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segunda-feira, 8 de agosto de 2016

CAPÍTULO 73

CENA 1: Eva tenta se livrar do homem, que a agarra com força e a deixa sem saída.
-Eu vou gritar, seu tarado!
-Isso, grita! Grita mesmo! Grita que você leva furo! - ameaça o homem, levando Eva à cabine.
Renata está dançando quando é acometida de um mau presságio e resolve ir ao banheiro. Renata estranha não encontrar Eva fora das cabines.
-Eva? Amor, você ainda tá aqui?
Eva tenta responder, mas o homem que a agarra faz sinal de que vai machucá-la se ela falar qualquer coisa.
Renata fica preocupada, mas resolve sair do banheiro em busca de Eva. Ao chegar à porta, um homem lhe dá um soco na cara, deixando-a desnorteada.
-O que é isso, cara? Misturou alguma droga com a bebida? Esse aqui é o banheiro das mulheres, o dos homens é do outro lado! Me machucou, seu louco!
Renata tenta sair do banheiro e o homem a agarra.
-O que é isso? Rapaz, eu sou lésbica e tou procurando minha mulher! Você me largue! - fala Renata, tentando golpear o segundo homem, sem sucesso.
O homem arrasta Renata, com a mão em sua boca, impedindo que ela grite, para outra cabine vazia. O homem tranca a cabine, exatamente como o outro homem fez com Eva. Na tela aparecem ambos abaixando as calças de Eva e Renata e em seguida abaixando suas próprias calças. Renata se desespera.
-Você vai aprender a gostar de homem na marra! - fala o homem, estuprando Renata.
-Não gosta de caralho, sua vadia? Pois vai aprender a gostar! - fala o outro homem, estuprando Eva.
Instantes se passam e os homem abandonam as cabines. Renata, traumatizada, é a primeira a deixar a cabine. Eva vê a mulher e sai da cabine. As duas se abraçam, desconsoladas.
-Olha o que eles fizeram com a gente, Renata! - grita Eva, desesperada.
-A gente podia ter morrido na mão desses estupradores! - constata Renata, apavorada.
As duas desabam no chão e se encostam na parede do banheiro.
-Cê tá muito machucada, amor?
-Tou mais machucada por dentro, Eva... o que esses homens malditos fizeram vai marcar nossas vidas pra sempre! - fala Renata, chorando.
-Eu tava acuada. Ouvi quando você chegou aqui no banheiro, mas o cara me ameaçou de morte. Eu nunca pensei na vida que seria estuprada... - fala Eva, em estado de choque.
-E justo dentro da nossa boate preferida! Esses maníacos se infiltraram num local LGBT! Só podem ser aqueles infelizes conservadores que pregam o estupro corretivo das lésbicas... - constata Renata, tentando se acalmar, mas chorando muito.
As duas tentam gritar por socorro, mas ninguém escuta.
-Onde foram parar os funcionários dessa boate, meu Deus? A gente precisa de um médico! - desespera-se Eva.
As duas se abraçam, desesperadas. CORTA A CENA.

