CENA 1: Cláudio permanece
olhando com convicção para Guilherme.
-Isso é sério, Cláudio?
Posso confiar?
-E por que não haveria de
confiar?
-Até ontem você tava
incerto... inclusive me deixou destruído por dentro quando me disse
que não tinha certeza de que queria casar comigo...
-É, eu sei. Mas isso ainda
assim não justifica essa sua tentativa de suicídio.
-Você ficou zangado comigo?
-Não. Definitivamente eu não
teria razões pra ficar zangado. Eu sei que você se sentiu abalado
demais, que por um momento achou que não tinha mais razão de viver.
Mas entenda, meu querido: eu não posso, não devo e não vou te
abandonar. Eu vou me casar com você.
-Você não tomou essa decisão
só por causa disso, tomou?
-Não vou mentir, Guilherme...
influenciou bastante na minha decisão. Mas não foi o que
determinou... você sequer deu tempo de eu raciocinar direito, já
tirou conclusões precipitadas, como o típico geminiano que é...
-Desculpa, amor... não
respeitei seu tempo. Sei que você é de processos mais lentos que os
meus...
-Não peça desculpas. Por um
lado isso foi bom... entendi o quanto você precisa de mim. É por
isso que acabou o que me restava de incerteza...
-Você vai mesmo se casar
comigo? Eu posso confiar nisso?
-Pode e deve. O que eu posso
fazer para provar que estou disposto a dividir a vida com você, pelo
resto dos nossos dias?
-Você quer mesmo que eu diga?
Posso te dizer sem que isso te deixe chateado comigo?
-Guilherme... por favor, fale.
Eu já entendi que nem tudo nessa vida gira em torno do meu mundo e
você me faz entender isso todos os dias...
-Então eu quero uma data pro
nosso casamento.
-Era isso? Eu marco sim,
querido. Inclusive, se você quiser decidir, fique à vontade.
-Não, Cláudio... eu não me
sinto na liberdade de decidir isso depois desse sufoco todo que eu te
fiz passar...
-Bem... já que você prefere
assim... cabe a mim marcar a data do nosso casamento. O que você
acha da gente ir agilizando os papeis e oficializar nossa união
daqui um mês?
-Um mês certinho? Amor, era
tudo o que eu queria!
-Então tá mais que decidido,
Guilherme. Nós casamos em um mês.
Guilherme vibra e abraça
Cláudio, emocionado.
-Você não tem ideia do
quanto esperei por isso. Acho que o dia mais feliz da minha vida vai
ser o dia que a gente casar de verdade! Eu quero uma festa daquelas,
com direito a tudo! O que você acha, amor?
-Olha, querido... você sabe
que não sou muito disso. Masse te faz feliz, é o que a gente vai
fazer. Como você pensa na festa?
-Ah, eu penso num festão! A
sua casa é grande, maior que meu apartamento... pensei em a gente
chamar todos os seus amigos, conhecidos, parentes, cachorro,
papagaio... todo mundo. E fazer uma daquelas festas regadas muita
comida, bebida boa e muita música pra todo mundo dançar, se
divertir e compartilhar com a gente a felicidade desse nosso momento!
-Então tá decidido. Vai ser
exatamente assim. Agora vamos de uma vez que chega de hospital por um
bom tempo!
Os dois deixam o hospital.
CORTA A CENA.
CENA 2: Assim que chegam em
casa, Guilherme faz uma sugestão a Cláudio.
-Sabe, Claudinho... eu tava
pensando numa coisa que a gente podia fazer hoje, se não for muito
abuso da minha parte...
-Se você não me disser eu
não vou saber te dizer se é abuso ou não... pode me falar, no que
você andou pensando?
-Eu sei que essa coisa toda da
merda que eu fiz tá recente demais, mas eu pensei que seria uma boa
ideia a gente chamar uns amigos pra jantar aqui com a gente hoje, pra
já anunciar que a gente vai casar daqui um mês, sabe...
-Sei... e quem você acha que
seria bom chamar pro jantar, caso eu tope fazer?
-Bem... como eu só tenho de
amigo mais próximo o Bruno, chama ele... e chama também o Marcelo,
o Rafa... a Laura, o Haroldo que tá namorando ela agora, até mesmo
o Mateus, que parece estar mais gente boa agora...
-Em outros tempos eu acharia
essa sua ideia um tanto sem pé nem cabeça, mas... sabe que eu
adorei a sugestão? Sinto saudade de jogar conversa fora com a Lau e
com o Marcelo... vai ser bom chamar todo mundo aqui.
