CENA 1: Mara invade a sala e os
homens se assustam.
-Desculpe interromper essa
conversa concentrada de vocês, mas acho que o que vocês andaram
conversando pode esclarecer muitas coisas. Ah, antes que eu me
esqueça, sou Mara, investigadora. E aconselho que vocês falem tudo
o que puderem falar, porque eu ouvi a parte que vocês disseram que o
“Chefe” pode eliminar vocês. Quem sabe com uma delação
premiada, vocês consigam reduzir a pena de vocês quando forem a
julgamento, não é mesmo?
-Desculpa, mas acho que a
senhora não sabe do que tá falando. Deu pra ouvir atrás da porta
agora? - fala um dos homens.
-Tou vendo que a ficha de
vocês é limpa, mesmo. Nunca foram presos antes. Vou explicar. Esse
espelho que vocês estão vendo é um espelho falso. Do outro lado
nós enxergamos vocês e aqueles pequenos aparelhos nos cantos do
teto são microfones. Vocês definitivamente são réus primários...
não foram capazes nem de registrar a entrada dessa sala. Por isso
mesmo que eu reforço que vocês terão dois atenuantes: o fato de
serem réus primários e a delação premiada. Da condenação vocês
não tem como escapar porque foram presos por estupro e confessaram o
crime.
-Dona... vai por mim... é
melhor a senhora não meter o nariz onde não deve. Tem gente graúda
que tá interessada em eliminar a gente se a gente falar demais. -
fala o outro homem.
-Vocês pensam que eu não
sei? Essa facção está sendo investigada há muito tempo. Também
sei que vocês são peixe pequeno, os primeiros a cair. Mas estou
garantindo que esse processo tem meios legais de correr em segredo de
justiça. Tenho meus contatos e posso garantir a segurança de vocês.
-Dona Mara, se a gente pudesse
falar, a gente tá tinha falado. Só que se a gente falar, alguém
vem aqui acabar com a gente. Você não tá entendendo,
investigadora: tem gente dessa facção espalhada por tudo quanto é
canto... na política, nas escolas, nas empresas, na polícia. Quem é
que me garante que não tem irmão da facção aqui dentro? - fala um
dos homens.
-Sabemos disso. É por isso
mesmo que vocês serão transferidos para o presídio. Nem mesmo essa
delegacia é um lugar seguro. Já entendi que vocês não estupraram
as garotas por serem maníacos. Vocês fizeram isso por ordens
superiores... ordens do “Chefe”. Tudo isso foi planejado,
orquestrado, não foi?
-A gente não pode falar sobre
isso, investigadora. Se a gente abrir a boca, a gente morre. - fala o
outro homem.
-Vou dar um tempo pra vocês
pensarem. Vejo vocês no presídio quando a transferência for
concluída. Mas não tenho dúvidas de que vocês foram muito bem
pagos pra jogar essa cortina de fumaça no foco das investigações.
Vocês podem até não colaborar, mas chegaremos ao “Chefe”.
Mara deixa a sala. CORTA A
CENA.
CENA 2: Na manhã do dia
seguinte, encorajado por Rafael, Marcelo resolve ligar para seu pai.
-Alô... Márcio? Sou eu,
Marcelo.
-Como é bom ouvir sua voz,
meu filho. Mas me diga, por que está me ligando?
-Eu acho que nós precisamos
conversar... esclarecer as coisas, de uma vez por todas.
-Fico feliz demais por saber
que você quer conversar comigo. Eu estava esperando por isso!
-Ainda é muito cedo pra se
alegrar. Estou disposto a te ouvir. Mas daí a acreditar no que você
me disser, há uma distância. Andei conversando com meu marido e
concluímos que você parecia estar sendo sincero quando soube sobre
Cláudio. Digamos que eu esteja te dando esse voto de confiança...
afinal de contas, ninguém treme do jeito que você tremeu por
fingimento. Pelo menos, prefiro acreditar que não.
-Você pode ter certeza disso,
meu filho... eu realmente não sabia que meu filho perdido, seu
irmão, era o Cláudio.
-Que seja. Guarde as suas
explicações na mente e me conte tudo quando vier aqui.
-Pode ser hoje?
-Deve. Você tem como estar
aqui por volta das dezoito horas?
-Claro que tenho. Vou chegar
até antes da hora se for o caso.
-Não precisa. Se eu disse
dezoito, é dezoito. Nos vemos mais tarde, combinado? Até mais.
Marcelo desliga e Rafael o
apoia.
-Isso aí amor... você foi
sincero e falou o que precisava dizer. Agora é esperar... e quando o
seu pai estiver aqui, ouvir o que ele tem a dizer... completamente
desarmado, de preferência.
-Eu vou tentar o meu melhor,
Rafa... confesso que no fundo eu sinto uma afeição por esse cara...
bem ou mal, ele ainda é meu pai. E pai do Cláudio também... ainda
é difícil colocar isso na cabeça e encarar como uma realidade...