CENA 2: Instantes se passam e uma mulher entra no banheiro feminino e estranha ver duas mulheres sentadas no chão do banheiro, em estado de choque. A mulher vai até um funcionário da boate avisar do ocorrido.
-Querido... você poderia vir comigo no banheiro das mulheres? Algo de muito errado aconteceu com duas garotas ali dentro... elas estão aparentemente em estado de choque...
O funcionário segue a mulher e encontra Eva e Renata trêmulas no banheiro. Eva reage.
-Não toca em mim, homem imundo! - grita Eva.
Renata percebe que se trata de Leonardo, funcionário da boate.
-Desculpe, Leonardo... minha mulher está em estado de choque... - fala Renata.
-E você não parece estar nada bem também... - observa o funcionário.
-Nós fomos estupradas por dois caras... - fala Renata, começando a chorar.
A mulher que acompanhou o funcionário até o banheiro vai até as duas.
-Vocês estão machucadas? O que esses caras fizeram exatamente com vocês? - fala a mulher, preocupada e assustada.
-Estamos inteiras, fisicamente... mas destruídas, emocionalmente... - fala Renata.
-Aqueles dois caras que saíram ainda agora da boate! Não consumiram nada além de duas cervejas e foram embora com pressa! A caixa chegou a comentar comigo que não entendeu a pressa deles! Foram eles, só podem ter sido eles! Eram dois, não eram? - fala Leonardo, o funcionário.
-Eram dois, sim. De estatura mediana, mas bem fortes. O que me estuprou é levemente acima do peso... - fala Eva, recuperando-se do choque.
-Vamos dar um jeito de pegar esses caras. Eles não parecem ter vindo aqui antes e eu vou falar com o pessoal que cuida das câmeras de segurança da boate... - fala Leonardo.
-Vocês precisam de um médico! Eu vou ligar pro pronto-socorro! - fala a mulher que está junto delas.
-Por favor moça, faça isso agora mesmo. Vocês precisam sair daqui desse banheiro. Eu acompanho vocês até a saída da boate. Se quiserem, nós vamos com vocês ao pronto atendimento. Basta que eu avise a gerente da boate. - prontifica-se Leonardo.
-A gente aceita que vocês venham com a gente... - fala Renata.
O funcionário e a mulher ajudam Eva e Renata a se levantarem e saírem do banheiro. Os quatro seguem à porta da boate e Leonardo explica o ocorrido à gerente, que o libera.
-Está feito, meninas. A gerente ficou de avisar a todos os presentes aqui hoje do ocorrido e a festa acaba aqui. Ninguém mais entra nessa boate essa noite. - fala Leonardo.
CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã do dia seguinte, Raquel chega apressada ao pronto atendimento, depois de ter recebido através de Mara a notícia do estupro de Eva e Renata.
-Como vocês estão, meninas? Sou Raquel, investigadora. Vim assim que fui avisada do ocorrido.
Renata estranha.
-Estamos bem, fisicamente. Fizemos os exames e tomamos a pílula do dia seguinte, além de anti retrovirais. Vamos ter de fazer exame de HIV daqui um mês, para nos certificarmos que está tudo bem, mas... vá me desculpar, Raquel... é esse seu nome, certo?
-Sim, é esse meu nome. E você deve ser a Renata.
-Sou sim... mas como você recebeu essa notícia? Nós viemos com um funcionário da boate e uma conhecida... que já foram embora.
-A conhecida de vocês ligou para a delegacia da mulher, mas não havia ninguém de plantão. Mara, minha colega, foi avisada pelo atendente e repassou a informação a mim. Se eu fosse vocês, meninas, eu ia imediatamente à delegacia da mulher prestar queixa contra esses estupradores. Eles precisam ser encontrados e presos. O quanto antes isso acontecer, melhor para vocês e para outras mulheres que possam ser vítimas deles.
-Agradecemos a preocupação e o apoio, queremos denunciar esses monstros com certeza. Mas estamos exaustas, traumatizadas e precisando de um banho e do colo dos nossos pais, antes de qualquer coisa... - fala Eva.
-Compreendo essa necessidade de vocês, meninas. Mas por favor, não deixem de denunciar esses homens o mais rápido à delegacia da mulher. Chega de violência contra a mulher, chega de impunidade! - fala Raquel.
CORTA A CENA.

CENA 4: Horas depois, Eva e Renata estão em casa e são amparadas por Regina, Adelaide, Cleiton e Geraldo.
-Eu senti... eu senti que vocês corriam perigo, filha... seu pai tentou me tranquilizar e eu mesma tentei tirar aquilo da minha cabeça, achando que era só paranoia minha... eu sinto tanto por não ter ligado pra vocês! Se vocês tivessem me falado que iriam sair ontem à noite eu ia pedir pra vocês não saírem... - lamenta Adelaide, abraçando Renata.
-A gente sempre quer evitar que nossos rebentos sofram as dores desse mundo louco... - fala Geraldo, triste.
-Mas vocês vão precisar reagir, meninas. Nós todos aqui vamos precisar reagir... fazer alguma coisa, denunciar esses dois monstros à polícia e rezar para que eles sejam presos antes de fazerem mais vítimas... - fala Regina, resignada e decidida.
-Quanto a isso, mãe, você pode ficar tranquila. Nós planejamos de ir à delegacia da mulher hoje mesmo. Se esses monstros que quase acabaram com a vida da gente pensam que a violência deles vai ficar impune, estão muito enganados! Esse estupro poderia ter acabado com a minha vida, com a vida da Renata... mas depois que eu esfriei a cabeça a respeito de tudo isso eu quero mais é reagir! Essa dor de termos sido violentadas dessa forma hedionda não vai sair da gente, mas a gente não pode nem deve se deixar abater. - fala Eva, decidida.
-A Eva tá coberta de razão. Sempre subestimei a homofobia, a lesbofobia que existe por esse mundo e por esse Brasil. Acreditei por toda uma vida que eu estava livre de sofrer esse tipo de violência porque sou empoderada como mulher lésbica. Agora eu entendo todo o medo, todo o receio e todos os motivos que levaram a Eva a protelar por tanto tempo a saída pública do armário. Vivemos em situação de risco, vulnerabilidade social. Culpa desse machismo, que insiste que mulheres sempre vão sentir falta de um falo. Culpa dessa homofbia, dessa lesbofobia, desse preconceito de gênero que se enraiza nesse machismo odioso. A minha vontade é de jogar a merda dessa sociedade aos quatro ventos, mas por enquanto a única coisa que a gente pode fazer é denunciar esses desgraçados! - fala Renata.
-Vocês tem todo o nosso apoio! - fala Regina.
CORTA A CENA.