-Então vai ter esse jantar
hoje?
-Claro que vai! Agora é
torcer pra que todo mundo possa vir.
-Então acho melhor você já
ir avisando eles... acho bom já ir mandando as sms...
-Nem vai ser preciso. A gente
participa do mesmo grupo no whatsapp. Fica fácil de eu dar o aviso
geral e todos eles vão acabar lendo...
-Melhor ainda! Assim eles já
vão respondendo se vão poder vir ou não.
-Ó, o Haroldo já respondeu
dizendo que pode, o que significa que junto dele vem a Laura.
-Maravilha!
-Agora é esperar pra ver se o
resto do pessoal vem também. Enquanto isso a gente pode ir no
supermercado comprar as coisas. Tou pensando em fazer um strogonoff
de carne de soja, esse daí é sem erro que todo mundo gosta!
-Então vamos de uma vez,
daqui a pouco já anoitece.
Os dois partem ao
supermercado. CORTA A CENA.
CENA 3: Marion chama Riva para
conversar.
-Nossa, pensei que o Lúcio
não dormia mais. Como tem fome esse meu filho! - fala Riva.
-Você não viu nada. O Rafael
quando era bebêzinho, não me deixava fazer absolutamente nada.
Bastava eu virar as costas e ele abria o berreiro. Motivo? Tava
sempre com fome.
-Imagino, viu? Com o Marcelo
não foi muito diferente. Mas nesses vinte anos que se passaram eu
tava meio desacostumada com essa função toda. Cansa, viu?
-Ah, mas é um cansaço
gostoso, né?
-Ô, se é! Mas me diga... por
que você me chamou pra conversar?
-A gente precisa conversar
sobre o Márcio...
-Ai, Marion... se até eu
percebi que o tempo só fez bem pra ele, que ele tem mudado e se
tornado uma pessoa, especialmente pro meu filho, o que você poderia
falar sobre ele que eu não saiba?
-Na verdade, nem eu sei. A
gente não sabe quase nada sobre como foram esses últimos vinte anos
na vida dele.
-Sim, mas é um direito não
querer tocar em certos assuntos que podem ser dolorosos pra ele.
Nenhum ser humano gosta de lembrar que já foi parar na cadeia,
convenhamos...
-Riva... você não acha
esquisito que, conforme ele foi vindo mais aqui, nos visitar, a
Suzanne foi tomando chá de sumiço? Agora ela inventa essa viagem
pra Paris... você não percebe alguma ligação nisso?
-Ai, Marion... sinceramente?
Não. Será que isso já não é um pouquinho de paranoia sua?
-Pode ser que seja. Mas eu
acho curioso. Já reparou que toda vez que alguma de nós toca no
nome da Suzanne, seja em qual for assunto, ele fica sem jeito? Parece
que fica constrangido, sem saber o que falar ou fazer...
-Não percebi nada disso,
Marion. Mas se você percebeu, deve ter sido apenas coincidência. É
meio natural que ele fique meio desconfortável com nossos papos de
mulher, não é?
-Riva... como é que você
pode ser tão esperta e tão safa pra certas coisas e tão ingênua,
quase infantil, pra outras?
-Não entendo isso, Marion...
eu me considero uma boa observadora...
-Tá vendo, Riva? Pior é que
se eu te disser tudo o que passa na minha cabeça sobre essa possível
ligação entre os dois, você vai dizer mais uma vez que sou
paranoica. Sinceramente eu prefiro que você perceba sozinha certas
coisas. Vai ser melhor assim...
-Só me responda uma coisa:
você acha que a gente corre perigo com o Márcio?
-Isso eu não acredito.
Percebo que ele se tornou um bom homem. Mas a gente não sabe com que
tipo de pessoa ele já se relacionou nessa vida... melhor manter os
olhos atentos. Bem, eu preciso sair pra fazer compras. Outra hora a
gente fala melhor sobre isso...
CORTA A CENA.
CENA 4: Após o jantar na casa
de Cláudio, Bruno, Marcelo, Rafael, Haroldo e Laura conversam
animadamente diversos assuntos, até que Marcelo pede licença.
-Guilherme, eu posso roubar
seu noivo por um segundo? Preciso conversar umas coisas meio... ehm,
íntimas com ele, sabe? - fala Marcelo.
-Claro! O melhor amigo é todo
seu! - fala Guilherme, animado.
Cláudio vai com Marcelo até
seu quarto.
