pensa comigo: se você sabe que ele não reagiria bem a uma suspeita
dessas, a única alternativa que a gente tem é colher esse material
e encaminhar pro exame secretamente.
-Sim, mas como que a gente vai
conseguir isso? Isso pode parecer simples em novela, em filme, mas na
vida real eu não tenho talento pra bancar o detetive...
-A gente não vai seguido na
casa dele? Por que a gente não se convida pra jantar na casa dele
essa noite?
-Seria uma ótima ideia, mas
você tem noção que tanto eu quanto você estamos indo trabalhar
agora e não temos hora pra sair dos estúdios da emissora?
-Isso eu resolvo com o pessoal
da direção. Tudo pode ser resolvido no diálogo, acredita em mim. A
gente pode sugerir que as nossas cenas, com os atores que contracenam
conosco, sejam adiantadas na agenda. Assim a gente vai ter como sair
mais cedo e vai dar tempo da gente ir jantar na casa do Cláudio.
-É uma excelente ideia,
mas... como que a gente vai conseguir uma amostra do DNA dele?
-Você conhece melhor a casa
dele do que eu, não? Talvez você saiba de uma solução...
-Bem... a única coisa que me
passa pela cabeça é que ele é o único entre todos nós que tem
cabelo comprido... sendo assim, deve ter no banheiro dele uma escova
de cabelos. E mesmo que ele não fosse o único daquela casa de
cabelo comprido, ele é o único ruivo...
-Tá vendo como a gente tem
como conseguir o DNA dele? Fios de cabelo são ótimos.
-Sim, mas como é que a gente
vai chegar no banheiro e arrancar meia dúzia de fios da escova dele
sem que ele suspeite de nada?
-A gente vai pensando nisso
com calma. Vai dar certo.
-Eu confio em você. Mas
precisamos sair agora senão nos atrasamos...
Os dois deixam a mansão.
CORTA A CENA.
CENA 2: Horas mais tarde, ao
anoitecer, Haroldo vai à casa de Laura em sua companhia. Ao
chegarem, se deparam com Mateus deitado vendo TV.
-Oi, Mateus! Tudo bem com
você? - fala Haroldo.
-Oi... não sabia que você
vinha. Comigo tudo indo...
-Engraçado... podia jurar que
você anda desanimado... - fala Haroldo.
-E não é só impressão sua,
Haroldo. Mateus tá assim desde cedo, ainda pela manhã. Acordou
frustrado, se sentindo meio esquecido, inútil, essas coisas... -
esclarece Laura.
-Não precisava falar tudo
isso, né Laura! - reclama Mateus.
-Ei! Eu não mordo, viu? Se
você estiver precisando desabafar, a gente tá aqui pra te ajudar,
viu? Não estamos aqui pra te julgar. - fala Haroldo.
-Eu sempre fui com sua cara,
desde a época que pensei que você se chamava Rodrigo... tá certo.
Eu vou falar o que tá pegando... sabe o que é? Eu sei que tem pouco
tempo que eu tou sem trabalho, a Laura já tentou me tranquilizar,
mas tou me sentindo inútil demais sem ser chamado pela emissora, nem
pra programa da casa, entende? A sensação que isso me dá é que
esqueceram completamente de mim e do papel que eu fiz na novela das
nove que acabou... - desabafa Mateus.
-E desde quando esse período
de descanso é motivo pra tanto desânimo, Mateus? Eu te conheço o
suficiente pra entender que você é bem maior que tudo isso. Eu e
você sabemos do tanto de esforço que a gente tem feito pra viver
uma vida tranquila, em paz... - fala Haroldo.
-Tá vendo, Mateus? Até o
Haroldo sabe que você é bem maior que essas coisas. Depois, ninguém
podia prever que a atual novela ia fazer tanto sucesso e quase dobrar
a audiência da antecessora. Esse tipo de coisa acontece a todo
tempo... - fala Laura.
-Vocês não existem, mesmo. E
combinam demais, juntos. Torço muito por vocês, sabiam?
Laura e Haroldo abraçam
Mateus, para animá-lo. CORTA A CENA.
CENA 3: Bruno chega à casa de
Cláudio.
-Achei estranho o Guilherme
não estar aqui.
-Ele preferiu ficar um tempo
no apartamento dele, sabe como é... querendo ou não ele viveu a
vida toda lá e agora com o nosso casamento marcado, nada mais justo
que ele queira ir se despedindo do cafofo dele... mas enfim. Te
chamei aqui porque o Marcelo e o Rafael se convidaram pra vir aqui
jantar, mas ainda estão presos dentro da emissora gravando pras
personagens deles...
