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sábado, 20 de agosto de 2016

CAPÍTULO 84

CENA 1: Mara invade a sala e os homens se assustam.
-Desculpe interromper essa conversa concentrada de vocês, mas acho que o que vocês andaram conversando pode esclarecer muitas coisas. Ah, antes que eu me esqueça, sou Mara, investigadora. E aconselho que vocês falem tudo o que puderem falar, porque eu ouvi a parte que vocês disseram que o “Chefe” pode eliminar vocês. Quem sabe com uma delação premiada, vocês consigam reduzir a pena de vocês quando forem a julgamento, não é mesmo?
-Desculpa, mas acho que a senhora não sabe do que tá falando. Deu pra ouvir atrás da porta agora? - fala um dos homens.
-Tou vendo que a ficha de vocês é limpa, mesmo. Nunca foram presos antes. Vou explicar. Esse espelho que vocês estão vendo é um espelho falso. Do outro lado nós enxergamos vocês e aqueles pequenos aparelhos nos cantos do teto são microfones. Vocês definitivamente são réus primários... não foram capazes nem de registrar a entrada dessa sala. Por isso mesmo que eu reforço que vocês terão dois atenuantes: o fato de serem réus primários e a delação premiada. Da condenação vocês não tem como escapar porque foram presos por estupro e confessaram o crime.
-Dona... vai por mim... é melhor a senhora não meter o nariz onde não deve. Tem gente graúda que tá interessada em eliminar a gente se a gente falar demais. - fala o outro homem.
-Vocês pensam que eu não sei? Essa facção está sendo investigada há muito tempo. Também sei que vocês são peixe pequeno, os primeiros a cair. Mas estou garantindo que esse processo tem meios legais de correr em segredo de justiça. Tenho meus contatos e posso garantir a segurança de vocês.
-Dona Mara, se a gente pudesse falar, a gente tá tinha falado. Só que se a gente falar, alguém vem aqui acabar com a gente. Você não tá entendendo, investigadora: tem gente dessa facção espalhada por tudo quanto é canto... na política, nas escolas, nas empresas, na polícia. Quem é que me garante que não tem irmão da facção aqui dentro? - fala um dos homens.
-Sabemos disso. É por isso mesmo que vocês serão transferidos para o presídio. Nem mesmo essa delegacia é um lugar seguro. Já entendi que vocês não estupraram as garotas por serem maníacos. Vocês fizeram isso por ordens superiores... ordens do “Chefe”. Tudo isso foi planejado, orquestrado, não foi?
-A gente não pode falar sobre isso, investigadora. Se a gente abrir a boca, a gente morre. - fala o outro homem.
-Vou dar um tempo pra vocês pensarem. Vejo vocês no presídio quando a transferência for concluída. Mas não tenho dúvidas de que vocês foram muito bem pagos pra jogar essa cortina de fumaça no foco das investigações. Vocês podem até não colaborar, mas chegaremos ao “Chefe”.
Mara deixa a sala. CORTA A CENA.

CENA 2: Na manhã do dia seguinte, encorajado por Rafael, Marcelo resolve ligar para seu pai.
-Alô... Márcio? Sou eu, Marcelo.
-Como é bom ouvir sua voz, meu filho. Mas me diga, por que está me ligando?
-Eu acho que nós precisamos conversar... esclarecer as coisas, de uma vez por todas.
-Fico feliz demais por saber que você quer conversar comigo. Eu estava esperando por isso!
-Ainda é muito cedo pra se alegrar. Estou disposto a te ouvir. Mas daí a acreditar no que você me disser, há uma distância. Andei conversando com meu marido e concluímos que você parecia estar sendo sincero quando soube sobre Cláudio. Digamos que eu esteja te dando esse voto de confiança... afinal de contas, ninguém treme do jeito que você tremeu por fingimento. Pelo menos, prefiro acreditar que não.
-Você pode ter certeza disso, meu filho... eu realmente não sabia que meu filho perdido, seu irmão, era o Cláudio.
-Que seja. Guarde as suas explicações na mente e me conte tudo quando vier aqui.
-Pode ser hoje?
-Deve. Você tem como estar aqui por volta das dezoito horas?
-Claro que tenho. Vou chegar até antes da hora se for o caso.
-Não precisa. Se eu disse dezoito, é dezoito. Nos vemos mais tarde, combinado? Até mais.
Marcelo desliga e Rafael o apoia.
-Isso aí amor... você foi sincero e falou o que precisava dizer. Agora é esperar... e quando o seu pai estiver aqui, ouvir o que ele tem a dizer... completamente desarmado, de preferência.
-Eu vou tentar o meu melhor, Rafa... confesso que no fundo eu sinto uma afeição por esse cara... bem ou mal, ele ainda é meu pai. E pai do Cláudio também... ainda é difícil colocar isso na cabeça e encarar como uma realidade...
Rafael afaga Marcelo. CORTA A CENA.

