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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

CAPÍTULO 83

CENA 1: Eva se anima, mas fica apreensiva.
-E a gente vai agora? Eu não sei se eu tenho coragem de olhar pra cara daqueles vermes, isso se os caras presos realmente forem eles...
-Amor... a gente vai precisar reconhecer os estupradores. Pode ser que não sejam eles, mas a delegada nos ligou antes que fosse lavrada a intimação pra gente comparecer lá... isso só aconteceria amanhã. Ela me disse que eles resistiram à prisão e ficam ameaçando as mulheres que trabalam lá. A gente precisa ir de uma vez, para que eles possam ser, caso sejam eles mesmos, transferidos para um presídio e aguardar julgamento.
-Tá. A gente vai. Só me ajuda a colocar o feijão no congelador pra gente não perder o jantar, depois?
-Claro!
As duas se aprontam rapidamente.
-Vamos, Eva... chegou a hora da verdade.
Renata e Eva deixam o apartamento. CORTA A CENA.

CENA 2: Eva e Renata chegam à delegacia da mulher. A delegada se apresenta às duas.
-Bom dia. Vocês devem ser Renata e Eva. Eu sou Lauriane, a delegada titular. Preciso que vocês venham comigo até eles, para que me digam se os homens que prendemos são mesmos os caras que violentaram vocês. Venham comigo, por favor... - fala a delegada.
Eva e Renata seguem a delegada Lauriane e chegam até onde estão os homens, que não podem enxergar elas, mas elas os enxergam através do vidro. Renata sente seu sangue ferver de raiva.
-São eles mesmo, delegada! Os dois criminosos que estupraram a gente! - fala Renata, tentando conter sua raiva.
-Como é que vocês conseguiram chegar a eles e prender? - questiona Eva.
-Estava havendo uma festa na Barra da Tijuca. Festa de gente fina. Uma das convidadas dessa festa ligou para cá, denunciando que os dois rapazes estavam com um comportamento suspeito e que ela temia que eles dessem boa-noite Cinderela em alguma das mulheres que estavam nessa festa. Quando chegamos ao local da festa, eles tentaram fugir da revista, mas acabaram sendo revistados de qualquer maneira. Foi aí que encontramos em seus bolsos uma série de calmantes e ansiolíticos potentes, confirmando a suspeita da denunciante. Se eles não tivessem sido pegos a tempo, provavelmente eles teriam estuprado mais.
-Isso é chocante! A cada dia fico com mais certeza que a melhor coisa que podíamos fazer era abrir essa campanha para denunciar toda e qualquer violência contra a mulher. Fico imaginando quantos desses ainda estão soltos por aí, sem a polícia nem suspeitar dos crimes que eles cometem... - fala Eva.
-Bem, agora que vocês confirmaram que se tratam deles mesmo, eu vou encaminhar os dois para serem transferidos para o presídio no máximo em dois dias, para que eles aguardem o julgamento por lá e sem chance de fuga. - esclarece a delegada.
-Ótimo! Vamos precisar prestar depoimento, ainda? - pergunta Renata.
-Não vai mais ser necessário. Vocês estão liberadas. Esse reconhecimento era fundamental para que eles possam ser autuados pelos crimes cometidos. Claro que ainda há outras acusações que recaem sobre eles, mas carecemos de provas. Obrigado por virem. Fiquem tranquilas, que esses dois não vão mais ameaçar vocês! - fala a delegada.
Eva e Renata deixam a delegacia. CORTA A CENA.

CENA 3: Mara percebe que Valentim está insatisfeito por não encontrar pistas concretas sobre o “Chefe”
-Tou vendo que você tá cansado de andar em círculos...
-E tou mesmo, Mara. Essa história parece que nunca tem fim. Quando a gente acha que encontrou finalmente uma pista quente, tudo desaparece como se fosse passe de mágica.
-Sabe o que eu pensei sobre um possível traço do perfil desse “Chefe”? Desculpe falar, eu sei que você é o psiquiatra aqui, mas... você se atentou ao fato de que a vaidade é um traço bem notável nas poucas ações do “Chefe” que conhecemos? E digo mais... essa vaidade pode se estender de tal forma que o sujeito, convencido de que atua bem, pode passar a imagem de pessoa ilibada, bondosa, acima de qualquer suspeita.
-Você tem razão, querida. Mas todos esses traços que você descreve me levam a suspeitar de uma pessoa que eu me sinto até culpado de suspeitar.
-Porque ele é seu amigo? Ora, Valentim! Mais de trinta anos nesse ofício e você fica na dúvida por causa de apego afetivo a uma pessoa? Menos, meu querido, bem menos. Qualquer pessoa pode ser suspeita e você sabe disso.
-Bem... sendo assim, só me resta colocar ele na lista de suspeitos.
-É o melhor que você faz nesse momento. Olha, eu sei que o ideal era ir afunilando a lista, mas... e se por acaso o real “Chefe” nem estiver nessa lista de suspeitos? O ideal talvez seja estender bem mais essa lista.
-Eu sei, Mara... o problema disso é que, se for esse cara que a gente tá pensando... ele pode ser o pior tipo de pessoa. Uma pessoa que é capaz de enganar a todos dissimulando vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana é tão psicopata quanto a Suzanne, por exemplo.
-É uma possibilidade que precisamos tratar como real...
Os dois seguem debatendo. CORTA A CENA.

