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terça-feira, 30 de agosto de 2016

CAPÍTULO 92

CENA 1: Valentim percebe que Laura está surpresa pela sua chegada.
-Se tranquilize, Laura... eu me certifiquei que ninguém me seguiu do consultório até aqui. Posso entrar?
-Claro, Valentim... por favor!
Bruno estranha.
-O que esse cara tá fazendo aqui? - pergunta Bruno.
-Bem... acho que você é o único daqui que ainda não sabe: não sou apenas um psiquiatra amigo do Procópio. Sou um investigador da Polícia Federal. Haroldo e Mateus já sabem disso e... bem, Laura é minha colaboradora informal. - esclarece Valentim.
-Eu sou o Bruno.
-Eu sei, rapaz. Sei também que você e o Mateus foram vítimas do “Chefe” e que o Mateus, coagido pelo que o “Chefe” sabia sobre vocês, sobre o relacionamento que vocês tinham escondido desde quando você veio aqui pro Rio, acabou sendo forçado a prestar serviços à facção. Você sempre soube disso, não soube, Bruno?
-Soube... mas não podia fazer muita coisa. Esse “Chefe” tem informações sobre mim que podem destruir minha família... meus pais não sabem que sou bissexual e ele me obrigou a me manter calado, caso contrário ele poderia levar ao conhecimento dos meus pais lá em Coroados sobre minha sexualidade... isso pra não dizer coisas piores que ele poderia fazer.
-Entendi. Dessa forma, vocês dois se viram sem saída, não foi?
-Exatamente. Mateus prestava os serviços e eu me mantinha calado diante de tudo. Só que tudo mudou de figura quando eu fui obrigado por esse “Chefe” a seduzir o Cláudio. Eu acabei me apaixonando pelo Cláudio desde o primeiro momento que o vi diante de mim e acabei não fazendo o que havia sido ordenado que eu fizesse.
Valentim se espanta.
-Peraí... isso que você tá me contando é completamente novo! Onde é que o Cláudio entra nisso? - questiona Valentim.
Mateus, assustado, tenta impedir Bruno de prosseguir.
-Bruno... por favor. Você já está falando demais! - fala Mateus.
-Mateus, se tranquilize. Essa aqui é uma conversa informal e eu não fui seguido. Estamos em segurança... e eu sei que você omitiu a parte de que foram homens da facção que sabotaram o carro de Rafael.
Mateus se impressiona e nada diz.
-Sendo assim, deixe o Bruno falar, ok? Nada vai lhes acontecer. - finaliza Valentim.
-Bem... sendo assim, vou continuar: eu não sei exatamente qual é a cisma do “Chefe” com o Cláudio, mas ela não é de hoje. O cara parece nutrir uma obsessão pelo Cláudio, culpa o Cláudio por alguma merda que aconteceu na sua vida. Assim, nos últimos anos esse sujeito tem manipulado o destino do Cláudio, decidindo quem entra e quem sai da vida dele... pesquisando os podres do passado das pessoas próximas a ele para exigir que elas se afastem, mediante chantagem... - fala Bruno.
-Eu posso confirmar tudo isso, Valentim. Eu fui apaixonado pelo Cláudio quando eu fui Rodrigo... o sentimento era verdadeiro e nossa história, apesar de eu esconder tantas coisas dele, foi uma das coisas mais verdadeiras que vivi. Só que o “Chefe” concluiu em certo momento que eu não seria mais útil para os planos dele, que ele nunca revelou quais eram. Então ele me obrigou a terminar com Cláudio... sem mais nem menos. Ou eu terminava com ele, ou ele faria uma loucura... - fala Haroldo.
-Vocês precisam falar tudo isso à polícia, em depoimento. O cerco contra o chefe está finalmente se fechando! - constata Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 2: Raquel chega em sua casa depois de um longo dia de trabalho e Márcio a recebe com um forte abraço.
-Que bom te ver assim animado, meu filho...
-Ah, dona Raquel... eu resolvi começar a reagir. Se for pra me livrar da Suzanne, que a coisa seja feita pelo lado certo.
-Assim que se fala, Márcio...
-E o seu dia, foi muito corrido?
-Nossa, você não faz ideia. Dobrei jornada hoje, ainda prendi três caras acusados de pedofilia. Foi osso! E o seu dia, querido... como foi?
-Fui almoçar com a Riva... ela queria conversar comigo.
-É mesmo? E o que ela precisava conversar?
-Sobre uma coisa que ela me sugeriu... confesso que fiquei dividido. Ela quer que eu denuncie a Suzanne, assim que ela voltar pro Brasil.
-Eu sugeriria a mesma coisa, no lugar dela... sabendo de tudo.
-Você acha mesmo que isso daria em alguma coisa?
-A gente só sabe se tentar, não é?
-Mas dona Raquel, como é que eu vou denunciar uma pessoa que nunca na vida teve uma mísera passagem pela polícia? Como que me levariam a sério sendo eu o denunciante, sendo que eu mesmo já fui apenado?
-De qualquer forma, Márcio... Riva sugeriu a coisa certa.
-Mesmo que isso não dê em nada? Ah, dona Raquel... não vejo sentido em dar murro em ponta de faca, sabe?
-Querido... eu adoraria continuar essa conversa com você, mas estou realmente destruída e derrotada pelo dia longo que tive hoje. Se incomoda da gente conversar mais sobre isso amanhã de manhã, caso você já esteja acordado?
-Claro que não me incomodo, mãezinha... só vou ficar com essa dúvida martelando um pouco mais na cabeça, mas... tudo o que sempre tive vindo da Suzanne foi isso: dúvidas.
-Você ainda é tão jovem, meu querido... tem uma vida inteira e promissora pela frente. Não devia perder tanto tempo com uma pessoa que sempre te usou, como a minha filha. Você merece um amor de verdade, a liberdade, ser feliz... se prender à Suzanne só vai te privar de tudo isso.
-Não sei o que seria de mim sem a senhora. Você é que é minha mãe... não aquela que desistiu de mim porque preferiu acreditar nas fofocas que a vizinhança fez sobre mim.
-Eu também te sinto como um filho, meu querido. Agora preciso tomar uma ducha e me atirar na cama. Durma bem, meu filho...
-A senhora também...
Raquel beija a testa de Márcio. CORTA A CENA.