-Ah, entendi... e você não
consegue pensar no jantar sozinho. Por isso mesmo que eu já passei
no supermercado antes.
-Ai, que maravilha! Eu nem te
digo as coisas e você já adivinha! Melhor assim...
-Sabe, Cláudio... andei
reparando no Marcelo e em você.
-Que? Não entendi direito...
-Vocês já repararam como são
parecidos?
-Você acha? Eu não vejo essa
semelhança toda. Acho que a gente só tem em comum o fato de sermos
ruivos, o que tá longe de ser a coisa mais rara do mundo...
-Pode ser só uma impressão
boba minha, mas enfim... vamos começar a preparar esse jantar que
não deve faltar muito pra eles confirmarem que já estão vindo...
Os dois vão à cozinha e
começam a preparar o jantar, em clima de cumplicidade. CORTA A CENA.
CENA 4: Eva está concentrada
no computador finalizando a criação do site. Na tela aparece o
título “A Quem o Machismo Violentou Hoje”. Eva chama Renata.
-Amor, vem cá!
Renata vai até Eva.
-Fala, amor...
-O site acabou de ficar pronto
e já temos pelo menos sete relatos que entraram em dois minutos...
-Gente, tudo isso? Será que a
gente vai dar conta de publicar todos esses relatos no site?
-Com calma, a gente consegue
administrar tudo isso. O que não podemos fazer é ignorar os relatos
de tantas mulheres que sofreram e sofrem tanta violência diariamente
por culpa do machismo...
-Sim, mas se o volume de
relatos continuar a crescer, talvez fosse o caso de a gente colocar
na descrição do site que poderemos levar, sei lá, de vinte e
quatro a quarenta e oito horas para publicar todos os relatos.
-Verdade. E também tem a
possibilidade da gente receber falsos relatos ou até mesmo ameaças
de homens, mas nada disso pode nos intimidar. Entramos nessa luta e
vamos até o fim.
-Isso mesmo, Eva. Aliás...
que barulinhos são esses que não param de apitar?
-Chegaram mais vinte relatos.
Acho melhor a gente ler todos eles e separar os que serão publicados
ainda hoje...
As duas se concentram na
leitura dos relatos recebidos. CORTA A CENA.
CENA 5: Marcelo e Rafael
chegam apressadamente em casa e Márcio cumprimenta o filho.
-Que bom te ver mais cedo aqui
em casa, filho! Vim visitar sua mãe e acabo te encontrando aqui
ainda! - fala Márcio, animado.
-Você me desculpe, Márcio,
mas eu e o Rafa estamos em cima da hora pra se arrumar e ir na casa
do Cláudio pra jantar lá. A gente se fala melhor outra hora...
Marcelo e Rafael sobem
rapidamente ao quarto e enquanto Marcelo se arruma, Rafael aproveita
para pegar o celular do marido e confirmar com Cláudio que eles
estão a caminho da casa dele.
-Alô, Cláudio? Não... não.
Aqui é o Rafael. Marcelo tá se arrumando a toque de caixa agora. A
gente fez de tudo pra sair mais cedo dos estúdios, mas acabou que
nossos colegas acabaram errando o texto algumas vezes, coisa
corriqueira... mas estamos a caminho mesmo assim. Em menos de meia
hora a gente tá estourando aí em Santa Tereza, tá? Beijo, tchau...
Marcelo termina de se vestir.
-E então, amor... conseguiu
falar direitinho com o Cláudio?
-Sim.
-Ótimo... então você se
apresse agora que a gente tem que estar dentro do seu carro em menos
de dez minutos!
-Tá... muita calma nessa
hora. O Cláudio tava bem tranquilo ao telefone e entende que a gente
ficou preso nas gravações. Se a gente demorar um pouquinho mais de
meia hora pra chegar não vai ser problema nenhum.
-Ai, desculpa, amor... é que
confesso: estou bem nervoso com esse plano que a gente vai tentar
colocar em prática hoje...
-Confia que vai dar certo...
Rafael começa a se arrumar.
CORTA A CENA.
CENA 6: Instantes depois,
Marcelo e Rafael descem as escadas e Márcio tenta conversar um pouco
com o filho.
-Como foi o seu dia, filho?
-Foi bom, Márcio. - fala
Marcelo, secamente.
Riva fica constrangida com a
rispidez do filho, mas disfarça e tenta contemporizar.