CENA 4: Durante o sono, Valquíria se vê transportada para um sonho que a remete a lembranças reais do passado. O ano é 1980 e sua filha Marinete está grávida de sua neta Riva. As duas vão ao Rio de Janeiro fazer comprar para o enxoval de bebê e Valquíria vê uma gargantilha de ouro com um grande botão no centro que lhe chama a atenção.
-Filha, olha que linda essa joia! Não é de encher os olhos?
-Ah, mamãe... eu adoraria ter uma gargantilha dessas, mas já parou pra pensar no valor absurdo que isso daí deve ter?
-Eu me viro pra pagar. Essa garantilha é sua, tá decidido: eu vou comprar e você não me venha com reclamações.
-Mas mamãe, como que a gente vai pagar uma joia dessas? Eu tenho trabalhado menos por conta da gravidez...
-A sua gravidez já tá avançando um bocado, minha filha. Você nem deveria trabalhar. Se esqueceu que durante anos fui eu a ambulante? Eu volto a ser depois que a gente voltar pra Barra de São João. Até o fim da sua gravidez, você não trabalha. Eu sei como trazer bastante dinheiro pra dentro da nossa casa. Você fica cuidando da sua irmãzonha Marion, combinado?
-Desse jeito nem me arrisco a discutir. A senhora é tinhosa quando coloca uma coisa na cabeça.
Valquíria retira a gargantilha do mostruário e entrega à filha.
-Tome, minha filha... segure e coloque no seu pescoço. Ela é sua. No caminho de volta a gente tira uma foto sua 3 por 4 pra colocar dentro desse botão lindo.
Marinete segura, fascinada, sua gargantilha.
Valquíria acorda do sonho, emocionada. CORTA A CENA.
CENA 5: Riva está amamentando Lúcio quando Valquíria a procura no seu quarto.
-Bom dia, querida. Esse meu bisneto nunca para de ter fome, nossa!
-Puxou a mim, vó... que me milagre ver a senhora acordada tão cedo e sem estar trabalhando...
-Eu tive um sonho essa noite. Um sonho lindo... bem, na realidade não foi sonho. Enquanto eu dormia eu revivi um momento das vésperas do natal de 1980...
-E o que foi vivido de tão especial nas vésperas desse natal?
-Sua mãe estava grávida de você e nós fomos ao Rio comprar as coisas para preparar seu enxoval. Foi quando eu vi a gargantilha que o Márcio te roubou quando fugiu em noventa e seis... Marinete, sua mãe, ficou maravilhada e eu decidi comprar aquela joia linda e dar de presente a ela. Foi um sufoco daqueles pra mim, ter de trabalhar dobrado até a gravidez da Marinete acabar e você nascer, em maio do outro ano. Mas aquela cena, da sua mãe fascinada segurando aquela gargantilha, pela primeira vez na vida, antes de colocar no pescoço... é uma das coisas mais emocionantes que eu vi. No caminho de volta a gente tirou uma foto três por quatro dela e colocamos dentro do botão. Sua mãe disse que um dia a gargantilha seria sua, quando você já fosse uma mulher feita. Ela não teve tempo de te ver crescer e se tornar essa mulher forte que você se tornou...
Riva se emociona fortemente e abraça a avó.
-Mas me deu a gargantilha antes de morrer. Me dói muito não ter mais essa lembrança dela... mas fazer o que. As melhores lembranças estão nos nossos corações...
Valquíria paparica o bisneto. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas depois, Valentim e Mara estão no camarim da companhia de teatro e Valentim começa a falar.
-Mara, você vá me desculpar, eu entendo que seu embasamento argumentativo foi consistente pra eu incluir aquele cara na lista de suspeitos, mas... a gente precisa investigar é o passado do Márcio. Não podemos esquecer que ele também é um dos suspeitos.
-Que seja, Valentim. Você tem razão... tem muita ponta solta, muita história mal contada nessa coisa de ele ser pai do Cláudio e do Cláudio ser irmão do Marcelo. Pode mesmo ser que ele tenha alguma ligação com essa facção, mas ainda assim, não acredito que tenhamos indícios de que ele seja o chefe. Ele não tem nem de longe o tipo físico do homem que flagramos disfarçado mais de uma vez...
-Esse homem ou esses homens podem ser testas de ferro, Mara. Precisamos saber mais do passado de Márcio.
-Tá certo. Mais tarde a gente vê isso. Agora preciso voltar pra preparar os atores.
-Mara... por favor. Me ajude a investigar o passado desse cara. Ele pode ter informações sobre muito mais coisas que imaginamos.
-Eu sei disso. A começar pelo fato de que ele sequer diz com quem se envolveu no passado. Mas por favor, amor... agora eu não vou ter muito tempo de te ajudar nisso. Mais tarde a gente se debruça sobre as informações que estiverem disponíveis.
Mara deixa o camarim e Valentim fica pensativo. CORTA A CENA.