CENA 3: Valentim faz perguntas a Haroldo, Bruno e Mateus.
-Bem... eu não quero que vocês se sintam acuados e nem obrigados a responder nada, mas lembrem-se que essa é uma conversa informal e eu estou aqui mais como pessoa do que como investigador... no entanto, preciso juntar mais informações. Então vamos lá: Haroldo, como e quando você se viu sem saída e coagido pelo “Chefe”?
-Bem, não é segredo pra ninguém que durante muitos anos eu fui, assim como meu pai, viciado em jogatina. Comecei desde garoto e a coisa foi se agravando nos meus vinte e tantos anos. Conheci um monte de agiotas, de toda espécie. Fui me endividando cada vez mais e minha família estava indo à falência, antes do meu irmão começar a atuar como ator na TV. Um desses agiotas trabalha para a facção do “Chefe” e me mandou um recado direto dele: ou eu sumia, ou eu e toda minha família morreríamos. A ideia era que eu juntasse o suficiente de dinheiro para pagar a dívida que eu tinha. Mas essa dívida eu paguei em questão de meses. O problema passou a ser sair dessa facção porque eu sabia de muita coisa... sabia como era o modus-operandi dos homens dela. Acabei sendo obrigado a continuar mesmo depois de ter quitado minha dívida e aquilo foi como uma bola de neve na minha vida. No meio disso eu conheci o Cláudio e o “Chefe” ordenou que eu o seduzisse... acontece que eu me apaixonei de verdade pelo Cláudio e quando eu estava disposto a contar toda a verdade... o “Chefe” mandou eu terminar tudo com ele... e sumir. Foi o que eu fiz. - fala Haroldo.
-E você, Mateus... tem algo a dizer?
-Nada que já não tenha sido dito pelo Bruno, Valentim... eu até teria mais o que dizer, mas me desculpe... ainda tenho muito medo. Esse chefe é perigoso, muito perigoso.
-Valentim... acho que o Mateus não consegue falar mais sobre isso. E é compreensível... eu e você sabemos o que o “Chefe” já fez contra nós... - fala Laura.
-E eu sinto que não posso mais contribuir com nada nesse momento, Valentim... no fim das contas, o “Chefe” pode estar em outra vibe agora... pode até mesmo ter desistido de muita coisa... - fala Bruno.
-Está bem, pessoal... acho que por hoje eu já fiz vocês falarem mais do que aguentam. Não se esqueçam, contudo, que estou do lado de vocês... - fala Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Cleiton percebe, ao se acordar, que Adelaide não está na cama e a encontra pensativa na sala, a tomar uma xícara de café.
-Caiu da cama, querida?
-Quase não dormi, Cleiton. Fiquei com aquelas ameaças ridículas do pastor ecoando na cabeça. Quem ele pensa que é pra condenar as pessoas que vivem diferente do que ele julga certo?
-Ele não é ninguém, Adelaide... mas eu fico com medo que agora que a gente gravou aquele vídeo, ele acabe fazendo algo contra nós.
-Que se meta a besta pra ver se eu não boto a boca no mundo! Foram anos naquela igreja me submetendo a todas regras absurdas. Não tenho medo de um covarde feito ele.
-E o que você pretende fazer, se as ameaças não pararem?
-Eu não pretendo fazer, meu querido... eu vou fazer. E é mais simpes do que você imagina: eu vou denunciar ele. Falar de todos os podres daquela igreja.
-Adelaide, Adelaide... você não tá mexendo com peixe pequeno.
-E daí? Se todo mundo se amedrontar, nunca ninguém nessa vida vai reagir contra quem tenta oprimir, será que você não percebe?
-Você não está nem um pouco disposta a desistir da denúncia, né?
-Nem um pouco, Cleiton. A gente já tá na chuva. Deixa a água molhar a gente...
Cleiton apoia a esposa. CORTA A CENA.