Rafael afaga Marcelo. CORTA A
CENA.
CENA 3: Márcio vai à casa de
Raquel e a encontra quase de saída.
-Ai... desculpa vir sem
avisar, eu não sabia que a senhora tava quase de saída.
-Relaxa, querido. Eu não
tenho tanta pressa assim. Eu passo um cafézinho, você quer? Ainda
tenho uns quinze minutos de folga, se você estiver precisando
conversar.
-Então... é que o meu filho
me chamou pra ir mais tarde lá na mansão. Diz que quer conversar
comigo. Nem preciso dizer pra senhora que tou tremendo feito vara
verde, né?
-Dá pra ver, Márcio... acho
que você precisa é de um chá. Café vai te deixar mais acelerado
ainda...
-Desculpa estar te dando esse
trabalho, dona Raquel... mas você é a única pessoa que tenho nessa
vida. Nesses anos todos, a senhora foi uma verdadeira mãe pra mim.
-Que Deus me perdoe pelo que
vou dizer, mas no meu coração eu te sinto mais como meu filho que a
Suzanne. Sabe, Márcio... você é um homem bom e eu sempre soube
disso... mesmo quando brigamos, quando você ainda era um garoto.
Levei algum tempo pra perceber que era a Suzanne que te manipulava e
não o contrário.
-Eu não gosto quando você
fala assim da Suzanne... você sabe que ela é a única mulher que
amei de verdade na vida.
-Mas meu filho, você não
pode se deixar cegar pelo resto da sua vida por causa desse amor...
Suzanne não presta. Ela já te levou pro buraco uma vez e eu temo
que ela não teria pena de fazer tudo de novo, com você ou com
qualquer um que atravessar o caminho dela.
-Eu me recuso a acreditar,
dona Raquel. A Suzanne não pode ser feita só de maldade.
-Mas você precisa enxergar a
verdade sobre ela. Talvez nem seja maldade... talvez ela não tenha
consciência da gravidade das coisas que faz...
Raquel serve o chá de Márcio.
CORTA A CENA.
CENA 4: Marcelo está na sala
da mansão na companhia de Riva, Marion, Valquíria, Vicente, Rafael,
Mariana e Ivan.
-Então foi isso, gente. Eu
decidi chamar o Márcio pra ter uma conversa definitiva com ele, pra
saber o que ele tem a dizer, tim tim por tim tim. - fala Marcelo.
-Eu esperava mesmo que você
fosse tomar essa atitude, filho. Você sempre foi um menino muito
justo, acima de tudo... - estimula Riva.
-É muito bom ver você tendo
essa maturidade, sendo tão jovem, meu querido... isso prova que você
é uma pessoa evoluída... - fala Valquíria.
-Ai... deixa disso, bisa. Não
sou tudo isso... a gente é humano, a gente erra tentando acertar. A
única coisa que faço é tentar sempre ver onde errei e tentar
consertar... - fala Marcelo.
-Bem que o Haroldo podia estar
aqui também. Ele é ótimo para falar coisas positivas e animar a
gente... - fala Rafael.
-Ih, duvido muito, mano. Do
jeito que ele tá enrabichado pela Laura, é como se ele estivesse
praticamente morando lá. Só falta pegar as malas e se mudar de
vez... - fala Mariana.
-Marcelo, querido... pode
contar com nosso total apoio. Se você preferir, te deixamos a sós
com seu pai quando ele chegar. - fala Ivan.
-Se vocês não forem se
incomodar... prefiro que seja assim. - responde Marcelo.
Todos seguem conversando.
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas se passam.
Márcio já está a sós com Marcelo na sala da mansão, no meio da
conversa.
-Acho que chegou a hora de
você explicar direitinho tudo. Eu só peço que você seja o mais
sincero possível comigo. Quem sabe assim eu ainda consiga te chamar
de pai...