CENA 5: Suzanne resolve ligar para Riva.
-Que milagre é esse de me ligar, Suzanne? Quase sempre você vem aqui em casa sem avisar antes...
-Então, Riva. Ando numa correria daquelas, sabe? Então achei melhor ligar. Como as coisas andam por aí?
-Por aqui andam cada vez melhores. Tenho recebido orientações na companhia de teatro pra encarar o teste de elenco que tenho daqui alguns dias... e com você, como andam as coisas?
-Pois vou ter que sair do Brasil, amiga, cê acredita? Tem uma conhecida minha praticamente implorando por aulas de etiqueta. Sabe onde ela tá morando? Em Paris! Disse que precisa de mim o mais rápido possível.
-Mas você vai embora pra França amanhã mesmo?
-Não, sua boba! Antes tenho algumas coisinhas pra resolver aqui. Vou daqui alguns dias, sem falta... mas você acha que eu ia perder de fazer um daqueles eventos maravilhosos com a nata da sociedade carioca? Nem morta e enterrada, meu bem!
-Ah, é verdade... você realmente gosta dessas festas da alta sociedade, né? Me avise quando estiver perto da sua festa de despedida, então.
-Pode deixar que aviso sim, querida... agora preciso desligar que tem uma cliente me ligando no outro celular...
Suzanne desliga. Riva estranha o súbito anúncio de que Suzanne vai embora do país. CORTA A CENA.

CENA 6: Cláudio chama Bruno para passar a noite com ele em sua casa.
-Ainda bem que você veio, Bruno... não me acostumo mais com essa casa vazia.
-Até estranhei esse chamado. Não era pro Guilherme estar aqui? Ele praticamente se mudou pra sua casa...
-Conversei bastante com ele, você sabe... ainda não estamos casados e eu quero que ele fique ainda uns dias na casa dele. Ele ainda tem o apartamento dele em Copacabana, sabe?
-Mas você acabou de me dizer que não se acostuma mais com essa casa vazia...
-Ai, Bruno... e não me acostumo mesmo. Preciso de alguém pra desabafar e sei que posso confiar em você.
-Pois desabafe à vontade, querido. Jamais seria capaz de te julgar.
-Sabe o que é? Tenho pensado muito em tudo... sobre as voltas que essa minha vida deu em menos de um ano. Há um ano eu namorava Rodr... digo, Haroldo. Daí você surge no meio de uma das várias crises que tive com ele. Ele termina comigo do nada, eu e você começamos a namorar... eu descubro aqueles segredos que envolviam o ex da minha melhor amiga, a gente termina, você continua morando aqui. No meio desse turbilhão eu brigo com meu melhor amigo, por pura falta de noção e maturidade da minha parte... e quando o mundo está desabando sobre a minha cabeça, surge o Guilherme. Sabe... tudo isso aconteceu num espaço de tempo curto demais. Mal deu tempo de entender tudo direito...
-Onde você quer chegar com isso, Cláudio?
-Na parte que eu não estou tão certo assim do meu casamento com Guilherme. Acho que essa decisão foi precipitada demais e agora não sei como dizer isso a ele...
-Você vai precisar encontrar uma maneira de dizer isso pro Guilherme, meu amigo... se eu fosse você, eu reconsiderava mesmo esse casamento. Porque eu nunca deixei de te amar...
-Ai, Bruno... nem sei o que dizer, sinceramente...
Os dois se encaram, dominando o desejo. CORTA A CENA.