CENA 5: Raquel se acorda e encontra Márcio tomando café.
-Que bom que você acordou cedo hoje, querido... tava mesmo precisando continuar aquele papo com você.
-Aquela nossa conversa de ontem, dona Raquel?
-Sim, querido... acho que faltou eu te explicar algumas coisas, como elas realmente funcionam na polícia.
-Pois é, mãezinha... eu sei que sou leigo, mas duvido muito que alguma coisa possa ser descoberta contra a Suzanne só com a minha denúncia.
-Aí é que você se engana, meu querido... e muito!
-Como?
-Simples: a partir do momento que é feita a denúncia, é aberto um inquérito, certo?
-Certo.
-Esse inquérito pode ficar aberto por tempo indeterminado, desde que se encontrem provas mínimas de pequenos delitos. Não precisa ser nada grave, mas isso dá sustentação ao inquérito, para que ele continue, tá entendendo?
-Acho que tou começando a sacar...
-Então... uma vez aberto esse inquérito, muitas coisas passam a ser investigadas, por nossa parte, como movimentações financeiras, por exemplo... diferente das investigações que correm por fora, as investigações dentro de um inquérito aberto correm nos conformes da lei e isso, por si só, nos dá algumas vantagens, como quebra de sigilo, etc.
-Eu acho que entendi, dona Raquel... se eu fizer a denúncia, isso facilita as investigações da senhora e dos outros investigadores, é isso?
-Exatamente, querido...
Os dois seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura parte para mais um dia de ensaios na companhia de teatro enquanto Bruno se prepara para mais um dia de trabalho.
-Olha, gente... só tou indo trabalhar hoje porque nunca fui de faltar serviço, mas confesso que tou com bastante medo de andar na rua, sabendo do que pode vir a acontecer... - confessa Bruno.
-Nem me fale, Bruno... eu insisti tanto pra Laura que era só ela ligar pro Procópio dizendo que não iria ao ensaio... mesmo assim ela foi! E sem mim! - fala Haroldo.
-Ih, Haroldo... se acostuma, aquela ali é ariana ao cubo. Enfia as coisas na cabeça e homem nenhum tira! - fala Mateus.
-Bem, rapazes... eu vou me apressando, senão perco a condução pro trabalho... - fala Bruno, indo embora.
-Até mais, Bruno! - falam Mateus e Haroldo.
-Sabe, Haroldo... eu não queria demonstrar isso perto do Bruno, mas a verdade é que eu tou morrendo de medo pelo que pode acabar acontecendo com a gente. Por mais que a Laura insista que o Valentim tomou todos os cuidados antes de vir aqui ontem, eu sei que o “Chefe” quando quer esconde bem os seus olheiros...
-Vou te mentir se te disser que não estou com medo, Mateus... e também sei como esse infeliz age, não me esqueço de quando ele colocou três brutamontes vigiando a casa da minha família, só pra me meter medo. Mas sabe de uma coisa? Acho que ele tá mais preocupado em fazer terror psicológico com a gente do que em fazer qualquer coisa de má contra a gente...
-Que os deuses te ouçam, Haroldo... porque alguém aqui nessa casa vai ter que fazer as compras do dia, senão você sabe que a Laura fica uma fera! E como eu sou ainda o único morador oficial dessa casa além dela, faço eu as compras mais pro começo da tarde, tá?
-Tá certo... não sou eu que vou discutir... - brinca Haroldo. CORTA A CENA.