-Só não entendi porque você
pediu um particular comigo, Marcelo...
-Cláudio, você tem noção
do tamanho da encrenca que tá se metendo? Eu nunca pensei que
viveria pra ver você marcando a data de casamento com o Guilherme e
ainda nos convidando pra festa...
-Eu nem vou rebater tudo isso,
Marcelo... tou cansado e não tiro sua razão. Você conheceu o outro
lado do Guilherme. Tem seus motivos pra não ir com a cara dele.
-Não é isso, Claudinho... o
que é do passado fica no passado. A questão é que eu percebo que
quem você ama é o Bruno. E tá na cara que o Bruno também é doido
por você. Tá estampado isso no olhar dele...
-Ai, viado... eu sei de tudo
isso. Mas eu terminei com ele, lembra? Nunca fui sujeito de voltar
atrás nas decisões que tomo na vida.
-É, mas não se esquece que
um dia essa teimosia já te fez muito mal. E pode continuar a te
fazer mal se você não conseguir se livrar dessa maldita teimosia
taurina...
-Você sabe que não é tão
simples como parece amadurecer da noite pro dia.
-Justamente por isso que eu te
pergunto: você tá casando com o Guilherme por pena dele ou pra
fugir do Bruno? Porque, francamente... não vejo outra explicação.
-Marcelo... acho melhor a
gente parar por aqui. Não é bom tocar em certas feridas...
CORTA A CENA.
CENA 5: Horas depois, Laura e
Mateus se preparam para dormir.
-Poxa, achei que o Haroldo
ficava aqui hoje pra dormir com você.
-Ah, melhor ficar pra outra
hora. Esse convite pro jantar na casa do Cláudio foi tão em cima da
hora que nem deu pra pensar direito no depois... mas sabe que eu tava
pensando em outra coisa, Mateus?
-No que, exatamente?
-Em como o Cláudio e o
Marcelo são parecidos. Parecem irmãos, já reparou?
-Ah, não acho tudo isso,
Laura... só porque eles são ruivos?
-Também. E os dois tem
psoríase. Só que além disso, eu acho os traços dos rostos deles
parecidos. Você não acha?
-Ah, Laura... até aí não
tem nada demais. O tipo de rosto deles é bem comum entre
brasileiros...
-Pode ser, mas às vezes fico
impressionada que, além de eles serem melhores amigos, sejam tão
parecidos. Parece coisa do destino, sabe?
-Besteira. Não se lembra
daquele estudo científico que diz que as pessoas costumam se
aproximar de quem se assemelhe fisicamente com elas mesmas?
-Mas Mateus, aquele estudo era
com outra finalidade e o foco desse estudo era em casais, não em
grupos de amigos ou melhores amigos. De qualquer forma, acho curioso
eles se parecerem tanto e eu só ter começado a reparar nisso nos
últimos tempos...
-Enfim... tou podre de
cansado. O papo tá ótimo, mas preciso dormir. Até amanhã, Laura.
Mateus vai dormir e Laura fica
pensativa. CORTA A CENA.
CENA 6: Valentim e Mara estão
debruçados sobre a investigação sobre a facção em casa, quando
Mara percebe uma informação valiosa.
-Valentim... acho que acabei
de encontrar uma informação decisiva sobre o “Chefe”.
-Sério? Me mostra isso!
-Observe bem as movimentações
financeiras dos últimos anos na empresa fantasma que abriga a
facção: reparou que uma vez a cada seis meses há uma doação de
dinheiro vindo de Glenn Colenutt? Só que eu fiz uma pesquisa desse
registro civil e não existe nenhuma pessoa no mundo inteiro batizada
com esse nome. Trata-se de um nome fictício, nem chega a ser
identidade falsa. Quem recebe as doações de dinheiro na “empresa”
cadastrou esse nome para despistar qualquer eventual investigação.
-Isso já é uma informação
e tanto. Agora, falta a nós saber a origem desse dinheiro, pra
sabermos se ele é lícito ou ilícito.
-A certeza é que é ilícito.
Resta saber de onde sai tanto dinheiro...
-É, Mara... o cerco parece
que tá começando a se fechar pro lado desse “Chefe”. Estamos
chegando perto...
-É, mas ainda tem muito chão
a ser percorrido. Essa informação sozinha não nos revela nada
sobre a possível identidade dele e não altera nossa lista de
suspeitos.
-Melhor a gente deixar isso
pra amanhã, senão a gente nem dorme.
Os dois se recolhem. CORTA A
CENA.