CENA 3: Márcio vai à casa de Raquel e a encontra quase de saída.
-Ai... desculpa vir sem avisar, eu não sabia que a senhora tava quase de saída.
-Relaxa, querido. Eu não tenho tanta pressa assim. Eu passo um cafézinho, você quer? Ainda tenho uns quinze minutos de folga, se você estiver precisando conversar.
-Então... é que o meu filho me chamou pra ir mais tarde lá na mansão. Diz que quer conversar comigo. Nem preciso dizer pra senhora que tou tremendo feito vara verde, né?
-Dá pra ver, Márcio... acho que você precisa é de um chá. Café vai te deixar mais acelerado ainda...
-Desculpa estar te dando esse trabalho, dona Raquel... mas você é a única pessoa que tenho nessa vida. Nesses anos todos, a senhora foi uma verdadeira mãe pra mim.
-Que Deus me perdoe pelo que vou dizer, mas no meu coração eu te sinto mais como meu filho que a Suzanne. Sabe, Márcio... você é um homem bom e eu sempre soube disso... mesmo quando brigamos, quando você ainda era um garoto. Levei algum tempo pra perceber que era a Suzanne que te manipulava e não o contrário.
-Eu não gosto quando você fala assim da Suzanne... você sabe que ela é a única mulher que amei de verdade na vida.
-Mas meu filho, você não pode se deixar cegar pelo resto da sua vida por causa desse amor... Suzanne não presta. Ela já te levou pro buraco uma vez e eu temo que ela não teria pena de fazer tudo de novo, com você ou com qualquer um que atravessar o caminho dela.
-Eu me recuso a acreditar, dona Raquel. A Suzanne não pode ser feita só de maldade.
-Mas você precisa enxergar a verdade sobre ela. Talvez nem seja maldade... talvez ela não tenha consciência da gravidade das coisas que faz...
Raquel serve o chá de Márcio. CORTA A CENA.

CENA 4: Marcelo está na sala da mansão na companhia de Riva, Marion, Valquíria, Vicente, Rafael, Mariana e Ivan.
-Então foi isso, gente. Eu decidi chamar o Márcio pra ter uma conversa definitiva com ele, pra saber o que ele tem a dizer, tim tim por tim tim. - fala Marcelo.
-Eu esperava mesmo que você fosse tomar essa atitude, filho. Você sempre foi um menino muito justo, acima de tudo... - estimula Riva.
-É muito bom ver você tendo essa maturidade, sendo tão jovem, meu querido... isso prova que você é uma pessoa evoluída... - fala Valquíria.
-Ai... deixa disso, bisa. Não sou tudo isso... a gente é humano, a gente erra tentando acertar. A única coisa que faço é tentar sempre ver onde errei e tentar consertar... - fala Marcelo.
-Bem que o Haroldo podia estar aqui também. Ele é ótimo para falar coisas positivas e animar a gente... - fala Rafael.
-Ih, duvido muito, mano. Do jeito que ele tá enrabichado pela Laura, é como se ele estivesse praticamente morando lá. Só falta pegar as malas e se mudar de vez... - fala Mariana.
-Marcelo, querido... pode contar com nosso total apoio. Se você preferir, te deixamos a sós com seu pai quando ele chegar. - fala Ivan.
-Se vocês não forem se incomodar... prefiro que seja assim. - responde Marcelo.
Todos seguem conversando. CORTA A CENA.