CENA 7: Horas depois, no intervalo para o lanche, Valentim chama Laura.
-Haroldo, querido... você pode nos dar uma licencinha? Vou precisar roubar sua namorada por instantes... - fala Valentim.
-Claro... - fala Haroldo, esperando na plateia.
Laura vai com Valentim até o camarim.
-Fiquei assustada... o assunto parece ser urgente...
-Bem... urgente não chega a ser, mas acabei de verificar, fazendo uma intensiva pesquisa em outras informações, que a ligação que o Mateus teve com essa facção foi algo bem maior que pensamos...
-Como é que é? Ele fez exatamente o que?
-Pelas informações que foram levantadas, ele foi homem de confiança do “Chefe” antes de ser dispensado. Era o responsável por fazer as cobranças daqueles que estivessem devendo dinheiro pra facção.
-Estou chocada... mas ele cometeu crimes?
-Até onde conseguimos apurar, não. Mas, se eu fosse você, escolhia um momento oportuno para “apertar” Mateus... ele precisa falar do que sabe, pelo menos pra você. Talvez ele seja uma das maiores testemunhas de toda essa investigação.
-Mas ele também pode ter cometido crimes!
-Sim, isso pode ter acontecido. Mas pessoalmente, eu duvido disso. Mateus tem um perfil mais acovardado. Só trabalhou pra esse “Chefe” porque estava nas mãos dele. A questão que precisa ser esclarecida nisso é: por qual motivo esse “Chefe” tinha Mateus nas mãos? Alguma coisa de séria serviu de motivo para essa chantagem ser executada. O fato é que houve uma chantagem e graças a ela, Mateus se viu obrigado a prestar serviços ao “Chefe” dessa facção. Mateus sabe muita coisa... é um arquivo vivo. É possível mesmo que ele saiba a identidade desse cara. Mas obviamente ele não diz porque é ameaçado. Nós sabemos o quanto tudo isso é perigoso.
-Pelo menos eu fico aliviada por saber que ele não seria o próprio “Chefe”. Confesso que nos momentos que cheguei a suspeitar disso, quase expulsei ele de casa.
-Tire isso da cabeça. Mateus é uma vítima desse cara. Trabalhou forçado. Claro, deve ter ganhado um bom dinheiro pelos serviços que prestou. Se eu fosse você, eu conversaria com ele sem julgar. Ele precisa sentir confiança em você para poder falar sobre tudo sabendo que não será julgado. Conto com você, pois a sua ajuda para esclarecer o que está por trás disso será fundamental.
-Pode contar comigo, Valentim. Agora preciso me apressar, senão perco a hora de lanchar.
Laura parte do camarim. CORTA A CENA.