CENA 7: Na manhã do dia
seguinte, Suzanne surge ainda cedo na mansão dos Bittencourt.
-Bem, queridos... eu espero
não estar incomodando.
-Que isso, Suzanne! Você é
de casa, não incomoda nunca! - fala Riva.
-É uma pena que os meninos
não estejam aqui...
-Ah, sabe como é... cada um
com suas ocupações... tenho que curtir meu bebê que logo essa
folga acaba, afinal de contas fui chamada pra ser atriz e logo começo
a trabalhar também...
-Menina, fiquei passada quando
você me contou disso! Quem diria que você, em menos de um ano,
chegaria onde chegou? Rica, casada com o homem da sua vida, com filho
bebê e agora prestes a virar atriz. A vida foi mesmo generosa
contigo, hein Riva?
-E não é? Às vezes fico até
tonta com a velocidade que tudo isso chegou na minha vida, mas me
conta: o que te trouxe aqui tão cedo?
-É que eu deixo o Brasil
hoje, no começo da noite. Vim deixar os convites, separei um pra
cada um de vocês, pro evento de despedida. Menina, vai ser um festão
daqueles! Como a coisa foi planejada meio de última hora, organizei
tudo com o pessoal do hotel que moro aqui no Brasil. Vai ser lá no
salão de festas, que como você sabe, é colossal!
-Ah... que pena! Acho que pelo
horário da festa, só eu, o Vicente e a Marion vamos poder ir.
Marcelo vai começar a se preparar pra uma participação rápida na
novela das onze, sabia? Os meninos andam bem ocupados com essa função
de trabalho...
-É uma pena, mesmo. Mas faço
questão que você, Vicente, o bebê lindo de vocês, Marion, Ivan e
quem mais puder aparecer, vá na minha festa de despedida. Chame a
sua avó também... eu sei que ela não vai com a minha cara, mas
tenho certeza de que vai ser uma boa festa pra ela...
-Ih, Suzanne. Nem adianta
insistir com dona Valquíria. Essa daí quando enfia uma coisa na
cabeça, não há cristo que tire! Posso até tentar, mas acho muito
difícil que ela vá com a gente. Acho que vai preferir ficar com os
gatos aqui em casa...
CENA 8: Márcio desperta e
percebe que Suzanne não está ao seu lado.
-Gente... o que será que essa
doida foi tramar?
Márcio fica pensativo por
instantes e cai em si.
-Ah, que alívio! É hoje que
ela vai passar um tempo na França... deve ter ido na casa da Riva...
Márcio procura por Raquel,
mas não a encontra.
-Poxa... nem a mãezinha do
coração aqui hoje... acho que tive uma ideia.
Márcio volta intempestivo
para o quarto e vasculha o roupeiro com as coisas de Suzanne.
-Mas que saco! Será possível
que essa lunática saiu justo com a gargantilha da Riva pra provocar
mais ainda a coitada? Não é possível... Suzanne não pode ser tão
kamikaze desse jeito... anda, Márcio... pensa! Esse roupeiro é
grande demais pra você desistir assim tão fácil...
Márcio procura por todas as
gavetas e não encontra joia alguma.
-Não é possível. Suzanne
nunca escondeu as joias de mim e eu tenho certeza que ela não levou
nenhuma pra penhora! Mas que merda!
Márcio olha o roupeiro,
aberto, tentando identificar onde pode encontrar a gargantilha.
-Já sei! As caixas de
sapatos!
Márcio vasculha as caixas de
sapatos e encontra a gargantilha de Riva na quarta caixa.
-Eu sabia! É, Suzanne...
talvez você tenha uma surpresinha nada agradável quando voltar pro
Brasil...
Márcio sorri, triunfante e
aliviado. CORTA A CENA.
CENA 9: Victor conversa com
Diogo.
-Então é amanhã que você
entra nas férias dobradas do seu emprego?
-É, sim... não é uma
maravilha? Essas férias são merecidas, trabalhei demais...
-É ótimo, mesmo, amor... mas
até agora não se tocou mais no assunto da gente sair do país, de
ganhar o mundo...
-Não se foi tocado porque eu
ainda tou fazendo as contas de tudo...
-Ah, para com isso, Diogo. O
que a gente tem dinheiro dá e sobra!
-Tá, mas e se você desiste
no meio da viagem?
-Não, amor... eu não vou
desistir, eu preciso muito disso. Sonho com isso. Preciso sair do
Brasil.
Diogo estranha pressão de
Victor. FIM DO CAPÍTULO 76.
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