CENA 7: Guilherme e Cláudio estão arrumando a sala, quando Guilherme lembra de um assunto.
-Amor, você não disse que era hoje que começava a mandar os convites do nosso casamento por e-mail pra todos os seus amigos?
-Ih, Guilherme... é mesmo! Já ia me esquecendo... mas dá pra deixar pra mais tarde? Essa sala tá numa sujeira que não dá pra parar a limpeza agora...
-Não tem problema, eu fico aqui fazendo a limpeza enquanto você redige o e-mail e manda pra todos os convidados pro nosso casamento. Vai tranquilo!
-Tá certo, então... mas que marido bem prendado que você tá me saindo antes mesmo do casamento, hein? Todo prestativo, ajudando sem pedir nada em troca...
-Ah, nada em troca uma pinóia! Eu exijo os meus beijinhos!
-Como se precisasse pedir por eles, seu bobo... enfi, eu vou ligar o PC rapidão e já mando os convites pra todo mundo, tá?
-Ótimo.
Cláudio liga o computador.
-Ai que demora dos infernos pra iniciar esse PC, socorro!
-Depois sou eu que tou ansioso, né Cláudio?
-Você faz umas comparações tão estapafúrdias que chegam a ser singelas, Guilherme... mas enfim, acho que preciso comprar um PC novo, esse aqui já tá velhinho...
-Eu compro um pra você, amor.
-Pode parar por aí, burguesinho! Sou pobre mas sou limpinho! - brinca Cláudio.
-Mal dá pra acreditar, Cláudio... depois de todas as voltas que essa vida deu, de tudo o que a gente deixou de viver e tá vivendo... não dá pra acreditar que depois de tudo, falta tão pouco pro nosso casamento. Acho que esse vai ser o dia mais feliz da minha vida... - derrete-se Guilherme.
-Eu te amo cada dia mais, sabia disso? Espero que um dia seja amor suficiente para estar à altura do que você sente por mim... mas agora me dá licença que eu preciso mandar os convites...
CORTA A CENA.

CENA 8: No seu intervalo para o lanche, Laura volta para a plateia do teatro e Procópio a percebe tensa.
-O que aconteceu, Laura? Até antes da pausa você tava tão leve, se dedicando tanto a tudo...
-Ai, Procópio... eu tou com o coração apertado. Eu devia ter ouvido o Haroldo e ter ficado em casa hoje...
-Se você não está se sentindo bem pra continuar depois, me avisa, querida. Nunca foi um problema liberar vocês...
-Não, Procópio... eu já estou aqui e vou levar esse dia até o fim.
-Você parece preocupada, Laura.
-Eu não sei o que está havendo... não sei se é paranoia ou intuição... mas a sensação que me dá é de pressentimento ruim, sabe?
-Se você acha que deve voltar pra casa, não pense duas vezes.
-Querido, eu sei que você quer o meu bem, mas eu fico melhor ensaiando, acredite. Essa sensação de mau presságio vai passar. Daqui a pouco os outros atores também voltam e eu esqueço rapidinho disso...
-Tá bom, querida... qualquer coisa, me avisa.
CORTA A CENA.

CENA 9: Mateus está voltando do mercado com as compras do dia para a casa. Ao atravessar a rua e rumar em direção ao prédio, nota que dois homens suspeitos se aproximam. Mateus apressa o passo tentando chegar ao prédio rapidamente, mas os homens o abordam antes.
-É dinheiro que vocês querem? Meu celular também tá no bolso... - fala Mateus, acreditando se tratar de um assalto.
-A gente não quer nada seu, babaca. Você não devia ter confessado aquele crime. Chefe ficou muito desapontado e agora você vai ter que morrer! - fala um dos homens.
-Isso deve ser um engano... - fala Mateus, tentando se esquivar.
Os homens encurralam Mateus e ele é esfaqueado. FIM DO CAPÍTULO 92.

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