CENA 7: Diogo termina de fazer o jantar e serve a ele e a Victor.
-Você não se cansa de ser um excelente cozinheiro, não? Masterchef perde!
-Deixa de ser exagerado, Victor... aprendi a me virar sozinho desde cedo, você sabe disso...
-Eu tava pensando numa coisa, que eu morro de vontade de fazer. Acho que esse pode ser um bom momento.
-E o que seria?
-Eu adoraria viajar. Conhecer lugares novos, sabe? Agora que eu tou recebendo a minha graninha por conta da minha aposentadoria por invalidez, a gente podia juntar essa grana com a que você recebe do seu emprego...
-Cê tá maluco, Victor? Querendo ou não, sou assalariado...
-É, mas já está há quase dois anos na mesma empresa e com férias vencidas que você nem tirou ainda...
-Olhando por esse lado, eu fecho dois anos semana que vem. E tenho direito a dois meses de férias por conta das férias que não tirei quando fechei um ano. Vai entrar uma boa grana, de fato... mas posso saber pra onde que você gostaria de viajar comigo?
-Ah, pelo mundo! Quero muito conhecer a Holanda, a Europa, a África principalmente... você acha que tem como?
-Apertando, tem como... mas você nunca me falou que tinha vontade de andar por aí conhecendo o mundo... você há de convir que eu tenho razão de achar isso estranho.
-Ai, Diogo... eu já perdi tempo demais me lamentando pelas coisas. Acho que passou da hora da gente viver a vida, de um jeito leve...
-Tá... eu vou pensar nisso tudo. Eu te aviso se conseguir as férias dobradas na minha empresa.
Os dois seguem comendo e Diogo encara Victor, desconfiado, sem que o namorado perceba. CORTA A CENA.

CENA 8: Laura comenta com Mateus sobre os novos planos de investigar a identidade do “Chefe”.
-Então foi isso, Mateus... no final das contas o acordo ficou que a Mara e o Valentim me orientam à distância, mas que eu não devo procurar por eles fora da companhia de teatro.
-Bem que eles fazem. Esse “Chefe” está cada vez mais fora de si. Aquela situação do rapto foi assustadora. Sorte que eles não te fizeram nada.
-É, mas não se esqueça que o “Chefe” em pessoa tentou matar o Valentim. Aquela emboscada foi armada pra eliminar o Valentim e disso não há como ter dúvida.
-Definitivamente é mais prudente que essas investigações corram com mais discrição. Pela segurança de todos, ninguém está a salvo.
-Você fala de um jeito, Mateus... às vezes fico com a clara impressão de que você sabe quem é o “Chefe” e não quer dizer.
-Suponhamos que eu soubesse, Laura... você acha mesmo que eu arriscaria a pele de todos nós soltando essa informação sem a certeza de que ele seria preso?
-Olhando por esse lado... você tem razão. Mas se você souber, bem que você poderia contar só pra mim, não podia?
-Laura, por favor... não insiste. Se eu soubesse, eu não te diria, porque sei que você é impulsiva.
-Talvez eu seja. Mas será que você não percebe a gravidade da situação toda?
-É por perceber a gravidade que insisto que você deve se manter discreta...
Laura se dá por vencida e desiste da conversa. CORTA A CENA.

CENA 9: Acompanhadas de Mara, Valentim, Adelaide, Regina, Geraldo e Cleiton, Eva e Renata chegam à delegacia da mulher. Renata está ansiosa.
-Poxa vida! Achei que a gente ia chegar aqui e já seríamos ouvidas... - reclama Renata.
-Ih, Renata... você não sabe como isso aqui é movimentado. Infelizmente a violência contra a mulher é diária e frequente. Dificilmente a delegacia fica inativa nas horas que tá aberta... - esclarece Mara.
A delegada se apresenta a todos.
-Olá, pessoal. Sou Veridiana. As queixosas podem me acompanhar, por favor... - fala a delegada. Renata e Eva sentam-se e Eva é a primeira a falar.
-Bem... nós viemos aqui para denunciar um estupro que sofremos ontem...
FIM DO CAPÍTULO 73.

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