-Eu não tenho motivo pra te
mentir. Você sabe que já disse toda a verdade antes sobre o que fiz
com sua mãe quando ela estava grávida de você e o quanto me
arrependo disso. Mas vamos ao que interessa... antes de eu e sua mãe
ficarmos juntos, eu tinha essa outra mulher. A única que eu sempre
amei por toda a vida. Não posso dizer quem ela é porque hoje eu
comecei a entender que ela é uma pessoa perigosa, mas enfim... o
fato é que ela engravidou de mim em noventa e quatro. Ela tinha só
catorze anos e eu, dezessete. Ela escondeu a gravidez de mim enquanto
podia... quando chegou mais ou menos no terceiro mês a barriga
começou a aparecer e ela me contou, sem saída. Disse que queria
abortar, mas naquela altura da gravidez seria um risco imenso ela
fazer um aborto clandestino e eu quis ser pai assim que soube que ela
esperava uma criança minha... eu desejei esse filho, mas ela disse
que só levaria a gravidez ao fim pra não morrer numa clínica
clandestina de aborto. Passei meses, até o último instante,
tentando convencer a ela não dar nosso filho pra adoção. Eu não
podia sequer falar com a mãe dela porque ela escondeu a gravidez de
todo mundo e me proibiu de falar no assunto. Ela fez tudo pra eu
perder qualquer contato ou notícia do nosso filho... acredito que
ela não saiba realmente do paradeiro do Cláudio. Eu sofri anos por
isso... esperando pelo dia que eu teria a sorte de encontrar o filho
que eu só vi recém-nascido. Quando ela soube que sua mãe tinha
engravidado de mim, ela ficou possessa de raiva. Mandou eu abandonar
a Riva e levar a herança junto... ela sempre foi muito gananciosa,
queria tudo do bom e do melhor, sem ter que trabalhar. E eu, sempre
cego de amor, fiz tudo o que ela quis. Me arrependo de ter sido tão
submisso... e isso tudo é verdade... eu preciso que você acredite
em mim e me perdoe, filho.
-Sabe, Márcio... essa
história parece surreal demais. Mas você disse tudo olhando nos
meus olhos... e eu entendi que é tudo verdade. É claro que eu te
perdoo... só não sei quanto tempo o Cláudio vai levar pra fazer o
mesmo.
Os dois se abraçam,
emocionados. CORTA A CENA.
CENA 6: A delegada Lauriane
chama os estupradores de Eva e Renata para prestarem novo depoimento.
-Rapazes, eu preciso que vocês
colaborem com o trabalho da polícia. Antes da transferência de
vocês, eu preciso saber informações sobre essa facção que vocês
trabalharam. - fala a delegada.
-A gente não pode falar,
delegada. Se a gente abrir o bico, a gente morre. E se eu fosse você,
abria o olho com os seus colegas. Pode ter gente dentro dessa
delegacia que tá trabalhando pro chefe e contra vocês, atrapalhando
tudo. - fala um dos homens.
-De qualquer forma, vocês só
tem a ganhar sendo transferidos para o presídio de segurança
máxima. Pensem nisso: vocês terão a garantia de toda a segurança
possível. - prossegue a delegada.
-Não seja inocente, delegada.
Cê acha que nesse presídio não entra celular? Não custa nada pro
chefe ligar, oferecer uma boa grana pra um apenado e mandar fazer o
serviço de apagar a gente. Fica como “briga com morte” uma coisa
dessas e ninguém investiga. Se a gente abre o bico, é isso que
acontece com a gente... - fala o outro homem.
-Estou vendo que não vai ser
nada fácil, mesmo. Guarda, pode levar os dois pra cela, de novo! -
ordena a delegada, frustrada.
CORTA A CENA.
CENA 7: Victor e Diogo voltam
da Espanha e Victor fica feliz por estar novamente em casa.
-Ai, amor... a Espanha é
realmente linda, mas senti falta do nosso cafofo! - fala Victor.
-Né não? Pelo menos nos
próximos dias a gente vai poder matar as saudades da nossa casinha
antes de decidir o roteiro da nossa próxima viagem...
-Ah, me diz uma coisa: você
vai ligar pro Valentim? Quero falar com ele, pra contar que não tive
sequer princípio de crise nesse período.
-Precisa ligar pra ele? Eu
acho que a gente podia chegar lá de surpresa. Sabe como é, de
repente a gente fica sem ter como marcar horário suficiente pra eu
levar um papo com ele antes de você se consultar com ele.
-Mas pra que isso, Diogo?
-Ah, tem coisas que são papo
entre eu e ele. Mas não se preocupa, viu amor? A gente não está
preparando o seu vodu nem fazendo ritual satânico! - brinca Diogo.
-Bobo.
-Posso ser bobo, mas bem que
você adora um bobo, né não?
-E gosto mesmo! Mas enfim...
que saudade eu tava das nossas coisas! A gente podia comprar umas
coisas gostosas pro jantar, né?
-Eu acho ótima a ideia, mas
acho que agora é uma boa hora da gente ter tempo de correr e ainda
falar com o doutor Valentim. Vamos?
-Claro!
Os dois partem do apartamento.
CORTA A CENA.
CENA 8: Valentim volta de uma
pausa para o café e se surpreende ao ver Victor.
-Você não me disse que
voltava de viagem tão cedo, Victor! Bom te ver. Diogo não veio com
você?
-Veio, mas está te esperando
dentro do consultório. Disse que precisa conversar com você
antes...
-Está certo. Em uns quinze
minutos eu te chamo, ok?
Valentim entra no consultório
e flagra Diogo olhando para um papel, perplexo.
-Não mexa nisso, Diogo! Isso
é documento sigiloso!
-Sigiloso? Como é que você
tem a capacidade de fazer isso comigo e me colocar na lista de
suspeitos? - confronta Diogo. FIM DO CAPÍTULO 84.
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