CENA 5: Horas se passam. Márcio já está a sós com Marcelo na sala da mansão, no meio da conversa.
-Acho que chegou a hora de você explicar direitinho tudo. Eu só peço que você seja o mais sincero possível comigo. Quem sabe assim eu ainda consiga te chamar de pai...
-Eu não tenho motivo pra te mentir. Você sabe que já disse toda a verdade antes sobre o que fiz com sua mãe quando ela estava grávida de você e o quanto me arrependo disso. Mas vamos ao que interessa... antes de eu e sua mãe ficarmos juntos, eu tinha essa outra mulher. A única que eu sempre amei por toda a vida. Não posso dizer quem ela é porque hoje eu comecei a entender que ela é uma pessoa perigosa, mas enfim... o fato é que ela engravidou de mim em noventa e quatro. Ela tinha só catorze anos e eu, dezessete. Ela escondeu a gravidez de mim enquanto podia... quando chegou mais ou menos no terceiro mês a barriga começou a aparecer e ela me contou, sem saída. Disse que queria abortar, mas naquela altura da gravidez seria um risco imenso ela fazer um aborto clandestino e eu quis ser pai assim que soube que ela esperava uma criança minha... eu desejei esse filho, mas ela disse que só levaria a gravidez ao fim pra não morrer numa clínica clandestina de aborto. Passei meses, até o último instante, tentando convencer a ela não dar nosso filho pra adoção. Eu não podia sequer falar com a mãe dela porque ela escondeu a gravidez de todo mundo e me proibiu de falar no assunto. Ela fez tudo pra eu perder qualquer contato ou notícia do nosso filho... acredito que ela não saiba realmente do paradeiro do Cláudio. Eu sofri anos por isso... esperando pelo dia que eu teria a sorte de encontrar o filho que eu só vi recém-nascido. Quando ela soube que sua mãe tinha engravidado de mim, ela ficou possessa de raiva. Mandou eu abandonar a Riva e levar a herança junto... ela sempre foi muito gananciosa, queria tudo do bom e do melhor, sem ter que trabalhar. E eu, sempre cego de amor, fiz tudo o que ela quis. Me arrependo de ter sido tão submisso... e isso tudo é verdade... eu preciso que você acredite em mim e me perdoe, filho.
-Sabe, Márcio... essa história parece surreal demais. Mas você disse tudo olhando nos meus olhos... e eu entendi que é tudo verdade. É claro que eu te perdoo... só não sei quanto tempo o Cláudio vai levar pra fazer o mesmo.
Os dois se abraçam, emocionados. CORTA A CENA.

CENA 6: A delegada Lauriane chama os estupradores de Eva e Renata para prestarem novo depoimento.
-Rapazes, eu preciso que vocês colaborem com o trabalho da polícia. Antes da transferência de vocês, eu preciso saber informações sobre essa facção que vocês trabalharam. - fala a delegada.
-A gente não pode falar, delegada. Se a gente abrir o bico, a gente morre. E se eu fosse você, abria o olho com os seus colegas. Pode ter gente dentro dessa delegacia que tá trabalhando pro chefe e contra vocês, atrapalhando tudo. - fala um dos homens.
-De qualquer forma, vocês só tem a ganhar sendo transferidos para o presídio de segurança máxima. Pensem nisso: vocês terão a garantia de toda a segurança possível. - prossegue a delegada.
-Não seja inocente, delegada. Cê acha que nesse presídio não entra celular? Não custa nada pro chefe ligar, oferecer uma boa grana pra um apenado e mandar fazer o serviço de apagar a gente. Fica como “briga com morte” uma coisa dessas e ninguém investiga. Se a gente abre o bico, é isso que acontece com a gente... - fala o outro homem.
-Estou vendo que não vai ser nada fácil, mesmo. Guarda, pode levar os dois pra cela, de novo! - ordena a delegada, frustrada.
CORTA A CENA.

CENA 7: Victor e Diogo voltam da Espanha e Victor fica feliz por estar novamente em casa.
-Ai, amor... a Espanha é realmente linda, mas senti falta do nosso cafofo! - fala Victor.
-Né não? Pelo menos nos próximos dias a gente vai poder matar as saudades da nossa casinha antes de decidir o roteiro da nossa próxima viagem...
-Ah, me diz uma coisa: você vai ligar pro Valentim? Quero falar com ele, pra contar que não tive sequer princípio de crise nesse período.
-Precisa ligar pra ele? Eu acho que a gente podia chegar lá de surpresa. Sabe como é, de repente a gente fica sem ter como marcar horário suficiente pra eu levar um papo com ele antes de você se consultar com ele.
-Mas pra que isso, Diogo?
-Ah, tem coisas que são papo entre eu e ele. Mas não se preocupa, viu amor? A gente não está preparando o seu vodu nem fazendo ritual satânico! - brinca Diogo.
-Bobo.
-Posso ser bobo, mas bem que você adora um bobo, né não?
-E gosto mesmo! Mas enfim... que saudade eu tava das nossas coisas! A gente podia comprar umas coisas gostosas pro jantar, né?
-Eu acho ótima a ideia, mas acho que agora é uma boa hora da gente ter tempo de correr e ainda falar com o doutor Valentim. Vamos?
-Claro!
Os dois partem do apartamento. CORTA A CENA.

CENA 8: Valentim volta de uma pausa para o café e se surpreende ao ver Victor.
-Você não me disse que voltava de viagem tão cedo, Victor! Bom te ver. Diogo não veio com você?
-Veio, mas está te esperando dentro do consultório. Disse que precisa conversar com você antes...
-Está certo. Em uns quinze minutos eu te chamo, ok?
Valentim entra no consultório e flagra Diogo olhando para um papel, perplexo.
-Não mexa nisso, Diogo! Isso é documento sigiloso!
-Sigiloso? Como é que você tem a capacidade de fazer isso comigo e me colocar na lista de suspeitos? - confronta Diogo. FIM DO CAPÍTULO 84.

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