CENA 8: Rafael conversa com Marcelo.
-Amor... eu sei que tudo tá muito recente, mas você não acha que seria um bom momento de conversar com seu pai?
-Eu só tenho uma mãe. Desculpe, amor... mas não reconheço como pai um sujeito que abandonou dois filhos e por causa disso impediu que eles descobrissem que são irmãos.
-Ainda acho que você está fazendo o que critica tanto no Cláudio... que aliás, é compreensível... vocês são irmãos, mesmo.
-E o que eu tou fazendo que critico nele?
-Concluindo as coisas por precipitação e por conta própria. Você está se baseando apenas pela sua visão, no máximo pela sua visão e do seu irmão, dos fatos. Não quer ouvir o que o seu pai tem a dizer. Isso é ser intransigente demais, você não acha?
-Você tá certo. Mas também tá certo quando diz que tudo isso tá recente demais. Como é que eu vou agir com imparcialidade e sangue frio diante de tudo isso? Foram mais de vinte anos sem saber que eu tinha um irmão mais velho, tem noção do que é isso? E o Cláudio, coitado? Ficou destruído! E ainda tem que aturar os pitis daquele babaca do futuro marido dele...
-Eu sei de tudo isso, meu amor... eu realmente sei e sou empático a vocês. Mas se você espera empatia, como pode esperar que sejam empáticos com você quando você se recusa a ouvir seu próprio pai? Ele tem o direito de falar a versão dele dos fatos. E você precisa se desarmar.
-Às vezes eu tento ficar com raiva de você, Rafael... mas não consigo. Detesto como você sempre tem a palavra certa na hora certa. Detesto como você sempre consegue me fazer ver o óbvio quando eu não consigo ver por mim mesmo... detesto tanto tudo isso que não sei fazer outra coisa dessa vida senão te amar...
Os dois se beijam, carinhosamente.
-Eu que te amo, Marcelo. Te amo pela sua alma, pelo seu coração, pela sua essência pura e justa. Te amo pelos seus potenciais, pela sua infinita capacidade de amar e sempre haver mais espaço nesse coração pra um pouco mais de amor. É por isso que eu digo, amor: permita-se amar o pai de vocês. Ainda dá tempo...
-Tá certo, amor... você me convenceu. Mas vamos deixar isso pra amanhã? Ainda preciso me preparar emocional e psicologicamente pra tudo.
-Eu espero, querido. Só não permita que o ódio vença o amor...
CORTA A CENA.

CENA 9: Horas mais tarde, Cláudio recebe Guilherme em sua casa. O clima está pesado entre eles.
-Olha, Claudinho... eu sei que fiz besteira.
-Ainda bem que sabe. Você tem noção do quanto foi inoportuna e incômoda sua atitude naquele momento? Eu tinha acabado de descobrir que Marcelo e eu somos irmãos e tinha vindo de uma discussão pra lá de tensa com o nosso pai e você nem quer saber de nada, só me aponta o dedo e me faz aquela cena ridícula de ciúme. Não te serviu de nada o desabafo com o Bruno na noite anterior? Não te ajudou em nada o apoio, o ombro amigo e a empatia que ele te ofereceu? Se você sabe que fez besteira, espero que lembre de tudo isso. E eu também quero deixar bem claro que você não tem a permissão de fazer nada parecido com isso outra vez. Ou então não tem mais casamento entre nós, tá me ouvindo bem? Chega de usar sua doença como desculpa pra tudo, chega!
-Eu aceito cada uma dessas suas palavras, por mais duras que elas sejam. Elas são a verdade. Eu sinto muito, de coração... saí de mim. Perdi a noção e passei feito um trator por cima de você, de todo mundo.
-Eu fico feliz que você esteja reconhecendo isso. Sabe, Guilherme... eu não gosto de brigas. Não gostode brigar com você... mas você testa minha paciência e minha tolerância muitas vezes... e eu perco a cabeça!
-Prometo que nada disso vai acontecer. Prometo não... juro!
-Não precisa jurar, amor... eu só quero o seu bem. Se você estiver bem, eu também vou estar.
Os dois se abraçam, selando a paz. CORTA A CENA.

CENA 10: Mara vai à delegacia de mulheres para interrogar os estupradores de Renata e Eva. A delegada Lauriane a recebe.
-Chegou na hora marcada, Mara.
-Como vai, Lauriane? Eles estão complicando muito?
-Demais. Não disseram quase nada no depoimento. Ficam naquela ladainha de que só falam na presença de advogado. Já contatei defensores públicos para que eles tenham advogados. Vamos até eles...
Mara e Lauriane chegam à frente da sala onde eles estão fechados e conversando entre si.
-Pera, Lauriane... antes de entrar eu vou ouvir um pouco o que eles estão falando... - fala Mara.
-Isso não podia ter acontecido com a gente, Alexandre. Agora que a polícia pegou a gente o “Chefe” vai caçar a gente até apagar a gente... a gente vai morrer! - fala um dos homens.
Mara fica perplexa. FIM DO CAPÍTULO 83.

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