-Deve ter sido um dia bastante
cheio, com o ritmo das gravações, não é? Hoje eu não gravei
tanto, mas sei que deixa a gente com a cabeça a mil, não é, filho?
- fala Riva.
-É isso, mãe. Vocês
desculpem, mas a gente tá com um pouco de pressa... - fala Marcelo.
-É, amor, mas não precisa
falar desse jeito com eles, né? - repreende Rafael.
-Eu só queria saber como foi
seu dia, meu filho. Vim aqui visitar Riva e aproveitar pra paparicar
um pouco o seu irmãozinho, que é um bebê adorável. Mas entendo se
você estiver com pressa. - fala Márcio.
-Olha só, cara... eu gosto de
você, você tá se mostrando uma pessoa legal e se esforçando em
ser um bom pai, mas vamos combinar uma coisa? Não força a barra. Eu
não te dei liberdade pra ficar me perguntando como foi o meu dia ou
o que eu fiz durante o dia. Isso é da minha conta e da conta de quem
participa todos os dias da minha vida. Agora dá licença que eu tou
indo pro carro... - fala Marcelo, indo na frente de Rafael.
Rafael e Riva ficam
completamente constrangidos e Márcio, triste, mas nada diz. Rafael
vai atrás de Marcelo.
-Marcelo, que grosseria foi
aquela com o seu pai?
-Ai, amor... dá um desconto.
Você sabe que estou numa pilha de nervos e ainda me deparo com o
Márcio! Sabendo que ele pode também ser pai do Cláudio. Entende
agora?
-Você poderia pelo menos
tentar disfarçar um pouco melhor. Sua mãe ficou morrendo de
constrangimento diante do seu pai e eu também!
-Tá... eu errei. Desculpa.
-Você deveria pedir desculpas
pro seu pai, não pra mim. Mas isso a gente resolve depois. Vamos pro
Cláudio antes que você tenha um troço...
Rafael arranca com o carro.
CORTA A CENA.
CENA 7: Valentim se queixa com
Mara sobre a ausência de pistas concretas sobre o chefe.
-Sabe, amor... chega uma hora
que a gente cansa. Dá vontade de chutar o balde. De repente eu tou
ficando velho e quanto mais velho, mais impaciente eu fico com esse
tempo todo que a gente dá voltas e não chega a lugar nenhum sobre
quem é esse “Chefe”.
-Sinceramente, Valentim...
quem te viu e quem te vê! Você alguma vez nessa vida foi de
entregar as suas investigações pra outros na Polícia Federal? Não!
Você lembra daquele caso de mais de vinte anos atrás que envolvia
tráfico de drogas em colégio particular? Foram mais de quatro anos
de investigação até a gente chegar à traficante, que era a
professora de matemática. Em algum momento você pensou em desistir?
Me responde!
-Não... eu não disse que vou
desistir. A gente precisa desbaratar de uma vez por todas essa
facção. Pegar o chefe dela vai ser um golpe duríssimo para eles e,
se for uma pessoa jovem, provavelmente não há ninguém na linha
sucessória. O problema é que quem eu já coloquei na lista de
suspeitos acaba se revelando inocente em algum momento.
-E por que você não refaz a
lista? Se nenhum dos suspeitos é de fato o “Chefe”, talvez
estejamos procurando nos alvos errados...
-É isso mesmo que vou fazer.
Você me ajuda a refazer a lista de suspeitos?
-Claro, querido!
Mara começa a sugerir
suspeitos a Valentim. CORTA A CENA.
CENA 8: Horas depois, já após
o jantar, Marcelo e Rafael conversam animadamente com Bruno e
Cláudio. Rafael olha para o relógio do celular e vê que já passou
das dez e faz um sinal para Marcelo, discretamente, indicando que
plano deles deve ser colocado em prática. Marcelo entende o recado e
começa a se retorcer no sofá.
-Ai, gente... a comida tava
uma delícia, mas acho que alguma coisa não me bateu legal... -
finge Marcelo.
-Será que é alguma alergia?
Ai gente, nunca soube de nada... - preocupa-se Cláudio.
-Eu não sei, viado... senti
uma pontada e agora me sinto tonto... - mente Marcelo, se levantando
e fingindo perder o equilíbrio. Rafael o leva até o banheiro.
-Fiquem aqui que eu cuido
dele, tá? - fala Rafael.
Os dois entram no banheiro e
Marcelo pega a escova de cabelo.
-É isso aqui que vai nos
revelar a verdade! - afirma Marcelo.
FIM DO CAPÍTULO 78.
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